sexta-feira, 29 de abril de 2011

O dia em que o Dínamo Kiev venceu o jogo errado

Falar de Holocausto e futebol obriga a contar a história do Jogo da Morte
Por Sérgio Pereira

Falar de Holocausto e futebol obriga a contar o infortúnio do Dínamo Kiev. No dia em que venceram o jogo errado. Aconteceu numa Ucrânia ocupada pelo regime nazi e deu até origem a um filme. Passou para a história como «The Death Match», ou «O jogo da morte». Acabou da pior forma, portanto.

Começa numa equipa do Dínamo Kiev que já na altura era da primeira divisão do futebol europeu. Com a invasão da Ucrânia, que era então uma província da União Soviética, pelas forças alemãs, a equipe foi desfeita e boa parte dos jogadores obrigados a trabalhar numa padaria de Kiev.

Conta-se que nos tempos livres jogavam futebol num descampado atrás da padaria. Foram então desafiados para formar uma equipe e entrar no campeonato regional. Fizeram-no com oito jogadores do Dínamo Kiev e três do Lokomotiv Kiev, numa equipe a que deram o nome de FC Start.

No início ficaram renitentes em participar no torneio, não queriam alinhar num torneio que era patrocinado pelas forças alemãs, como forma de repor a normalidade na cidade. Mas acabaram por entrar e venceram seis jogos seguidos. O que provocou naturalmente entusiasmo entre a população.

Assustado com as proporções que o FC Start estava a ter, e temeroso que isso influenciasse a auto-estima dos ucranianos, o ocupante nazi decidiu tomar medidas. Agendou um jogo para 6 de Agosto de 1942. Perdeu e pediu uma repetição: três dias depois, no Zenit Stadium, e perante uma multidão.

As instruções eram claras: os ucranianos do FC Start deviam fazer a saudação nazi aos alemães e deviam perder o jogo. Não fizeram uma coisa, nem outra. Venceram aliás por 5-3. Quase no fim, Klimenko entrou na área alemã, fintou o guarda-redes e com a baliza aberta chutou para o meio-campo.

O árbitro acabou de imediato o jogo, ainda antes dos noventa minutos. Os ucranianos foram presos e torturados pela Gestapo, Korotkykh morreu de imediato. Os restantes foram enviados para o campo de concentração de Syrets, onde boa parte deles acabou por ser exterminado. Alguns sobreviveram.

Em memória deles foi erigido um monumento à porta do estádio do Dínamo Kiev.



Fonte: MaisFutebol (Portugal)
http://www.maisfutebol.iol.pt/internacional/dinamo-kiev-death-match-jogo-da-morte-futebol-auschwitz-maisfutebol-futebol-noticias/1249820-1490.html

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Holocausto em Lida, 1942-43

O destino dos judeus da Lida foi documentado no julgamento de Werner e Windisch, cujos resultados são reproduzidos por Irene Newhouse aqui. Em 08 de abril de 1943, GebK Hanweg relatou:

Das Gebeit Lida hatte eine Zahl von 20000 juden. Sie wurden in einer einmaligen aktion von fuenf Tagen im Mai vorigen jahres bis auf einen Rest von 4500 erledigt.[Gerlach, Kalkulierte Morde, p.695n.).
Newhouse traduziu isto assim:

O distrito de Lida tinha uma população de 20.000 judeus. Eles deram cabo deles [erledigt], mas para 4.500, de uma só vez, em 5 dias da Aktion em maio do ano anterior.
Hanweg, então relata que 4.419 judeus permaneceram vivos até 08 de abril de 1943. O relatório Hanweg converge com a carta de Kube para Lohse (3428-PS), que afirma:
Na predominante área polonesa de Lida, 16.000 judeus foram liquidados, em Slonim, 8000 etc
A maioria dos 4.419 sobreviventes foram deportados para a região de Lublin, no outono de 1943. O destino daqueles enviados para Sobibor foi revelado pelo engenheiro alemão, Otto Weissbecker, citado em Schelvis, Sobibor, pág. 219, que testemunhou que "Uma mulher me disse que os judeus acabariam no jardim de rosas" e que:
Embora eu tivesse prometido trabalhadores qualificados, eu tinha 630 trabalhadores sem qualquer experiência, incluindo mulheres. As crianças ficaram para trás em Sobibor. O comandante me garantiu que elas teriam permissão para visitar seus parentes a cada seis semanas. Nos alojamentos de jantar havia um grande mapa do campo a partir do qual eu poderia dizer que os 1400 judeus que tinham sido trazidos para o Bache no dia anterior não poderia ter sido alojados nas barracas que lá estavam. Quando perguntei ao comandante onde abrigaria os judeus eu estava a deixar para trás, ele explicou que nenhum dos judeus 1.400 um dia antes ainda estavam lá. Fui obrigado a levar os judeus a meu cargo a Trawniki, e metade deles chegaram a ficar por lá. Eu levei o resto de volta para Lublin para um campo que estava um Haltstelle [grifo meu - JH].
Parte do testemunho de Weissbecker, como citado por Schelvis, aparece em "Sobibor" de Mattogno, Graf e Kues na página 310, mas o texto-chave que revela o destino dos judeus em Sobibor é omitido. Eles fizeram uma elipse na parte do texto de "O comandante assegurou-me" até "ele explicou que nenhum dos 1.400 judeus um dia antes ainda estavam lá", algo manipulado. Isso indica que a conta do MGK omitiu a passagem que incrimina seus heróis nazistas.

Em conclusão, as provas apresentadas acima convergem com outros fatos que já sabemos sobre a Rutênia Branca/Bielorrússia. A maioria dos judeus de Lida foram mortos em maio de 1942, conforme relatado não apenas por Hanweg mas também por Kube. Havia apenas 16 mil judeus restando em toda a Rutênia Branca em julho de 1943 (NO-1831), e milhares deles estavam em Lida trabalhando para a Wehrmacht. A deportação dos judeus para a área de Lublin está documentado não só por Weissbecker e outras testemunhas, mas também pelo KdS Erich Isselhorst, como mostrado aqui. A prova de Weissbecker nos diz que, embora alguns trabalhassem, judeus foram mandados para uma morte lenta em Trawniki e outros campos de trabalho, as crianças de seu transporte foram mortas na chegada em Sobibor, como era, obviamente, a intenção. As crianças não estavam sendo reassentadas no "Leste da Rússia" no outono de 1943; a morte pode ter sido o único destino dessas crianças. Isto se dá, obviamente, porque o MGK não pode confirmar a citação da parte incriminatória de seu testemunho.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/04/holocaust-in-lida-1942-43.html
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 24 de abril de 2011

Seis milhões

Em 1905, a população judaica do Império Russo (incluindo a Polônia) foi contada em cerca de 6,060,415. E esta estimativa acabou ainda sendo usada por fontes judaico-americanas em 1917 (AJC Yearbook, 1916-1917, p. 276). Portanto, e logicamente, essas organizações judaico-americanas seguindo na busca por ajuda para seus irmãos naquela região citariam uma estimativa de 6 milhões.

