sexta-feira, 22 de julho de 2011

Removida tumba de Rudolf Hess, lugar de perigrinação neonazi

Removida a tumba de Rudolf Hess, substituto de Hitler
Sua sepultura em Wunsiedel havia se convertido num centro de peregrinação neonazi
JUAN GÓMEZ - Berlim - 21/07/2011

A tumba de Rudolf Hess em Wunsiedel (Alemanha) antes
de ser desmantelada- MICHAEL DALDER (REUTERS)
A sepultura do figurão nazi Rudolf Hess em Wunsiedel, Baviera, foi removida entre as quatro e seis da madrugada da quarta-feira, segundo publicou hoje o diário de Munique Süddeutsche Zeitung. Desaparece assim a tumba do comparsa ao qual Adolf Hitler ditou "Minha Luta", o programa político do regime que organizou o Holocausto. Seus restos mortais serão queimados e espalhados em alta mar, depois da comunidade cristã evangélica de Wunsiedel denegar a seus descendentes o prolongamento do arrendamento do sepulcro.

Os neonazis seguem considerando-o um "mártir"

Desde que Hess se enforcou com um cabo en sua cela de Spandau em 1987, o local havia se convertido numa meca de romarias neonazis. Os ultradireitistas do partido NPD e outros grupelhos de mesma ideologia nazi organizavam uma marcha comemorativa a cada 17 de agosto, na qual se homenageava o "mártir" Hess. Este havia se livrado da forca nos Julgamentos de Nuremberg por haver protagonizado um extravagante salto de paraquedas sobre a Escócia em 1941. Segundo alegou, para negociar a paz com o Reino Unido. Sua conhecida participação nos crimes do nazismo lhe valeu, não obstante, uma condenação à prisão perpétua em 1946. Ele a cumpriu até os 93 anos sob vigilância de soldados aliados na prisão de criminosos de guerra de Berlim-Spandau.

Hess se enforcou em sua cela 42 anos depois de seu chefe dar um tiro em seu bunker situado poucos quilômetros ao sudeste de Spandau. Foi o único prisioneiro de Spandau a partir de 1966, quando saíram em liberdade os também destacados nazis Albert Speer e Baldur von Schirach. Ao contrário de Speer ou Karl Dönitz, com os quais compartilhou o pátio da prisão de Spandau, Hess não maquiou sua biografia nem negou seus entusiasmos nazis. Assim, os neonazis seguem o considerando um "mártir", sobre cujas vida e morte seguem espalhando falsidades e lendas. No fim das contas, Hess se encarregou de pôr por escrito os dislates antissemitas, racistas e belicistas de seu amigo Hitler, com quem esteve preso depois do fracassado putsch de Munique de 1923. O livro resultante, que chamaram de "Minha luta", foi uma best-seller nos 12 anos que durou a ditadura nazi.

A proibição das marchas comemorativas desde 2005 não impediu que Wunsiedel, pitoresca localidade de 10.000 habitantes próxima à fronteira com a República Tcheca a qual Hess ia nas férias, contasse até esta semana entre os principais lugares de perigrinação para neonazis de todo o mundo. Segundo o Süddeutsche Zeitung, uma das netas de Hess se opôs primeiro a que removessem os restos mortais de seu avô. As autoridades locais conseguiram convencê-la para que aceitasse a exumação de seus restos e evitar de uma vez por todas que o sepulcro familiar continuasse atraindo grupos de neonazis e simpatizantes da ideologia de seu avô. Depois de sua morte foi demolida também a prisão de Spandau.

Fonte: El País(Espanha)
http://www.elpais.com/articulo/internacional/Desmantelada/tumba/Rudolf/Hess/lugarteniente/Hitler/elpepuint/20110721elpepuint_1/Tes
Tradução: Roberto Lucena

Ver também:
Túmulo de Rudolf Hess é destruído para pôr fim à peregrinação neonazista (avidanofront/DW)
Preventing Neo-Nazi Pilgrimages (Spiegel, Alemanha)
Desmantelan la tumba del lugarteniente de Hitler (infobae.com)
Restos mortais de vice de Adolf Hitler são queimados (AP/Paraná Online)

Vídeo(matéria, em espanhol):
Rudolf Hess se queda sin tumba y los neonazis sin lugar...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"Revisionistas" fazem ataque racista na web contra Miss Itália brasileira

Miss Italia Nel Mondo 2011 sofre preconceito

Silvia é miss São Paulo 2009 e neste ano
representou a Amazônia
Foto: Denny Cesare/Futura Press
A brasileira de 24 anos foi vítimas de comentários preconceituosos na internet; ela é bisneta de italianos da Toscana

Marielly Campos | noticias@band.com.br

A brasileira Silvia Novais, eleita Miss Italia Nel Mondo 2011, vem sofrendo ataques racistas de grupos de intolerância desde que venceu o concurso na Europa, no início do mês. O concurso coroa a mais bela descendente de italianos.

Um blog chamadoIndústria do Holocausto” considerou a coroação de Silvia uma “piada” e afirmou: “Trata-se de uma piada, ou a onda de cotas chegou por lá?”. O post diz ainda que “convenhamos, sem dificuldades podemos encontrar em qualquer shopping ou faculdade aqui no Brasil gurias brancas que, sendo bondoso, humilham essa moça em todos os sentidos. Nem é preciso ir tão longe, a guria que trabalha de caixa do bazar do meu bairro já dá de 10 a 0.” O texto foi tirado do ar, mas pode ser visto em cache pelo Google.

Silvia é miss São Paulo 2009 e entrou no concurso por ser bisneta de italianos da região da Toscana. Ela disputou como como representante da Amazônia. Ao todo, 39 mulheres concorreram ao posto.
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Brasileira eleita miss sofre racismo

A brasileira Silvia Novais, modelo de 24 anos, 1,77 m e 55 kg, tornou-se alvo de ataques racistas na internet após ter sido eleita miss Itália no Mundo no início do mês. O concurso coroa a mais bela descendente de italianos. "Sofri muito com o preconceito, mas não esperava essa repercussão", disse a miss.

Silvia Novais, de 24 anos, ganhou
concurso que elegeu a mais bela
descendente de italianos (ap)
Em um blog chamado Indústria do Holocausto, a premiação de Silvia foi criticada: "Trata-se de uma piada, ou a onda de cotas chegou por lá?". No site Stormfront.org, ela foi chamada de "negra nojenta", em inglês. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância de São Paulo já investiga o site, por suspeita de ser uma comunidade neonazista que recruta jovens brasileiros.

Silvia nasceu na Bahia, foi eleita miss São Paulo em 2009 e entrou no concurso por ser bisneta de italianos da região da Toscana.

Fonte: site da Band(Brasil)/Destak(Portugal)
http://www.band.com.br/noticias/mundo/noticia/?id=100000445157

Comentário: uma informação extra que não saiu na matéria sobre esses fatos. O blog citado, "Indústria do Holocausto"(e há outros "blogs espelho" desses, do mesmo bando)é de neonazis WP muito provavelmente de SP, era o grupo em maior número e que tinha site. Eles circulam com alguma frequência(embora tenha diminuído)em comunidades que negam o Holocausto na rede social Orkut(do Google)e que se autodenominam "revisionistas" do Holocausto(entre aspas pois estes bandos tratam-se de neonazis, simpatizantes do nazismo e/ou antissemitas).

Esses bandos racistas neonazis brasileiros(a maioria situado em SP, ou os bandos mais organizados) foram acolhidos por este site neonazi dos EUA(o Stormfront) de dois ex-membros da Ku-Klux-Klan e supremacistas brancos(Don Black e David Duke)desde a primeira queda do site neonazi Valhalla88 pela Polícia Federal brasileira, e organizam suas atividades neste fórum neonazi norte-americano.

Quando a polícia começou a mirar esses sites(o antigo Valhalla88 foi removido e entrou outro no lugar que continua em atividade sabe-se lá porque e seus autores não foram indiciados por prática de racismo), eles se alojaram neste site norte-americano embora tenham contato com grupos de Portugal e Espanha e do Cone Sul(América do Sul, principalmente da Argentina e Chile). Um servidor neonazi é hospedado na Argentina e continua ativo, bastante conhecido no país por divulgar o negacionismo do Holocausto, o libreopinion. Há uma rede de grupos de extrema-direita nestes redutos e já passou da hora do Estado brasileiro dar uma resposta satisfatórias aos mesmos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Um paraíso da literatura nazi

O Supremo Tribunal absolveu os membros da livraria Kalki, acusados de difundir ideias genocidas. A Espanha converteu-se no país ideal para publicar esta categoria de livros.

 Aquela demanda acabava com quarenta anos de impunidade na Espanha. Violeta Friedman sabia que quando as guerras terminam, começa a batalha pela memória. E ela estava predisposta a livrá-la com todos os resortes que permitisse a lei. Léon Degrelle negou o Holocausto em 1985 em umas polêmicas declarações. O ex-oficial das Waffen-SS havia eludido a Justiça internacional refugiando-se na Espanha. Em 1954, camuflou sua identidade com um nome falso. Mas ela não estava predisposta a lhe levar aos tribunais. Havia sobrevivido à campanha de extermínio do Terceiro Reich. Apresentou uma denúncia e obteve uma condenação.

