segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 02

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (pequeno manual sobre o modus operandi do regime) - parte 02

GALERIA DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS TORTURADORES

O “Tigre” Acosta - Um dos criadores dos “voos da morte” foi o capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, uma das “estrelas” da Escola de Mecânica da Armada (ESMA). O oficial, que falava sozinho à noite, em delírio místico explicava aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com “Jesucito” (O pequeno Jesus), ao qual perguntava qual dos prisioneiros deveria torturar no dia seguinte e jogar dos aviões. Famoso pelos requintes de crueldade que aplicava aos detidos, Acosta também foi um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA.

O “Anjo Loiro” Astiz – “É o mais sinistro paradigma do terrorismo de Estado”. Com esta frase, o escritor e jornalista Jorge Camarasa, define a personalidade do ex-capitão Alfredo Astiz apelidado de “O anjo loiro da morte”. Garoto mimado da ditadura, entre seus assassinatos mais famosos estão os das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, além de três fundadoras das Mães da Praça de Mayo, entre elas, Azucena Villaflor. Astiz foi recompensado por seus serviços com o cargo de comando nas ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. No entanto, essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito. Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir “até a morte”, como havia prometido. Com com um copo cheio de whisky em uma das mãos, assinou a rendição incondicional.

Donda Tigel - Alfredo Donda Tigel tornou-se famoso por sequestrar seu próprio irmão e a cunhada – militantes da esquerda. Depois de assassiná-los, ficou com suas filhas, que eram bebês.

Ernesto Weber – Oficial da Polícia Federal, era apelidado de “220” pelos colegas militares pelo prazer que sentia em aplicar essa voltagem nas torturas. Foi professor de torturas dos oficiais de Marinha.

Febres - O ex-Chefe da Guarda Costeira Héctor Febres ficou notório por seu extremo sadismo, que o levou a torturar bebês e crianças para arrancar confissões dos pais, presos políticos. A primeira surpresa ocorreu poucos dias após sua morte, no dia 10 de dezembro – o Dia internacional dos Direitos Humanos, que também coincidiu com a posse da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner – quando a Justiça anunciou que o ex-torturador havia falecido por uma dose cavalar de cianureto. A segunda surpresa surgiu dias depois, quando as autoridades indicaram que a autópsia também registrou a presença de sêmen no reto do ex-torturador. Ele era famoso por seu desenfrado sadismo. Sobreviventes relatam que, quando aplicava choques elétricos nos prisioneiros, ficava “alucinado” e gargalhava enquanto ouvia os gritos dos torturados. Um dos sobreviventes relatou como Febres lhe pediu gentilmente que consertasse o aparelho de choques elétricos, que logo depois utilizaria no próprio prisioneiro. Na ESMA os torturadores costumavam ter apelidos referentes a animais. Esse era o caso do capitão Jorge “Tigre” Acosta e do tenente Alfredo “Corvo” Astiz. Mas, Febres era chamado de “Selva”, já que “era o conjunto de todos os animais”

Enfardador - Luis Porcio, chefe de segurança da Side, conhecido pelo apelido de “Enfardador”, já que apreciava amarrar os prisioneiros com arames, como se fossem fardos, para posteriormente queimá-los. Ele operava no Automotores Orletti, um centro clandestino de detenção e tortura localizado no bairro portenho de Floresta

El Turco Julián - Diversas testemunhas indicam que os torturadores argentinos ouviam marchas militares do Terceiro Reich e discursos de Adolf Hitler enquanto torturavam. Esse era o caso Julio Simón, chefe dos interrogadores do centro de detenção “El Olimpo”, cujo nome de guerra era “O Turco Julián”. Ele divertia-se jogando água fervendo em cima de seus prisioneiros políticos. Deleitava-se em torturar os deficientes físicos, jogando-os do alto de uma escada. Além disso, saboreava cada minuto no qual estuprava a esposa de um prisioneiro na sua frente.

Segundo o depoimento da ex-prisioneira (uma das poucas pessoas detidas que sobreviveram nesse centro onde imperava Julián) Susana Caride o lugar era uma espécie de “circo romano” no qual os policiais “se divertiam”. Caride relatou que os prisioneiros eram obrigados a lutar boxe um contra o outro, sob ameaças de torturas. Ela também relembrou como, no dia de Natal, os prisioneiros foram convidados para um banquete, no qual puderam comer peru, maionese e panettone. Mas, à meia-noite, na hora do brinde, Simón interrompeu a festa que ele próprio havia organizado para iniciar uma sessão de violentas torturas com os presentes. Juan Agustín Guillén, outro dos sobreviventes, contou como Simón – que ostentava uma suástica no uniforme, tinha especial sanha com José Poblete, um jovem militante peronista que havia perdido ambas pernas em um acidente. Simón lhe havia retirado a cadeira de rodas e as pernas ortopédicas, e divertia-se – às gargalhadas – jogando-o para cima ou obrigando-o a desfilar na frente dos outros policiais arrastando-se sobre os tocos de seus membros.

O ex-policial foi condenado pelo sequestro e torturas infligidas ao casal Gertrudis Hlaczik e José Poblete Roa em 1978. Ele também foi considerado culpado do sequestro de Claudia, o bebê de apenas oito meses do casal, e do ocultamento de sua identidade. Ele fazia Gertrudis andar nua pelos corredores, enquanto que José, sem as pernas, devia se arrastar com as mãos pelo chão. Simón e os outros guardas o chamavam de “cortito” (curtinho), por causa da ausência dos membros inferiores. O torturador também costumava jogar Poblete desde o alto de uma escada. Em um vídeo, o ex-policial admitiu que torturou com choques elétricos, com o objetivo de “acelerar” os interrogatórios. No vídeo, confessa que “o critério geral era o de matar todo mundo”.

Rebaneyra - Outro notório torturador era o carcereiro Raúl Rebaynera, uma dos principais figuras da prisão de La Plata, onde estiveram vários prisioneiros políticos, entre eles, o Adolfo Pérez Esquivel, que em 1980 tornou-se Prêmio Nobel da Paz. Segundo o ex-prisioneiro Julio Modorgoy, cada vez que chovia Rebaynera colocava música clássica, de preferência Beethoven ou Bach – e saía “de caça”, isto é, passava pelas celas espancando os prisioneiros. “Se te dou 15 socos e você não gritar, te levo de novo para a cela. Se gritar, fica aqui na sala de torturas 15 dias”, ameaçava.

A modelo Marie Anne Erize, estuprada pelos
militares por alfabetizar crianças pobres
ESTUPROS – Em 2011 a Justiça argentina começou a investigar os delitos sexuais cometidos por militares e policiais durante a ditadura contra mulheres e homens detidos nos centros clandestinos. Até esse ano, a Justiça havia considerado os delitos sexuais dentro da categoria ampla de “abusos”. Desta forma, com a mudança de enfoque, diversos ex-integrantes da Ditadura puderam ser processados por estupros e violações.

Os casos de delitos sexuais transcorreram nos campos de detenção de “Club Atlético”, “El Olimpo” e “Banco”.

Os envolvidos estupraram – segundo as denúncias – dezenas de mulheres detidas nos centros de tortura. Geralmente elas eram amarradas, nuas, a camas nas celas. Primeiro eram torturadas com choques elétricos nos mamilos e nos órgãos genitais. Posteriormente eram violadas por um ou mais policiais e militares. Ocasionalmente, um dos repressores reclamava exclusividade sobre a mulher estuprada. Os militares e policiais costumavam preferir as estudantes universitárias jovens. Frequentemente, quando um casal era detido, os sequestradores violavam a esposa na frente do marido.

Os militares também costumavam introduzir ratos vivos – e famintos – nas vaginas das mulheres.

O CASO MARIE MARIE ANNE ERIZE

Filha de franceses que instalaram-se na Argentina, Marie Anne Erize foi “Miss Siete Días” (concurso realizado pela revista semanal de maior tiragem da época) e protagonizou diversas campanhas publicitárias da primeira metade dos anos 70 na Argentina.

De forma paralela a seu trabalho nas passarelas Marie Anne Erize fazia militância política na faculdade de filosofia, além de colaborar com o padre Carlos Mujica – referência do clero de esquerda na Argentina – na alfabetização de crianças nas favelas portenhas. A jovem mudou-se para a província de San Juan pouco após o golpe militar. No entanto, em outubro de 1976, ao sair de uma loja de bicicletas, onde havia ido trocar um pneu furado, foi sequestrada e levada para o centro clandestino de torturas “La Marquesita”.

Marie Anne, de 22 anos, que também tinha a cidadania francesa, foi levada à força pelo então tenente Jorge Antonio Olivera (que posteriormente chegaria a major), chefe de inteligência da Infantaria de San Juan, que a estuprou em diversas ocasiões, antes de matá-la. Olivera ufanava-se perante os outros militares de ter penetrado a famosa modelo.

