Observação: Sinti & Roma: Vítimas da Era Nazi fornecem informação adicional acerca deste grupo vitimado, incluindo um fundo histórico e informação sobre Robert Ritter, um cientista racial nazista(1933-1945).
Entre 1933 e 1945 os Sinti e os Roma("Ciganos")sofreram extretamente como vítimas da perseguição nazista e genocídio. Reforçando(Construindo/Construção)um preconceito de longa data, o regime nazista via os Ciganos ambos como "anti-sociais"(fora dos padrões de uma sociedade "normal) e como "inferiores" racialmente--acreditavam que ameaçavam a pureza e a força biológica da raça "Superior Ariana". Durante a Segunda Guerra Mundial, os Nazis e seus colaboradores assassinaram dezenas de milhares de homens Sinti e Roma(romenos?), mulheres, e crianças através da ocupação alemã na Europa.
Por séculos os Europeus consideravam os Ciganos como párias sociais - pessoas de aparência estrangeira, lingua, e costumes. Na Alemanha moderna, a perseguição dos Sinti e dos Roma(romenos?) precedeu o regime nazista. Mesmo que os Ciganos possuíssem direitos completos e iguais como cidadãos sob o Artigo 109 da Constituição de Weimar, eles eram sujeitos a leis "especiais" e discriminatórias. Uma Lei bávara de 16 de Julho, de 1926, esboçou medidas para "Combater Ciganos, Vagabundos e trabalhos estranhos" e requeriu o registro sistemático de todos os Sinti e Roma. A lei proibia os Cifanos de "andar em bandos", e aqueles "(Ciganos)incapazes de provar que estavam empregados regularmente" eram arriscados a serem enviandos para trabalho forçado por até dois anos. Esta lei tornou-se uma norma nacional em 1929."
Quando Hitler chegou ao poder em 1933, leis anti-Ciganos continuaram tendo efeito. Logo que o regime introduziu outras leis afetando os Sinti e Roma alemães, como os Nazis imediatamente começaram a implementar sa visão de uma Nova Alemanha - um daquelas colocava "Arianos" no topo da hierárquia de raças e ranqueava Judeus, Ciganos, e negros como raças inferiores. Sob a "Lei para a Prevenção da Prole com Defeitos Hereditários", em Julho de 1933, médicos estelerizaram contra suas vontades um número desconhecido de Ciganos, meio-Ciganos(mestiços), e Ciganos de casamentos mistos. Similarmente, sob a "Lei contra os Criminosos Habituais Perigosos" de Novembro de 1933, a polícia prendeu muitos Ciganos junto com outros que os Nazis viam como "anti-sociais"--prostitutas, pedintes(mendigos), alcoólatras, e os desocupados desabrigados(sem casa)--e os aprisionou em campos de concentração.
As leis raciais de Nuremberg de 15 de Setembro, de 1935, ("Lei para a Proteção da Honra e do Sangue Alemão" e a "Lei dos Cidadãos do Reich)não mencionavam explicitamente os Ciganos, mas em comentários interpretando estas leis, Ciganos eram incluídos, juntos com os Judeus e "Negros", como minorias "racialmente distintas" com "sangue estrangeiro". Como resultado disto, seus casamentos com "Arianos" eram proibidos. Como os Judeus, os Ciganos também foram privados de seus direitos civis.
Em Junho de 1936, um Escritório Central para o "Combate ao Fastídio Cigano" abriu em Munique. Este escritório tornou-se o quartel-general de um bando de dados nacional sobre Ciganos. Também em Junho, parte das diretrizes do Ministério do Interior para o "Combate do Fastídio/Incômodo Cigano" autorizou a política de Berlim a conduzir batidas contra os Ciganos de modo que não estragassem a imagem da cidade, que era anfitriã dos Jogos Olímpicos de Verão(Olimpíadas). Naquele mês de Julho, a polícia prendeu 600 Ciganos e os trouxeram, em 130 caravanas, a um novo e especial campo de internamento Cigano(Zigeunerlager)estabelecido próximo a uma descarga de águas residuais(esgoto) e de um cemitério no subúrbio de Marzahan em Berlim. O campo tinha apenas três bombas d'água e dois banheiros; naquela superpopulação e falta de condições sanitárias, as infermidades contagiosas proliferaram. A polícia e seus cães de guardavam o campo. Similares campos para Ciganos apareceram também no ano de 1939, em iniciativa dos governos municipais e coordenados por um Conselho de Cidades(que reportavam ao Ministério do Interior), em Cologne, Düsseldorf, Essen, Frankfurt, Hamburgo, e outras cidades alemães.