No passado mês de junho, o Supremo Tribunal, amparando-se no fato de que na Constituição «não proíbe as ideologias» e que tampouco se podem perseguir «as ideias», absolveu os quatro membros responsáveis da livraria Kalki, anulando a sentença que a Audiência Provincial de Barcelona havia ditado contra eles. Eram acusados de difundir ideias genocidas que vulneraban a liberdade e os direitos. A Embaixada de Israel mostrou seu desacordo total. «Israel vê com muita tristeza e preocupação a sentença absolutoria do Supremo Tribunal da Espanha para com os donos da Livraria nazi Kalki, permitindo assim a difusão de livros que apoiam a violência racista e demonstra falta de conhecimento histórico. O direito e a liberdade de expressão não pode amparar ações ou ideologias que incitam a violência e o genocídio».

Uma barbaridade

Esta decisão reabre o debate sobre a permissividade das leis espanholas neste aspecto. «É uma barbaridade, porque fomenta a literatura desta categoria de grupos de extrema-direita. A letra impressa reveste de autoridade as mensagens que tentam transmitir», afirma Clara Sánchez, ganhadora do Prêmio Nadal com «O que teu nome esconde» (Destino), uma novela sobre o amparo e a proteção que receberam muitos dirigentes nazis em nosso país. Antonio Salas, autor de «Diário de um skin» (Temas atuais), que se infiltrou entre neonazis para escrever este livro, compartilha sua opinião: «A Espanha está no meio dos grupos da Iberoamérica e Europa. Nos anos 80, uma livraria de Barcelona era a que difundia maior propaganda nazi. Na Grã-Bretanha e na Alemanha é proibido este material. Contudo, os nazis da América Latina podiam conseguir estas obras porque eram impressas na Espanha». Para Salas, os livros, revistas e fanzines que eram distribuídos aqui contribuem a reforçar a ideologia de extrema-direita e respaldam seu «modus operandi» com impunidade. E alerta: «Cada vez estão melhor organizados. Aprenderam com seus erros. Estão muito ativos. Existe uma relação muito estreita entre os que vivem em Portugal e na Espanha. E as atividades que organizam unem a eles pessoas desde a França passando por outros lugares. A Espanha é algo frouxa neste assunto, por assim dizer. Só cobra trasparência quando se comete um assassinato».

Antoni Daura, presidente do grêmio de livreiros da Catalunha, tem uma ideia precisa sobre este tema: «Não creio que sejam edições rentáveis a nível comercial, porque as pessoas em geral não adquirem estes títulos. São pessoas que difundem estas obras não por uma valorização comercial, senão ideológica. Não lhes importa perder dinheiro. A Espanha, neste sentido é permissiva. Alemannha age de uma maneira clara contra eles. O certo é que estas ideias são perigosas. Nós livreiros, em geral, somos amigos da liberdade de expressão, mas existe uma linha vermelha muito clara». María Royo, portavoz das comunidades judaicas da Espanha, é direta: «Há um vazio legal. A UE incentivou a todos os países a revisar seus códigos penais para eliminar, precisamente, estes vazios e combater os delitos de xenofobia e racismo. A Espanha não o fez. Só se pede uma revisão para que ninguém se ampare na liberdade de expressão para difundir livros racistas ou que se divulguem ideias como discriminação por raça ou etnia». Clara Sánchez, que, como Antonio Salas, recebeu ameaças destes grupos por seu último livro, erradica qualquer classe de dúvidas sobre como atuam e o que defendem: «Não é divagar sobre o que podem fazer. É que já o fazem. Temos fatos, dados. Estão na história». Respeito a decisão do Supremo Tribunal, mas assegura se sentir «envergonhada»: «Que se apele à liberdade de expressão e ideológica para absolvê-los não é mais razoável, porque estes grupos cortam as demais. Se algo tem o nazismo é que é irracional e parcial na liberdade e o livre arbítrio».

Tempos de crise

Salas ressalta os bons resultados que estes grupos, revestidos com a aparência de formações políticas, conseguiram nas últimas eleições. Inclusive, revela com preocupação, que entraram em alguns municípios. «A ultradireita está diretamente ligada à imigração. Em tempos de crise, gente normal se aproxima desses partidos. Defendem o lema “Espanha para os espanhóis”». Clara Sánchez também finca o pé na situação econômica que atravessamos: «Sempre há gente que necesita sentir-se superior, que tem descontentamentos viscerais e que se refugiam nos grupos neonazis. Estes livros fomentam este tipo de sentimento. E mais ainda nesta época. Somos muito flexíveis com a venda de iconografia e de livros  nazis na Espanha».

Livros contra a intolerância

Antonio Salas e Clara Sánchez, com seus livros, «Diário de um skin» (Temas atuais) e «O que teu nome esconde» (Destino), tiraram o nazismo da «invisibilidade» na qual é protegido na Espanha. Se Clara Sánchez recebeu ameaças, Salas, além delas – todavia tem que tomar precauções básicas -, ao menos conseguiu desmascarar os negócios de alguns dirigentes de extrema-direita. Muitos jovens se afastaram desta ideologia por conta de sua investigação.

Fonte: Larazon.es(Espanha)
http://www.larazon.es/noticia/165-un-paraiso-de-la-literatura-nazi
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 17 de julho de 2011

Jan Gross, autor do livro "Vizinhos": "O nazismo pôs uma categoria de vítimas contra as outras"

Jan Gross, autor do livro "Vizinhos"
que desnudou a verdade dos fatos.
Vizinhos não foi o único livro de Jan T. Gross (Varsóvia, 1947) em provocar uma polêmica em seu país natal. Em 2006, sua investigação Medo. Antissemitismo na Polônia depois de Auschwitz havia contribuído com o debate. Centrado nos pogrons contra judeus uma vez finalizada a Segunda Guerra Mundial, Gross estima que, dos mais de 200 mil que regressaram à Polônia, uns 3000 foram assassinados. Em 2008, as autoridades judiciais polonesas interpretaram o livro Medo à luz do artigo 132 de seu Código Penal, que castigava até com três anos de prisão a quem "publicamente caluniasse a nação polonesa como partícipe, organizadora ou responsável pelos crimes nazis ou comunistas". Um artigo que inclusive foi chamado ironicamente de "Lei Gross", já que foi criada depois da polêmica em torno de "Vizinhos". Os promotores se recusaram a iniciar uma investigação e mais tarde o artigo foi vetado como anticonstitucional. Gross acaba de publicar outro livro irritante para o status quo polonês: Colheita Dourada, sobre o enriquecimento às custas dos judeus assassinados durante o Holocausto.

-Porque você crê que na Polônia não há um sentido de responsabilidade coletiva por esses crimes, sem prejuízo de que seja inegável que os poloneses também foram vítimas do nazismo?

-Na Polônia, a narrativa principal sobre as experiências da Guerra é a vitimização, e é correta, porque a ocupação nazi foi extraordinariamente brutal, especialmente nos países eslavos. Trataram-nos como escravos, para a escala racial nazi eram Untermensch, subumanos. E os judeus estavam na escala mais baixa. O nazismo teve sucesso em pôr uma categoría de vítimas contra a outra, apoiado em um antissemitismo tradicional na Polônia, e por isso seu incentivo em cometer atos como os de Jedwabne funcionou. Isto evidentemente não se adequa com a narrativa heróica dos poloneses, que é também correta: a resistência foi mais elaborada e complexa que qualquer outra na Europa sob ocupação. Como compatibilizar esta narrativa da resistência com o fato de que, quando os nazis de alguma maneira "instigaram" a população a se juntar à espoliação dos judeus, a população se juntou, inclusive até ocasionalmente assassinando-os? É muito difícil de admitir. Por outro lado, há que reconhecer que a Polônia é o único país do Leste Europeu em aceitar esta discussão. A população de outros países do leste se comportou em relação a seus judeus de maneira parecida ou inclusive pior, e lá não há uma intervenção historiográfica para discutir esta questão.

-Qual reflexão lhe inspira o 70° aniversário do massacre de Jedwabne?

-A Polônia é muito diferente agora que há dez anos atrás, creio que há uma maior consciência entre os historiadores, mas também em outros seguimentos da sociedade, de que as relações entre poloneses e judeus durante a Segunda Guerra não foram o que deveriam ter sido. Não há muito mais que fazer, exceto refletir e guardar algum tipo de luto pela morte de tantos compatriotas que nunca tiveram um duelo apropiado. E espero que, à medida que histórias como esta venham à luz e sejam melhor entendidas, que sejam reconhecidas como parte central da história polonesa: não como algo que se passou com "os judeus", senão com toda a população.

Fonte: lanacion.com(Argentina)
http://www.lanacion.com.ar/1389900-el-nazismo-puso-a-una-categoria-de-victimas-en-contra-de-la-otra
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 16 de julho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 4

México, a Segunda Guerra Mundial e o Terceiro Reich

O começo da Segunda Guerra Mundial teve grandes repercussões para os países latinoamericanos. A neutralidade, que em poucos dias proclamaram todos os estados, limitou a liberdade de ação. O tratamento dos cidadãos dos países em guerra adquiriu grande importância, porque isto podia pôr em perigo a neutralidade do país. Finalmente, muitos estados europeus deixaram de ser sócios comerciais como consequência das conquistas alemãs e o bloqueio inglês.

