quinta-feira, 3 de julho de 2008

Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 1)

Tradução do Capítulo VI do livro Denying the Holocaust da Historiadora Deborah Lipstadt.
Traduzido por Leo Gott

Negacao [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical

No final dos anos 60 e 70, organizações neo-fascistas e partidos políticos na Europa Ocidental, especialmente na Inglaterra, cresceram em número e força. Esses grupos - que se opuseram com veemência à presença nos seus países de negros, asiáticos, árabes, judeus, e todos os não - imigrantes caucasianos - foram responsáveis pelo lançamento de uma série de violentos ataques contra imigrantes, minorias, e instituições judaicas. Na Inglaterra o neo-fascista Frente Nacional construiu a sua agenda política em oposição à imigração de africanos e do leste da Ásia e de países da Commonwealth. Em 1977 tiveram uma votação perto de um quarto de milhão de votos nas eleições nacionais.

Estes grupos, cuja ideologia abraçou o racismo, o etnocentrismo, e o nacionalismo, enfrentaram um dilema. Desde a Segunda Guerra Mundial, o nazismo, em geral e o Holocausto nomearam o fascismo como um nome ruim. Aqueles que continuaram a alegar depois da guerra que Hitler era um herói nacional e o socialismo era um sistema político viável, como esses grupos tendiam a fazer, foram olhados com revolta. Por conseguinte a negação do Holocausto se tornou um elemento importante na estrutura da sua ideologia. Se o público [104] pudesse ser convencido de que o Holocausto foi um mito e, em seguida, o relançamento do nacional-socialismo poderia ser uma opção viável.

Esse esforço para negar o Holocausto foi assistida materialmente pela publicação em 1974 – uma brochura de vinte e oito páginas - Did Six Million Really Die? (Seis Milhões Realmente Morreram?) A última verdade por Richard Harwood. Enviaram a todos os membros do Parlamento, a um amplo espectro de jornalistas e acadêmicos, aos principais membros da comunidade judaica, e a uma ampla gama de figuras públicas, e perto de dez anos foi considerado como o proeminente trabalho britânico sobre a negação do Holocausto. (1) Em menos de uma década, mais de um milhão de exemplares foram distribuídos em mais de quarenta países. (2) À primeira vista, parecia ser um sóbrio esforço acadêmico, muitos fora do círculo dos negadores confundiram as alegações feitas. Negadores continuamente o citavam como uma fonte fidedigna.

Dada a ampla distribuição do panfleto, houve significativa curiosidade do público sobre a identidade dos autores e editores. Richard E. Harwood foi descrito como um escritor especializado em aspectos políticos e diplomáticos da II Guerra Mundial e que estava "atualmente na Universidade de Londres." Não demorou muito para a imprensa britânica descobrir que isso era falso. A Universidade de Londres disse ao Sunday Times que Harwood não foi nem membro do pessoal e nem estudante e era totalmente desconhecido para ela, ela retornou todas as cartas para Harwood como: "Destinatário Desconhecido". (3) Na verdade Richard Harwood era o pseudônimo de Richard Verrall, editor da Spearhead, uma publicação da direita Britânica – ala neofascista da organização Frente Nacional. Did Six Million Really Die? Era idêntico em formato, layout, e impressão com a Spearhead. (4) Nem a Frente Nacional, nem Verrall negou que ele era o editor do panfleto. Em 1979 em uma carta para o New Statesman, Verral, que era graduado em História pela Universidade de Londres, respondeu a artigos sobre o Holocausto, reiterou base da argumentação do panfleto e se defendeu dos ataques contra as suas conclusões que tinham aparecido na imprensa britânica. Apesar da maior parte de suas conclusões já haviam demonstrado que eram falsas. (6) Ele não fez qualquer contestação da afirmação de que ele era o autor, apesar de no artigo do New Statesman ele foi especificamente identificado como tal. Sua carta para a revista foi descrita pelos editores como uma "grande simulação - acadêmico de letras" que recebeu da regularidade de Verrall.

Além de dissimular a verdadeira identidade do autor, os editores também tentaram camuflar a sua identidade. Embora a caderneta de endereços listados do seu editor, Historical Review Press, o endereço era [105] de uma construção abandonada cujo proprietário, a imprensa britânica descobriu se Robin Beauclair, um agricultor com ligações na Frente Nacional e de diversas outras organizações, todas elas estavam dedicadas à defesa da "pureza racial". (7) Questionado pela imprensa sobre a publicação, ele declarou que o Holocausto parte de uma rede de "propaganda judaica" e revelou o seu profundo e enraizado anti-semitismo. "Não sabem que vivemos sob dominação judaica? A grande mídia em sua totalidade é controlada pelo judeus. É tempo de nós, como povo britânico ditar nosso próprio destino."(8)

Não foi uma criação original, este trabalho foi, em grande parte baseado em um pequeno livro americano, chamado The Myth of the Six Million [O Mito dos Seis Milhões], publicado em 1969 pela Noontide Press, uma subsidiária da anti-semita Liberty Lobby. A publicação americana continha um prefácio do editor sem assinatura, e uma introdução de E.L. Anderson, identificado como um editor e contribuinte do American Mercury, que nessa altura tinha-se tornado um anti-semita. O editor anônimo aparentemente era Willis Carto, fundador da Liberty Lobby, Noontide Press, e do IHR (Institute for Historical Review). Carto tinha, como veremos em um capítulo posterior, longos e permanentes laços permanentes com uma ala de políticos dos Estados Unidos de Extrema Direita(Segundo os antigos associados de Carto, E.L.Anderson era um pseudônimo seu). (9) The Myth of the Six Million [O Mito dos Seis Milhões] também continha um apêndice composto de cinco artigos que inicialmente tinha aparecido na controlada de Carto – a American Mercury em 1967 e 68. Eles também incluíram os apêndices de "The Elusive 'Six Million,'" Barnes's "Zionist Fraud," Teressa Hendry's 'Was Anne Frank's Diary a Hoax?", "The Jews That Aren't," de Leo Heiman, "Paul Rassinier: Historical Revisionist," de Herbert C. Roseman, e as revisões do livro de Rassinier por Harry Elmer Barnes.

A publicação americana foi aparentemente escrita por David Hoggan, o Ph.D. de Harvard cujo trabalho tinha influenciado Harry Elmer Barnes. Em 1969 ele processou a Noontide Press por perdas e danos, alegando ser o autor de The Myth of the Six Million. (10) (Na introdução do livro o autor é descrito como um professor universitário que tinha escrito esta brochura em 1960, mas foi incapaz de obter um editor ousado o suficiente para assumir os riscos envolvidos. Ele alegou que não podia revelar sua identidade porque um dia ele iria querer se aposentar com uma boa pensão.)(11)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Debate ideológico marcou arte alemã no seculo 20

(Foto)Gerhard Richter: 'Mao, 1968'

Considerado degenerado pelos nazistas, o abstracionismo foi recuperado pela antiga Alemanha Ocidental, após a Segunda Guerra, enquanto a arte da antiga Alemanha comunista seguia o realismo socialista.

A partir da ascensão dos nazistas ao poder, em 30 de janeiro de 1933, artistas e intelectuais judeus ou oposicionistas foram sendo afastados dos cargos públicos. Adeptos da arte moderna foram obrigados a abandonar os museus.