Esta história tem outro lado sinistro: Olivera, que tinha apenas dois anos mais do que ela e era tenente na época da ditadura, havia morado durante sua infância e adolescência em Wanda, Misiones, a mesma cidadezinha de Marie Anne, a apenas um quarteirão de distância um do outro.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

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domingo, 5 de janeiro de 2014

Sobre a série "Doutores do Inferno" (livro) e posts programados do blog

Eu comecei a traduzir no fim do ano passado uma série de um blog espanhol que contém trechos do livro de Vivien Spitz chamado "Doctors from Hell" que tem tradução em espanhol (Doctores del Infierno) mas não em português. Pra quem quiser ver a série de textos do livro, clique na tag (marcador) doutores do inferno.

Uma alternativa a quem tiver dificuldades em ler em inglês é buscar livros em espanhol e idiomas neolatinos (italiano, francês etc), pois há uma variedade muito maior que em português. Principalmente a quem é falante de português, não é difícil de ler ou entender algo em espanhol.

Mas voltando ao assunto, o blog tinha uma carência de textos sobre experimentos nazistas e o livro da Vivien Spitz é só sobre este assunto (um dos melhores sobre o tema experiências nazistas com cobaias humanas). Só que faltou dois textos pra completar a série de traduções do outro blog que espero colocar em breve pra deixar completa a série com textos traduzidos e com a etiqueta (marcador, vulgo "tag") Doutores do Inferno porque há muito marcador repetido (ou desnecessário) no blog como "experimentos médicos" e "experiências médicas", o que confunde e ocupa espaço na hora de localizar os textos através dos marcadores (tags).

Outro aviso é a respeito da questão dos posts programados. Pra quem não usa o blogger (deve ter algo similar em outros servidores de blogs) existe a opção que o Google colocou de deixar posts programados pra serem publicados em qualquer horário, dia etc. Ou seja, a pessoa só precisa programar a hora e ajustar o post inteiro (inclusive o título do post e link) que o blogger faz o resto publicando na hora programada sem que os moderadores do blog estejam conectados (como existe em aparelhos de DVDs e afins). Digo isso porque muita gente ao ver que há atualização do blog acha que os moderadores estão lendo o que é possa ser comentado automaticamente no blog, e geralmente não estão, eu mesmo utilizo este sistema de programação desde que o Google o adicionou ao blogger.

No Facebook há o mesmo sistema de programação nas Páginas, dando opção à pessoa a escolher o horário que quer que determinado post saia sem precisar estar conectado ao site. Eu vinha utilizando este sistema por lá também.

A Página holocausto-doc no Facebook está sob comando do Leo, caso alguém queira comentar algo na página. Estarei me afastando dela porque a aversão ao Facebook anda em alta (não tem nada a ver com a Página e sim com aquele tipo de site/rede) e só participo de um grupo de segunda guerra por lá. Não gostaria de discutir "revisionismo"/negacionismo no Facebook até porque já existe o blog pra isso.

Além de que, e como já disse outras vezes, considero pífio os grupos "revis" do Brasil, sem qualquer ironia no comentário. Pífios do ponto de vista intelectual, a maioria deles não sabe absolutamente nada sobre segunda guerra (copiam textos sem nem saber do que se trata, isso quando leem), chega a ser patético e ridículo discutir com essas pessoas, e muita gente ao fazer isso acaba por se rebaixar ao "nível" deles, refiro-me à cretinice generalizada.

Em todo caso, o fato de serem pífios ou cretinos não dá carta branca ao poder público do país (principalmente o Ministério Público que agiu muito poucas vezes em relação a esse tipo de problema, racismo, com destaque positivo pro MP do Distrito de Federal que agiu firme com um caso recente, e com destaque negativo total pro MP paulista) de fazer vista grossa a essa questão e a esses bandos, coisa que vem ocorrendo faz tempo. Pois idiota ou não, quando eles se agrupam e atacam pessoas nas ruas, fazem estrago pois pra agir como selvagem nunca foi necessário ter muita inteligência.

E como disse acima, o destaque negativo fica por conta do MP de São Paulo, pois é o MP do Estado onde ficam localizados e atuam os grupos principais (mais organizados), e não irei em hipótese alguma "nacionalizar" este problema quando trata-se de uma questão local, estadual, a maioria dos estados brasileiros não possuem essa "tara" com pretensa "ascendência europeia", não vou ficar me contorcendo de "dor" (em sentido irônico, "ficar me doendo"), porque o MP de determinado estado do país, por prepotência ou descaso, não faz nada com coisas que diz mais respeito a eles do que os outros estados da federação.

A mensagem é dura? Pode ser, mas meu 'ethos' (identidade cultural) não tem qualquer identificação cultural com este tipo de cultura de vista grossa com este tipo de problema (racismo e exaltação de ascendência) causado por ufanismo e idolatria a outros países por conta de ascendência étnica, tentando criar uma "mitologia" pra justificar o desenvolvimento econômico de algum estado ou região.

Um dia o Brasil vai ter que discutir este problema a sério, o famoso "passar a limpo", mesmo que os governos de estado e o governo federal façam de conta (vista grossa) que a questão não existe, embora saibam que isso que digo existe e é uma questão que cria divisões profundas no país. Não é um problema qualquer ou menor, tanto que na Europa é tratado como problema de Estado (algo bem sério) vide os problemas de separatismo e xenofobismo que estão pipocando novamente por lá.

Bom, os avisos então foram dados, bola pra frente.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Diário de um desesperado: os nazis e os anabatistas de Münster (Fanatismo religioso e nazismo)

Publicado em 29 março, 2013

"Eu, entretanto, enquanto trabalho no meu livro sobre os anabatistas de Münster, leio com profundo estremecimento os relatos medievais referentes a esta heresia autenticamente alemã, que foi en todos y cada uno de seus elementos, inclusive nos mais ridículos detalhes, predecessora do que agora estamos vivendo. A semelhança da atual Alemanha, aquela cidade Estado de Münster se separou por inteiro do mundo civilizado e, como a Alemanha nazi, apontou-se um sucesso atrás do outro durante um longo tempo até parecer invencível, para no final desabar num momento em que tudo era inesperado, e por assim dizer, virar uma bagatela...

Como agora, então também o grande profeta era um bagulho, um bastardo concebido nas valas da rua; como agora, toda resistência se rende ante ele, de forma incompreensível para um mundo assombrado; como agora (há pouco tempo em Berchtesganden, mulheres extasiadas tragaram os seixos os quais acabavam de ser pisados por nosso capitão de contrabandistas!)… como agora, mulheres histéricas, professores de escola estigmatizados, padres zangados, alcaguetes exitosos e outsiders de todas as profissões são os principais pilares do regime.

As similitudes se acumulam de tal modo que tive que as reprimir para não arriscar ainda mais a razão. Como em Münster, agora uma fina túnica de ideologia envolve um núcleo de lascívia, cobiça, sadismo e desejos abismais de ser alguém, e a quem duvidar da nova doutrina ou a ouse criticá-la, vai acabar nas mãos do carrasco. Do mesmo modo que o senhor Hitler no golpe contra Röhm, esse Bockelson agiu em Münster: como carrasco do Estado; como agora, a legislação espartana à qual se submeteu a vida da mísera plebe não regia, evidentemente, nem ele e nem seu bando de gângsteres. Como agora, Bockelson também se rodeou de seus capangas, invulneráveis a todo atentado; e como agora, houve manifestações de ruas e "doações voluntárias" cujo rechaço foi castigado com a proscrição; como agora, narcotizou-se a massa com festas populares e se ergueram construções inúteis para que o homem da rua não tivesse um instante de reflexão.

Igual a Alemanha nazi, Münster também enviou seus quintas-colunas e seus profetas para rastrearem os Estados circundantes, e o ministro de Propaganda de Münster, Dusentschnur, era coxo, igual ao seu grande colega Goebbels, é uma piada que a História Universal gastou quatrocentos anos de antecedência: um fato que eu, familiarizado com a sede de vingança do nosso embusteiro do Reich, ocultei prudentemente em meu livro. Sobre os cimentos da mentira, no ponto de inflexão entre o gótico e a Idade Moderna, alça-se durante um curto período um Estado de bandidos que ameaça a todo o mundo antigo, inclusive o Imperador, os estamentos e a todos os velhos vínculos, e que no fundo não possuem mais que o objetivo de saciar a ânsia de poder de uns quatro bandoleiros; aquilo que falta à gente compartilhar o destino dos habitantes de Münster em 1534 - ter que comer seus próprios excrementos na cidade sitiada, e finalmente e inclusive seus próprios filhos, postos antecipadamente em salmoura- ainda poderia cair sobre nós, o mesmo que ocorreu um dia com o inevitável fim de Bockelson e Knipperdollink acontecerá com Hitler e seus seguidores."

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2013/03/29/diario-de-un-desesperado-los-nazis-y-los-anabaptistas-de-munster/
Trecho do livro (citado no blog): Diario de un desesperado, de Friedrich Beck (livro em inglês, Diary of a Man in Despair), editora Minúscula (Espanha), págs. 23-25.
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: eu achei um texto sobre menonitas nazis em virtude de um livro com o título de "Anabatistas e nazismo", antes mesmo de ler esse trecho citando esse assunto (anabatistas) nesse blog espanhol. Só que como não deu pra traduzir o outro texto, achei melhor colocar esse texto mais curto pra que menciona o assunto com um trecho do livro de Friedrich Beck, que relaciona um fato religioso da Alemanha que teve impacto direto no nazismo (a questão tratada é o fanatismo levado as últimas consequências), uma certa postura fanática e bandoleira, assuntos que geram discussão até hoje (a questão religiosa da Alemanha e o nazismo, no caso, a participação dos diversos credos alemães no regime nazi, o grau de participação e a relevância de cada um).