A Segunda Guerra Mundial também mudou o papel dos Estados Unidos da América no sistema internacional. Ainda que neutro legalmente, claramente se alinhou junto às democracias e apoiou a Inglaterra em sua luta contra o Terceiro Reich. Por temor da subversão totalitária no continente americano e por motivos estratégicos, ainda antes de seu ingresso na guerra em dezembro de 1941, o governo americano tratou de liquidar a influência alemã na economia, na política e nas sociedades latinoamericanas. Sobretudo permitiu que se proibissem as organizações nacional-socialistas e se intesificasse a cooperação militar, econômica e política com os estados ao sul do Rio Grande.

Em setembro de 1939, as relações mexicano-americanas, que nunca haviam estado livres de tensões, haviam chegado outra vez a um ponto morto, havendo piorado com a nacionalização da indústria petroleira em março de 1938, que havia afetado também a empresas americanas. Estas impediram o transporte e a venda de petróleo mexicano, e exigiram a restituição de suas possessões anteriores ou uma indenização. O governo americano suspendeu a compra de prata mexicana, praticamente boicotou o petróleo mexicano, rompeu as negociações de um acordo comercial e negou créditos estatais para o vizinho do sul; por outra parte, o México tinha que pagar compensações aos cidadãos americanos que perderam seus bens durante a Revolução - e todos os problemas que não haviam sido resolvidos quando começou a guerra[45].

Pouco tempo depois do começo das hostilidades, no México se começou a pensar nas consequências da guerra e em como enfrentá-las. A perda do mercado europeu era o que mais preocupava aos políticos e lhes deu a convicção de que havia que se intensificar as relações comerciais com os estados do continente americano. Depois de perder a esperança em um ponto final da guerra por causa da agressão alemã contra Dinamarca e Noruega, o governo mexicano começou a tomar medidas concretas. Em um memorando que transmitiu ao presidente Lázaro Cárdenas em 16 de maio de 1940, o General Rafael Sánchez Tapia examinava criticamente a política de neutralidade, chegando à conclusão de que era inevitável a entrada dos Estados Unidos na guerra. Independentemente de sua origem, disse, esta podia se extender pelo continente americano, já que uma guerra, dada a interdependência econômica e política, significava uma ameaça para todos os países do mundo. Tapia opinava que os estados da América Latina e o Caribe jogavam um papel iminente na conflagração. O México, antes de tudo, tinha uma posição geopolítica importante, por sua infraestrutura e a proximidade do canal do Panamá. Por isso, o país não podia manter a política exterior que havia praticado até então. A neutralidade de um estado débil como o México não serviria em caso de um conflito entre os Estados Unidos e outra potência, se um dos combatentes necessitasse do México para fins militares. Tapia propunha concluir um acordo militar com os Estados Unidos tanto antes fosse possível. Ainda que o ingresso na guerra dos Estados Unidos arrastasse o México, tal acordo tinha vantagens para Tapia, pois permitiria solucionar alguns dos problemas com o grande vizinho: por exemplo, as velhas dívidas e a nacionalização de empresas ou fazendas americanas. O México poderia prover matérias-primas e produtos que necessitassem os Estados Unidos para sua defesa. Mediante a cooperação com os EUA, podia-se fomentar a indústria mexicana, a construção de estradas etc. Em resumo, uma aliança com os Estados Unidos poderia contribuir muito para o crescimento econômico e a solução de problemas urgentes. As vantagens para os EUA, seriam que o México serviria de exemplo para outros países latinoamericanos; que, como aliado, os EUA, teriam fácil acesso a portos e aeroportos mexicanos pelos quais poderiam transportar material e homens para a defesa do canal; finalmente, o México poderia estabelecer bases para o abastecimento e o apoio do exército americano[46].

O presidente Cárdenas evidentemente levou em conta os conselhos do general. Em 01 de junho, por exemplo, o embaixador mexicano nos EUA, durante uma visita ao México, comunicou a um funcionário da representação diplomática americana que se poderia enviar um alto militar aos Estados Unidos para conversar, entre outras coisas, sobre uma cooperação mais estreita e a nacionalização das empresas petroleiras. Alguns dias mais tarde, o mesmo Castillo Nájera declarou em Washington ao sub-Secretário de Estado, Sumner Welles, que o presidente Cárdenas estava de acordo com que militares americanos e mexicanos falassem sobre uma cooperação em caso de estourar um conflito. Sublinhou especialmente que o presidente lhe havia encarregado de assegurar que o México estava interessado em um acordo militar e que, em caso de guerra, os EUA podiam contar com todo o apoio possível[47].

Umas semanas depois, em 19 e 21 de junho, reuniram-se os ministros mais importantes na residência de Cárdenas, para estabelecer a posição do país ante a conferência dos estados americanos em julho em Havana[48]. Já o memorando do general Tapia havia sublinhado a necessidade de cooperar com os EUA. Nesta reunião cristalizaram-se mais as posições fundamentais da iminente política exterior que se avizinhava. Houve um acordo quase unânime de que a Alemanha, apesar dos últimos sucessos, todavia não havia triunfado na guerra. Também se combinou que os EUA se sentiam ameaçados militar e economicamente pelos países do Eixo e a guerra na Europa, e que realmente esta ameaça existia e também tinha importância para o México, porque seu destino como país dependia dos Estados Unidos. Assim mesmo, os representantes do governo concordaram de que, cedo ou tarde, os EUA entrariam na guerra e lutariam ao lado dos Aliados. O Secretário de Relações Exteriores Hay disse que os americanos inclusive se sentiam obrigados a intervir militarmente para contra-arrestar a expansão econômica alemã porque, depois da consolidação de seu império na Europa, a Alemanha seguramente trataria de eliminar os EUA do mercado latinoamericano. Posto que o México, um país débil, não poderia recusar os desejos dos EUA, prosseguiu Hay, teria que cooperar na defesa do continente. Se o México se opusesse a tal cooperação, os EUA igualmente tomariam o que necessitavam. Por último, disse que não se podia trair a pátria: aquela cooperação devia ser digna, patriótica e decorosa.

Por outro lado, contudo, o Ministro Suárez não queria se concentrar demasiadamente nos EUA. Em sua opinião, o México deveria deixar abertas as opções, por exemplo, a possibilidade de seguir comercializando com a Europa. Sobretudo haveria que tratar, tal como havia assinalado Tapia, de solucionar os problemas existentes com os americanos e de tirar vantagens de uma cooperação com os EUA:

"Se os Estados Unidos exigem do México uma colaboração em matéria militar, política, internacional, e em matéria de defesa, tenhamos a habilidade suficiente para obter o maior número possível de vantagens para o México. A medida em que cooperemos com os Estados Unidos deve ser em troca de uma vantagem. Deve-se estabelecer a cooperação sobre a única base que existe, sobre a base da reciprocidade".
Ainda mais que o governo mexicano poderia negociar de uma maneira mais dilatada, enquanto os EUA ainda não houvessem entrado na guerra, a cooperação mexicano-americana foi-se intensificando mais adiante[49].

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Hitler sabia do Holocausto. "Todas as medidas contra os judeus devem ser discutidas diretamente com o Führer"

Em 6 de dezembro de 1939 Heinrich Himmler desejava discutir na chancelaria do Führer, sob o comando de Rudolf Hess, uma série de medidas contra os judeus.

O Chefe de Gabinete da Chancelaria é Martin Bormann, que está acostumado a trabalhar diretamente com Hitler e é especialista em lhe livrar de miudezas. Um ano e meio mais tarde, quando Hess decidiu voar até a Escócia, Bormann se verá recompensado con a chefia suprema da Chancelaria.

Mas regressemos a dezembro de 1939. A segunda guerra mundial tinha três meses de andamento. Está se tentando chegar a algum tipo de acordo com o Reino Unido e a França, agora que a Polônia não mais existe. Há que renegociar com a URSS as linhas de influência. E a ocupação da Polônia. As medidas as quais Himmler deseja fazer, em concreto, são sobre o que fazer com as linhas de telefone que ainda são propiedade de judeus, e se se deve adotar algum tipo de insígnia para os identificar.

A resposta de Bormann está conservada no Bundesarchiv Berlin NS 18alt/842: “o Reichshführer SS discutirá todas as medidas contra os judeus diretamente com o Führer”.

Fonte do livro: Peter Longerich: The Unwritten Order. Hitler’s Role in the Final Solution. Tempus, Charleston 2001. pg. 45-46.
Fonte: blog antirrevisionismo(Espanha)
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2011/07/09/todas-las-medidas-contra-los-judios-han-de-ser-discutidas-directamente-con-el-fuhrer/
Tradução: Roberto Lucena

Bispo Williamson é condenado a pagar multa por negar o Holocausto

O bispo Richard Williamson, que negou
o Holocausto em uma entrevista em 2008
Após negar o assassinato de 6 milhões de judeus pelos nazistas e a existência de câmaras de gás, numa entrevista em 2008, o bispo britânico Richard Williamson foi condenado à revelia na Alemanha a pagar 6.500 euros.