(Foto)Catálogo de 'Arte Degenerada'

A Escola Bauhaus — um dos centros fundamentais de ensino e propagação do modernismo nas artes visuais e na arquitetura — foi fechada no mesmo ano, pouco após ter sido transferida de Dessau para Berlim.

Em detrimento da diversidade das tendências artísticas coexistentes no início do século 20, o Terceiro Reich impôs um neoclassicismo ideológico como padrão artístico e reprimiu o abstracionismo como "arte degenerada". Entartete Kunst: este era o título da exposição itinerante que aplicou às artes os preceitos da teoria racial nazista.

Em Munique, onde foi inaugurada em 1937, e nas outras cidades onde circulou, a exposição foi visitada por milhões de pessoas. O exílio dos judeus e da elite cultural crítica, o Holocausto e as destruições da guerra eliminaram a base humana e material do que fora a cultura alemã até então.

Arte abstrata realibitada

Com a divisão da Alemanha após o término da guerra, o Leste e o Oeste tentariam preencher, cada um a sua maneira, o vácuo deixado pelo nazismo. Na República Federal da Alemanha (RFA), o resgate das vanguardas repudiadas pelo Terceiro Reich parecia ser o ponto de partida ideal para um recomeço.

(Foto)Kassel, cidade da 'documenta'

Em sua primeira edição, a documenta, exposição qüinqüenal de arte contemporânea internacional realizada em Kassel desde 1955, foi um marco decisivo na reabilitação das correntes modernas na República Federal da RFA.

A arte abstrata não apenas representava algo absolutamente antagônico ao nazismo, mas também uma linguagem considerada universal e uma vertente dominante nos outros países ocidentais.

Além disso, o abstracionismo fazia jus ao ceticismo do pós-guerra em relação à representação da superfície do real, e em conseguinte à mimese figurativa, e possibilitava uma introspecção, à medida que era visto como a linguagem adequada à interiorização, capaz de tornar visível o invisível.

O abstracionismo do pós-guerra se distanciou das tendências mais geométricas das vanguardas e inaugurou uma tendência informalista que recusava regras de composição fixas e priorizava um traçado espontâneo e a livre combinação de ritmos e estruturas.

Realismo socialista contra a "ditadura do abstrato"

Na República Democrática Alemã (RDA), a preocupação durante o pós-guerra era estabelecer uma linguagem artística que respaldasse o novo Estado comunista. O realismo socialista encontrou base teórica na argumentação desenvolvida durante a década de 30, no contexto do debate stalinista sobre o formalismo das vanguardas.

(Foto)Realismo caracterizou arte da antiga Alemanha Oriental

Sua tônica era a condenação da pretensa motivação burguesa do expressionismo, do funcionalismo formalista da Bauhaus e da suposta alienação de outros movimentos de vanguarda.

Por conseguinte, a opção ocidental do pós-guerra também foi repudiada na RDA como "ditadura do abstrato" e "formalismo decorativo", traços supostamente incentivados pelos monopólios industriais, pelos Estados capitalistas e pelos mercados de arte das potências de ocupação da Alemanha Ocidental.

Em conformidade com o padrão soviético, no novo Estado no Leste alemão impôs-se o padrão de uma arte para as massas, não elitista, compreensível e próxima da vida e da realidade.

O realismo socialista, fundado na representação figurativa do progresso do socialismo e na heroicização da classe trabalhadora, determinou as artes de todos os países comunistas sob domínio soviético. Esta escola foi se tornando cada vez mais dogmática, a ponto de excluir artistas dissidentes.

Heterogeneidade de tendências

Na Alemanha Ocidental, já se fazia sentir uma ruptura no cenário artístico desde final dos anos 50, sobretudo em decorrência do questionamento do abstracionismo por outras correntes vindas dos EUA, como a pop art e o fotorrealismo, por exemplo.

(Foto)Joseph Beuys marcou arte alemã do século 20

Assim como em todo o contexto internacional, as artes alemãs durante a década de 60 foram marcadas por grande diversidade e heterogeneidade de tendências, mistura de gêneros e rápida interação entre arte e mídia.

A obra de Joseph Beuys, que teve uma influência marcante sobre as gerações seguintes, revela de maneira muito própria o destaque do individual, característico de todas as vertentes.

Apesar da diferenciação de gêneros a partir dos anos 60 e embora os radicais experimentos pictóricos desde as vanguardas até a década de 50 tenham levado a pintura a seus limites, algo muitas vezes diagnosticado como crise, foi nela que se revelou uma importante geração de artistas plásticos alemães, como Gerhard Richter.

Com telas neoexpressionistas, expoentes da tendência tipicamente alemã dos Neue Wilden (Novos Selvagens, termo derivado do fauvismo francês) destacaram-se no início dos anos 80. A partir de meados da mesma década, o pós-modernismo levou a uma individualização radical dentro das artes e à coexistência de linguagens informais, realistas e conceituais.

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3143583,00.html

Pintor Anselm Kiefer recebe Prêmio da Paz por cultuar o livro

(Foto)Anselm Kiefer no seu ateliê em Barjac, no sul da França

O alemão Anselm Kiefer é o primeiro pintor e escultor a receber o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. Ao valorizar a forma do livro em sua obra, o artista aponta sua permanência como forma de transmissão de saber.

Em suas obras de arte, ele desenvolveu uma linguagem "que transforma o observador em leitor". Por meio de instalações que aludem a textos, ele tornou o livro um "suporte decisivo da expressão".

(Foto)'Livro com Asas', 1992–94

"Contra o derrotismo que se atreve a negar o futuro do livro e da leitura, seus fólios monumentais de chumbo parecem verdadeiros escudos de proteção." Foi com esta justificativa que o comércio livreiro alemão conferiu ao artista plástico Anselm Kiefer o Prêmio da Paz de 2008.

Nascido em Donaueschingen em 1945, Anselm Kiefer – um aluno de Joseph Beuys – vive desde 1993 na França. Suas obras monumentais, que colocam em evidência a materialidade do objeto de arte, tiveram uma recepção entusiástica sobretudo nos EUA.

Em suas imagens, Kiefer resgata elementos simbólicos e míticos da história alemã. Ao estabelecer um vínculo entre arte e mensagem política, ele sempre desencadeou muita discussão com seu trabalho.

Alemão e universal

Anselm Kiefer é um artista que sempre questionou se ainda seria possível haver artistas alemães, após o holocausto e a assimilação da tradição cultural e artística da Alemanha pelos nazistas.

(Foto)Anselm Kiefer

Filho de um professor de desenho, ele primeiro estudou, a partir de 1965, Direito e Letras Neolatinas antes de fazer o curso superior de Artes Plásticas em Freiburg e Karlsruhe. No início dos anos 70, ele se transferiu para Düsseldorf, onde trabalhou como aluno de Beuys.

Ao produzir encenações de personalidades de acordo com modelos históricos, como Adolf Hitler ou o rei Luís 2° da Baviera, Kiefer questionou naquela época as formas de culto do herói. Posteriormente, ele se dedicou a pinturas sobre madeira, nas quais resgatou a mitologia e ideologia da história alemã.