O livro é esse: A History of the Münster Anabaptists: Inner Emigration and the Third Reich (editado por George von der Lippe, Viktoria Reck-Malleczewen).

Sobre esse assunto (religião no Terceiro Reich, link2), lembro que uma vez no Orkut uma pessoa contestou um percentual que eu havia citado (por ter lido no site do Museu do Holocausto, USHMM, inclusive a tradução do texto se encontra no link que coloquei no começo deste parágrafo) de que a maioria religiosa da Alemanha na época do nazismo era protestante e não católica (havia mais de 60% de protestantes e uns 40% ou menos de católicos), sendo que o maior apoio religioso dentro da Alemanha a Hitler e o nazismo foi do lado protestante. O que é curioso pois parte da cúpula nazista era católica e esta mesma cúpula e partido eram vistos com mais desconfiança por católicos alemães por terem uma visão mais rígida e tradicional da sociedade e da Igreja (a hierarquização com o Papa). O caso austríaco também é interessante (já citado aqui), houve um golpe de estado nazista contra os fascistas austríacos ou austrofascistas (que eram católicos, a Áustria era e ainda é um país germânico de maioria católica).

No geral, esse tipo de assunto provoca 'surtos' (de ira) em alguém mais 'fanático' ou "sensível ao extremo" (leia-se: intolerante) quando é citado o assunto religião, só que não se deve misturar crença pessoal com História (ciência e fatos históricos), ou pelo menos as pessoas não deveriam fazer isso (mas fazem). O que é óbvio pra muita gente, prum fanático religioso é algo que parece uma tortura, "abismo" ou precipício.

O fato é que não irei me policiar ou omitir o assunto porque por ventura isto desagrada a A, B ou C. Quem não tem condição emocional de ler esse tipo de assunto é só passar longe, ninguém é forçado a ler nada e lê porque quer. Quem quiser verificar o assunto tem toda a web (e livros) pra fazê-lo. Comento isto porque alguns fanáticos religiosos vinham tentar abafar discussão sobre o assunto no Orkut (não eram poucos) e sinceramente, não tenho mais a menor paciência pra tolerar esse tipo de chantagem psicológica repulsiva com viés autoritário.

E concluindo pra deixar registrado, eu achei uma fonte que cita o censo que traz esses números, mas o censo religioso desse ano (que não me recordo de memória) não se encontra na web, não sei por qual razão. Mas ele existe e é citado como fonte em um texto que achei há muito tempo, se eu conseguir encontrar esses links de novo até coloco aqui, portanto, ficarei devendo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina - parte 01

Como comentei aqui, eu disse que haveria posts no blog sobre outros temas mais relacionados à História do Brasil.

Os motivos? Já comentei no texto sobre História do Brasil do link acima (quem quiser saber, leia), mas posso fazer alguns acréscimos ao que já foi dito antes. Uma das razões centrais da importância do assunto se dá pela observação de que pessoas que recebem informação sobre conflitos mundo afora (por exemplo: Segunda Guerra Mundial e Holocausto, o tema do blog) sem ter ideia da história do próprio país em que nasceu (e vive), demonstram uma certa postura idiota e alienada em relação a qualquer assunto referente à história e política. Isto uma opinião pessoal, mas com base em observações (não se trata de uma opinião aleatória). Sempre notei que a maioria desses malas sem alça (brasileiros) que ficam enchendo o saco na rede dizendo que são "revis" (e mesmo quem não se identifica com eles) e outras bizarrices do tipo não sabem absolutamente nada sobre História do Brasil. A impressão que passam é que são uma "coisa" solta pelo mundo, com problemas identitários sérios.

Ou quando "sabem" (observem as aspas pra indicar que há um tom irônico no termo), costumam repetir uma história enviesada ignorando que a formação do país que se deu em outros estados com conglomerados populacionais mais antigos (mais de 3 séculos de história intensa e meio milênio de história ininterrupta) e não no eixo econômico atual do Brasil (Rio de Janeiro-São Paulo), que só surge no século XX pois a ascensão do Rio se dá apenas na vinda da família real portuguesa ao Brasil (fugindo dos franceses e deixando o povo português à deriva) e a ascensão de São Paulo se dá apenas no fim do século XX se consolidando na metade do século XX. A história do país antes disso se situava em núcleos em outros estados (com destaque pra Pernambuco, Bahia e Minas Gerais) e desses núcleos (somados a outros) se espalharam por todo território atual do país. Sem saber de informações básicas sobre a formação do país as pessoas não conseguem interpretar absolutamente e adequadamente nada (que preste) sobre o Brasil.

Aproveitando esta pequena introdução (comentário), publicarei em três partes, ou mais partes (pois o texto é grande e muita gente acaba não lendo se se colocar o texto inteiro de uma vez) um texto do jornalista Ariel Palacios sobre o término da ditadura no país vizinho (Argentina).

O texto dele (muito bem escrito, quem quiser acompanhar algo sobre História Argentina sugiro que acessem o blog dele) põe abaixo diversos mitos disseminados na rede (web) e no "boca a boca das ruas" de saudosistas desses regimes ditatoriais da América do Sul sobre o quanto era "bom" esse período nefasto da história da região tentando criar um senso comum imbecilizado e falso que o povo muitas vezes repete isso ou por ignorância ou burrice mesmo. E não é surpresa a simpatia de setores da população com o autoritarismo, o autoritarismo sempre foi marcante na cultura ibérica (luso-hispânica), que é a cultura central nos países da região (refiro-me à influência, até porque os idiomas dos países vêm dessa cultura), com apegos a regimes autoritários e retrógrados de extrema-direita. Portugal e Espanha que o digam... (principalmente a Espanha).

O texto do Ariel é sobre a ditadura argentina, mas em virtude de haver semelhanças com a ditadura civil-militar brasileira (e também pela proximidade dos países), principalmente na parte econômica, cujos apoiadores até hoje fazem questão de defendê-la (muitas vezes de forma cínica) ou requentando a propaganda ideológica da Guerra Fria, posando de "democratas" apesar de não o serem ( nunca foram e jamais serão). Ou você é democrata convicto ou não é. Acho que é muito pertinente que os brasileiros (e a quem se interessar pela História da América do Sul em qualquer parte do mundo) leiam o texto dele sobre a ditadura argentina.
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Há 30 anos terminava a ditadura militar argentina (pequeno manual sobre o modus operandi do regime) - parte 01

Mão de um desaparecido da ditadura argentina. Seu corpo –
que estava com as mãos amarradas – foi encontrado em uma
praia do lado uruguaio do rio da Prata.
Há 30 anos, na manhã do dia 10 de dezembro de 1983, o presidente civil Raúl Alfonsín, tomava posse. Encerravam-se 7 anos da ditadura militar mais sangrenta da História do século XX na América do Sul.

A ditadura argentina aplicou uma série de formas de eliminar pessoas que considerava “subversivas”, fossem elas vinculadas a grupos guerrilheiros, civis sem militância política alguma, estudantes secundaristas, universitários, empresários, aposentados, entre outros.

As principais formas eram:

- Jogar pessoas vivas, desde aviões, sobre o rio da Prata ou o Oceano Atlântico.

- Juntar prisioneiros, amarrados, e dinamitá-los.

- Fuzilamento.

- Morte por terríveis torturas

Tal como os funcionários do Terceiro Reich que recorreram aos fornos crematórios para eliminar os prisioneiros dos campos de concentração – como forma rápida de eliminar os vestígios dos corpos dos judeus massacrados – a ditadura argentina optou pelos “voos da morte” como uma de suas modalidades preferidas para “desaparecer” as pessoas sequestradas.

Adolfo Scilingo, ex-capitão da Marinha que em 1995, arrependido de sua participação nos “voos da morte”, revelou que 4.400 pessoas foram assassinadas ao serem arremessadas no rio da Prata e no mar desde os aviões da Marinha. Scilingo, condenado a 640 anos de prisão pelos tribunais da Espanha por crimes contra a Humanidade, sustentou que os voos da morte não eram um procedimento circunstancial, mas sim, parte de um plano de grande escala de eliminação dos corpos dos desaparecidos.

Além da Armada argentina, a Aeronáutica e o Exército também realizaram “voos da morte”, embora em menor escala, já que estas duas forças preferiam o enterro dos cadáveres em fossas comuns clandestinas.

Na época do surgimento dos primeiros cadáveres nas praias, a ditadura militar uruguaia acreditou que tratavam-se de pessoas afogadas em um naufrágio de um navio asiático. Os militares confundiram no início que eram de etnias orientais, pois os corpos estavam “amarelos”. Mas, posteriormente perceberam que tratavam-se de ocidentais.

