domingo, 19 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 03

FATOS E NÚMEROS SOBRE A DITADURA MILITAR ARGENTINA:

- Entre 1976 e 1983 os militares assassinaram ao redor de 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, segundo estimativas de ONGs argentinas e organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.

- Os militares afirmam que mataram “somente” 8 mil civis (segundo declarações do próprio general e ex-ditador Reynaldo Bignone, à TV francesa na virada do século, outros colegas seus dizem que não mataram pessoa alguma)

- O Estado argentino, com a volta da Democracia, recebeu pedidos para indenizações da parte de parentes de 10 mil desaparecidos.

- A Ditadura teria sido responsável pelo sequestro de 500 bebês, filhos das desaparecidas. Desde o final dos anos 70 as avós da Praça de Mayo localizaram e recuperaram a identidade de 109 dessas crianças, atualmente adultos.

- Em 1983 nos últimos meses da Ditadura, um relatório das próprias forças armadas argentinas indicou que a guerrilha e grupos terroristas de esquerda e cristãos nacionalistas teriam assassinado 900 pessoas. Diversos historiadores afirmaram ao longo dos anos que esse número está ligeiramente inflacionado, já que diversos dos mortos da lista militar teriam sido assassinados pelos próprios militares, na miríade de brigas internas (e, convenientemente, teriam colocado a culpa nos terroristas).

FRACASSOS ECONÔMICOS E MILITARES: Além de ter sido a mais sanguinária Ditadura foi um fracasso tanto na área militar como na esfera econômica.

Fiascos Militares:

- Entre 1976 e 1978 a Ditadura colocou quase a totalidade das Forças Armadas para perseguir uma guerrilha que já estava praticamente desmantelada desde antes do golpe, em 1975. Analistas militares destacam que este desvio das Forças Armadas argentinas (que havia iniciado no final dos anos 60 mas intensificou-se a partir do golpe) reduziu drasticamente o profissionalismo dos militares.

- Em 1978, a Junta Militar argentina levou o país a uma escalada armamentista contra o Chile. Em dezembro daquele ano, a invasão argentina do território chileno foi detida graças à intermediação papal. O custo da corrida armamentista colocou o país em graves problemas financeiros.

- Em 1982, perante uma crise social, perda de sustentabilidade política e problemas econômicos, o então ditador Leopoldo Fortunato Galtieri – famoso por seu intenso approach ao scotch – decidiu invadir as ilhas Malvinas para distrair a atenção da população. Resultado: após um breve período de combate, os oficiais do ditador renderam-se às tropas britânicas.

Desastres econômicos:

- Em sete anos de Ditadura, a dívida externa subiu de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.

- A inflação do governo civil derrubado pela Ditadura, que era considerada um índice “absurdo alto” pelos militares havia sido de 182% anual. Mas, este índice foi superado pela política econômica caótica da Ditadura, que encerrou sua administração com 343% anual.

- A pobreza disparou de 5% da população argentina para 28%

- A participação da indústria no PIB caiu de 37,5% para 25%, o que equivaleu a um retrocesso dos níveis dos anos 60.

- Além disso, a Ditadura criou uma ciranda financeira, conhecida como “la plata dulce”, ou, “o doce dinheiro”.

- Ao mesmo tempo em que tomavam medidas neoliberais, como a abertura irrestrita das importações, os militares continuavam mantendo imensas estruturas nas empresas estatais, que transformaram-se em cabides de emprego de generais, coronéis e seus parentes.

- Os militares também estatizaram US$ 15 bilhões de dívidas das principais empresas privadas do país (além das filiais argentinas de empresas estrangeiras).

- No meio desse caos econômico, os militares provocaram um déficit fiscal de 15% do PIB.

- A repressão provocou um êxodo de centenas de milhares de profissionais do país. Os militares, em cargos burocráticos, exacerbaram a corrupção na máquina estatal.

MILITARES E ESPORTE - Apesar das denúncias de graves violações aos Direitos Humanos a FIFA não cancelou a realização da Copa de 1978. Para a Ditadura, a vitória nesse evento esportivo foi um trunfo político, que lhe garantiu alta popularidade. Os argentinos exilados discutiam no exterior se deveriam torcer a favor ou contra a seleção. Alguns argumentavam que a vitória na Copa não favoreceria a Ditadura, e que esporte e política nunca se misturam. Outros destacavam que esporte e política misturam-se, e muito.

NEGOCIATAS DE 1978 – O Orçamento inicial da Copa de 1978 era de US$ 70 milhões. Custo final da Copa: US$ 700 milhões (o valor supera amplamente o custo da Copa realizada na Espanha, em 1982, que foi de US$ 520 milhões).

GUERRA CIVIL OU GUERRILHA LOCALIZADA?

Os militares deram o golpe e instauraram a ditadura mais sanguinária da História da América do Sul (América do Sul, não América Latina) com o argumento (um dos vários) de que a guerrilha controlava grande parte do país.

Delírio. A pequena guerrilha argentina, mais especificamente o ERP, dominava às duras penas uma pequena porcentagem da província de Tucumán, a menor província da Argentina.

A magnificação da guerrilha foi útil para os militares e também para o prestígio dos guerrilheiros. A nenhum dos dois lados era conveniente admitir a realidade, de que a área controlada pela guerrilha era ínfima.

Os militares e os setores civis que apoiaram o golpe (e os saudosistas daqueles tempos) afirmavam (e ainda afirmam) que o país estava em guerra civil nos nos 70.

Mas, “guerra civil”, rigorosamente, seriam conflitos de proporções mais substanciais, tais como a Guerra da Secessão dos EUA, a Guerra Civil Espanhola, a Guerra Civil Russa logo após a proclamação do Estado Soviético, a Guerra das Duas Rosas (Lancasters versus Yorks, na Inglaterra) ou a Guerra Civil da Grécia após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda: a Guerra Civil da Nicarágua, e a de El Salvador. Isto é: bombardeios de cidades, grandes êxodos de refugiados, centenas de milhares de mortos, uma boa parte de um país controlado por um dos lados, e outra parte controlada por outro lado. Isso não ocorreu na Argentina nos anos 70.

POLÍTICA EXTERNA ESQUIZOFRÊNICA

Na política externa a Ditadura também mostrou um comportamento peculiar:

- Acreditou que os EUA ficariam de seu lado na Guerra das Malvinas, já que a Ditadura havia sido um bastião anticomunista na América do Sul e até havia colaborado na guerrilha dos ‘contras’ na América Central.

Os militares argentinos não levaram em conta que pesaria mais a velha aliança EUA-Grã Bretanha por motivos históricos e pela participação na OTAN.

- A Ditadura tinha um discurso anticomunista mas continuou vendendo trigo para a URSS e não aderiu ao boicote americano contra as Olimpíadas de Moscou em 1980.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

Parte 02: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina
Parte01: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (Tortura e voos da morte, Estado proto-nazista)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

El Holocausto En Documentos - Yad Vashem - Livro

Agradecendo tardiamente pois este post sairia em 2013 e acabou não dando pra colocar. Gostaria de agradecer publicamente ao Daniel (do blog Avidanofront) pelo envio de cópia desse livro El Holocausto en Documentos (link2) além de um exemplar do livro O Crime Metódico que citei aqui no final do ano passado, acrescidos de mais 3 livros raros sobre o Holocausto (pois estão fora de catálogo): O Nono Círculo (do jornalista francês Christian Bernadac), Dias Sem Fim (do mesmo autor) e Triângulo Vermelho (de Catherine Roux).

O livro Holocausto en Documentos tem edição em inglês também, título: Documents on the Holocaust: Selected Sources on the Destruction of the Jews of Germany and Austria, Poland, and the Soviet Union (clique aqui) e é uma publicação do Yad Vashem, cheio de documentos sobre o extermínio nazi na segunda guerra (fontes primárias).

Pra quem "ainda" tem dúvidas sobre o que seja um livro de História (pois não acredito que alguém interessado no assunto não saiba distinguir uma coisa da outra), o livro citado acima, El Holocausto en Documentos é um livro de História, já isso aqui é um panfleto "revisionista" (negacionista): Professor Robert Faurisson - As vitórias do revisionismo, hospedado num site de apologia do nazismo e antissemita com os seguintes dizeres: "Os judeus são nossa desgraça!".

Pelo menos, se é que dá pra dizer isso, esses "revis" do "Der Stürmer" são sinceros, não ficam negando que sejam antissemitas e viúvas de Hitler como a maioria dos "revis" quando são indagados sobre essas questões.

O título do site neonazi com suástica e tudo, no caso o termo "Der Stürmer", é alusivo a uma publicação nazista (de mesmo nome)que circulava no III Reich, de Julius Streicher, um notório nazista fanático que foi condenado no julgamento de Nuremberg à pena capital. Mais sobre o Streicher você pode ver aqui: Der Giftpilz (O Cogumelo Venenoso) - propaganda nazi para criancas no III Reich.

Mas voltando ao teor inicial do tópico, torço pra que saiam mais livros como este do Yad Vashem, em espanhol (por conta da proximidade dos idiomas, pra quem fala português consegue entender com certa facilidade o que é escrito em espanhol), já que esperar pela publicação deste tipo de livro em português beira a tolice (dificilmente lançam algo relevante, e quando o fazem, sai com preço elevado). O curioso é ver como antigamente no Brasil eram publicados vários livros interessantes sobre segunda guerra e Holocausto e hoje em dia só lançam perfumaria (romances e essas coisas).

