PODEROSOS INTERESSES CONTRARIADOS
O golpismo de ontem e o golpismo de hoje
Essa história tem larga tradição entre nós. Ela funciona do mesmo modo desde o começo do século XX – quando o Brasil começou a se transformar em sociedade urbana e industrial – e reúne os mesmos elementos: imprensa conservadora, setores moralistas da classe média e interventores da ordem constitucional
por Jessé Souza
Durante todo o ano de 2015, o segundo mandato da presidenta Dilma foi marcado por intenso ataque, seja da mídia, seja do Congresso Nacional, e de suas chamadas “pautas bomba”. A presidenta eleita foi posta na defensiva e ameaçada por diversos pedidos de impeachment, além de ter sido pressionada para renunciar desde o início de seu segundo mandato. É que ela, no auge de sua popularidade, ao contrário da estratégia de conciliação de interesses contrários do presidente Lula, ousou se opor aos interesses do capital especulativo brasileiro. A intenção era parar a drenagem de recursos do excedente social de todos para o bolso da meia dúzia que controla a economia, a política e a mídia entre nós, e encaminhá-los para o setor produtivo. A estratégia não só foi sabotada pela elite, como a cobrança da fatura pela ousadia está vindo agora.
O mais importante aqui não é apenas a seletividade com a qual a questão da corrupção é abordada ao se concentrar apenas no PT e procurar atingir de qualquer modo o ex-presidente Lula, de modo a inviabilizar sua reeleição em 2018. Ainda que isso seja parte da verdade, não é, nem de longe, o ponto mais interessante dessa história. Inicialmente, o que fica evidente, como a luz do sol de meio-dia, nesta crise política, criada e manipulada midiaticamente, e tem levado a uma crise econômica em grande medida construída politicamente é o seguinte: o tema da corrupção só pode ser usado para enganar e manipular a população, porque a definição do que é corrupção é arbitrária e pode ser aplicada ao bel-prazer de quem realiza o ataque.
Recentemente, por exemplo, veiculou-se na imprensa que o ex-presidente Lula foi “lobista” da Odebrecht no exterior. Esse fato é corriqueiro em todos os países avançados onde os presidentes fazem constante pressão para conseguir contratos para grandes indústrias e prestadoras de serviço de seu país. Ao contrário de despertar desconfiança, esse fato é visto como engajamento dos dirigentes da nação pela manutenção da riqueza e dos empregos nacionais, e cada êxito é comemorado por todos. Como a noção de corrupção é vaga e indefinida, e pode ser aplicada seletivamente, vale tudo a favor dos amigos e tudo contra os inimigos.1 A estratégia passa a ser um “se pegar, pegou”, e manchetes diárias constroem a artilharia pesada contra governos com relações e compromissos – os quais no caso em apreço poderiam e deveriam ser, inclusive, bem mais profundos – com as classes populares.
O ataque tem de ser realizado contra o suposto e, na realidade, falso [2] “inchaço” e “aparelhamento” do Estado, sempre que este é usado não para ser privatizado pelo 1% mais rico, como sempre foi o caso, e sim para a maioria da população. A narrativa do Estado demonizado e do mercado virtuoso, primeiro construída “cientificamente”, como analisamos em detalhe no livro A tolice da inteligência brasileira,[3] publicado recentemente, e depois reproduzida de modo “naturalizado” e “autoevidente” como truísmo aceito por todos, seja nas práticas de todas as instituições, seja nas esquinas de todo o país, cria o pano de fundo perfeito para o assalto à inteligência nacional. Os próprios ministros de Estado do governo usam Raymundo Faoro e sua balela sobre o patrimonialismo para amparar seus discursos de defesa do Estado4 ou de ataque e de apelo ao desmonte estatal,5 finalmente aceito e colocado em prática pela própria presidenta, posta na defensiva por essa mesma narrativa.6 Maior prova de que essa interpretação de mundo tornada prática continua comandando nosso horizonte de pensamento e de ação é impossível.
Na verdade, a corrupção entendida como negação do fair play, ou seja, enganar com o fim de lucro, é endêmica ao capitalismo – e certamente endêmica a todas as outras formas históricas de apropriação do excedente social – em todos os lugares e em todas as épocas históricas. Assim como as classes endinheiradas brasileiras construíram uma ideologia antiestatal para melhor monopolizar e instrumentalizar o Estado a seu favor, os capitalistas históricos criaram uma ideologia do “mercado justo” para se autolegitimar. Max Weber, com sua extraordinária influência em todas as disciplinas sociais, contribuiu muito para isso ao vincular o capitalismo à temperança protestante. Com isso, construiu uma falsa oposição, hoje aceita por quase todos, entre “capitalismo aventureiro”, enquanto capitalismo do saque e dos grandes lucros eventuais, e “capitalismo moderno”, sóbrio, construído com a noção do lucro cotidiano, permanente, mas “justo” e “contido”. Assim, o capitalismo moderno é percebido não apenas como “ganho em racionalidade”, mas também como “ganho em moralidade”, perfazendo os dois grandes elementos da virtude e da perfeição humana como percebidas pelo Ocidente.
Nada mais falso. O “saque”, como o dos campos de petróleo do Oriente Médio sob a batuta das grandes petrolíferas no governo George W. Bush, continua um método cotidiano do capitalismo dito “moderno”, desde que seja exequível militar e politicamente. Quanto à sobriedade e à temperança, se de fato existiram algum dia, não resistem a nenhuma análise mais “sóbria”. O capitalismo monopolizado de hoje não só fabrica balanços falsos de empresas e países com interesse de lucro e cria a ilusão de que grandes empresas e bancos fraudulentos são “grandes demais para quebrar” (como ficou patente na crise financeira de 2008), como também estabelece o patamar de preços que deseja sem nenhuma relação racional com custos efetivos. Os produtores recebem uma ínfima parte do lucro, e os grandes atravessadores ganham até quarenta vezes mais sem nenhuma adição ao valor dos produtos pelo simples fato de controlarem monopolisticamente o mercado.7 Ou seja, a “corrupção” percebida como engano e falseamento da “troca justa” é o dia a dia do mercado em todo lugar, ainda que muito maior em um mercado tão mal regulado como o nosso.
No Brasil, porém, o superlucro é visto como “inteligência” e “esperteza” – esquecendo-se de que, se há um “esperto”, é porque há milhões de “tolos” –, e a corrupção é sempre estatal ou tem relação com o Estado. Uma ideia absurda ganhou o coração e a mente de todos indistintamente, independentemente de coloração política, e é hoje uma espécie de “segunda pele” de todo brasileiro. Ela se presta, antes de tudo, ao “sequestro da política” pelos donos do dinheiro. Em fases de crise, como agora, quando a “farofa é pouca se quer o seu pirão primeiro”, os mais ricos querem cortar os investimentos sociais e ficar com o Estado só para eles. E essa história tem larga tradição entre nós. Ela funciona do mesmo modo desde o começo do século XX – quando o Brasil começou a se transformar em sociedade urbana e industrial – e reúne os mesmos elementos: imprensa conservadora, setores moralistas da classe média e interventores da ordem constitucional.
O moralismo da classe média no Brasil sempre foi extremamente seletivo e antidemocrático ao mesmo tempo. Sua seletividade implica ver o mal sempre “fora de si mesma” e nunca em sua própria ação cotidiana de exploração de outras classes, de quem ela rouba o tempo, a energia e qualquer possibilidade de redenção futura. O caráter antidemocrático que vemos nas manifestações recentes dos “coxinhas politizados” não tem nada de novo. Desde o tenentismo de 1922, a política e o sufrágio universal já eram percebidos como os empecilhos maiores da renovação verdadeira da sociedade brasileira. O moralismo de classe média sempre une o desprezo pela política em geral e a busca por uma “virtude idealizada”, que espelha por sua vez uma “vontade geral” indivisa, ilusão autoritária que foi o mote de toda revolta política com base de classe média – e de seus estratos pequeno-burgueses –, desde o jacobinismo francês até o fascismo europeu do século passado.
É esse caldo autoritário que tem de ser mobilizado pela imprensa conservadora – como verdadeiro partido da ordem dominante e de seus privilégios – sempre que a política tenda a sair do acordo de gabinete dos poderosos e endinheirados para o interesse da maioria da população. Isso aconteceu sem nenhuma exceção até hoje na história brasileira, sempre que o sufrágio universal conseguiu colocar no poder líderes identificados com as classes populares. Em todos os casos a classe média conservadora foi usada como massa de manobra na tentativa de derrubar os governos Vargas, Jango e agora Lula-Dilma, e conferir o “apoio popular” e a consequente legitimidade para esses golpes, sempre no interesse de meia dúzia de poderosos. A corrupção e sua vagueza conceitual são sempre o mote que galvaniza a solidariedade “emocional” das classes médias, que se imaginam moralmente superiores às outras,[8] e confere respeitabilidade moral e política a esses assaltos à soberania popular. Como já dissemos anteriormente, a corrupção, definida seletiva e arbitrariamente, é a única forma brasileira de transformar os interesses mais privados em supostos interesses universais.
A imprensa é fundamental nesse processo e primeiro elemento da estratégia de fabricar um golpe. Isso acontece posto que é necessário “legitimar” o assalto ao princípio da soberania popular como única fonte que permite vincular legalidade e legitimidade do regime democrático e representativo. Como a soberania popular consagrada no voto é a única fonte de legitimidade do poder moderno em todas as suas dimensões, inclusive das regras consagradas constitucionalmente,9 a imprensa conservadora sempre teve de fazer estripulias de contorcionista chinês para deslegitimar a única fonte de todo o Direito e de toda a vida democrática moderna. Para isso, sempre foi necessário (e ainda é, como veremos) produzir o segundo elemento da estratégia golpista; insuflar o público conservador cativo – o qual, em uma sociedade tão perversa e desigual como a nossa, é antipopular em sua essência – com referências a uma “vontade geral” indivisa,10 a qual, supostamente, seria mais importante que a vontade individual manifesta nas urnas. O terceiro elemento formal de toda estratégia golpista é, portanto, um ator institucional que possa incorporar a “vontade geral” pré-fabricada. Na verdade, é uma vontade de meia dúzia de endinheirados que manipulam sua tropa de choque formada por uma classe média infantilizada que se autoidealiza.
Falta, então, encontrar esse terceiro elemento formal presente em todos os golpes contra o princípio da soberania popular, o qual deve incorporar precisamente tal elemento “apolítico” que responde aos anseios da antipolítica moralista construída entre nós com foro de “ciência”. Esse terceiro elemento deve ser uma espécie de “rainha da Inglaterra”, ou seja, ser visto como neutro e acima dos interesses em disputa. Em parte, a própria imprensa conservadora no Brasil sempre posou de “neutra” e gosta de se vender como uma instituição de “interesse público”, como se não fosse uma empresa qualquer disposta a (quase) tudo para aumentar seu lucro. Como nunca houve regulação da imprensa entre nós, esse tipo de empresa peculiar – que lida com a informação e, portanto, com a possibilidade de manipular a informação para fins empresariais e políticos – sempre foi historicamente comprada por todo tipo de interesse econômico que pagasse o maior preço.11 A figura emblemática desse fenômeno histórico entre nós foi Assis Chateaubriand, uma espécie de “patrono da imprensa brasileira” e o mais puro exemplo – depois seguido por muitos outros – do uso político indiscriminado e truculento dos veículos de imprensa para auferir ainda mais dinheiro e poder.12
No entanto, sempre foi necessário que o terceiro elemento estivesse ancorado na própria ordem constitucional, que no caso brasileiro já tinha a tradição do “Poder Moderador” imperial. Assim, nessa “repartição de trabalho do golpismo”, cabia à imprensa “neutra” e “desinteressada” passar a “senha”, ou seja, criar o “convencimento” para o clima de “crise”, sempre com base na crítica seletiva da corrupção, para que a baioneta pudesse exercer sem peias seu papel. Essa repartição de trabalho do golpismo para a manutenção de uma sociedade para poucos foi reproduzida também na Constituição da “redemocratização” de 1946: seu artigo 177 garantia aos chefes militares a possibilidade de julgar se o presidente havia desrespeitado os demais poderes constitucionais, a lei e a ordem.13 Estava transposto no texto constitucional o princípio de uma espécie de “democracia tutelada”, ancorada nas Forças Armadas e em sua possibilidade expressa de intervir quando a “ordem pública” estivesse em perigo, ou seja, sempre que os interesses do 1% dominante e mais rico fossem ameaçados. Estava então consolidado o terceiro elemento formal de todo golpe de Estado entre nós, como princípio constitucional, baseando-se na ficção da existência de uma instituição acima da política e dos partidos.
O jogo da pseudodemocracia moderna brasileira estava armado: o aproveitamento consequente do moralismo de fachada dos setores médios baseado no ressentimento contra os de cima (sempre considerados corruptos, especialmente no Estado) e o ódio contra os de baixo, destinado a ser astuciosamente insuflado sempre que a imprensa, “neutra como o dinheiro”, visse seus interesses na ordem para poucos de algum modo ameaçado. Os dois juntos, “povo” (ainda que 80% estivessem de fora) e “imprensa neutra”, clamam pela intervenção do elemento “não político” e “não corrupto” (sic) das Forças Armadas, que incorporaria a “vontade geral” para o povo tutelado e submetido. No caso de Vargas, que refletia formas suaves de inclusão social-democrata perfeitamente compatíveis com um capitalismo dinâmico, a “corrupção seletiva” só dos líderes ligados aos setores populares já foi o mote principal para sua derrubada.14 Com Jango, as reformas de base foram interpretadas como comunismo, e o combate à corrupção, mais uma vez seletivo – e que seria muito maior nos governos militares sem nenhum controle –, foi o grande mote para a continuidade do regime de exceção.
Poucos veem hoje em dia a continuidade desse processo antipopular de intervenção antidemocrática no “golpismo branco”. A única mudança realmente efetiva nos processos de golpes anteriores, fato que ainda não foi percebido no debate brasileiro atual sempre muito preso à conjuntura, pobre teoricamente e sem perspectiva histórica, em relação ao atual em curso é mais aparente que real. Como os militares perderam a legitimidade de “guardiões da ordem” – primeiro pela violência das torturas e depois pelos próprios casos de corrupção entre os militares no poder ou acobertados por eles –, surge a necessidade de outro “justiceiro” para incorporar a “vontade geral” acima da política, para fazer justiça com as próprias mãos, bem ao gosto de nossa classe média que aprova, por exemplo, a matança indiscriminada de pobres pela polícia.[15]
O candidato perfeito para ocupar o lugar vazio deixado pelos militares surge no aparato de órgãos de controle do Executivo e do Judiciário criados pela Constituição de 1988, que reúne ambiguamente não apenas a tentativa de universalizar direitos, mas também a desconfiança na política – criada entre nós por meios pseudocientíficos, como vimos – e a necessidade de instaurar um novo “poder tutelar”, de modo a resguardar os interesses do 1% mais rico e poderoso.
Esses órgãos não apenas recrutam seus quadros prioritariamente na classe média conservadora e moralista. Todos os interesses materiais e ideais dessas corporações – com alguns dos mais altos salários da República, além de benesses e privilégios de todos os tipos, aliados ao prestígio social, especialmente em sua classe de origem, reservado aos que lutam contra a corrupção – ganham com o projeto de substituir as Forças Armadas como nova instância do “Poder Moderador” da pseudodemocracia brasileira. São os órgãos de controle, como Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Polícia Federal, aliados aos “juízes justiceiros”, incensados pela mídia conservadora como os novos “heróis do povo” (leia-se, da classe média conservadora), como os novos representantes da “vontade geral” (ou seja, os interesses econômicos do 1% mais rico); supostamente “acima da política”, que são os novos candidatos a incorporar o “Poder Moderador” da pseudodemocracia tutelada brasileira.
O “Direito” moderno, cuja única grandeza é ser reflexo e incorporação da soberania popular na sociedade moderna, é o primeiro a perder com a substituição do juiz sóbrio e objetivo16 pela figura narcísica do “justiceiro”, que aceita incorporar e teatralizar a “vontade geral” pré-fabricada. A própria definição do Direito formal moderno, marcada pelo respeito ao procedimento legal e como garantidor do contraditório como meio de se assegurar previsibilidade e segurança jurídica, tende a ser substituído pelo que Max Weber chamava de “justiça do Kadi”. Ou seja, um padrão de justiça material, construída sob o comando de aspectos extrajurídicos ditados pela conjuntura, sujeita a todo tipo de pressão emocional e de interesse de ocasião.17
Na lama desse “Direito de ocasião” se engalfinham agências de controle e Poder Judiciário para aumentar seu poder relativo dentro do aparelho de Estado e virtualmente “governar”. Além do interesse político em ocupar espaços de poder, todos os interesses materiais e ideais dos operadores jurídicos militam por essa expansão de jurisdição. Na condição de paladinos anticorrupção, podem exigir salários ainda melhores e ainda mais regalias de toda espécie.
A recente ofensiva do deputado federal Eduardo Cunha vem de outra senda do espectro político. Ela não se traveste de “interesse geral” e não assume a forma do protagonismo “jurídico” que se oferece desejoso de sepultar e substituir a política. Ela assume a forma da negociata à luz do dia, sem usar vestes e sem “enganar” o público. O fracasso das recentes manifestações do dia 13 de dezembro de 2015 mostra que o público precisa ser enganado e manipulado em seu ressentimento e em sua desesperança, que são reais. O sucesso da estratégia de Cunha seria um retrocesso de consequências imprevisíveis até para os oportunistas, como o PSDB, o qual se põe como herdeiro fiel do golpismo oportunista dos udenistas, que irresponsavelmente apoia. A crise tem sempre a virtude de mostrar os interesses mais vis agindo à luz do dia.