Entretanto, o Arquivo de Jornais do Google nos retorna esses resultados para o período de 1905-1939:

"Cinco milhões de judeus": 42
"Seis milhões de judeus": 44
"Três milhões de judeus": 57
"Milhões de judeus": 1,520

Além disso, histórias relatando a iminente fome, deportação ou aniquilação de 5 milhões (não seis) podem ser encontradas aqui, aqui, aqui e aqui. Histórias similares referindo-se a "três milhões de judeus" encontram-se aqui e aqui. O segundo artigo pede por ajuda "para que três milhões de judeus não desapareçam da face da Terra."

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/04/six-million.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: para quem não entendeu o contexto e o conteúdo do post, favor ler o complemento abaixo com os comentários do Jonathan Harrison (na parte de comentários do blog Holocaust Controversies), sobre o post, refutando mais uma(de tantas) baboseira "revi".

Complemento: comentários do Holocaust Controversies "Six Million"

Ben diz...
Então, você está dizendo que o número de vítimas do Holocausto é menor que seis milhões?

Jonathan Harrison diz...
Não, eu estou refutando a afirmação feita por negadores do Holocausto de que 6 milhões foi um número fabricado baseado em previsões pré-1939. Negacionistas dizem que 6 milhões era a estimativa dominante na cultura judaica antes do Holocausto. Este artigo mostra que, nem de longe, este era o caso em questão, o das citações da imprensa.

Ler mais:
A Teoria do "Holocausto" da Primeira Guerra Mundial (por Jamie McCarthy e Ken McVay)

sábado, 23 de abril de 2011

A discriminação: um enfoque psicoanalítico

A discriminação
Dr. José E. Milmaniene *

Um enfoque psicoanalítico

Todo grupo humano se consolida através da sublimação dos vínculos de amor que unem aos membros do grupo entre si. Os inevitáveis componentes fanáticos de ódio ou agressão necessitam se expressar e mover-se afora, até o alheio, até o Outro extranho. O grupo se afirma e a coesão como tal com tanto o ódio é projetado, preservando-se assim seus integrantes da emergência da hostilidade intragrupal. A análise concreta de cada situação particular nos revelará porque se escolhe tal ou qual grupo ou setor para a projeção das impulsos destrutivas.

Uma família húngara

Seguramente faz-se sobre o grupo que é mais funcional ao imaginário social em cada situação histórica dada. Parafraseando a Sartre diria que sem o grupo discriminado não existisse ele seria inventado, dada a necessidade de coesão do grupo majoritário discriminador. Nesse sentido Freud escreve com lucidez em "O mal-estar na cultura": não é fácil para os seres humanos, evidentemente, renunciar a satisfazer esta sua inclinação agressiva; não se sentem bem nessa renúncia. Não deve menospresar-se a vantagem que um círculo cultural menor oferece uma fulga ao impulso na hostilização a estranhos. Sempre é possível conectar no amor a uma multidão maior de seres humanos, contanto que outros fiquem de fora para manifestar-lhes a agressão".

Por outro lado, o que nos revela a psicoanálise é que este sadismo descontrolado fazia aos perseguidos contar, muitas vezes, com a cumplicidade inconsciente das mesmas vítimas. Masoquismo mediante, está conectado perversamente ao sadismo do opressor, ligando-se as vezes ao extremo da identificação com este, tal como se confirmam as freqüentes expressões de auto-ódio e falta de autenticidade dos marginalizados, ou ainda a colaboração com os algozes na perseguição ou discriminação dos outros grupos marginalizados.

Para a psicoanálise os homens buscam desesperadamente e a qualquer preço preencher sua falta-em-ser.

Para lograr este objetivo resulta de grande utilidade um Outro discriminado, que assinalado e conhecido em forma positiva e certa, permite ao perseguidor dar-se um pouco de ser. Pois, que seria de um racista, de um autoritário de um machista se deixassem de existir os judeus, os negros, os débeis, as mulheres? Acaso o que odeia não teme inconscientemente que o desaparecimento da vítima suma na indeterminação, ou na nadificação que o angustia? Necessita do humilhado não se preencher da covardia moral para preocupar-se com algo de ser. Quero dizer, o sadismo e o desprezo permitem uma subjetivação prepotente, emblemática onipotente.

O perseguidor pretende excluir assim de seu horizonte a finitude, a carência, a falta, os defeitos - ao que se supõe ser patrimônio exclusivo dos outros - intentando consolidar-se deste modo numa certeza arrogante e irredutível. Por isso recria, uma e outra vez a perseguição, no entanto esta não lhe resolve nada, dado que pelo contrário se abre mão constantemente o risco de reintrojetar o expulso, com o conseguinte temor do próprio aniquilamento.

Sua ordem é então: "sou forte, perfeito, eterno, invulnerável, no entanto o Outro é o débil, o enfermo, o defeituoso, o aleijado". Compêndio de todos seus defeitos projetados, os discriminados são assim a garantia de um modo de ser que se afirma no ódio, com uma absoluta incapacidade para assumir a própia castração.

Precisamente este é para Freud o problema teórico central, dado que o sujeito busca desesperadamente negar suas inconseqüências, excluir de si suas carências e suas imperfeições, para sustentar sobre si mesmo a ilusão de um ideal fálico, pleno e autosuficiente, sem fissuras que denuciem seus própios limites e debilidades. O que discrimina ataca ao Outro, que no entanto diferentemente evoca a temida castração.

Pretende assumir a plenitude fálica no marco de um universo homogêneo, onde nada se fala da diferença, do distinto, do heterogêneo, em cima da capacidade de ser outro respeitosamente reconhecida. Os Outros se fazem depositários do ódio que tanto encarnam a própria e intolerável castração projetada.

Entende-se: se é atribuído ao Outro - por projeção - a castração insuportável e se a ataca com a convicção delirante de aniquilar a própia parte castrada no Outro, para assumir assim finalmente o gozo pleno da perfeição do narcisismo. Elege-se inconscientemente as vítimas e no entanto estas evocam simbólica ou realmente, distintos aspectos ou modos da castração: podendo ser as mujeres, os judeus circuncisos, os aleijados, as minorias étnicas, etc...

Este ataque impiedoso a todos aqueles que relembram a diferença - que tanto marca da castração - configura o fundamento mesmo de um sujeito paranóico, que se sabe que é fraco e inseguro, e que tem terror de suas debilidades e suas carências, e as projeta e as ataca no Outro."

*Médico psiquiatra psicoanalista

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
http://www.fmh.org.ar/revista/1/ladiscri.htm
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cartas sobre o programa de eutanásia

Tradução de algumas cartas trocadas entre autoridades do III Reich e/ou representantes de setores da sociedade alemã sobre o extermínio sistemático de deficientes físicos e mentais.

Estas cartas foram publicadas nos volumes da compilação A History in Documents and EyeWitness Accounts, entre outras. As traduções do alemão para o inglês se encontram nesta página:
http://www.remember.org/witness/links.let.eut.html
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Cartas sobre a Eutanásia

Carta do chefe da instituição de deficientes mentais em Stetten para o Ministro da Justiça do Reich Dr. Frank, 06 de Setembro de 1940 [ToWC, Vol. I, p. 854]

Caro Ministro do Reich,

A medida sendo tomada no presente com os pacientes mentais de todos os tipos têm causado uma completa falta de confiança na justiça entre grandes grupos de pessoas. Sem o consentimento dos parentes ou guardiões, tais pacientes estão sendo transferidos para diferentes instituições. Após um período curto eles são notificados de que tal pessoa morreu de alguma doença... Se o estado realemente quer levar a cabo o extermínio destes ou pelo menos de alguns pacientes mentais, não deveria uma lei ser promulgada, que possa ser justificada perante a estas pessoas - uma lei que daria a todos a garantia de exame cuidadoso tanto para ser destinado a morrer ou entitulado a viver e também ser dados aos parentes uma chance de serem ouvidos, de modo similar, como previsto por lei para a prevenção de Progenia Hereditária Afetada?