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Tramitação do PL sobre negação do Holocausto. Comissão aprova novas punições para crimes relacionados ao preconceito

Pra quem quer saber a quanto anda o "desenrolar" aquele PL (Projeto de Lei) sobre a negação do Holocausto, esta notícia saiu dia 18 de dezembro passado e ao que tudo indica a coisa está adiantada. Embora em se tratando do congresso brasileiro, o "adiantar" dele tanto pode ser rápido ou 'bem demorado' (esse PL é de 2007).

Sobre a parte que fala do negacionismo e da pena pra quem praticar:
A proposta define pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa para quem negar ou impedir o reconhecimento ou exercício de direito assegurado a outra pessoa por preconceito de raça, cor, sexo, religião, aparência, condição social, descendência, origem nacional ou étnica, idade ou de pessoa com deficiência.

A pena prevista pode aumentar em 1/3 em casos de discriminação:

- com fabricação e veiculação de símbolo, propaganda de qualquer natureza que negue o holocausto ou utilize a cruz suástica ou gamada para divulgar o nazismo;
- por meio de comunicação social, publicações de qualquer natureza e pela internet;
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Fonte: Site da Câmara dos Deputados
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/459851-COMISSAO-APROVA-NOVAS-PUNICOES-PARA-CRIMES-RELACIONADOS-AO-PRECONCEITO.html

Agora resta saber quando isso será aprovado em definitivo e virar lei. Sobre os questionamentos a esse tipo de leio, aqui mesmo no blog há uma divisão, nem todo mundo é favorável por achar que a penalização por si só não impede a proliferação de racismo e afins. O que tem fundamento pois não se acaba com preconceito a canetada, a legislação sobre racismo existe desde 1988 e a educação sobre o assunto no país beira a nulidade, o que é visivelmente constatável (basta ver as inúmeras reações de preconceito na web e nas ruas país afora).

Uma coisa é certa: o que deve ter de "revi" tupiniquim se pelando de medo de ser enquadrado nessa lei, é um verdadeiro "festival". Haja choro.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Uma mulher em Birkenau: Krauser e o grito dos mortos

Publicado em 22 dezembro, 2013

No inverno um comandante novo com sobrenome Krause chega ao comando do campo. Sua cara, como a de um retrato alemão antigo, tem traços tipicamente germânicos. Antes de tomar posse, visita os diferentes setores e estuda o progresso de liquidação do Lager (Campo). Para diante de um grupo de prisioneiras e pergunta a Perschel, que o acompanha, como se explica que algumas prisioneiras tenham números muito baixos. Quer dizer que essas prisioneiras duram em Oswiecim um ano, dois ou até mais?

-Jawohl, Herr Kommandant. Exatamente, meu comandante.

Krause está indignado. Crava seu olhar nos olhos doentios de Perschel e declara que um prisioneiro de campo de concentração não deveria viver mais de seis semanas. Se não morreu em todo este tempo, significa que aprendeu a fazer tramoias e por isso se deve exterminá-lo.

- Verstanden? Compreendido?

- Sicher, Herr Kommandant! Pois não, senhor comandante!

Sicher, Herr Kommandant… Você tem que admitir que os prisioneiros tiveram que esperar muito para lhe perguntar se não mudou de opinião. Gostaria de aplicar agora o mesmo princípio aos prisioneiros de guerra alemães?

Naquele momento estivemos frente a frente, ele, o senhor de nossas vidas, e nós, uns seres efêmeros. Ele, um daqueles que arrebataram da natureza a capacidade sagrada de impor a morte, um daqueles que auf Befehl, obedecendo ordens, converteram um grupo de pessoas em uma montanha inútil de objetos mortos, que os converteram em seres repugnantes de delgadas tíbias, que espantam com seus turvos olhos abertos e seu grito mudo de terror. E nós, os irmãos dos mortos, uns galeotes atados por uma cadeia. E todos pensamos que havia de estar cego para não se dar conta de que o grito dos mortos se torna mais perigoso que os chamados em voz alta dos vivos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2013/12/22/una-mujer-en-birkenau-krauser-y-el-grito-de-los-muertos/
Trecho do livro (citado no blog): "Una mujer en Birkenau" (título em inglês, Smoke Over Birkenau), Alba editores, págs. 392-393; de Seweryna Szmaglewska
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 12 de janeiro de 2014

Diretor chinês coloca na tela Julgamento de Tóquio

O julgamento de Tóquio, efetuado pelo Tribunal Militar Internacional Aliado para o Extremo Oriente contra os 28 maiores criminosos de guerra japoneses, foi transportado à tela pelo diretor chinês, Gao Qunshu. O filme, com nome homônimo, entrou em circuito nacional no dia 31 de agosto.

O famosíssimo julgamento da história da humanidade, que estendeu de maio de 1946 a julho de 1948, cravou vários recordes históricos: 818 sessões, 48 mil páginas de registros taquigráficos, 419 testemunhas, mais de 4.000 provas documentais e 1.131 páginas de sentença.

Gao Qunshu juntou duas histórias no filme: o relato de Mei Ru´ao, o único juiz chinês no tribunal e as dores de uma família comum japonesa durante a guerra. Segundo ele, a maior dificuldade da filmagem se encontrou na procura de fontes materiais.

"Os registros históricos existentes na China sobre o Julgamento de Tóquio são muito limitados. Visitamos quase todas as bibliotecas que possuem registros a respeito. Tenho que confessar que as fontes mais valiosas para o filme vem de uma série de livros publicados no Japão".

Conforme o diretor, 80% dos diálogos do longa ocorrem nos idiomas Inglês e Japonês. O roteiro do filme foi revisado, palavra por palavra, por historiadores, linguistas e juristas. Isso, segundo Gao, é um reflexo de respeito à história.

"O roteiro foi revisado por historiadores e linguistas. Há muitos termos referentes à lei, que exigem uma alta precisão das palavras. É importantíssimo para um diretor de filme assumir sua responsabilidade ao transportar a história à tela. O julgamento existiu e assumiu uma importância indiscutível na história da humanidade".

O elenco da longa é formado por atores do continente chinês, Taiwan, Hong Kong, Japão e EUA. De acordo com Gao, os atores japoneses, que dão vida aos criminosos de guerra, atuaram de maneira muito profissional.

"Decidimos desde o começo selecionar atores japoneses para interpretar os criminosos de guerra. O objetivo é garantir a credibilidade do filme. E eles (atores japoneses) aceitaram interpretar os papéis".

Formado em jornalismo, Gao Qunshu foi repórter e diretor de novelas. O Julgamento de Tóquio é a sua primeira produção cinematográfica e arrecadou 4,5 milhões de yuans apenas nos primeiros três dias de estreia. A conclusão do filme, no entanto, foi dificultada por uma crise financeira provocada pela retirada de um dos investidores da produção. Gao só conseguiu prosseguir o filme com 5 milhões de yuans obtidos após a hipoteca dos direitos autorais de uma das suas novelas inéditas.

"Fiz tudo o que podia diante de um tema histórico tão sério e pesado", concluiu Gao.

Fonte: Site da CRI (Rádio Internacional da China)
http://portuguese.cri.cn/101/2006/09/18/1@51596.htm

sábado, 11 de janeiro de 2014

Série "Doutores do Inferno" completa, do livro de Vivien Spitz sobre experimentos nazistas

Chega ao fim as traduções dos textos colocados no blog espanhol "El Viento en la Noche" ("O vento na noite", link: http://universoconcentracionario.wordpress.com/) sobre as experiências médicas nazistas durante o Terceiro Reich.

Faltou uma única tradução que não foi feita em virtude de que o testemunho do Kurt Gerstein já consta do blog (Relato do SS Kurt Gerstein - Campo de extermínio de Belzec) e no blog Avidanofront (link), não sendo necessário fazer uma nova tradução. Embora eu não tenha lido o texto com o trecho do livro da Spitz (no outro blog) pra verificar se são exatamente iguais. Pra quem quiser ler (em espanhol), segue o link:
Doctores del infierno: testimonio de Kurt Gerstein

Quando for possível ler o texto, e caso não sejam iguais os relatos, o texto será colocado. É a única exceção da série Doutores do Inferno (que pra ler inteira basta clicar no marcador com o nome).

Antes de ler o aviso mais abaixo, leia este anterior (no link):
Sobre a série "Doutores do Inferno" (livro) e posts programados do blog (06.01.2014)
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Mais um aviso, embora isso já tenha sido dito antes (e será repetido sempre que for possível pois muita gente "faz de conta" que não "lê"): todos os textos colocados no blog possuem as fontes citadas de onde eles foram tirados. É uma questão de honestidade intelectual e seriedade citar a fonte de origem do texto porque os textos são concedidos pra que outros leiam, mas as traduções têm autoria, justamente pra evitar que distorçam, deturpem, façam plágio e usem comercialmente os textos sem autorização.

Digo isso porque vejo que muitos textos sobre este assunto e sobre segunda guerra são copiados ou traduzidos sem serem citadas as fontes de onde eles foram tirados, o que é algo bem desonesto. Se não é autor de um texto, por que copiar sem citar a fonte?

Isso ocorre principalmente no Facebook, o que já soltaram de 'copy-and-paste' por lá de Páginas que por sua vez já copiam textos da web sem checar nada (cheios de erros, montagens, fotos com legendas falsas), é literalmente uma piada (de mau gosto). E sem "florear" (aliviar) o comentário, o conteúdo desses textos costuma ser uma porcaria de baixo nível, um amontoado de lixo. Alguém achar que vai aprender sobre segunda guerra lendo essas "tirinhas" "miguxas" soltas cheias de erros, só pode estar de brincadeira ou se auto enganando. Não vão substituir nunca livros (os que prestam, pois há muita "literatura" ruim) com "tirinhas" no Facebook, é triste o quadro naquela rede (como era também o do Orkut).