Com suas primeiras exposições em Nova York, Kiefer se tornou um artista cobiçado no mercado de arte internacional. A revista Time chegou a designá-lo "o melhor artista da sua geração dos dois lados do Atlântico".

Peso da matéria contra a efemeridade

A biblioteca de pesados fólios de metal, representada numa obra de 1991 intitulada Censo, é um forte símbolo do futuro do livro e uma visão crítica da efemeridade da mídia, da aceleração do tempo e da simultaneidade dos acontecimentos.

(Foto)'Lilith', 1987-89

Numa pintura de 1987-89, intitulada Lilith, o artista se deixou inspirar por uma visita a São Paulo e projetou uma visão apocalíptica do caos urbano e do colapso da comunicação.

No início dos anos 90, Kiefer abandonou a Alemanha e se transferiu para a França. Em 2007, sua obra teve grande destaque numa grande exposição no White Cube de Londres, numa retrospectiva no Guggenheim de Bilbao e em sua contribuição para a Monumenta, no Grand Palais de Paris.

Anselm Kiefer foi o primeiro pintor e escultor a receber o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. A justificativa da premiação destaca que Kiefer apareceu no momento certo, "para reverter o ditame do abstracionismo descompromissado do pós guerra".

Fonte: Deutsche Welle/Agências(sm)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3388664,00.html

Ex-senador alemão diz ter praticado eutanásia em idosa

Ex-senador alemão diz ter praticado eutanásia em idosa

O ex-senador de Hamburgo (norte da Alemanha) Roger Kusch desafiou as leis do país ao admitir hoje ter ajudado uma idosa a morrer, contrariando a rígida proibição alemã sobre a eutanásia.

A Promotoria de Hamburgo abriu investigações sobre o caso, depois de o próprio Kusch comunicar que tinha auxiliado a morrer uma mulher de 79 anos, que, mesmo não estando gravemente doente, não queria continuar vivendo com medo de ir a um asilo.

A mulher, que morava em Würzburg (sul da Alemanha), tomou por conta própria um coquetel composto por remédios contra a malária junto com tranqüilizantes, disse Kusch.

O político afirmou que gravou previamente em vídeo uma entrevista da idosa, que explicava às câmeras sua firme vontade de morrer.

A Alemanha tem uma legislação muito rígida sobre a eutanásia, a qual incorre em homicídio assistido, cuja pena é de até cinco anos de prisão.

Teoricamente, é permitida a ajuda ao suicida, com a autorização de fornecer a ele a dose letal necessária, mas há a obrigação de prestar auxílio ao indivíduo imediatamente, pois, caso contrário, incorre-se em omissão de socorro, o que é crime.

Além disso, a eutanásia é, na Alemanha, um tabu, devido ao papel desempenhado por parte dos médicos durante o nazismo.

Estima-se que cerca de 200 mil pessoas morreram vítimas do programa da eutanásia do nazismo, entre doentes mentais, epilépticos e gente com doenças consideradas de origem genética.

Fonte: EFE(30.06.2008)
http://www.clicabrasilia.com.br/portal/noticia.php?IdNoticia=62191

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Obscura face humana

Historiadora e psicanalista, a francesa Elisabeth Roudinesco narra toda a trajetória dos perversos, cuja existência justifica a distinção entre o bem e o mal, tema de sua mesa na Flip

Ubiratan Brasil

Marquês de Sade, o comandante nazista Rudolf Höss, Barba-Azul, Darth Vader - a historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco conviveu com personagens pouco recomendáveis nos últimos tempos. Flagelantes, sodomitas, homossexuais, terroristas, pedófilos são pessoas que levaram uma rotina inversamente simétricas às vidas exemplares de homens ilustres e, por isso, são consideradas perversas. Interessada no fascínio despertado por tais figuras, Elisabeth reuniu abordagens até então independentes para escrever "A Parte Obscura de Nós Mesmos" (tradução de André Telles, 224 páginas, R$ 34), que a Jorge Zahar Editor lança nesta semana.

Em seus ensaios, a historiadora apresenta um balanço da perversão, revelada como um espelho para a humanidade por exibir a própria negatividade dos homens. “Absoluto do bem ou loucura do mal, vício ou virtude, danação ou salvação: este é o universo fechado no qual o perverso circula deleitosamente, fascinado pela idéia de poder libertar-se do tempo e da morte”, escreve ela, que viaja o mundo pregando que os perversos são uma parte de nós mesmos, pois exibem o que não cessamos de dissimular: nosso lado mais sombrio.

Na segunda-feira, aliás, ela participou, em Viena, de uma conferência em que utilizou o vilão da saga Guerra nas Estrelas como ponto de partida. “Trata-se de uma bela reflexão sobre o bem e o mal na sociedade contemporânea”, comentou ela, no dia seguinte, em conversa telefônica com o Estado. E será também esse o tema de sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty, que começa na quarta-feira - Elisabeth Roudinesco é um dos destaques do dia seguinte.

Em sua mesa, ela deverá mostrar como o Marquês de Sade defendia a negação das leis que regem a sociedade ao divulgar a sodomia, o incesto e o crime em seus livros. Também Rudolf Höss, comandante do campo de concentração de Auschwitz, para quem as vítimas eram as únicas responsáveis pelo próprio extermínio. Vai pregar ainda contra a eliminação da perversão, o que representaria destruir a distinção entre bem e mal que fundamenta a civilização.

Somos todos um pouco perversos?

Sim (rindo), somos. Mas há graduações, logicamente, pois todos os homens são assombrados pelo fantasma da perversidade que incentiva o desejo de matar, de molestar, de dominar, de se exibir, de fazer alguém sofrer. Por isso que intitulo meu livro como a parte obscura de nós mesmos. Acredito que ninguém escape dessa classificação, independentemente de ser um indivíduo ou uma organização, ou de estar ou não sob uma ditadura, na qual o Estado se converte em torturador e perseguidor.

E o que representa o mal absoluto dos tempos atuais? O terrorismo?

Não, de forma nenhuma, acredito que o nazismo ainda seja o pior. Trata-se da inversão radical sofrida por um Estado. A pior perversão acontece quando um Estado se torna perverso com o auxílio da ciência. Por isso que elegi o nazismo como o mal absoluto, pois foi o caso da completa inversão da lei do bem e do mal. O terrorismo também é uma forma de perversão, mas é praticada por um sujeito, ou por um grupo, e não pelo Estado. O pior da perversão acontece sob a chancela do Estado, daí ser o nazismo. Foi um momento em que todas as formas de perversões humanas foram aplicadas com o intuito de eliminar o “mal”.

A senhora acredita que a ciência ajudará a eliminar a perversão?

O melhor caminho seria uma ciência que se desenvolva pela ética.

A forma de definir o bem e o mal varia de acordo com a época. Assim, podemos dizer que a perversão ainda é sinônimo de perversidade?

Sim, gosto da idéia (aliás, freudiana também) de que dentro da perversão existe o prazer do mal. Portanto, há a perversidade também. Por isso que critico o vocabulário psiquiátrico moderno que pretende eliminar a palavra “perversão”, substituída por outro termo que lhe convém. Há o prazer de se praticar o mal e não simplesmente fazer o mal sem nenhum prazer. Por outro lado, o mal pode ser sublimado por meio da arte e da criatividade. É o que me faz pensar no Marquês de Sade: se não tivesse escrito uma obra de grande estatura, ele seria certamente um criminoso. No caso dele, ser perverso transformava-o em um duplo, pois tanto tinha contato com a alta sociedade como com a escória.