Nos anos seguintes os militares em Montevidéu reclamaram aos colegas argentinos em Buenos Aires que o surgimentos de corpos em suas praias estavam causando constrangimentos ao regime, além de pânico nos turistas, que deparavam-se com os cadáveres trazidos pela maré. A partir dali, os pilotos argentinos deixaram de arremessar os prisioneiros na área do rio da Prata começaram a fazer voos até o mar. No entanto, as correntes marítimas continuaram levando os corpos às costas uruguaias.

O destino dos corpos:

- Enterrados em cemitérios clandestinos. Ou, em cemitérios oficiais, embora em fossas coletivas como indigentes.

- Jogados no Rio da Prata ou no mar

Em 2009, um relatório entregue à ONU pela secretaria dos direitos humanos da Argentina indicou que do total de desaparecidos da Ditadura, 30,2% eram composto de operários; 21% por estudantes (inclusive colegiais), 28,6% de funcionários públicos e profissionais liberais. Outros 20,2% pertenciam à outras categorias sociais.

MODALIDADES DE TORTURAS

As torturas aplicadas pela ditadura argentina acumulavam diversas modalidades que – ao longo de dois séculos de História – as forças armadas locais (e as forças policiais) haviam desenvolvido e aplicado.

- Picana elétrica: criada nos anos 30 na Argentina por Leopoldo Lugones Hijo, filho do escritor nacionalista Leopoldo Lugones. A picana era o instrumento para assustar o gado com choques elétricos nos currais, e assim, direcioná-lo para o abate ou embarque. Aplicado a seres humanos, tornou-se no instrumento preferido de tortura na Argentina.

- Submarino molhado: consistia em afundar a cabeça de uma pessoa em uma tina d’água. Ocasionalmente a tina também estava cheia de excrementos humanos.

- Submarino seco: consistia em colocar a cabeça de uma pessoa dentro de um saco de plástico e esperar que ela ficasse quase asfixiada.

- O rato no cólon: a colocação de um rato, faminto, no cólon de um homem. Nas mulheres, o rato era colocado na vagina.

- Estupros: Mulheres e homens foram estuprados sistematicamente pelos militares e policiais argentinos. As mulheres, ocasionalmente recebiam a opção de serem estupradas ou de serem eletrocutadas na parte interna da vagina e ânus.

- Esfolamento: Os torturadores amarravam um prisioneiro em uma mesa e começavam a esfolar a pele da sola dos pés com uma gilette ou bisturi

- Empalamento: Alguns homens foram empalados pelas forças de segurança com cabos de vassoura.

O menino Floreal Avellaneda, considerado
‘inimigo’ pela ditadura argentina, foi empalado.
Um dos casos mais sinistros de torturas foi o do adolescente Floreal Avellaneda, sequestrado no dia 15 de abril de 1976. Filho de um casal de sindicalistas militantes do Partido Comunista, Floreal, que tinha 14 anos quando foi sequestrado, sofreu torturas nas mãos e genitais. Depois, foi empalado vivo.

No dia 22 de abril de 1976 a polícia uruguaia encontrou em uma praia perto de Montevidéu o cadáver de um jovem violentamente torturado com a marca de uma tatuagem com as letras “FA”. Posteriormente, com a volta da democracia, a mãe de Floreal pode confirmar que tratava-se de seu filho. Ele havia sido arremessado de um dos aviões que realizavam os “voos da morte” sobre o rio da Prata.

Fonte: Blog do Ariel Palacios
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ha-30-anos-encerrava-se-a-ditadura-argentina-pequeno-manual-sobre-o-modus-operandi-do-regime/

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

[Pausa Musical] - Paralamas do Sucesso. Feliz 2014

Eu ia soltar um "pausa musical" bem antes mas acabou não dando. Em todo caso, seguem abaixo duas músicas que não ouvia há muito tempo e não lembrava do quanto tinha qualidade as músicas, principalmente "Alagados" que, além da qualidade musical (e dos riffs da música e ritmo 'meio reggae' acelerado). Essa música é uma crítica social que toca na ferida da desigualdade social do país, sendo que o clipe da música vai além disso mostrando que a desigualdade social é também (e principalmente) "racial" (segregação étnica) já que as favelas do país literalmente parecem guetos étnicos.

Tem gente que nega isso, cinicamente ou não (no caso, quem nega cinicamente sabe que o problema existe mas não quer vê-lo resolvido, e há os que negam por ignorância, esse segundo caso ainda dá pra dar um "desconto"... até quando, não sei). E por que digo isso? Porque volta ou outra sempre aparece um desses fascistas ou "reaças" negando um monte de fatos, ideologicamente, sempre chamando todo mundo que retrata o problema de "comunista" etc e tal. Aliás, é bem conveniente pra esse pessoal chiliquento dizer que todo mundo é comunista pra nunca discutir a questão, deixar tudo como está, tem sido esse um dos artifícios de discurso da elite brasileira pra empurrar os problemas graves do país (o mais sério deles, disparado, é o da desigualdade de renda e regional) pra debaixo do tapete.

Não falo com certeza pois não há registro disso sobre a música (não achei na web) e lembro vagamente, mas se eu não estiver enganado (caso alguém saiba de mais detalhes e queira comentar), esse clipe de "Alagados" mostra imagens da Favela da Maré (Rio de Janeiro capital) e parece (não tenho certeza, portanto, caso não tenha sido nem levem a sério essa parte) o clipe foi trocado na TV por outra versão de clipe mais leve com a música (vocês acham no Youtube, eu já assisti no Youtube por isso me veio à mente a questão).

A dedução de segregação "racial" (ou étnica) é minha, vendo as imagens do clipe hoje dá pra ter uma leitura melhor da coisa, embora não seja algo novo pra ninguém. A letra da música compara a situação de três grandes favelas, Alagados (Salvador, Bahia, link1 link2), Trenchtown (Kingston, Jamaica) e Favela da Maré (Rio de Janeiro capital), que são cidades conhecidas por serem "festivas" embora a realidade "oculta" dessas cidades (pra maioria da população delas) seja bem diferente. A alegria acaba se transformando em uma forma de mascarar as desgraças (mazelas sociais).

O clipe de "Alagados" era e continua chocante (atual) pois mostra sem retoques coisas que a própria TV brasileira tenta negar diariamente perpetuando o estado de segregação brasileiro que lembra muito o quadro da África do Sul. Quando não é isso, é fomentando atrito regional pra camuflar problemas.

Talvez a diferença dos dois modelos de segregação seja que a segregação na África do Sul era escancarada, explícita, em pleno século XX (onde houve muitos registros gráficos) quando não se tolerava mais isto, enquanto no Brasil se adotou o discurso cínico do "lusotropicalismo", depois de extinguirem a segregação estatal no século XIX aplicando a eugenia pra branquear a população como política de Estado da Monarquia "brasileira", sendo essa segregação da ideologia do "lusotropicalismo" mais silenciosa, "oculta", feita na surdina usando o discurso de que "somos todos mestiços" então "racismo não existe" ("ignorando" que o racismo é uma construção social). E agora há gente insuflando um monte de gente simpática (e idiota) a escancarar os preconceitos, adotando um discurso não mais mascarado de segregação racial com slogans como "os brancos estão sendo perseguidos" e coisas desse tipo. No fundo eu fico me perguntando se essas pessoas ao dizerem isso acha que vão convencer alguém de que a segregação não existe, pois mesmo o país não querendo resolver o problema, pelo menos muita gente sabe que existe. Negacionistas são sempre escrotos.

Seguem as duas músicas, "Cinema Mudo", em homenagem especialmente pro Lobão (os 'fortes' entenderão o porquê da homenagem, rsrsrsrs) e o clipe de "Alagados" (1986) que é chocante até hoje, a banda grava em locações da própria Favela da Maré e aparece um baile da época na favela onde a banda visita o baile e grava com a população dela, Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna, os Paralamas do Sucesso.

Não lembrava do quanto essa música era boa pros que acham que brasileiro não sabe fazer música (desliguem a TV um pouco e parem de assistir besteira na TV aberta, tem conteúdo de sobra na web basta ter curiosidade e saber procurar). Realidade nua e crua que causa mal estar e fúria na elite segregadora do país.






Pra não perder viagem no post, segue um bônus com Vital que acabou deixando a bateria por sua moto. Essa música é demais e a edição do clipe ficou fantástica. Mais uma dedicada ao Lobão (hahahaha), #partiuLobão

domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 28 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: eutanásia com fenol em Buchenwald

Dr. Schuler-Ding
Publicado em 7 junho, 2012

A prova 283 de acusação é uma declaração jurada do doutor Erwin Schuler: o célebre "doutor Ding". Como testemunha de aplicação da eutanásia mediante fenol puro sem diluir em Buchenwald, declarou:
"Um a um foram entrando quatro ou cinco prisioneiros. Entravam com a parte superior do tronco nua para que não se distinguisse a insígnia de sua nacionalidade (na roupa). Eram de idade avançada e estavam em más condições físicas. Não recordo do diagnóstico pelo qual iriam lhes aplicar a eutanásia, mas seguramente tampouco o perguntei.