Não entendo o interesse mórbido das pessoas em se aglomerar nessas páginas sem real interesse em aprender nada (lerem livros), aparentemente só as adicionam pra fazer uma "média" pra colocar no perfil (fazer "pose"). Há Páginas de conteúdo cultural boas naquela rede, mas são uma minoria e o site é problemático, mas o 'grosso' (a maioria delas) é um amontoado de lixo mesmo. E não é o melhor local pra se aprender algo caso a pessoa não tenha conhecimento razoável sobre o tema e senso crítico apurado.

Além dos problemas citados acima, há outro já citados antes. Já vi mais de uma vez gente usando fakes colocando links deste blog pra discutir com "revis". Eu não tenho nada contra alguém que se identifique e seja sério pegue os links, por sinal, a ideia dos textos é repassar conhecimento adiante e não haveria sentido se isto não ocorresse, eu tenho algo contra fakes e molecagem, prática que desaprovo porque parto do princípio que se alguém tem medo de discutir com "revis" pra que afinal discute com eles, e ainda usa um fake? Qual o sentido disso? Pra atestar que sente medo de "revis" e servir de bobo da corte a esse pessoal? Há atitudes que são bizarras, essa é uma delas.

Certas imposturas na web que vejo bastante no país são lamentáveis. Não que isto não aconteça fora, pelo contrário, trolls existem em todo mundo (há um mesmo no Rodoh, um troll dos EUA, enchendo o saco de todos há muito tempo), mas a quantidade disso no Brasil é impressionante.

Faço este comentário principalmente pros que acham que só os "revis" criam "problemas" e misturam assuntos como conflito no Oriente Médio (questão Israel x Palestina), disputa política no Brasil, com esses assuntos de extrema-direita e racismo. O que já vi de gente "combatendo" (entre aspas, pois 'de boas intenções o inferno tá cheio', como diz o dito popular) o credo das viúvas hitleristas criando mais problema (mais que os próprios "revis") é um verdadeiro festival, só de mencionar isto já dá raiva.

Esse pessoal costuma me irritar mais que os próprios "revis" pois pelo menos os "revis" deixam claro o que "defendem" (aquelas aberrações deles que não é necessário repetir, já são de conhecimento público). A questão central é que esses "pseudo-humanistas" que ficam "combatendo" o credo "revi" não costumam se posicionar claramente sobre a questão a não ser nutrir uma compulsão por "discutir" com esses caras, fora misturar várias disputas políticas com isto.

Quando digo se posicionar, refiro-me a contradições bizarras como gente que defende ditadura (de 1964), que é de extrema-direita (desde que não ostente uma suástica), que acredita piamente em teorias da conspiração e afins [Nova Ordem Mundial (NOM), Illuminati], que entra nisso por fanatismo religioso (principalmente fundamentalismo evangélico e as pregações sobre Armagedom no Oriente Médio e conflito israelense-palestino), dizer que "combate" quem também morre de amores por ditaduras ultranacionalistas (como a de 1964), fica com "caça a comunistas", teorias da conspiração (os "revis" ou negacionistas) etc. É um troço bizarro, não há outro termo pra descrever. Sinto a quem se deixou se seduzir por estas fábulas e "mitologias" modernas disseminadas na web, mas essas "teorias da conspiração" não passam de idiotice em grau máximo, sem meio termo.

Deixo claro também que não gosto de fundamentalistas religiosos de qualquer vertente religiosa, não gosto mesmo, e nem queiram "testar" minha paciência com isso achando que estou escrevendo isso da "boca pra fora". Não estou, eu não gosto MESMO, pra não dizer logo que odeio. Se esse pessoal é radical e intolerante com quem não se enquadra na visão de mundo deles, eu também sou com eles. Por isso, a quem se enquadrar nesse perfil, favor passar longe, eu agradeço, até porque eu não fico atrás de fundamentalistas "pregando coisas" mas vários já vieram encher o saco sem serem "convidados".

"Ah, mas isso é sectarismo", não é, mas... posso ser sectário se for necessário. Paciência tem limite e a minha com esse tipo de gente já se esgotou faz tempo. Depois que vi várias confusões causadas por este pessoal no Orkut passei a entender (depois de ler) a razão desse "fervor" religioso (fanatismo) misturado a questões políticas, é algo esdrúxulo. Mas não tente dizer a um fanático cego que essas bizarrices/fobias sociais que eles se agarram não têm fundamento, ele ficará com raiva de você e sinceramente, não são o tipo de pessoas que eu faça questão de ter junto. O que veio de gente com esse perfil criar problema no Orkut com esse tipo de mistura político-religiosa é de assustar, e extrapolou há muito a tolerância alheia. São desagradáveis pois além de tudo não sabem discutir, não entendem o assunto (pois sempre colocam viés religioso em tudo) e não sabem conviver numa democracia pois reduzem tudo à "crença religiosa" (e intolerância) sem uma visão analítica do mundo.

Incomoda-se também o pessoal envolvido em discussões sobre conflitos no Oriente Médio, principalmente o Israel-Palestina. Há radicais do lado pró-palestino e isso é sabido (já fui atacado por alguns com a burrice deles de que "todo mundo é sionista" e bla bla bla, quando na verdade a razão do ataque é que alguns são antissemitas mesmo e eu recebi o ataque mesmo não sendo judeu, essa foi a parte mais "engraçado", pra verem que essa intolerância racista não se resume a grupos e pode atingir qualquer pessoa), mas há um pessoal radical pró-Israel (extrema-direita) que é tão casca-grossa quanto esse pessoal radical do lado pró-palestino, ou mais até pois simplesmente ignoram o que se passa naquele conflito e de qual é o lado opressor da coisa, além de não tolerarem muito críticas (as sérias). Se não conseguem analisar a questão com sobriedade se transformam em um bando de extremistas lunáticos repetindo radicalismo (panfletagem) de forma praticamente religiosa.

Acho que colocarei esta última parte do comentário (conflito Israel-Palestina e os radicais de ambos os lados) em outro post pois acabou esticando muito este post.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Doutores do inferno: o caso médico

Publicado em 9 de junho, 2012

Karl Brandt. Julgamento de Nuremberg
Em 25 de outubro de 1946, os Estados Unidos imputou quatro acusações a vinte médicos alemães e três auxiliares médicos no caso 'Estados Unidos da América contra Karl Brandt et al'. Assim se deu início ao primeiro e mais horrendo dos doze processos posteriores.

A primeira acusação era por conspiração.

A segunda, por crimes de guerra.

A terceira, por crimes contra a humanidade, entendendo por isto: assassinatos, brutalidades, humilhações, torturas, atrocidades e atos inumanos.

A quarta se referia à ato de pertencer a uma organização criminosa, declarada assim pelo Tribunal Internacional e conhecida comumente como a SS.

(…)

A medida que eles eram chamados, os acusados iam se levantando um por um. Eu os olhei todos. Tinham um aspecto desalinhado, usavam roupas sem passar, paletós e calças, ou uniformes militares despojados de todas as suas insígnias. Muitos calçavam botas militares. Pareciam ressentidos e arrogantes. Alguns tinham (sic) os lábios tensos, uma expressão dura e mesquinha no semblante, e a mandíbula apertada. No meu modo de ver, os de aparência mais vil eram os doutores Karl Brandt, com seus olhos penetrantes, e Wolfram Sievers, com sua barba negra e seu bigode pontiagudo. Apelidei-lhe de Barba Azul. (…)

O general de brigada Telford Taylor leu em voz alta as quatro acusações acima mencionadas e prosseguiu dizendo:

Entre setembro de 1939 e abril de 1945 os acusados aqui presentes cometeram de maneira intencional, voluntária e contrária ao Direito, crimes de guerra tal e como aparecem definidos no Artigo II da Lei 10ª do Conselho de Controle, no sentido de que perpetraram, fizeram papel coadjuvante, ordenaram, instigaram, foram partícipes voluntários e estiveram relacionados a planos e projetos que implicavam experimentos médicos, sem o consentimento das pessoas, com civis e membros das forças armadas de países então em guerra contra o Reich alemão e que estavam sob custódia do Reich alemão no exercício de seu poder como força de ocupação. Experimentos no curso dos quais os acusados cometeram assassinatos, brutalidades, humilhações, torturas, atrocidades e outros atos inumanos. Tais experimentos incluíram os seguintes, ainda que não se limitassem a eles:

- Experimentos relativos a altitudes elevadas. Muitas das vítimas desses experimentos (levados a cabo em uma câmara de baixa pressão na qual era possível reproduzir as condições atmosféricas e de pressão imperantes em altitude elevada, até um máximo de vinte mil metros) morreram como resultado desses experimentos e outras sofreram lesões graves, torturas e humilhações.

- Experimentos de congelamento. Às vítimas eram colocadas num tanque de água gelada até um máximo de três horas, ou lhes mantinha nus à intempérie pelo período de horas a temperaturas abaixo de zero, com o resultado no qual muitos morreram.

Chegado a este ponto, começava a custar para mim um grande esforço manter a moderação e conservar a compostura. O general prosseguiu:

- Experimentos com malária. Utilizando mosquitos ou injeções de extratos das glândulas mucosas de mosquitos, infectaram contra sua própria vontade a mais de mil pessoas que contraíram a malária, muitas delas morreram, enquanto outras sofreram fortes dores e deficiência permanente.

- Experimentos com gás mostarda. Infligiram feridas às vítimas de maneira premeditada e as infectaram rapidamente com gás venenoso; algumas das vítimas morreram e outras sofreram dores agudas e lesões graves.