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Carta do Dr. Wurm, da Igreja Provincial Evangélica de Wuerttemberg, para o Ministro do Interior do Reich, Dr. Frich, 05 de Setembro de 1940 [NCaA, Supp. A, p. 1223]

Caro Ministro do Reich,

Em 19 de Julho eu enviei uma carta sobre o extermínio sistemático de lunáticos, débeis mentais e pessoas epiléticas. Desde então esta prática alcançou proporções tremendas: Recentemente os internos de abrigos de idosos têm sido incluídos. A base para esta prática parece ser que em uma nação eficiente não deverá haver lugar para pessoas fracas ou frágeis. É evidente por muitos relatórios que estamos recebendo que o sentimento das pessoas esta sendo profundamente ferido pelas medidas ordenadas e que o sentimento de insegurança legal está se espalhando e é pesaroso sob o ponto de vista dos interesses nacionais e do estado.

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Carta do Bispo da Igreja Católica Romana de Limburg ao Ministro da Justiça do Reich, 13 de Agosto de 1941 [ToWC, Vol. I, p. 845]

Onibus chegam a Hadamar várias vêzes por semana com um grande número destas vítimas. Crianças das escolas das redondezas conhecem estes veículos e dizem: "Lá vai o vagão assassino". Após a chegada de tais veículos os cidadãos de Hadamar então vêem a fumaça vindo da chaminé e estão magoados pelos constantes pensamentos sobre as pobres vítimas especialmente quando, dependendo da direção do vento, eles têm que suportar o odor revoltante. A consequência dos princípios sendo praticados aqui é que as crianças, quando reunidas com outras, fazem comentários do tipo: "Você é obtuso, você será posto num forno em Hadamar". Pessoas que não querem se casar ou não tiveram a oportunidade dizem: "Casar? Sem problemas. Ponha crinaças em um mundo que então vai acabar dentro de uma chaminé". Pessoas idosas estão dizendo "de forma alguma eu vou para um hospital do estado! Depois dos débeis mentais, os idosos serão os próximos na fila como bocas inúteis a serem alimentadas".

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Extraído do diário do General Halder, Setembro a Novembro de 1941 [ToWC, Vol. X, p. 1195]

26 de Setembro de 1941:....h.

Instituições mentais no Grupo de Exércitos Norte. Russos consideram débeis mentais como seres sagrados. Matá-los é necessário, nada menos.
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Fonte: A History in Documents and EyeWitness Accounts
http://www.remember.org/witness/links.let.eut.html
Tradução: Antonio Freire

Ler também:
A decisão de Kurt Gerstein de entrar para as Waffen-SS (blog avidanofront)

domingo, 17 de abril de 2011

Minha familia, os Himmler

Heinrich Himmler, chefe da SS e da
Gestapo (à esquerda), com seu
irmão Gebhard.
Ser a sobrinha-neta de Heinrich Himmler, o chefe das SS e da Gestapo, marca. Até o ponto de ter que cavar os segredos familiares e os contar em um livro. Katrin Himmler o fez. Descobriu que sua família apoiou e se beneficiou da posição do monstro nazi.

Há sobrenomes que marcam. Mas poucos que emanam tanta obscuridade e terror como o de Heinrich Himmler, o sinistro acólito de Hitler chefe das SS e da Gestapo e organizador do assassinato dos judeus no III Reich, entre outros monstruosos crimes. Não há de ser pouca a carga de levar esse sobrenome, digo para mim enquanto compareço, não sem certa apreensão, ao encontro em Berlim com Katrin Himmler.

Pergunto-me que aspecto e caráter terá a sobrinha-neta do reichsführer das SS. Katrin Himmler (1967) é neta de Ernst Himmler, Ernstie, o "pequeno", o irmão caçula de Heinrich. Tinham outro irmão, o mais velho, Gebhard. Eram muito unidos fraternalmente, mas também nas SS. Sobre os três escreveu Katrin Himmler, a partir de documentação inédita, oficial e privada, um livro apaixonante e revelador, Os irmãos Himmler, biografia de uma família alemã, que acaba de aparecer na Espanha (Libros del Silencio, "Livros do silêncio", 2011). Nada mais longe da complacência ou da justificação que esse livro: a obra acerta contas, rompe tabus e dinamita a partir de dentro o mito familiar de que os parentes ignoravam as atividades criminosas de Heinrich.

Katrin Himmler, licenciada em Ciências Políticas, é casada com um judeu israelense descendente de sobreviventes do gueto de Varsóvia,
Heinrich Himmler, com seus pais e
irmãos. Ernst, o pequeno, era o
avô de Katrin.
viaja frequentemente a Israel - deve ser uma coisa de se ver quando ela cruza o controle de passaporte - a sua atitude ante o Holocausto e seu célebre parente, ao contrário que a de algum outro membro da família, não tem a mais mínima fissura. Ela não duvida em qualificar a seu tio-avô e padrinho de seu pai de "assassino do século". A autora me encontrou pela manhã em um pequeno café próximo de sua casa no tranquilo e modesto bairro berlinense de Wedding, em Mitte. É difícil conciliar a pacífica e amável imagem desta Alemanha com a que oferece, por exemplo, a visita ao Memorial do assassinato dos judeus da Europa com seus 2.711 monumentos de doloroso cinza e seu subterrâneo via cruzes de recordações e atrocidades.

Quando entro no café Auszeit - tentando não fazer perversas associações com a sonoridade do nome - , Katrin Himmler já havia chegado. Tem um aspecto juvenil, próximo e definitivamente agradável. Possui bonitos olhos azul-cinzentos. Sorri. Tomamos lugar junto à janela do local praticamente vazio e pedimos chá. Paradoxicalmente, já que é o que me atraiu até aqui, custa-me a começar a falar de Himmler, como se não quisesse que essa negra alimária do passado se entrometesse neste bonito dia entre esta interessante mulher e eu.

"Desde muito jovem, meus pais me fizeram ler livros sobre os nazis e seus crimes, assim me identificava com as vítimas e me envergonhava do meu sobrenome, sentido-me culpada de uma forma difusa", disse Katrin Himmler. "Contudo, ainda que me interessasse muito a história da Alemanha, nunca me havia posto a tentar conhecer a de minha própria família".

O impulso inicial da investigação que conduziu ao livro que foi dado por seu pai à autora - agora pensa que de uma maneira muita mais premeditada do que ela acreditava - ao lhe pedir em 1997 que investigasse a existência de uns processos sobre seu avô nos arquivos abertos depois da reunificação. Ao examinar os documentos, descobriu que a informação que continham não correspondia em nada com a que circulava na família. Segundo os relatos familiares, o único politizado dos irmãos era Heinrich, a ovelha negra (!), o que livrava de responsabilidade os outros dois, concentrados aparentemente durante o nazismo e a guerra em assuntos técnicos e acadêmicos. Era como se a grande culpa do meio os exonerasse.