Sentaram-se tranquilamente em uma cadeira, ou seja, sem nenhum nervosismo, próximos a uma luz. Um enfermeiro pressionava a veia do braço, e o doutor Hoven (Waldemar Hoven, médico chefe de Buchenwald) injetava rapidamente o fenol. Morriam com uma convulsão imediata e total, durante a aplicação da injeção, sem nenhum outro sinal de dor. Calculo que o tempo transcorrido entre o início da injeção e a morte era de meio segundo. O resto da dose se injetava como medida de precaução, ainda que para provocar a morte bastasse apenas uma dose da injeção. (Calculo que cerca de 5 cc.)

Os enfermeiros levavam o morto a uma habitação antiga. Eu calculo que estive ali uns dez minutos".

[…]
Durante a realização do programa de eutanásia, descrito mais adiante, foram assassinados milhares de pessoas mediante injeções de fenol. A cifra dos assassinados por este método ascendeu a mais de vinte mil pessoas.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/07/doctores-del-infierno-eutanasia-con-fenol-en-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 264-265; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A Espanha franquista foi pioneira no "photoshop" do "pudor" (pra censurar)

Cartazes de filmes mostram a censura durante a ditadura na Espanha. Livro mostra como o regime cobriu decotes na Espanha franquista. Atualizado em 26 de dezembro, 2013 - 09:56 (Brasília) 11:56 GMT

A Espanha de Franco

O livro La censura franquista en el cartel de cine (A censura franquista nos cartazes do cinema) nasceu a partir da pesquisa de Bienvenido Llopis. Segundo ele, os cartazes mostram os “ajustes que os artistas tiveram que fazer” para se adequar “a linha da decência” imposta pelo regime.

A personalidade de Francisco Franco começou a se impor na Espanha em 1936, ano do início da Guerra Civil Espanhola. Franco liderou os nacionalistas, que se opunham à jovem república estabelecida em 1931. O conflito foi um dos mais sangrentos da Europa e considerado um ensaio para a Segunda Guerra Mundial.

Com a vitória, em 1939, Franco tornou-se ditador e governou o país com mão de ferro até sua morte, em 1975. Nesse tempo, obras foram censuradas, inimigos perseguidos e as identidades regionais oprimidas, caso do idioma catalão, proibido por Franco.

O livro "La censura franquista en el cartel de cine" mostra vários cartazes de filmes censurados como “The Biggest Bundle”, de 1968. A atriz Raquel Welch, de biquini, teve o corpo coberto, mas as pernas continuaram à mostra, assim como o decote na versão espanhola.


Na publicidade do filme que na Espanha ganhou o nome de “Amor a la Inglesa”, desaparece a cama em que o ator Peter Sellers aparece entediado esperando a namorada. Já a lingerie da atriz Sinead Cusack é substituida por uma saia vermelha.


Lançado em março de 1934, o filme estrelado por Joan Crawford e Gary Cooper fazia sucesso na Espanha. Crawford, no entanto, ficou publicamente do lado republicano na Guerra Civil Espanhola, que culminou com a vitória franquista. Em 1942, o filme ganhou outro cartaz, no qual o nome da atriz desaparece.


Marilyn Monroe também foi alvo de censura franquista. O decote, considerado ousado, foi retocado, para não mostrar mais do que o regime franquista considerava moral.


Francisco Franco foi ditador da Espanha de 1936 até sua morte, em 1975. Durante esse tempo, o Gabinete de Censura Democrático foi encarregado de rever a publicidade dos filmes que chegavam ao país. Na foto, imagem retocada da atriz italiana Sophia Loren.


O livro "La censura franquista en el cartel de cine" nasceu a partir da pesquisa de Bienvenido Llopis. Segundo ele, os cartazes mostram os “ajustes que os artistas tiveram que fazer” para se adequar “a linha da decência” imposta pelo regime.


Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2013/12/131225_galeria_censura_franco_4_mm.shtml

Ver matéria completa (em espanhol): “La censura franquista en el cartel de cine”, el régimen vs el poder de la imagen
http://culturacolectiva.com/la-censura-franquista-en-el-cartel-de-cine-el-regimen-vs-el-poder-de-la-imagen/

Observação: pois é, um decote era "algo criminoso" pra "moral e bons costumes" dos fáscios (que vê perversão em tudo por só pensarem em sacanagem o tempo todo). Vai ver que "tesão" pros fáscios (no caso da matéria são os da Espanha, embora todos os fascistas seguem a mesma linha, ou seja, são farinha do mesmo saco) era isso:

Repressão na Espanha franquista
Um decote é "pecado", já usar o garrote (link2) e bater no povo de forma deliberada pra reprimir, deve/devia ser algum tipo de tara/fetiche/perversão sexual deles. Esses fascistas são uma 'gente meio "estranha": caso Max Mosley.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

[Pausa Musical] - Boas festas e centenário da Primeira Guerra Mundial em 2014

2014 será um ano especial pro mundo, será centenário de uma guerra emblemática: a primeira guerra mundial, que teve tanto peso na definição do mundo atual como a segunda guerra, há quem considere que são uma guerra só e não duas (com um intervalo), mas não vamos entrar nesse tipo de consideração. Mas como dizia, sobre a primeira guerra, ela é menos conhecida ou comentada provavelmente pelo impacto da segunda guerra (e ela ser mais recente e com formato "moderno") como também por não existir "figuras bizarras de culto" como o cabo maníaco austríaco e a polarização ideológica da segunda guerra mundial (democracias, nazifascismo e o bloco socialista).

Antecipando o centenário da primeira guerra mundial em 2014 e aproveitando que nos próximos dias se comemora o Natal, vem bem a calhar colocar este vídeo sobre um episódio ocorrido no Natal de 1914 quando houve uma pausa entre as partes beligerantes no Natal.

O vídeo é da música Pipes of Peace (link2) de Paul McCartney, do disco homônimo de 1983 que tem faixas da parceria dele com o Michael Jackson como o hit Say Say Say. Esse disco saiu na época da guerra das Malvinas (Argentina x Reino Unido), por isso o enfoque na questão da paz e guerra que já havia sido abordado no disco anterior de 1982 Tug of War (link2). Na verdade esses dois discos deveriam ser um álbum duplo só que foram lançados separadamente por imposição da gravadora, EMI). Ambos os discos foram produzidos por George Martin, conhecido como o "quinto beatle" ou o produtor dos Beatles (o que explica a qualidade acima da média dos dois álbuns).

Lançaram um filme em 2005 sobre esse episódio do natal de 1914 sobre a pausa da guerra nas trincheiras que se chama Joyeux Nöel.

Mas eu conhecia esse episódio por conta do disco e do clipe do P. McCartney mencionado. Era engraçado o povo citar esse episódio por conta do filme acima sendo que esse fato foi retratado muito antes no videoclipe, desconhecido por muita gente (até porque o brasileiro em geral tem fixação na "programação" da TV, com uma "qualidade" pra lá de duvidosa, sendo bem generoso no adjetivo).

Ele faz o papel no clipe de Pipes of Peace (Flauta da Paz) de um soldado alemão e de um soldado do lado britânico/francês (da Entente), a mulher que aparece nas fotos que são trocadas é a finada esposa dele, Linda. No clipe de Tug of War o casal também aparece com ele tocando violão e imagens daquela época sendo exibidas (do cabo de guerra).

Vou colocar não só o clipe de Pipes of Peace como o de Tug of War (música homônima do outro disco de 1982), pois são praticamente complementos e deveriam ser do mesmo disco.

Tem muito "revi" que fica "pirando na batatinha" quando se fala em pacifismo etc, são os "soldados" de videogame que borram nas calças quando escutam um tiro nas ruas mas ficam delirando de forma ridícula e cretina com guerras fictícias e regimes totalitários racistas dos quais nem sequer fazem ou fariam parte. Por isso não poderia deixar de dedicar os clipes em "homenagem" a eles (conteúdo irônico, hahahahaha).

Sem mais delongas, assistam os clipes abaixo onde um deles aborda justamente esse episódio do Natal de 1914 na primeira guerra mundial. Pra mim (opinião pessoal), essa música Pipes of Peace é uma das melhores da carreira solo sendo que, estranhamente, ele nunca a tocou ao vivo.

A todos, um Feliz Natal e boas festas. Creio eu que não haverá mensagem sobre 2014, então já deixo aqui registrado os votos de boa virada de ano a todos.



domingo, 22 de dezembro de 2013

Discórdia na Cesspit (Codoh) com Mark Weber. Mais um racha no mundo "revisionista"

Pros que não sabem o que significa o termo Cesspit, confira clicando nas tag CODOH e Cesspit.

Parece que há um visível racha no clero "revisionista", e insatisfação e suspeita com o cabeça do IHR, Mark Weber. E para não confundir, este Mark Weber não é o ex-piloto de Fórmula 1 da RBR, os dois são homônimos, apesar do ex-piloto de F1 ter dois 'bês' no sobrenome.

