quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ainda o caso Aranha (goleiro). O racismo - nada cordial - brasileiro prossegue... atitude vergonhosa da mídia

Infelizmente não foi possível fazer o post logo depois do jogo, mas são episódios, novamente, que não dá pra deixar passarem batidos.

Eu não gosto de citar esta revista Carta Capital pois inclusive já critiquei pesado (e critico) matérias sensacionalistas dela (e com interpretações equivocadas) sobre fascismo, extrema-direita e neonazismo, mas esta matéria deve ser lida. Pra entender o que se passou, leia sobre o caso Aranha. O Grêmio (clube gaúcho) foi punido com a desclassificação da Copa do Brasil (não teve direito ao jogo de volta) pelo caso de racismo contra o goleiro do Santos.

Seguiu-se depois do episódio, uma tentativa cretina da mídia (ou de parte dela) de, ao invés de relatar com precisão o que ocorria e condenar os fatos (racismo) sem histeria, a mídia criou sensacionalismo barato sobre o episódio e pior, tentou forçar que o goleiro fosse falar com a torcedora flagrada xingando-o de "macaco" (não foi a única, só teve o "azar", entre aspas, de ser ela flagrada e não todos os envolvidos) tentando novamente atenuar as agressões e botar panos quentes na questão do racismo no Brasil.

Pois bem, segue a matéria da CC (eu uso essa abreviação pra citar a revista que mencionei acima) que relata o que se passou no jogo Grêmio 0x0 Santos no estádio do Grêmio, agora pelo campeonato brasileiro (outra competição) depois do episódio.

A cena final da saída do Aranha pro vestiário é grotesca. Não dá pra entender o que se passa na cabeça dessas pessoas (os repórteres que começam a indagá-lo e fazer de conta que não houve problema algum durante mais esse jogo), com perguntas cínicas e ainda com direito a riso amarelo de uma repórter no final (está tudo gravado no vídeo). O link da revista:
Vaias a Aranha são a vitória do racismo na Arena do Grêmio

Aqui o vídeo direto caso alguém não queira clicar no link acima:


O goleiro foi ironicamente agredido neste jogo com expressões (relatadas por quem cobriu o jogo) como "branquelo", etc, já que com medo, os racistinhas não usaram o termo "macaco". E mais uma vez, não generalizando que todo torcedor do Grêmio é racista pois isto pode acontecer em outros clubes, mas boa parte da torcida apoio o ato anterior, pois cabia a mesma refletir e se comportar de outra forma no estádio, mas a minoria que repudia isto acaba pagando junto do bando de canalhas covardes que só se manifestam em bando, como manada.

Vale a pena clicar no link da matéria pois tem todos os links do que transcorreu na semana do jogo, com declarações de gente que perdeu oportunidade de ficar calado e o pior de tudo, depois do pífio 7x1 sofrido pra Alemanha na Copa do Mundo, dentro do Brasil, o resultado mais humilhante e vexatório em 100 anos de história da seleção brasileira de futebol, o Sr. Felipe Scolari volta à cena com mais pérolas de quem já deveria ter deixado o futebol depois dessa derrota humilhante.

Humilhante em todos os sentidos, posso errar ao citar isto pois estou citando de memória, mas o Brasil nunca perdeu um jogo por mais de 2 gols dentro do Brasil, o pior resultado do Brasil em Copas até este ano foram os 3x0 pra França na final da Copa de 1998 com o Ronaldo grogue em campo, isso em 100 anos de história, e o cidadão (junto com outro ex-técnico em atividade, Parreira, vulgo Pé de Uva, que também foi responsável por essa lambança na Copa) me toma de 7x1, com um time mal treinado, mal convocado e sem fazer nada pra impedir o massacre no jogo, mandando jogador endurecer pra parar o jogo rival etc.

Aí chega a imprensa trololó desse país e começa o choro histérico com complexo de vira-lata chamando o time alemão de super time, o mesmo que só havia ganho de 2x1 da Argélia no sufoco na prorrogação e 1x0 pros Estados Unidos. Façam-me o favor. Com todo respeito ao time alemão que não tem nada a ver com isso e foi o time/seleção mais coeso da Copa, mereceu ganhar apesar de que um 7x1 daquele jeito sempre deixa em dúvida se é um time fora de série ou se o resultado foi uma aberração (a goleada, e eu acho que foi mesmo), mas ele foi lá e cravou os gols contra a selepífia do Felipão, como todo time profissional e sério faz, eles não têm nada a ver com essa postura ridícula dessa velharia que ainda dirige time de futebol no país por conta de cartolas (dirigentes de clube) obtusos, que se submetem aos desatinos da CBF e da Rede Globo.

O mais engraçado desses 7x1 é que teve gente na Espanha e em outros países se "doendo" mais que os brasileiros. Acusavam sempre o país de sofrer pelo futebol, "país do futebol" e bla bla bla, mas o povo soube encarar o fato à altura, calando a claque. Perde-se e ganha em jogo, ninguém morre (em condições normais). Mas foi engraçado ver, por exemplo, jornal da Espanha todo "doído" com essa derrota como se isto fosse afetar a moral de um povo por eles não conhecerem o outro lado do Brasil, de que nem todo brasileiro tem complexo de vira-lata e não se rebaixa diante de uma derrota em esporte (que vale frisar novamente, é parte do jogo, por mais que a gente não queira perder). Como se o torcedor não tivesse direito de chorar por uma derrota humilhante, até isso quiseram nos tirar o direito.

Faltou dignidade e hombridade principalmente à imprensa espanhola, grosseira desde o princípio como já frisei aqui, com o Brasil e com a seleção brasileira. Quiseram comparar a seleção nacional deles (com todo respeito) à seleção brasileira, o que é uma piada. "Ah, mas no momento atual", caramba, história de seleções se faz com o todo e não só com o momento, quem tem mais títulos e finais é o Brasil em relação à Espanha e dezenas de países, fora que tomaram de 5x1 da Holanda e saíram logo na primeira fase. Querer ignorar um histórico pra agredir é atestado de cretinice e de falha de caráter. Sem querer ser chato mas já sendo, vão ter que ganhar muita Copa e comer muito feijão pra chegar perto, mas muito mesmo, quem sabe daqui a 100 anos se o Brasil não ganhar mais título algum. Só estou comentando isso pra ter uma ideia do disparate da comparação que só encontra coro com os vira-latas estúpidos no Brasil. Nem no "top 2" (das seleções com dois títulos, Uruguai, Argentina, destacando que a Argentina é um Uruguai com cinco finais, rsrsrsrs) vocês chegaram ainda pra pensar no "top 4" (das seleções com 4 títulos ou mais, sem falar em finais).

Desculpando o desabafo acima sobre o mundial (tava preso desde a Copa, eu realmente adquiri repulsa a essa comissão técnica do Brasil da Copa de 2014, deveriam ter abandonado o futebol depois desse resultado ridículo e humilhante), mas voltando ao assunto, o Felipe Scolari (Felipão) ainda solta uma dessas contra o Aranha jogando a torcida do Grêmio contra o cara:
Felipão: "Vê se eles vão cair na esparrela do Aranha"

Pra quem não conhece esse lado nada glorioso do ex-técnico da seleção brasileira (ainda bem e que não volte nunca mais pra seleção, não te dou crédito pelo título do penta e sim aos talento dos jogadores, seu retranqueiro), as pérolas (ditas há muito tempo atrás) dele sobre Pinochet ressoaram no exterior:
Luiz Felipe Scolari: Un seguidor de Pinochet
Luiz Felipe Scolari: If you thought Mourinho was mad...wait till you meet Big Phil
Luiz Felipe Scolari: in his own words

Tradução de um dos títulos acima "Se você pensou que Mourinho (técnico português) era louco... espere até conhecer "Big Phil" (Big Phil obviamente é "Felipão", na Inglaterra chamavam ele por esse apelido, tradução parcial do apelido dele em português).

É surreal, bizarro a que ponto o futebol desse país chegou, não me refiro só ao nível técnico e ao comportamento de papagaio vociferado principalmente pela mídia pra imitar o futebol feio de outros países ignorando a tradição do futebol brasileiro que foi penta campeão por seus méritos e estilo próprio.

Antes de finalizar o post, reafirmo que apoio integralmente o goleiro do Santos sobre a questão.

Como eu disse no outro post, pode-se questionar se foi ou não a melhor ação a ser tomada, mas lembrando, cada pessoa sente e reage de uma forma, não existe um padrão fixo pra reagir a agressões, quem agride que aguente o troco, mas nunca, jamais se deve rechaçar o direito do goleiro de se manifestar e reagir às agressões, como ele acha que é o certo, como alguns panacas andaram fazendo ou querendo que ele ande de cabeça baixa.

Fiquei felizmente surpreso e impressionado com a personalidade e conscientização do Aranha com a questão do racismo, ele não sucumbiu à pressão sem vergonha da mídia em instante algum e deixou esses panacas desorientados. Quando falo de pressão sem vergonha, é que levaram até a torcedora agressora do caso pra programa de futilidades de uma emissora de TV (infelizmente ainda a maior do país, mas sem o poder de décadas atrás) pra fazer firula. O racismo velado (que a gente chama de "cordial") no Brasil ficou escancarado mais uma vez, só que dessa vez com revide à altura.

Como eu disse, eu não sei se eu reagiria dessa forma em relação a preconceito (falta o post sobre a questão regional) pois eu costumo revidar agressões com ironia, mostrando que o agressor é um imbecil pra fazê-lo se sentir mal, mas não é todo mundo que suporta certos tipos de pressão e, por mais que a gente esteja calejado com isso, qualquer pessoa pode estourar. Mas não dá pra negar que a reação firme e briosa do Aranha já é sim um marco histórico contra o racismo, no futebol e no país.