Em diversos países, o Brasil inclusive, há o confronto entre o desejo incontrolável de se desvendar a intimidade de um lado e a repressão de uma sociedade moderna de outro. Trata-se de um sintoma típico da sociedade moderna?

Com certeza, é o que trato no último capítulo do livro, A Pornografia e o Puritanismo. Trata-se de algo comum em vários países (no Brasil, nos Estados Unidos, na França), um exibicionismo não só sexual, mas de tudo que é privado. E sempre cercado por um profundo puritanismo. O exemplo americano é bem interessante - lá, a vida privada é muito preservada, mas o interesse pelo caso do presidente Bill Clinton com a estagiária Monica Lewinski foi alucinante. Ou seja, o exibicionismo e o puritanismo conviviam lado a lado. O que deveria ser preservado é escancarado em praça pública. Quem são os mais perversos? Clinton e Monica? Ou aqueles que os acusaram? Os puritanos é que são os mais perversos. Não creio que isso aconteceria na França, onde se preserva um pouco mais a vida do presidente. A religião protestante e o puritanismo são, de alguma forma, incentivadores da perversão.

A cultura pop é recheada de ícones perversos e um dos mais conhecidos é Darth Vader, vilão da saga Guerra nas Estrelas. O que pensa dele?

Um personagem fascinante. E por que ele te atrai?


Bem, porque é um personagem que surge como representante do bem até ser atraído pelo mal e, finalmente, retornar ao grupo dos bons.

Penso da mesma forma. Minha intenção era escrever um capítulo para o livro, mas fiz várias conferências a respeito. O que me atrai nessa saga é o lado negro da força, pelo qual Darth Vader é seduzido. O extraordinário da história é identificar como o mal habita dentro do bem, permitindo uma reflexão dialética sobre a passagem de um ao outro. Você observou bem essa troca de lados: Darth Vader passa para o lado mal por se decepcionar com o ideal do bem. E, em seguida, ele se transforma no mal absoluto, passando por uma mudança física que caracteriza sua figura abjeta, especialmente com o uso da máscara. Ele também adquire uma altura extraordinária enquanto o sábio Yoda é pequeno, tem uma estrutura frágil, mas também uma força descomunal. Trata-se de uma bela reflexão contemporânea sobre o bem e o mal, sobre a perversão. Também é um filme que faz uma pesada crítica ao totalitarismo e ao fascismo, pois o ideal da democracia é pervertido logo no início da saga, uma saga moderna que remonta às tragédias gregas.

Agora, voltando a figuras reais, o que dizer de certos escritores que sofreram por suas atitudes, como Oscar Wilde?

Ah, um exemplo notável. Veja bem: ao fim do século 19, a literatura é marcada pela descrição de si mesma e do mundo que a rodeia. Temos Balzac, Victor Hugo e também Oscar Wilde, especialmente seu personagem Dorian Gray, uma belíssima ilustração da perversão, pois é, ao mesmo tempo, um homem sublime e abjeto. No meu livro, eu o comparo a outro importante personagem, Gregor Samsa, de A Metamorfose, escrito por Franz Kafka. Apesar de se transformar em uma figura horrenda, Samsa carrega uma alma plena de ternura. Já a metamorfose sofrida por Gray, que se entrega a uma vida de excessos e ainda mantém intacta a beleza, deixará marcas profundas em seu retrato. São dois livros nos quais a perversão está na própria metamorfose.

Fonte: O Estado de São Paulo, caderno 2(Brasil, 29.06.2008)
http://txt.estado.com.br/editorias/2008/06/29/cad-1.93.2.20080629.35.1.xml

sábado, 28 de junho de 2008

Beijo gay em Berlim ainda opoe artistas e politicos

SILAS MARTÍ
da Folha de S.Paulo


Era para ser um monumento às vítimas homossexuais do Holocausto o bloco de concreto erguido há um mês à beira do Tiergarten, parque central de Berlim. Mas, segundo os artistas por trás do projeto, virou símbolo de como a política consegue sufocar a arte e sinal de que, apesar de tudo, a Alemanha continua homofóbica.

(Foto)Beijo gay em filme de Thomas Vinterberg exibido dentro do memorial em Berlim

"Não queríamos uma abstração, como triângulos cor-de-rosa", diz à Folha Michael Elmgreen, dinamarquês radicado na Alemanha, que assina o projeto do memorial com o parceiro Ingar Dragset -os dois participaram da 25ª Bienal de São Paulo, em 2002.

Imitando as lápides de concreto do monumento aos judeus mortos sob o regime de Hitler, o novo bloco fica a alguns metros dali e mostra, dentro de uma pequena fresta, um vídeo de dois homens se beijando, dirigido pelo também dinamarquês, co-fundador do Dogma, Thomas Vinterberg. "Queríamos uma imagem explícita", conta Elmgreen.

O estopim do conflito foi quando o ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, censurou a imagem que deveria estampar o convite para a inauguração oficial do monumento. No lugar do beijo, um cartão todo cinza, sem imagens, chegou às mãos dos convidados.

A feminista Alice Schwarzer levantou outra queixa: um memorial às vítimas gays só com homens ignora o sofrimento das lésbicas mortas no Holocausto. Na cerimônia, chamou o projeto, aprovado numa competição que desbancou sugestões de artistas como Wolfgang Tillmans, de "kitsch" e "fálico".

Os artistas agora, cedendo à pressão de feministas e outros grupos de interesse, terão de mudar a cada dois anos o filme exibido dentro do memorial.

Arte coletiva?

"É ridículo e vergonhoso que eles estejam passando por isso", diz Thomas Vinterberg à Folha, por telefone, de Copenhague. "Arte é subjetiva. Nunca é possível chegar a um acordo coletivo em relação à arte."

Em preto-e-branco, o filme dentro do memorial foi gravado no mesmo lugar onde está hoje o bloco de concreto, dando a impressão de estender a paisagem de fora para dentro do cubo. Mudar o filme, na opinião de Vinterberg, destruiria esse efeito. "Se eu soubesse que chegaria a isso, jamais teria participado do projeto."

Os artistas lembram que a construção do memorial gay fora aprovado na administração do Partido Verde, anterior aos democratas cristãos agora no poder. "Eles apóiam o papa, não querem ver dois homens se beijando", diz Elmgreen, acrescentando que foi seu primeiro e último projeto público. "Jamais faremos algo do tipo de novo, vimos que tem muito pouco a ver com arte e muito mais a ver com política."

"O monumento virou um comentário sobre a vida política na Alemanha no início deste século mais do que uma homenagem a homossexuais", lamenta Vinterberg. "Artistas deveriam ser protegidos, não manipulados. O que fizeram foi arruinado; ser gay ainda é tabu."

Fonte: Folha de São Paulo(27.06.2008)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u416745.shtml

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Neonazista pedófilo é condenado por terrorismo na Grã-Bretanha

Um simpatizante do nazismo que estava sendo investigado por pornografia intantil foi condenado por crimes ligados a terrorismo na Grã-Bretanha.