- Experimentos com sulfanilamida. Às feridas que foram infligidas de maneira premeditada aos sujeitos da experimentação, infectaram-lhes com estreptococos, gangrena gasosa e tétanos, e na continuação foram introduzidas nas feridas lascas de madeira e vidro moído, no qual se produzia mortes, lesões graves e fortes dores.

- Experimentos relativos à regeneração de ossos, músculos e nervos e ao transplante de ossos. Extraíam-se das vítimas seções de osso, músculo ou nervos, o que lhes causavam fortes dores, mutilações, deficiência permanente e morte.

- Experimentos com água marinha. Os elementos eram desprovidos por completo de alimento e lhes davam unicamente água marinha processada quimicamente, o que causava intensas dores, sofrimento, lesões físicas graves e loucura.

- Experimentos com icterícia epidêmica. Infectavam os elementos premeditadamente com icterícia epidêmica, com o resultado de dores, sofrimento e morte.

- Experimentos de esterilização. Milhares de vítimas foram esterilizadas mediante Raios X, cirurgia e remédios, com o resultado de graves padecimentos físicos e mentais.

- Experimentos com tifo exantemático. Morreram centenas de pessoas: mais e 90 por cento dos sujeitos que foram infectados premeditadamente no transcurso dos experimentos.

- Experimentos com veneno. O veneno era administrado de maneira secreta na comida dos elementos da experimentação, no qual todos faleceram ou foram assassinados premeditadamente com a finalidade de fazer autópsia. Em outros casos eram disparadas, nas vítimas, balas de veneno que ocasionavam grandes sofrimentos e morte.

- Experimentos com bombas incendiárias. Infligiam queimaduras aos elementos da experimentação com fósforo extraído das bombas, o que ocasionava fortes dores, sofrimento e graves lesões físicas.

Civis e membros das forças armadas dos países então em guerra com a Alemanha foram assassinados no exercício de seu poder como força de ocupação. Cento e doze judeus foram escolhidos, assassinados e descarnados para completar uma coleção de esqueletos destinada à Universidade do Reich em Estrasburgo (França) sob a ocupação nazi.

(…)

Mediante o fato de ter sido posto em prática o programa de "eutanásia" do Reich alemão, assassinaram a centenas de milhares de seres humanos, entre eles cidadãos de países ocupados pelos alemães. Isto incluso a execução sistemática e secreta de anciãos, dementes, enfermos incuráveis, crianças deformes e outras pessoas por meio de gás, injeções letais e outros métodos em clínicas de repouso, hospitais e asilos. Essas pessoas eram consideras "bocas inúteis" e um fardo para o maquinário de guerra alemão. Era informado aos familiares das vítimas que eles haviam morrido de causas naturais, tais como infartes cardíacos. Os médicos alemães implicados no programa de "eutanásia" foram assim mesmo enviados aos países ocupados do leste da Europa para contribuir com o extermínio massivo de judeus.

- Vou pedir aos acusados que se declarem culpados ou inocentes das acusações que lhes são imputados - anunciou o juiz Beals -. (…)

A partir daqui, foram interpelados um a um os demais acusados. Todos tinham advogado. Todos se declararam inocentes das acusações que lhes foram imputadas.

(…) Teria me surpreendido se algum deles se declarasse culpado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/09/doctores-del-infierno-el-caso-medico/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 89-95; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Documentário de Hitchcock sobre Holocausto é restaurado e deve ser projetado

Alfred Hitchcock
Londres, 8 jan (EFE).- Um documentário de Alfred Hitchcock sobre os campos de concentração nazistas, rodado em 1945, será projetado pela primeira integralmente após ser restaurado pelo Imperial War Museum de Londres.

Segundo informa nesta quarta-feira o jornal "The Independent", o lendário cineasta se envolveu no projeto em 1945 depois que seu amigo Sydney Bernstein pediu ajuda para editar um documentário sobre as atrocidades cometidas pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O conteúdo das imagens filmadas por operadores de câmera da Unidade de Cinema do Exército Britânico, ao mesmo tempo que as tropas aliadas libertavam os judeus dos campos de concentração, "horrorizaram" o criador de "Vertigem" e "Os Pássaros".

"Hitchcock, apelidado de "mestre do suspende" pelo brilho de seus filmes de terror, ficou tão "traumatizado" pelo duro conteúdo das gravações que permaneceu afastado dos estúdios "Pinewood" durante uma semana.

Um curador do Departamento de Pesquisas do Imperial War Museum (Museu de Guerra Imperial), Toby Haggith, afirmou que o documentário "ficou suprimido pela transformação da situação política, particularmente para os britânicos".

"Quando descobriram os campos (de concentração), americanos e britânicos tiveram pressa para divulgar uma gravação que mostrasse os campos e fizesse com que os alemães aceitassem sua responsabilidade pelas atrocidades", disse ao "Independent".

Além do horror que esse material provocou no cineasta, o desejo aliado de não irritar a Alemanha derrotada por sua culpa no Holocausto levou ao esquecimento cinco de seis rolos cinematográficos, que terminaram nos arquivos do museu.

Nos anos 80, as imagens foram descobertas por um pesquisador americano e, com o tempo, uma versão incompleta da fita foi projetada no Festival de Cinema de Berlim em 1984 para depois ser transmitida nos EUA, um ano depois, sob o título "Memória dos Campos", mas com má qualidade e sem incluir o sexto rolo.

Segundo o "The Independent", no final de 2014 o filme poderá ser projetado em uma versão restaurada pelo museu londrino, graças à tecnologia digital, como Hitchcock, Bernstein e outros colaboradores pretendiam.

A decisão de ressuscitar esse documentário gerará provavelmente um debate, pois inclui imagens realmente impactantes dos campos, em particular de Bergen-Belsen, aponta a publicação.

Segundo Haggith, o filme, que descreve como "brilhante" e "sofisticado", é "muito mais fiel" que outros documentários filmes rodados sobre o Holocausto.

O curador, apontou além disso, que o documentário "não só trata da morte", mas mostra também imagens de reconstrução e reconciliação, ao mesmo tempo em que elogiou a "brilho" e "originalidade" dos câmeras que fizeram as imagens.

Fonte: EFE/Yahoo!
http://br.noticias.yahoo.com/document%C3%A1rio-hitchcock-holocausto-%C3%A9-restaurado-deve-ser-projetado-173629445.html
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A quem quiser ver o que foi exibido do documentários (a versão incompleta) antes dessa restauração, link abaixo:
Documentário de Hitchcock sobre o Holocausto - Liberação dos campos de extermínio, série de I-IV
http://holocausto-doc.blogspot.com/2011/02/hitchcock-documentario-holocausto-i-iv.html


Ver mais:
Documentário sobre o Holocausto que horrorizou Hitchcock será finalmente projetado na íntegra (Euronews)
Alfred Hitchcock's unseen Holocaust documentary to be screened (The Independent, Reino Unido)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Doutores do inferno: os acusados do caso médico

Publicado em 13 junho, 2012
Sessão do julgamento dos médicos em Nuremberg, 1946.

Na imagem aparem 23 acusados no caso médico dos julgamentos de Nuremberg.
Na parte inferior aparecem os advogados da defesa e na parte direita superior os tradutores.

Em muitos casos, os acusados eram destacados cientistas alemães, médicos e cirurgiões-chefes em clínicas, institutos médicos, hospitais e universidades de toda a Alemanha. Foram os médicos e auxiliares médicos dos campos de concentração que levaram a cabo ou participaram dos truculentos experimentos médicos de Auschwitz, Dachau, Buchenwald, Ravensbrück, Sachsenhausen, Natzweiler, Bergen-Belsen, Treblinka e outros.

O que segue abaixo é uma breve descrição de cada um dos acusados:

1. Karl Brandt, general de divisão da SS; médico pessoal de Hitler e artífice principal do programa que converteu médicos em torturadores e assassino, em que pese haver comprometido tratar e curar mediante o juramento hipocrático.

2. Siegfried Handloser, tenente general, Serviços Médicos.

3. Paul Rostock, cirurgião chefe da Clínica de Cirurgia de Berlim

4. Oskar Schroeder, chefe de Serviços Médicos da Luftwaffe (Força Aérea alemã)

5. Karl Genzen, chefe do Departamento Médico da Waffen-SS.

6. Karl Gebhardt, general de divisão da Waffen-SS e presidente da Cruz Vermelha alemã.

7. Kurt Blome, plenipotenciário para Investigação Oncológica.

8. Rudolf Brandt, secretário pessoal do Reichführer SS Heinrich Himmler.

9. Joachim Mrugowsky, higienista chefe do Serviço Médico da SS.

Herta Oberheuser
10. Helmut Poppendick, chefe do Corpo Médico da SS.

11. Wolfram Sievers, diretor da Sociedade Ahnenerbe.

12. Gerhard Rose, general de brigada do Serviço Médico da Força Aérea.

13. Siegfried Ruff, diretor do departamento para Medicina de Aviação do Instituto Experimental.

14. Hans Wolfgam Romberg, médico do Instituto Experimental Alemão para Aviação.

15. Viktor Brack, chefe de administração da Chancelaria do Führer.

16. Herman Becker-Freyseng, chefe do Departamento para Medicina da Aviação.

17. George August Weltz, chefe do Instituto para Medicina da Aviação.

18. Konrad Schaefer, médico do Instituto para Medicina da Aviação.

19. Waldemar Hoven, médico chefe do campo de concentração de Buchenwald.

20. Wilhem Beiglboeck, assessor médico da Força Aérea.

21. Adolf Pokorny, médico especialista em enfermidades de pele e doenças venéreas.

Mengele
22. Herta Oberheuser, doutora do campo de concentração de Ravesnsbrück.