Em um processo de apelação, o Tribunal Regional de Regensburg, no sul da Alemanha, condenou à revelia nesta segunda-feira (11/07) o bispo católico britânico Richard Williamson por sedição (incitação à revolta). Após ter negado o Holocausto, a multa que o religioso de 71 anos de idade precisará pagar foi reduzida de 10 mil para 6.500 euros. A defesa de Williamson declarou sua inocência e disse que irá recorrer da sentença.

Em uma entrevista para a televisão sueca, em 2008, o bispo, que é membro da ultra-conservadora Irmandade Pio 10, negou os assassinatos em massa de seis milhões de judeus pelos nazistas, assim como a existência de câmaras de gás em campos de concentração. Por isso, já havia sido condenado em abril de 2010 a pagar uma multa de 100 parcelas diárias de 100 euros, ou seja, 10 mil euros.

Tanto o promotor quanto Williamson recorreram da decisão e, em um novo processo, a acusação havia exigido 12 mil euros de multa (120 parcelas de 100 euros). A juíza Birgit Eisvogel justificou que a atual decisão confirma o veredicto de culpado, declarado em primeira instância, mas por conta da situação financeira do acusado, a multa foi reduzida para 100 parcelas diárias de 65 euros.

Defesa

A defesa pediu a absolvição do bispo, alegando que ele não havia consentido a transmissão da entrevista na Alemanha. Segundo Eisvogel, o bispo deveria saber que a entrevista seria publicada na internet e que, por isso, também estaria disponível na Alemanha. "Sabemos que o acusado é blogueiro", disse, indicando que o religioso estaria familiarizado com a internet.

Além disso, a juíza afirma ser impossível acreditar que o religioso pensava que a televisão sueca não disponibilizaria as declarações polêmicas online. Williamson foi surpreendido pelo entrevistador com a pergunta sobre o Holocausto, mas não hesitou em falar sobre o tema durante seis minutos. "O réu sabia das possíveis consequências", afirma Eisvogel.

Igreja em crise

O caso instaurou uma crise na Igreja Católica, pois justamente na época em que a entrevista do canal sueco com a negação do Holocausto foi transmitida, o Vaticano havia acabado de anular a excomunhão de Williamson e de três outros bispos da irmandade. O Papa, no entanto, não teria tomado conhecimento da entrevista.

Desde o escândalo, Williamson não ocupa mais nenhuma função na irmandade. Ele vive em Londres e dispõe, de acordo com seus advogados, de uma mesada no valor de 300 a 400 euros.

LF/dpa/dapd/afp
Revisão: Carlos Albuquerque

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15226844,00.html

Ler mais:
Confirmada condenação de bispo por negação do Holocausto (DN, Portugal)
Justiça alemã condena bispo que negou o Holocausto (R7, Brasil)
Bispo condenado a multa de 6500 euros por negar o Holocausto (Público, Portugal)

sábado, 9 de julho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 3

A perspectiva dos mexicanos ante o nacional-socialismo

México foi talvez o país latinoamericano onde o repúdio a Hitler e ao Terceiro Reich se manifestou mais evidentemente. Uma grande parte do povo participou politicamente e tinha ideias social-revolucionárias. Tanto associações comunistas e judias - grupos como a Liga contra o Fachismo [sic] e a Guerra Imperialista ou os Estudantes Socialistas, para os quais a luta contra o fascismo e o nacional-socialismo era de máxima importância - assim como Vicente Lombardo Toledano, chefe da CTM (Confederação de Trabalhadores do México) desde princípios de 1936, denunciaram publicamente a agressiva política externa do Reich e as perseguições de judeus e adversários políticos, pintaram slogans como "Morra Hitler" nas paredes da Representação alemã, queimaram bandeiras com suástica e exigiram o boicote de comerciantes e produtos alemães. Lombardo Toledano e altos representantes do partido oficialista, o Partido da Revolução Mexicana, apoiaram além disso a Liga Pró-Cultura Alemã no México, uma organização de imigrantes alemães judeus e comunistas que lutava abertamente contra o nacional-socialismo mediante cartazes e conferências[25]. Também os diários mais importantes do país rechaçaram a Alemanha nacional-socialista. Assim, o 'El Nacional', portavoz do governo, publicou uma caricatura de Hitler, o que levou à proscrição do jornal na Alemanha[26].

Em términos de política exterior, o conflito aberto entre México e o Terceiro Reich se iniciou com a Guerra Civil na Espanha. O México condenou a intervenção alemã do lado dos insurgentes sob o General Franco e, por sua parte, apoiou ao governo legítimo diplomaticamente e com armas27. Em março de 1938, o México protestou contra a anexação da Áustria e, um ano mais tarde, negou-se a reconhecer a ocupação forçada da Tchecoslováquia[28]. No ano seguinte, depois da subida ao poder do nacional-socialismo, registraram-se alguns ataques contra o grupo regional e à Juventude Hitlerista. Luis N. Morones, chefe da CROM (Confederação Regional Operária Mexicana), declarou a um oficial da Representação alemã que os desfiles da Juventude Hitlerista, vestida com o uniforme nazi, e a bandeira com a suástica em casas alemãs eram uma provocação para o trabalhador mexicano. Acrescentou que não era tolerável que se fizesse propaganda nazi no México e, por último, advertiu que se isto não mudasse, os mexicanos não se se absteriam de levar a cabo ações antialemãs[29].

A extendida atitude antinacional-socialista e esta advertência conduziram a que os grupos nacional-socialistas decidissem se preservar[30]. Na sequência, o Landesgruppe se cuidou tanto de aparecer em público, que se esfumó da percepção popular, e sua existência permaneceu oculta também aos olhos dos círculos bem informados. Por exemplo, pelo motivo da nomeação de Bohle como Chefe da AO no Ministério de Assuntos Exteriores, 'El Nacional' escreveu um artigo fundamental sobre a AO, sem conhecimento algum de que logo provavelmente surgiria no México um desses misteriosos grupos[31]. Em junho de 1939 o ministro alemã resumiu as reações do público mexicano da seguinte maneira: "Prescindindo de ataques isolados da imprensa de extrema-esquerda, a organização do partido não foi exposta a impugnações por parte dos mexicanos"[32].

O governo mexicano tinha informação sobre o NSDAP no México desde início de 1936. O assassinato do líder do Landesgruppe na Suíça, que provocou a proibição do partido pelas autoridades, foi motivo de um detalhado relatório do ministro mexicano na Alemanha sobre os acontecimentos. Em sua opinião, sobretudo os países com colônias alemãs deviam tomar em conta esses fatos, e sugeria uma investigação do partido e daqueles alemães que, sendo mexicanos por naturalização, eram ao mesmo tempo membros do partido nacional-socialista[33]. O destinatário, a Secretaria de Relações Exteriores (SRE), contudo, não falou o motivo para a preocupação. O subsecretário escrveu: "Enquanto a sugestão de que Ud. hace no sentido de que vigiem as atividades do Partido Nacional-Socialista no México [...], esta Secretaria não estima que haja nada o que temer. Enquanto a Suíça é formada, entre outras raças, por alemães que somam cerca de 2.900.000, ou seja, 70% de sua população, o México tem somente uma pequeníssima colônia alemã que chega a apenas 6.000 (entre homens, mulheres e crianças), os quais representam uma fração infinitesimal de nossa população total"[34].

Um ano mais tarde a SRE se mostrou mais interessada. Pelo motivo da nomeação de Bohle ao cargo de Secretário do Ministério de Assuntos Exteriores, a Representação enviou um relatório detalhado e extenso sobre a organização e as tarefas da AO. Era dever dos partidários no exterior, escriveu o representante diplomático, converter ao nacional-socialismo - a todos os cidadãos alemães que viviam fora da Alemanha. Os membros do partido deviam assegurar o ensino nacional-socialista das crianças e impedir que se fizessem cidadãos dos países em que haviam nascido ou viviam. Também era meta do NSDAP assegurar que aqueles que, por motivos econômicos ou por conveniência, deviam aceitar a nacionalidade de um país estrangeiro, vivessem segundo os princípios nacional-socialistas e não se esquecessem de ser alemães[35]. Chegando a esse ponto, a SRE exigiu mais informação sobre a AO[36].

Daqui em diante, a Representação mexicana na Alemanha informou regularmente sobre a AO: por exemplo, acerca dos problemas bilaterais que surgiram entre o Terceiro Reich e outros países pela existência da AO, e também sobre congressos e a propaganda inglesa contra a AO. Uma vez ou outra se informou sobre a propaganda nazi entre os alemães e se questionou a lealdade desses ao México. Enquanto ao grupo regional, a Representação só escreveu que era dirigida por Wilhelm Wirtz, um político conhecido, de personalidade carismática e íntimo amigo de Bohle[37]. Em uma carta de setembro de 1937, mencionou-se pela primeira vez eventuais atividades de espionagem da AO e dos alemães no exterior. Foi dito que a imprensa estrangeira havia decrito nos últimos anos os métodos com os quais o NSDAP recrutava seus membros e revelou que este vigiava críticos alemães do regime nacional-socialista e espiava entre os círculos antinazis no exterior[38].

