Otto Ohlendorf era membro do Partido Nacional Socialista desde 1925, chefe dos serviços de segurança do Escritório Central de Segurança do Reich durante a Segunda Guerra Mundial, comandante do Einsatzgruppe D no front oriental e tenente-general da SS a partir de novembro de 1944. Condenado à morte em abril de 1948 numa audiência em Nuremberg, foi enforcado em 8 de junho de 1951.
1º DE MARÇO DE 1946
OOtto Ohlendorf nasceu em Hanover em fevereiro de 1907. Na verdade, como ele disse, nasceu em Hoheneggelsen, perto de Hanover. Morou ali até 1927. Aparenta mais do que seus 39 anos, tem um aspecto abatido e repulsivo e é baixo, curvado para a frente e frio. Tende a falar de forma precisa, mas seu jeito é o de um homem que está na expectativa de ser insultado a qualquer momento e por isso está na defensiva.
Freqüentou a escola primária por três anos e o ginásio em Hildesheim – nove anos de ginásio, repetiu dois anos. Um ano não conseguiu se formar, no outro não se formou intencionalmente devido às atividades políticas. Isso foi em 1925.
Quando você se tornou membro do Partido Nazista? “Em 1925.” Porque você não se formou? “Porque discursei em muitos comícios para o público, em aldeias.” Ele tinha dezoito anos e falou publicamente de questões relativas ao SD e, especialmente, contra um partido dissidente em Hanôver denominado Guelfos. Havia duas facções de Guelfos, uma monarquista e outra republicana. Ohlendorf fazia oposição as duas, por ser “contra a destruição e a divisão da Prússia”. Você conheceu Hitler em 1925? “Não.” Você discutia o anti-semitismo aos dezoito anos? “Eram questões políticas gerais. O anti-semitismo estava entre elas.”
Nos seus dezoito anos, quais seus pontos de vista sobre a questão judaica? “Pontos de vista gerais – na maior parte, eu estava interessado em acabar com as lutas de classe e as questões sociais. Estive primeiro na Juventude Bismarck – todos aqueles partidos estavam representados em uma classe de pessoas O NSDAP representava todas as pessoas, independente das classes.” E os judeus? “Eles eram membros de outros partidos.” Então como você considerava que o NSDAP representava todas as pessoas? “Quero dizer que representava todas as classes.”
Quando você começou a ter sentimentos anti-semitas? “Isso vem da época em que participei do Partido Popular-Nacional Alemão. Era anti-semita. O líder era Alfred Hugenberg, mais tarde ministro da Economia e Agricultura, em 1933.”
O anti-semitismo de Hugenberg era do mesmo tipo do de Hitler? “Não sei dizer.” Hugenberg defendia a aniquilação dos judeus? “Duvido. Aquilo não estava no programa de Hitler até 1942.” Até 1942? “Naquela época, Hitler dava as ordens.” Você cumpria as ordens? “Eu não sabia da ordem geral na ocasião. Vim a descobrir aqui. Estou convencido de que Hitler não teria tido apoio do povo ou mesmo de membros do partido para aquela idéia.”
“Mais tarde, após 1925, voltando ao assunto, o anti-semitismo foi abandonado, e apenas diferenças entre nacionalidade eram enfatizadas.” Quando o anti-semitismo foi restaurado? “Em 1942-43.” Não foi você que depôs sobre a morte de 90 mil judeus? “Sim.” E não houve anti-semitismo na Alemanha nazista antes de 1942-43? “Em 1938, as perseguições não eram anti-semitas. Havia um grande número de judeus que ocupavam posições mais favoráveis do que deviam, em relação à percentagem que lhes cabia da população. Eram os alemães quem deveriam ocupar aquelas posições. Isso explica a ação de 1938 de Goebbels contra os judeus.” Portanto, os judeus foram destituídos? “Não. Isso foi na ação de novembro de 1938 de Goebbels contra os judeus, sem o consentimento de Hitler. Foi em represália ao assassinato de um oficial nazista em Paris pelo judeu Herschel Grynszpan.” Você acredita nisso? “Não. Goebbels estava apenas procurando uma desculpa.” Você conheceu Goebbels pessoalmente? “Sim.” Que tipo de pessoa ele era? “Encontrei-o várias vezes. Era esperto, fanático; devido ao pé torto, pode ter sofrido de complexo de inferioridade, sabedor de que, devido à aparência física, jamais conseguiria chegar à liderança. Era inescrupuloso em sua propaganda. Sempre me opus a Goebbels. Sempre tentei fazer com que as pessoas fossem educadas de forma ampla, enquanto Goebbels tentava supri-las de conhecimentos para o momento. Goebbels considerava os seres humanos objetos a serem usados para fins políticos – para o momento.”