Durante as investigações, a polícia descobriu que Martyn Gilleard, de 31 anos, tinha quatro bombas caseiras, além de balas, espadas, machados e facas em seu apartamento. Ele mantinha bombas cheias de pregos debaixo de sua cama.

Gilleard escreveu que queria "salvar" a Grã-Bretanha do "perigo multirracial", segundo relatos feitos durante o julgamento na cidade de Leeds.

O réu também admitiu crimes ligados à pornografia infantil. Mais de 39 mil imagens foram encontradas em seu computador.

Gilleard foi condenado por preparar atos terroristas, posse de objetos e coleta de informação para fins de terrorismo. Ele também foi condenado por crimes de ofensa sexual contra crianças.

Durante o julgamento ele admitiu que tinha uma coleção de objetos ligados ao nazismo, afirmando que admirava os nazistas pela forma como eles "reconstruíram" a Alemanha.

Instruções

Policiais encontraram na casa de Gilleard "armas cortantes potencialmente letais", 34 balas para armas calibre 2,2 e textos da internet sobre atos terroristas. Entre estes papéis estavam instruções sobre como fabricar uma bomba e como matar uma pessoa por envenenamento.

"Eu simplesmente tinha algumas latas. Estava entediado", disse Gilleard explicando a razão de ter fabricado as bombas.

"Uma idéia apareceu e pensei 'Por que não? Tenho tudo o que preciso', então montei (a bomba)", acrescentou.

"Martyn Gilleard é um terrorista como a corte demonstrou hoje em seu veredicto", disse o detetive-chefe e superintendente John Parkinson.

Imagens

Os policiais também encontraram na casa de Gilleard cerca de 39 mil imagens indecentes com crianças.

O detetive Parkinson afirmou que o réu era "um indivíduo extremamente perigoso" e acrescentou que seu comportamento era "muito bizarro".

"Literatura encontrada em sua casa expôs as visões anti-semitas de Gilleard, sua intolerância racial e cultural e seu ódio por religião", afirmou.

"Também demonstrou sua prontidão para usar ameaças e intimidação para promover sua causa", acrescentou.

Fonte: BBC/O Globo
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/06/24/neonazista_pedofilo_condenado_por_terrorismo_na_gra-bretanha-546946891.asp

Cruz Vermelha alemã teve "papel infeliz" durante o nazismo

BERLIM, 24 JUN (ANSA) - A Cruz Vermelha Alemã (DRK) teve um "papel infeliz" durante o nazismo, disse nesta terça-feira em Berlim o atual presidente da organização, Rudolf Seiters, durante a apresentação de um estudo histórico sobre a adequação da DRK à Alemanha de Hitler.

"É triste pensar o quanto a Cruz Vermelha Alemã se distanciou de seus princípios humanitários", disse Seiters, que já ocupou o cargo de ministro do Interior do Governo alemão.

Segundo o estudo das historiadoras Brigitte Morgenbrod e Stephanie Mekenich, de 1933 a 1945 a DRK socorreu apenas os soldados, os prisioneiros e os civis alemães e não fez nada para ajudar as vítimas e os perseguidos pelo regime.

Muitos membros da DRK, afirma o estudo, sabiam mas fechavam os olhos para as deportações, os fuzilamentos e os campos de concentração.

As historiadoras disseram, por exemplo, que em 1944 no campo de concentração de Theresienstadt, membros da DRK acompanhavam visitantes da Cruz Vermelha Internacional (ICRC) ao longo de um percurso predeterminado atrás do qual eram escondidos todos os horrores da prisão.

Segundo a pesquisa, a cruz vermelha aceitou desde 1933 o regime nazista, expulsando rapidamente todos os seus membros judeus.

Fonte: ANSA
http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/rubriche/mundo/20080624125534679179.html

terça-feira, 24 de junho de 2008

Papa recebe grupo de sobreviventes do Holocausto

Fundação 'Pave the Way' promove simpósio sobre a atuação do papa Pio XII durante a Segunda Guerra

VATICANO - O papa Bento XVI recebeu no Vaticano sobreviventes do Holocausto. Após a audiência geral, o papa "acolheu de braços abertos" o norte-americano Gary Krupp, presidente da "Pave the Way Foundation" (Fundação Pavimente o Caminho), segundo informou o jornal Osservatore Romano.

Krupp "quis fortemente o encontro com Bento XVI" para informar-lhe sobre um simpósio que, de 15 a 18 de setembro, em Roma, "aprofundará" o estudo sobre a ajuda oferecida aos judeus pelo papa Pio XII.

Para o norte-americano, a presença durante a audiência de sobreviventes do Holocausto é "uma expressão de gratidão ao papa Pio XII, por ocasião dos 50 anos de sua morte".

Alguns judeus acusam Pio XII, no comando da Igreja Católica de 1939 a 1958, de ser indiferente em relação ao Holocausto e de não se manifestar contra Hitler. Os defensores do papa vêem nele um homem santo que trabalhou nos bastidores para ajudar os judeus na Europa toda.

Vários grupos judaicos, em especial a Liga Antidifamação, com sede nos EUA, já pediram que o Vaticano suspenda o processo de canonização desse papa, que se encontra em andamento, enquanto não divulgar todos os documentos secretos referentes à Segunda Guerra.

O Osservatore Romano também informou que, além dos judeus, Bento XVI recebeu Mame Mor Mbacke, "notável referência para os muçulmanos do Senegal", que expressou seu compromisso de colaborar com os católicos pela paz e pela justiça. Segundo a publicação, o encontro "é um sinal positivo para o diálogo com o Islã na África".

Fonte: Ansa e Reuters/Estadão(18.06.2008)
http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid191840,0.htm

domingo, 22 de junho de 2008

Portas Fechadas - Canadá em tempos de Holocausto

Sobre a situação no Canadá em tempos de Holocausto.
Texto de Dr. Pedro Germán Cavallero *

Quem visita o Canadá, aprecia imediatamente a diversidade étnica e cultural de sua população. Este “Canadá de cores” se destaca em relevo em Toronto, onde as distintas coletividades fazem sentir sua presença através de restaurantes de comida étnica, comércios de produtos típicos e bairros inteiros que parecem “pequenas repúblicas” encravadas na geografia canadense. Desde há mais de meio século, o país tem recebido de forma contínua levas de imigrantes, perseguidos políticos e vítimas de conflitos armados. Esta tendência se acentuou fortemente em fins da década de ‘60 e começo dos ‘70, mantendo-se até o presente.

Na atualidade a coletividade de maior crescimento demográfico é a asiática, é em sua maioria de origem chinesa. Concentrados na região do Pacífico, os asiáticos contam além disso com uma forte presença em Toronto. O antigo bairro judeu de Spadina se converteu no epicentro da vida social, comunitária e comercial dos residentes chineses. Uma visita ao mesmo nos leva a compará-lo com o bairro de Once (Buenos Aires), onde os coreanos “redesenharam” essa parte da cidade tradicionalmente habitada pela coletividade judaica portenha. Spadina apresenta uma geografia urbana salpicada de postos de rua, restaurantes chineses, dragões de pedra e luzes de neón que parecem assinalar o fim de uma era marcada pelos vendedores e comerciantes judeus locais. Uma velha sinagoga, todavia ativa e com sua fachada escurecida, desafia solitariamente o evidente passo do tempo.