De todas formas, estes relatórios surtiram efeito sobre a SRE, e despertaram e aumentaram as suspeitas a respeito dos alemães. O subsecretário Ramón Beteta, por exemplo, estava convencido de que as organizações que se ocupavam dos alemães no exterior eram instrumentos de espionagem e de ação política do Reich[39]. A petição de Beteta, a Secretaria de Gobernación, a partir desse momento, começou a vigiar os alemães no México[40]. Obviamente, nem as conclusões de Beteta nem as investigações do ministério tiveram consequências para os alemães e o NSDAP. A partir daí que Rüdt von Collenberg e Wilhelm Wirtz constataram por unanimidade, em junho de 1939, que a existência do partido e de outras instituições da comunidade não corriam perigo[41].

Esta opinião do ministro alemã também se baseava na correspondência com a SRE do ano 1937, motivada, entre outras coisas, pelo já mencionado artigo do 'El Nacional', em que o diário analizava de modo fundamental o problema de um partido que atuava fora de sua pátria e reclamava do uso de poder sobre os próprios cidadãos no exterior, concluindo que não eram aceitáveis esses grupos porque podiam prejudicar os países em que eram desenvolvidas suas atividades[42]. Em algumas cartas enviadas à SRE, Rüdt contradizia essas declarações, aduzindo que, segundo as leis da AO, os membros do partido no exterior tinham a obrigação de evitar qualquer envolvimento na política dos países receptores[43].

A resposta do Secretário de Relações Exteriores, Eduardo Hay, revelava o desinteresse do governo mexicano de tematizar a AO nas relações bilaterais, limitando-se a expressar satisfação de que a AP não se envolvia na política de outros países. Estas foram as únicas palavras do Secretário em relação à AO. Assim pois, a AO não representou nenhum papel importante, nem nos debates da política interna nem nas relações com o Terceiro Reich. Apesar da atenção despertada sobre as atividades do partido e os alemães no país, parece que o número de alemães era demasiado pequeno para constituir um perigo para o México, ainda que estivessem influenciados pela ideologia nacional-socialista.

Nisso, o México se distinguiu fundamentalmente de outros países latinoamericanos. Na Argentina e no Brasil se proscreveram os grupos regionais da AP, tanto que no Chile suspenderam o funcionamento de um grupo vinculado à Juventude Hitlerista e expulsaram um alto funcionário do NSDAP. Em todos esses países houve discussões na imprensa e nas câmaras de deputados sobre os partidos formados por estrangeiros. Alguns políticos atacaram a AO e suspeitaram de outras atividades subversivas e de traição. O que diferencia a experiência mexicana em relação aos outros países é que nestes a propaganda da AO entre os descendentes de alemães, os imigrantes e os cidadãos, e as tentativas de unificar as comunidades alemãs sob o controle do NSDAP, eram vistos como um perigo para a integridade nacional. No Brasil, as atividades dos nazis aumentaram a desconfiança tradicional ante os descendentes de alemães. O partido - repreendiam - impedia a integração deste grupo da população na nação brasileira. Na Argentina, pelo contrário, onde os alemães eram majoritariamente apreciados como bons cidadãos, temia-se que a propaganda nacional-socialista separasse esses da nação. Apesar de que no Chile viviam muito menos alemães que nos outros países, que contavam com uma comunidade alemã de centenas de milhares, existiam - como no Brasil - regiões nas quais predoninavam os alemães, o que também foi motivo crescente de suspeitas e de restrições. No México, contudo, não havia muitos alemães, nem tampouco concentrações destes em determinadas partes do país[44].

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Extermínio dos Diferentes

Pessoas com deficiência e doentes terminais eram alvo do 3º Reich

Os nazistas queriam "purificar" a raça ariana de genes ruins. Esses genes estariam nos judeus, ciganos, homossexuais - e nas pessoas com deficiências de qualquer origem. Os oficiais nazistas planejavam esvaziar os asilos de doentes mentais e pacientes "incuráveis", mas sabiam que isso pegaria mal com a opinião pública. A partir de 1º de setembro de 1939, a guerra deu a eles a desculpa para oficializar o programa - precisavam desses hospitais para os soldados feridos. O chamado Aktion T4 - Tiegartenstrasse, Nº4, era o endereço da sede - esterelizou e assassinou milhares de pessoas. Foi um dos raros casos em que os alemães, liderados pelas famílias de vítimas, se opuseram publicamente a uma diretriz nazista. O clamor se estendeu até a Igreja (que se omitia sobre os judeus). Conheça alguns dos opositores do T4:

Juiz denuncia eutanásia

Nenhum outro juiz alemão se manifestou contra a eutanásia em massa. Lothar Kreyssig já não era, sabidamente, um fã do Partido Nazista. Ao iniciar a carreira, em 1928, ele se recusou a entrar para a legenda. Por essa e outras manifestações de insubordinação, em 1937 foi punido com um cargo menor, o de juiz de casos de guarda de pacientes mentais em Brandenburgo. Em 1940, ao notar um número extraordinário de certidões de óbito desses pacientes, mandou uma carta de protesto ao ministro da Justiça, Franz Gürtner. Foi chamado à Suprema Corte, onde explicaram a ele que a sentença de morte para certas vítimas era a vontade de Hitler - e sua vontade era a "fonte da lei". Kreyssig deu de ombros. Proibiu qualquer transferência de pacientes sem sua autorização. Em 1942, iniciou um processo público acusando de assassinato o chefe do programa, Philipp Bouhler. Foi afastado do cargo no mesmo ano. Após a guerra, ajudou a fundar uma espécie de ONG: Aktion Sühnezeichen Friendensdienste (Ação de Reconciliação para a paz).

Arcebispo lidera movimento anti-T4

Clemens von Galen tornou-se arcebispo de Münster em 1933. No mesmo ano Hitler tomava o poder na Alemanha e fechava um acordo com a Igreja Católica - o acordo, assinado pelo Cardeal Eugenio Pacelli (que se tornaria o papa Pio XII em 1939), restringiu os poderes do clero, mas garantiu sua sobrevivência no país. Hitler tinha medo da influência da Igreja e se anunciava como católico. Aproveitando sua liberdade, nos sermões o arcebispo ridicularizava a doutrina nazista (como a ordem, revogada depois de muitas críticas, para remover os crucifixos das escolas). Mas o T4 o fez ficar sério. Em 1941, ele começou a pregar abertamente contra o programa e, logo, contra tudo o que o nazismo representava. Esses discursos inflamados passaram a ser reimpressos clandestinamente na Alemanha e repassados entre famílias católicas e até mesmo aos soldados no front - a Inglaterra chegou a "bombardear" soldados alemães com as transcrições em folhetos. Os sermões geraram protestos públicos contra o programa. O líder da SS em Münster solicitou a execução de Von Galen, mas, temendo a revolta popular, a cúpula do III Reich teve de engolir a resistência do religioso até o fim da guerra. Clemens von Galen foi eleito cardeal no Natal de 1945 e beatificado por João Paulo II em 2004.

Fonte: Revista Superinteressante - Edição 292-A - JUN2011 - Págs 36-37

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cinco Skinheads são presos em flagrante agredindo negros em SP

A Polícia Civil de São Paulo prendeu na madrugada deste domingo cinco jovens integrantes de um grupo skinhead. Eles foram presos em flagrante quando agrediam quatro pessoas na Rua Vergueiro, Aclimação, região central de São Paulo.

Foram detidos Welker de Oliveira Guerreiro, 19 anos; Guilheme Witiuk Ferreira de Carvalho, 21; Pedro Toledo de Souza, 19; Julio Ramon de Lima, 21 e Kauê Baldon Barreto, 18. Com o grupo foram encontradas facas, uma caneta com ponta de ferro e até um machado. Um dos detidos usava uma camiseta com os dizeres White Pride (Orgulho Branco, em inglês).

As vítimas dizem que estavam sendo agredidas quando viram a aproximação de uma viatura da Polícia Civil que passava pela região. Os policiais perceberam a movimentação e interromperam a agressão.

Em depoimento à polícia, duas das vítimas, um orientador socioeducativo e um estudante, dizem ter sido agredidas porquem eram negros. Elas prestaram queixa por racismo. Os detidos irão responder ainda por tentativa de homicídio e formação de quadrilha.

O movimento skinhead surgiu na Inglaterra no final da década de 60. Inicialmente, não possuia conotação racista ou sequer política. O ritmo negro e jamaicano do ska era uma das trilhas sonoras dos skinheads ingleses. No final da década de 70, porém, integrantes do movimento aproximaram-se de políticos da extrema-direita inglesa e até de neonazistas. No Brasil, os primeiro skinheads surgiram no início da década de 80.

Da Agência O Globo


NT: Se investigarem irão encontrar livros "revisionistas" com estes cinco...


terça-feira, 28 de junho de 2011

Massacre de judeus em 1941 assinalado na cidade romena de Iasi

Centenas de pessoas assinalaram hoje o massacre de Iasi, uma cidade do leste da Romênia onde 13.000 a 15.000 judeus foram mortos em junho de 1941, pelo regime pró-nazi romeno.

"Estamos junto à sinagoga de Iasi, a mais antiga da Romênia. O obelisco que inauguramos hoje é em memória dos milhares de judeus que foram massacrados aqui no fim do mês de junho de 1941", declarou o presidente da comunidade judaica local, Abraham Ghiltan, segundo a agência France-Press.