Em post do Codoh um "revi", com foto de jogador do leste europeu, toca no assunto expondo o texto de uma "revi" neonazi (ou "supremacista branca", sempre rio desses termos "supremacismo"), Carolyn Yeager (não sabe quem ela é? Clique aqui e aqui), a crise e insatisfação de "revis" "gurus" como Rudolf com Mark Weber: link

C.Y: 'Is the IHR a dead horse?' (O IHR é um cavalo morto?)
Texto original

A queixa deles com Weber, tradução livre minha:
Mark Weber adquiriu o controle do Instituto para "Pesquisa" Histórica (vulgo IHR)control na metade dos anos 90 e mudou todo seu propósito distante do "Revisionismo" do Holocausto para nenhuma posição ou qualquer coisa semelhante;

Weber nunca foi um "revisionista" de verdade (mesmo nos anos 80), de acordo com ambos, Berg e Rudolf;

Weber resistiu em publicar livros de Germar Rudolf, e não queria textos traduzidos de "revisionistas" alemães, e queria escrever seus próprios artigos sumários por terceiros;

Com David Irving, Weber foi observado como se comportando como um total sicofanta; ele até parecia estar "apaixonado" por Irving;

Muitos ainda pensam que o IHR sob Weber "parece bem" e então financeiramente apoia isso;

Caller Jim trouxe o "discurso de Posen" de H. Himmler, que ambos, Berg e Rudolf, consideram-no genuíno porém um mal-entendido;

Dana apresentou a questão de que a maioria das pessoas que estão de saco cheio do "holocausto" na mídia - de que ele espera que haja reação sobre o que Germar disse, mas mais na Europa que nos Estados Unidos.
E há mais duas acusações de um outro "revi" com nick de Werd (que aparenta se contentar com o stalking promovido pela dupla dona de um site tosco sobre Holocausto nos EUA) sobre Weber:
Mark Weber conspira para vender listas de email para a ADL.
http://www.vho.org/GB/c/TOK/Whistleblower.html

A visão de Rudolf sobre a crise do IHR com Weber:
http://www.vho.org/GB/c/GR/IHRCrisis.html
Resumindo: haja choro e paranoia no "mundo" "revi"*, pra variar.

O IHR, pra quem não sabe, é o principal difusor de textos de negação do Holocausto no mundo (com sede nos Estados Unidos) junto com um site também hospedado nos EUA (host de Nova York, suspeito que o host seja do Michael Santomauro), VHO, com ramificação na Europa (Bélgica etc).

Observação:


Mas se me permitem, vou fazer algumas considerações sobre essa temática do combate ao negacionismo aproveitando o post em questão. Vou reforçar coisas que já disse antes pois é bom deixar claro que não só rola problemas no "lado "revi"" como de gente que se coloca na posição de "anti-"revi"", que não é uma posição exclusiva de A, B ou C obviamente, mas a partir do momento que tentam se passar (ou insinuar) por a gente, a coisa muda de conversa. Quem age por conta própria assumindo, eu nunca critiquei embora eu posso não concordar com certos posicionamentos (em geral o pessoal é de direita e meio paranoico, e eu sou de esquerda e cético até o talo, o que gera na maioria das vezes um conflito ideológico pois não tenho muita paciência com essa direita paranoica hidrófoba lunática brasileira).

Sobre o termo "revi" (que coloquei o asterisco pra comentar), passarei a preferir essa escrita ou mesmo chamar por "revisionista" (com aspas) do que o termo "revimané", que não fomos nós que criamos, foi um colega nosso no Orkut anos atrás. A quem usa o termo aleatoriamente achando que é "criação" nossa, taí mais um detalhe que não sabiam (pra variar), que inclusive já comentei aqui antes, só que as pessoas que leem seletivamente (de forma atabalhoada, como sempre) nunca prestam atenção aos detalhes.

Há gente mal-intencionada usando fakes tentando insinuar ou se passar pelo pessoal do blog (pra causar confusão) explorando a paranoia dos "revis" usando esses termos e expressões que usamos ironizando esse pessoal. Pra alguém mais safo dá pra notar de cara a falsificação, pra gente mais "burrinha" (ou seja, a maioria...) a falsificação não é algo tão óbvio assim e disso vem o problema.

Pra alguém mais paranoico, quem escreve o termo (que já é de domínio público) "x" só existe uma dedução lógica primária (pois não vão além disso): "só pode ser esse pessoal pois eles usam o termo". Nunca passa na cabeça desses imbecis que qualquer pessoa pode usar o termo pra confundir (ou mesmo porque gostou já que não tem "copyright") e pode se esconder com fakes.

Eu não uso fakes, escrevo com meu nome, discutia com "revis" usando meu nome e já emiti o que penso (mais de uma vez) sobre esse pessoal que se borra com "revis (No Reino da Fantasia dos Trolls "Ocultos"). Penso de fato que se uma pessoa se pela de medo desses "revis" se valendo desse artifício pra tentar confundir, como já disse antes aqui, deveria parar de fazer isso ou sumir, pois além da atitude covarde (pois a impressão que se passa é essa), só vejo discussão imbecil com esses caras, com um vitimismo ridículo, uma contemporização ridícula e localizei mais ou menos de onde é um dos perfis (do estado do Ceará).

A quem pensa que só "revis" criam problema, desencanem disso, as piores brigas e confusões que vi no Orkut foram causadas por gente que se dizia "anti-"revi"" criando atrito com esses "revisionistas" e afins, entravam lá posando de "valentões" e brigões e quando algum desses "revis" (ou neos) cismavam e iam pra cima, os caras corriam com o rabo entre as pernas e vinham tentar jogar o problema pro nosso lado, principalmente quando se entocavam em comunidades sobre conflito no Oriente Médio misturando questões como conflito israelense-palestino com essa questão do negacionismo no Brasil. E vou dizer claramente, esse pessoal hoje me irrita tanto quanto os "revis".

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com tifo

Publicado em 12 junho, 2012

O tifo se converteu num problema médico de primeira magnitude no outono de 1941, depois que a Alemanha atacou a Rússia. Como naquele momento escasseavam as vacinas, só se imunizavam contra o tifo o pessoal de saúde sanitária que ocupava postos de risco.

Entre dezembro de 1941 e março de 1942, iniciou-se um perverso e mortífero programa de experimentação médica usando reclusos dos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler. Seu propósito era avaliar diversas vacinas contra o tifo, a febre amarela, a varíola, a febre paratifoide A e B, o cólera e a difteria. Esperava-se com ele produzir um soro de convalescente para combater o tifo.

Durante o processo foi demonstrado que 729 presos foram submetidos a experimentos com tifo, dos quais 154 morreram. (…)

Ainda que os imputados Handloser, Schroeder, Genzken, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Sievers, Rose e Hoven fossem condenados por experimentos com tifo que constituíam delito criminoso, a maioria dos experimentos realizados em Buchenwald foi conduzido por um médico de sinistra fama, conhecido como o doutor Ding (Schuler), que se suicidou ao término da guerra e, portanto, não pode ser conduzido à justiça. O diário profissional do doutor Ding sobreviveu e, passado um tempo, foi entregue ao magistrado chefe para crimes de guerra, o general norte-americano Telford Taylor, e passou a ser uma das 1471 provas documentais preparadas pelos alemães. Desempenhou papel essencial na hora de condenar os médicos depravados.

Doutor Eugen Haagen
O doutor Eugen Haagen, oficial do Serviço Médico da Força Aérea e professor da universidade de Estrasburgo (França) durante a ocupação alemã, dirigiu experimentos com tifo em Natzweiler.

(…)

O melhor modo de descrever esses experimentos é recorrer ao testemunho do doutor Eugen Kogon, prisioneiro de um campo de concentração e testemunha de acusação, que foi interrogado pelo promotor McHaney:

Promotor McHaney: – O Sr. poderia, por favor, explicar ao tribunal, com suas próprias palavras, como foram efetuados esses experimentos com tifo?

Testemunho de Kogon: – Depois que se destinou para uma série de experimentos entre quarenta e sessenta pessoas (às vezes até cento e vinte), separava-se a um terço delas, e os dois terços restantes lhes vacinavam com um tratamento protetor ou lhes administravam de outro modo, se era um tratamento químico. (…) O contágio se efetuava de diversas maneiras. Transferia-se o tifo mediante o sangue injetado por via intravenosa ou intramuscular. No princípio também se fazia arranhando a pele, ou praticando uma pequena incisão no braço. (…)

Para manter os cultivos de tifo, utilizavam uma terceira categoria de sujeitos de experimentação. Eram as chamadas "pessoas de trânsito", entre três e cinco pessoas por mês. Elas eram contaminadas unicamente com o fim de assegurar um fornecimento constante de sangue infectado de tifo. Quase todas essas pessoas morreram. Não creio exagerar se digo que 95 por cento delas morreram.

Promotor: – A testemunha quer alegar que contaminavam premeditadamente com tifo entre três e cinco pessoas ao mês só para terem vírus vivos e disponíveis no sangue?

Testemunha: – Só com essa finalidade concreta.

[…]

Promotor: – Pode dizer ao tribunal se esses sujeitos de experimentação sofreram de forma apreciável no transcurso dos experimentos com tifo?