Como a política, no entanto, precisa da hipocrisia, acho que são os “golpes jurídicos” que têm maior chance de sucesso. São os “juízes justiceiros” incensados pela mídia conservadora e com o poder de fazer de tudo, muito especialmente jogar no lixo o que o desenvolvimento civilizacional construiu nos últimos 2 mil anos na esfera do Direito. O “superjuiz” só precisa da mentira repetida todos os dias, a qual diz que existem pessoas acima dos interesses dos partidos e acima dos interesses econômicos e políticos. Assim, pode-se inclusive torturar legalmente pessoas jogadas em cadeias sem culpa formada e sem razão jurídica comprovada – um tipo de tortura psíquica certamente tão cruel como o pau de arara dos militares.
Mudam-se as vestes e as fantasias, “moderniza-se” o golpe, substitui-se o argumento das armas pelo argumento “pseudojurídico”, amplia-se a aparência de “neutralidade”, sai de cena a baioneta e entra no palco da ópera bufa a toga arrogante e arcaica do operador jurídico, mas preserva-se o principal. Quem continua mandando de verdade em toda a encenação do teatro de marionetes é o mesmo 1% que controla a riqueza e o poder, e instrumentaliza a informação a seu bel-prazer. Os outros 99% ou são manipulados diretamente, como a classe média “coxinha”, ou assistem de longe, bestializados, a um espetáculo pelo qual, como sempre, vão ter de pagar sem participar do banquete.
Jessé Souza
*Jessé Souza é professor titular de Ciência Política da UFF e presidente do Ipea. Autor de A tolice da inteligência brasileira, recentemente lançado pela Leya. Este artigo é uma versão atualizada e modificada do último capítulo dessa obra.
Ilustração: Eugêni
1 Aécio Neves, por exemplo, teve sua menção no escândalo da Lava Jato simplesmente silenciada pela imprensa.
2 Segundo trabalho do técnico do Ipea, Felix Garcia Lopez, as despesas líquidas com pessoal em relação à receita líquida da União diminuíram entre 1995 e 2014, negando um suposto “inchaço” do Estado. Ao mesmo tempo, apenas 13,1% de todos os cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS) têm alguma relação partidária, negando a tese do aparelhamento. Ver Felix Garcia Lopez, “Evolução e origem dos nomeados para cargos DAS na administração pública federal no período 1992 a 2014”, Brasília, Ipea, 2015.
3 Jessé Souza, A tolice da inteligência brasileira, Leya, São Paulo, 2015.
4 O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, lembrou na imprensa, quando estourou o escândalo da Lava Jato, que todos os brasileiros, na verdade, usam o “jeitinho”, como ensinado por Faoro e Roberto DaMatta, na vida cotidiana.
5 O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, em sua posse, citou Faoro, cuja “teoria” não vale um vintém furado, como mostramos aqui, para legitimar o Estado mínimo.
6 O trabalho de Felix Lopez, citado anteriormente, mostra que toda essa discussão do “inchaço” e do “aparelhamento” estatal não guarda nenhuma relação com a realidade.
7 Ver Ladislau Dowbor, “Produtores, intermediários e consumidores: o enfoque da cadeia de preços”, Revista Econômica do Nordeste, v.45, n.3, p.7-16.
8 O fato de estar no “meio da sociedade” implica submissão ressentida aos poderosos acima dela e ódio pelos de “baixo”. A superioridade “fabricada” com relação aos que têm poder é baseada na ilusão de que estes são sempre “corruptos”, transformando a inferioridade econômica e social real em superioridade “moral” fantasiada. Como diz Max Weber, a primeira necessidade das pessoas não é ver a verdade, mas, ao contrário, “legitimar” a vida que efetivamente levam como a melhor possível.
9 Ver sobre isso o clássico de Jürgen Habermas, Faktizität und Geltung [Entre facticidade e validade], Suhrkamp, 1992.
10 Pierre Rosanvallon, La Légitimité démocratique. Impartialité, réflexivité, proximité [A legitimidade democrática. Imparcialidade, reflexividade, proximidade], Éditions du Seuil, Paris, 2008.
11 Ver Paulo Henrique Amorim, O quarto poder, Hedra, São Paulo, 2015; e Fernando Morais, Chatô, o rei do Brasil, Companhia das Letras, São Paulo, 1994.
1 Ibidem.
13 José Murilo de Carvalho, Forças Armadas e a política no Brasil, Zahar, Rio de Janeiro, 2005.
14 Ver a excelente trilogia de Lira Neto, Getúlio, volumes I, II e III, Companhia das Letras, São Paulo, 2014.
15 A matança de pobres, com ou sem a desculpa do tráfico, no Brasil, é uma “política pública informal” com alto apoio popular.
16 É patente a diferença entre um juiz alemão, por exemplo, sempre sóbrio e discreto, com o desavergonhado “narcisismo midiático” de vários juízes brasileiros, em todas as instâncias, em uma função na qual a distância das paixões políticas é precondição para seu bom desempenho.
17 Max Weber, “Rechtssoziologie” [Sociologia do Direito]. In: Wirtschaft und Gesellschaft [Economia e sociedade], J.C.B., Mohr, 1985, p.471.
04 de Janeiro de 2016. Palavras chave: conservadorismo, congresso, câmara, política, PMDB, golpe, democracia, governo, Dilma, Getúlio Vargas, ditadura
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=2011
terça-feira, 8 de março de 2016
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Giovanni Gentile, a adesão ao fascismo. O liberal de Mussolini
Giovanni Gentile e o Partido Nacional Fascista (Partito Nazionale Fascista - PNF)
Em 2 de novembro de 1922, Giovanni Gentile, já uma personalidade de altíssima expressão no panorama cultural italiano, é nomeado ministro da Educação no primeiro gabinete de Mussolini. Na primavera de 1923, ele justifica sua adesão formal ao PNF evidenciando a conformidade do fascismo com o liberalismo da direita no Risorgimento no qual ele se identificava, e e que segue com "o liberalismo da liberdade na lei e portanto, no Estado forte e no Estado concebido como realidade ética". Gentile vê se concretizar na nova realidade política a sua "Antiga fé" (ópera gentiliana editada em 1923), destinada a resgatar o caráter dos italianos e libertá-los da velha doença do ceticismo e da indiferença. Por esta "Antiga fé", ele se sente "precursor" do fascismo. Mais exatamente: da nova filosofia idealista, do sindicalismo soreliano, do reencontro do sentimento religioso, do empenho ético da guerra, em outras palavras, todo o fermento ideal e moral das primeiras décadas do século XX - que reage ao desgaste da ideologia iluminista, democrática e socialista da velha Europa - encontra uma saída natural na marcha sobre Roma e na energia despertada pelo Fascismo. Isso caminha dessa forma, e salta aos olhos de Gentile, da intérprete da vida nacional, a tarefa na qual todos os italianos que não querem mais ficar "sentados na janela", deveriam agora se empenhar.
Giovanni Gentile e o fascismo
O Fascismo parece para Gentile não uma ideologia ou um sistema fechado, mas sim um processo histórico, um ideal a ser realizado. Como tal, ele é útil para a contribuição daquela crítica construtiva que reconhece sua função nacional, e deve lutar para combater "a democracia dos advogados criadores de caso", "o socialismo radicaloide e humanitária", "o liberalismo do Estado negativo e agnóstico", no momento que o Fascismo - como qualquer movimento histórico sério - é o "sentimento religioso" a ser restaurado na mente e na consciência coletiva. Esta visão da política como uma fé, que o filósofo já tinha desenvolvido e defendido em anos anteriores, vislumbra no fascismo seu retorno mais profundo.
Por outro lado, que o fascismo não seja um episódio acidental na vida de Gentile, é comprovado o empenho público e da ação de colaboração e de estímulo exercido em relação ao regime durante todo o período dos anos 20. Além do cargo de Ministro da Educação nos anos de 1922-1924, ele é Presidente da Comissão dos Quinze -, então dos Dezoito - para a reforma constitucional, fundador em 1925 do Instituto fascista de Cultura, Presidente do Conselho de Educação de 1926 a 1928, membro do Grande Conselho até 1929 e seguidor de Mussolini também até a última aventura da República social. Em momentos críticos, que também atravessou Gentile - especialmente quando sua reforma escolar é alterado ou quando se estipula os Pactos Lateranenses com um compromisso que nega a essência de seu conceito de um Estado ético - não para separar as suas próprias responsabilidades das de Mussolini, ele reafirma sua fé no fascismo com o qual continua até o fim em identificar o próprio futuro da nação.
Pagherà la sua ferma adesione al regime con la vita, ucciso il 15 aprile 1944 a Firenze da un commando partigiano aderente ai GAP.
Pagou sua adesão ao regime com sua própria vida, morreu em 15 de abril de 1944 em Florença, por um comando guerrilheiro (partisan) aderente ao GAP.
29/03/2014. Por Matteo Anastasi
Matteo Anastasi (Roma, 1989), formou-se com honras em História na Universidade Europeia de Roma e, novamente com honras, em Relações Internacionais na Luiss Guido Carli. Para Europinione lida com história e com a parte estrangeira. Ele também colabora com a Cronache Internazionali e a Mediterranean Affairs e é co-fundador do think tank de política internacional "Il Termometro – Blog di opinioni e discussioni" (O Termômetro - Blog de opinião e discussão".
Fonte: Europinione (Itália)
http://www.europinione.it/giovanni-gentile-ladesione-al-fascismo/
Link alternativo:
http://holocaust-doc.blogspot.com/2016/02/giovanni-gentile-ladesione-al-fascismo.html
Título original: Giovanni Gentile, l’adesione al fascismo
Tradução: Roberto Lucena
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Giovanni Gentile |
Giovanni Gentile e o fascismo
O Fascismo parece para Gentile não uma ideologia ou um sistema fechado, mas sim um processo histórico, um ideal a ser realizado. Como tal, ele é útil para a contribuição daquela crítica construtiva que reconhece sua função nacional, e deve lutar para combater "a democracia dos advogados criadores de caso", "o socialismo radicaloide e humanitária", "o liberalismo do Estado negativo e agnóstico", no momento que o Fascismo - como qualquer movimento histórico sério - é o "sentimento religioso" a ser restaurado na mente e na consciência coletiva. Esta visão da política como uma fé, que o filósofo já tinha desenvolvido e defendido em anos anteriores, vislumbra no fascismo seu retorno mais profundo.
Por outro lado, que o fascismo não seja um episódio acidental na vida de Gentile, é comprovado o empenho público e da ação de colaboração e de estímulo exercido em relação ao regime durante todo o período dos anos 20. Além do cargo de Ministro da Educação nos anos de 1922-1924, ele é Presidente da Comissão dos Quinze -, então dos Dezoito - para a reforma constitucional, fundador em 1925 do Instituto fascista de Cultura, Presidente do Conselho de Educação de 1926 a 1928, membro do Grande Conselho até 1929 e seguidor de Mussolini também até a última aventura da República social. Em momentos críticos, que também atravessou Gentile - especialmente quando sua reforma escolar é alterado ou quando se estipula os Pactos Lateranenses com um compromisso que nega a essência de seu conceito de um Estado ético - não para separar as suas próprias responsabilidades das de Mussolini, ele reafirma sua fé no fascismo com o qual continua até o fim em identificar o próprio futuro da nação.
Pagherà la sua ferma adesione al regime con la vita, ucciso il 15 aprile 1944 a Firenze da un commando partigiano aderente ai GAP.
Pagou sua adesão ao regime com sua própria vida, morreu em 15 de abril de 1944 em Florença, por um comando guerrilheiro (partisan) aderente ao GAP.
29/03/2014. Por Matteo Anastasi
Matteo Anastasi (Roma, 1989), formou-se com honras em História na Universidade Europeia de Roma e, novamente com honras, em Relações Internacionais na Luiss Guido Carli. Para Europinione lida com história e com a parte estrangeira. Ele também colabora com a Cronache Internazionali e a Mediterranean Affairs e é co-fundador do think tank de política internacional "Il Termometro – Blog di opinioni e discussioni" (O Termômetro - Blog de opinião e discussão".
Fonte: Europinione (Itália)
http://www.europinione.it/giovanni-gentile-ladesione-al-fascismo/
Link alternativo:
http://holocaust-doc.blogspot.com/2016/02/giovanni-gentile-ladesione-al-fascismo.html
Título original: Giovanni Gentile, l’adesione al fascismo
Tradução: Roberto Lucena
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Morre o último sobrevivente do campo de Treblinka. Samuel Willenberg
Samuel Willenberg faleceu aos 93 anos. Esteve no campo de concentração onde morreram cerca de 875.000 pessoas.
Samuel Willenberg, o último sobrevivente do campo de concentração de Treblinka (Polônia), faleceu. Informaram allegados. Tinha 93 anos.
Cerca de 875 mil pessoas pereceram nesse campo da morte durante o genocídio nazi.
Willenberg foi membro de um grupo de prisioneiros judeus que em 1943 atearam fogo ao campo e fugiram para os bosques próximos. Centenas deles conseguiram fugir, mas a maioria foi abatida por soldados nazis ou capturados por aldeões poloneses.
Os nazis e seus colaboradores mataram cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Willenberg, numa entrevista com a AP em 2010, narrou como lhe dispararam na perna enquanto montava por cima de companheiros mortos até saltar a mureta do campo de concentração. depois da guerra conseguiu se estabelecer em Israel.
Fonte: AP/El Comercio (Peru)
http://elcomercio.pe/mundo/europa/murio-ultimo-sobreviviente-campo-nazi-treblinka-noticia-1880599
Título original: Murió el último sobreviviente del campo nazi Treblinka
Tradução: Roberto Lucena
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Sobrevivente do Holocausto, Samuel Willenberg mostra um mapa do campo de extermínio de Treblinka. Foto do ano de 2010. (Foto: AP) |
Cerca de 875 mil pessoas pereceram nesse campo da morte durante o genocídio nazi.
Willenberg foi membro de um grupo de prisioneiros judeus que em 1943 atearam fogo ao campo e fugiram para os bosques próximos. Centenas deles conseguiram fugir, mas a maioria foi abatida por soldados nazis ou capturados por aldeões poloneses.
Os nazis e seus colaboradores mataram cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Willenberg, numa entrevista com a AP em 2010, narrou como lhe dispararam na perna enquanto montava por cima de companheiros mortos até saltar a mureta do campo de concentração. depois da guerra conseguiu se estabelecer em Israel.
Fonte: AP/El Comercio (Peru)
http://elcomercio.pe/mundo/europa/murio-ultimo-sobreviviente-campo-nazi-treblinka-noticia-1880599
Título original: Murió el último sobreviviente del campo nazi Treblinka
Tradução: Roberto Lucena
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Neonazismo - Os Soldados de Odin aterrrorizam a Finlândia
Patrulhas urbanas neonazis vigiam as ruas ante a onda de refugiados.
Há um ano, nada é igual em Kemi, uma pequena cidade da Lapônia finlandesa com apenas 20.000 habitantes. A avalanche de refugiados que chegaram através da fronteira com a Suécia transbordou as autoridades locais e aumentou a inquietação entre os vizinhos. Um mal-estar que alentado o nascimento dos "Soldados de Odin", uma patrulha urbana de jovens neonazis que pretende proteger os finlandeses dos "intrusos islâmicos", os quais lhes culpam pelo aumento da criminalidade e da insegurança no país nórdico. A imagem do movimento alemão Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente), descrevem-se como "uma organização patriótica que luta por uma Finlândia branca" e em suas manifestações hasteavam faixas com o lema "os refugiados não são bem-vindos".
Com suas jaquetas negras decoradas com uma bandeira finlandesa e um viking nas costas, os Soldados de Odin (o principal deus da mitologia nórdica) converteu-se da noite para o dia numa preocupação de primeira ordem para o governo, que teme enfrentamentos violentos entre radicais e refugiados.
Mika Ranta, o organizador das patrulhas em Kemi, define-se a si mesmo como nacional-socialista (nazi), mas argumenta que os Soldados de Odin são um grupo ao qual pertence "todo tipo de gente". O certo é que os serviços secretos finlandeses vinculam a muitos deles com grupos extremistas. Ainda que digam contar com organização em 23 cidades, a Polícia reduz sua presença a cinco. Em declarações à Imprensa local no outubro passado, Ranta explicou que "despertamos numa situação onde mal viviam diferentes culturas, o que provocou medo e preocupação na comunidade". "O maior problema - acrescenta - foi quando nos inteiramos através do Facebook de que solicitantes de asilo se posicionaram em colégios de primário fazendo fotos de garotas".
Como ocorreu em Colônia e outras cidades alemãs e em Estocolmo, as denúncias de agressões sexuais duplicaram durante o último ano na Finlândia, passando de 75 para 147, se bem que não se conhece a identidade dos autores. De fato, na virada de ano passada, uma "caguetagem" e a hábil atuação policial impediram que se reproduzissem os tristes ocorridos da capital renana.
O clima de inquietação obrigou ao primeiro-ministro finlandês, o centrista Juha Sipila, a assegurar que o Governo não permitisse que essas patrulhas neonazistas suplantem as Forças de Segurança nas ruas. "A polícia é a responsável da lei e da ordem no país. As patrulhas civis não podem assumir a autoridade da Polícia", assegurou na televisão pública YLE. Na mesma linha, o ministro do Interior, o conservador Petteri Orpo, insistiu de que os Soldados de Odin "não fortalecem a segurança, senão que, pelo contrário, reforçam o estado de ânimo hostil". "Este tipo de patrulhas têm claramente uns atributos racistas e xenófobos e sua ação não melhora a segurança. Agora a Polícia deve utilizar seus escassos recursos ao seguimento de sua ação", lamentou Orpi. O ministro quis desautorizar assim o chefe da Polícia Nacional, Seppo Kolehmainen, que previamente havia sugerido que os Soldados de Odin poderiam ser úteis para alertar os agentes de possíveis delitos.