Você fez algo concretamente contra Goebbels? “Meus informes no SD sempre se referiram a esses fatos.” Algo mais sobre Goebbels? “Sempre tive a sensação de que Goebbels não respeitava as pessoas em geral. Ele era precipitado em seus contatos no próprio escritório. Não tinha consideração por ninguém. Preocupava-se apenas em governar. Copiou seu estilo de governar da hierarquia católica. Ao que me consta, Goebbels freqüentou uma escola católica e foi educado num convento.” Ele parece ter se voltado contra os católicos. “Sim. Mas isso não o impediu de concordar com os métodos autoritários de governar. Goebbels confiava apenas em sai mesmo.”
EDUCAÇÃO: Ohlendorf concluiu enfim o ginásio e estudou jurisprudência e economia na universidade de Leipzig e Göttingen. Passou um ano na Itália e estudou fascismo – em 1931. Foi um serviço de intercâmbio acadêmico. “Voltei como um antifascista fanático. Depois fui para os tribunais, em outubro de 1933, tornei-me assistente no Instituto de Economia Mundial, na Universidade de Kiel.”
Você ainda estava no NSDAP? “Sim.” Como você podia estar num partido fascista e ser um antifascista fanático? “É lamentável que você ache que ambos sejam a mesma coisa. Há uma grande diferença. O fascismo é um princípio puramente estatal. Mussolini disse em 1932: ‘A primeira coisa é o Estado – e do Estado derivam o direito e o destino de outras pessoas. Os seres humanos vêm em segundo lugar’. No nacional-socialismo, era o contrário. As pessoas e os seres humanos vêm em primeiro lugar, o Estado é secundário.”
Você acredita nisso? “Eu acreditava. O ruim foi que Hitler odiava tanto o Estado que o governo nunca funcionou.” Você acha que Hitler realmente gostava do povo? “Ah, sim. O defeito que vejo em Hitler é que ele abandonou a base original, seu amor pelo povo, e procurou o reconhecimento das outras nações travando guerras.” Você acha que Hitler realmente gostava do povo, se ordenou que milhões de judeus fossem exterminados? “Esse foi o desastre de Hitler.” Mas você acha que Hitler gostava do povo? “Em 1933-39, Hitler fez coisas tremendas pelo povo alemão.” Você acha que Hitler gostava do povo em geral, ou de apenas de um conceito conhecido como Volk? “Não sei responder genericamente.” Seja o mais específico que puder. “Bem, ele gostava o povo alemão.” E dos outros povos? “Não sei.” Você acha que Hitler gostava do povo, quando ordenava que homens, mulheres e crianças fossem mortos, independentemente de raça, cor ou crença, a sangue frio, não em batalha contra uma cidade, ou em ataques aéreos, mas enfileirados diante de fossos, já que você conhece o processo melhor do que eu? “Não se responder às perguntas genéricas ou especificamente. Desconheço as razões psicológicas que levaram Hitler a fazer isso.”
Qual sua opinião pessoal? “Não se pode generalizar, olhando a coisa de um ponto de vista alemão. Exatamente quantas pessoas foram fuziladas devido à raça ou crença eu não sei. Não muitos alemães foram fuzilados. Hitler acreditava que aquilo tinha que ser feito pelo bem do povo alemão.” Como Hitler poderia amar o povo e fuzilar as pessoas? “Hitler fez aquilo pelo seu povo. Hitler não acreditava que as coisas terminassem como terminaram.” O que você acha? “Hitler não esperava a guerra mundial.” O mundo inteiro parecia esperar a guerra. “Não acredito que tais perguntas possam ter respostas simples.” Qual é a sua própria idéia? “Eu não disse que ele era um homem maravilhoso – começamos com uma discussão sobre a definição de fascismo e nazismo.” Da forma como as coisas se desenrolaram, houve qualquer diferença? “O chefe de Estado da Alemanha adotou crenças imperialistas. O extermínio dos judeus tem sua origem nas campanhas de Streicher, Goebbels e Ley, que constantemente enfatizaram o fato de que os judeus eram inimigos do povo alemão.” Como você acredita que uma criança de seis anos tivesse que ser morta – ela era um inimigo? “Na criança nós vemos o adulto. Vejo o problema diferente.” Como? “Eu via a questão judaica em 1933-4 dessa maneira: dêem aos judeus uma região onde eles estivessem uma base, e eles poderiam ter minorias em outros países. Nada em particular aconteceu – e aí veio a ação de Goebbels em 1938. Até 1938, não havia nenhum plano de excluir os judeus da vida econômica. Os experts em economia nunca concordaram com isso.”