REFÚGIO PARA OS PERSEGUIDOS?

O Canadá goza amplamente de uma reputação internacional de “abertura” no que diz respeito a perseguidos políticos e emigrados econômicos chegados com o anseio de se fixar. Em boa medida, essa reputação responde a uma realidade concreta.

Prova disto são os chilenos, uruguaios e argentinos (emigrados durante a “Guerra Suja”), colombianos (empurrados pelo conflito armado que dessangra o país), nicaragüenses e guatemaltecos (saídos de seus países durante os convulsivos anos ’80), asiáticos, africanos, russos e europeus do Leste radicados no país. Contudo, a trajetória do país é mais complexa: durante a Segunda Guerra Mundial, o Canadá fechou herméticamente suas portas ignorando os desesperados pedidos de auxílio dos judeus europeus.

CANADÁ E O HOLOCAUSTO

Segundo o historiador canadense Franklin Bialystock, autor de "Delayed Impact: The Holocaust and the Canadian Jewish Community" (Reação Tardia: o Holocausto e a Comunidade Judia Canadense), durante as duas décadas posteriores à II Guerra a Shoá “esteve ausente na vida dos canadeenses”. Para Bialystock, essa “amnésia generalizada” incluiu também a uma parte da comunidade judia local. Este dado resulta em algo significativo se se tem em conta que os 15 por cento dos judeus canadenses eram sobreviventes do Holocausto. Durante anos, as instituições educativas comunitárias tampouco fizeram grandes avanços na difusão da experiência, tanto no âmbito interno como com a opinião pública. Haveria de se passar três décadas (até começo dos anos ’80), para que se produzisse uma virada fundamental e se “redescobrisse” o extermínio perpetrado pelo Terceiro Reich.

Surpreendentemente, a mudança sobreveio em 1982 a partir da publicação do livro "None Is Too Many (Nenhum é demais). A investigação dos historiadores canadenses Irvin Abella e Harold Trouter gerou um grande debate no país ao revelar pela primeira vez a política de “portas fechadas” implementada peplo primeiro ministro Mackenzie King com relação aos refugiados europeus.

Mackenzie King, o formidável líder do Partido Liberal que encabeçou o governo entre 1926-1948, exerceu o cargo durante 22 anos, convertendo-se em uma figura de enorme popularidade e influência na vida política canadense. As revelações dos historiadores Abella e Trouter foram acompanhadas por outras ainda mais desconcertantes: além de impedir o ingresso ao Canadá das vítimas do nazismo, autorizou-se a entrada de criminosos de guerra nazi.

Bialystock destaca como fator relevante do período histórico a relativa “passividade” da comunidade judaica ante as reiteradas negativas do governo. Contudo, uma das explicações que resgata de suas investigações para explicar este fenômeno deriva da situação que atravessava, durante esses anos, o judaísmo canadense: “fracionado, débil e sem capacidade real para chegar até os círculos de poder”. Essas circunstâncias, ao se combinarem, impediram influir de uma forma efetiva no traçado da política doméstica e na internacional.

OS ANOS DE PRÉ-GUERRA

Durante os anos prévios à II Guerra Mundial, o Canadá se esforçava para romper com uma tradição anti-semita que impregnava a distintos segmentos da população. No âmbito doméstico atuavam vários grupos pró-fascistas que enrareciam o clima de opinião geral. Entre eles, eram particulamento conspícuos o Partido Nacional Social Cristão (NSCP) e o Partido Nacionalista do Canadá, ambos de forte orientação fascista e anti-semita. Estes grupos impediram que se tomasse forma uma política humanitária destinada a socorrer as vítimas do nazismo. No mesmo contexto, tampouco se pode esquivar-se a participação do Canadá no esforço bélico aliado. Desde sua alienação contra as potências do Eixo “a preocupação pelas vítimas do Holocausto ficou relegada pela atenção dedicada à guerra mesmo”. Outros historiadores sustentam que, além de todos esses fatores, os círculos influentes acreditavam que o assentamento de judeus europeus “não era viável no Canadá”, ainda que fosse possível na Palestina sob controle britânico”.

O FRONT INTERNO

Outra circunstância que impediu a abertura à imigração de refugiados e perseguidos judeus foi dada pela marcada cautela que prevalecia entre alguns líderes comunitários judeus. Estes viam como prioritário orientar a comunidade “a superar os obstáculos internos criados pelo anti-semitismo doméstico, como condição necessária para inserir-se socialmente”.

De acordo com esta visão, o crescimento “rápido” da minoria judia houvera posto em perigo o dificultoso processo assimilacionista que estava tendo lugar. No começar da guerra, a comunidade judia era estimada em 167.000 pessoas, ou seja, os 1.5 por cento da população total. Deles, 50 por cento eram imigrantes procedentes em sua maioria da Rússia, Polônia e Romênia. Essa presença, reduzida, com um nível muito incipiente de inserção social e um alto componente imigrante, enfrentava a discriminação em suas mais variadas formas. O acesso à moradia, emprego, estabelecimentos educativos, parques, passeios públicos e comércios privados era restringido para os judeus canadenses.

Neste contexto, eram comuns (fundamentalmente na província de Ontario) os cartazes contendo legendas tais como: “Só Gentios”, “Judeus Não” e “Só Cristãos”. A realidade social cotidiana limitava as possibilidades concretas da comunidade judia para advogar (menos ainda “pressionar”) a favor da obtenção de permissões de ingresso para familiares, amigos ou pessoas do mesmo povo.

HÓSPEDES NA PRÓPIA CASA

Recentemente no início dos anos ’40, començou-se a se debater uma legislação de conteúdo anti-discriminatório que haveria de permitir alcançar progressivamente um tratamento mais igualitário para os judeus locais.

Durante o mesmo período, os três parlamentares canadenses de origem judia que integravam o Parlamento, Samuel Jacobs, Sam Factor (ambos do Partido Liberal) e A. Heaps (da oposição), estavam muito longe dos espaços políticos de decisão, tanto e suas respectivas bancadas na Câmara dos Comuns como na base de seus agrupamentos políticos. Segundo os historiadores Abella e Trouter, os judeus canadenses “tinham a sensação de serem ‘hóspedes’ em sua própria terra, de estar no Canadá mas não ser parte da mesma”.

Esse sentimento colocava a dirigência comunitária em uma situação extremadamente débil ao dialogar com as autoridades governamentais. Os distintos acadêmicos que tem investigado o período coincidem em assinalar que a “diplomacia silenciosa” seguida pelos dirigentes comunitários frente ao governo (para persuadi-lo de abrir à imigração) evidentemente fracassou, ao igual que fracassaram os esforços das organizações judias destinados a arrecadar ajuda humanitária. Depois da liberação dos campos de concentração, o governo de Mackenzie King não modificou em absoluto sua posição intransigente respeito dos refugiados judeus. King permaneceu a frente do governo até bem o começo do pós-guerra, sendo substituído como premier em início de 1948.