A contundência da tripartite de direitas que governa a Finlândia desde maio não é tão unânime como se poderia pensar. Enquanto que o ministro das Finanças e líder conservador, Alexander Stubb, aposta claramente pela ilegalização de "todas as patrulhas de rua racistas", os populistas "Verdadeiros Finlandeses" defendem a liberdade dos cidadãos para se organizar. Assim, o ministro da Justiça, Jari Lindström, assegura que "o fato de que detrás desse movimento se encontram pessoas que cometeram delitos e cumpriram penas de prisão certamente desperta interesse, mas o grande problema é que os cidadãos sentem que falta segurança". Contudo, a classe política, não oculta que a possível ilegalização do movimento poderia ser um beco sem saída se torna vulnerável os princípios constitucionais.
O Partido dos Finlandeses, antes conhecido como "Verdadeiros Finlandeses", recorre a esta equidistância para frear a queda de intenção de votos que lhes concedem as sondagens para entrar no Governo. Sua marca, entretanto, foi feita sentir nesses meses com o endurecimento das leis de imigração. Os refugiados maiores de idade, por exemplo, são obrigados a trabalhar para sufragar os custos de sua estada no país nórdico. Finlândia, como o resto dos países europeus, viu-se superada pela onda de imigrantes procedentes do Oriente Médio e África. Durante o ano passado, recebeu 32.500 solicitações de asilo frente a 4.000 em 2014, o que a situa como o quarto país da UE que mais refugiados recebeu em relação à sua população. Depois de três anos de recessão, o país nórdico, que conta com uma população imigrante substancialmente baixa que a de seus vizinhos nórdicos (6% frente a 15% da Suécia), afronta um duro reto para a integração de asilados.
Com Facebook como plataforma, a sociedade civil tem respondido a ameaças extremistas dos Soldados de Odin com as "Irmãs de Kyllikki", que faz referência a um personagem do poema épico "Kalevala". "Nosso objetivo é ajudar a pessoas e construir um diálogo com todos os finlandeses e também com os imigrantes", assegura uma das fundadoras do grupo, Niina Ruuska. Seria revelador saber se Odin, deus da guerra, mas também da sabedoria, que segundo a lenda pode ver todo desde seu trono em Asgard, está satisfeito com a usurpação de seu nome por uns poucos.
14 de janeiro de 2016. 03:54h Pedro. G. Poyatos.
Colônia Dinamarca Distúrbios Sociedade
Fonte: La Razón (Espanha)
http://www.larazon.es/internacional/los-soldados-de-odin-aterrorizan-finlandia-IO11681889
Título original: Los Soldados de Odín aterrorizan Finlandia
Tradução: Roberto Lucena
__________________________________________
Observações em um post extra (link será colocado aqui). Observação sobre a "confusão" entre os termos refugiados e imigrantes.
A quem se virar com o espanhol (idioma), vale a pena também ler esta matéria do El Mundo sobre o problema. É até mais completa que a matéria traduzida acima (mais extensa, por isso não deu pra traduzir, mas fica a sugestão):
'Soldados de Odín' para velar por Escandinavia (El Mundo)
http://www.elmundo.es/internacional/2016/01/28/56a90f3e268e3e79498b46e4.html
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Membros do grupo neonazi "Soldados de Odin", durante uma manifestação em Joensuu (Finlândia) no passado 8 de janeiro. Reuters |
Com suas jaquetas negras decoradas com uma bandeira finlandesa e um viking nas costas, os Soldados de Odin (o principal deus da mitologia nórdica) converteu-se da noite para o dia numa preocupação de primeira ordem para o governo, que teme enfrentamentos violentos entre radicais e refugiados.
Mika Ranta, o organizador das patrulhas em Kemi, define-se a si mesmo como nacional-socialista (nazi), mas argumenta que os Soldados de Odin são um grupo ao qual pertence "todo tipo de gente". O certo é que os serviços secretos finlandeses vinculam a muitos deles com grupos extremistas. Ainda que digam contar com organização em 23 cidades, a Polícia reduz sua presença a cinco. Em declarações à Imprensa local no outubro passado, Ranta explicou que "despertamos numa situação onde mal viviam diferentes culturas, o que provocou medo e preocupação na comunidade". "O maior problema - acrescenta - foi quando nos inteiramos através do Facebook de que solicitantes de asilo se posicionaram em colégios de primário fazendo fotos de garotas".
Como ocorreu em Colônia e outras cidades alemãs e em Estocolmo, as denúncias de agressões sexuais duplicaram durante o último ano na Finlândia, passando de 75 para 147, se bem que não se conhece a identidade dos autores. De fato, na virada de ano passada, uma "caguetagem" e a hábil atuação policial impediram que se reproduzissem os tristes ocorridos da capital renana.
O clima de inquietação obrigou ao primeiro-ministro finlandês, o centrista Juha Sipila, a assegurar que o Governo não permitisse que essas patrulhas neonazistas suplantem as Forças de Segurança nas ruas. "A polícia é a responsável da lei e da ordem no país. As patrulhas civis não podem assumir a autoridade da Polícia", assegurou na televisão pública YLE. Na mesma linha, o ministro do Interior, o conservador Petteri Orpo, insistiu de que os Soldados de Odin "não fortalecem a segurança, senão que, pelo contrário, reforçam o estado de ânimo hostil". "Este tipo de patrulhas têm claramente uns atributos racistas e xenófobos e sua ação não melhora a segurança. Agora a Polícia deve utilizar seus escassos recursos ao seguimento de sua ação", lamentou Orpi. O ministro quis desautorizar assim o chefe da Polícia Nacional, Seppo Kolehmainen, que previamente havia sugerido que os Soldados de Odin poderiam ser úteis para alertar os agentes de possíveis delitos.
A contundência da tripartite de direitas que governa a Finlândia desde maio não é tão unânime como se poderia pensar. Enquanto que o ministro das Finanças e líder conservador, Alexander Stubb, aposta claramente pela ilegalização de "todas as patrulhas de rua racistas", os populistas "Verdadeiros Finlandeses" defendem a liberdade dos cidadãos para se organizar. Assim, o ministro da Justiça, Jari Lindström, assegura que "o fato de que detrás desse movimento se encontram pessoas que cometeram delitos e cumpriram penas de prisão certamente desperta interesse, mas o grande problema é que os cidadãos sentem que falta segurança". Contudo, a classe política, não oculta que a possível ilegalização do movimento poderia ser um beco sem saída se torna vulnerável os princípios constitucionais.
O Partido dos Finlandeses, antes conhecido como "Verdadeiros Finlandeses", recorre a esta equidistância para frear a queda de intenção de votos que lhes concedem as sondagens para entrar no Governo. Sua marca, entretanto, foi feita sentir nesses meses com o endurecimento das leis de imigração. Os refugiados maiores de idade, por exemplo, são obrigados a trabalhar para sufragar os custos de sua estada no país nórdico. Finlândia, como o resto dos países europeus, viu-se superada pela onda de imigrantes procedentes do Oriente Médio e África. Durante o ano passado, recebeu 32.500 solicitações de asilo frente a 4.000 em 2014, o que a situa como o quarto país da UE que mais refugiados recebeu em relação à sua população. Depois de três anos de recessão, o país nórdico, que conta com uma população imigrante substancialmente baixa que a de seus vizinhos nórdicos (6% frente a 15% da Suécia), afronta um duro reto para a integração de asilados.
Com Facebook como plataforma, a sociedade civil tem respondido a ameaças extremistas dos Soldados de Odin com as "Irmãs de Kyllikki", que faz referência a um personagem do poema épico "Kalevala". "Nosso objetivo é ajudar a pessoas e construir um diálogo com todos os finlandeses e também com os imigrantes", assegura uma das fundadoras do grupo, Niina Ruuska. Seria revelador saber se Odin, deus da guerra, mas também da sabedoria, que segundo a lenda pode ver todo desde seu trono em Asgard, está satisfeito com a usurpação de seu nome por uns poucos.
14 de janeiro de 2016. 03:54h Pedro. G. Poyatos.
Colônia Dinamarca Distúrbios Sociedade
Fonte: La Razón (Espanha)
http://www.larazon.es/internacional/los-soldados-de-odin-aterrorizan-finlandia-IO11681889
Título original: Los Soldados de Odín aterrorizan Finlandia
Tradução: Roberto Lucena
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Observações em um post extra (link será colocado aqui). Observação sobre a "confusão" entre os termos refugiados e imigrantes.
A quem se virar com o espanhol (idioma), vale a pena também ler esta matéria do El Mundo sobre o problema. É até mais completa que a matéria traduzida acima (mais extensa, por isso não deu pra traduzir, mas fica a sugestão):
'Soldados de Odín' para velar por Escandinavia (El Mundo)
http://www.elmundo.es/internacional/2016/01/28/56a90f3e268e3e79498b46e4.html
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
A guerra que se avizinha? Sugestão de leitura: "O último verão europeu", de David Fromkin
Como o verão tende a aumentar o calor, no sentido figurado (refiro-me à ampliação da guerra na Síria, detalho mais abaixo), verão aqui no Hemisfério Sul, na Europa é inverno, acho pertinente colocar uma resenha de um livro sobre a Primeira Guerra Mundial e como a coisa foi se desenvolvendo no último verão antes do estouro da Grande Guerra.
A leitura da resenha do livro é pertinente pois os tambores de guerra se avizinham e não aparentam ser mais somente blefes. O livro em questão é este:
"O último verão europeu" - David Fromkin
A quem não está a par do que se passa, leiam as matérias abaixo:
Turquia e Arábia Saudita admitem enviar tropas para a Síria (RTP, Portugal)
Turquia provoca risco de guerra com participação do Irã e Rússia, adverte parlamentar (Sputinik)
Escalada verbal desperta temor de confronto militar direto Rússia-Turquia (EM)
O xadrez geopolítico do conflito sírio: EUA, Rússia, Turquia e Arábia Saudita (Euronews)
Turquia: Atentado contra autocarros militares provoca 28 mortos em Ancara (Euronews)
Turquia desafia NATO, milícias curdas e cessar-fogo na Síria (Euronews)
Talvez se interessem em ler este post antigo (cliquem nos marcadores/tags dele também):
A crise na Ucrânia, os desdobramentos (um resumo)
A Arábia Saudita (o padrinho ideológico do Estado Islâmico/Daesh), mais a Turquia (que tem conflito com os curdos e já andou protegendo o Daesh) podem entrar na Síria agora que o Estado Islâmico se encontra enfraquecido pelas ações dos bombardeios russos mais a ação em terra do exército sírio, pruma contenção da Rússia dentro da Síria em concordância com o governo daquele país.
Qualquer pessoa sã/razoável sabe que se isso ocorrer (entrada da Turquia e Arábia Saudita no conflito) o sangue que vai jorrar disso será pesado, não se confronta uma potência militar como a Rússia achando que haverá um "passeio" pela Síria. O pior é que a Turquia é membro da OTAN, e sendo membro pode arrastar outros países pro conflito (se não é o que os líderes desses países querem), e ninguém sabe qual será o desfecho disso.
Como consequência dos tambores tocando, já fizeram um encontro do petróleo às pressas pra congelar a produção, com isso o preço do petróleo tenderá a voltar a aumentar, principalmente se a guerra na Síria se ampliar (com a entrada dos "novos atores" suicidas):
Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e Catar vão congelar produção de petróleo (EBC)
'WSJ': Arábia Saudita, Rússia, Qatar, Venezuela concordam em congelar produção de petróleo (JB/WSJ)
Se o barril de pólvora estourar ainda mais na Síria com a entrada dos exército turco e saudita, o preço do petróleo tenderá a subir mais (a economia saudita está com problemas por conta da baixa artificial acordada pra prejudicar a economia de alguns países, inclusive o pré-Sal brasileiro).
Essa é a consequência direta econômica, fora as demais decorrentes desse embate.
Vejam que as fontes de notícias acima são várias, mesmo brasileiras (e não são as da dita "grande mídia").
Destaco isso pra evitar que algum sectário fanático (pleonasmo, muitas vezes), geralmente da extrema-direita liberal, venha encher o saco falando de "viés" político como se eles não tivessem um viés (bem distorcido e extremado por sinal), ou como se fosse "crime" ter opinião. Quem já discutiu com esse pessoal sabe muito bem que não são "flor que se cheire" e que o componente fanático desse pessoal impede qualquer discussão racional. Por essa razão que sempre faço esses alertas, não tenho paciência em "discutir" com esse tipo de lunático.
Em suma, tirem suas próprias conclusões mas não alimentem a ideia de que não podem ser afetados com essas coisas como "burros empacados", até porque o preço do petróleo afeta tudo, mesmo o preço das mercadorias da quitanda da esquina, e há de fato esse grande confronto se desenrolando fora.
A grande mídia no Brasil continua alienando a população não citando a gravidade do que se passa fora do país. Esses fatos podem não parecer "novidade" pra quem lê notícia avulsa na web (ou em outro meio), mas pra grande massa não é bem assim.
A bem da verdade é que a TV aberta do país, mesmo ainda tendo poder, anda beirando a irrelevância devido a sua forte autodesmoralização. A TV aberta (e parte da fechada) foi engolida pela internet, mesmo de forma ainda difusa, por conta da falta de qualidade e do partidarismo político da grande mídia, que a continuar assim tenderá a se auto-implodir com esse partidarismo fanático e doente que zomba da cara de todos, principalmente do povo.
Reparem que o povo no Brasil sempre fica perplexo (há um surto de pânico numa parte, pois se apavoram com essas coisas porque ficam alheios às notícias, pois a maioria não lê nada e "só ouve" ou "assiste" o Plim-Plim da Globo e afins) quando estoura algum conflito porque não estão a par do que se passa fora do país, pois a grande mídia, com destaque sempre pra Rede Globo, quando repassa esses acontecimentos fora, fazem-no de forma superficial tratando o Brasil como uma "grande ilha" isolada do mundo. É mais ou menos como uma parte "sente" o país, como se estivesse "distante" de tudo e não está, visão bem obtusa por sinal.
O problema é que não somos uma "grande ilha", tampouco uma ilha e muito menos estamos isolados do mundo (globalizado), sentimos os efeitos externos no país. Entendendo o que se passa é menos difícil encarar o problema. Em que pese a burrice histérica e histórica de parte da população (a parte fanatizada, manipulável) repetindo as palavras de ordem atual de disco arranhado: "PT, PT, PT" (só sabem dizer isso, repetiram tanto que isso virou uma caricatura).
Sem mais delongas, segue abaixo a resenha do livro "O último verão europeu" (a tradução da resenha), que saiu no Brasil (com capa diferente mais acima, e que retrata os bastidores do período próximo ao estouro da Primeira Guerra Mundial e o conflito de interesses das potências da época. Tem muita coisa parecida com o que se passa atualmente, por isso me veio à mente a indicação desse livro. Caso eu note que o texto acima ficou extenso demais e atrapalha a leitura da resenha, dividirei o texto em dois posts. Porque tem gente que fica "pisando em ovos" quando eu critico esse pessoal "liberal" do Brasil, que de liberal não têm nada (quem acompanha o blog já deve ter lido as críticas que faço a esses grupos, ver na parte de História do Brasil).
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A mesma interrogação cem anos depois: "O último verão europeu: quem começou a Grande Guerra em 1914?" de David Fromkin
Nesses tempos em que cada dia do ano tem suas onomásticas e celebrações, faz-se necessário reflexionar porque alguns acontecimentos estão inscritos em nosso calendário o marcando com sua recordação - ou talvez seu rastro de certo modo não tenha terminado ainda - nosso presente apesar de ter ocorrido, como é o caso dos tratados nesse livro, já há mais de um século.
O relato já conhecido diz que em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando da Áustria, herdeiro do trono do Império Austro-húngaro, foi assassinado junto a sua mulher em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, território que formava parte do império. O assassino, capturado no momento e que aparentemente atuava por iniciativa individual, era de nacionalidade sérvia. Justo um mês depois, em 28 de julho, o Império Austro-húngaro declarava guerra ao Reino da Sérvia, estado independente até 1878, que havia formado parte do Império.
No dia seguinte, a Rússia mobilizava suas tropas na fronteira do império, fato que leva a Alemanha a acusá-la de estar se preparando para entrar em conflito com seu aliado e lhe declara guerra em 1 de agosto. Dois dias depois, em 3 de agosto, a Alemanha declarava guerra também contra a França por sua aliança com a Rússia. Para atacar a França, as tropas alemãs ocuparam, contra a vontade de seu governo, a Bélgica em 4 de agosto, o que motivou a intervenção do Império Britânico declarando guerra à Alemanha.
Que ocorreu entre 28 de junho e o 28 de julho para que o assassinato acabasse dando pé a uma declaração de guerra? Que outros fatores houve além do assassinato do arquiduque? Poderia ter sido evitada? O que motivou o que até então fora conhecido como o maior conflito bélico jamais vivido pela humanidade - "A Grande Guerra"?