E antes que chegue algum idiota (pois esse é o termo correto pra chamar quem vem falar besteira) vindo com o papo de "o Brasil só fala em futebol e bla bla bla", alguns pontos:

1. O futebol é o esporte mais visto e acompanhado em todo mundo, não é só o Brasil que fala em futebol ou o leva a sério, é uma atividade econômica hoje de peso, só gente muito estúpida querendo posar de "esperto" nega isso e repete mantras de 'radicaizinhos' idiotas com aquela ideia de "futebol ópio da massa". E não é só gente radical de esquerda (sofrendo de esquerdismo) que diz isso, tava cheio de radicalzinho de direita repetindo as mesmas idiotices da dita "esquerda radical" durante e após a Copa do Mundo.

2. O futebol, como a música e outras manifestações culturais/artísticas, é um componente de destaque de um povo, países investiam e investem pesado em atletas em Olimpíadas pra projetar uma imagem de supremacia pro mundo, como o basquete é pros Estados Unidos etc. Então não irei me privar do futebol, e nem ninguém deve, porque um bando de imbecis neste país passaram a malhar tudo no país por questões partidárias mal dissimuladas ou mesmo burrice mal camuflada.

3. Ninguém é forçado a gostar ou assistir futebol, mas quem não gosta tem sim que respeitar quem gosta se querem que os demais respeitem quem gosta de outra coisa, e parar com esses clichês ordinário, de gente estúpida, de que "isso só acontece no Brasil" bla bla bla, o Real Madrid e o Barcelona são espanhóis (esse último até quando eu não sei, rsrsrs) e são máquinas de fazer dinheiro (divisas) pra Espanha. A esse pessoal chato, parem de falar bobagens por não acompanhar o esporte.

4. A imprensa desportiva brasileira junto com a imprensa normal (salvo exceções) é um esgoto a céu aberto. Muito ruim, péssima, só se salvam poucas coisas como a cobertura do vôlei e em alguns casos a cobertura de automobilismo. O que tem de mané comentando futebol é uma festa (de desgraça), é um circo de horrores, fora o horário dos jogos alterado por charminho do Império televisivo de certa emissora do país que contribuiu (pela cobertura ridícula e invasiva que fazem) pro desmantelo da seleção brasileira na Copa (não só nessa como em várias outras). Tá na hora disso acabar.

Deixo aqui meu total apoio ao técnico Dunga. Não sei se ele dará jeito a esta zona que é a CBF e o que se tornou a seleção brasileira, porque se não ganhar título em mundial o técnico de seleção é queimado, mas como desportista e pessoa que tem apego e respeito à camisa da seleção, ele é 100% ao contrário de muito jornalista babaca da mídia brasileira que só fala bobagem sobre o esporte e não conhece nada da história do mesmo. Agora vão à TV criticar o povo, pois é só isso que restou a vocês já que estão isolados depois dessa sequência de palhaçadas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Eichmann antes de Jerusalém (Bettina Stangneth)

Em 1957, um círculo de nazistas na Argentina gravou dezenas de horas de conversas com Adolf Eichmann, com a expectativa de que elas levariam a um livro que refutaria a história estabelecida do Holocausto. Para o desgosto deles, no entanto, Eichmann passou a fazer declarações antissemitas na fita que indicavam claramente que ele desejou exterminar todos os judeus e que a política nazista tinha sido orientada para a Solução Final. Eichmann colocou uma pedra sobre a negação. Bettina Stangneth forneceu a análise mais detalhada e corretamente contextualizada deste ato revisionista suicida que é está atualmente disponível.

Eichmann declarou na fita 17 que "ainda há um monte de judeus curtindo a vida hoje que deveriam ter sido gaseados" (Stangneth, pág. 265). Mais revelador, na fita 67, quando Eichmann erroneamente pensou que a gravação havia sido concluído, ele afirmou que "se 10,3 milhões desses inimigos tivessem sido mortos, então teríamos cumprido nosso dever" (áudio aqui). Um trecho no início daquela mesma conversa identifica estes 10,3 milhões como provenientes do Relatório Korherr e diz que "[se] tivéssemos matado 10,3 milhões, eu ficaria satisfeito, e diria, bom, nós destruímos o inimigo" (Stangneth, p.304).

Em sua análise da guerra, Eichmann põe a culpa pelo fiasco em Weizmann, a quem ele chama de "Führer" da judiaria (ver pág. 11 da apresentação do julgamento T/1393). Ele afirma que "Como as coisas estão agora, desde que o destino pérfido deixou uma grande parte desses judeus vivos, digo a mim mesmo que isto é um fato consumado. Devo me curvar ao destino e providência" (transcrição do julgamento). Eichmann também discute o uso de exaustor de gases de Warthegau, como pode ser visto na página 14 de suas correções nos manuscritos, T/1432.

É, portanto, de admirar que MGK* e outros "revisionistas" evitem essas fitas e transcrições como uma poraga. A frase "eles são forjados" ou "estamos condenados/ferrados" parece apropriada.

*MGK é a sigla pra Mattogno, Graf e T. Kues, três negacionistas de destaque (nos círculos "revis") atualmente.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/09/eichmann-before-jerusalem-bettina.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Eichmann Before Jerusalem (Bettina Stangneth)
Tradução: Roberto Lucena

Capa do livro
Observação: a quem não leu antes, eis minha crítica (na observação deste post) a essa postura da Hannah Arent, que sempre achei furada, sobre o conceito do que ela definiu como "banalidade do mal", que sempre achei fútil e superficial. Mas não é uma crítica recente que eu faço como podem pensar por conta da data do post de 2013. A quem quiser ler os outros posts que citam a Arendt sigam a tag. Que agora a Bettina Stangneth pôs realmente abaixo a ideia distorcida da Arendt, com base nas impressões dela sobre a aparência do Eichmann num julgamento.

E qual é o problema de se manter esse tipo de opinião confrontando nomes que são literalmente endeusados, idolatrados e citados com base em "carteirada" ("quem é você pra contestar este nome consagrado"): justamente este. As pessoas no Brasil se agarram a um nome (geralmente quando citam estados ditatoriais chamando de totalitarismo, outro conceito problemático) que ouvem falar muito e fazem disso uma procissão sem sequer questionar se a afirmação dela procede ou tem sentido.

Toda vez que eu fazia essa contestação dizendo que é no mínimo fútil alguém traçar um perfil de um sociopata com base na dissimulação (certeira) que ele fez no julgamento pra passar por "pobre homem indefeso". A Arendt caiu literalmente na lábia do Eichmann no julgamento dele em Israel que era na verdade um assassino frio como todo nazista fanático, e dissimulado. Não havia banalidade do mal alguma, apenas dissimulação que ela tolamente (por romantismo e idealização) não soube identificar.

É um perigo fazer um comentário assim pois se entra fatalmente no terreno das diferenças de comportamento entre homens e mulheres, que existem, generalizando, pois nem todo homem e mulher se comportam dentro de um padrão preestabelecido embora haja sim uma certa facilidade do lado masculino em perceber certas dissimulações de homens, por um certo ceticismo com gente dissimulada, justamente por sabermos da natureza comportamental mais agressiva e violenta masculina.

A Arendt produziu uma banalização do nazismo com a ideia distorcida dela. Ainda bem que livros como este da Bettina Stangneth, depois de tanto tempo, põe abaixo essa abobrinha de "banalidade do mal". O Eichmann não era um simples burocrata bucólico, com cara de idiota (bonachão), como a Arendt deduziu erroneamente por se ater apenas à dissimulação e aparência dele, ela foi extremamente superficial e genérica ao produzir esse conceito bem furado. Eichmann era um assassino frio, dissimulado, como todo nazista fanático. Toda a máquina de extermínio nazista tinha essa característica, a maioria não entrava na mesma só por serem burocratas, o envolvimento com a ideologia do partido nazi pesava muito.

O que eu já vi de texto em português (do Brasil) citando esses livros da Hannah Arendt como referência sobre totalitarismo, dá desgosto. A crítica deve ser feita pois não é possível que as pessoas sejam tão óbvias a só usarem certos livros batidos (porque só procuram as traduções em português, nem espanhol verificam já que é um idioma próximo e fácil de ler pra quem fala português) pra entender o nazismo sem nem questionar se o conceito está errado ou não. Eu tenho tanta aversão à coisa (a repetição por comportamento de manada provoca certa irritação), que quando vejo o nome Arendt citado com a tal "banalização do mal" eu já paro de ler.

sábado, 20 de setembro de 2014

Descobrem câmaras de gás no campo de extermínio de Sobibor numa escavação arqueológica

Escavações no local em 2009.
Foto: Yad Vashem
AJN.- "Este descobrimento tem uma grande importância na investigação do Holocausto", disse o Dr. David Silberklang, investigador do Yad Vashem.

Aproximadamente 250.000 judeus foram assassinados nesse lugar, o qual os nazis demoliram e cobriram com árvores para encobrir seus crimes. Também se encontraram bens pessoais das vítimas.

Uma escavação arqueológica na Polônia descobriu a localização das câmaras de gás no campo de extermínio de Sobibor, anunciou hoje o Yad Vashem, segundo o jornal israelense The Jerusalem Post.

Cerca de 250.000 judeus foram assassinados em Sobibor, mas em 14 de outubro de 1943, uns 600 presos se rebelaram e escaparam brevemente. Entre 100 e 120 prisioneiros sobreviveram à revolta e 60 deles à guerra. Depois do levante do campo, os nazis arrasaram a zona e plantaram pinheiros para ocultar seus crimes.

A escavação arqueológica no lugar, que é conduzida por uma equipe internacional de especialistas desde 2007, descobriu milhares de pertences pessoais dos presos, incluindo joias, perfumes, medicamentos e utensílios.

Esta semana foi descoberto um poço que foi utilizado pelos prisioneiros do Campo 1, onde ocorreu a revolta. Esses também continham objetos pessoais que pertenciam a prisioneiros judeus já que os guardas alemães haviam arrojado basura nele quando o lugar estava sendo destruído.

O Dr. David Silberklang, investigador do Instituto Internacional para Investigação do Holocausto, do Yad Vashem, disse: "O descobrimento da localização exata das câmaras de gás no Campo de Sobibor tem uma grande importância para a pesquisa do Holocausto".

Além disso, acrescentou que era importante entender que "não há restos de nenhum judeu que trabalhou na área das câmaras de gás, e portanto, esses resultados são os únicos que restaram dos que foram assassinados".