Qual foi seu depoimento no tribunal? “Descrevi como um Einsatzgruppe recebeu uma ordem de liquidar os judeus na Rússia. Não foi uma ordem anti-semita, pelo contrário, disseram que os judeus na Rússia eram os principais disseminadores do bolchevismo ali. Foi contra minha vontade que assumi o comando de um Einsatzgruppe na Rússia. Eram quinhentos homens. A maioria da Polícia Comum e da SS armada. A região incluía Odessa e de Nikolaiev até Rostov e Criméia.” Você sabia qual seria sua função? “Sim. Eu conhecia as ordens. Einsatzkommandos chefiados por coronéis-generais executavam as ordens.” E você era um tenente-general no comando do Einsatzgruppe? “Não. Eu era apenas um general-de-brigada naquela época. Foi em 1941-2” O que fazia seu Einsatzgruppe? “Os judeus eram fuzilados à maneira militar em um cordão de isolamento. Havia esquadrões de fuzilamento de quinze homens. Uma bala para cada judeu. Em outras palavras, um esquadrão de fuzilamento de quinze homens executava quinze judeus de cada vez.” Você supervisionou ou testemunhou? “Estive ali duas vezes, por períodos curtos.” As vítimas eram homens, mulheres e crianças? “Sim.” As crianças eram fuziladas? “Sim” Uman ficava e seu território? “Não. Uman fica na Ucrânia.” Quantos judeus foram mortos por seu grupo? “O número oficial é 90 mil. Acho que, na verdade, apenas 60 a 70 mil foram fuzilados.” Foram mantidos quaisquer registros? “Não nomes individuais.” De onde vinham esses judeus que eram fuzilados? “De aldeias russas.”
Você acha que estava fazendo a coisa certa? “Eu não tinha que fazê-lo pessoalmente.” Não era você que comandava aquilo? “Sim, mas as ordens eram dadas aos líderes dos Einsatzkommandos. Tudo o que eu tinha que fazer era assegurar que aquilo fosse feito o mais humanamente possível.” Você faria aquilo de novo? “Eu não fiz nada.” Você voltaria a comandar aquilo ou a obedecer tal ordem? “Não acho que a pergunta seja válida. Acho que você pode me poupar dessa pergunta. Já sofri bastante durante anos. Muitas pessoas tinham que cumprir ordens que desaprovavam. Eu rejeitei a ordem duas vezes, mas tive que cumprir da terceira vez. A ordem veio de Heydrich.” Seu apetite ou sono foram perturbados? “Claro. Eu tinha que acalmar pessoas com colapsos nervosos.” Muitas? “Algumas.” Havia sádicos entre os carrascos de sua equipe? “Não. Essas pessoas recebiam ordens de fazer aquilo – elas não eram selecionadas. Elas recebiam ordens de fazê-lo, e então faziam.”
A esta altura, Ohlendorf parece irritado. Ele lançou a culpa dos assassinatos em massa sobre Heydrich. Não sente nenhum remorso agora, a não ser nominalmente. Parece um espírito fatigado, e sua consciência, se é que possa ser chamada assim, está totalmente limpa e vazia. Há uma carência de afeto, mas nada clinicamente notável. Sua atitude é: “Por que me culpar? Eu não fiz nada.” “Aqueles judeus se levantavam, eram enfileirados e fuzilados à maneira militar. Eu assegurava que nenhuma atrocidade ou brutalidade ocorresse.” Havia limite de idade? “Não havia limite de idade.” Ele refletiu um instante e, depois, disse abruptamente: “Graças a Deus, pouquíssimas crianças foram fuziladas.” Quantas? “Eu não sei. Mal chegaram a mil.” Noventa mil pessoas foram oficialmente exterminadas, mas apenas mil crianças? “O tratamento que os Aliados dispensaram aos alemães foi pelo menos tão ruim quanto o fuzilamento daqueles judeus. O bombardeio de cidades, com homens, mulheres e crianças queimando com fósforo – essas coisas forma cometidas pelos aliados.” Já ouviu falar de Coventry? “Os bombardeiros foram realizados por ambos os lados. Não quero dar nenhuma desculpa, apenas expor os fatos.”