23. Fritz Fischer, auxiliar médico do acusado Gebhardt.

Dos acusados que se sentaram no banco dos réus, vinte eram médicos e três não: Rudolf Brandt, Wolfram Sievers e Vicktor Brack. Os acusados podiam ser divididos em três grupos principalmente. Oito eram membros do serviço médico da Força Aérea alemã. Sete pertenciam ao serviço médico da SS. Oito (incluídos os três que não eram doutores) ocupavam posições relevantes dentro da hierarquia médica.

(…)

Dos cerca de 350 médicos que se estima terem cometido delitos contra a saúde, só esses vinte doutores e três auxiliares foram levados ante a justiça e se sentaram no banco dos réus no caso médico de.

Houve outros médicos processados, chegando a ser condenados e sentenciados à morte na forca em outros julgamentos militares norte-americanos celebrados em Dachau. Muitos escaparam, contudo; entre eles, o mais célebre e perverso, o doutor Josef Mengele, o Anjo da Morte, que realizou experimentos com crianças (frequentemente gêmeos) e os matou em Auschwitz. Mengele conseguiu se esconder na Baviera até que pode fugir para a América do Sul.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/13/doctores-del-infierno-los-acusados-del-caso-medico/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 95-99; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: muitos negacionistas (pró-nazis e fascistas ou simpatizantes, a extrema-direita fáscio), e diria que a maioria plena deles, contorcem-se quando citam este julgamento dizendo que houve um "linchamento" em Nuremberg ou algo parecido a um "linchamento", quando na verdade houve uma tremenda impunidade (dos estimados 350 médicos envolvidos em crimes, menos de 23 sentaram no banco dos réus e boa parte dos condenados foram soltos). Fico pasmo como muitas pessoas aceitam passivamente esse tipo de afirmação falsa quando algum desses "revis" bradam coisas desse tipo.

A maioria dos médicos nazistas e auxiliares que participaram de experiências (atrocidades) com humanos não chegaram a sentar no banco dos réus (ficaram livres) e muitos dos que sentaram foram soltos logo depois na Alemanha Ocidental (que era a parte alinhada ao bloco capitalista, da Alemanha dividida na Guerra Fria, a Alemanha Oriental era alinhada obviamente ao Bloco Socialista).

Há inclusive um livro do "revi" Carlos Whitlock Porter com o título cínico de "Não culpados em Nuremberg" (aviso que o site do Porter contém várias imagens e textos antissemitas, pra variar... depois os "revis" ainda negam que sejam antissemitas), com distorções de cima abaixo e as abobrinhas habituais de apologistas do nazismo.

Inclusive muitos "revis" (pra confirmar que a maioria não sabe nada de segunda guerra) desconhecem os Julgamentos de Tóquio (link1, link2) pra julgar atrocidades japonesas na segunda guerra, sendo que este julgamento foi um festival de impunidade ainda pior que o de Nuremberg. Muitos "revis" acham que só ocorreram julgamentos com nazistas, nunca ou quase nunca citam os julgamentos de Tóquio.

De fato não houve justiça em Nuremberg, mas não a "injustiça" alegada pelos "revis" (coxinhas de suástica) e sim impunidade pela não punição adequada a pilhas de criminosos nazistas.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 02

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (pequeno manual sobre o modus operandi do regime) - parte 02

GALERIA DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS TORTURADORES

O “Tigre” Acosta - Um dos criadores dos “voos da morte” foi o capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, uma das “estrelas” da Escola de Mecânica da Armada (ESMA). O oficial, que falava sozinho à noite, em delírio místico explicava aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com “Jesucito” (O pequeno Jesus), ao qual perguntava qual dos prisioneiros deveria torturar no dia seguinte e jogar dos aviões. Famoso pelos requintes de crueldade que aplicava aos detidos, Acosta também foi um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA.

O “Anjo Loiro” Astiz – “É o mais sinistro paradigma do terrorismo de Estado”. Com esta frase, o escritor e jornalista Jorge Camarasa, define a personalidade do ex-capitão Alfredo Astiz apelidado de “O anjo loiro da morte”. Garoto mimado da ditadura, entre seus assassinatos mais famosos estão os das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, além de três fundadoras das Mães da Praça de Mayo, entre elas, Azucena Villaflor. Astiz foi recompensado por seus serviços com o cargo de comando nas ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. No entanto, essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito. Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir “até a morte”, como havia prometido. Com com um copo cheio de whisky em uma das mãos, assinou a rendição incondicional.

Donda Tigel - Alfredo Donda Tigel tornou-se famoso por sequestrar seu próprio irmão e a cunhada – militantes da esquerda. Depois de assassiná-los, ficou com suas filhas, que eram bebês.

Ernesto Weber – Oficial da Polícia Federal, era apelidado de “220” pelos colegas militares pelo prazer que sentia em aplicar essa voltagem nas torturas. Foi professor de torturas dos oficiais de Marinha.

Febres - O ex-Chefe da Guarda Costeira Héctor Febres ficou notório por seu extremo sadismo, que o levou a torturar bebês e crianças para arrancar confissões dos pais, presos políticos. A primeira surpresa ocorreu poucos dias após sua morte, no dia 10 de dezembro – o Dia internacional dos Direitos Humanos, que também coincidiu com a posse da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner – quando a Justiça anunciou que o ex-torturador havia falecido por uma dose cavalar de cianureto. A segunda surpresa surgiu dias depois, quando as autoridades indicaram que a autópsia também registrou a presença de sêmen no reto do ex-torturador. Ele era famoso por seu desenfrado sadismo. Sobreviventes relatam que, quando aplicava choques elétricos nos prisioneiros, ficava “alucinado” e gargalhava enquanto ouvia os gritos dos torturados. Um dos sobreviventes relatou como Febres lhe pediu gentilmente que consertasse o aparelho de choques elétricos, que logo depois utilizaria no próprio prisioneiro. Na ESMA os torturadores costumavam ter apelidos referentes a animais. Esse era o caso do capitão Jorge “Tigre” Acosta e do tenente Alfredo “Corvo” Astiz. Mas, Febres era chamado de “Selva”, já que “era o conjunto de todos os animais”

Enfardador - Luis Porcio, chefe de segurança da Side, conhecido pelo apelido de “Enfardador”, já que apreciava amarrar os prisioneiros com arames, como se fossem fardos, para posteriormente queimá-los. Ele operava no Automotores Orletti, um centro clandestino de detenção e tortura localizado no bairro portenho de Floresta

El Turco Julián - Diversas testemunhas indicam que os torturadores argentinos ouviam marchas militares do Terceiro Reich e discursos de Adolf Hitler enquanto torturavam. Esse era o caso Julio Simón, chefe dos interrogadores do centro de detenção “El Olimpo”, cujo nome de guerra era “O Turco Julián”. Ele divertia-se jogando água fervendo em cima de seus prisioneiros políticos. Deleitava-se em torturar os deficientes físicos, jogando-os do alto de uma escada. Além disso, saboreava cada minuto no qual estuprava a esposa de um prisioneiro na sua frente.

Segundo o depoimento da ex-prisioneira (uma das poucas pessoas detidas que sobreviveram nesse centro onde imperava Julián) Susana Caride o lugar era uma espécie de “circo romano” no qual os policiais “se divertiam”. Caride relatou que os prisioneiros eram obrigados a lutar boxe um contra o outro, sob ameaças de torturas. Ela também relembrou como, no dia de Natal, os prisioneiros foram convidados para um banquete, no qual puderam comer peru, maionese e panettone. Mas, à meia-noite, na hora do brinde, Simón interrompeu a festa que ele próprio havia organizado para iniciar uma sessão de violentas torturas com os presentes. Juan Agustín Guillén, outro dos sobreviventes, contou como Simón – que ostentava uma suástica no uniforme, tinha especial sanha com José Poblete, um jovem militante peronista que havia perdido ambas pernas em um acidente. Simón lhe havia retirado a cadeira de rodas e as pernas ortopédicas, e divertia-se – às gargalhadas – jogando-o para cima ou obrigando-o a desfilar na frente dos outros policiais arrastando-se sobre os tocos de seus membros.

O ex-policial foi condenado pelo sequestro e torturas infligidas ao casal Gertrudis Hlaczik e José Poblete Roa em 1978. Ele também foi considerado culpado do sequestro de Claudia, o bebê de apenas oito meses do casal, e do ocultamento de sua identidade. Ele fazia Gertrudis andar nua pelos corredores, enquanto que José, sem as pernas, devia se arrastar com as mãos pelo chão. Simón e os outros guardas o chamavam de “cortito” (curtinho), por causa da ausência dos membros inferiores. O torturador também costumava jogar Poblete desde o alto de uma escada. Em um vídeo, o ex-policial admitiu que torturou com choques elétricos, com o objetivo de “acelerar” os interrogatórios. No vídeo, confessa que “o critério geral era o de matar todo mundo”.

Rebaneyra - Outro notório torturador era o carcereiro Raúl Rebaynera, uma dos principais figuras da prisão de La Plata, onde estiveram vários prisioneiros políticos, entre eles, o Adolfo Pérez Esquivel, que em 1980 tornou-se Prêmio Nobel da Paz. Segundo o ex-prisioneiro Julio Modorgoy, cada vez que chovia Rebaynera colocava música clássica, de preferência Beethoven ou Bach – e saía “de caça”, isto é, passava pelas celas espancando os prisioneiros. “Se te dou 15 socos e você não gritar, te levo de novo para a cela. Se gritar, fica aqui na sala de torturas 15 dias”, ameaçava.