A história não é uma ciência exata nem um discurso linear, senão - em função da informação mais ou menos veraz e objetiva que dos fatos acontecidos tenhamos - uma reinterpretação mais ou menos certeira - mas nunca absoluta - sobre os mesmos. Neste marco de volubilidade, David Fromkin recolhe aspectos que apresenta como já analisados pelos historiadores, outros que tardaram mais em se conhecer e alguns por aclarar. De maneira minuciosa, detalha antecedentes bélicos, posicionamentos geoestratégicos e situação socioeconômica de cada uma das potências; personalidades envolvidas, motivações pessoais e relações entre eles,... Sua apresentação e concatenação ordenada dos fatos, junto a uma redação fluída e assertiva, dá-lhe solidez e verossimilhança dos acontecimentos que aborda em suas páginas e que em seu julgamento são as que geraram o clima necessário para que em dado momento, os detonantes necessários desatassem a tormenta perfeita que já não tinha como voltar atrás e que se transformaria na Primeira Guerra Mundial.
Nas mãos dos especialistas, fica a valorização se se tiveram em conta se as informações e dados considerados são os adequados e se estão corretamente unidos e interpretados. Como leitor, seu relato supõe um puzzle (quebra-cabeça) de peças bem alinhavadas que são lidas de maneira apaixonada e com a tensão de quem teve a oportunidade de viver aqueles dias em tempo real.
Um relato que não fica tão só em 1914, senão que abre a porta ao debate. Na análise de Fromkin e tal como expõe de maneira precisa, esta foi uma pugna sobre a liderança mundial, os equilíbrios de poderes e as definições de fronteiras entre nações e estados. Um conflito não resolvido em 1918 e que se prolongaria até 1989 com duas guerras mais, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria.
E enquanto seguimos buscando explicação ao que se passou no início do verão de 1914 (inverno no Hemisfério Sul), não perdemos de vista uma data no calendário. Resta pouco mais de um mês para o 1 de setembro e seu efeméride correspondente com a previsível avalanche de análise do que se passou então também, no 75o aniversário do início da II Guerra Mundial.
Fonte: blog lucasfh1976
https://lucasfh1976.wordpress.com/2014/08/09/la-misma-interrogante-cien-anos-despues-el-ultimo-verano-de-europa-quien-comenzo-la-gran-guerra-en-1914-de-david-fromkin/
Título original: La misma interrogante cien años después: “El último verano de Europa: ¿quién comenzó la Gran Guerra en 1914?” de David Fromkin
Tradução: Roberto Lucena
A leitura da resenha do livro é pertinente pois os tambores de guerra se avizinham e não aparentam ser mais somente blefes. O livro em questão é este:
"O último verão europeu" - David Fromkin
A quem não está a par do que se passa, leiam as matérias abaixo:
Turquia e Arábia Saudita admitem enviar tropas para a Síria (RTP, Portugal)
Turquia provoca risco de guerra com participação do Irã e Rússia, adverte parlamentar (Sputinik)
Escalada verbal desperta temor de confronto militar direto Rússia-Turquia (EM)
O xadrez geopolítico do conflito sírio: EUA, Rússia, Turquia e Arábia Saudita (Euronews)
Turquia: Atentado contra autocarros militares provoca 28 mortos em Ancara (Euronews)
Turquia desafia NATO, milícias curdas e cessar-fogo na Síria (Euronews)
Talvez se interessem em ler este post antigo (cliquem nos marcadores/tags dele também):
A crise na Ucrânia, os desdobramentos (um resumo)
A Arábia Saudita (o padrinho ideológico do Estado Islâmico/Daesh), mais a Turquia (que tem conflito com os curdos e já andou protegendo o Daesh) podem entrar na Síria agora que o Estado Islâmico se encontra enfraquecido pelas ações dos bombardeios russos mais a ação em terra do exército sírio, pruma contenção da Rússia dentro da Síria em concordância com o governo daquele país.
Qualquer pessoa sã/razoável sabe que se isso ocorrer (entrada da Turquia e Arábia Saudita no conflito) o sangue que vai jorrar disso será pesado, não se confronta uma potência militar como a Rússia achando que haverá um "passeio" pela Síria. O pior é que a Turquia é membro da OTAN, e sendo membro pode arrastar outros países pro conflito (se não é o que os líderes desses países querem), e ninguém sabe qual será o desfecho disso.
Como consequência dos tambores tocando, já fizeram um encontro do petróleo às pressas pra congelar a produção, com isso o preço do petróleo tenderá a voltar a aumentar, principalmente se a guerra na Síria se ampliar (com a entrada dos "novos atores" suicidas):
Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e Catar vão congelar produção de petróleo (EBC)
'WSJ': Arábia Saudita, Rússia, Qatar, Venezuela concordam em congelar produção de petróleo (JB/WSJ)
Se o barril de pólvora estourar ainda mais na Síria com a entrada dos exército turco e saudita, o preço do petróleo tenderá a subir mais (a economia saudita está com problemas por conta da baixa artificial acordada pra prejudicar a economia de alguns países, inclusive o pré-Sal brasileiro).
Essa é a consequência direta econômica, fora as demais decorrentes desse embate.
Vejam que as fontes de notícias acima são várias, mesmo brasileiras (e não são as da dita "grande mídia").
Destaco isso pra evitar que algum sectário fanático (pleonasmo, muitas vezes), geralmente da extrema-direita liberal, venha encher o saco falando de "viés" político como se eles não tivessem um viés (bem distorcido e extremado por sinal), ou como se fosse "crime" ter opinião. Quem já discutiu com esse pessoal sabe muito bem que não são "flor que se cheire" e que o componente fanático desse pessoal impede qualquer discussão racional. Por essa razão que sempre faço esses alertas, não tenho paciência em "discutir" com esse tipo de lunático.
Em suma, tirem suas próprias conclusões mas não alimentem a ideia de que não podem ser afetados com essas coisas como "burros empacados", até porque o preço do petróleo afeta tudo, mesmo o preço das mercadorias da quitanda da esquina, e há de fato esse grande confronto se desenrolando fora.
A grande mídia no Brasil continua alienando a população não citando a gravidade do que se passa fora do país. Esses fatos podem não parecer "novidade" pra quem lê notícia avulsa na web (ou em outro meio), mas pra grande massa não é bem assim.
A bem da verdade é que a TV aberta do país, mesmo ainda tendo poder, anda beirando a irrelevância devido a sua forte autodesmoralização. A TV aberta (e parte da fechada) foi engolida pela internet, mesmo de forma ainda difusa, por conta da falta de qualidade e do partidarismo político da grande mídia, que a continuar assim tenderá a se auto-implodir com esse partidarismo fanático e doente que zomba da cara de todos, principalmente do povo.
Reparem que o povo no Brasil sempre fica perplexo (há um surto de pânico numa parte, pois se apavoram com essas coisas porque ficam alheios às notícias, pois a maioria não lê nada e "só ouve" ou "assiste" o Plim-Plim da Globo e afins) quando estoura algum conflito porque não estão a par do que se passa fora do país, pois a grande mídia, com destaque sempre pra Rede Globo, quando repassa esses acontecimentos fora, fazem-no de forma superficial tratando o Brasil como uma "grande ilha" isolada do mundo. É mais ou menos como uma parte "sente" o país, como se estivesse "distante" de tudo e não está, visão bem obtusa por sinal.
O problema é que não somos uma "grande ilha", tampouco uma ilha e muito menos estamos isolados do mundo (globalizado), sentimos os efeitos externos no país. Entendendo o que se passa é menos difícil encarar o problema. Em que pese a burrice histérica e histórica de parte da população (a parte fanatizada, manipulável) repetindo as palavras de ordem atual de disco arranhado: "PT, PT, PT" (só sabem dizer isso, repetiram tanto que isso virou uma caricatura).
Sem mais delongas, segue abaixo a resenha do livro "O último verão europeu" (a tradução da resenha), que saiu no Brasil (com capa diferente mais acima, e que retrata os bastidores do período próximo ao estouro da Primeira Guerra Mundial e o conflito de interesses das potências da época. Tem muita coisa parecida com o que se passa atualmente, por isso me veio à mente a indicação desse livro. Caso eu note que o texto acima ficou extenso demais e atrapalha a leitura da resenha, dividirei o texto em dois posts. Porque tem gente que fica "pisando em ovos" quando eu critico esse pessoal "liberal" do Brasil, que de liberal não têm nada (quem acompanha o blog já deve ter lido as críticas que faço a esses grupos, ver na parte de História do Brasil).
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A mesma interrogação cem anos depois: "O último verão europeu: quem começou a Grande Guerra em 1914?" de David Fromkin

O relato já conhecido diz que em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando da Áustria, herdeiro do trono do Império Austro-húngaro, foi assassinado junto a sua mulher em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, território que formava parte do império. O assassino, capturado no momento e que aparentemente atuava por iniciativa individual, era de nacionalidade sérvia. Justo um mês depois, em 28 de julho, o Império Austro-húngaro declarava guerra ao Reino da Sérvia, estado independente até 1878, que havia formado parte do Império.
No dia seguinte, a Rússia mobilizava suas tropas na fronteira do império, fato que leva a Alemanha a acusá-la de estar se preparando para entrar em conflito com seu aliado e lhe declara guerra em 1 de agosto. Dois dias depois, em 3 de agosto, a Alemanha declarava guerra também contra a França por sua aliança com a Rússia. Para atacar a França, as tropas alemãs ocuparam, contra a vontade de seu governo, a Bélgica em 4 de agosto, o que motivou a intervenção do Império Britânico declarando guerra à Alemanha.
Que ocorreu entre 28 de junho e o 28 de julho para que o assassinato acabasse dando pé a uma declaração de guerra? Que outros fatores houve além do assassinato do arquiduque? Poderia ter sido evitada? O que motivou o que até então fora conhecido como o maior conflito bélico jamais vivido pela humanidade - "A Grande Guerra"?
A história não é uma ciência exata nem um discurso linear, senão - em função da informação mais ou menos veraz e objetiva que dos fatos acontecidos tenhamos - uma reinterpretação mais ou menos certeira - mas nunca absoluta - sobre os mesmos. Neste marco de volubilidade, David Fromkin recolhe aspectos que apresenta como já analisados pelos historiadores, outros que tardaram mais em se conhecer e alguns por aclarar. De maneira minuciosa, detalha antecedentes bélicos, posicionamentos geoestratégicos e situação socioeconômica de cada uma das potências; personalidades envolvidas, motivações pessoais e relações entre eles,... Sua apresentação e concatenação ordenada dos fatos, junto a uma redação fluída e assertiva, dá-lhe solidez e verossimilhança dos acontecimentos que aborda em suas páginas e que em seu julgamento são as que geraram o clima necessário para que em dado momento, os detonantes necessários desatassem a tormenta perfeita que já não tinha como voltar atrás e que se transformaria na Primeira Guerra Mundial.
Nas mãos dos especialistas, fica a valorização se se tiveram em conta se as informações e dados considerados são os adequados e se estão corretamente unidos e interpretados. Como leitor, seu relato supõe um puzzle (quebra-cabeça) de peças bem alinhavadas que são lidas de maneira apaixonada e com a tensão de quem teve a oportunidade de viver aqueles dias em tempo real.
Um relato que não fica tão só em 1914, senão que abre a porta ao debate. Na análise de Fromkin e tal como expõe de maneira precisa, esta foi uma pugna sobre a liderança mundial, os equilíbrios de poderes e as definições de fronteiras entre nações e estados. Um conflito não resolvido em 1918 e que se prolongaria até 1989 com duas guerras mais, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria.
E enquanto seguimos buscando explicação ao que se passou no início do verão de 1914 (inverno no Hemisfério Sul), não perdemos de vista uma data no calendário. Resta pouco mais de um mês para o 1 de setembro e seu efeméride correspondente com a previsível avalanche de análise do que se passou então também, no 75o aniversário do início da II Guerra Mundial.
Fonte: blog lucasfh1976
https://lucasfh1976.wordpress.com/2014/08/09/la-misma-interrogante-cien-anos-despues-el-ultimo-verano-de-europa-quien-comenzo-la-gran-guerra-en-1914-de-david-fromkin/
Título original: La misma interrogante cien años después: “El último verano de Europa: ¿quién comenzó la Gran Guerra en 1914?” de David Fromkin
Tradução: Roberto Lucena
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Diário britânico Guardian exibe o racismo no Brasil
O título original do texto é esse, eu encurtei (resumi) porque título muito grande pode ficar disperso:
Diário britânico Guardian exibe denúncia de atriz Nayara Justino, que perdeu papel de Globeleza “por ser muito negra”
Sugerido pelo TC
Da Redação
O vídeo acima foi produzido pelo diário britânico Guardian.
Para complementá-lo é preciso acrescentar que a elite brasileira importou da Europa a pseudociência que atestava a superioridade dos brancos em relação aos negros. Ela tinha sido formulada para justificar o massacre colonial cometido pelos europeus na partilha da África. Por isso, os negros não tinham alma, eram bárbaros, não tinham História.
A elite brasileira, de forma tragicômica, importou as teorias e derivou delas a tese do branqueamento da população brasileira. Foi a política oficial que trouxe imigrantes de várias partes do mundo, para livrar o Brasil do sangue negro.
Os descendentes de escravos, abandonados pelo Estado depois da abolição, mergulharam definitivamente numa segunda escravidão. Os resquícios do “quanto mais negro, pior” e da mulata como objeto do desejo sexual dos europeus foram incorporados à brasilidade machista, racista e colonizada.
Fonte: The Guardian/Viomundo
http://www.viomundo.com.br/denuncias/guardian-exibe-denuncia-de-atriz-nayara-justino-que-acredita-ter-perdido-o-papel-de-globeleza-por-ser-muito-negra.html
Diário britânico Guardian exibe denúncia de atriz Nayara Justino, que perdeu papel de Globeleza “por ser muito negra”
Sugerido pelo TC
Da Redação
O vídeo acima foi produzido pelo diário britânico Guardian.
Para complementá-lo é preciso acrescentar que a elite brasileira importou da Europa a pseudociência que atestava a superioridade dos brancos em relação aos negros. Ela tinha sido formulada para justificar o massacre colonial cometido pelos europeus na partilha da África. Por isso, os negros não tinham alma, eram bárbaros, não tinham História.
A elite brasileira, de forma tragicômica, importou as teorias e derivou delas a tese do branqueamento da população brasileira. Foi a política oficial que trouxe imigrantes de várias partes do mundo, para livrar o Brasil do sangue negro.
Os descendentes de escravos, abandonados pelo Estado depois da abolição, mergulharam definitivamente numa segunda escravidão. Os resquícios do “quanto mais negro, pior” e da mulata como objeto do desejo sexual dos europeus foram incorporados à brasilidade machista, racista e colonizada.
Fonte: The Guardian/Viomundo
http://www.viomundo.com.br/denuncias/guardian-exibe-denuncia-de-atriz-nayara-justino-que-acredita-ter-perdido-o-papel-de-globeleza-por-ser-muito-negra.html
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Observações do post "Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética"
Antes de repassar as observações do post que também dá título parcial a este post (separarei o texto original com um traço), irei transcrever, quando for possível, algumas observações de outros posts pra não alongar os posts originais, já que algumas observações acabam saindo do tema do post e citando questões políticas atuais no país ou no mundo.
Mas por quê, às vezes (ou muitas vezes), estas observações "saem pela tangente" do tema original do post? (a quem quiser pular esta observação extra, as observações originais do post estão após o traço abaixo e tem informação sobre segunda guerra)
Porque não é possível, por mais esforço que se faça, ignorar a realidade ao redor (do que se passa no país e no mundo) num ambiente de polarização política extrema.
Desde o "Vem pra rua" de 2013 (a "revolução colorida" que não se concretizou, mas faz estrago até hoje) a radicalização política no Brasil, que já era grande, degringolou de vez com grupos reacionários (que se autodenominam como "liberais" ou "liberais-conservadores", e alguns usam o termo "libertários", mas são todos uma coisa só: autoritários, vira-latas, estúpidos e anacrônicos) atacando tudo que consideram "inimigo". E se querem radicalizar, vão ter obviamente um contraponto ou resposta.
Essa polarização política pesada (radicalização) não ocorre só no Brasil, em praticamente quase todo mundo está ocorrendo radicalização política, alguns mais outros menos, mas ocorre em todo mundo.
Só que a polarização no Brasil é agravada ainda mais pela atuação partidarizada da "grande mídia" (o oligopólio de mídia, com destaque pra Rede Globo ou Organizações Globo) e principalmente pelo fato da vulnerabilidade da maior parte da população por aceitar passivamente o que esta grande mídia (que ascendeu na ditadura de 21 anos do país) repassa como "verdade" em questões atuais do país.
Esse não é um "problema" pequeno, é algo extremamente sério e não dá pra ignorar ou deixar de lado.
Evitei ao extremo não sair do tema segunda guerra, mas... uma vez que muita gente não mantém distância dos temas atuais (tentam misturá-los) e uma outra parte fica "calada" (quieta) pra não tomar posição, por covardia (mesmo quando deve), então não sou obrigado a respeitar qualquer um desses lados (não levarei em conta qualquer um desses dois lados pra tomar posições).
Quando pessoas começam a "cercar", enchendo a paciência com temas atuais porque querem usar A, B ou C como "escudos" pra algum fim político (no Orkut isso ocorreu), a tentativa de distanciamento de questões atuais (pra evitar trazer gente tosca, fanática e ignorante panfletando besteira pra junto) vai literalmente pro ralo.
E ninguém se iluda, eu não faço questão alguma de agradar A, B ou C porque alguém aparenta ser "educado" ao mesmo tempo que defende extremismo, ou porque comunidade A ou B tem posição "x" em relação ao Oriente Médio e coisas afins.
Sou humano (porque questões nacionais não devem ficar acima da condição humana), mas sou cidadão brasileiro, e minha visão política de mundo é de cidadão brasileiro (carregada do nativismo de minha terra natal, nativismo que também ocorre em todos os estados do país, uns mais outros menos), mesmo que eu saiba qual é o ponto de vista de outros países.