As leis raciais nazistas – o que você acha delas? “Elas são corretas. Correspondem ao que pensam os sionistas – para diferenciar os alemães do povo judeu. Absolutamente corretas.” E as leis de Nuremberg – o que você acha delas? “Não me lembro das leis de Nuremberg.” Na época da promulgação das Leis de Nuremberg, você fez alguma objeção? “Não.”
Qual sua opinião sobre o princípio do Führer? “Eu me oponho a qualquer princípio do Führer que leve a uma ditadura. Mas o princípio do Führer também poderia permitir que alguém de bom caráter se tornasse líder, e isso seria bom.” Em geral, você aprova o princípio do Führer ou não? “Primeiro, preciso entender o que significa o princípio do Führer. Conforme interpretado no Reich, sou contra.”
Qual sua opinião sobre o princípio de Volk e a idéia de uma raça superior? “Os povos são diferenciados individualmente – a raça superior nega o princípio nacional.” Não entendi. “O princípio nacional se baseia em nacionalidades individuais e habilidades que essas nacionalidades possuem.” Por exemplo? “Quero dizer que cada nacionalidade possui certas habilidades que lhe são próprias.”
Então porque você fuzilou 90 mil judeus? “Primeiro, eu não os fuzilei. Esquadrões de fuzilamento o fizeram. Segundo, eu não aprovei aquilo.”
Então por que você realizou aquilo? “Que mais eu podia fazer?” Se você desaprovava aquilo, podia ter protestado e se recusado a fazer, me parece. “Para onde eu podia deserdar? Eu jurei fidelidade a Hitler.” Fidelidade para cometer assassinatos em massa? “Sob juramento.” De quê? O que o juramento dizia? “Eu não conseguiria impedir aquilo nem que me matasse. Ainda assim, aquilo aconteceria de acordo com a programação. Essas ordens eram dadas aos Einsatzkommandos em Berlim antes que viessem o meu grupo.” O líder do comando possui mais poder que o líder do grupo – é isso o que você quer dizer? “Não. Eu também recebia ordens de Berlim.”
E após esse pequeno episódio do Einsatzkommando em 1941-2, você foi promovido de general-de-brigada a tenente-general? “Sim.” De modo que sua carreira não foi em nada prejudicada pela perturbação emocional pelo fuzilamento dos judeus? “Eu contei que fiquei transtornado. Mas aquilo não interferiu em minha eficiência e prossegui em outros campos.”
Quanto tempo você ficou na Rússia? “Um ano.” Quanto tempo você levou para matar 90 mil? “Um ano.” Qual foi o máximo em um dia? “Quatro ou 5 mil em um dia.” Os judeus sabiam que iriam ser mortos? “Só uns dez minutos antes do fuzilamento.” Havia algum tumulto? “Não.” Como eram executadas crianças pequenas que não conseguiam se levantar para ser fuziladas? “Não sei. Não vi nenhuma.” Nenhum relato? “Apenas números.”
“Contei para você como passei noites em claro, como aquilo perturbou meu eu profundo.” Mas você não continuou trabalhando para os nazistas e alcançou o posto de tenente-general? Ohlendorf não responde, simplesmente fica sentado, lábios cerrados, ar hostil. Nenhuma das perguntas foi expressa de forma hostil.
Sua esposa sabe desse negócio do Einsatzgruppe? “Não.” Chegou a vê-la depois de 1941-2? “Eu a vi, mas nunca falava com ela sobre essas coisas. Não achei que fosse uma boa conversa para se ter com uma mulher.”
Mas fuzilar mulheres está certo, só não está certo conversar com elas sobre fuzilamentos? “Em primeiro lugar, eu não fuzilei mulheres. Eu apenas supervisionei.”
Em geral, você se descreveria como emotivo ou frio? “Emotivo.” Chegou a pensar em seus próprios filhos no lugar daquelas pessoas? “Essa era a minha primeira reação.” Mas não o deteve. “Não pude evitar aquilo.” Você não podia ficar doente ou fugir? “Não ia adiantar. Ficando ali, eu achava que podia impedir atos desumanos.” O que você quer dizer? “Se você conversar com as pessoas em Uman e outros desses lugares, há de concordar que é melhor ter boas pessoas presentes para evitar más execuções.”
Quem é responsável por esses crimes? “O Führer e Himmler.”
PAI: Morreu de velhice, em 1943, aos 84 anos. Era fazendeiro.
MÃE: Tem 72 anos, goza de boa saúde.