A modelo Marie Anne Erize, estuprada pelos
militares por alfabetizar crianças pobres
ESTUPROS – Em 2011 a Justiça argentina começou a investigar os delitos sexuais cometidos por militares e policiais durante a ditadura contra mulheres e homens detidos nos centros clandestinos. Até esse ano, a Justiça havia considerado os delitos sexuais dentro da categoria ampla de “abusos”. Desta forma, com a mudança de enfoque, diversos ex-integrantes da Ditadura puderam ser processados por estupros e violações.

Os casos de delitos sexuais transcorreram nos campos de detenção de “Club Atlético”, “El Olimpo” e “Banco”.

Os envolvidos estupraram – segundo as denúncias – dezenas de mulheres detidas nos centros de tortura. Geralmente elas eram amarradas, nuas, a camas nas celas. Primeiro eram torturadas com choques elétricos nos mamilos e nos órgãos genitais. Posteriormente eram violadas por um ou mais policiais e militares. Ocasionalmente, um dos repressores reclamava exclusividade sobre a mulher estuprada. Os militares e policiais costumavam preferir as estudantes universitárias jovens. Frequentemente, quando um casal era detido, os sequestradores violavam a esposa na frente do marido.

Os militares também costumavam introduzir ratos vivos – e famintos – nas vaginas das mulheres.

O CASO MARIE MARIE ANNE ERIZE

Filha de franceses que instalaram-se na Argentina, Marie Anne Erize foi “Miss Siete Días” (concurso realizado pela revista semanal de maior tiragem da época) e protagonizou diversas campanhas publicitárias da primeira metade dos anos 70 na Argentina.

De forma paralela a seu trabalho nas passarelas Marie Anne Erize fazia militância política na faculdade de filosofia, além de colaborar com o padre Carlos Mujica – referência do clero de esquerda na Argentina – na alfabetização de crianças nas favelas portenhas. A jovem mudou-se para a província de San Juan pouco após o golpe militar. No entanto, em outubro de 1976, ao sair de uma loja de bicicletas, onde havia ido trocar um pneu furado, foi sequestrada e levada para o centro clandestino de torturas “La Marquesita”.

Marie Anne, de 22 anos, que também tinha a cidadania francesa, foi levada à força pelo então tenente Jorge Antonio Olivera (que posteriormente chegaria a major), chefe de inteligência da Infantaria de San Juan, que a estuprou em diversas ocasiões, antes de matá-la. Olivera ufanava-se perante os outros militares de ter penetrado a famosa modelo.

Esta história tem outro lado sinistro: Olivera, que tinha apenas dois anos mais do que ela e era tenente na época da ditadura, havia morado durante sua infância e adolescência em Wanda, Misiones, a mesma cidadezinha de Marie Anne, a apenas um quarteirão de distância um do outro.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

Próximo: Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 03
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domingo, 5 de janeiro de 2014

Sobre a série "Doutores do Inferno" (livro) e posts programados do blog

Eu comecei a traduzir no fim do ano passado uma série de um blog espanhol que contém trechos do livro de Vivien Spitz chamado "Doctors from Hell" que tem tradução em espanhol (Doctores del Infierno) mas não em português. Pra quem quiser ver a série de textos do livro, clique na tag (marcador) doutores do inferno.

Uma alternativa a quem tiver dificuldades em ler em inglês é buscar livros em espanhol e idiomas neolatinos (italiano, francês etc), pois há uma variedade muito maior que em português. Principalmente a quem é falante de português, não é difícil de ler ou entender algo em espanhol.

Mas voltando ao assunto, o blog tinha uma carência de textos sobre experimentos nazistas e o livro da Vivien Spitz é só sobre este assunto (um dos melhores sobre o tema experiências nazistas com cobaias humanas). Só que faltou dois textos pra completar a série de traduções do outro blog que espero colocar em breve pra deixar completa a série com textos traduzidos e com a etiqueta (marcador, vulgo "tag") Doutores do Inferno porque há muito marcador repetido (ou desnecessário) no blog como "experimentos médicos" e "experiências médicas", o que confunde e ocupa espaço na hora de localizar os textos através dos marcadores (tags).

Outro aviso é a respeito da questão dos posts programados. Pra quem não usa o blogger (deve ter algo similar em outros servidores de blogs) existe a opção que o Google colocou de deixar posts programados pra serem publicados em qualquer horário, dia etc. Ou seja, a pessoa só precisa programar a hora e ajustar o post inteiro (inclusive o título do post e link) que o blogger faz o resto publicando na hora programada sem que os moderadores do blog estejam conectados (como existe em aparelhos de DVDs e afins). Digo isso porque muita gente ao ver que há atualização do blog acha que os moderadores estão lendo o que é possa ser comentado automaticamente no blog, e geralmente não estão, eu mesmo utilizo este sistema de programação desde que o Google o adicionou ao blogger.

No Facebook há o mesmo sistema de programação nas Páginas, dando opção à pessoa a escolher o horário que quer que determinado post saia sem precisar estar conectado ao site. Eu vinha utilizando este sistema por lá também.

A Página holocausto-doc no Facebook está sob comando do Leo, caso alguém queira comentar algo na página. Estarei me afastando dela porque a aversão ao Facebook anda em alta (não tem nada a ver com a Página e sim com aquele tipo de site/rede) e só participo de um grupo de segunda guerra por lá. Não gostaria de discutir "revisionismo"/negacionismo no Facebook até porque já existe o blog pra isso.

Além de que, e como já disse outras vezes, considero pífio os grupos "revis" do Brasil, sem qualquer ironia no comentário. Pífios do ponto de vista intelectual, a maioria deles não sabe absolutamente nada sobre segunda guerra (copiam textos sem nem saber do que se trata, isso quando leem), chega a ser patético e ridículo discutir com essas pessoas, e muita gente ao fazer isso acaba por se rebaixar ao "nível" deles, refiro-me à cretinice generalizada.

Em todo caso, o fato de serem pífios ou cretinos não dá carta branca ao poder público do país (principalmente o Ministério Público que agiu muito poucas vezes em relação a esse tipo de problema, racismo, com destaque positivo pro MP do Distrito de Federal que agiu firme com um caso recente, e com destaque negativo total pro MP paulista) de fazer vista grossa a essa questão e a esses bandos, coisa que vem ocorrendo faz tempo. Pois idiota ou não, quando eles se agrupam e atacam pessoas nas ruas, fazem estrago pois pra agir como selvagem nunca foi necessário ter muita inteligência.

E como disse acima, o destaque negativo fica por conta do MP de São Paulo, pois é o MP do Estado onde ficam localizados e atuam os grupos principais (mais organizados), e não irei em hipótese alguma "nacionalizar" este problema quando trata-se de uma questão local, estadual, a maioria dos estados brasileiros não possuem essa "tara" com pretensa "ascendência europeia", não vou ficar me contorcendo de "dor" (em sentido irônico, "ficar me doendo"), porque o MP de determinado estado do país, por prepotência ou descaso, não faz nada com coisas que diz mais respeito a eles do que os outros estados da federação.

A mensagem é dura? Pode ser, mas meu 'ethos' (identidade cultural) não tem qualquer identificação cultural com este tipo de cultura de vista grossa com este tipo de problema (racismo e exaltação de ascendência) causado por ufanismo e idolatria a outros países por conta de ascendência étnica, tentando criar uma "mitologia" pra justificar o desenvolvimento econômico de algum estado ou região.

Um dia o Brasil vai ter que discutir este problema a sério, o famoso "passar a limpo", mesmo que os governos de estado e o governo federal façam de conta (vista grossa) que a questão não existe, embora saibam que isso que digo existe e é uma questão que cria divisões profundas no país. Não é um problema qualquer ou menor, tanto que na Europa é tratado como problema de Estado (algo bem sério) vide os problemas de separatismo e xenofobismo que estão pipocando novamente por lá.

Bom, os avisos então foram dados, bola pra frente.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Diário de um desesperado: os nazis e os anabatistas de Münster (Fanatismo religioso e nazismo)

Publicado em 29 março, 2013

"Eu, entretanto, enquanto trabalho no meu livro sobre os anabatistas de Münster, leio com profundo estremecimento os relatos medievais referentes a esta heresia autenticamente alemã, que foi en todos y cada uno de seus elementos, inclusive nos mais ridículos detalhes, predecessora do que agora estamos vivendo. A semelhança da atual Alemanha, aquela cidade Estado de Münster se separou por inteiro do mundo civilizado e, como a Alemanha nazi, apontou-se um sucesso atrás do outro durante um longo tempo até parecer invencível, para no final desabar num momento em que tudo era inesperado, e por assim dizer, virar uma bagatela...

Como agora, então também o grande profeta era um bagulho, um bastardo concebido nas valas da rua; como agora, toda resistência se rende ante ele, de forma incompreensível para um mundo assombrado; como agora (há pouco tempo em Berchtesganden, mulheres extasiadas tragaram os seixos os quais acabavam de ser pisados por nosso capitão de contrabandistas!)… como agora, mulheres histéricas, professores de escola estigmatizados, padres zangados, alcaguetes exitosos e outsiders de todas as profissões são os principais pilares do regime.

As similitudes se acumulam de tal modo que tive que as reprimir para não arriscar ainda mais a razão. Como em Münster, agora uma fina túnica de ideologia envolve um núcleo de lascívia, cobiça, sadismo e desejos abismais de ser alguém, e a quem duvidar da nova doutrina ou a ouse criticá-la, vai acabar nas mãos do carrasco. Do mesmo modo que o senhor Hitler no golpe contra Röhm, esse Bockelson agiu em Münster: como carrasco do Estado; como agora, a legislação espartana à qual se submeteu a vida da mísera plebe não regia, evidentemente, nem ele e nem seu bando de gângsteres. Como agora, Bockelson também se rodeou de seus capangas, invulneráveis a todo atentado; e como agora, houve manifestações de ruas e "doações voluntárias" cujo rechaço foi castigado com a proscrição; como agora, narcotizou-se a massa com festas populares e se ergueram construções inúteis para que o homem da rua não tivesse um instante de reflexão.