O monumento, frisou, "deve lembrar a todos onde é que pode levar o ódio e a intolerância", independentemente da "origem, etnia ou religião".

Assistiram à cerimónia diversos sobreviventes, israelitas descendentes de judeus mortos durante o massacre, dirigentes do Museu do Holocausto de Washington e responsáveis romenos, bem como o embaixador dos Estados Unidos em Bucareste, Mark Gitenstein.

Na segunda-feira, os participantes na homenagem deslocaram-se aos cemitérios próximos de Targu Frumos e de Podu Iloaiei, onde estão enterrados em valas comuns os judeus que morreram nos "comboios da morte" que saíram de Iasi após a ofensiva das forças de segurança romenas.

O diretor do Instituto Elie Wiesel sobre o Holocausto na Roménia, Alexandru Florian, salientou que nas valas comuns estão enterradas "vítimas sem nome", que "durante décadas estiveram sem identidade", porque no país apenas se falava "a meia voz sobre os acontecimentos trágicos de Iasi".

O massacre de Iasi, a segunda maior cidade romena depois da capital Bucareste, foi levado a cabo pelas forças de segurança romenas, com o apoio de populares, após rumores de que os judeus locais apoiavam as forças soviéticas. Entre 1939 e 1944, a Roménia foi aliada do regime nazi.

A perseguição foi lançada na noite de 28 para 29 de junho de 1941, tendo sido inicialmente mortos mais de 8.000 judeus. Outros 5.000 foram presos e embarcados posteriormente em comboios, mas apenas pouco mais de um milhar chegaram ao destino, tendo os restantes sucumbido à fome e à sede dentro das composições sobrelotadas.

Segundo um relatório de uma comissão de historiadores presidida pelo Nobel da Paz Elie Wiesel, entre 280.000 e 380.000 judeus romenos e ucranianos foram mortos durante o holocausto na Romênia e nos territórios então sob o controlo do país.

Fonte: Lusa/SIC Notícias(Portugal)
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/06/28/massacre-de-judeus-em-1941-assinalado-na-cidade-romena-de-iasi-

Ver mais:
Romênia enterra judeus encontrados em vala comum do Holocausto
Holocausto na Romênia
Holocausto por Robert Jan Van Pelt e Deborah Dwork - Parte 1 - Preparativos

terça-feira, 21 de junho de 2011

Misterioso álbum com fotografias inéditas de Hitler é encontrado em Nova York

Um misterioso álbum que contém dezenas de fotografias inéditas da Segunda Guerra Mundial, nas quais aparecem desde Adolf Hitler a prisioneiros de um campo de concentração na Bielorrúsia, foi descoberto em Nova York.
O jornal "The New York Times" teve acesso ao livro fotográfico, do qual se desconhece tanto o autor das imagens como seu proprietário - sabe-se apenas que este último é um "homem da indústria da moda que trabalha em Manhattan" e que preferiu ficar no anonimato, segundo matéria publicada nesta terça-feira pelo jornal nova-iorquino.

As fotos em preto e branco não apresentam nenhuma referência de quando ou onde foram tiradas, o que levou o jornal a pedir a seus leitores que ajudem a resolver o mistério de quem estava por trás da câmera.

A particularidade deste álbum não é apenas o fato de ter permanecido em segredo durante vários anos, mas por reunir tanto soldados nazistas como as vítimas do extermínio em massa, todas elas registradas de perto, o que demonstra que o fotógrafo tinha acesso tanto às tropas de Hitler como aos campos de concentração.

Em uma das páginas do álbum pode ser visto um prisioneiro do que parece ser um campo em Minsk (Bielorrúsia) por volta de 1941, muito magro e coberto por uma manta enegrecida, ao lado de outra imagem na qual aparece um grupo de prisioneiros com a Estrela de Davi pintada sobre a roupa.

Adolf Hitler aparece em quatro páginas do livro, rodeado de militares, esperando em uma estação de trem a chegada do então regente da Hungria, Miklós Horthy, segundo as averiguações do "The New York Times".

O autor das imagens também documentou o trajeto pelo Leste Europeu de um ônibus do Partido Nazista, um grupo de enfermeiras saudando Hitler em uma estação de trem, uma família com seis filhos imersa na pobreza e as ruínas de uma cidade destruída após bombardeios.

"Este álbum se diferença da maioria dos demais pela qualidade de suas fotografias", disse ao jornal a diretora da coleção de fotografia do Museu do Holocausto dos Estados Unidos, Judith Cohen.

A especialista garantiu também que o autor das imagens "era claramente um profissional e sabia o que fazia", por isso "provavelmente" integrava o comitê de propaganda do Partido Nazista.

"Eu sabia que tinha um pedaço de História", reconheceu o proprietário do álbum, que agora quer vendê-lo para sair de uma situação econômica desfavorável.

"Estava muito preocupado que caísse nas mãos erradas. Mas agora minha necessidade é grande demais", disse o misterioso proprietário ao jornal.

Fonte: EFE
http://noticias.terra.com.br/noticias/0,,OI5198524-EI188,00-Misterioso+album+com+fotografias+ineditas+de+Hitler+e+encontrado+em+Nova+York.html

domingo, 19 de junho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 2

A tarefa mais importante dos grupos regionais da AO era a Gleichschaltung (unificação forçada) dos alemães no exterior[15], quer dizer, assumir a direção das organizações da comunidade alemã que tinham reputação e dinheiro, e que podiam servir para propagar as ideias nacional-socialistas. Através do controle de escolas, jornais e asssociações, a AO tentava impedir a assimilação dos alemães à cultura dos países que os recebia e instrumentalizá-los para a difusão da ideologia nacional-socialista. No México, a AO não conseguiu seu objetivo sem problemas, pois surgiu um conflito de gerações, de classes e de poder. Os representantes estabelecidos da comunidade alemã, empresários exitosos, de classe alta, mais ou menos duas décadas mais velhos que os nazis, criticavam a juventude dos militantes, seu baixo status social e os poucos anos de residência no país, tudo com o qual, nos seus modos de ver, descalificava-lhes de assumir a liderança da comunidade. Ainda que acertados, estes argumentos eram mais um bom pretexto para não se subordinar às reivindicações do partido e não ceder seus postos em organizações que davam a essa elite um alto prestígio social e vantagens econômicas.

Assim, uma primeira tentativa do Gleichschaltung em 1933 fracassou. O partido pretendia tomar a Verband Deutscher Reichsangehdriger (Associação de Cidadãos do Reich) como base institucional para transformá-la numa organização que integraria toda a comunidade alemã, ou seja, também os mexicanos de origem alemã. Só a intervenção do representante diplomático, o ministro Rüdt v. Collenberg, ajudou o Landesgruppe a ter sucesso em seu objetivo. Rüdt esclareceu que um estreito vínculo com a pátria significava também a cooperação da AO. Com essa frase RÜdt deixou al descubierto un ponto central da ideologia nacional-socialista: ser alemão somente era possível como nazi. Apresentando a AO como representante oficial do Reich, o ministro implicitamente advertiu contra as consequências de insubordinação ao partido: a privação dos recursos do Reich para as associações, a interrupção da intervenção da Representação nos contatos com oficiais mexicanos, o boicote econômico e o isolamento social. Em janeiro de 1935, finalmente, fundou-se a Comunidade do Povo Alemão no México (Deutsche Volksgemeinschaft, DVM). Sob o controle de Wilhelm Wirtz e Artur Dietrich, que assumiram funções centrais, a DVM se converteu na maior organização alemã do México, com filiais em todo o país. A alusão de RÜdt venceu a resistência da comunidade alemã, de modo que muitos, e também alguns dos velhos adversários, uniram-se à DVM. Outros, sobretudo a direção anterior, abandonaram a DVM, protestando assim contra aa subversión nazista. Em 1936, a DVM já tinha 1665 membros, 798 dos quais viviam no interior. A alta porcentagem de membros no interior explica a fundação de filiais em povos onde até então não existiam associações alemãs: por exemplo em Chihuahua, onde 26 dos 30 alemães se tornaram membros. A esfera de ação mais importante da DVM, contudo, fez-se sentir na capital, onde, por exemplo, operava um serviço para alemães sem empleo ou necessitados, e se impartían cursos de alemão para mexicanos. Sua sede social era o lugar central para as festividades da comunidade alemã[16].

Além da DVM, outras associações estavam sob o controle do partido nazi. O respeitado Colégio Alemão na capital foi dirigido por um membro a partir de 1933. Friedrich W. Schróter descartou a orientação elitista predominante até esse momento e abriu a escola a crianças alemãs de todas as classes sociais. Com ele, propagaram-se ideias nacional-socialistas na enseñanza, e os judeus tiveram que abandonar a escola. Schróter teve muito êxito com esse programa dentro da comunidade alemã: o número de alunos duplicou entre 1936 e 1940, de 620 a 1259[17].

Outras instituições sob o controle do partido, ou com orientação nazista, eram a Juventude Hitlerista, com 245 membros, e a Associação de Professores Alemães Nacional-socialistas, que reuniam a 20 pessoas[18]. Estas cifras mostram que para uma valorização da AO no México não basta contar o número de militantes. Somando só os membros das associações aqui mencionadas, contam-se muito mais de 2000 pessoas. Ainda que nem todos seus membros tenham sido nazis empedernidos e alguns talvez tenham ingressado por oportunismo ou pela pressão da adaptação, isso indica que uma parte considerável da comunidade alemã no México, sobretudo na capital, foi exposta à propaganda e aos rituais do nacional-socialismo.