Não abro mão disso em hipótese alguma discutindo com outros brasileiros. Porque há brasileiros com crise de identidade nacional aguda (tanto brasileiros fora do Brasil como dentro do país), mas isso é problema dessas pessoas, não meu. Não sou "clínica de autoajuda" pra gente com esse tipo de problema.
Que fique claro que quando faço as observações acima, estou me referindo estritamente a discussões em português, principalmente com brasileiros, porque eu não percebo esse tipo de crise de identidade ou "grilo" (de grilado) que sempre remete a um complexo, ou mesmo preconceito agudo porque "fulano" é de tal país, estado, região, cidade (tirando o antissemitismo característico dos "revis") nas discussões em inglês como no blog Holocaust Controversies, no Rodoh etc.
Observações do post "Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética" logo abaixo.
__________________________________________________________________________
Observação 1: quem quiser ler mais sobre a diretiva de Hitler, conferir o link do blog Avidanofront:
Ordem do führer sobre a administração das regiões do leste novamente ocupadas
Quem quiser ver o documento em inglês:
Himmler’s Memorandum on the Treatment of Alien Peoples in the East, 25 May 1940
E se alguém achar que isso é o texto mais pesado sobre a questão, tem coisas piores, que envolvem o nazi Erhard Wetzel (figura pouco citada e conhecida) sobre o Generalplan Ost. É curioso o cinismo dos ditos "revis" com a dimensão da guerra de extermínio praticada pelos nazistas, eles praticamente evitar citar essa questão do extermínio no leste europeu.
Cinismo e muitas vezes ignorância e estupidez também já que o conhecimento de boa parte deles do evento é precário ou totalmente distorcido, o que não apaga a ideia asquerosa por detrás desse apego desmedido deles com o que eles visualizam ou identificam como 'nazismo'.
Antes de ser algo caricato como a gente costuma ironizar a cretinice de alguns deles, no fundo esse pessoal é adepto do darwinismo social, como também o é alguns grupos que se denominam "liberais", mas que evitam a citação do termo "darwinismo" explicitamente por motivos óbvios (seriam facilmente rotulados de racistas), embora tenham uma aversão cínica e profunda com a questão do combate ao preconceito e racismo no Brasil e um ódio de classe profundo contra pobres (é essa uma das raízes do darwinismo social).
Ao contrário do que muita gente pensa, esse tipo de ideia de exclusão e racista é bem difundida em algumas cidades brasileiras. A "aparição" de grupos denominados "neonazis" no Brasil, ao contrário do que a mídia propaga como sendo "algo absurdo", infelizmente não é. O que ocorre é que esta mesma mídia e governos não têm interesse de esclarecer nada do assunto e nem de se aprofundar no problema da origem do racismo moderno no Brasil (que tem ligação direta com o evento da imigração pro Brasil no século XIX e começo do século XX), assunto que nem sequer é citado em colégios quando deveria ser obrigatório a discussão disso. E um adendo, refiro-me tanto à mídia de direita e de esquerda. Só vi uma vez citarem algo relativo a isso no site Viomundo, mas era só sobre São Paulo. Ou seja, o assunto sobre branqueamento no Brasil (que é o que dá base a esse racismo atual no país, as crenças racistas, além da herança racista colonial) sequer é discutido por conveniência, pra manter esses preconceitos regionais (preconceitos com conotação racista) inalterados.
Mas como dizia, a aparição desses bandos ditos "neonazis" no Brasil não é algo tão "absurdo" assim, apesar da adoção de símbolos do fascismo alemão por eles sempre soar ridículo pois o Brasil é um país com predominância da cultura portuguesa, indígena e negra, não excluindo as contribuições dos outros povos que pra cá migraram, mas essa também é a base étnica da maior parte do país, inclusive em regiões que a mídia propagam como "brancas" ou sem ligação com essas três culturas e povos (apesar de falarem português o tempo todo... vejam só...) porque há um sentimento de aversão dessas cidades com Portugal, negros e indígenas.
A mídia brasileira, de uns tempos pra cá, andar querendo "escandinavizar" o Brasil, talvez pra suprir seus complexos e sentimentos obscuros (que não tem coragem de externar), embora mantenha pro público externo a imagem do Brasil "tropical" formulada no Estado Novo do país (com contribuição da Disney) que perdura até hoje.
Como já deu pra notar, minha opinião sobre a mídia brasileira não é lá muito boa (e também de boa parte da mídia estrangeira). Digamos que, fizeram por onde ter essa imagem negativa, a "birra" não surgiu do nada. Em geral, a imagem da mídia hoje no mundo não é muito boa, pra não dizer que é terrível.
________________________________
Observação 2: Quem quiser baixar o livro (PDF), vá ao link do site do Centro de História Militar do Exército dos EUA.
Fiz questão de frisar a fonte pra servir como uma amostra pros fanáticos de direita do Brasil, com uma obsessão em repetir discurso da guerra fria.
A quem assistiu a abertura da Copa e leu o texto que coloquei aqui sobre ela (eu não profetizei...), viram uma demonstração desse fanatismo e radicalização imbecil nos xingamentos que esses fanáticos bitolados (e sem qualquer pingo de educação), na parte mais cara do estádio (com ingressos mais caros, setor "VIP" da baixaria e da elite Zé Povinho, o populacho medonho, a gentalha abastada brasileira), proferiram contra a presidente do país, quando não caberia numa cerimônia de abertura se comportarem tão grotescamente daquela forma achando que estavam "abafando", independente de divergência política.
Seria igualmente errado se o fato ocorresse com um presidente com outro retrospecto ideológico, eleito democraticamente. Há que se saber separar divergências de fanatismo e sectarismo, que é o que esse pessoal está fazendo há bastante tempo insuflados por certa mídia irresponsável, inconsequente e corporativa do país. Queimaram-se lindamente pro mundo inteiro ver.
Nem a principal potência rival da URSS (que não existe mais) possui um sectarismo e fanatismo tão estreitos com esses assuntos como o que se verifica na direita brasileira e latinoamericana (e ibérica), ou na maior parte dela. Sectarismo que mistura uma dose de paranoia, idiotice, má educação, prepotência e fanatismo religioso (obscurantismo).
_______________________________
Observação 3: tem uma parte do texto (nas notas 45 e 46) que diz o seguinte:
A própria ideia racista de ocupação e aniquilação de povos no leste (por estes serem inferiores ou descartáveis por ideias racistas, na concepção nazista) não é propriamente algo original da guerra anticomunista da segunda guerra, esta guerra também foi uma guerra de colonização, uma guerra "racial" (étnica) de aniquilação, só que dessa vez na Europa, como as ocorridas nas colonizações feitas na África e nas Américas.
Mas por quê, às vezes (ou muitas vezes), estas observações "saem pela tangente" do tema original do post? (a quem quiser pular esta observação extra, as observações originais do post estão após o traço abaixo e tem informação sobre segunda guerra)
Porque não é possível, por mais esforço que se faça, ignorar a realidade ao redor (do que se passa no país e no mundo) num ambiente de polarização política extrema.
Desde o "Vem pra rua" de 2013 (a "revolução colorida" que não se concretizou, mas faz estrago até hoje) a radicalização política no Brasil, que já era grande, degringolou de vez com grupos reacionários (que se autodenominam como "liberais" ou "liberais-conservadores", e alguns usam o termo "libertários", mas são todos uma coisa só: autoritários, vira-latas, estúpidos e anacrônicos) atacando tudo que consideram "inimigo". E se querem radicalizar, vão ter obviamente um contraponto ou resposta.
Essa polarização política pesada (radicalização) não ocorre só no Brasil, em praticamente quase todo mundo está ocorrendo radicalização política, alguns mais outros menos, mas ocorre em todo mundo.
Só que a polarização no Brasil é agravada ainda mais pela atuação partidarizada da "grande mídia" (o oligopólio de mídia, com destaque pra Rede Globo ou Organizações Globo) e principalmente pelo fato da vulnerabilidade da maior parte da população por aceitar passivamente o que esta grande mídia (que ascendeu na ditadura de 21 anos do país) repassa como "verdade" em questões atuais do país.
Esse não é um "problema" pequeno, é algo extremamente sério e não dá pra ignorar ou deixar de lado.
Evitei ao extremo não sair do tema segunda guerra, mas... uma vez que muita gente não mantém distância dos temas atuais (tentam misturá-los) e uma outra parte fica "calada" (quieta) pra não tomar posição, por covardia (mesmo quando deve), então não sou obrigado a respeitar qualquer um desses lados (não levarei em conta qualquer um desses dois lados pra tomar posições).
Quando pessoas começam a "cercar", enchendo a paciência com temas atuais porque querem usar A, B ou C como "escudos" pra algum fim político (no Orkut isso ocorreu), a tentativa de distanciamento de questões atuais (pra evitar trazer gente tosca, fanática e ignorante panfletando besteira pra junto) vai literalmente pro ralo.
E ninguém se iluda, eu não faço questão alguma de agradar A, B ou C porque alguém aparenta ser "educado" ao mesmo tempo que defende extremismo, ou porque comunidade A ou B tem posição "x" em relação ao Oriente Médio e coisas afins.
Sou humano (porque questões nacionais não devem ficar acima da condição humana), mas sou cidadão brasileiro, e minha visão política de mundo é de cidadão brasileiro (carregada do nativismo de minha terra natal, nativismo que também ocorre em todos os estados do país, uns mais outros menos), mesmo que eu saiba qual é o ponto de vista de outros países.
Não abro mão disso em hipótese alguma discutindo com outros brasileiros. Porque há brasileiros com crise de identidade nacional aguda (tanto brasileiros fora do Brasil como dentro do país), mas isso é problema dessas pessoas, não meu. Não sou "clínica de autoajuda" pra gente com esse tipo de problema.
Que fique claro que quando faço as observações acima, estou me referindo estritamente a discussões em português, principalmente com brasileiros, porque eu não percebo esse tipo de crise de identidade ou "grilo" (de grilado) que sempre remete a um complexo, ou mesmo preconceito agudo porque "fulano" é de tal país, estado, região, cidade (tirando o antissemitismo característico dos "revis") nas discussões em inglês como no blog Holocaust Controversies, no Rodoh etc.
Observações do post "Sobre a Ordem dos Comissários: instruções da guerra de aniquilação nazista na União Soviética" logo abaixo.
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Observação 1: quem quiser ler mais sobre a diretiva de Hitler, conferir o link do blog Avidanofront:
Ordem do führer sobre a administração das regiões do leste novamente ocupadas
Quem quiser ver o documento em inglês:
Himmler’s Memorandum on the Treatment of Alien Peoples in the East, 25 May 1940
E se alguém achar que isso é o texto mais pesado sobre a questão, tem coisas piores, que envolvem o nazi Erhard Wetzel (figura pouco citada e conhecida) sobre o Generalplan Ost. É curioso o cinismo dos ditos "revis" com a dimensão da guerra de extermínio praticada pelos nazistas, eles praticamente evitar citar essa questão do extermínio no leste europeu.
Cinismo e muitas vezes ignorância e estupidez também já que o conhecimento de boa parte deles do evento é precário ou totalmente distorcido, o que não apaga a ideia asquerosa por detrás desse apego desmedido deles com o que eles visualizam ou identificam como 'nazismo'.
Antes de ser algo caricato como a gente costuma ironizar a cretinice de alguns deles, no fundo esse pessoal é adepto do darwinismo social, como também o é alguns grupos que se denominam "liberais", mas que evitam a citação do termo "darwinismo" explicitamente por motivos óbvios (seriam facilmente rotulados de racistas), embora tenham uma aversão cínica e profunda com a questão do combate ao preconceito e racismo no Brasil e um ódio de classe profundo contra pobres (é essa uma das raízes do darwinismo social).
Ao contrário do que muita gente pensa, esse tipo de ideia de exclusão e racista é bem difundida em algumas cidades brasileiras. A "aparição" de grupos denominados "neonazis" no Brasil, ao contrário do que a mídia propaga como sendo "algo absurdo", infelizmente não é. O que ocorre é que esta mesma mídia e governos não têm interesse de esclarecer nada do assunto e nem de se aprofundar no problema da origem do racismo moderno no Brasil (que tem ligação direta com o evento da imigração pro Brasil no século XIX e começo do século XX), assunto que nem sequer é citado em colégios quando deveria ser obrigatório a discussão disso. E um adendo, refiro-me tanto à mídia de direita e de esquerda. Só vi uma vez citarem algo relativo a isso no site Viomundo, mas era só sobre São Paulo. Ou seja, o assunto sobre branqueamento no Brasil (que é o que dá base a esse racismo atual no país, as crenças racistas, além da herança racista colonial) sequer é discutido por conveniência, pra manter esses preconceitos regionais (preconceitos com conotação racista) inalterados.
Mas como dizia, a aparição desses bandos ditos "neonazis" no Brasil não é algo tão "absurdo" assim, apesar da adoção de símbolos do fascismo alemão por eles sempre soar ridículo pois o Brasil é um país com predominância da cultura portuguesa, indígena e negra, não excluindo as contribuições dos outros povos que pra cá migraram, mas essa também é a base étnica da maior parte do país, inclusive em regiões que a mídia propagam como "brancas" ou sem ligação com essas três culturas e povos (apesar de falarem português o tempo todo... vejam só...) porque há um sentimento de aversão dessas cidades com Portugal, negros e indígenas.
A mídia brasileira, de uns tempos pra cá, andar querendo "escandinavizar" o Brasil, talvez pra suprir seus complexos e sentimentos obscuros (que não tem coragem de externar), embora mantenha pro público externo a imagem do Brasil "tropical" formulada no Estado Novo do país (com contribuição da Disney) que perdura até hoje.
Como já deu pra notar, minha opinião sobre a mídia brasileira não é lá muito boa (e também de boa parte da mídia estrangeira). Digamos que, fizeram por onde ter essa imagem negativa, a "birra" não surgiu do nada. Em geral, a imagem da mídia hoje no mundo não é muito boa, pra não dizer que é terrível.
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Observação 2: Quem quiser baixar o livro (PDF), vá ao link do site do Centro de História Militar do Exército dos EUA.
Fiz questão de frisar a fonte pra servir como uma amostra pros fanáticos de direita do Brasil, com uma obsessão em repetir discurso da guerra fria.
A quem assistiu a abertura da Copa e leu o texto que coloquei aqui sobre ela (eu não profetizei...), viram uma demonstração desse fanatismo e radicalização imbecil nos xingamentos que esses fanáticos bitolados (e sem qualquer pingo de educação), na parte mais cara do estádio (com ingressos mais caros, setor "VIP" da baixaria e da elite Zé Povinho, o populacho medonho, a gentalha abastada brasileira), proferiram contra a presidente do país, quando não caberia numa cerimônia de abertura se comportarem tão grotescamente daquela forma achando que estavam "abafando", independente de divergência política.
Seria igualmente errado se o fato ocorresse com um presidente com outro retrospecto ideológico, eleito democraticamente. Há que se saber separar divergências de fanatismo e sectarismo, que é o que esse pessoal está fazendo há bastante tempo insuflados por certa mídia irresponsável, inconsequente e corporativa do país. Queimaram-se lindamente pro mundo inteiro ver.
Nem a principal potência rival da URSS (que não existe mais) possui um sectarismo e fanatismo tão estreitos com esses assuntos como o que se verifica na direita brasileira e latinoamericana (e ibérica), ou na maior parte dela. Sectarismo que mistura uma dose de paranoia, idiotice, má educação, prepotência e fanatismo religioso (obscurantismo).
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Observação 3: tem uma parte do texto (nas notas 45 e 46) que diz o seguinte:
"A ocupação era para ser permanente. Este era o objetivo final do que Hitler queria fazer, e nada nem ninguém estava autorizado a interferir com a realização deste empreendimento.45 Esta foi uma luta de ideologias, não de nações."Pois bem, essa era também minha opinião anterior sobre o evento, mas analisando a coisa hoje eu discordo da minha opinião anterior. Esta foi uma guerra ideológica sim, entre o fascismo (nazismo) e o socialismo da URSS, mas também uma guerra entre nações e de aniquilação.
A própria ideia racista de ocupação e aniquilação de povos no leste (por estes serem inferiores ou descartáveis por ideias racistas, na concepção nazista) não é propriamente algo original da guerra anticomunista da segunda guerra, esta guerra também foi uma guerra de colonização, uma guerra "racial" (étnica) de aniquilação, só que dessa vez na Europa, como as ocorridas nas colonizações feitas na África e nas Américas.
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sábado, 6 de fevereiro de 2016
Relatório Salitter (Riga, Letônia)
Relatório do oficial de polícia Salitter, que comandou os guardas de transporte de judeus deportados de Duesseldorf para Riga em 11 de dezembro de 1941 [1]
Duesseldorf, 26 de dezembro de 1941 Relatório Confidencial sobre a evacuação dos judeus para Riga ... 11-17 novembro de 1941. O transporte de judeus planejado para 11 de dezembro de 1941 incluiu 1.007 judeus das cidades de Duisburg, Krefeld e várias pequenas cidades e comunidades das áreas industriais de Rhinelandand Westfalia. Duesseldorf apresentou apenas 19 judeus. O transporte foi composto por judeus de ambos os sexos, de várias idades - desde bebês até pessoas de 65 anos. A partida do transporte estava prevista para às 09:30. Os judeus foram, portanto, trazidos para a rampa de carregamento já prontos para embarcar às 4:00 da manhã. Entretanto, o Reichsbahn não podia ter o trem pronto tão cedo, alegadamente devido à falta de pessoal, então o carregamento dos judeus só começou às 9:00 da manhã.