Fonte: AJN (espanhol)
http://www.prensajudia.com/shop/detallenot.asp?notid=39513
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Escavações revelam câmara de gás em campo de concentração na Polônia (blog A Vida no Front)

Mais detalhes em:
Archaeologists unearth hidden death chambers used to kill a quarter-million Jews at notorious camp (Washington Post, EUA)
Archeological Digs Reveal Sobibór Gas Chambers (Yad Vashem)
Archaeological Excavations at Sobibór Extermination Site


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Besa, o código de honra albanês que salvou centenas de judeus na Segunda Guerra Mundial

Nesses dias nos quais o fanatismo religioso vem demonstrando a miséria a que pode chegar aos que são chamados "animais racionais" - nada muito novo abaixo do sol - , trago-lhes esta história na qual diferenças religiosas ficaram de lado para que vigorassem valores como a honra, a solidariedade, a compaixão - tudo isso é precisamente o Besa. [Besa e shqiptarit nuk shitet pazarit, traduzindo: "a honra de um albanês não pode ser vendida ou comprada num bazar"]

Obs: Besa (Wikipedia, verbete em inglês)

No começo da Segunda Guerra Mundial, a Albânia era uma monarquia dependente econômica e militarmente da Itália. Assim sendo, quando os italianos a ocuparam e o Rei Zog I fugiu - com isso, com todo o ouro que pode roubar - as coisas mudaram. Nesses tempos, o número de judeus na Albânia chegava apenas aos 200... quando terminou a guerra eram mais de 3.000. Os judeus que fugiram dos países ocupados pelos nazis encontraram refúgio na Albânia... um país de maioria muçulmana. Os organismos governamentais proporcionaram documentação falsa às famílias judias que lhes permitiam se misturar ao resto da população e os albaneses proporcionaram casas e seus escassos recursos para acolhê-los.

As coisas se complicaram em 1943 quando foram os nazis os que, a pedido de Mussolini, tomaram a Albânia. Igual ao que fizeram no resto da Europa ocupada, os nazis solicitaram às autoridades locais a lista dos judeus residentes no país... mas obtiveram um não como resposta. Por que um país de maioria muçulmana se arriscou a salvar os judeus ponde em jogo sua própria vida?
Não fizemos nada especial. Isto é Besa - assim respondem os albaneses.
Segundo o professor Saimir Lloja, da Associação de Fraternidade Albano-Israel,
Besa é a regra de ouro, é um código moral, uma norma de conduta social, além de ser parte de uma antiga tradição. [...] Besa se trata, em essência, de não ser indiferentes ante alguém que sofre ou é perseguido. É uma autoexigência moral que é pedida a cada albanês que viva honestamente e que - chegado a estes casos - também se sacrifiquem.
Ali Sheqer Pashkaj, fotografado por Norman Gershman. Seu pai, também chamado Ali,
salvou o jovem judeu Yasha Bayuhovio, com sombreiro mexicano em uma das fotos.
Herman Bernstein, embaixador dos Estados Unidos na Albânia nos anos 30, escreveu:
Não há rastro de nenhum tipo de discriminação contra os judeus na Albânia [...] Albânia passou a ser um lugar raro na Europa hoje em dia, onde não existe o ódio nem os preconceitos religiosos, apesar dos albaneses mesmos serem divididos em três religiões.
Por Javier Sanz em 16 de setembro de 2014

Fonte: Historia de las Historias (site espanhol)
http://historiasdelahistoria.com/2014/09/16/besa-el-codigo-de-honor-albanes-que-salvo-a-cientos-de-judios-en-la-segunda-guerra-mundial
Título original: Besa, el código de honor albanés que salvó a cientos de judíos en la Segunda Guerra Mundial
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Besa: A Code Of Honor (Yad Vashem)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A história dos que não traíram o Brasil. Militares perseguidos pela ditadura revelam violências sofridas após o golpe de 1964

Militares perseguidos pela ditadura revelam violências sofridas após o golpe de 1964

Sete oficiais depuseram à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul

Os militares perseguidos pela ditadura no Rio Grande do Sul tiveram pela primeira vez a oportunidade de serem ouvidos sobre as graves violações de direitos humanos que sofreram durante a ditadura. Em audiência pública realizada em Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira (15/09), sete ex-integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, depuseram às Comissões Nacional e Estadual da Verdade.

Rosa Cardoso, membro da CNV e coordenadora do grupo de trabalho "Militares Perseguidos", Paulo Ribeiro da Cunha, professor da Unesp e pesquisador responsável pelo grupo, e Carlos Frederico Guazzelli, presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul, colheram os depoimentos e receberam de todas as vítimas detalhes sobre a perseguição sofrida no regime militar.

Em um dos depoimentos mais emocionados, o capitão do Exército Constantino José Sommer, de 80 anos, relembrou como foram as tentativas frustradas do golpe por parte dos militares em 1954, 1955 e 1961, até conseguirem derrubar o governo legal em 1964. Sommer contou que fazia parte de uma lista de considerados comunistas e inimigos dos golpistas.

Segundo o capitão, os mais visados eram os que estudavam ou liam jornais e fontes de cultura ditas de esquerda. Ainda antes do golpe, Constantino foi chamado diversas vezes pelo Serviço Secreto (S2) para explicar o que sabia sobre Che Guevara. O militar perseguido se manteve sempre em silêncio, o que lhe custou punições como detenção no quartel.

Sommer relatou que ficou preso no quartel de artilharia antiaérea, em Caxias do Sul, por 61 dias, logo após a golpe. Na cela, ele e mais 17 militares que lutaram contra a tomada do poder pelas FFAA sofreram terror psicológico e ameaças de morte. O desespero e a angústia se tornaram presentes na vida de todos, principalmente após o assassinato do Sargento Venaldino Saraiva Peres, ocorrido dentro do quartel. Além de passar dois meses preso, o Capitão ainda teve a sua poupança confiscada e a casa revirada pelos golpistas.

"Após sair da prisão, nos foi recomendado que não podíamos sair de casa, nem entrar nas unidades militares de origem, pois éramos vistos como persona non grata e comunistas perigosos. Diante dessa penúria, sem crédito, sem conta bancária e sem vencimentos, passei a trabalhar num terreno que havia comprado, contíguo à casa da minha sogra, com quem morava com a família. Já tinha nessa altura três filhos e passei a cultivar batata, milho e aipim para o sustento da família", relatou o capitão.

Além de Sommer, também relataram a perseguição sofrida os capitães Wilson da Silva e Almoré Cavalheiro do Exército, o coronel Avelino Iost, da Força Aérea Brasileira, o Sub-oficial da Marinha Avelino Capitani, o major Melquisidec Medeiros, da Aeronáutica, e o filho do coronel Alfredo Daudt da Aeronáutica, Alfredo Daudt Júnior.

Rosa Cardoso fez questão de destacar que os militares foram a categoria, proporcionalmente, mais perseguida pela ditadura. Disse que não se tem números exatos, mas que foram cerca de 7,5 mil, entre Exército, Marinha, Aeronáutica e Brigada Militar.

A coordenadora do grupo de trabalho explicou como serão aproveitados os depoimentos e relatórios entregues pelos militares perseguidos. "Primeiro, eles vão integrar o nosso relatório conclusivo da Comissão Nacional da Verdade, que será apresentado agora em dezembro, à presidenta Dilma Rousseff. E, de outra parte, ficam como um acervo para historiadores e pesquisadores", afirmou.

JUSTIÇA -Todos os fatos pesquisados e investigados ficarão à disposição também da Justiça. "Se eu não acreditasse que todo esse trabalho ajudará de alguma forma na revelação desses crimes e na responsabilização criminal de quem ainda está vivo, eu não teria aceitado o convite do Governador do Rio Grande do Sul para fazer parte da Comissão Estadual da Verdade. Existe sim essa possibilidade", ressaltou Carlos Frederico Guazzelli, presidente da CEV-RS.

O pesquisador Paulo Ribeiro da Cunha disse que os depoimentos dão voz a esse grupo de militares perseguidos, na medida em que eles são veiculados pela imprensa e ficam disponíveis na internet. Disse também que a presença dos oficiais possibilita um canal positivo de diálogo com a sociedade. Cunha explicou que "alguns depoimentos ainda serão objeto de audiências reservadas, porque aqui os depoimentos são limitados pelo tempo, mas é muito bom que eles venham à tona para que eles mostrem seus rostos e a sua história. Essa é uma oportunidade muito positiva, mesmo passados tantos anos", concluiu.

Confira como foi a Audiência pelo link da nossa transmissão online:
https://www.youtube.com/watch?v=7_EZ08vwjdk

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação


Mais informações à imprensa: Fabrício Faria
(61) 3313-7324 O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Acompanhe a CNV nas redes sociais:

www.facebook.com/comissaonacionaldaverdade
www.twitter.com/CNV_Brasil
www.youtube.com/comissaodaverdade

Fonte: site da Comissão Nacional da Verdade (CNV)
http://www.cnv.gov.br/index.php/outros-destaques/540-militares-perseguidos-pela-ditadura-revelam-violencias-sofridas-apos-o-golpe-de-1964
Link2



Comentário: a quem não entender a correlação do assunto do post com o blog, já que faz tempo que foi publicado e o povo (generalizando) tem preguiça de checar as tags (marcadores, História do Brasil), ler o post antigo abaixo que explica isso:
História do Brasil e "revisionismo" (negacionismo) do Holocausto

Considero que o grande combustível pra proliferação de racismo e preconceito no Brasil, além do problema educacional, é sobretudo a ignorância do povo sobre a história do próprio país, onde proliferam mitificações regionais e negacionismos de outro tipo como a tentativa de certa direita no Brasil tentar abrandar a imagem do regime de exceção de 21 anos (1964-1985) e que acaba caindo na boca de imbecis ignóbeis que acham que estão chocando "sendo do contra", quando na verdade chocam pela burrice e moral torta.