Testemunha: – […] os sujeitos de experimentação esperavam na enfermaria dia ou noite que lhes fizessem algo; não sabiam o que seria, mas adivinhavam que seria uma morte espantosa.

Se lhes vacinavam, às vezes ocorriam as cenas mais horrendas, porque os pacientes temiam que as injeções fossem letais. O Kapo tinha que restabelecer a ordem com mão de ferro.

Passado certo tempo depois da infecção, quando a enfermidade havia se manifestado, apareciam os sintomas normais do tifo, que, como é bem conhecido, é uma das enfermidades mais graves que existem. A infecção, como já foi descrito, havia se fortalecido muito durante anos e mais uma metade de ano anteriores na qual o tifo começou a aparecer em sua forma mais terrível. Havia casos de loucura furiosa, delírios, pessoas que se negavam a comer e uma grande porcentagem delas morria.

Os que sofriam a enfermidade em uma forma mais benigna, talvez porque fossem mais fortes de constituição ou porque a vacina surtia efeito, tinham que assistir constantemente a agonia dos outros. E isto ocorria em um ambiente que dificilmente poderia se imaginar. Durante o período da convalescência, os que sobreviviam ao tifo não sabiam o que seria deles. Seguiram no barracão 46 para serem utilizados para outros fins? Os utilizariam como ajudantes? Temeriam que eles como testemunhas sobreviventes dos experimentos com seres humanos e os matariam, portanto? Eles não sabiam, e ele agravava as condições desses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/12/doctores-del-infierno-experimentos-con-tifus/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 239-242; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Museu do Holocausto recupera diário de Alfred Rosenberg. Diário completo colocado online

Museu do Holocausto recupera diário de criminoso de guerra nazi

O Museu do Holocausto dos Estados Unidos anunciou hoje ter recuperado o diário de um quadro nazi, que está disponível 'online' para promover o conhecimento sobre o extermínio de judeus e outras minorias orquestrado por Adolf Hitler.

REUTERS/Gary Cameron
Museu do Holocausto recupera diário de criminoso de guerra nazi
O Museu do Holocausto, situado em Washington, tentou, durante anos, recuperar o diário de Alfred Rosenberg, fiel do ditador alemão e um dos principais autores e promotores da teoria da supremacia da raça ariana.

"Hoje, a busca termina", regozijou-se a diretora do museu, Sara Bloomfield, na cerimônia oficial de transferência para as autoridades federais americanas das 425 páginas, manuscritas e datilografadas, que constituem o diário.

Depois de ter passado por várias mãos, o documento estava agora na posse de um editor acadêmico americano, que o terá recebido de um dos promotores públicos envolvidos nos julgamentos de Nuremberg.

Desaparecido desde 1946, quando terminaram os julgamentos de Nuremberg aos crimes cometidos pelo regime nazi, o diário de Rosenberg ilustra, ao longo de um período de dez anos, com início em 1934, o plano racista que conduziu ao extermínio de seis milhões de judeus e cinco milhões de pessoas de outras minorias étnicas ou sexuais.

Capturado pelas tropas aliadas no final da II Guerra Mundial, Rosenberg foi condenado em Nuremberg e executado em outubro de 1946, aos 53 anos.

Fonte: Tsf/Reuters (Portugal)
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=3593500

Pra quem quiser ver o diário completo online, o USHMM disponibilizou as páginas digitalizadas e transcritas (em alemão): Diário de Alfred Rosenberg
http://collections.ushmm.org/view/2001.62.14?page=1

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O médico da SS, Dr. Horst Schumann (Eutanásia em doentes mentais, Aktion T4)

Dr. Horst Schumann, médico da SS
Envolvido no programa de Eutanásia
O Dr. Horst Schumann (tenente superior da Força Aérea e Sturmbannführer da SS) nasceu em 1906 em Halle an der Saale, filho de um médico de medicina general. Desde 1930 afiliado ao NSDAP com o número 190 002 e desde 1932 membro da SA. Schumann se formou em medicina em 1933 em Halle, e em 1934 trabalhou para Saúde Pública em Halle e quando estourou a guerra em 1939 foi recrutado como médico adjunto da Força Aérea.

Viktor Brack, chefe da oficina da aktion T4 (no qual se praticava a eutanásia dos doentes mentais, os doentes crônicos, os judeus e os assim chamados antissociais) lhe pediu em 1939 que participasse como médico nesta ação de eutanásia, ao que Schumann aceitou pouco tempo depois. Em janeiro de 1940 foi nomeado chefe da clínica de eutanásia de Grafeneck em Württemberg; ali a eutanásia consistia em assassinar as pessoas mediante gases de escape. No verão de 1940 foi nomeado diretor da clínica Sonnenstein próxima de Pirna na Saxônia.

Depois que Hitler houvesse ordenado oficialmente a aniquilação dos assim chamados "doentes incuráveis", pondo-a sob o nome de código "14 f 13" também os presos dos campos de concentração, Schumann fez parte das comissões de médicos que selecionavam os presos incapacitados para trabalhar, assim como os presos extremamente débeis nos campos de concentração de Auschwitz, Buchenwald, Dachau, Flossenburg, Groß-Rosen (Gross-Rosen), Mauthausen, Neuengamme e Niederhangen, para serem transportados às clínicas de eutanásia, onde eram gaseados.

Em 28 de julho de 1941 Schumann chegou pela primeira vez a Auschwitz, onde selecionou 575 presos que foram transportados para a clínica de eutanásia em Sonnenstein próxima de Pirna, onde foram assassinados. A partir de agosto de 1941, a SS prosseguiu com sua ação "14 f 13", agora com os presos doentes lhes era injetado fenol diretamente no coração. Um ano e meio mais tarde, Schumann voltou a Auschwitz para pôr a prova um método "econômico e rápido", com raios-X, para esterilização em massa de homens e mulheres. Quase nenhuma de suas numerosas vítimas sobreviveu; sendo as causas dessas mortes as queimaduras sofridas, as "intervenções complementares" (extirpação de ovários e testículos), o esgotamento físico e o choque psíquico. Em 1944 Schumann abandonou Auschwitz. Em outubro de 1945 apareceu em Gladbeck, onde se deu alta no Registro e onde também foi nomeado médico desportivo.

Mediante um crédito que se concedia exclusivamente aos refugiados (!), abriu em 1949 sua própria clínica, e até 1951 as autoridades pertinentes não se deram conta de que na realidade se tratava de um criminoso nacional-socialista procurado. Schumann pode fugir. Nos anos seguintes, segundo suas declarações, exerceu medicina em um barco, trabalhou a partir de 1955 no Sudão, de onde fugiu em 1959, via Nigéria e Líbia, para Gana. Até 1966, Schumann não havia sido extraditado para a República Federal da Alemanha. Em setembro de 1970 foi aberto o processo contra Schumann, interrompido em abril do ano seguinte pela hipertensão arterial do acusado. Em 29 de julho de 1972 foi posto em liberdade, fato que passou desapercebido do grande público. Passou o resto de seus dias em Frankfurt, onde faleceu em 5 de maio de 1983, onze anos depois de haver sido posto em liberdade. Graças aos certificados médicos pode se livrar de uma condenação e até da prisão.

Fonte: Institut fuer Sozial- und Wirtschaftsgeschichte - Uni Linz (Áustria)
http://www.wsg-hist.uni-linz.ac.at/auschwitz/htmlesp/Schumann.html
http://www.wsg-hist.uni-linz.ac.at/auschwitz/htmld/Schumann.html
Foto: Arquivo Yad Vashem (http://collections.yadvashem.org/photosarchive/en-us/1059_12880.html)
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Experimentos Médicos - Oberhauser e Schumann
Tag Cobaias Humanas

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos em altitudes elevadas

Publicado em 14 junho, 2012

Os experimentos relativos a altitudes elevadas tinham como objetivo pôr a prova os limites da resistência e da vida humanas em altitudes extremamente elevadas, com e sem oxigênio. Isto foi conduzido pela Força Aérea alemã no campo de concentração de Dachau entre março e agosto de 1942, aproximadamente. Tinham como propósito reproduzir as condições atmosféricas que o piloto alemão poderia encontrar em combate ao cair de grandes distâncias sem paraquedas e sem fonte de oxigênio. Esses experimentos foram realizados colocando a vítima numa câmara hermética de baixa pressão provida pela Luftwaffe, e simulando as condições atmosféricas e de pressão de altitudes até num máximo de vinte mil metros.

A iniciativa partiu do médico da Luftwaffe Sigmund Rascher, que em 15 de maio de 1941 propôs ao chefe da SS, Heinrich Himmler, levar a cabo este tipo de experimentos criminosos. Himmler autorizou os experimentos de boa vontade. Os experimentos de combate aeronáutico e naval, assim como os experimentos de resgate, centraram-se principalmente nessas provas de simulação de altitudes elevadas (acima de dez mil metros, assim como em provas de exposição ao frio e relativas à capacidade humana de metabolizar água marinha tratada (…)

Nos documentos, os seres humanos da experimentação aparecem mencionados com as siglas VP (Versuchsperson, que quer dizer, "sujeito de experimentação"). Os cerca de duzentos sujeitos foram escolhidos aleatoriamente. Entre os selecionados havia civis russos, prisioneiros de guerra russos, poloneses, judeus de diversas nacionalidades e presos políticos alemães. Desses duzentos, não mais que quarenta haviam sido condenados à morte. (O fato de que os sujeitos dos experimentos houvessem sido sentenciados à pena capital foi esgrimido como argumento pelos imputados para justificar suas mortes.) Setenta e oito pessoas morreram como consequência dos experimentos. O doutor Rascher prometeu a alguns reclusos que, se se oferecessem como voluntários, seriam liberados; por conta disto alguns se ofereceram voluntariamente. Só que a tal promessa nunca foi cumprida.