O carregamento foi feito com grande pressa, tanto quanto o Reichsbahn insistiu que o trem devia sair na hora certa. Portanto, não é surpresa que alguns carros estavam superlotados (de 60-65 pessoas), enquanto outros tinham apenas 35-40 passageiros. Essas circunstâncias causaram problemas ao longo de toda a viagem para Riga, desde judeus sozinhos que tentaram várias vezes entrar em carros menos movimentadas. E por mais que o tempo permitisse, em alguns casos foi permitido fazer alterações, como também havia mães que tinham sido separadas de seus filhos. No caminho da área de desembarque para do matadouro para a plataforma, um judeu do sexo masculino tentou cometer suicídio, atirando-se na frente do bonde. Mas ele bateu no para-choque do carro de rua e ficou apenas ligeiramente ferido. Ele se recuperou durante a viagem, e percebeu que não podia evitar compartilhar do destino de the evacuados. Uma mulher judia idosa se afastou da plataforma sem que ninguém percebesse - estava chovendo e muito escuro - entrou numa casa próxima, tirou a roupa e sentou-se num vaso sanitário. No entanto uma mulher da limpeza notou o caso e ela foi levada de volta para o transporte.
... O carregamento do trem terminou às 10:15 e ... o trem deixou a estação Duesseldorf-Derendorf por volta das 10:30 .... Devido a um sistema de aquecimento com defeito, a pressão de vapor não atingia os últimos carros do comboio. Por causa do frio, a roupa dos esquadrões de guarda não secavam. (Choveu durante todo o transporte). Assim, tive que lidar com guardas que não conseguiam cumprir seu serviço devido à doença. ... [O trem chegou à Lituânia em 12 de dezembro] Normalmente, a viagem de comboio a partir deste ponto para Riga levaria 14 horas, mas como não havia apenas uma faixa de trilho e nosso trem tinha apenas uma segunda prioridade, a viagem foi muitas vezes mantidos por longos períodos de tempo. ... Chegamos em Mittau na Letônia às 19:30 [13 de dezembro]. Estava frio e a neve caindo. Chegamos em Riga às 21:50. O trem foi mantido na estação por uma hora e meia. ...
O trem ficou parado sem calor. A temperatura exterior era de menos 12 graus centígrados .... À 01:45, voltamos para o trem e mais seis guardas letões foram encarregados de ver o trem. Porque era meia-noite, escuro e a plataforma estava coberta com uma espessa camada de gelo, então foi decidido transferir os judeus para o gueto de Sarnel apenas no domingo de manhã. Conclusões: as provisões [para os guardas] eram boas e suficientes. Para os homens foram fornecidos dois cobertores, utensílios de cozinha e fogões de campo, roupas quentes, peles e botas quentes, que provaram ser muito úteis e foram recomendados para transportes futuros. As pistolas e munições fornecidos eram suficientes porque não havia perigo de ataques por partidários na Lituânia e Letônia. ... as duas luzes de busca serviram bem a seu propósito .... a assistência da Cruz Vermelha foi louvável ...
Para prover os judeus com água, era essencial que a Gestapo entrasse em contato com o Reichsbahn e coordenasse uma hora de parada todos os dias numa estação ferroviária no Reich. Devido à tabela de tempo, o Reichsbahn estava relutante em cumprir a vontade do comandante dos transportes. Os judeus ficaram geralmente na estrada por 14 horas ou mais antes do transporte partir e de ter se esgotado todas as bebidas que eles tinham para eles. Quando eles não são supridos com água durante a viagem, eles tentam, apesar da proibição, deixar o trem em cada ponto possível ou pedir a outros para obter água. É também essencial que o Reichsbahn preparasse os trens pelo menos 3-4 horas antes da partida, para que o carregamento dos judeus e seus pertences, de modo que o carregamento de judeus pudesse ser conduzido de forma ordenada. A Gestapo tem que se certificar que o Reichsbahn colocou o carro (vagão) para o destacamento de guarda no centro do comboio. ... Isto é essencial para a supervisão do transporte .... Durante frio extremo, deve-se ter certeza de que o aquecimento do trem funciona. Os homens do pelotão de guarda não me deram nenhum motivo para eu reclamar. Com exceção do fato de que tive que pedir a alguns deles para agir mais energicamente contra os judeus que queriam desobedecer minhas ordens, todos eles se comportaram bem e cumpriram bem seu dever. Não houve incidentes de doenças ou quaisquer outros problemas. Assinado: Salitter (ver mais), Hauptmann (Capitão) da Schupo (Link2).
[1]. Ver também "Deportation to Riga" -- testemunho de Hilde Sherman que foi deportado no mesmo transporte.
Fonte: Yad Vashem site (Shoah Resource Center, The International School for Holocaust Studies)
http://www.yadvashem.org/odot_pdf/Microsoft%20Word%20-%203288.pdf
Título original: Report by Police officer Salitter, who commanded the guards on the transport deporting Jews from Duesseldorf to Riga 11 December 1941
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais: «Evidence for the Presence of "Gassed" Jews in the Occupied Eastern Territories» (3, 3) (Holocaust Controversies)
Duesseldorf, 26 de dezembro de 1941 Relatório Confidencial sobre a evacuação dos judeus para Riga ... 11-17 novembro de 1941. O transporte de judeus planejado para 11 de dezembro de 1941 incluiu 1.007 judeus das cidades de Duisburg, Krefeld e várias pequenas cidades e comunidades das áreas industriais de Rhinelandand Westfalia. Duesseldorf apresentou apenas 19 judeus. O transporte foi composto por judeus de ambos os sexos, de várias idades - desde bebês até pessoas de 65 anos. A partida do transporte estava prevista para às 09:30. Os judeus foram, portanto, trazidos para a rampa de carregamento já prontos para embarcar às 4:00 da manhã. Entretanto, o Reichsbahn não podia ter o trem pronto tão cedo, alegadamente devido à falta de pessoal, então o carregamento dos judeus só começou às 9:00 da manhã.
O carregamento foi feito com grande pressa, tanto quanto o Reichsbahn insistiu que o trem devia sair na hora certa. Portanto, não é surpresa que alguns carros estavam superlotados (de 60-65 pessoas), enquanto outros tinham apenas 35-40 passageiros. Essas circunstâncias causaram problemas ao longo de toda a viagem para Riga, desde judeus sozinhos que tentaram várias vezes entrar em carros menos movimentadas. E por mais que o tempo permitisse, em alguns casos foi permitido fazer alterações, como também havia mães que tinham sido separadas de seus filhos. No caminho da área de desembarque para do matadouro para a plataforma, um judeu do sexo masculino tentou cometer suicídio, atirando-se na frente do bonde. Mas ele bateu no para-choque do carro de rua e ficou apenas ligeiramente ferido. Ele se recuperou durante a viagem, e percebeu que não podia evitar compartilhar do destino de the evacuados. Uma mulher judia idosa se afastou da plataforma sem que ninguém percebesse - estava chovendo e muito escuro - entrou numa casa próxima, tirou a roupa e sentou-se num vaso sanitário. No entanto uma mulher da limpeza notou o caso e ela foi levada de volta para o transporte.
... O carregamento do trem terminou às 10:15 e ... o trem deixou a estação Duesseldorf-Derendorf por volta das 10:30 .... Devido a um sistema de aquecimento com defeito, a pressão de vapor não atingia os últimos carros do comboio. Por causa do frio, a roupa dos esquadrões de guarda não secavam. (Choveu durante todo o transporte). Assim, tive que lidar com guardas que não conseguiam cumprir seu serviço devido à doença. ... [O trem chegou à Lituânia em 12 de dezembro] Normalmente, a viagem de comboio a partir deste ponto para Riga levaria 14 horas, mas como não havia apenas uma faixa de trilho e nosso trem tinha apenas uma segunda prioridade, a viagem foi muitas vezes mantidos por longos períodos de tempo. ... Chegamos em Mittau na Letônia às 19:30 [13 de dezembro]. Estava frio e a neve caindo. Chegamos em Riga às 21:50. O trem foi mantido na estação por uma hora e meia. ...
O trem ficou parado sem calor. A temperatura exterior era de menos 12 graus centígrados .... À 01:45, voltamos para o trem e mais seis guardas letões foram encarregados de ver o trem. Porque era meia-noite, escuro e a plataforma estava coberta com uma espessa camada de gelo, então foi decidido transferir os judeus para o gueto de Sarnel apenas no domingo de manhã. Conclusões: as provisões [para os guardas] eram boas e suficientes. Para os homens foram fornecidos dois cobertores, utensílios de cozinha e fogões de campo, roupas quentes, peles e botas quentes, que provaram ser muito úteis e foram recomendados para transportes futuros. As pistolas e munições fornecidos eram suficientes porque não havia perigo de ataques por partidários na Lituânia e Letônia. ... as duas luzes de busca serviram bem a seu propósito .... a assistência da Cruz Vermelha foi louvável ...
Para prover os judeus com água, era essencial que a Gestapo entrasse em contato com o Reichsbahn e coordenasse uma hora de parada todos os dias numa estação ferroviária no Reich. Devido à tabela de tempo, o Reichsbahn estava relutante em cumprir a vontade do comandante dos transportes. Os judeus ficaram geralmente na estrada por 14 horas ou mais antes do transporte partir e de ter se esgotado todas as bebidas que eles tinham para eles. Quando eles não são supridos com água durante a viagem, eles tentam, apesar da proibição, deixar o trem em cada ponto possível ou pedir a outros para obter água. É também essencial que o Reichsbahn preparasse os trens pelo menos 3-4 horas antes da partida, para que o carregamento dos judeus e seus pertences, de modo que o carregamento de judeus pudesse ser conduzido de forma ordenada. A Gestapo tem que se certificar que o Reichsbahn colocou o carro (vagão) para o destacamento de guarda no centro do comboio. ... Isto é essencial para a supervisão do transporte .... Durante frio extremo, deve-se ter certeza de que o aquecimento do trem funciona. Os homens do pelotão de guarda não me deram nenhum motivo para eu reclamar. Com exceção do fato de que tive que pedir a alguns deles para agir mais energicamente contra os judeus que queriam desobedecer minhas ordens, todos eles se comportaram bem e cumpriram bem seu dever. Não houve incidentes de doenças ou quaisquer outros problemas. Assinado: Salitter (ver mais), Hauptmann (Capitão) da Schupo (Link2).
[1]. Ver também "Deportation to Riga" -- testemunho de Hilde Sherman que foi deportado no mesmo transporte.
Fonte: Yad Vashem site (Shoah Resource Center, The International School for Holocaust Studies)
http://www.yadvashem.org/odot_pdf/Microsoft%20Word%20-%203288.pdf
Título original: Report by Police officer Salitter, who commanded the guards on the transport deporting Jews from Duesseldorf to Riga 11 December 1941
Tradução: Roberto Lucena
Ver mais: «Evidence for the Presence of "Gassed" Jews in the Occupied Eastern Territories» (3, 3) (Holocaust Controversies)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
O horror de Auschwitz e do holocausto por quem o escreveu na primeira pessoa: Primo Levi
O mais sangrento dos campos de concentração foi libertado há 71 anos. É hoje o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. E poucos como Primo Levi escreveram sobre ele. Viveu-o. Sobreviveu-lhe.
Não é (nem nunca foi) uma teoria da conspiração por parte de Wiesel dizê-lo. É antes a constatação de que o homem-Levi, químico, resistente antifascista na frente de guerra, não voltou de Auschwitz homem, mas apenas um corpo, com memória e uma mão com que escrever.
Aos 24 anos foi transportado para Auschwitz. Ele e outros seiscentos e cinquenta judeus italianos. Estávamos em fevereiro de 1944. Deles, só vinte sobreviveram — Levi incluído. Quando se viu, enfim, libertado pelo exército soviético, a 27 de janeiro de 1945, ao fim de 11 meses de privação e indignidade humana, Levi havia envelhecido, não 11 meses, mas décadas. Não só fisicamente. Mas serviu-lhe a experiência, de morte, não a sua mas a que testemunhou dia-a-dia à sua frente, todos os dias, a experiência de sobreviver quase miraculosamente — a resiliência fez o resto –, essa experiência-limite permitiu-lhe escrever, por exemplo, “Se Isto é Um Homem” (a trilogia de Auschwitz completa-se com “A Trégua” e “Os que Sucumbem e os que se Salvam”).
Nem só sobre o holocausto escreveu Primo Levi, mas quando o fez, mais do que procurar culpados ou explicações, narrou. Simplesmente isso: narrou o horror, sem artifícios, com crueza, a vida no mais sangrento dos campos de concentração do Terceiro Reich. O campo foi libertado há 71 anos. E também por isso se assinalada, nesta data e desde 2005, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.
Mais do que ler a não-ficção de autores como Levi, Wiesel ou Imre Kertèsz, mais do que ver no cinema ou em casa “A Lista de Schindler” e, mais recente, “Filho de Saul”, de Laszlo Nemes (o filme recebeu o Grande Prêmio de Cannes e o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro), mais importante que isso é ler os relatos, sem polimentos literários ou de realização, como os que Levi (a par com Leonardo de Benedetti) escreveu em “Assim foi Auschwitz”. Em 1945, no rescaldo do fim da Guerra e da libertação dos campos de concentração pelos aliados, o exército soviético pediu a Primo Levi e a Benedetti, seu companheiro de campo, que redigissem, em detalhe, como eram as condições de vida lá. O resultado foi um dos primeiros relatórios alguma vez realizados sobre os campos de extermínio. Os textos de Levi, inéditos, finalmente trazidos à estampa no último ano, têm um valor histórico e humano tão importante hoje, 71 anos volvidos sobre o fim da Segunda Guerra, como quando este os escreveu.
Lá, Levi escreveu — o mesmo Levi que, em “Se Isto é Um Homem”, sentia mais culpa por ter sobrevivo (e os outros não) do que culpava os nazis pelo extermino — que “a responsabilidade repousa coletivamente sobre todos os soldados, sargentos e oficiais da SS destacados em Auschwitz”. O livro “Assim foi Auschwitz” serviu também para, ao longo das décadas — e ainda nos nossos dias –, trazer ex-carrascos aos tribunais. Julgá-los. Para que a história os recorde como isso: carrascos. Por outro lado, é também importante perceber que Primo Levi considera que, mais do que o mero extermino de judeus, os campos de concentração serviam para impulsionar a própria economia da Alemanha.
Autor: Tiago Palma
27/1/2016, 16:48
Fonte: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2016/01/27/horror-auschwitz-do-holocausto-escreveu-na-primeira-pessoa-primo-levi/
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Rene Burri/Magnum |
"Isto é o inferno. Hoje, nos nossos dias, o inferno deve ser assim: uma sala grande e vazia, e nós, cansados, de pé, diante de uma torneira gotejante mas que não tem água potável, esperando algo certamente terrível , e nada acontece, e continua a não acontecer nada. Como é possível pensar? Não é mais possível; é como se estivéssemos mortos. Alguns sentam-se no chão. O tempo passa, gota a gota." Primo Levi, “Se Isto é um Homem” (1947)11 de abril de 1987. Na manhã em que Primo Levi morreu – o relatório da polícia italiana aponta para uma tese de suicídio, relatando que Levi se atirou mortalmente do terceiro andar de casa, em Turim –, Elie Wiesel, autor de “A Noite” (também sobre a experiência de horrores vivida num campo de concentração nazi) e prêmio Nobel da Paz em 1986, escreveu: “Primo Levi não morreu hoje. Morreu há quarenta anos, em Auschwitz.” Levi tinha 67 anos à data do suicido.
Não é (nem nunca foi) uma teoria da conspiração por parte de Wiesel dizê-lo. É antes a constatação de que o homem-Levi, químico, resistente antifascista na frente de guerra, não voltou de Auschwitz homem, mas apenas um corpo, com memória e uma mão com que escrever.
Aos 24 anos foi transportado para Auschwitz. Ele e outros seiscentos e cinquenta judeus italianos. Estávamos em fevereiro de 1944. Deles, só vinte sobreviveram — Levi incluído. Quando se viu, enfim, libertado pelo exército soviético, a 27 de janeiro de 1945, ao fim de 11 meses de privação e indignidade humana, Levi havia envelhecido, não 11 meses, mas décadas. Não só fisicamente. Mas serviu-lhe a experiência, de morte, não a sua mas a que testemunhou dia-a-dia à sua frente, todos os dias, a experiência de sobreviver quase miraculosamente — a resiliência fez o resto –, essa experiência-limite permitiu-lhe escrever, por exemplo, “Se Isto é Um Homem” (a trilogia de Auschwitz completa-se com “A Trégua” e “Os que Sucumbem e os que se Salvam”).
Nem só sobre o holocausto escreveu Primo Levi, mas quando o fez, mais do que procurar culpados ou explicações, narrou. Simplesmente isso: narrou o horror, sem artifícios, com crueza, a vida no mais sangrento dos campos de concentração do Terceiro Reich. O campo foi libertado há 71 anos. E também por isso se assinalada, nesta data e desde 2005, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.
Mais do que ler a não-ficção de autores como Levi, Wiesel ou Imre Kertèsz, mais do que ver no cinema ou em casa “A Lista de Schindler” e, mais recente, “Filho de Saul”, de Laszlo Nemes (o filme recebeu o Grande Prêmio de Cannes e o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro), mais importante que isso é ler os relatos, sem polimentos literários ou de realização, como os que Levi (a par com Leonardo de Benedetti) escreveu em “Assim foi Auschwitz”. Em 1945, no rescaldo do fim da Guerra e da libertação dos campos de concentração pelos aliados, o exército soviético pediu a Primo Levi e a Benedetti, seu companheiro de campo, que redigissem, em detalhe, como eram as condições de vida lá. O resultado foi um dos primeiros relatórios alguma vez realizados sobre os campos de extermínio. Os textos de Levi, inéditos, finalmente trazidos à estampa no último ano, têm um valor histórico e humano tão importante hoje, 71 anos volvidos sobre o fim da Segunda Guerra, como quando este os escreveu.