Um simples membro do NSDAP no México se movia no reduzido microcosmos da comunidade alemã, e seu contato com o povo mexicano se limitava ao imprescindível; as relações com os representantes do governo se reservavam para a Representação Alemã. A propagação de ideias nacional-socialistas no México, frequentemente, era tarefa de Artur Dietrich. Este, por exemplo, transmitiu material sobre judeus e sobre o comunismo à Ação Revolucionária Mexicanista, aos fascistas mexicanos, e convidou seu líder, Nicolás Rodríguez Carrasco, a intensificar a propaganda anticomunista e antissemita. Esta era a única ajda de que dispunha a ARM. Dietrich também aconselhou Rodríguez Carrasco a nomear um representante pessoal ante o Reich. Contudo, o governo alemão não prestou atenção ao representante durante uma visita que este efetuou à Alemanha, porque temia problemas com o governo mexicano, que nesse momento já havia proscrito a ARM.

Dietrich cultivou o contato com os fascistas sem intenção de lhes ajudar nem a organização do partido e nem a tomada do poder. Mas Más bien, a ARM era uma de tantos possíveis multiplicadores nacional-socialistas. Também jornais, como a 'La Prensa', receberam propaganda alemã. Dietrich inclusive fundou um diário - La Noticia -, no qual, contudo, só foi publicado por pouco tempo[19].

Uma olhada em outros países confirmará esta interpretação das relações entre nacional-socialistas alemães e fascistas. Somente no sul do Brasil existiram contatos cotidianos entre simples partidários do NSDAP e os fascistas brasileiros, a Ação Integralista Brasileira, devido ao fato de que ali descendentes de alemães, impressionados por Hitler haviam fundado as primeiras células fascistas, ou fascistas e nacional-socialistas, pertenciam aos mesmos grupos e tinham os mesmos inimigos: a elite política e econômica. Normalmente, contudo, os membros do partido solían ser de um nível alto ou médio, ou a quem, além de seu cargo dentro do partido, desempenharam uma função para o Ministério de Propaganda de Goebbels ou tuveram contato com os fascistas latinoamericanos[20]. Assim, seu interesse nos fascistas não era decisiva para a qualidade do membro da AO, senão a função local que desempenhavam para Goebbels.

Tampouco em outros países os representantes da AO/Goebbels apoiaram revoluções ou golpes de estado dos fascistas vernáculos. Ao contrário, empenhados em impedir a assimilação dos alemães, a AO contrastou com a política nacionalista dos fascistas que, por sua parte, queriam integrar os alemães na nação[21]. Por exemplo, quando o líder do Movimento Nacional-Socialista do Chile descobriu que membros de origem alemã rechaçavam a mistura de raças e exigiam aos alemães conservar seu sangue puro, expulsou-lhes do partido e publicamente criticou esta atitude que - segundo disse - desintegrava o país[22]. No Brasil, o fato de que muitos alemães pertenciam à Ação Integralista Brasileira não impediu de seus líderes atacar a resistência dos alemães em se assimilar[23]. Para a AO, frequentemente, um contato demasiado estreito com estes grupos, que no geral lutavam contra seus respectivos governos, podia pôr em perigo sua existência, fato que era muito presente aos líderes da AO na Alemanha[24].

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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Observação: a princípio, o texto seria dividido em apenas duas partes, mas sendo muito extenso(poucas pessoas leem textos muito grandes) poderá ficar em quatro partes, podendo(ou não)futuramente ser fundido em apenas duas(como dito de início).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1

O presente artigo se propõe a oferecer, baseando-se em documentação diplomática alemã inédita, uma análise histórica da função que cumpriu o Partido Nacional-Socialista alemão (NSDAP) no México, através de sua Organização para o Extrangeiro (AO), de 1934 até 1941. Abordaram-se algumas questões pouco estudadas, tais como em que medida o NSDAP teve êxito em conquistar ideologicamente as instituições culturais e sociais da comunidade alemã no México e a alinhá-las com o regime nazi do Terceiro Reich, e qual foi seu verdadeiro peso político em termos de afiliados e influência em todo o país. O trabalho também se propõe a indagar a verdadeira dimensão do perigo nazi no México e a estratégia do NSDAP no marco das conflitivas relações diplomáticas do México com a Alemanha nazi durante a presidência de Lázaro Cárdenas, do momento que eclodiu a Guerra Civil espanhola. O autor examina as medidas anti-nazis adotadas pelo governo mexicano antes do estouro da guerra mundial em relação a outros países latinoamericanos, e a atitude da Representação da Alemanha no México. Finalmente, apresenta-se uma descrição da atividade do NSDAP durante os primeiros anos da guerra e a reação do governo de Cárdenas, tomando em conta suas difíceis relações com os Estados Unidos até seu ingresso na conflagração mundial.

O partido

Em 1931 se fundou, sob o nome de Auslandsabteilung (Departamento para o Exterior), um departamento no Partido Alemão Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) que reunia e gerenciava os membros do partido, cidadãos alemães em geral, que viviam fora da Alemanha. Até março de 1933 foi dirigido pelo deputado do Reichstag Hans Nieland, e depois por Ernst Wilhelm Bohle, nascido na Inglaterra e filho de um professor de universidade. A partir de fevereiro de 1934, o Auslandsabteilung passa a se chamar Auslandsorganisation (A0/Organização para o Extranjero). Em abril de 1935, a AO deixou de ser um departamento do NSDAP e se converteu em uma Gau (comarca) independente. Bohle ascendeu à posição de Gauleiter (chefe da comarca). No começo de 1937, Bohle deu outro passo adiante em sua carreira quando Hitler lhe nomeou Chefe da AO no Ministério de Assuntos Exteriores, com o status de StaatssekretÜr[1]. Tanto na hierarquia do partido como na do Estado, Bohle chegou a ocupar um segundo lugar[2].

Até 1930, só uns poucos alemães que se falavam no exterior entraram no partido nazi: 486 em todo o mundo, sete deles no México[3]. Os primeiros grupos foram fundados no início de 1931. O sucesso do NSDAP nas eleições de setembro de 1930 animou a muitos cidadãos alemães em todo mundo a se reunirem com simpatizantes e trabalhar para o partido[4]. No México, por falta de um líder apropiado - segundo lamentava a AO -, ninguém tomou a iniciativa e por isso se demorou na fundação de um grupo do partido[5]. Os membros do partido viviam isolados e sem contato entre si. A pedido da AO, os sete membros na capital fundaram o Ortsgruppe (grupo local) do México, D.F. em 10 de novembro de 1931, mas só uns meses mais tarde, com a nomeação do hábio e vivaz Wilhelm Wirtz como Ortsgruppenleiter (líder do grupo local), começou-se a desenvolver o partido no México. Em 1 de setembro, o Ortsgruppe contava com 52 membros, e em janeiro de 1933 já eram 68. A ascensão ao poder do partido Nacional-Socialista na Alemanha acelerou seu crescimento. Não obstante, diferentemente da Alemanha, onde a partir de maio de 1933 se impediu o ingresso de novos membros ao NSDAP, no exterior era quase sempre possível se tornar membro. Em janeiro de 1934 havia no México 191 membros, e em julho de 1935 eram 264. Nos anos seguintes o partido cresceu mais devagar; em junho de 1937 o número de membros ascendeu a 310, um ano mais tarde a 325, e no ano seguinte somavam 366[6]. Isso significava que aproximadamente 5% dos 6875 cidadãos alemães no México[7] pertencia ao NSDAP - um resultado promédio na AO.

O partido já não estava limitado à capital, e se extendeu por todo o país. Fundaram-se novos grupos, por exemplo em Mazatlán (20 membros), Veracruz (16), Monterrey (16) e Puebla (5)8, mas uma alta porcentagem dos membros, cerca de 40%, vivia na capital. Por seus méritos ao haver promovido o grupo local da capital, Wilhelm Wirtz se converteu em líder do Landesgruppe (grupo regional) do NSDAP do México e ocupou esta posição até início de 1940. Estando na Alemanha, o começo da guerra tornou impossível seu regresso ao México. Wirtz foi um dos poucos líderes da AO que permaneceu em seu cargo sem ser deposto. Nisto, o grupo regional do México mostrou uma rara estabilidade na história da AO, já que, em muitos casos, os grupos no exterior não cumpriam os requisitos da AO. Enquanto que outros líderes não tinham autoridade sobre os militantes, ou simplesmente não eram capazes de dirigir uma organização nacional, Wirtz conseguiu a unidade do partido e impediu querelas internas[9].