Antes que alguém possa perguntar o porquê do acréscimo do título ("A história dos que não traíram o Brasil"), já que o original é mais curto: eu considero todos (tirando os ignorantes que não tinha consciência na época do que faziam) os cabeças dessa ditadura e os que participaram ativamente (civis e militares), um bando de traidores do país da pior espécie, um bando de capachos de outros países, títeres covardes e alpinistas sociais, que deveriam ter vergonha de bradar "orgulho" dessa traição lesa-pátria (rasgaram a constituição e a legalidade no país pra usufruírem do poder com aval dos Estados Unidos) ao invés de ficar posando de raivoso quando vão dar depoimento nessa comissão. Sou contra essa lei de anistia, isso é lei de impunidade, principalmente da mídia e empresas que participaram do regime, deveriam revogá-la e punir principalmente as empresas que foram suporte deste regime.

É importante mostrar a todos, pois este não é um assunto conhecido de todos no país, que a ditadura e os golpistas (traidores) perseguiram milhares de militares com HONRA, patriotas, legalistas, pros golpistas praticarem alpinismo social (algo desprezível) e ser capacho de outras potências, e ainda bradam que são "nacionalistas", não chegam a ser isso, são traidores mesmo e burros, sem consciência de pátria ou não e civismo, "nacionalistas" só se for do tipo de lixo como os nazistas e fascistas foram, que destruíram seus próprios países pra reinarem no poder.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sobre a polarização e radicalização política no Brasil. Adendo do post de "perdas soviéticas na Segunda Guerra"

Isto foi um adendo ao post "Sobre as perdas soviéticas da Segunda Guerra Mundial", em virtude de quem sempre se toca no assunto União Soviética, comunismo, socialismo etc, isto acaba atraindo uma patrulha ideológica de cunho autoritário pra atenuar, relativizar ou fazer panfletagem antiesquerda em torno dessas questões.

Em outros tempos esse tipo de alerta não se faria necessário, mas como os meios de comunicação do Brasil - como a maioria sabe - são controlados por meia dúzia de famílias que controlam quase tudo o que é repassado de informação ao país e com viés político claro e forte, "travestido" de jornalismo e com ataques diários requentando este terrorismo midiático da Guerra Fria ignorando a realidade do mundo atual e da conjuntura externa, além de mais um punhado de sites radicais de direita que não têm o menor constrangimento em distorcer etc, faz-se necessário o alerta.

Não dá mais pra simplesmente fazer de conta que não está havendo nada no país, esta polarização vem em uma crescente, inflamada por publicações como as da Revista Veja, da TV Globo e outros, onde vários desses veículos de mídia serviram à ditadura de 1964-1985 e continuam com a mesma politicagem lacerdista e udenista de décadas atrás. Ou seja, não evoluíram e agem contra o país.

Pra quem não tem familiaridade com os termos "udenismo" e "lacerdismo", são equivalentes, lacerdismo vem de Carlos Larcerda, um antigo político carioca que insuflava discursos golpistas, moralistas "anticorrupção", desprovidos de crítica séria (até porque isto era um instrumento pra atacar rivais, com aval da mídia) para desestabilizar governos democráticos eleitos, principalmente se tinham um viés nacionalista (economicamente falando). No Brasil quem geralmente tem um viés mais nacionalista são os partidos de esquerda, mais precisamente os maiores e mais representativos, os grupos menores continuam sua eterna caricatura na TV não tendo respaldo popular. Por isso acho engraçado quando vem ou vinha integralista criticar o povo por ser de esquerda.

O intento de Lacerda era sempre tornar o Brasil alinhado e títere principalmente dos Estados Unidos, ele atacava à soberania do país e partilhava do pensamento de que o Brasil não deve ser independente ou ter uma política independente e soberana, que eu costumo chamar de vassalagem, que no sentido que eu uso é mais sinônimo de submisso, servo, que tem origem no termo original.

A UDN foi o partido auxiliar do lacerdismo, na verdade partilhavam do mesmo ideário, a UDN usava o mesmo discurso histriônico, golpista, desestabilizador (na guerra fria isso tinha um peso fora do comum), anti-nacionalista e que influenciava uma classe média manobrável, despolitizada, antipatriótica, e por que não? Estúpida. E o fenômeno persiste até hoje em pleno século XXI, sinal de que amplos setores da sociedade brasileira não evoluíram politicamente em nada, continuam escravos de um mundo anacrônico e paranóide, com um sentimento antipatriótico muito forte que usa o "perigo do comunismo" como forma de polarizar o país porque o povo se deixa levar por esse discurso descerebrado. Quem se deixa levar por este tipo de discurso fascistoide e histérico está sim bancando o idiota, ainda mais hoje que muita gente tem informação sobre o que levou o Brasil a viver sob regimes de exceção e da eterna intromissão de outros países na política interna do Brasil, principalmente quando o assunto é energia e recursos naturais e estratégicos do país: petróleo, Petrobras, minérios, usinas hidrelétricas etc.

Curto e grosso: hoje só é ignorante, politicamente, quem quer. Quem lê porcaria ao invés de procurar informação acurada. Não tem desculpa dizer "eu não sei", com o Google à disposição e ferramentas diversas (de qualidade) pra ler.

Eu não conto aqui com apoio de gente de esquerda tampouco de direita, uns se omitem ou se escondem porque acham, estupidamente, que qualquer coisa ligada a Holocausto é "defesa de Israel". No fundo estão seguindo ladainha "revi" (de extrema-direita) mesmo achando que não. De outra parte, tem um pessoal de direita muito chato que toda vez fica misturando conflito no Oriente Médio com Israel com essas questões da segunda guerra etc, isto quando não rola covardia por ter medo de criticar os "revis" abertamente de qualquer vertente política, um medo que não se justifica, trata-se de fobia. Este tipo de "ajuda" (entre aspas, se é que dá pra chamar isso de ajuda, pois a maioria nem se manifesta ou participa discutindo, mas fica lendo o blog), é realmente dispensável.

Como ficou muito extenso o acréscimo, resolvi colocá-lo em um post exclusivo pra não atrapalhar a leitura do post com tradução do texto do Roberto Muehlenkamp no Holocaust Controversies com o link e estimativas do blog esloveno Crappy Town.

Segue abaixo o adendo do dia 11.09.2014 sobre o post: Sobre as perdas soviéticas da Segunda Guerra Mundial.

Aviso: Irei transferir este post para o dia 17.09.2014
______________________________________________

E um acréscimo meu: estou de fato e com vergonha de ter que ponderar e comentar sobre esse clima de polarização/radicalização interna no Brasil (mais uma vez, mas farei sempre que achar necessário), pela quantidade de gente estúpida que aparece escrevendo idiotice (extremismo) na web.

Não se trata de uma pessoa ou duas e sim de dezenas, milhares ou até milhões que comungam disto, algo que inevitavelmente chama atenção. Em posts sobre disputa política a gente perde a conta de quantos manifestam este comportamento. Como o acesso à internet no país aumentou, obviamente que emergiu um lodaçal de ódio e ignorância prepotente com isso e não serei eu a dar jeito, tampouco tolerar, apenas não tenho paciência pra bater boca com gente desse tipo ao contrário de muita gente no país que acha que as pessoas têm que ter paciência pra discutir com gente assim. Ninguém tem que aturar isto. Ponto.

Voltando ao assunto, há um problema de livros panfletários como o "Livro negro do comunismo" que inflam dados e distorcem (bastante cultuado no Brasil e em países onde há uma paranoia com o assunto, fazendo um revival da Guerra Fria), uma vez que é um livro bastante criticado justamente por ser panfletário, mas que obviamente quem se identifica com o radicalismo de direita o tem como "livro de cabeceira", distorcem ainda mais o problema ao invés de esclarecer. Mas pra esse pessoal "vale mais" pregar que aprender ou entender.

Há "livros negros" de todo tipo, ao gosto de cada um, uns bastante criticados, outros menos. No "Livro negro do capitalismo" (existe esse também) há a cifra/estimativa de 100 milhões de mortos também que é a cifra apregoada no livro "rival".

Por que eu ressalto isso? Estou partindo do pressuposto que a maioria que lê este blog ainda não descambou pra algum tipo de sectarismo sem volta, apesar deu mesmo já ter alfinetado partidos de forma sectária (quando a paciência encurta, a gente radicaliza como desabafo porque essa pregação enche o saco). Mas só há espaço pra diálogo com quem não vestiu a roupa do extremismo, se vestiu não vale vir reclamar de extremismo de "revis", até porque não são os únicos grupos radicais problemáticos no Brasil deste tipo. Os "revis" no Brasil surgem de uma cultura radical de direita que é resquício da ditadura militar no Brasil (1964-1985) e mesmo antes dela, não são algo "descolado" da História do país como alguns querem tentar caracterizá-los. O udenismo (que prega discurso moralista, irracional e extremado) sempre teve um relevo cultural no Brasil, mesmo sendo um atraso intelectual e político da pior espécie, e continua vivo até hoje.

Há um radicalismo de direita crescente no Brasil que emburrece o país, corrói a democracia com crendices neuróticas e cria um ambiente de burrice e fanatismo generalizado destruindo gradativamente o próprio espaço da internet, que não havia isto (nesta proporção) até a explosão do Orkut que coincidiu com o aumento de acessos à internet.

Eu estou farto disso e não pegarei leve com quem panfleta ou manifesta esta postura anti-democrática demonizando por se tratar do mesmo problema dos "revis". Não há diferença de revista extremista como a Revista Veja (dando nome aos bois), que fica demonizando grupos de esquerda democráticos com mentiras pra grupos explicitamente fascistas saudando o fascismo e afins.

A raiz do problema é a mesma, uma cria ambiente propício ao outro. Capas como esta (publicação de 2002 com um cão com três cabeças com Marx, Lênin e Trotsky, alusivo ao "perigo do PT" chegar à presidência, o mundo não acabou por isso como "previam") você encontra fácil coisas similares em blogs neonazis e fascistas. A única diferença é que os fáscios "revis" em geral são antissemitas, e a Veja fica "apenas" no discurso anti-esquerda que é partilhado também por "revis".

Já bani jornais daqui por este radicalismo, por publicação de imundícies (cortei todos os posts e substitui por originais de outros países), o texto aberrante foi descrito neste texto, e sempre tem espaço pra mais um ser banido. Este tipo de publicação não faz falta alguma.