"Os documentos que encontrei provavam, contudo, que meu avô e Gebhard foram também membros precoces do partido e das SS! Nazis entusiastas e cúmplices de Heinrich Himmler - inclusive parece que em algum projeto científico secreto de cariz tecnológico -, que os recompensou largamente por seus serviços".

Informar-se de que teu avô foi das SS deve ser um transe, aventuro. "Em casa jamais havia dito nada disso! Imagine!". Ernst Himmler alcançou o posto de sturmbannführer SS, comandante, e Gebhard, o de standartenführer SS, coronel. Heinrich se reservava ao modesto posto único de reichsführer SS, chefe supremo. Como para te deixar cair pela toalha familiar quando estavam os três irmãos reunidos e fazer uma piada sobre o Mein kampf.

Posteriormente, a investigadora achou outros perturbadores testemunhos conservados na casa de seus pais. Seus avós, por exemplo, dispunham de uma casa bonita confiscada de uns poloneses e de uma garota ucraniana trabalhadora forçada. No mais puro estilo SS, o avô Ernst deu a sua mulher no final da guerra, cápsulas de veneno caso ela e seus filhos caíssem nas mãos dos russos.

Em seu livro, Katrin Himmler mostra amplamente e sem rodeios que toda a família simpatizou com o regime, que pais e irmãos estavam orgulhosos do sucesso de Heinrich e que se aproveitaram dos privilégios do notável parente. Ernst, que era engenheiro, colocou-se na Radiodifusão Reich -bastião da propaganda nazi - por puro nepotismo. Para os pais, a ascensão social nas costas do temido filho chefe das SS significou uma maneira de sentir que voltavam a estar entre a elite alemã, da qual haviam sido apeados traumaticamente depois da I Guerra Mundial. Inicialmente, o progenitor havia visto com certa inquietação as andanças de seu filho Heinrich nos grupos direitistas da Baviera, mas sempre compartilharam pai e filho a oposição e o desprezo pela República de Weimar e pela democracia, que unia muito. Na familia passou a ser uma estampa heroica a imagem de Heinrich sustentando o estandarte da Reichskriegsflagge, a bandeira de guerra do Reich, durante o fracassado putsch de 1923, um sucesso no que esteve também presente o arrivista Gebhard, o mais velho dos irmãos, que sobreviveu à guerra e, disse Katrin, seguiu sendo um pedaço de nazi e antissemita.

Katrin Himmler, autora do livro "Os irmãos Himmler"
Quanto sabiam os familiares da verdadeira dimensão do trabalho criminoso do chefe das SS? "Sabiam dos campos de concentração, sem dúvida alguma, há muitas cartas de gente que lhes pedia ajuda para que intercedessem pelos internados. O pai, meu bisavô, morreu em 1936, mas então já funcionava Dachau, e a política de Hitler com respeito à oposição e aos judeus não era nenhum segredo. Desde cedo, ninguém da família nunca considerou que o que Himmler fazia fosse mau".

Sabiam do Holocausto? "Não tenho provas. Deviam saber, ao menos os irmãos, que tinham muito bom contato com Heinrich. Além disso, o cunhado de Gebhard, Richard Webdler, era governador de Cracóvia quando se deportou os judeus da cidade. Se não o soubessem foi porque não quiseram. Como tantos na Alemanha. Os judeus desapareceram muito cedo da vida do país, era fácil esquecer onde estavam. As leis racistas se impuseram à vista de todos. A eliminação física foi só o último passo. Em meu foro íntimo creio que sim, que sabiam. Havia muita confiança entre os três irmãos".

Os irmãos Himmler - História de
uma família alemã"
Tudo parece tão tranquilo aqui. E sem dúvida, algo parece se adensar irremediavelmente ao nosso redor. Há aquele episódio de seu avô, aquela carta... Ernest Himmler informava a seu irmão reichführer da fiabilidade política de seus colegas e realizava também para ele serviços de inteligência. "O caso de Schmidt, sim. Era judeu, mas haviam deixado isso por alto por conta de sua utilidade técnica. Meu avô questionou em um escrito a dita utilidade, sabendo do que isso iria significar, provavelmente uma sentença de morte. Foi algo muito cruel".

Katrin Himmler aparece ela mesma em seu livro, levando a cabo sua investigação, derrubando tabus, expressando suas reflexões, sua dor. "Era a única forma de fazê-lo, de maneira muito pessoal. Sempre me pareceu muito importante estar dentro. Não sou uma historiadora profissional, é assim que tinha que ser uma história de família. Escrever esse livro mudou minha vida! Como prova do valor histórico da obra ele é citado por ninguém menos que Peter Longerich como fonte em sua monumental biografia de Himmler (RBA, 2009).

Katrin não conheceu, desde cedo, seu tio-avô Heinrich, que se suicidou muito antes dela nascer, quando se apressou os aliados a acabarem a II Guerra Mundial. Tampouco a seu avô. "Lutou, quando mobilizaram a Radiodifusão, nas filas da Volkssturm, a desesperada milícia nacional, durante a batalha de Berlim e desapareceu em abril de 45". Como seu irmão Heinrich, Ernst levava uma cápsula de veneno escondida na boca para que não o pegassem vivo. Mordeu-a, acidentalmente, segundo disseram testemunhas, ao tropeçar durante a fuga pela cidade em escombros. "Soa raro, não é verdade?". Eufemístico.

Logo, a sobrinha-neta de Himmler continua: "Meu avô era muito ambicioso, nas SS e no partido não se relacionava só com Heinrich, senão com toda a hierarquia, toda a rede. Entre seus bons amigos estava seu vizinho, o sinistro general Hermann Behrends, da SD, homem de confiança de Heydrich e colaborador de Eichmann, executado depois da guerra...".

Quem Katrim Himmler conheceu bem pessoalmente foi sua avó Paula. Uma vez lhe perguntou pelo homem vestido de uniforme negro que aparecia como testemunha na foto de sua boda. Ela se pôs a chorar de tristeza por Heini, como o chamava familiarmente. "Minha avó recordava sempre com o máximo carinho a Heinrich Himmler".

Um dos momentos mais terríveis da investigação de Katrin foi descobrir a relação de intensa amizade de sua avó não só com a família Behrends, senão com o obergruppenführer SS - general - Oswald Pohl, metido até o pescoço no Holocausto. "Sim, causou-me uma grande impressão que minha querida avó simpatizasse com esse criminoso e o apoiasse como o fez quando o condenaram a morte em 1947. É certo que muitos alemães, inclusive gente da alta política do pós-guerra, tiveram a mesma atitude. É algo repulsivo. Logo fui mais compreensiva com ela porque ela se foi distanciando, modificou suas opiniões, separou-se de Marga, a viúva de Heinrich Himmler, e da filha deste, Gudrun. Inclusive assistiu com uma vizinha a série Holocausto na televisão e chorava".

Uma espécie de redenção. "Sim, minha avó foi talvez naif em sua relação com Pohl, considerava-o como uma vítima, e a si mesma também. Depois da guerra, a uma mulher como ela, com seu sobrenome, ficava difícil - como ao resto da família - sobreviver sem o contato e apoio de outros nazis. Aproximar-se deles a ajudou psicologicamente, para evitar sua própria responsabilidade. Foi marginalizada, passou pela desnazistificação, não pode trabalhar durante muito tempo. Mas o que mais lhe doeu foi a reação da sociedade, a forma com que muitos alemães projetaram sobre ela e a família o sentimento de haverem sido traídos por Hitler, que prometeu tudo aos alemães e só trouxe a destruição: das cidades, mas também das esperanças e dos sonhos".