Segundo Abella e Trouter, para o líder liberal não havia “um benefício eleitoral direto” derivado da adoção de uma posição mais receptiva. De igual forma, uma parte importante da opinião pública canadense seguia aferrada ao anti-semitismo, e os judeus residentes no país continuavam sendo vistos de forma negativa. Finalmente, uma cifra revela com clareza a “eficácia” e “dedicação” com a qual a burocracia governamental canadense implementou a política de “portas fechadas”.

A mesma surge do número de refugiados judeus que foram autorizados a entrar no país: entre o 1 de abril de 1945 e o 31 de março de 1947, o Canadá aprovou o ingresso de tão somente 2.918 judeus europeus. Estes constituíam os 3 por cento dos 98.011 imigrantes (fundamentalmente europeus não-judeus) ingressados no dito período.

* Advogado - Coordenador do “National Council of La Raza”, (NCLR), Washington.

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto(Argentina)
http://www.fmh.org.ar/revista/20/puecer.htm
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 21 de junho de 2008

Melhor museu do que indenizações, diz chanceler italiano

BERLIM, 19 JUN (ANSA) - Uma saída para a disputa sobre as indenizações para os italianos obrigados a trabalhos forçados, durante o regime nazista, na Alemanha, seria, por exemplo, a construção de um monumento ou um museu da memória, solução apresentada pelo chanceler italiano, Franco Frattini, em entrevista para o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung, que será publicada na edição de amanhã.

"Não quero colocar Berlim em dificuldade, e sim ajudar a resolver um problema que não diz respeito apenas ao governo da Alemanha", disse Frattini, segundo o que antecipou hoje o jornal de Munique.

Segundo o chanceler italiano, as pessoas que foram obrigadas a trabalhos forçados não encontrariam grande vantagem em uma indenização de alguns milhares de euros. Um memorial ou um museu poderiam, por outro lado, ser a solução, segundo Frattini, e um grupo bilateral de especialistas poderia estudar algumas propostas.

"Eu considero perigosos estes veredictos", afirma Frattini na entrevista, sobre as decisões apresentadas no início do mês pelos tribunais italianos, e que afirma que a Alemanha não pode recorrer ao princípio de imunidade de Estado para se eximir dos pedidos de indenizações nos processos abertos por italianos obrigados a trabalhos forçados na Alemanha nos anos entre 1943 e 1945.

"Se os tribunais devem decidir caso por caso sobre o reconhecimento ou não da imunidade do Estado, o princípio de imunidade estatal se torna imprevisível. O mundo, pelo contrário, precisa da certeza do direito, se queremos evitar que tudo se torne imprevisível". Frattini, na entrevista, afirma poder imaginar que Itália e Alemanha peçam juntas ao tribunal de Haia um parecer esclarecedor sobre a questão da imunidade de Estado.

Fonte: ANSA(19.06.2008)
http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/rubriche/mundo/20080619134734676414.html

Berlim planeja ações contra a Itália

Julgamentos ligados ao nazismo: Berlim planeja ações contra a Itália

BERLIM (AFP) — O governo alemão planeja promover ações judiciais contra a Itália, depois de duas ações do Tribunal de Cassação italiano darem razão a pessoas que se apresentaram como vítimas do nazismo, exigindo uma indenização de Berlim.

As ações do Tribunal de cassação sobre o caso italiano estão "sendo traduzidas", informou nesta sexta-feira o porta-voz do Ministério alemão de Relações Exteriores, Martin Jäger.

"Vamos analisar detalhadamente reservando-nos a possibilidade de realizar diligências jurídicas no futuro", disse, acrescentando que "estamos em contato com o governo italiano sobre este processo".

O Tribunal de cassação italiano considerou, na quarta-feira, que o trabalho forçado de prisioneiros italianos promovidos pela Alemanha nazista constituiu "um crime contra a humanidade" e que o Estado alemão não podia a esse respeito invocar imunidade para evitar compensar estes "escravos de Hitler", apesar do acordo com Berlim sobre prisioneiros de guerra - normalmente excluídos das compensações.

A questão diz respeito a 43 homens, civis e militares, apelidados de "os jovens do Vale Suse", no noroeste da Itália, deportados para o campo de Gaggenau e obrigados a trabalhar para a empresa Daimler, assim como nove outros indivíduos presos e deslocados em circunstâncias diversas.

Jäger assinalou que a Alemanha não considerava as vítimas italianas como presos de guerra, não podendo, desta forma, ser indenizados.

Recordou que a Alemanha indenizou 3.395 trabalhadores forçados civis em 2000, com um montante de 1,89 milhão de euros.

O porta-voz também lembrou que em virtude de um acordo entre os dois países de 1961, 40 milhões de deutschemarks foram pagos em compensação às vítimas do nazismo.

Fonte: AFP(06.06.2008)
http://afp.google.com/article/ALeqM5jnjqCMFzRAEXs-ES3k5Z36MiABVw

Criminoso de guerra nazista é visto passeando em cidade da Áustria

VIENA - Em Klagenfurt, uma das quatro cidades austríacas em que estão sendo disputados os jogos da Eurocopa, vive tranqüilamente o número 4 da lista de criminosos de guerra nazistas procurados internacionalmente.

Milivoj Asner, de 95 anos, natural da Croácia, foi encontrado pelo tablóide britânico The Sun que publicou fotos suas passeando pelas ruas do centro de Klagenfurt em companhia da mulher.

Asner, que foi o chefe da polícia secreta nazista em seu país de origem, é acusado de ter deportado centenas de judeus, ciganos e sérvios para os campos de concentração e possui um mandado de prisão internacional.

As fotos publicadas nesta segunda-feira com grande destaque pelo The Sun mostram Asner caminhando tranqüilamente pelas ruas de Klagenfurt. Durante o passeio ao lado da mulher, Asner foi totalmente ignorado pelas centenas de policiais de rua, mesmo os habitantes da cidade conhecendo bem sua identidade real e os crimes atrozes por ele cometidos.

Há anos a Croácia pede sua extradição. No entanto, Viena sustenta que Asner não está em condições de ser interrogado ou processado.

Segundo o Wiesenthal Center, organização judaica que há mais de 30 anos luta contra o anti-semitismo e se empenha em levar à justiça os chefes nazistas sobreviventes, a Áustria representa o paraíso dos criminosos de guerra.

- Temos a intenção de reportar este fato ao ministro da Justiça austríaco. Se este homem é capaz de passear e degustar vinho nos bares, será capaz também de suportar um processo - afirmou ao The Sun o diretor da agência, Efraim Zuroff.

Fonte: Agência ANSA/JB Online(16.06.2008) http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/06/16/e16065710.html
Foto(site da Interpol): Milivoj Asner
Ver também: Daily Mail - Criminosos de guerra nazi
http://www.dailymail.co.uk/news/article-496729/Last-Nazi-war-criminals-warned-Were-you.html
The Sun - Criminosos de guerra nazi
http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/news/article521322.ece

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Teoria Ariana de Hitler é desmentida pela ciência

Uma nova pesquisa científica provou que a teoria da pureza racial escandinava, sustentada por Hitler e os nazistas, é totalmente falsa. O conceito de um único tipo genético escandinavo, de uma raça que andou pela Dinamarca e se estabeleceu lá, isolada do mundo, é uma falácia.