Por sinal, o texto citado acima (sobre aquele caso da Mayara Petruso e preconceito regional) até merecia um post só pra mostrar o discurso imbecil publicado no jornal citado no link. A autora do texto se diz "neta de nordestinos", como se isto desse aval (autoridade) a alguém a escrever besteira de forma "isenta" sobre o assunto. E não disse o estado de origem dos avós. Guerra regional? Só se for a que certa elite de alguns estados do país tentam incitar, e depois quando o tempo fecha ficam posando de "vítimas" por frouxidão (provocam e não aguentam o tranco).

Em resumo: não sou tolerante com intolerantes. Não faz falta alguma textos sobre nazismo e segunda guerra que saem em publicações no Brasil, a maioria deles saem publicados antes fora do país em espanhol, inglês, francês e até português (em jornais portugueses), com muita coisa melhor. Graças a internet ninguém hoje no Brasil precisa se restringir a ler a mídia decadente do país (com raras exceções).

Requentam, de forma irresponsável e inconsequente, o discurso paranoide da guerra fria contra a esquerda, demonizando grupos democratas etc, achando que há controle sobre isso e não há. Foi isso que levou o crescimento de grupos de extrema-direita na Europa.

A coisa é tão bizarra que nem nos EUA, que foi o país principal que trombou de frente com a União Soviética na Guerra Fria, esse tipo de publicação ou propaganda faz mais "sucesso" hoje. O Tea Party nos EUA, que algo próximo da postura desses grupos radicais tupiniquins, é visto como aberração naquele país por gente normal. Mas ainda acho o "Tea Party" do Brasil chega a ser pior. Pode ser por uma questão idiomática porque a ofensa em português sempre irrita mais que aquela escrita em outro idioma.

É este cenário que abre espaço pra proliferação de grupos radicais de vários tipos que depois a mesma população, que faz vista grossa ao problema e até vai "na onda" estimulando, se pergunta como esses "fenômenos" surgem e fica atordoada por não conseguir mais falar de política sem ser atacada. É o famoso "o mal que você propagou se voltará contra si".


As coisas são interligadas, não existe o extremismo sujinho e o limpinho, todos são problemáticos. Alguns estão em alta e outros não. Grupos ultraliberais no Brasil incitam este tipo de ranço antidemocrático e anti-esquerda na internet, com teorias da conspiração e paranoia, que é aproveitado por outros grupos de extrema-direita não-liberais. Há bastante tempo. O tubo de ensaio disto foi o Orkut, mas hoje a coisa é difusa.

Este assunto da direita norte-americana será abordado aqui, mostrarei as divisões da direita dos EUA e como estão interligadas, principalmente com os ditos "libertários" que é uma facção exótica nos EUA e radical (extremada). Muita gente acha que a direita dos EUA não é antissemita ou algo parecido, mas há uma vertente bastante racista e antissemita por lá que não está tão à margem assim de partidos daquele país.

Essa visão do problema nos EUA só se torna confusa no Brasil e em outros países por conta da aliança política, econômica e militar entre os Estados Unidos e Israel, que se se levar em conta o que essa outra direita radical de lá prega, é uma aliança que não faz sentido algum.

Qual a razão do comentário extenso? o post é sobre perdas soviéticas. Já vi gente reclamar porque estão "falando bem" da União Soviética, como se retratar fatos que ocorreram fosse falar bem de algo. Foi sobre isto que comentei acima: fanatismo e cegueira. O povo se tornou fanático e perdeu a vergonha de sê-lo e acha que todo mundo tem que aturar esta postura cretina. É esta a razão deste comentário.

Há grupos no Brasil (no Orkut aparecia de rodo) que ficam pregando isso como se fossem "tábua de salvação" política, aqui mesmo já fui atacado verbalmente por um que se dizia "liberal-conservador" seguidor de "filósofos" que, ao invés de discutir o assunto do post, começou a fazer pregação bitolada como se fosse pastor de Igreja e a gente o público a ser "catequizado", e obviamente acabou tomando toco pra parar de babaquice.

Se dão fermento pra esse tipo de coisa crescer, depois não vale o povo chiar reclamando da ascensão disto.

domingo, 14 de setembro de 2014

As divisões da Direita Norte-americana: Direita Anticomunista, Racista, Cristã e Neoconservadora

Ao contrário do que a mídia eletrônica e formal no Brasil dissemina sobre o assunto, ou mesmo o que não comenta, até porque não tem interesse em esclarecer nada historicamente ao povo e a maioria só panfleta, distorce e não informa, segue abaixo as divisões da Direita norte-americana pra ficar como registro já que, se aqui ainda não aparece muita gente que alega ter este perfil político torrando a paciência, no Orkut e no Facebook isso abundava, e são pessoas que torram a paciência de um (bem mais que um "revi").

O problema é que virou febre na internet certos sites extremistas e grupos exóticos como alguns que havia no Orkut devotados a um astrólogo que se dizia "filósofo". Fenômeno não costumeiramente citado na grande mídia (apesar da mesma atualmente adotar este tom) para não ser rotulada de tresloucada, isto criou uma cultura de ódio e intolerância na web que não havia antes do Orkut (quando este tipo de problema começou a se disseminar pra valer) e que já contagia as ruas.

É preciso ter uma ideia clara e precisa sobre definições e conceitos sobre estas divisões históricas pra não ficar girando em círculos em embromação de gente radical que, ou só quer demonizar grupos políticos legítimos, ou fazer pregação idiota sem base política e histórica alguma.

Um exemplo? Leiam novamente esta discussão que começou sobre um assunto e acabou em pregação política de "catequese". O que é uma bobagem sem tamanho, não tem gente aqui pra ser "catequizada".

Como é possível discutir a sério com gente assim? Xingar todo mundo sabe, eu poderia ter xingado e começado a ironizar os comentários pra pessoa perder a calma e escrever mais bobagem, mas não o fiz pra ver até onde a pessoa iria "pregando". Mas não é o tipo de discussão que interesse ou preste pois este pessoal costuma negar que fascistas, por exemplo, sejam de extrema-direita.

Parte da ideologia nazista foi calcada não só em antissemitismo como em cima do ódio antiesquerda ou como muitos chamam, anticomunismo, que pode adquirir qualquer interpretação dependendo do radicalismo de cada pessoa ou mesmo informação. Uma pessoa pode ser de direita, Churchill era e nem por isso fazia esse tipo de pregação estúpida, isto não implica que compartilhe deste tipo de obsessão, intolerância e demonização rasteira que só tem espaço em países onde há um problema sério de leitura, educação e tolerância.

Recentemente apareceu um romeno radicado no Brasil escrevendo um monte de cretinice antissemita com este tipo de perfil político. Esse tipo de extremismo que não é caracterizado abertamente como fascismo, costuma ser a porta de entrada pro mesmo.

Como disse aqui ("Tão liberal e tão amigo de Salazar. O lado obscuro e "oculto" da relação entre Fascismo e Liberalismo"), este é só um post de uma série pra mostrar as ligações nazistas e fascistas da direita política antiga com o darwinismo social e liberalismo radical que produziram o nazifascismo. Haverão outros posts como estes:
O racismo de Murray Rothbard: Hutus e Tutsis
Richard Widmann, Harry Elmer Barnes e a Operação Barbarossa

Os liberais (Democratas) não foram citados neste post pois na divisão política dos EUA costumam ser retratados como "esquerda" embora não sejam vistos como esquerda na Europa, América Latina (Brasil) e muitas partes do mundo. A diferença entre Democratas e Republicanos nos EUA não é tão grande assim ao contrário do que muita gente prega.

A matriz ideológica central do nazismo era o darwinismo social e racismo exacerbado, herança do liberalismo clássico inglês e dos EUA, informações que grupos de Direita geralmente costumam omitir e negar (quando não desconhecem). O liberalismo radical quase sempre desemboca em regimes autoritários ou crises sociais sérias, causadas pelo caos econômico que produz empobrecendo Estados, aumentando desigualdades sociais e concentrando riquezas, vide a atual crise nos EUA e Europa onde vários grupos de extrema-direita têm ascendido politicamente como "resposta" a isto (resposta que todo mundo sabe aonde vai dar), principalmente na Europa onde existe um resíduo forte da direita de cariz fascista.

Trecho do livro "Unraveling the Right. The New Conservatism in American Thought and Politics", editado por Amy E. Ansell, minha tradução:

O que é certo sobre a Direita? (What Is Right About the Right?), pág. 18
"Esta conceituação da Direita pressupõe uma série de crenças que se estendem ao longo de muitas continuidades e, portanto, desafia o conceito de que existe um "extremista" 'ou "radical" de Direita que está fora e à parte do mainstream do sistema político. Racismo, sexismo , homofobia e antissemitismo - junto com outras formas de ideologia supremacista - não são de domínio exclusivo de grupos de ódio militantes organizados, mas também são encontrados na cultura do mainstream e da política. O autoritarismo pode assumir uma forma individualizada, tal como um linchamento da Ku-Klux-Klan ou violência contra gays, como pode aparecer em um ambiente institucional, como na passagem de leis draconianas de drogas ou de legislação anti-imigração (promovida em meados dos anos 1990 tanto por políticos Republicanos e Democratas).

Em todos esses exemplos, os temas do preconceito, supremacia e etnocentrismo também estão presentes. Temas adicionais que emergem de um estudo da Direita política dos EUA incluem o nativismo, crenças religiosas ortodoxas (principalmente cristãs), hierarquia de dominação masculina das estruturas das famílias, pelos homens da família, apoio ao capitalismo desregulamentado de livre-mercado, individualismo inflexível e crenças em mitos de subversão conspiratórios e bodes expiatórios.

A diversidade dentro da Direita pode ser confusa, e há ainda uma batida recorrente das muitas "melodias" da Direita - o problema da igualdade. Sara Diamond propôs uma definição enganosamente simples mas abrangente da Direita política: "Ser de extrema-direita significa apoiar o Estado em sua capacidade de impor a ordem e se opor ao Estado como distribuidor da riqueza e poder para a maioria e mais igualdade na sociedade."