Pergunto a Katrin se ela padeceu também por conta do sobrenome. Em seu livro explica o silêncio em aula do colégio quando um aluno lhe perguntou no meio da classe se ela era parente "desse Himmler", e como um maestro, dissimulou e soltou balões fora. "Na realidade não sofri muito, porque minha geração já é distante de tudo isso. Meus pais, sim, muito. Foram amaldiçoados e atacados. Meu pai viveu a hostilidade das pessoas e, o que era às vezes pior, a admiração dos que lhe diziam: 'Teu pai era um grande homem, e teu tio, também'. Na família nunca se falava disso".

Outros filhos de nazis tiveram graves problemas de identidade. "A muitos, sua herança lhes deixou sequelas terríveis, deixou-os psicologicamente enfermos". Niklas Frank, o filho de Hans Frank, o criminoso governador da Polônia processado em Nuremberg e enforcado, manifestou publicamente que se masturbava a cada 16 de outubro, data de sua execução, em frente a uma foto de seu pai, que ele detestava. Outro filho, Micahel, suicidou-se bebendo leite até arrebentar. E outro mais, Norman, decidiu não ter filhos para apagar o sobrenome Frank da face da Terra. "Da geração de meu pai são poucos os que tiveram filhos, não sabiam como lidar com isso".

No janeiro passado, Martin Bormann júnior, que havia tratado de conjurar sua herança - desde pequeno lhe ensinaram mobiliário feito com restos humanos - tornando-se sacerdote, missionário no Congo e predicador contra o Holocausto, foi acusado de violência e abusos sexuais durante sua época como professor na escola dos Corações de Jesus de Salzburgo nos anos sessenta. O neto de Rudolf Hess, Wolf Andreas, foi multado em 2002 por negar a existência das câmaras de gás na página da web na qual consagra seu avô.

Katrin Himmler tem relação com outros descendentes de líderes do III Reich? "Tive bastante quando apareceu o livro na edição original em alemão. Agora não são em geral contatos regulares, mas me encontro com alguns. Conheci Bettina Goering, a sobrinha-neta do marechal; ela e seu irmão decidiram se esterelizar para não passar para outra geração o sangue do assistente de Hitler. Não entendo, é tão parecido com a ideia dos próprios nazis, a ideia de sangue ruim, a teoria da herança racial. Aterra-me". Katrin Himmler abraça a si mesma.

Faz uns dois anos, explico, entrevistei a filha do conde Von Stauffenberg, o autor do atentado contra Hitler de 20 de julho de 1944. Olha-me com renovado interesse. Constance von Stauffenberg recordava o duro que havia sido ser filha de seu pai na Alemanha do pós-guerra. Mais ou menos a mesma coisa de Himmler? "Não sei, acredito que é mais fácil para os filhos dos resistentes, seus pais demonstraram que também haviam sido outros alemães, alemães bons".

Voltando aos filhos dos nazis, o que há de sua tia Gudrun (1929)? A filha do reichführer e que, diferente de Katrin, consagrou sua vida a reivindicar o sobrenome de seu pai, inclusive ao custo de se misturar com neonazis; "Ainda vive, eu a vi em alguma reunião familiar e tem opiniões muito chocantes; como você sabe, tratei de contactá-la para o livro, mas não me contestou. Sei que ela não gostou nada. Pensa que sou uma traidora". E o resto da família? "Há alguns que decidiram não falar mais comigo porque projetei sombras, em sua opinião, sobre os ancestrais. Não me importa".

Assinalou assim Katrin Himmler, por se convencer de que é muito valente e que tem um apreciável senso de humor. "Isso espero. Esta é uma história muito obscura. Sou uma pessoa muito otimista, não sei porque, mas sou. Só assim você pode lidar com esse passado. O que acontece ao submergir nos documentos da época é que, ou te deprimes e te afundas na parte tenebrosa e já não sairás mais em anos, ou tratas de entender o passado de forma que te ajude a entender o presente". Escuto-a em silêncio. "Arrancar isso tem sido bom, já não está aqui. Já não segues sendo uma espécie de cúmplice que transmite mentiras de geração em geração. Meu pai tinha tanto medo... Ele estava horrorizado do que podia ter feito seu pai. Saber o que fez de verdade tem sido catártico. O que fez meu avô foi muito mau, mas meu pai temia inclusive ser pior. O sentimento de culpabilidade imprecisa é esmagador".

Como temos ficado bons amigos, atrevo-me a perguntar a Katrin se não percebe o físico parecido que guarda com seu tio-avô. Para minha surpresa, não só não se irrita, senão que reconhece que sim. Matiza que Heinrich Himmler não tinha os olhos da mesma cor, ainda que alguns creem que eles lembram com um olhar azul-glacial. "Não, não, os dele eram marrons". Ela, disse, é mais como seu pai. Que sente ao se ver no espelho, assalta-lhe algum pensamento estranho? "Há coisas obscuras, claro. Mas pensar que o mal ou ser nazi é algo genético, hereditário, é estúpido. Todos podemos fazer o mal, para isso não tem importância se chamar Himmler. Acredito no contrário, que o que leva no sangue, é o que faziam os nazis. Às vezes, como dizia, observo-me, mas não há nada atemorizante, nenhum espírito negro".

Digo a Katrin que é curioso como em todas as famílias sempre há alguém que se ocupa de acertar as contas da memória coletiva. "Está certo, um membro da família costuma fuçar os segredos, conjurar fantasmas. É alguém que sente de uma maneira especial o peso dessa herança. Em alemão temos a palavra symptomträger, aquele que carrega as enfermidades, neste caso os enigmas, as faltas, os pecados da família. De certa forma é o meu caso, seguramente. Meu pai tentou lidar com isto muitos anos antes, mas acabou pondo a mim sobre a pista. Ia me dando detalhes para que eu encontrasse coisas. Para mim, era mais fácil tomar distância dos fatos, ainda que não deixassem de me causar danos os achados como a carta de minha avó a Pohl. Identificar minha querida avó como uma avó nazi não era fácil. Era horrível".

Casar-se com um judeu foi uma decisão consciente? Quero dizer, pensava em seu tio-avô, em seu sobrenome, em uma reparação? "Não, seguramente não. Só aconteceu. Foi antes de que começasse tudo, já nos conhecíamos antes". Katrin tem um filho de 11 anos de seu matrimônio. Que sabe ele das circunstâncias de sua família? "Pergunta-me coisas agora, viu-me em entrevistas de televisão, por conta do livro. Não explico muito, com aperto. Tenho experiência do peso de se dispôr de muita informação demasiada pronta, quando não podes assumi-la. Um dia, meu filho deverá lidar com o fato de que uma das partes de sua família tentou exterminar a outra. Em todo caso, alegra-me que ele não tenha que fazer o mesmo processo que eu, porque eu já o fiz antes por ele, limpei para ele. Poderei responder suas perguntas e explicarei com exatidão e sem medo a culpa dos meus antepassados".