O estudo mostrou que corpos de cemitérios de 2 mil anos deidade no leste da Dinamarca continham tanta variação genética em seus restos quanto a quantia esperada a ser encontrada em indivíduos dos dias atuais. Os achados, analisados pela Universidade de Copenhagen, destroem o conceito de "superioridade" da raça nórdica.

Hitler usou pesquisas pseudo-científicas para apoiar suas idéias de que os europeus do norte poderiam formar uma raça impecável, que comandariam a sociedade humana. A teoria racista, que coloca a raça "superior" no topo da hierarquia humana e judeus em baixo, desenvolveu papel central no Holocausto.

Línea Melchior, que analisou o DNA de diversos corpos, tem certeza que dinamarqueses sempre mantiveram contato com pessoas do mundo todo. Em um dos terrenos, inclusive, foram encontrados restos de um homem que pareceu ter origem árabe. Longe de demonstrar isolamento e "genética pura", o estudo provou que os dinamarqueses se misturaram com pessoas do mundo todo.

Fonte: Redação SRZD (Brasil, 15.06.2008)
http://www.sidneyrezende.com/noticia/13604
Texto original: Telegraph (Reino Unido, 16.06.2008)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitler's-Aryan-theory-rubbished-by-science.html (link acima expirou)
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/denmark/2124105/Adolf-Hitlers-Aryan-theory-rubbished-by-science.html

sábado, 14 de junho de 2008

Crise acelera avanço neonazista

Vitória eleitoral anima extrema direita alemã, que ganha terreno no cada vez mais empobrecido leste do país
ALEMANHA

Marcos Guterman

A história ensina que não é bom subestimar a capacidade dos nazistas de perceber oportunidades históricas. Assim como na década de 20 do século passado, a extrema direita alemã está aproveitando agora uma mistura explosiva de crise econômica e hesitação política dos partidos tradicionais para alimentar um projeto declarado de se tornar uma força nacional.

Os neonazistas alemães, cuja ação é bastante limitada pela legislação, parecem estar se sentindo bastante à vontade, sobretudo após um importante triunfo nas últimas eleições no Estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental - terra da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que classificou o resultado como ‘desagradável’.

O Partido Nacional Democrático (NPD, na sigla em alemão), nome fantasia da agremiação neonazista, obteve 7,5% dos votos na eleição, em setembro, dando-lhe direito a cinco cadeiras no Parlamento do Estado.

Com os votos ainda quentes nas urnas, algumas lideranças civis voltaram a pedir a proibição do NPD, mas o governo se disse contrário, sob o argumento de que o problema não era legal, e sim de mobilização da sociedade para esvaziar o discurso dos extremistas.

Analistas ouvidos pelo Estado concordam com essa avaliação. Todos coincidem no ponto segundo o qual os neonazistas crescem a reboque do desemprego, da desatenção do poder federal e de uma indiferença mais ou menos generalizada.

Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, que fica no antigo lado comunista da Alemanha, é o Estado mais pobre do país e, portanto, é o ecossistema ideal para o florescimento do extremismo de direita.

Um estudo divulgado na semana passada mostra o quanto cresceu a clientela preferencial dos neonazistas. Segundo a Fundação Friedrich Ebert , ligada ao Partido Social Democrata, há 6,5 milhões de alemães abaixo da linha de pobreza, que é de 938 euros. Essa massa ganha, em média, 424 euros por mês, e representa 8% da população.

O índice sobe para 20% no lado oriental da Alemanha, exatamente a base do crescimento neonazista. ‘O voto nos nazistas em 1930-33 e o voto nos neonazistas hoje são votos de protesto, e os políticos dos grandes partidos precisam trabalhar duro para remover as causas desse protesto’, afirma Richard J. Evans, especialista em história contemporânea alemã na Universidade de Cambridge (Reino Unido). ‘O melhor meio de lidar com o neonazismo é reduzir o desemprego nas regiões do leste da Alemanha, que são sua maior fonte de apoio.’ No entanto, para Robert Gelatelly, historiador da Universidade Estadual da Flórida (EUA) que editou o livro As Entrevistas de Nuremberg, o problema é ainda mais profundo. Segundo ele, sucessivos governos alemães têm se dedicado bastante a resolver a crise do leste, ‘mas 50 anos de desmandos comunistas provaram-se muito mais difíceis de superar do que se imaginava’.

Entre especialistas alemães, parece haver bem menos boa vontade em relação à reação de suas instituições quando confrontadas com o problema do neonazismo. Christian Gerlach, historiador da Universidade de Colúmbia (EUA), por exemplo, acha que há ‘leniência’ (ler na próxima página).

Uma parte do problema pode ser debitada na conta da própria democracia. Como se convencionou acreditar, Hitler subiu ao poder em 1933 por conta da confusa situação política após a Primeira Guerra Mundial. Agora, novamente, os defensores do nazismo encontram campo para crescer dentro de um regime democrático.

Mas há diferenças que o tempo tratou de estabelecer. ‘A Alemanha impôs limites a sua democracia desde a fundação da Alemanha Ocidental’, explica Max Paul Friedman, historiador da Universidade Estadual da Flórida. ‘Diferentemente dos EUA, onde quase todo tipo de manifestação é protegida por lei, na Alemanha o sujeito pode ser punido por negar o Holocausto, incitar ataques racistas e cometer outros crimes de expressão política radical.’ De fato, vários partidos políticos já foram banidos na Alemanha desde o fim da 2ª Guerra por defender o nazismo, e as expressões políticas desse movimento têm sido sistematicamente limitadas. Por outro lado, como adverte Richard Evans, ‘uma democracia deve respeitar o voto das minorias’, ainda que violentas. A ‘minoria’ que o NPD quer representar são os alemães que não querem nem ouvir falar em imigrantes. A plataforma do partido é simples: os imigrantes devem ser expulsos do país.

Com essa disposição, e uma enorme resiliência, o NPD agora pretende ser o guarda-chuva sob o qual os diversos grupos extremistas de direita no país podem se abrigar, no que eles têm chamado de ‘pacto pela Alemanha’. ‘O apelo dos grupos neonazistas desde os anos 70, e especialmente desde a reunificação, deixou de ser basicamente o antisemitismo e agora é a propaganda antiimigração’, afirma Max Friedman. ‘Durante as campanhas eleitorais é possível ver cartazes do NPD com fotos de famílias turcas carregando bagagens sob o slogan ´Tenham uma boa viagem para casa´ - uma maneira esperta de escapar das restrições à propaganda racista.’ O relativo sucesso do NPD neste momento reflete, portanto, a recorrência da questão da imigração como problema na Alemanha.

A perseguição ao imigrante, muitas vezes violenta, feita por grupamentos paramilitares a serviço do NPD, lembra os ataques aos judeus nos anos 20 e 30. Trata-se de uma ação que visa a destruir o sujeito desenraizado que surge como uma ameaça ao modo de vida alemão. A preocupação é saber até aonde os neonazistas conseguirão ir. ‘Eu não acho que os ´neo´ irão mais longe’, argumenta Robert Gellately. ‘Mas não é uma coisa boa que eles já tenham chegado tão longe.

Fonte: Estado de São Paulo(arquivo, 25.10.2006)
http://blog.controversia.com.br/2006/10/25/crise-acelera-avanco-neonazista/

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