Dado o número de membros, o Landesgruppe do México era um dos menores grupos regionais da AO. Por exemplo, em 1939 tinha 1569 membros na Argentina, 2990 no Brasil - sendo ambos dois dos maiores grupos da AO - e 921 no Chile. Por isso, o grupo no México não tinha a mesma importância para a AO que tinham outros grupos: enquanto que em 1932 um enviado da AO visitou os grupos na Argentina, Brasil e Chile para inspecioná-los e apoiá-los em sua propaganda, ninguém foi ao México[10]. Do mesmo modo, nos primeiros meses de 1933, quando a AO intensificou o contato com os grupos na América Latina, os partidários no México se sentiram abandonados[11]. Finalmente, quando políticos e periódicos atacaram os grandes grupos nazis na América Latina, a AO defendeu com afindo os direitos dos alemães no exterior, até provocar atritos diplomáticos inclusive no México, e por conta disso, cedeu ante as pressões[12].

Os fundadores dos partidos nazis no exterior eram, em geral, homens nascidos em fins de século ou poucos anos depois. Experimentaram sua socialização política nos últimos anos da época do Kaiser e, quando lhes foi possível, participaram da Primeira Guerra Mundial. Rechaçaram a República de Weimar e, em mais de uma ocasião, uniram-se a tropas irregulares (Freikorps) e/ou entraram em grupos ou partidos de extrema-direita. Emigraram nos anos vinte por motivos econômicos, porque não conseguiram se integrar na vida civil da Alemanha e consolidar sua existência ali. O país de destino dependia mais da casualidade que de projetos concretos. Poucos emigrantes conseguiram se estabelecer rapidamente. Costumavam mudar muitas vezes de trabalho, para finalmente encontrar, depois de vários anos, um posto que lhes permitisse viver sem problemas de subsistência[13]. Um exemplo deste tipo de pessoas é Artur Dietrich[14]. Nascido em 1900, por sua juventude não pode combater na guerra até finais de 1917. Em 1921 esteve numa tropa irregular na Silésia. Seu diploma em agricultura, obtido em 1922, possibilitou-lhe aceitar uma oferta para ir ao México em 1924. Depois de uma série de falidos intentos na administração fazendária, em 1930 começou a trabalhar como empregado de um comerciante de artigos dentais, emprego que desempenhou nos anos seguintes. Dietrich ingressou no partido em novembro de 1931, quando se fundou o grupo local na capital. Em 1933 foi nomeado líder do Ortsgruppe e, pouco mais tarde, aceitou substituir a Wirtz e - para o Ministério de Propaganda de Goebbels, que também tinha sob seu encargo a propaganda no exterior - foi conselheiro de imprensa da Representação da Alemanha no México.

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Americanos esterilizados em programa de eugenia lutam por indenização do Estado

Mais de 60 mil americanos foram esterilizados, muitos contra a vontade, como parte de um programa que terminou em 1979

Em 1968, nos Estados Unidos, foi violentada por um vizinho que ameaçou matá-la se ela relatasse o que havia acontecido a alguém. Criada em ambiente cercado de abusos, filha de pais violentos, na empobrecida cidadezinha de Winfall, na Carolina do Norte, a adolescente tinha 13 anos.

A americana Elaine Riddick, que foi submetida
a uma esterilização forçada aos 13 anos
Nove meses mais tarde, quando estava no hospital, dando à luz uma criança - fruto do crime de que tinha sido vítima - Riddick foi violentada pela segunda vez, agora pelo Estado - ela diz. Uma assistente social que a tinha declarado "mentalmente fraca" pediu ao Eugenics Board - órgão americano encarregado de implementar no país as ideologias da Eugenia - que esterilizasse a adolescente.

Hoje tida como uma falsa ciência, a Eugenia foi um dos pilares do Nazismo na Alemanha e chegou a ser considerada um ramo respeitável das Ciências Sociais. O termo quer dizer "bom nascimento" e foi criado em 1883 pelo britânico Francis Galton. A ideologia propunha o estudo de agentes capazes de melhorar ou suavizar as características raciais de gerações futuras, física ou mentalmente.

Mais de 60 mil americanos foram esterilizados, muitos contra a vontade, como parte de um programa que terminou em 1979. Seu objetivo, na prática, era impedir que pobres e deficientes mentais procriassem. Décadas mais tarde, um Estado americano - a Carolina do Norte - está considerando indenizar as vítimas.

Coerção

As autoridades da Carolina do Norte forçaram a avó de Riddick a escrever um "x" no formulário de autorização. Após fazer o parto do bebê por cesariana, os médicos esterilizaram Riddick. "Mataram meus filhos", diz. "Mataram os meus antes de chegarem", diz Riddick, que sofreu décadas de depressão e outras doenças, e hoje tem 57 anos.

Quase 40 anos após a última pessoa ter sido esterilizada como parte do programa de Eugenia da Carolina do Norte, o Estado criou um grupo de trabalho para tentar localizar as 2,9 mil vítimas que, estima-se, ainda estariam vivas.

O grupo espera reunir as histórias pessoais das vítimas e recomendar ao Estado que lhes ofereça alguma forma de indenização. Entretanto, com as finanças públicas sob pressão, não está claro se o Legislativo vai concordar.

"Sei que não posso corrigir (a injustiça) mas ao menos posso reconhecê-la", disse o deputado estadual Larry Womble. Ele espera "contar ao mundo que coisa horrenda o governo fez com jovens meninos e meninas". O movimento de esterilização nos Estados Unidos foi parte de um amplo esforço para "limpar" a população do país de características considerados indesejadas.

Entre as políticas adotadas estavam evitar a mistura de raças e o estabelecimento de cotas de imigração rigorosas para europeus do leste, judeus e italianos. Um total de 32 Estados americanos aprovaram leis permitindo que as autoridades esterilizassem pessoas consideradas não aptas a procriar, começando com a Indiana, em 1907.

O último programa terminou em 1979. As vítimas foram criminosos e jovens delinquentes, homossexuais, mulheres de tendências sexuais tidas como "anormais", pobres recebendo ajuda do Estado, epiléticos ou pessoas com problemas mentais. Em alguns Estados, as grandes vítimas do programa foram populações de origem africana e hispânica.

Puritanismo

Segundo historiadores, as esterilizações, aparentemente feitas com o "consentimento" de vítimas e familiares, aconteciam, na prática, à base de coerção. Camponeses analfabetos recebiam formulários para assinar, detentos eram advertidos de que não seriam libertados com seus corpos intactos, pais pobres eram ameaçados de perder assistência pública se não aprovassem a esterilização de filhas "depravadas".

Entre alguns dos pedidos de esterilização recebidos pelo Eugenics Board em outubro de 1950 estavam: uma jovem de 18 anos, separada do marido, que tinha "comportamento antissocial"; uma vítima de estupro, negra, com 25 anos, que apresentava "tendências sexuais anormais"; uma menina de 16 anos que tinha sido enviada para uma instituição do Estado por "delinquência sexual" e cuja tia havia dado "assinatura de consentimento"; uma mulher branca, casada, com três filhos, cuja família havia dependido do Estado por muitos anos e tinha um "histórico de casamentos com índios e negros".

Segundo o historiador e especialista em leis Paul Lombardo, da Georgia State University, a motivação por trás das medidas era a indignação com a ideia de que pessoas que haviam desrespeitado códigos de conduta sexual acabariam precisando de assistência pública.

"Nesse país, sempre fomos muito sensíveis a noções de histórias públicas de sexualidade inapropriada", disse. "É nossa formação puritana entrando em conflito com nosso senso de individualismo."

Os programas de esterilização também se baseavam em critérios raciais. Segundo Lombardo, o discurso era: "Quanto menos bebês negros tivermos, melhor. Vão todos acabar dependendo de ajuda do Estado."

Carolina do Norte

Embora os especialistas calculem que milhares em vários Estados americanos tenham sido esterilizados como parte do programa no século 20, a Carolina do Norte se destacou por sua eficiência em implementar as medidas.

A maioria dos Estados promoveu esterilizações de detentos e pacientes em prisões e outras instituições. Na Carolina do Norte, no entanto, assistentes sociais atuando na comunidade podiam fazer petições ao Estado para que indivíduos fossem incluídos no programa.

As autoridades de saúde calculam que dos 1.110 homens e 6.418 mulheres esterilizados na Carolina do Norte entre 1929 e 1974, cerca de 2,9 mil estejam vivos. Hoje, vários Estados examinaram seu passado e fizeram pedidos oficiais de desculpas. No caso da Carolina do Norte, isso ocorreu em 2003.

Mas alguns no Estado querem que o processo vá mais além. O deputado estadual Larry Womble continua a fazer campanha por indenização monetária para as vítimas. Com a crise nas finanças públicas, no entanto, há poucas chances de que legisladores aprovem um pedido de US$ 58 milhões em indenizações - US$ 20 mil para cada vítima.

Uma das pessoas envolvidas na campanha é Charmaine Cooper, diretora-executiva do grupo de trabalho Justice for Sterilization Victims Task Force, criado pelo Estado. "Minha esperança é de que o Estado reconheça que nunca haverá um bom momento para indenizações".

Entre as vítimas que deverão prestar depoimento está Riddick, que hoje vive em Atlanta. Para ela, a perspectiva de uma indenização de US$ 20 mil é um insulto. "Deus disse, sejam fecundos, multipliquem-se. Eles não pecaram apenas contra mim, pecaram contra Deus."

Fonte: BBC Brasil
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/bbc/americanos+esterilizados+em+programa+de+eugenia+lutam+por+indenizacao+do+estado/n1597029810792.html

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