Igual a Alemanha nazi, Münster também enviou seus quintas-colunas e seus profetas para rastrearem os Estados circundantes, e o ministro de Propaganda de Münster, Dusentschnur, era coxo, igual ao seu grande colega Goebbels, é uma piada que a História Universal gastou quatrocentos anos de antecedência: um fato que eu, familiarizado com a sede de vingança do nosso embusteiro do Reich, ocultei prudentemente em meu livro. Sobre os cimentos da mentira, no ponto de inflexão entre o gótico e a Idade Moderna, alça-se durante um curto período um Estado de bandidos que ameaça a todo o mundo antigo, inclusive o Imperador, os estamentos e a todos os velhos vínculos, e que no fundo não possuem mais que o objetivo de saciar a ânsia de poder de uns quatro bandoleiros; aquilo que falta à gente compartilhar o destino dos habitantes de Münster em 1534 - ter que comer seus próprios excrementos na cidade sitiada, e finalmente e inclusive seus próprios filhos, postos antecipadamente em salmoura- ainda poderia cair sobre nós, o mesmo que ocorreu um dia com o inevitável fim de Bockelson e Knipperdollink acontecerá com Hitler e seus seguidores."

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2013/03/29/diario-de-un-desesperado-los-nazis-y-los-anabaptistas-de-munster/
Trecho do livro (citado no blog): Diario de un desesperado, de Friedrich Beck (livro em inglês, Diary of a Man in Despair), editora Minúscula (Espanha), págs. 23-25.
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: eu achei um texto sobre menonitas nazis em virtude de um livro com o título de "Anabatistas e nazismo", antes mesmo de ler esse trecho citando esse assunto (anabatistas) nesse blog espanhol. Só que como não deu pra traduzir o outro texto, achei melhor colocar esse texto mais curto pra que menciona o assunto com um trecho do livro de Friedrich Beck, que relaciona um fato religioso da Alemanha que teve impacto direto no nazismo (a questão tratada é o fanatismo levado as últimas consequências), uma certa postura fanática e bandoleira, assuntos que geram discussão até hoje (a questão religiosa da Alemanha e o nazismo, no caso, a participação dos diversos credos alemães no regime nazi, o grau de participação e a relevância de cada um).

O livro é esse: A History of the Münster Anabaptists: Inner Emigration and the Third Reich (editado por George von der Lippe, Viktoria Reck-Malleczewen).

Sobre esse assunto (religião no Terceiro Reich, link2), lembro que uma vez no Orkut uma pessoa contestou um percentual que eu havia citado (por ter lido no site do Museu do Holocausto, USHMM, inclusive a tradução do texto se encontra no link que coloquei no começo deste parágrafo) de que a maioria religiosa da Alemanha na época do nazismo era protestante e não católica (havia mais de 60% de protestantes e uns 40% ou menos de católicos), sendo que o maior apoio religioso dentro da Alemanha a Hitler e o nazismo foi do lado protestante. O que é curioso pois parte da cúpula nazista era católica e esta mesma cúpula e partido eram vistos com mais desconfiança por católicos alemães por terem uma visão mais rígida e tradicional da sociedade e da Igreja (a hierarquização com o Papa). O caso austríaco também é interessante (já citado aqui), houve um golpe de estado nazista contra os fascistas austríacos ou austrofascistas (que eram católicos, a Áustria era e ainda é um país germânico de maioria católica).

No geral, esse tipo de assunto provoca 'surtos' (de ira) em alguém mais 'fanático' ou "sensível ao extremo" (leia-se: intolerante) quando é citado o assunto religião, só que não se deve misturar crença pessoal com História (ciência e fatos históricos), ou pelo menos as pessoas não deveriam fazer isso (mas fazem). O que é óbvio pra muita gente, prum fanático religioso é algo que parece uma tortura, "abismo" ou precipício.

O fato é que não irei me policiar ou omitir o assunto porque por ventura isto desagrada a A, B ou C. Quem não tem condição emocional de ler esse tipo de assunto é só passar longe, ninguém é forçado a ler nada e lê porque quer. Quem quiser verificar o assunto tem toda a web (e livros) pra fazê-lo. Comento isto porque alguns fanáticos religiosos vinham tentar abafar discussão sobre o assunto no Orkut (não eram poucos) e sinceramente, não tenho mais a menor paciência pra tolerar esse tipo de chantagem psicológica repulsiva com viés autoritário.

E concluindo pra deixar registrado, eu achei uma fonte que cita o censo que traz esses números, mas o censo religioso desse ano (que não me recordo de memória) não se encontra na web, não sei por qual razão. Mas ele existe e é citado como fonte em um texto que achei há muito tempo, se eu conseguir encontrar esses links de novo até coloco aqui, portanto, ficarei devendo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 01

Como comentei aqui, eu disse que haveria posts no blog sobre outros temas mais relacionados à História do Brasil.

Os motivos? Já comentei no texto sobre História do Brasil do link acima (quem quiser saber, leia), mas posso fazer alguns acréscimos ao que já foi dito antes. Uma das razões centrais da importância do assunto se dá pela observação de que pessoas que recebem informação sobre conflitos mundo afora (por exemplo: Segunda Guerra Mundial e Holocausto, o tema do blog) sem ter ideia da história do próprio país em que nasceu (e vive), demonstram uma certa postura idiota e alienada em relação a qualquer assunto referente à história e política. Isto uma opinião pessoal, mas com base em observações (não se trata de uma opinião aleatória). Sempre notei que a maioria desses malas sem alça (brasileiros) que ficam enchendo o saco na rede dizendo que são "revis" (e mesmo quem não se identifica com eles) e outras bizarrices do tipo não sabem absolutamente nada sobre História do Brasil. A impressão que passam é que são uma "coisa" solta pelo mundo, com problemas identitários sérios.

Ou quando "sabem" (observem as aspas pra indicar que há um tom irônico no termo), costumam repetir uma história enviesada ignorando que a formação do país que se deu em outros estados com conglomerados populacionais mais antigos (mais de 3 séculos de história intensa e meio milênio de história ininterrupta) e não no eixo econômico atual do Brasil (Rio de Janeiro-São Paulo), que só surge no século XX pois a ascensão do Rio se dá apenas na vinda da família real portuguesa ao Brasil (fugindo dos franceses e deixando o povo português à deriva) e a ascensão de São Paulo se dá apenas no fim do século XX se consolidando na metade do século XX. A história do país antes disso se situava em núcleos em outros estados (com destaque pra Pernambuco, Bahia e Minas Gerais) e desses núcleos (somados a outros) se espalharam por todo território atual do país. Sem saber de informações básicas sobre a formação do país as pessoas não conseguem interpretar absolutamente e adequadamente nada (que preste) sobre o Brasil.

Aproveitando esta pequena introdução (comentário), publicarei em três partes, ou mais partes (pois o texto é grande e muita gente acaba não lendo se se colocar o texto inteiro de uma vez) um texto do jornalista Ariel Palacios sobre o término da ditadura no país vizinho (Argentina).

O texto dele (muito bem escrito, quem quiser acompanhar algo sobre História Argentina sugiro que acessem o blog dele) põe abaixo diversos mitos disseminados na rede (web) e no "boca a boca das ruas" de saudosistas desses regimes ditatoriais da América do Sul sobre o quanto era "bom" esse período nefasto da história da região tentando criar um senso comum imbecilizado e falso que o povo muitas vezes repete isso ou por ignorância ou burrice mesmo. E não é surpresa a simpatia de setores da população com o autoritarismo, o autoritarismo sempre foi marcante na cultura ibérica (luso-hispânica), que é a cultura central nos países da região (refiro-me à influência, até porque os idiomas dos países vêm dessa cultura), com apegos a regimes autoritários e retrógrados de extrema-direita. Portugal e Espanha que o digam... (principalmente a Espanha).

O texto do Ariel é sobre a ditadura argentina, mas em virtude de haver semelhanças com a ditadura civil-militar brasileira (e também pela proximidade dos países), principalmente na parte econômica, cujos apoiadores até hoje fazem questão de defendê-la (muitas vezes de forma cínica) ou requentando a propaganda ideológica da Guerra Fria, posando de "democratas" apesar de não o serem ( nunca foram e jamais serão). Ou você é democrata convicto ou não é. Acho que é muito pertinente que os brasileiros (e a quem se interessar pela História da América do Sul em qualquer parte do mundo) leiam o texto dele sobre a ditadura argentina.
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Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (pequeno manual sobre o modus operandi do regime) - parte 01

Mão de um desaparecido da ditadura argentina. Seu corpo –
que estava com as mãos amarradas – foi encontrado em uma
praia do lado uruguaio do rio da Prata.
Há 30 anos, na manhã do dia 10 de dezembro de 1983, o presidente civil Raúl Alfonsín, tomava posse. Encerravam-se 7 anos da ditadura militar mais sangrenta da História do século XX na América do Sul.

A ditadura argentina aplicou uma série de formas de eliminar pessoas que considerava “subversivas”, fossem elas vinculadas a grupos guerrilheiros, civis sem militância política alguma, estudantes secundaristas, universitários, empresários, aposentados, entre outros.

As principais formas eram:

- Jogar pessoas vivas, desde aviões, sobre o rio da Prata ou o Oceano Atlântico.

- Juntar prisioneiros, amarrados, e dinamitá-los.

- Fuzilamento.