Katrin e seu marido - Daniel: um nome apropiado para um judeu que se mete no fosso da família Himmler - viajaram até Cracóvia durante seu noivado. Visitaram Auschwitz? "Não, por céus!, era uma viagem romântica". E depois? "Visitei outros campos, contudo, nunca estive em Auschwitz".

Aproveito, pois, para lhe explicar coisas do campo, como a incomum altura da grama, a fecundidade do terreno, pelo adubo de tantas cinzas, claro. Ele me escuta olhando fixamente. Auschwitz era a menina dos olhos do universo 'concentracionário' de Himmler. Não há lugar tão associado a seu nome como esse inferno. Katrin ficou pálida. Mas se repõe. E disse como para si mesma, com firmeza: "Irei".

JACINTO ANTÓN 17/04/2011

Fonte: El País(Espanha)
http://www.elpais.com/articulo/portada/familia/Himmler/elpepusoceps/20110417elpepspor_10/Tes
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 16 de abril de 2011

Eichmann quis sair do anonimato para contar sua versão do nazismo

O governo alemão sabia que vivia oculto na Argentina. Em 1956 pediu para voltar para “reclamar um lugar na história”.
FORTEMENTE VIGIADO. EICHMANN NA CORTE DE JERUSALÉM,
ONDE ALEGOU “OBEDIÊNCIA DEVIDA”. FOI ENFORCADO EM 1962.
Durante mais de uma década depois da II Guerra Mundial, seu paradeiro foi oficialmente desconhecido. Adolf Eichmann, o principal arquiteto do Holocausto, havia escapado de um campo de prisioneiros de guerra estadunidense, passado pela Itália e pego um barco com destino à Argentina.

O governo da Alemanha Ocidental, ocupado na reconstrução do país e em reabilitar sua reputação, sabia, pelo menos desde 1952, onde vivia Eichmann, mas nunca fez um esforço real para levá-lo ante a justiça.

Agora um novo livro afirma que Eichmann queria voltar a seu país e reclamar seu lugar na história vários anos antes de ser capturado pela inteligência israelense em 1960 e ser julgado em Jerusalém.

Em 1956, Eichmann escreveu uma carta aberta ao chanceler da Alemanha Ocidental, Konrad Adenauer.

É hora de renunciar a meu anonimato e me apresentar”, escreveu Eichmann, que então vivia sob o nome de Ricardo Klement num subúrbio de Buenos Aires. “Nome: Adolf Otto Eichmann. Ocupação: SS Obersturmbannfuhrer a. D (tenente coronel).” A carta supostamente devia ser publicada por uma empresa argentina com simpatias com os nazis mas nunca veio à luz. Foi descoberta nos arquivos do Estado alemão pela historiadora Bettina Stangneth de Hamburgo, cujo livro, "Eichmann antes de Jerusalém", será publicado esta semana na Alemanha.

Na carta a Adenauer, Eichmann, naquele momento com 50 anos, sugere que se deve lhe permitir voltar para contar aos jovens alemães o que havia ocorrido realmente sob o regime de Hitler.

Quando me deixarão viver o destino, não sei, mas sei sim que alguém tem que falar às gerações futuras sobre estes acontecimentos”, dizia, sem mencionar que “estes acontecimentos” incluíam o assassinato em massa de milhões de pessoas. “Tive um papel importante na condução e direção desses programas”, acrescentava.

Eichmann dirigia a “seção judaica” do escritório central de segurança do Reich, a orgamização SS responsável por combater os “inimigos do Reich”. Na prática, a missão de Eichmann era decidir qual era a melhor maneira de deportar os judeus para os campos de concentração. Dava-lhe muito prazer tratar de imaginar a maneira mais rentável e efetiva de executar um assassinato em massa: foram ele e sua unidade os que conceberam a ideia de que as autoridades e a polícia despojassem as vítimas de seus pertences antes da deportação.

Stangneth disse que Eichmann não gostava da humilde vida que levava na Argentina, onde criava coelhos. Ansiava o poder e o reconhecimento de que havia gozado no Terceiro Reich. “É por isso que escreveu a carta a Adenauer, porque queria ser famoso”, disse Stangneth. “Queria reclamar seu papel na história junto a Adolf Hitler.” Quase cinquenta anos depois que Eichmann foi enforcado em Israel, na Alemanha surgem incômodas perguntas sobre o papael do país em levá-lo ou não à justiça. Uma série de artigos da revista Der Spiegel há pouco sugeriam que os agentes secretos da Alemanha Ocidental sabiam perfeitamente onde estava Eichmann logo de sua fuga, mas nunca lhes foram ordenados que o recapturassem.

Depois do sequestro de Eichmann pelo Mossad em maio de 1960, o governo de Adenauer convocou uma reunião de crises, onde se acordou que se devia fazer o possível para deixar claro que “Eichmann era um suplente das SS de Himmler” e que não era um agente autorizado da Alemanha.

A um funcionário do Ministério de Relações Exteriores é atribuído ter dito que era crucial que “as principais figuras da Alemanha Ocidental” não se vissem prejudicadas pelo julgamento.

A última edição da revista sustenta que Adenauer pessoalmente enviou um agente do serviço secreto alemão, o BND, para seguir o julgamento de Eichmann em Jerusalém.

Adenauer disse a uma espião chamado Rolf Vogel que observasse o julgamento disfarçado de jornalista e influísse nele quando fosse possível.

Deves ir ao julgamento de Eichmann a pedido meu”, escreveu Adenauer, segundo documentos secretos descobertos pela Der Spiegel, que qualifica o envio de Vogel como “uma das operações do serviço diplomático/secreto mais delicadas da história da Alemanha Ocidental”.

Fonte: Clarín.com (Argentina)
http://www.clarin.com/mundo/Eichmann-anonimato-contar-version-nazismo_0_461953882.html
Tradução: Roberto Lucena

Matéria completa:
Adolf Eichmann wanted to return to Germany, historian claims (The Guardian, Inglaterra)
http://www.guardian.co.uk/world/2011/apr/11/eichmann-sought-trial-germany-1956

Ler mais:
Inteligência alemã ocultou identidade de Adolf Eichmann na Argentina
http://holocausto-doc.blogspot.com/2011/01/inteligencia-alema-ocultou-eichmann.html

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Livro resgata prazer de matar dos soldados alemães na 2ª Guerra

O historiador Sönke Neitzel e o psicólogo Harald Wetzer resgataram um outro olhar sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial, abordando a fascinação pelo confronto bélico por parte de muitos soldados alemães.

No livro Soldaten (Soldados, em alemão), Neitzel e Wetzer acabam com o mito que o Exército alemão teve um papel supostamente respeitável na Segunda Guerra Mundial e que não tinha sido cúmplice direto dos crimes do nacional-socialismo, em contraste com as unidades especiais das SS.

O mito já tinha sido alvo com a famosa exposição "Vernichtungskrieg. Verbrecher der Wehrmacht" (Guerra de Extermínio. Crimes do Exército alemão) que percorreu a Alemanha entre 1995 e 1999, e que em algumas cidades gerou protestos.

Os testemunhos de soldados alemães publicados em seu livro por Nietzel e Wetzer não deixam dúvidas que matar e saquear não representava nenhum problema ético e, pelo contrário, gerava prazer.

As declarações foram encontradas por Neitzel em arquivos britânicos e americanos quando o historiador pesquisava sobre a guerra no Atlântico.