Lá, Levi escreveu — o mesmo Levi que, em “Se Isto é Um Homem”, sentia mais culpa por ter sobrevivo (e os outros não) do que culpava os nazis pelo extermino — que “a responsabilidade repousa coletivamente sobre todos os soldados, sargentos e oficiais da SS destacados em Auschwitz”. O livro “Assim foi Auschwitz” serviu também para, ao longo das décadas — e ainda nos nossos dias –, trazer ex-carrascos aos tribunais. Julgá-los. Para que a história os recorde como isso: carrascos. Por outro lado, é também importante perceber que Primo Levi considera que, mais do que o mero extermino de judeus, os campos de concentração serviam para impulsionar a própria economia da Alemanha.
Escrevia Levi: "Os campos não eram um fenômeno marginal: a indústria alemã baseava-se neles; eram uma instituição fundamental do fascismo na Europa e os nazis não o escondiam: mais do que mantê-los, alargavam-nos e aperfeiçoavam-nos."Num sábado, dia 11 de Abril, em 1987, por volta das 10 horas da manhã, a porteira de um prédio na avenida Corso Rei Umberto, em Turim, tocou à porta do 3.º andar para, como em todos os dias, entregar o correio. Primo Levi abriu-lhe a porta, sorriu-lhe e recebeu-o. Voltou a entrar em casa. Poucos minutos depois o seu corpo estatelava-se no fundo da escada, ao lado do elevador. Morreu instantaneamente. Primo Levi sobreviveu ao holocausto no pior dos campos de concentração. Não sobreviveu aos dias fora dele — mas com ele por dentro, vivo, a remoer-lhe.
Autor: Tiago Palma
27/1/2016, 16:48
Fonte: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2016/01/27/horror-auschwitz-do-holocausto-escreveu-na-primeira-pessoa-primo-levi/
domingo, 31 de janeiro de 2016
[Pausa Musical] - A Nova Música Portuguesa: Diabo na Cruz
Pra quem não conhece, e embora seja difícil de encontrar os arquivos dessa banda na web, o som é muito bom. O Brasil desaprendeu a fazer música (não se pode ganhar sempre, rs) e Portugal faz uma nova música muito interessante, com som renovado e linguagem moderna (visual e musical).
Achei essa banda ao acaso no Youtube, ou o Youtube que sugeriu (não lembro) e é um misto de rock com uma sonoridade folclórica-popular de Portugal (algumas músicas têm essa sonoridade). Os clipes também são bem feitos, o melhor deles (visual e pela música) talvez seja o "Bomba-canção", as imagens foram tiradas de um filme (quando eu procurar de novo o nome do filme coloco aqui, rs, agora que eu vi que se encontra no final do clipe, "Campo de flamingos sem flamingos", de André Príncipe). O outro vídeo com visual muito bacana pois mostra coisas do folclore (dança e o visual do país) é a música "Siga a rusga", embora a música que os colocou no cenário musical português deva ser a "Dona Ligeirinha" (o que chamam de sucesso comercial, que não é necessariamente sinônimo de má música), que no vídeo também mostra a dança típica de Portugal (o visual combinou com a sonoridade da música).
Ainda sobre os vídeos (clipes), o vídeo "Luzia" foi gravado em alguma cidade do interior de Portugal, em alguma procissão ou marcha cultural local com trajes típicos (folclore, música) e tem uma sonoridade de música de baile (mais ou menos), e o vídeo de "Ganhar o dia" mostra cenas de alguma turnê/apresentação pelo cenário musical (pop/rock) português em algumas localidades, também tem sonoridade inovadora mas sem deixar de lado o som de guitarra misturado com um som bem português.
Bom, em parte o post de certa forma resgata certas origens do Brasil, de Norte a Sul, é um remédio pros "separatismos" exóticos que pipocam (ainda que) virtualmente, por gente ignóbil. Sinto pelo restante (quem chegou depois, paciência... rs), mas o impacto da cultura portuguesa, africana e indígena do país ainda dão forma ao Brasil, tanto que não preciso citar o nome do idioma oficial do país, quer alguns gostem ou não. E vem desse "não gostar" ou "sentir ódio" ao país, por sua formação cultural, a crise de identidade atual do Brasil, embora sempre caiba mais um ou uma cultura, rs.
Vejam o cerco cultural que o Brasil vive, a gente só tem acesso ou ouve falar dessas bandas graças à internete o Youtube porque a grande mídia do país (o oligopólio de mídia), americanófilo, só passa lixo importado dos EUA fora os lixos nacionais (que destruíram a indústria musical do país, apesar de alegarem que não). A música brasileira, que antes era sinônimo de qualidade e respeito no mundo foi reduzida a pó pela mídia do país e falta de escrúpulo da indústria fonográfica nas mãos de multinacionais, se bem que o quadro em alguns países é desolador (nos próprios EUA a indústria musical anda um verdadeiro esterco).
A cena rock/pop em Portugal é menos volumosa (o porte) que a espanhola, que acabei tendo ideia (sabendo da existência) graças à internet, aos kamikazes (a banda tem uma música com esse título, rs) e à banda Amaral (de Saragoça), que era a banda mais conhecida e popular na Espanha, embora não creio que hoje estejam em alta na Espanha, tanto pela crise econômica daquele país (que já perdura desde 2008 e altera o humor da população) e apesar do disco novo, pois a banda Amaral (que na verdade é um duo) demora muito pra lançar um disco de um pro outro lançamento e isso afeta consideravelmente a popularidade da banda, preciosismo em excesso apesar da qualidade bem alta. Como também eles já não têm mais o ritmo que tinham no começo (quando estouraram, entre os anos de 2002 e 2005, apogeu) porque saíram de um selo de peso (EMI, agora Universal) pra adotar o próprio selo independente e consequentemente piorou a distribuição/divulgação dos discos, concertos etc. A meu ver um erro feio deles.
Confiram a música do Diabo na Cruz abaixo (selecionei uns vídeos, quem quiser ver mais, virem-se no Youtube) e os clipes das músicas. O novo som que veio de Portugal. Pro Brasil sair desse bitolamento midiático imposto pela Globo e seguido pelo resto da mídia do país que só repassam enlatado dos EUA (música de quinta) e lixo musical nacional.
Diabo na Cruz - Bomba-Canção (video oficial)
Diabo na Cruz - Dona Ligeirinha (video oficial)
Diabo na Cruz - "Siga a Rusga"
Diabo na Cruz - Luzia (video oficial)
Diabo na Cruz - Ganhar o Dia
Achei essa banda ao acaso no Youtube, ou o Youtube que sugeriu (não lembro) e é um misto de rock com uma sonoridade folclórica-popular de Portugal (algumas músicas têm essa sonoridade). Os clipes também são bem feitos, o melhor deles (visual e pela música) talvez seja o "Bomba-canção", as imagens foram tiradas de um filme (quando eu procurar de novo o nome do filme coloco aqui, rs, agora que eu vi que se encontra no final do clipe, "Campo de flamingos sem flamingos", de André Príncipe). O outro vídeo com visual muito bacana pois mostra coisas do folclore (dança e o visual do país) é a música "Siga a rusga", embora a música que os colocou no cenário musical português deva ser a "Dona Ligeirinha" (o que chamam de sucesso comercial, que não é necessariamente sinônimo de má música), que no vídeo também mostra a dança típica de Portugal (o visual combinou com a sonoridade da música).
Ainda sobre os vídeos (clipes), o vídeo "Luzia" foi gravado em alguma cidade do interior de Portugal, em alguma procissão ou marcha cultural local com trajes típicos (folclore, música) e tem uma sonoridade de música de baile (mais ou menos), e o vídeo de "Ganhar o dia" mostra cenas de alguma turnê/apresentação pelo cenário musical (pop/rock) português em algumas localidades, também tem sonoridade inovadora mas sem deixar de lado o som de guitarra misturado com um som bem português.
Bom, em parte o post de certa forma resgata certas origens do Brasil, de Norte a Sul, é um remédio pros "separatismos" exóticos que pipocam (ainda que) virtualmente, por gente ignóbil. Sinto pelo restante (quem chegou depois, paciência... rs), mas o impacto da cultura portuguesa, africana e indígena do país ainda dão forma ao Brasil, tanto que não preciso citar o nome do idioma oficial do país, quer alguns gostem ou não. E vem desse "não gostar" ou "sentir ódio" ao país, por sua formação cultural, a crise de identidade atual do Brasil, embora sempre caiba mais um ou uma cultura, rs.
Vejam o cerco cultural que o Brasil vive, a gente só tem acesso ou ouve falar dessas bandas graças à internete o Youtube porque a grande mídia do país (o oligopólio de mídia), americanófilo, só passa lixo importado dos EUA fora os lixos nacionais (que destruíram a indústria musical do país, apesar de alegarem que não). A música brasileira, que antes era sinônimo de qualidade e respeito no mundo foi reduzida a pó pela mídia do país e falta de escrúpulo da indústria fonográfica nas mãos de multinacionais, se bem que o quadro em alguns países é desolador (nos próprios EUA a indústria musical anda um verdadeiro esterco).
A cena rock/pop em Portugal é menos volumosa (o porte) que a espanhola, que acabei tendo ideia (sabendo da existência) graças à internet, aos kamikazes (a banda tem uma música com esse título, rs) e à banda Amaral (de Saragoça), que era a banda mais conhecida e popular na Espanha, embora não creio que hoje estejam em alta na Espanha, tanto pela crise econômica daquele país (que já perdura desde 2008 e altera o humor da população) e apesar do disco novo, pois a banda Amaral (que na verdade é um duo) demora muito pra lançar um disco de um pro outro lançamento e isso afeta consideravelmente a popularidade da banda, preciosismo em excesso apesar da qualidade bem alta. Como também eles já não têm mais o ritmo que tinham no começo (quando estouraram, entre os anos de 2002 e 2005, apogeu) porque saíram de um selo de peso (EMI, agora Universal) pra adotar o próprio selo independente e consequentemente piorou a distribuição/divulgação dos discos, concertos etc. A meu ver um erro feio deles.
Confiram a música do Diabo na Cruz abaixo (selecionei uns vídeos, quem quiser ver mais, virem-se no Youtube) e os clipes das músicas. O novo som que veio de Portugal. Pro Brasil sair desse bitolamento midiático imposto pela Globo e seguido pelo resto da mídia do país que só repassam enlatado dos EUA (música de quinta) e lixo musical nacional.
Diabo na Cruz - Bomba-Canção (video oficial)
Diabo na Cruz - Dona Ligeirinha (video oficial)
Diabo na Cruz - "Siga a Rusga"
Diabo na Cruz - Luzia (video oficial)
Diabo na Cruz - Ganhar o Dia
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
O Hitler "marxista". As falsificações de Hermann Rauschning - Parte 1
Já circulavam no Orkut "frases soltas" de um suposto livro de um alemão (que só não digo que alegaram que ele era historiador porque não salvei print disso e, como o Orkut rodou, o Google tirou do ar como a maioria já sabe, não dá pra recuperar as discussões) "provando" o marxismo de Hitler e consequentemente a falácia da extrema-direita liberal (que se denomina "libertária") de que o "nazismo é de esquerda".
O livro em questão é do Hermann Rauschning. Abaixo segue a explicação sobre o "status" do livro, vale a pena ler até o fim.
Mas irei mostrar mais uma vez porque não discuto esse tipo de idiotice com quem prega esse tipo de distorção. É uma discussão pueril, muitas vezes pior do que as que ocorriam com os "revisionistas" (ao menos esses leem o que pregam, ou têm uma ideia do que discutem, mesmo que façam distorções também).
Quem prega essas mentiras, com veemência (fanatismo tem disso), está assinando atestado de imbecilidade e desonestidade em último grau, ou está afirmando claramente (mesmo sem querer) que não tem ideia do que propaga e só repete bobagem que leu na internet pra defender seu extremismo político.
Só lembro remotamente de uma pessoa querendo discutir essa questão do "nazismo de esquerda" a sério, a pessoa tinha dúvidas e não "certezas", o que propicia um debate. Mas a maioria que repete esse mantra só sabe repetir clichê e defender a distorção, mesmo que mostrem que não tem valor algum.
Não lembro mais exatamente do teor exato das discussões mas lembro das citações desses trechos do Rauschning razoavelmente, era algo bem "bombástico" (entre aspas). Tão "bombástico" que nenhum Historiador de peso sobre nazismo "levou a sério" antes (essa é a parte hilária da coisa). O termo "bombástico" aqui é uma ironia, pois é absurdo alguém crer/achar que algum historiador de segunda guerra/nazismo não tenha ideia de que nazismo é de extrema-direita ou do que se trata o livro de Rauschning, e eles explicam o porquê do nazismo ser de direita/extrema-direita em livros sérios do tema. Há vários títulos nos posts de bibliografia e ranking, basta procurar. Só lê porcaria, hoje, quem quer. Informação não falta, é só procurar.
Sem mais delongas, o livro em questão é do Hermann Rauschning, conservador revolucionário alemão (pois é, existe "revolução conservadora", ao contrário do que certo astrólogo, guru de uma patota barulhenta espalhou dogmaticamente anos a fio na rede como sendo a "verdade das verdades"), que diz ter sido feito de conversações com Hitler. A quem quiser ler mais sobre esse movimento revolucionário conservador alemão, confira o post:
O Movimento Revolucionário Conservador alemão, precursor do nazismo
E a tag (marcador): Conservadorismo
Só há um "pequeno problema" com o livro do Rauschning: o livro é fraudulento, falso, tem crédito zero com historiadores de peso (como o Ian Kershaw, dentre outros nomes, ficarei devendo o trecho) que alegam que Rauschning inventou diversas partes do livro e que o livro é descartável. Só isso basta pra não discutir qualquer trecho reproduzido do livro por fanatismo político e panfletagem.
Podem ler a parte do verbete que comenta o caso e os que contestam, entre o Ian Kershaw (como já citei acima), autor britânico da que é considerada a melhor biografia de Hitler (a mais completa):
Clique em Authenticity of Hitler Speaks pra ler a contestação do livro. (A autenticidade de "Voice of Destruction", é como foi traduzido o título do livro pro inglês, ou uma das traduções). Ficarei devendo a tradução. Pode ficar pruma parte 2 deste post.
Em francês a parte onde comenta que o livro é fraudulento: Hitler m'a dit, une source discréditée
O verbete em português da Wikipedia sobre Rauschning é simplesmente deprimente, não menciona essa questão de que o livro não tem crédito e relata as "conversas" como se fossem sérias. Confirmando o que eu já disse sobre a Wikipedia, o problema dela é a versão em português, onde um bando de cabeças de bagre cortam o que é acrescentado, mesmo se correto, e deixam essa porcaria no lugar por sectarismo ideológico e desonestidade, a versão da Wikipedia em inglês é muito boa e completa. Se o dono do site observar esse problema (a polarização política, fanática, desonesta e sectária que há no Brasil principalmente), melhorará a versão em português.
A quem "chiar" (der piti) porque a Wikipedia foi usada, o conteúdo que consta dela (verbete em inglês) está correto, é isso que importa e não o fato de estar na Wikipedia, há as notas para verificar de onde foram tiradas as informações. Digo isso porque tem uma massa de pedantes (e ignóbeis) neste país que tentam desqualificar a informação/conteúdo só por o mesmo estar na Wikipedia, mesmo se você apontar o livro original (colocar links, trechos etc, como consta aqui e que constará no post da sequência). Repito isso, 'n' vezes se for preciso, porque chega dessa desqualificação ridícula como arma retórica. As citações nos verbetes em inglês contam com as informações nas notas, se o povo não verifica as notas é outra discussão, mas já desqualificam a Wikipedia sem fundamento (refiro-me à versão em inglês, a em português é de fato problemática). Este é um preconceito que perdura mais no Brasil (como vários outros preconceitos).
Voltando ao tema que interessa, a disseminação dessas frases do "Hitler marxista" ou "executor do marxismo" prosseguiram pela web, além do Orkut, obviamente.
Se as pessoas ao menos verificassem esses trechos sensacionalistas, de onde saem, verificariam a falsificação facilmente. Infelizmente a maioria não verifica trechos controvertidos demais (que não são aceitos por nenhuma correta historiográfica), preferem crer em qualquer bobagem que leem na rede.
O mais curioso é que a extrema-esquerda "esperta", que "sabe tudo" (que geralmente tem ranço com este blog por conta do nome), porque quando a gente comenta ou corrige algo deles alguns já ficam irritados porque "não pode estar errado", não souberam rebater/localizar uma bobagem dessas e evitavam participar das comunidades de segunda guerra do Orkut. Vivem num mundo à parte. Toda vez que aparecia uma olavete panfletando besteira sobre segunda guerra (como essa do post), esse pessoal da extrema-esquerda sectária costumava ficar perdido (embora nunca admitissem) por não entenderem que não basta fazer escárnio com esse tipo de extremismo, tem que mostrar seriamente que a panfletagem pregada por esse pessoal é uma distorção, uma mentira. Mostrar de onde foi tirada, o que é aceito como sério etc, indicar alguma fonte séria pro povo ler e não ficar fazendo "gracinha" gratuita por escárnio.