- Morte por terríveis torturas

Tal como os funcionários do Terceiro Reich que recorreram aos fornos crematórios para eliminar os prisioneiros dos campos de concentração – como forma rápida de eliminar os vestígios dos corpos dos judeus massacrados – a ditadura argentina optou pelos “voos da morte” como uma de suas modalidades preferidas para “desaparecer” as pessoas sequestradas.

Adolfo Scilingo, ex-capitão da Marinha que em 1995, arrependido de sua participação nos “voos da morte”, revelou que 4.400 pessoas foram assassinadas ao serem arremessadas no rio da Prata e no mar desde os aviões da Marinha. Scilingo, condenado a 640 anos de prisão pelos tribunais da Espanha por crimes contra a Humanidade, sustentou que os voos da morte não eram um procedimento circunstancial, mas sim, parte de um plano de grande escala de eliminação dos corpos dos desaparecidos.

Além da Armada argentina, a Aeronáutica e o Exército também realizaram “voos da morte”, embora em menor escala, já que estas duas forças preferiam o enterro dos cadáveres em fossas comuns clandestinas.

Na época do surgimento dos primeiros cadáveres nas praias, a ditadura militar uruguaia acreditou que tratavam-se de pessoas afogadas em um naufrágio de um navio asiático. Os militares confundiram no início que eram de etnias orientais, pois os corpos estavam “amarelos”. Mas, posteriormente perceberam que tratavam-se de ocidentais.

Nos anos seguintes os militares em Montevidéu reclamaram aos colegas argentinos em Buenos Aires que o surgimentos de corpos em suas praias estavam causando constrangimentos ao regime, além de pânico nos turistas, que deparavam-se com os cadáveres trazidos pela maré. A partir dali, os pilotos argentinos deixaram de arremessar os prisioneiros na área do rio da Prata começaram a fazer voos até o mar. No entanto, as correntes marítimas continuaram levando os corpos às costas uruguaias.

O destino dos corpos:

- Enterrados em cemitérios clandestinos. Ou, em cemitérios oficiais, embora em fossas coletivas como indigentes.

- Jogados no Rio da Prata ou no mar

Em 2009, um relatório entregue à ONU pela secretaria dos direitos humanos da Argentina indicou que do total de desaparecidos da Ditadura, 30,2% eram composto de operários; 21% por estudantes (inclusive colegiais), 28,6% de funcionários públicos e profissionais liberais. Outros 20,2% pertenciam à outras categorias sociais.

MODALIDADES DE TORTURAS

As torturas aplicadas pela ditadura argentina acumulavam diversas modalidades que – ao longo de dois séculos de História – as forças armadas locais (e as forças policiais) haviam desenvolvido e aplicado.

- Picana elétrica: criada nos anos 30 na Argentina por Leopoldo Lugones Hijo, filho do escritor nacionalista Leopoldo Lugones. A picana era o instrumento para assustar o gado com choques elétricos nos currais, e assim, direcioná-lo para o abate ou embarque. Aplicado a seres humanos, tornou-se no instrumento preferido de tortura na Argentina.

- Submarino molhado: consistia em afundar a cabeça de uma pessoa em uma tina d’água. Ocasionalmente a tina também estava cheia de excrementos humanos.

- Submarino seco: consistia em colocar a cabeça de uma pessoa dentro de um saco de plástico e esperar que ela ficasse quase asfixiada.

- O rato no cólon: a colocação de um rato, faminto, no cólon de um homem. Nas mulheres, o rato era colocado na vagina.

- Estupros: Mulheres e homens foram estuprados sistematicamente pelos militares e policiais argentinos. As mulheres, ocasionalmente recebiam a opção de serem estupradas ou de serem eletrocutadas na parte interna da vagina e ânus.

- Esfolamento: Os torturadores amarravam um prisioneiro em uma mesa e começavam a esfolar a pele da sola dos pés com uma gilette ou bisturi

- Empalamento: Alguns homens foram empalados pelas forças de segurança com cabos de vassoura.

O menino Floreal Avellaneda, considerado
‘inimigo’ pela ditadura argentina, foi empalado.
Um dos casos mais sinistros de torturas foi o do adolescente Floreal Avellaneda, sequestrado no dia 15 de abril de 1976. Filho de um casal de sindicalistas militantes do Partido Comunista, Floreal, que tinha 14 anos quando foi sequestrado, sofreu torturas nas mãos e genitais. Depois, foi empalado vivo.

No dia 22 de abril de 1976 a polícia uruguaia encontrou em uma praia perto de Montevidéu o cadáver de um jovem violentamente torturado com a marca de uma tatuagem com as letras “FA”. Posteriormente, com a volta da democracia, a mãe de Floreal pode confirmar que tratava-se de seu filho. Ele havia sido arremessado de um dos aviões que realizavam os “voos da morte” sobre o rio da Prata.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

[Pausa Musical] - Paralamas do Sucesso. Feliz 2014

Eu ia soltar um "pausa musical" bem antes mas acabou não dando. Em todo caso, seguem abaixo duas músicas que não ouvia há muito tempo e não lembrava do quanto tinha qualidade as músicas, principalmente "Alagados" que, além da qualidade musical (e dos riffs da música e ritmo 'meio reggae' acelerado). Essa música é uma crítica social que toca na ferida da desigualdade social do país, sendo que o clipe da música vai além disso mostrando que a desigualdade social é também (e principalmente) "racial" (segregação étnica) já que as favelas do país literalmente parecem guetos étnicos.

Tem gente que nega isso, cinicamente ou não (no caso, quem nega cinicamente sabe que o problema existe mas não quer vê-lo resolvido, e há os que negam por ignorância, esse segundo caso ainda dá pra dar um "desconto"... até quando, não sei). E por que digo isso? Porque volta ou outra sempre aparece um desses fascistas ou "reaças" negando um monte de fatos, ideologicamente, sempre chamando todo mundo que retrata o problema de "comunista" etc e tal. Aliás, é bem conveniente pra esse pessoal chiliquento dizer que todo mundo é comunista pra nunca discutir a questão, deixar tudo como está, tem sido esse um dos artifícios de discurso da elite brasileira pra empurrar os problemas graves do país (o mais sério deles, disparado, é o da desigualdade de renda e regional) pra debaixo do tapete.

Não falo com certeza pois não há registro disso sobre a música (não achei na web) e lembro vagamente, mas se eu não estiver enganado (caso alguém saiba de mais detalhes e queira comentar), esse clipe de "Alagados" mostra imagens da Favela da Maré (Rio de Janeiro capital) e parece (não tenho certeza, portanto, caso não tenha sido nem levem a sério essa parte) o clipe foi trocado na TV por outra versão de clipe mais leve com a música (vocês acham no Youtube, eu já assisti no Youtube por isso me veio à mente a questão).

A dedução de segregação "racial" (ou étnica) é minha, vendo as imagens do clipe hoje dá pra ter uma leitura melhor da coisa, embora não seja algo novo pra ninguém. A letra da música compara a situação de três grandes favelas, Alagados (Salvador, Bahia, link1 link2), Trenchtown (Kingston, Jamaica) e Favela da Maré (Rio de Janeiro capital), que são cidades conhecidas por serem "festivas" embora a realidade "oculta" dessas cidades (pra maioria da população delas) seja bem diferente. A alegria acaba se transformando em uma forma de mascarar as desgraças (mazelas sociais).

O clipe de "Alagados" era e continua chocante (atual) pois mostra sem retoques coisas que a própria TV brasileira tenta negar diariamente perpetuando o estado de segregação brasileiro que lembra muito o quadro da África do Sul. Quando não é isso, é fomentando atrito regional pra camuflar problemas.

Talvez a diferença dos dois modelos de segregação seja que a segregação na África do Sul era escancarada, explícita, em pleno século XX (onde houve muitos registros gráficos) quando não se tolerava mais isto, enquanto no Brasil se adotou o discurso cínico do "lusotropicalismo", depois de extinguirem a segregação estatal no século XIX aplicando a eugenia pra branquear a população como política de Estado da Monarquia "brasileira", sendo essa segregação da ideologia do "lusotropicalismo" mais silenciosa, "oculta", feita na surdina usando o discurso de que "somos todos mestiços" então "racismo não existe" ("ignorando" que o racismo é uma construção social). E agora há gente insuflando um monte de gente simpática (e idiota) a escancarar os preconceitos, adotando um discurso não mais mascarado de segregação racial com slogans como "os brancos estão sendo perseguidos" e coisas desse tipo. No fundo eu fico me perguntando se essas pessoas ao dizerem isso acha que vão convencer alguém de que a segregação não existe, pois mesmo o país não querendo resolver o problema, pelo menos muita gente sabe que existe. Negacionistas são sempre escrotos.

Seguem as duas músicas, "Cinema Mudo", em homenagem especialmente pro Lobão (os 'fortes' entenderão o porquê da homenagem, rsrsrsrs) e o clipe de "Alagados" (1986) que é chocante até hoje, a banda grava em locações da própria Favela da Maré e aparece um baile da época na favela onde a banda visita o baile e grava com a população dela, Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna, os Paralamas do Sucesso.

Não lembrava do quanto essa música era boa pros que acham que brasileiro não sabe fazer música (desliguem a TV um pouco e parem de assistir besteira na TV aberta, tem conteúdo de sobra na web basta ter curiosidade e saber procurar). Realidade nua e crua que causa mal estar e fúria na elite segregadora do país.






Pra não perder viagem no post, segue um bônus com Vital que acabou deixando a bateria por sua moto. Essa música é demais e a edição do clipe ficou fantástica. Mais uma dedicada ao Lobão (hahahaha), #partiuLobão

domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

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