Trata-se de transcrições de conversas entre soldados alemães em cativeiro nas quais não escondam o prazer que sentiram ao matar, e que foram gravadas sem que eles soubessem com o objetivo de obter informação militarmente relevante.

"No segundo dia da guerra da Polônia tive que lançar bombas sobre uma estação em Posem. Não gostei. No terceiro dia, me pareceu igual, e no quarto, já passei a gostar", disse um soldado em uma conversa gravada no dia 30 de abril de 1940 que acrescentou: "Nossa diversão matutina era caçar soldados inimigos pelos campos com metralhadoras e deixá-los no chão com duas balas nas costas".

Outro soldado, ao descrever um bombardeio no qual os cavalos "voaram pelos ares", disse que senti pena dos animais, mas não sentia o mesmo pelas pessoas.

"Os cavalos me davam pena, as pessoas não. Os cavalos me deram pena até o último dia", explicou a um de seus companheiros de cativeiro.

O Holocausto, por outro lado, é pouco citado durante as conversas, uma circunstância que os autores do livro atribuem a que para os soldados não se tratava de algo especial.

Quando abordam o tema fica claro que estão informados do que ocorria, e inclusive um dos soldados conta a outro como um oficial das SS o convidou para presenciar e filmar um fuzilamento em massa de judeus.

A espontaneidade e a sinceridade é o maior "valor" das conversas frente os testemunhos diretos de soldados que participaram da Segunda Guerra Mundial, pois geralmente "maquiavam" suas verdadeiras sensações.

As cartas, por sua parte, eram, de certa forma, uma versão da guerra para as famílias, que naturalmente ocultava muitos detalhes, enquanto as memórias de veteranos da Segunda Guerra Mundial apresentam, por último, o problema da deformação, às vezes involuntária, das noções de lembranças que costumam perder com o passar dos anos, somada à necessidade dos autores de apresentar uma imagem respeitável.

Fonte: EFE/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5076381-EI8142,00-Livro+resgata+prazer+de+matar+dos+soldados+alemaes+na+Guerra.html

quinta-feira, 7 de abril de 2011

As heróicas mulheres de Auschwitz

Por Ernie Mayer
Nota publicada no Jerusalem Post de 13 de julho de 1991

Membros da resistência francesa

Em julho de 1991 foi inaugurado em Yad Vashem um monumento em homenagem a quatro mulheres judias, que arriscaram suas vidas em Auschwitz. A escultura é de Iosef Salamon.

Os nomes das quatro mulheres que honram este monumento são: Ala Gertner, Roza Robota, Regina Safirsztajn e Estucia Wajcblum. Depois de meses de interrogatórios e torturas as quatro foram enforcadas em 5 de janeiro de 1945, 13 dias antes de que as SS abandonassem Auschwitz ao se inteirar do avanço russo.

A história começa em março de 1944, quando Roza Robota se encontra no campo com um prisioneiro a quem ela conhecia de sua cidade natal de Ciechanow, onde ambos pertenciam ao Hashomer Hatzair. Este homem pertencia ao Sonder Kommando, esquadrão encarregado de remover os corpos das câmaras de gás e levá-los ao crematório. Os homens do Sonderkommando viviam em barracas separadas do resto dos prisioneiros e lhes era reservada melhor comida. Periodicamente os nazis gaseavam estes homens, porque consideravam que haviam "visto demais" e os substituíam por um novo grupo.

Este homem com quem Roza se encontrou pertencia ao grupo "underground" que planejava um levante. Para isto necessitava de granadas e explosivos. Queriam explodir as câmaras de gás. Embora Roza tivesse uma posição relativamente cômoda na "rouparia, comprometeu-se a ajudá-lo. Falou com sete mulheres que trabalhavam em Werschel Metan Unionworke, a fábrica de munições. É necessário contrabandear a pólvora e entregá-la ao grupo "underground". Roza é a ponte entre os que conseguiam a pólvora e os que a recebiam. Nesse grupo se encontrava Israel Gutman, na época então com 21 anos, e atualmente reconhecido professor da história do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém.

As heróicas garotas escondiam a pólvora nas bainhas. A revolta estourou no sábado 7 de outubro de 1944. Os sonderkommandos sabiam que tinham os dias contados, porque os transportes de judeus já não chegavam. Mas decidiram continuar lutando. O movimento "underground" polonês que havia prometido sua ajuda, no último momento não apareceu. A revolta não ocorreu como havia sido planejada. Segundo Israel Gutman, foram traídos por um kapo. Não há detalhes da revolta, mas mais de 500 sonderkommandos foram mortos. Os últimos que trataram de escapar foram caçados por cães, segundo relata o historiador britânico Martin Gilbert.

A gestapo não tardou em dar-se conta de quem havia fornecido a pólvora. Que pese nisso as torturas infligidas a Roza, esta não revelou nomes. Gutman disse: "através do heroísmo destas mulheres, 30 de nós podem se salvar". As testemunhas das mortes destas quatro jovens contam que morreram dando mostra de orgulho, e Roza clamou vingança. Em 22 de maio de 1985, na Alemanha, foram homenageadas publicamente e por sugestão dos sobreviventes de Auschwitz em Israel, descobriu-se uma placa no distrito de Ruhr na cidade alemã de Frodenberg, onde funcionava a fábrica Unionworke.

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto (Argentina)
http://www.fmh.org.ar/revista/2/lasheroicas.htm
Texto: Ernie Mayer
Tradução(ing-esp): Noemí Rijter
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Neonazistas ajudam a convocar "ato cívico" pró-Bolsonaro em São Paulo

Em São Paulo

Uma manifestação de apoio ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) está sendo convocada na internet para o próximo sábado (9), às 11h, no vão do Masp, em São Paulo. O protesto, batizado de “ato cívico”, está sendo divulgado em rede sociais como o Orkut e no fórum “Stormfront.org”, administrado pelo movimento neonazista “White Pride World Wide” .

Reprodução de logo criado para
divulgar o ato pró-Bolsonaro no Orkut
No fórum, o tópico utilizado para divulgar a manifestação foi aberto ontem e apagado hoje, mas o cache do Google que indexa as páginas apagadas registrou as mensagens.

A convocatória, publicada por um membro denominado “Erick White”, diz: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto Cívico, portanto, levem a família, esposas, filhos e amigos... (sic)”.

O autor finaliza a mensagem os números “14/88”, simbologia nazista que faz referência a Adolfo Hitler e ao nacionalista norte-americano David Lane, defensor do mito da supremacia branca.

No Orkut, onde não há referências racistas ou nazistas explícitas, o ato foi divulgado em comunidades de apoio a Bolsonaro. São elas: “Sou fã do dep. Jair Bolsonaro”, com 4.086 membros; “Jair Bolsonaro para Presidente” (2.469 membros); “Bolsonaro é o cara” (71). Entre todas as comunidades no Orkut sobre o deputado, as três mais numerosas demonstram apoio a Bolsonaro.

Bolsonaro
As recentes polêmicas envolvendo o parlamentar começaram com um quadro do programa humorístico “CQC” exibido no último dia 28. Nele, a cantora Preta Gil perguntou ao deputado: “se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”

A resposta, considerada racista por Preta Gil e por colegas de Bolsonaro no Congresso Nacional, foi a seguinte: “ô, Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu".