Um relatório redigido em maio de 1942 descreve como em alguns desses testes se utilizaram delinquentes habituais judeus que haviam sido condenados por Rassenschande, ou seja, literalmente, "vergonha racial". A vergonha racial, tal e como definiam os alemães, era o matrimônio ou a relação carnal entre os arianos e os não-arianos (entendendo por "arianos" os alemães de "sangue puro").

O acusado Weltz tinha jurisdição sobre as atividades do doutor Rascher. É interessante anotar que Weltz havia se colocado em contato com os renomados especialistas no campo da medicina aeronáutica, o doutor Lutz e o doutor Wendt, para que tomassem parte nesses experimentos. Ambos se negaram por motivos morais e afirmaram que as diferenças de comportamento entre seres humanos e animais não bastavam para justificar a realização de perigosos experimentos com pessoas.

George August Weltz, chefe do instituto de medicina
para aviação em Munique. Foi declarado inocente
da acusação de ser responsável dos experimentos
com grande altitude e congelamento. Fonte: USHMM
(…)

Os imputados Weltz, Ruff, Romberg, Rudolf Brandt e Sievers participaram nos experimentos de simulação de queda de paraquedas. A câmara de baixa pressão móvel na qual se obrigava a entrar os seres da experimentação foi transportada do instituto do acusado Ruff em Berlim, até Dachau. As vítimas eram fechadas uma a uma no habitáculo hermético e circular. Prontamente a pressão variava para reproduzir as condições atmosféricas até um máximo de 20.670 metros de altitude. Podia-se ou não subministrar oxigênio adicional às cobaias.

(…)

Os documentos fotográficos exibidos como provas não respaldavam o argumento dos acusados segundo o qual, ainda que os experimentos pudessem provocar a morte da pessoa, não implicavam em tortura física nem sofrimento. Algumas filmagens confiscadas pelos alemães que mostravam convulsões espasmódicas e expressões de sofrimento e dor contradizem por completo este argumento.

(…)

Outro argumento esgrimido pelos acusados foi a “necessidade do Estado” (…)

Até que ponto foram científicos os experimentos de simulação em altitudes elevadas? Na prova 66 da acusação relativa a "Experimentos de simulação em altitudes elevadas", um relatório assinado pelo doutor Rascher e o imputado Romberg, afirmava:

“Posto que era evidente a urgência de resolver o problema, sobretudo tendo em conta as condições dadas do experimento, foi necessário prescindir naquele momento do esclarecimento total sobre questões puramente científicas".

Esta afirmação demonstra que os acusados sabiam que os experimentos não eram científicos e que não cumpriam o que era estipulado pelos protocolos médicos a respeito da voluntariedade do sujeito da experimentação. Resumindo, entre 180 e 200 vítimas foram submetidas a este experimento, com o resultado de graves lesões físicas e entre 70 e 80 mortes.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/14/doctores-del-infierno-experimentos-con-altitudes-elevadas/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 113-129; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Judeus na África do Sul (no regime de Apartheid)

Em homenagem à figura de Nelson Mandela que faleceu ontem (18.07.1918* - 05.12.2013+), e teve um forte impacto em muita gente no Brasil (e no mundo) sobre a questão do combate ao racismo pelo que representava aquele regime de Apartheid da África do Sul, segue o texto abaixo que saiu na revista alemã Deutsche Welle com uma história sobre o Apartheid e a participação de judeus fugidos da guerra na Europa (e seus descendentes) na luta antiapartheid na África do Sul para marcar a data.
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Judeus no estado do Apartheid

Nelson Mandela escreveu uma vez: "Encontrei judeus mais abertos que a maioria dos brancos em questões de raça e política, talvez porque eles mesmos tenham sido historicamente vítimas de preconceitos".

Milton Shain, professor de história e diretor do Centro Kaplan de Estudos Judeus da Universidade de Cidade do Cabo, confirma as palavras de Nelson Mandela, histórico defensor dos direitos cívicos e primeiro presidente negro da África do Sul: houve muitos judeus que fugiram da Alemanha nazi que se comprometeram politicamente com o movimento antiapartheid. E isto, apesar de que os próprios refugiados não foram recebidos precisamente com os braços abertos em sua nova terra. Milton Shain explica o contexto histórico:

"Não são bem-vindos"

"Pela metade dos anos trinta, a situação era muito tensa. O barco de refugiados 'Stuttgart' chegou ao porto em final de outubro de 1936 e foi recebido com violentos protestos. Também houve destacados acadêmicos que se manifestaram contra a imigração de judeus alemães. Entre eles estava o chamado arquiteto do Apartheid, o professor Hendrik Verwoerd, que mais tarde se tornaria primeiro-ministro. Estas figuras davam voz a um movimento da direita radical que havia começado na África do Sul há alguns anos. Os chamados camisas cinzas e negras imitavam os nazis e outros fascistas europeus e se opunham veementemente à imigração contínua de judeus. Esta gente advogava a adoção de medidas para cortar a presença judia e suas possibilidades de sobrevivência no país. Contudo, suas ideias não eram aceitas majoritariamente mas formavam uma força importante que crescia de forma alarmante.

A corrente de pensamento político principal que a representava, não obstante, um político como Daniel Malan, iria se converter no primeiro-ministro do regime do Apartheid em 1948. Malan argumentava já nos anos trinta que os judeus podiam ser fonte de conflitos se se concentrassem por demais em um país, pelo que, restringindo sua entrada, ele atuava no final das contas em seu próprio interesse. A África do Sul acolheu aproximadamente 3.500 judeus alemães até que, no começo de 1937, foi aprovada a chamada 'Aliens Act', que fechava as portas a esses imigrantes.

Judeus e Apartheid

Nesse contexto há que considerar a questão das atividades políticas no sistema de Apartheid. Os imigrantes judeus alemães, vítimas do racismo e antissemitismo clássicos, chegaram a um país com uma sociedade colonial, exploradora e segregada racialmente. Os judeus brancos, que ainda eram vítimas na Europa, converteram-se de repente em 'beneficiários' dessa estrutura hierárquica baseada na raça. Isto recaía numa enorme contradição, a de que muitos, certamente, não eram conscientes. Muitos refugiados eram jovens e não compreendia com frequência as circunstâncias políticas do país. Outros já tinham suficiente com o que se preocupar na África do Sul e encontrar trabalho e casa. Naturalmente, a maior parte da comunidade judia vivia como os anglo-falantes brancos. Apesar de tudo, também houve muitos judeus imigrantes que se comprometeram com a luta antiapartheid.

Vamos dar uma olhada atrás e recordarmos o contexto histórico de então. Estava-se produzindo, por exemplo, a exterminação dos judeus na Lituânia: mais de 90 por cento foram assassinados na Segunda Guerra Mundial. A comunidade judia da África do Sul procedia em sua maior parte da Lituânia, pelo que havia uma relação muito estreita com esses acontecimentos. Os litvaks (como os judeus lituanos se chamam a si mesmos) haviam emigrado antes de que se começasse a fechar as fronteiras. Mais tarde, também chegaram à Cidade do Cabo vítimas da perseguição que haviam conseguido sobreviver. Provavelmente era esperar demais que essas pessoas perseguidas e traumatizadas se manifestassem com voz ativa contra o Apartheid.

Ativismo judeu

Apesar de tudo, a pressão social se radicalizava cada vez mais. Uma nova geração de jovens judeus bem formados exigiam mudanças. Sabiam que no período nazi havia existido simpatizantes naquele país e não queriam sê-los também na África do Sul. Naturalmente, também houve judeus de extrema-esquerda que atacaram frontalmente o regime de Apartheid desde o primeiro dia. Esses, contudo, não estavam integrados à comunidade judaica. Entre eles havia nomes como Ruth First, Joe Slovo e Ronnie Kasrils. No processo de Rivônia, que levou à prisão Nelson Mandela, havia 15 acusados; os cinco brancos eram judeus.

Em resumo, pode se dizer que o ativismo judeu contra o Apartheid teve bastante peso. Em todo caso, foi muito mais importante que o de outros grupos minoritários. Não obstante, muitos membros da comunidade judaica, sobretudo aqueles mais jovens, manifestaram às vezes uma inquietude crítica ante o passado".

Autor: Ludger Schadomsky
Editora: Claudia Herrea

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha, edição em espanhol)
http://www.dw.de/jud%C3%ADos-en-el-estado-del-apartheid/a-16585152
Tradução: Roberto Lucena

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