Há um desinteresse nesse pessoal (da extrema-esquerda e esquerda em geral) por temática de segunda guerra, guerra fria etc, mas acham que conseguem rebater o arsenal de distorções da direita radical (que adquiriu certa "tara" por segunda guerra) sem ler esses temas, com sectarismo, ficando em guetos.
Deixando essa questão de lado, irei transcrever uma citação do livro como ela costuma ser repetida a exaustão (inclusive com o nome do autor do livro escrito errado, pra vocês verem, nem um erro desses, banal, a turma da panfletagem corrigiu ou verificou), pois foi por esse trecho que localizei o livro. Inclusive o trecho tem antissemitismo escancarado.
Depois eu "passo" por "chato" (dizer a verdade num país onde grupos radicais inflados pela mídia querem falar mais alto que o Papa está virando um ato de resistência política) por afirmar que esses grupos radicais liberais do Brasil não veem muito problema em endossar esse tipo de panfletagem, embora quando são apertados começam a negar. Essa é a primeira:
Quem quiser ver o livro original (em francês), confira neste link abaixo (em PDF):
"Hitler M'a dit" de Hermann Rauschning
E aqui a versão em inglês do livro (em PDF):
THE VOICE OF DESTRUCTION - Hermann Rauschning
Em espanhol (não localizei o PDF):
Hitler me dijo: Entrevista de Hermann Rauschning a Adolfo Hitler
O nome do Rauschning acima (no link dos PDFs do livro) está correto, ao contrário da tradução com erro do nome que está em destaque mais acima, com trecho do livro.
Curioso que num dos sites ou página que colocam essa panfletagem com os trechos do livro, diz que o "livro é raro". O livro é tão raro que tem logo dois PDFs dele acima com cópias, em francês e inglês, pra todo gosto, hahahaha. Se não me engano eu acho até que encontrei isso em espanhol. O livro se encontra a um clique e não o localizaram. Mas pra reproduzir besteira, são rápidos.
Sobre os sites que reproduzem a panfletagem como correta, podem achar pela web, eu não colocarei isto aqui pois não quero esse tipo de fanático enchendo o saco, chorando, achando que vou ceder e concordar com a mentira deles pra não ficarem "chateados". Essa gente olavete, ou neocon brasileiro, é muito, mas muito insuportável/chato, com um nível de discussão ridículo. Foi por isso que evitei ao extremo citar esse povo aqui, nunca os quis por perto, o nível baixa (quando falo em baixar, é no sentido literal: partem pra agressão, xingamento, grosserias e coisas do tipo) e sou chato nesse ponto.
Deixando isso de lado, como entendo melhor o inglês (eu não falo francês, apenas entendo porcamente alguma coisa, por enquanto, dá só pro gasto com ajuda do tradutor), usarei a versão do livro em inglês em vez daquela em francês.
O trecho que destaquei acima segue abaixo da edição em inglês (PDF, pág. 115), com tradução minha na sequência. E como dá pra ver, a tradução que fizeram antes está distorcida (pra variar...):
Rauschning's Phony 'Conversations With Hitler': An Update. Mark Weber
Les fausses «Conversations avec Hitler» de Rauschning : une mise au point. Mark Weber
Os "revis" também afirmam que o livro é uma falsificação.
Vejam só a que ponto chegamos, o fanatismo dessa extrema-direita liberal (libertária) é tão grande que até "revis" conseguem demonstrar que algo está errado de tanta cretinice que esses "libertários" (ultraliberais) panfletam sobre nazismo e segunda guerra. Fiz o post na pressa senão acabaria deixando de lado.
Como acho que já mencionei acima (se for redundância depois eu corto, ou corrijo), esta panfletagem é também espalhada em círculos "conservadores neocons", que são reacionários que em tese "odeiam" o nazismo (mas nem tanto assim...). O "ódio" é porque hoje em dia "pega mal" eles declararem amor aos nazis com o sentimento anti-esquerda deles (com a retórica da guerra fria, quem for de esquerda é "comunista"), mas eles não sentem uma aversão "profunda", daí preferem manter "certa distância" desse tipo de denominação (taticamente) até que estoure algum regime fascista de novo na Europa e o Fascismo fique "fashion" (na moda) de novo, pra valer. Já vi vários declararem amor à Marine Le Pen em páginas de Portugal, amor à "verdadeira direita" (rs). Como disse em outros posts, esses "libertários" (ultraliberais) do Brasil são o PSTU da direita. Eles, o Bolsonaro e cia.
Com os últimos posts sobre fanatismo político no país, 3 perfis saíram do blog (da parte "seguir"), só pra mostrar a quanto anda o extremismo político no país.
O livro em questão é do Hermann Rauschning. Abaixo segue a explicação sobre o "status" do livro, vale a pena ler até o fim.
Mas irei mostrar mais uma vez porque não discuto esse tipo de idiotice com quem prega esse tipo de distorção. É uma discussão pueril, muitas vezes pior do que as que ocorriam com os "revisionistas" (ao menos esses leem o que pregam, ou têm uma ideia do que discutem, mesmo que façam distorções também).
Quem prega essas mentiras, com veemência (fanatismo tem disso), está assinando atestado de imbecilidade e desonestidade em último grau, ou está afirmando claramente (mesmo sem querer) que não tem ideia do que propaga e só repete bobagem que leu na internet pra defender seu extremismo político.
Só lembro remotamente de uma pessoa querendo discutir essa questão do "nazismo de esquerda" a sério, a pessoa tinha dúvidas e não "certezas", o que propicia um debate. Mas a maioria que repete esse mantra só sabe repetir clichê e defender a distorção, mesmo que mostrem que não tem valor algum.
Não lembro mais exatamente do teor exato das discussões mas lembro das citações desses trechos do Rauschning razoavelmente, era algo bem "bombástico" (entre aspas). Tão "bombástico" que nenhum Historiador de peso sobre nazismo "levou a sério" antes (essa é a parte hilária da coisa). O termo "bombástico" aqui é uma ironia, pois é absurdo alguém crer/achar que algum historiador de segunda guerra/nazismo não tenha ideia de que nazismo é de extrema-direita ou do que se trata o livro de Rauschning, e eles explicam o porquê do nazismo ser de direita/extrema-direita em livros sérios do tema. Há vários títulos nos posts de bibliografia e ranking, basta procurar. Só lê porcaria, hoje, quem quer. Informação não falta, é só procurar.
Sem mais delongas, o livro em questão é do Hermann Rauschning, conservador revolucionário alemão (pois é, existe "revolução conservadora", ao contrário do que certo astrólogo, guru de uma patota barulhenta espalhou dogmaticamente anos a fio na rede como sendo a "verdade das verdades"), que diz ter sido feito de conversações com Hitler. A quem quiser ler mais sobre esse movimento revolucionário conservador alemão, confira o post:
O Movimento Revolucionário Conservador alemão, precursor do nazismo
E a tag (marcador): Conservadorismo
Só há um "pequeno problema" com o livro do Rauschning: o livro é fraudulento, falso, tem crédito zero com historiadores de peso (como o Ian Kershaw, dentre outros nomes, ficarei devendo o trecho) que alegam que Rauschning inventou diversas partes do livro e que o livro é descartável. Só isso basta pra não discutir qualquer trecho reproduzido do livro por fanatismo político e panfletagem.
Podem ler a parte do verbete que comenta o caso e os que contestam, entre o Ian Kershaw (como já citei acima), autor britânico da que é considerada a melhor biografia de Hitler (a mais completa):
Clique em Authenticity of Hitler Speaks pra ler a contestação do livro. (A autenticidade de "Voice of Destruction", é como foi traduzido o título do livro pro inglês, ou uma das traduções). Ficarei devendo a tradução. Pode ficar pruma parte 2 deste post.
Em francês a parte onde comenta que o livro é fraudulento: Hitler m'a dit, une source discréditée
O verbete em português da Wikipedia sobre Rauschning é simplesmente deprimente, não menciona essa questão de que o livro não tem crédito e relata as "conversas" como se fossem sérias. Confirmando o que eu já disse sobre a Wikipedia, o problema dela é a versão em português, onde um bando de cabeças de bagre cortam o que é acrescentado, mesmo se correto, e deixam essa porcaria no lugar por sectarismo ideológico e desonestidade, a versão da Wikipedia em inglês é muito boa e completa. Se o dono do site observar esse problema (a polarização política, fanática, desonesta e sectária que há no Brasil principalmente), melhorará a versão em português.
A quem "chiar" (der piti) porque a Wikipedia foi usada, o conteúdo que consta dela (verbete em inglês) está correto, é isso que importa e não o fato de estar na Wikipedia, há as notas para verificar de onde foram tiradas as informações. Digo isso porque tem uma massa de pedantes (e ignóbeis) neste país que tentam desqualificar a informação/conteúdo só por o mesmo estar na Wikipedia, mesmo se você apontar o livro original (colocar links, trechos etc, como consta aqui e que constará no post da sequência). Repito isso, 'n' vezes se for preciso, porque chega dessa desqualificação ridícula como arma retórica. As citações nos verbetes em inglês contam com as informações nas notas, se o povo não verifica as notas é outra discussão, mas já desqualificam a Wikipedia sem fundamento (refiro-me à versão em inglês, a em português é de fato problemática). Este é um preconceito que perdura mais no Brasil (como vários outros preconceitos).
Voltando ao tema que interessa, a disseminação dessas frases do "Hitler marxista" ou "executor do marxismo" prosseguiram pela web, além do Orkut, obviamente.
Se as pessoas ao menos verificassem esses trechos sensacionalistas, de onde saem, verificariam a falsificação facilmente. Infelizmente a maioria não verifica trechos controvertidos demais (que não são aceitos por nenhuma correta historiográfica), preferem crer em qualquer bobagem que leem na rede.
O mais curioso é que a extrema-esquerda "esperta", que "sabe tudo" (que geralmente tem ranço com este blog por conta do nome), porque quando a gente comenta ou corrige algo deles alguns já ficam irritados porque "não pode estar errado", não souberam rebater/localizar uma bobagem dessas e evitavam participar das comunidades de segunda guerra do Orkut. Vivem num mundo à parte. Toda vez que aparecia uma olavete panfletando besteira sobre segunda guerra (como essa do post), esse pessoal da extrema-esquerda sectária costumava ficar perdido (embora nunca admitissem) por não entenderem que não basta fazer escárnio com esse tipo de extremismo, tem que mostrar seriamente que a panfletagem pregada por esse pessoal é uma distorção, uma mentira. Mostrar de onde foi tirada, o que é aceito como sério etc, indicar alguma fonte séria pro povo ler e não ficar fazendo "gracinha" gratuita por escárnio.
Há um desinteresse nesse pessoal (da extrema-esquerda e esquerda em geral) por temática de segunda guerra, guerra fria etc, mas acham que conseguem rebater o arsenal de distorções da direita radical (que adquiriu certa "tara" por segunda guerra) sem ler esses temas, com sectarismo, ficando em guetos.
Deixando essa questão de lado, irei transcrever uma citação do livro como ela costuma ser repetida a exaustão (inclusive com o nome do autor do livro escrito errado, pra vocês verem, nem um erro desses, banal, a turma da panfletagem corrigiu ou verificou), pois foi por esse trecho que localizei o livro. Inclusive o trecho tem antissemitismo escancarado.
Depois eu "passo" por "chato" (dizer a verdade num país onde grupos radicais inflados pela mídia querem falar mais alto que o Papa está virando um ato de resistência política) por afirmar que esses grupos radicais liberais do Brasil não veem muito problema em endossar esse tipo de panfletagem, embora quando são apertados começam a negar. Essa é a primeira:
"Eu não sou apenas o vencedor do marxismo. Se se despoja desta doutrina seu dogmatismo judeu-talmúdico, para guardar dela apenas seu objetivo final, aquilo o que ela contém de vistas corretas e justas eu sou o realizador do marxismo". (Adolf Hitler, apud Hermann Rauschinning, Hitler m'a dit, Coopération, Paris 1939, pp 211)Outro erro, o termo "pp" em português é usado como sigla pra "páginas" (plural). Também não corrigiram. A transcrição acima (e as demais) deve ter sido coletada em algum site de extrema-direita francês (traduzidas pro português, mas vai que venham do espanhol), pois cita a edição em francês e o título do livro em francês também.
Quem quiser ver o livro original (em francês), confira neste link abaixo (em PDF):
"Hitler M'a dit" de Hermann Rauschning
E aqui a versão em inglês do livro (em PDF):
THE VOICE OF DESTRUCTION - Hermann Rauschning
Em espanhol (não localizei o PDF):
Hitler me dijo: Entrevista de Hermann Rauschning a Adolfo Hitler
O nome do Rauschning acima (no link dos PDFs do livro) está correto, ao contrário da tradução com erro do nome que está em destaque mais acima, com trecho do livro.
Curioso que num dos sites ou página que colocam essa panfletagem com os trechos do livro, diz que o "livro é raro". O livro é tão raro que tem logo dois PDFs dele acima com cópias, em francês e inglês, pra todo gosto, hahahaha. Se não me engano eu acho até que encontrei isso em espanhol. O livro se encontra a um clique e não o localizaram. Mas pra reproduzir besteira, são rápidos.
Sobre os sites que reproduzem a panfletagem como correta, podem achar pela web, eu não colocarei isto aqui pois não quero esse tipo de fanático enchendo o saco, chorando, achando que vou ceder e concordar com a mentira deles pra não ficarem "chateados". Essa gente olavete, ou neocon brasileiro, é muito, mas muito insuportável/chato, com um nível de discussão ridículo. Foi por isso que evitei ao extremo citar esse povo aqui, nunca os quis por perto, o nível baixa (quando falo em baixar, é no sentido literal: partem pra agressão, xingamento, grosserias e coisas do tipo) e sou chato nesse ponto.
Deixando isso de lado, como entendo melhor o inglês (eu não falo francês, apenas entendo porcamente alguma coisa, por enquanto, dá só pro gasto com ajuda do tradutor), usarei a versão do livro em inglês em vez daquela em francês.
O trecho que destaquei acima segue abaixo da edição em inglês (PDF, pág. 115), com tradução minha na sequência. E como dá pra ver, a tradução que fizeram antes está distorcida (pra variar...):
"I am not only the conqueror, but also the executor of Marxism—of that part of it that is essential and justified, stripped of its Jewish-Talmudic dogma."E tem mais abaixo, só que sem indicar as páginas e não são traduções minhas, é como são encontradas pela web (eu as localizei na edição em inglês por páginas, num segundo post coloco o texto original com a nova tradução, se for necessária):
"Eu não sou apenas o conquistador, mas também o executor do marxismo-daquela parte dele que é essencial e justificada, tirando dele seu dogma judaico-talmúdico."
"Não é a Alemanha que será bolchevisada, é o bolchevismo que se tornará uma espécie de nacional socialismo. Aliás, existem entre nós nazistas e os bolchevistas mais pontos comuns do que há divergências, e, antes de tudo,o verdadeiro espírito revolucionário, que se encontra na Rússia como entre nós, por toda a parte onde os marxistas judeus não controlam o jogo. Eu sempre levei em conta esta verdade e é por isso que eu dei ordem de aceitar imediatamente no partido todos os ex comunistas"Eu farei uma segunda parte deste post e nela coloco os trechos mencionados acima no livro original em inglês, citando a página do trecho, onde tentarei colocar os comentários do Kershaw (traduzidos, foi por isso que cabe um segundo post, mas tem o link sobre isso em inglês, acima) e outros autores sobre a credibilidade desse livro do Rauschning, já que só tem comentário sobre a fraude desse livro em sites "revisionistas", confiram o texto em inglês e francês (ambos os sites são negacionistas, fica o aviso):
"Eu aprendi muito do marxismo, e eu não sonho esconder isso. O que me interessou e me instruiu nos marxistas foram os seus métodos. Todo o Nacional Socialismo está contido lá dentro. O nacional socialismo é aquilo que o marxismo poderia ter sido se ele fosse libertado dos entraves estúpidos e artificiais de uma pretensa ordem democrática"
"Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Nós socializamos os homens"
Rauschning's Phony 'Conversations With Hitler': An Update. Mark Weber
Les fausses «Conversations avec Hitler» de Rauschning : une mise au point. Mark Weber
Os "revis" também afirmam que o livro é uma falsificação.
Vejam só a que ponto chegamos, o fanatismo dessa extrema-direita liberal (libertária) é tão grande que até "revis" conseguem demonstrar que algo está errado de tanta cretinice que esses "libertários" (ultraliberais) panfletam sobre nazismo e segunda guerra. Fiz o post na pressa senão acabaria deixando de lado.
Como acho que já mencionei acima (se for redundância depois eu corto, ou corrijo), esta panfletagem é também espalhada em círculos "conservadores neocons", que são reacionários que em tese "odeiam" o nazismo (mas nem tanto assim...). O "ódio" é porque hoje em dia "pega mal" eles declararem amor aos nazis com o sentimento anti-esquerda deles (com a retórica da guerra fria, quem for de esquerda é "comunista"), mas eles não sentem uma aversão "profunda", daí preferem manter "certa distância" desse tipo de denominação (taticamente) até que estoure algum regime fascista de novo na Europa e o Fascismo fique "fashion" (na moda) de novo, pra valer. Já vi vários declararem amor à Marine Le Pen em páginas de Portugal, amor à "verdadeira direita" (rs). Como disse em outros posts, esses "libertários" (ultraliberais) do Brasil são o PSTU da direita. Eles, o Bolsonaro e cia.
Com os últimos posts sobre fanatismo político no país, 3 perfis saíram do blog (da parte "seguir"), só pra mostrar a quanto anda o extremismo político no país.
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