O deputado afirmou que se confundiu com a série de perguntas feitas no quadro e não se referiu aos negros em sua resposta.

Desde o episódio, Bolsonaro deu uma série de entrevistas nas quais fez criticas a homossexuais e elogios a ditadura militar.

Fonte: UOL Notícias
http://noticias.uol.com.br/politica/2011/04/06/neonazistas-ajudam-a-convocar-ato-civico-pro-bolsonaro-em-sao-paulo.jhtm

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Romênia enterra judeus encontrados em vala comum do Holocausto

Rabinos enterram os 40 judeus
IASI, Romênia — Os restos mortais de 40 judeus romenos - homens, mulheres e crianças - assassinados durante a Segunda Guerra Mundial e encontrados em uma vala comum foram enterrados nesta segunda-feira no cemitério judaico de Iasi (nordeste), junto a seus parentes.

O enterro foi realizado para íntimos por cinco rabinos, quatro deles vindos da Grã-Bretanha para a ocasião e um dos Estados Unidos.

Os restos mortais das vítimas, cuja identidade exata não pôde ser estabelecida, foram enterrados em um túmulo comum do cemitério, localizado em uma das colinas que dominam Iasi.

A vala comum que continha os restos de várias dezenas de civis judeus assassinados pelo exército romeno durante o Holocausto foi descoberta em 2010 pelo historiador Adrian Cioflanca, que pôde encontrá-la graças aos depoimentos de habitantes do local que assistiram à matança.

Segundo o Instituto Nacional do Holocausto Elie Wiesel de Bucareste, esses civis foram vítimas provavelmente dos programas da Iasi, nos quais morreram mais de 15.000 judeus romenos em 1941.

Os restos mortais foram entregues à comunidade judaica depois de serem analisados pelo Instituto de Medicina Forense.

Os rabinos consideram que, segundo a lei judaica, os restos das vítimas não deveriam ter sido retirados das fossas onde estavam.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hakmccvGjJQOz9j0muy3569gsRaQ?docId=CNG.b784413f83000616dda24915663acf14.11

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quase 60% dos espanhóis são antissemitas

A crise faz disparar o ódio antijudaico na Espanha

58,4% dos espanhóis são antissemitas, muito acima da média europeia, segundo o Relatório sobre Antissemitismo de 2010
JUAN G. BEDOYA - Madrid - 30/03/2011

Cerimônia de consagração da Torá
na Sinagoga Maior de Barcelona, em
2006.- MARCEL.LI SAENZ MARTINEZ
"Não estão fazendo os deveres e a consequência é um perigoso crescimento do antissemitismo e do ódio racial na Espanha". Esta é a queixa da Federação de Comunidades Judaicas da Espanha e do Movimento contra a Intolerância. Um detalhado relatório apresentado hoje em Madrid não deixa lugar a dúvidas: a Espanha figura no topo da União Europeia em atos violentos e manifestações de ódio racial e de desprezo a judeus, com um incremento constante pela crise econômica.

Os resultados de uma pesquisa encarregada no outono passado pelo Ministério de Assuntos Exteriores e Cooperação não deixam dúvidas: 58,4% da população espanhola opina que "os judeus têm muito poder porque controlam a economia e os meios de comunicação", e mais de um terço (34,6%) têm uma opinião desfavorável ou totalmente desfavorável dessa comunidade religiosa, que na Espanha somam apenas 40.000 pessoas. O estudo foi realizado com 1.012 entrevistas entre cidadãos maiores de 15 anos.

Estes dados do entitulado Relatório sobre Antissemitismo na Espanha em 2010 avalizam outros de uma pesquisa oficial entre escolares realizada há um quinquênio, segundo a qual mais da metade dos estudantes não queriam ter um garoto judeu como companheiro de carteira escolar, em que pese não poder reconhecê-lo fisicamente.

Curiosamente, é a extrema-direita a que menos rechaço tem pelas comunidades judaicas (uns 34%), frente a 37,7% entre pessoas que se declaram de centro-esquerda. "Se esses dados estão corretos, a Espanha seria um caso único na Europa, e o país tem um verdadeiro problema", destacou o presidente da Federação de Comunidades Judaicas da Espanha (FCJE), Jacobo Israel Garzón.

O responsável pelo Movimento contra a Intolerância, Esteban Ibarra, sublinhou a seu lado esta percepção, com uma queixa severa ante o Governo, por não haver executado o compromisso de reformar o Código Penal para punir a incitação e apologia do ódio racial ou antissemita em suas diversas manifestações. O mandato da Comissão Europeia para reformar o artigo 510 do Código Penal que se refere a esses temas concluiu em 28 de novembro passado, sem a Espanha tê-lo cumprido.

Há outros dados chamativos neste Relatório sobre o Antissemitismo, o segundo que se realiza na Espanha. Por exemplo, a extrema-direita tem uma opinião menos desfavorável dos judeus (34%) que a centro-esquerda (37,7%), e a simpatia ante os judeus na extrema-direita (4,9 numa escala de 0 a 10) é superior à média da população (4,6)".

A crise econômica tem agravado a situação, pelo suposto poder econômico que a pesquisa atribui aos judeus espanhóis em que pese significar apenas 1% da população total nacional. Dois terços (62,2%) dos 58,4% que opinam que dizem que "os judeus têm muito poder porque controlam a economia e os meios de comunicação", são universitários. A percentagem sobe até os 70% entre os que afirmam "ter interesse por política". Quer dizer, "os mais antissemitas são supostamente os mais qualificados e informados", lamenta Jacobo Israel.

Entre os que reconhecem ter "antipatia com os judeus", só uns 17% disse que isto se deve ao chamado "conflito do Oriente Médio". "Não podemos associar o ódio aos judeus com o Estado de Israel ou suas políticas", sublinhou o presidente da FCJE. Não procede assim que os meios de comunicação, onde o auge do antissemitismo se dá em função desse conflito.

Outro conjunto de motivos alegados pelos pesquisados (com uma soma de 29,6%), tem a ver com "a religião", "os costumes", "sua forma de ser" etc. A estes se somam outros como "antipatia em geral", ou às percepções relacionadas "com o poder". Outros 17% dizem ter antipatia a judeus ainda sem saber os motivos."

Os insultos através da Internet, as pichações em sinagogas, a banalização do Holocausto ou frequentes concertos racistas são alguns dos problemas que se contemplam no relatório, elaborado por um Observatório de Antissemitismo que apenas tem três anos. Seu objetivo é centralizar, catalogar e analizar os incidentes de caráter antissemita, identificando seus promotores e fomentar a reflexão através da análise e de publicações.

"A infecção neonazi é crescente e em sua maioria é antissemita. Não se pode separar a luta contra o nazismo da luta contra o antissemitismo", sublinha Esteban Ibarra. O relatório documentou 4.000 casos de incidentes de ódio antirreligioso e violência xenófoba, entre os que estão incluídos os atos de antissemitismo. Por exemplo, existem mais de 400 websites de caráter xenófobo e antissemita.

Fonte: El País(Espanha)
http://www.elpais.com/articulo/sociedad/crisis/dispara/odio/antijudio/Espana/elpepusoc/20110330elpepusoc_12/Tes
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Los judíos españoles denuncian un aumento del antisemitismo (Xornal.com, Galícia)

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