“Meu pai era um homem muito emotivo, franco e honesto. Politicamente, pertencia ao Partido Popular Alemão – um liberal.” Era anti-semita? “Não.” Você acha que seu pai teria cumprido aquelas ordens? “Não sei.” Ele tinha um caráter forte? “Sim.” Você acha que tem um caráter forte? “Sim.” Então você deve realmente odiar os judeus. “Não. Crescemos sob uma disciplina rigorosa e estávamos acostumados a cumprir ordens. Minhas emoções humanas eram as mesmas das outras pessoas.”
Você se dava bem com seu pai? “Durante muitos anos, não nos demos bem. Mas nos últimos anos, sim. Minhas atividades políticas na juventude conflitavam com as idéias de meu pai.”
Que tipo de personalidade tem a sua mãe? “É uma boa dona-de-casa e uma pessoa franca.” Com quem você mais se parece, do ponto de vista da personalidade? “Meu pai.” De que maneira? “Inclinações científicas. Eu queria ser professor de filosofia, sociologia e economia nacional.” Qual o grau de escolaridade de seus pais? “Baixo, mas meu pai lia muito.”
IRMÃOS: Ohlendorf é o irmão mais novo de quatro filhos. Irmão, cinqüenta anos, químico, não lutou na guerra, casado, três filhos, opõe-se ao Partido Nazista. É “liberal e teosofista”. Segue uma religião “segundo Steiner”. Não é anti-semita, tem uma religião antroposófica.
Quando criança, chego a ter amigos judeus? “Não. Não tive a oportunidade. Não havia judeus na minha cidade.” Qual a primeira vez que você viu um judeu? “Não me lembro. Alguns comerciantes judeus passavam pela minha cidade.” Seu pai era contra os judeus? “Não.” E sua mãe? “Não.”
Irmão, 49 anos, fazendeiro, freqüentou a escola pública e agrícola. Foi um soldado raso na Primeira Guerra Mundial. Não se interessava por política, mas entrou no Partido Nazista em 1933. É solteiro. Sua mãe cuida da casa dele. Ele “teve azar com algumas mulheres e nunca chegou a se casar.”
Irmã, 47 anos, solteira, tem uma loja de tecidos, nunca se casou. “Ela pode ter sido membro do partido após 1933, mas nunca foi politicamente ativa.”
Com qual dos dois irmãos você tem mais afinidade emocional? “Meus maiores contatos têm sido com meu irmão mais velho. Tive conversas intelectuais com ele sobre antroposofia. Temos um bom clima familiar.” Existe algum motivo para sua irmã estar solteira? “Pode-se dizer que é por sermos uma geração da guerra.”
Ohlendorf não gosta muito de falar de sua família, dos irmãos, mas conseguimos nos alongar mais alguns minutos nesse tema. Acredito que a ligação emocional entre ele e qualquer membro de sua família seja mínima e que há uma boa dose de hostilidade entre ele e o pai. O relacionamento entre Ohlendorf e a mãe não parece caloroso, embora a hostilidade pareça menos evidente em relação a ela. Ele disse que a mãe preferia o irmão mais velho.
CASAMENTO: Casado há doze anos. A esposa tem 39 anos. Conheceram-se sete anos antes do casamento. Afirma que o casamento é feliz e que nunca se separaram.
FILHOS: Cinco. Menina de nove anos; menino de sete; menino de cinco; menino de dois anos e meio; e uma menina nascida em maio de 1945.
RELIGIÂO: Protestante. Deixou a Igreja em 1942. Sua esposa também deixou a Igreja naquele ano. Todos retornaram depois de maio de 1945. Porque você deixou a Igreja? “Porque não concordava com seu dogma.” Por exemplo? “Eu achava que estava em conflito com o estado.”
Você conhece Bach-Zelewski? “Vi-o duas vezes, em Berlim e depois que cheguei a esta prisão.” O que você acha dele? “Ele está irreconhecível aqui. Era muito egocêntrico, tentava progredir sem considerar os outros.” Isso foi tudo o que consegui extrair de Ohlendorf sobre Bach-Zelewski.
E quanto aos planos para o futuro da Alemanha? “Eu despolitizaria a Alemanha. Intensificaria a agricultura. Criaria 2 milhões de empregos braçais. Dois ou 3 milhões de empregos agrícolas. Formaria grupos voluntários de pessoas com interesses comuns. A própria juventude se opõe a todo o estilo militarista de educação. Eu me opus a politização e via Ley e Goebbels como oponentes do nacional-socialismo.