Usando esta definição e visão da Direita em termos de sua mobilização social e política sobre certos temas centrais, Diamond em "Roads to Domination" (Estradas para a dominação) dividiu a direita norte-americana entre a Segunda Guerra e o fim da Guerra Fria em quatro movimentos principais: a Direita anticomunista, a Direita racista, a Direita Cristã e os neoconservadores. Cada um desses setores tiveram adeptos que variavam do moderado ao militante, desenvolvendo várias metodologias de estratégia e táticas, destacando diferentes temas em uma matriz infinita de combinações individualizadas. E que certas visões de movimento político e social de uma extrema-direita particular serviram como indutor do funcionamento legitimado do Estado que dependiam de suas principais demandas.

Como Diamond e outros documentaram, há uma dinâmica relação entre os vários setores da Direita. O ativista de Direita coloca o conservadorismo acima da militância e da ideologia, simultaneamente pressionando os liberais a migrar pro centro e recuar. Um ativista vigoroso da Direita abre oportunidades de recrutamento para a extrema-direita. Ao mesmo tempo, os excessos dramáticos da extrema-direita fornecem um abrigo para vitórias ideológicas da luta do ativista e conservador de Direita e os faz parecer mais razoáveis.

Diamond apontou que os distintos setores da Direita são às vezes apoiadores do sistema e às vezes oposição ao sistema. Eles formam alianças mutáveis ​​com base em objetivos comuns, que variam com o tempo e o objetivo/tema, "Este é um conceito muito útil uma vez que os mesmos tipos de grupos paramilitares de extrema-direita ajudaram agências governamentais a espionar dissidentes dos direitos civis e antiguerra nos anos 1960, também estavam ocupados formando milícias antigoverno armadas e explodindo prédios federais na década de 1990.

É errôneo concluir que porque há temas frequentemente partilhados na Direita, que todos os grupos de direita atuam juntos. Por exemplo, o grupo conservador Heritage Foundation é um crítico de longa data da rede de extrema-direita LaRouche, enquanto alguns conservadores tradicionais são ofendidos pelas mudanças radicais propostas pelos ativistas mais reacionárias e ultraconservadores da Nova Direita. As opiniões da extrema-direita, tanto as do ativista radical como as do conservador de direita podem giras sobre a covardia e fraqueza ou sobre os agentes ativos da conspiração global para escravizar patriotas norte-americanos brancos.

Grupos de extrema-direita como a rede LaRouche, o Liberty Lobby, e o movimento de Identidade Cristã (Christian Identity) tentam se juntar aos ativistas mais moderados de Direita e coligações conservadoras, mas a culpa em torno da associação é antiética e imprecisa, apesar de sua popularidade como um fundo de arrecadação de recursos via mala direta por grupos de vigilância de liberais. Não é preciso presumir que nem todos os conservadores estão numa ladeira escorregadia em direção ao reacionarismo, ou que todos os reacionários estão inevitavelmente ligados a uma corrente em direção ao fascismo. As migrações ocorrem, mas elas ocorrem em ambas direções, assim como nos grupos de esquerda."

Tradução: Roberto Lucena
Observação: o livro da capa (o primeiro) se chama White Protestant Nation (The Rise of the American Conservative Movement), de Allan J. Lichtman. Seguem as resenhas:
1. White Protestant Nation (The Rise of the American Conservative Movement) - Grove Atlantic
2. "White Protestant Nation," by Allan J. Lichtman - Chicago Tribune
3. New Book by Historian Allan Lichtman Explores Roots of Conservative Movement - SPLC
4. 2008 Nonfiction Finalist White Protestant Nation, by Allan J. Lichtman - Critical Mass

sábado, 13 de setembro de 2014

Propaganda antissemita culpou judeus por derrota na Primeira Guerra Mundial

Sempre discriminados, judeus alemães viram na Primeira Guerra a chance de finalmente provar seu patriotismo. Mas a propaganda antissemita fez deles bodes expiatórios para a derrota, preparando caminho para o Holocausto.


O soldado está sozinho na trincheira, de feição séria e rifle em punho, mirando o horizonte longínquo, lá onde o inimigo aguarda. Contudo, de acordo com esse cartão postal antissemita da Áustria, de 1919, o suposto "perigo verdadeiro" se encontra às suas costas. Uma figura vestida de branco se aproxima por trás, empunhando uma faca. Sorridente, ela se prepara para apunhalar o soldado, "traiçoeiramente, pelas costas".

Lenda da "punhalada pelas costas"

Mesmo sem a estrela de Davi no chapéu ou sem peiot (cachos laterais característicos dos ortodoxos), para os alemães e austríacos da época estava mais do que evidente que o suposto assassino traiçoeiro, nesse cartão-postal difamador, era um judeu. Repletos de ódio e preconceitos, os antissemitas divulgavam em seus panfletos e desenhos sempre os mesmos estereótipos desumanizadores: com os supostamente típicos lábios carnudos e nariz grande "de judeu".

Além disso, o desenhista do cartão-postal retrata a figura, evidentemente masculina, com vestido e seios de mulher. Isso porque, para a propaganda antissemita, os judeus eram covardes, traidores e – justamente – "afeminados". Contudo é o gesto anunciado neste cartão-postal que representa o maior – e completamente falso – mito surgido após o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918: a "lenda da punhalada pelas costas".

Segundo a versão do herói de guerra e futuro presidente da Alemanha (1925 a 1934) Paul von Hindenburg, o Exército alemão permanecera invicto no campo de batalha, mas teria sido "apunhalado nas costas por oposicionistas apátridas". O fato é que durante anos a propaganda alemã prometera vitória à população, mas quando despontou a ameaça da derrota, militares e políticos responsáveis quiseram se eximir de culpa. E logo se encontrou um bode expiatório: os judeus.

Cartão postal antissemita de 1919
Patriotismo e judaísmo

Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914, o então imperador Guilherme 2º declarara: "Para mim, são todos alemães!". Muitos judeus torceram para que a afirmação se provasse verdadeira. Até então, apesar da igualdade atestada por lei, os judeus da Alemanha costumavam ser tratados como cidadãos de segunda classe. Por toda parte, esbarravam em discriminação e rejeição.

Caricatura "Traição de Judas" ilustra
mito da "punhalada pelas costas"
Era praticamente nula, por exemplo, a presença judaica no alto escalão do Exército. Assim, com a eclosão da guerra, muitos acreditaram que teriam a chance de provar seu patriotismo e refutar os odiosos preconceitos antissemitas.

"Aos judeus alemães! Nesta hora decisiva para seu destino, a pátria convoca todos os seus filhos a se alistarem!", conclamava, por exemplo, a Associação Central dos Cidadãos Alemães de Fé Judaica a seus membros, ao início da guerra. "Camaradas de fé! Nós os convocamos para dedicar vossas forças à pátria, para além do limite do dever cívico", prosseguia o texto.

De fato, cerca de 100 mil judeus alemães lutaram na Primeira Guerra Mundial. E, como esperado, a perseguição antissemita diminuiu com o início dos combates – reprimida pela censura do Estado, o qual, em sua política de paz civil (Burgfriedenpolitik), recolhia os panfletos de incitação popular.

Contagem falsificada

Com o decorrer da guerra, no entanto, organizações antissemitas, como o Reichshammerbund (Liga do Martelo do Reich), voltaram a reforçar a instigação contra os judeus. Inúmeras petições alcançaram, por exemplo, o Ministério prussiano da Guerra: supostamente constatou-se um nível de abstenção do serviço militar desproporcionalmente alto entre os judeus, os quais, portanto, estariam se esquivando do "serviço à pátria".

A propaganda antissemita vingou: em outubro de 1916, o ministro da Guerra ordenou um recenseamento dos judeus conscritos presentes no Exército, que entrou para a história como Judenzählung (contagem dos judeus). A medida causou indignação entre os muitos soldados judeus. "Deus nos livre! Então é para isso que a gente arrisca a cabeça pelo nosso país", protestou, por exemplo, o soldado judeu alemão Julius Marx.

O resultado da "contagem" nunca foi divulgado. Na realidade, as 30 mil condecorações de bravura concedidas a judeus comprovam o quanto a propaganda antissemita era falsa. Mas o estrago estava feito: panfletos antissemitas difundiam frases como "A cara sorridente deles está por toda parte, menos nas trincheiras". Ao mesmo tempo, os judeus eram acusados de ter lucrado com a guerra.

Associação de judeus tentou corrigir propaganda mentirosa, apelando "às mães alemãs"
Bodes expiatórios

"Às mães alemãs" dirigiu-se, por sua vez, a Federação do Reich dos Soldados Judeus no Front, em 1920. No cartaz, uma mãe de luto está sentada ao pé de um túmulo ornamentado com a Cruz de Ferro, de mérito militar: "Mães alemãs, não tolerem que as mães judias sejam escarnecidas em sua dor." "Doze mil soldados judeus tombaram nos campos de batalha pela honra da pátria", diz a lápide.

De origem judaica, ministro do
Exterior Walther Rathenau foi
assassinado em 1922
A mensagem é que soldados judeus e não judeus haviam lutado juntos e sido enterrados em "terras estrangeiras". Por fim, o cartaz se dirige contra a perseguição antissemita: "O ódio partidário cego não se detém diante dos túmulos dos mortos." A referência é, em grande parte, à "lenda da punhalada pelas costas", que a essa altura já era amplamente conhecida na população. Judeus, socialistas e democratas serviam como bode expiatório pela derrota na guerra.

Após o colapso do Reich Alemão, fundou-se a democrática República de Weimar, rejeitada por muitos alemães. O jovem Estado foi escarnecido como "República dos Judeus" e seus representantes tornaram-se vítimas de violência e atentados.

O ministro do Exterior Walther Rathenau morreu num ataque de extrema direita, em 1922. Antes, porém, as tendências homicidas contra o político de origem judaica haviam sido encorajadas por palavras de ordem do gênero "Porco judeu, o Rathenau, matem ele a golpes de pau".

Na propaganda nazista, por fim, o clichê do judeu se tornou símbolo para tudo que os populistas de extrema direita rejeitavam: derrota na guerra, revolução, socialismo, democracia. Após a tomada do poder pelos nazistas, começou uma perseguição aos judeus sem precedentes na história, que culminou no Holocausto. E neste, a desumana propaganda antissemita, difundida há tanto tempo, desempenharia um papel fundamental.

Fonte: Deutsche Welle Brasil (Alemanha)
http://www.dw.de/propaganda-antissemita-culpou-judeus-por-derrota-na-primeira-guerra-mundial/a-17833503

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sobre as perdas soviéticas da Segunda Guerra Mundial

Nosso leitor Marko Marjanović de Liubliana (Eslovênia) publicou uma versão atualizada de seu levantamento de perdas humanas da União Soviética na Segunda Guerra Mundial, que podemos ler e baixar a partir deste link.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2014/08/breaking-down-soviet-world-war-ii-losses.html
Dados adicionais do blog: Crappy Town
Texto: Roberto Muehlenkamp
Título original: Breaking Down Soviet World War II Losses
Tradução: Roberto Lucena
_______________________________________

Complemento: eu ia fazer um post com os dados deste blog Crappy Town cujo autor esloveno comentou no blog Holocaust Controversies, só que acabou não dando pra organizar os textos e links pois poderia ficar confuso se colocar os dados aleatoriamente. Ainda tentarei fazer um post com as tabelas (futuramente), pois há também uma página excelente (não lembro decorado o nome dela) com estimativas de mortos em vários conflitos, incluindo a segunda guerra mundial que cita vários livros e suas estimativas. Eu achei e coloquei esta página com as estimativas ainda no Orkut, na comunidade Segunda Guerra Mundial (a maior), mas como o Orkut chegará ao fim no próximo dia 30 de setembro, o que foi publicado lá virará pó a não ser que o Google libere a consulta ao que foi publicado posteriormente ao fechamento do site, mas eu salvei o link desta página em algum canto.

O Roberto Muehlenkamp colocou as informações no post do HC (blog), e a quem quiser acessar acima, consta a tradução do post original do HC com os links.

O problema das perdas soviéticas (observação do Roberto Muehlenkamp) é o de apurar quais mortes foram ocasionadas pela política genocida nazi, as mortes causadas pela repressão política soviética interna, as por acidentes, a perda de civis, perdas militares etc. É algo colossal, tanto que não existe um consenso fechado (cravado) sobre os mortos na União Soviética até hoje, mas a pesquisa do Marjanović merece ser vista.
__________________________________________

Quem quiser ler o adendo deste post, conferir no link:
Sobre a polarização e radicalização política no Brasil. Adendo do post de perdas soviéticas na Segunda Guerra

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Invenção do Nordeste (livro). Pra entender o Brasil atual e suas divisões artificiais criadas na Era Vargas

Eu sempre disse que um dia iria fazer um post sobre esse livro e acabava deixando pra depois, como eu ia fazer um comentário sobre preconceito regional (mais precisamente do que eu penso sobre isso) achei melhor fazer primeiro o post desse livro porque ele deixa bem claro o que eu penso sobre regiões e Brasil. Essas divisões regionais atuais do Brasil são mitificações/divisões oriundas do Estado Novo varguista, basicamente, mas o livro mencionado no título do post detalha de forma mais precisa (e como isso foi conduzido propositalmente) a construção dessas divisões regionais que afetam o país hoje pois a mídia brasileira depois da redemocratização do Brasil em 1985 faz questão de reforçar essas divisões e não atenuar.

Este livro "A invenção do Nordeste", do autor Durval Munis de Albuquerque Jr (se não me engano, potiguar), que mal vejo ser citado no país (mas sai tudo quanto é porcaria como "bestseller" na mídia), é essencial pra entender o Brasil atual e como essa divisão regional criada na Era Vargas vem afetando negativamente o intercâmbio estadual que sempre existiu no país, desde os tempos em que o Brasil ainda era colônia portuguesa. Esse comentário aqui é uma interpretação minha, não sei se o autor concorda, mas é como vejo a atuação política desta divisão que eu considero artificial. "Ah, mas toda tradição é criada, artificial", sim, mas tradições podem surgir de culturas existentes ou ser simplesmente forjadas pra algum propósito, no caso a criação do "Nordeste" serviu aos interesses do estado autoritário de Vargas e à maioria dos governos posteriores a ele.

Resumo do livro: (FGV-CPDOC)
A invenção do nordeste
Matéria do JC: A invenção do Nordeste; por Isabel Guillen
http://www2.uol.com.br/JC/_2000/0409/cu0409e.htm
Links pro livro ou partes dele:
III. “A invenção do Nordeste”. 3.1. O conceito de região: da Geografia ao discurso

Foto da capa tirada do link do Skoob:
http://www.skoob.com.br/livro/15933-a_invencao_do_nordeste_e_outras_artes

Tem mais de um PDF se procurarem no site acima. Depois vejo se consigo colocar o resto.

Quem quiser entender o Brasil só por coisas como "ó, São Paulo a locomotiva do Brasil" ou "Brasil, meu Brasil brasileiro" reduzindo o Brasil a mitificação criada em cima do Rio, não vai entender nada, ou só uma parte do todo, e uma parte muito pequena em relação ao conjunto da obra chamada Brasil (514 anos de História). Por sinal, esse é um dos motivos da crise de identidade que existe em alguns estados do país, o não saber como tais cidades e Estados foram formados e um certo discurso fascistoide que endeusa a formação desses estados em detrimento dos núcleos mais antigos de população do Brasil.

Intuitivamente eu sempre soube que essa região que chamam por "Nordeste" é uma formação forçada, nunca foi homogênea, não existe um sotaque regional ou uma identidade regional já que vários estados possuem sua própria identidade e sotaques. Tampouco existe uma bandeira regional ou hino regional, a não ser o que a mídia de dois estados do país "forçam" a ser. O sotaque baiano não é igual ao pernambucano (que tem mais de um), que não é igual ao sotaque cearense e assim por diante. Cada estado tem sua bandeira e seus simbolismos, e hino também (link1, link2, link3). Justamente pelo forte fator identitário de Pernambuco essas contradições entre essa identidade regional forjada no Estado Novo (apropriando-se de coisas do Estado e disseminando que isso é algo "de todos") e uma identidade com praticamente meio milênio de História, fica fácil de sacar de cara o que é ou não forjado e imposto de fora.

Resumidamente, o livro fala da construção literária e ideológica que formou a ideia em torno do que muita gente no Brasil vê como "Nordeste brasileiro" e "nordestinos", o livro fala do quanto isso é mitificação e construção, criada na ditadura Vargas, pra justificar a "diferença" de regiões ou valorizar umas e largar a própria sorte outras, principalmente a área do país onde o próprio Brasil surgiu como país e nação. Inclusive com participação de gente da região reforçando essa ideia de "seca", "retirante" etc, o que é uma distorção pesada da História do Brasil.

É sempre bizarro ver alguém querendo falar de Pernambuco citando Lampião (por conta do cinema) do que Frei Caneca, Nassau ou Joaquim Nabuco que tiveram muito mais relevância pro Estado (e pro Brasil) do que um mero bandoleiro. É duplamente irônico ver a reverência que tratam do período Holandês em Pernambuco pelo complexo de vira-latas (au au) de alguns estados do país, com crenças ridículas (que eu já ouvi e li gente dizer, mas não salvei o link, é algo bizarro e sem fundamento algum) de que os loiros do Estado são descendentes de holandeses e quando retratam este mesmo estado (e região) no século XX, mudam pra imagem de Lampião, coronéis etc.

O autor do livro é potiguar, mas por motivos óbvios irei falar mais do meu estado, primeiro por conhecer mais e saber dessas peculiaridades, também por saber das rixas históricas entre estados da região e por saber da manipulação que a grande mídia do país reproduz o tempo todo sobre essas identidades regionais e com os estados do país. Gente preconceituosa falando sobre isso em TV é uma desgraça total. Também por saber da relutância e rejeição pernambucana a essa imposição cultural televisiva de outros estados do país. Por exemplo, a grande mídia, por prepotência (e burrice) omite o nome dos estados da região os citando como "bloco", o que pra quem sabe dessas diferenças sempre soa como estupidez ou cretinice, e que como ficará demonstrado neste post, essa postura é uma repetição das crenças e mitificações fascistoides criadas no Estado Novo varguista.

O mal do brasileiro (generalizando) é ignorar profundamente a História do país. Digo isso porque o que vejo de gente chorona (reclamando de tudo) na internet quando fala de política, com comentários totalmente alienados e idiotas, é vergonhoso.

Este post é um comentário em cima da ideia do livro, que pra muita gente poderá soar como uma "revelação" pois a maioria é criada ouvindo que o Brasil atual é esta divisão regional ridícula da Era Vargas e das generalizações cretinas que a mídia hegemônica do país (que se situa atualmente nas cidades do Rio e de São Paulo) reproduzem o tempo todo sobre isso, reforçando estereótipos reais ou não e essa ideia de divisão regional como se o Brasil não tivesse uma origem comum e omitindo a formação dessas cidades populosas (hoje) do país, que nem sempre foram politicamente relevantes na História do Brasil (a maior parte da História do Brasil foi vivida e passada nos estados mais antigos do país e não nos mais populosos atuais). Existe uma falta de reflexão clara da maior parte da população do país, que é criada pra aceitar verdades impostas e não ter uma mente aberta pra, por exemplo, entender sem choque que o Brasil que elas concebem não passa de uma criação varguista. Que o Brasil é o país dos bairrismos e não um país "unido" como muita gente apregoa. Que o Brasil já esteve a ponto de se fragmentar e por conta de um português autoritário isso não ocorreu. Se isso foi bom? Pra alguns certamente não foi (principalmente pernambucanos que tiveram seu estado mutilado, único corte de estado do país por castigo e retaliação política).

Daí a razão de haver um certo ressentimento por parte de uns quando a gente cita isto, que não é uma diminuição do papel das outras cidades do país, mas sim uma visualização da História do Brasil como um todo e não um recorte a partir da ascensão de Rio de Janeiro e São Paulo no século XIX. Até chegarmos ao século XIX houve mais de três séculos de lutas e conflitos no Brasil, que nem sequer era um território unido, que definiram o que hoje todo mundo entende como o Brasil. O Brasil não começa com a vinda (fuga dos fujões de Lisboa) da Família Real Portuguesa em 1808, correndo do cerco de Napoleão a Portugal e sim em 1500 mesmo ou antes.

O próprio crescimento dessas cidades se deveu a dois fatores: a vinda pesada de imigrantes europeus no século XIX e começo do século XX e o grande êxodo das outras regiões do país e da antiga capital (Salvador) pra esses centros, pegando quase toda classe média e intelectuais do que hoje é conhecido como "Nordeste".

A você de outro estado e região que vive malhando o que entende por "Nordeste" sem nem saber como o país foi formado, ou sente vergonha disso (por ser imbecil mesmo), se você tiver sobrenome português, as chances de você ter raízes nesses estados que citei é muito, mas muito grande e não foi pouca gente que migrou mesmo antes do êxodo do século XX que é mais conhecido (como retirantes etc), mas fazem questão de apagar esses fatos, ou omitir ou simplesmente diminuir a importância deles pra mitificar a ideia de estados formados por "italianos" etc mesmo falando português e tendo vários bairros com nomes indígenas.

O Brasil atual não existia até 1879 do século XIX quando São Paulo ascende como metrópole (até então era menor que Teresina no Piauí, dados do livro A Economia Brasileira, de Werner Baer) com a produção de café (o ciclo) e a industrialização que ocorre por isso. O resultado deste processo de mudança e migração interna é o que vocês veem hoje em dia.

Os centros políticos, econômicos e militar do Brasil por 308 anos ou mais foram Bahia, Pernambuco e Minas Gerais. O Rio Grande do Sul sempre foi muito isolado e passou a ter relevância política no país também no século XIX com as lutas contra a coroa e a imigração e colonização maior dos estados da região Sul. Há outro núcleo também antigo e forte que fica no estado do Pará, não menos relevante. Mas os maiores centros urbanos eram Salvador (principalmente, capital do Brasil por mais de três séculos), Recife e o interior de Minas (Ouro Preto etc).

A maioria dos brasileiros antigos do país, principalmente os que têm sobrenomes portugueses (a maioria da população), são descendentes desses centros urbanos que citei acima. O intercâmbio (migração interna) no Brasil sempre foi intenso, em toda a história do país.

Se eu por acaso esquecer de citar algum estado, não foi proposital, nem sempre dá pra lembrar tudo.

E a quem quiser duvidar que esta divisão regional é algo recente na História do país, como eu citei no post, pois se trata de uma criação/herança da Era Vargas (Estado Novo) e uma mitificação ridícula, inclusive bancada nos estados da atual região Nordeste por ignorância de parte da população, façam o seguinte teste: procurem o termo "Nordeste" e "nordestino" em livros de literatura antigos do Brasil e de Portugal. Se você encontrar o termo me avise aqui.

Dificilmente alguém encontrará pois o Brasil era dividido por Portugal por séculos em Norte e Sul apenas, sem qualquer conotação ideológica atual, o Brasil era território português e só, por isso que até hoje existem os termos sulista e nortista pra apontar regiões, mesmo com esses termos novos como "nordestino".

Sugestão de livro: O Norte Agrário e o Império (1871 - 1889)
De Evaldo Cabral de Mello (talvez o historiador brasileiro vivo mais importante do país).

Nem no Sertão de Euclides da Cunha existe a palavra "nordestino" e sim sertanejo. O termo "nordeste" que se encontra no livro é referente a ponto cardeal e área dentro da área maior em que ele se encontra, não tem ligação com o que se conhece hoje como "Nordeste" (região), só pra ilustrar a mitificação e falsificação fascistoide que criaram em torno das regiões do país. Cito esse autor porque é talvez o mais conhecido ao retratar o sertão do Brasil, que abrange o semiárido do país uma região que vai até o Norte de Minas Gerais atravessando vários estados.

Fico por aqui na apresentação do livro, mas farei ainda um post sobre preconceito regional e o que penso disso pois não comungo da ideologia de vitimismo/coitadismo que muita gente da região vive manifestando e enaltecendo, como se fosse virtude quando não é.

Eu mesmo acho que equiparar preconceito regional ao racismo (que é manifestado em sua maioria contra negros no Brasil, inclusive na região Nordeste com histórico escravagista pesado) um absurdo total. Quem comunga com isso, aceita passivamente a ideia que a mídia e pessoas ignorantes ou preconceituosas passam que gente de tal região é "inferior" e precisam de leis pra preservar sua integridade moral e física quando deveriam se impor e bater de frente com quem manifesta isso.

E nessa questão do preconceito pesa bastante e entra o fator Pernambuco no meio, que não quero frisar aqui pra não parecer que estou tentando ressaltar isso por bairrismo, mas como a mídia nunca ou quase nunca menciona essas particularidades, eu prefiro eu mesmo comentar que ouvir um paspalho de outro estado falar besteira sobre o que não conhece.

Mas o fator existe e é real, sempre foi. Resumidamente, já que citei o fato e não diminuindo o peso dos outros estados da região: a rejeição a essas imposições culturais e identitárias de governos autoritários sempre foi mais forte e pesada em Pernambuco, até pelo peso cultural, das ideias libertárias das revoluções do Estado e do envolvimento em revoltas em toda a história do Brasil. Sempre quiseram destruir a identidade cultural pernambucana por representar uma ameaça ao status quo de algumas elites e da Monarquia luso-brasileira que combatia toda e qualquer revolta por soberania (independência) do Brasil.

Quem quiser ler algo sobre os conflitos do século XIX que forjaram o Brasil e a forçaram a independência do país, destacando as relações de Minas, Bahia e Pernambuco nisto, ler o PDF:
Pernambuco, 1817, “encruzilhada de desencontros” do Império luso-brasileiro. Notas sobre as idéias de pátria, país e nação
Luiz Carlos Villalta*; 1817, DO REINO UNIDO A PERNAMBUCO, DO RIO AO RECIFE

Por isso não deixa de ser engraçado que comemorem a independência do país "declarada" por um português (um estrangeiro) e não se escolha uma revolta popular brasileira no lugar disso, o que é de fato correto. O 7 de setembro é mais outra distorção histórica cultuada no Brasil até hoje como "verdade" inconteste, fruto da imposição historiográfica do Rio com o Brasil (por ter sido a sede da Coroa Portuguesa no Brasil, moldou esses mitos). A independência de fato do Brasil de Portugal (quando há uma ruptura real) foi na Proclamação da República em 1889, onde se constituiu o primeiro governo brasileiro de fato e não o resquício do ex-dominador português sob mando de Pedro II, herdeiro de Pedro I.

Por isso também tenho aversão a essa ideia de Monarquia que ainda alguns delirantes no Brasil ficam defendendo sem nem entender as causas da rejeição à mesma. Como podem ver, essa imposição de identidade no Brasil é algo nocivo pois não respeita a pluralidade de manifestações culturais locais do país que é a grande riqueza cultural de fato do país. Essa imposição autoritária de sotaque e cultura é muito, mas muito chata, principalmente num país continente.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Exposição conta história de muçulmanos que salvaram judeus durante Holocausto

Realizada em Cardiff, no País de Gales, mostra quer resgatar outros casos de colaboração entre as duas comunidades religiosas

Uma exposição dedicada à história de muçulmanos que salvaram a vida de judeus no Holocausto foi inaugurada em Cardiff, no País de Gales.

Segundo Stanley Soffa, presidente do Conselho Representativo Judaico nacional e responsável por levar a mostra para o país, trata-se de uma "história heroica".

A exposição é parte do projeto Portas Abertas 2014, evento anual gratuito com diversas atrações, realizado em setembro.

The Righteous Muslim (ou "O Muçulmano Justo", em tradução livre) documenta a história dos bósnios muçulmanos que fizeram um grande esforço para preservar a tradição judaica durante a Segunda Guerra Mundial, por meio da proteção do Hagadá de Sarajevo, um manuscrito de 600 anos, que narra o êxodo do Egito e é lido na noite da Páscoa judaica.

Quando um oficial nazista veio para roubar o Hagadá, dois homens conseguiram levar os manuscritos para uma cidadezinha montanhosa acima de Sarajevo, escapando dos postos de controle nazistas.

Um religioso muçulmano manteve a peça escondida debaixo do piso de uma mesquita, até que a guerra acabasse.

"A exposição foi muito bem recebida em Londres no ano passado. Por isso, estamos muito satisfeitos por ter a oportunidade de compartilhar esta história com o povo de Gales", explicou Soffa.

"Para nós, é uma história de heroísmo, a de muçulmanos salvando vidas judaicas, o que proporciona uma ligação única entre as comunidades. Espero que possamos comemorar juntos e lembrar juntos", analisou.

Judeus iugoslavos foram alvos das forças da Alemanha nazista
A exposição tem como objetivo estimular novas pesquisas sobre os casos de colaboração entre comunidades muçulmanas e judaicas.

"O Holocausto é, provavelmente, o evento mais documentado da história moderna, mas até hoje poucas pessoas sabiam sobre esse evento factual durante a Segunda Guerra Mundial, quando dois universos religiosos se uniram para salvar um deles", explica Saleem Kidwai, secretário-geral do conselho islâmico do País de Gales.

"Essas comunidades desapareceram no fim da Segunda Guerra Mundial. Como as pessoas das antigas gerações já morreram, há o medo de se perder estas histórias", diz Kidwai.

O programa é a maior celebração anual gratuita de arquitetura e patrimônio realizada no País de Gales e no Reino Unido. É, também, o maior evento de voluntariado no setor.

"O Portas Abertas oferece aos visitantes locais e estrangeiros a oportunidade de explorar o fascinante patrimônio construído no País de Gales, com eventos que conectam a história", afirma John Griffiths, ministro da Cultura do País de Gales.

Atualizado em 7 de setembro, 2014 - 21:02 (Brasília) 00:02 GMT

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140907_exposicao_judeus_muculmanos_lgb.shtml

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...