Depois da Alemanha incorporar a Áustria ao Reich em março de 1938, o regime aplicou as leis de Nuremberg aos Ciganos da Áustria. Dois campos especiais de confinamento abriram, um para 80 a 400 ciganos, em Salzburgo, e Outubro de 1939, e um segundo, em Novembro de 1940 para 4 mil ciganos em Lackenback, no Burgerland, no estado austríaco oriental que faz fronteira com a Hungria. As condições em Lackenback, que durou até o fim da guerra, eram particularmente atrozes, e muitos indivíduos pereceram ali. Ambos os campos confinaram os ciganos austríacos para o registro policial e trabalhos forçados e serviram como campos de concentração do conjunto.
Um decreto de 1937 relativo a “prevenção de crimes” forneceu um pretexto para realização de mais detenções de ciganos. Em junho de 1938, mil ciganos alemães e austríacos foram deportados para campos de concentração em Buchenwald, Dachau, Sachsenhausen, e Lichtenburg (um campo para mulheres). Um ano mais tarde, outros milhares de ciganos da Alemanha e da Áustria foram internados nos campos de concentração de Mauthausen, Ravensbrück, Dachau, e Buchenwald. Nestes campos, os prisioneiros utilizavam identificações de várias cores e formas, que permitiam aos guardas e oficiais dos campos os classificarem por categorias. Os ciganos utilizavam um triângulo preto costurado ao uniforme, o símbolo para "associais", ou verdes, o símbolo para criminosos comuns, e algumas vezes a letra "Z".
Dr. Robert Ritter, um psiquiatra que coordenava pesquisas genéticas e genealógicas em ciganos, desempenhou um papel primordial na identificação de ciganos Sinti e Romani para serem detidos pela polícia. Em 1936, Ritter tornou-se o responsável por uma unidade de pesquisas dentro do Ministério da Saúde e mais tarde no Escritório Central da Polícia (Central Police Office). Ritter e seus assistentes, em colaboração com a Polícia Criminal (Unidade de Investigação) e a seção de “Combate à Moléstia Cigana”, mudaram-se para Berlim em maio de 1938, para localizar e classificar por grupo étnico todos os ciganos na Alemanha e Áustria.
Foi provavelmente à “pesquisa étnico-biológica” de Ritter que o líder das SS Heinrich Himmler fez referência em sua circular sobre o "Combate à Moléstia Cigana" de dezembro de 1938, recomendando "a resolução da questão cigana baseada na sua natureza essencialmente racial". Ele ordenou o registro de todos os ciganos no Reich com idade acima de seis anos e sua classificação em três grupos raciais: Ciganos, Meio-Ciganos ("Mischlinge"), e pessoas com comportamento nômade de ciganos. Himmler, que supervisionava o imenso império de segurança que incluía a Polícia Criminal (Gestapo), afirmou que “o objetivo das medidas adotadas pelo Estado é defender a homogeneidade da nação alemã”, incluindo a “separação física do grupo cigano da nação alemã”.
As crianças Sinti e Romani também eram vítimas, confinadas com suas famílias em campos municipais e examinadas e classificadas por cientistas raciais. Entre 1933 e 1939, autoridades retiraram crianças de suas famílias e levadas para casas especiais para crianças que funcionavam como internatos do Estado. Alunos ciganos que faltassem às aulas eram tidos como delinqüentes e mandados para escolas juvenis especiais; os que não conseguiam falar alemão eram considerados incapazes e enviados para “escolas especiais” para os deficientes mentais. Como as crianças judias, meninos e meninas ciganos eram vítimas de insultos e provocações de colegas de escola, até que, em março de 1941, o regime excluiu todos os ciganos das escolas públicas.
Como no caso dos judeus, o início da guerra em setembro de 1939 intensificou a política do regime nazista voltada para os ciganos. Em 21 de setembro de 1939, uma conferência sobre a política racial presidida por Reinhard Heydrich, chefe do Escritório Central de Segurança do Reich em Berlim, discutiu a remoção de trinta mil ciganos alemães e austríacos para a Polônia ocupada, junto com a deportação de judeus. A “recolonização para o Leste” seguida pelo extermínio em massa de ciganos sinti e romani foi correlata à deportação e assassinato em massa de judeus. As deportações de ciganos alemães – homens, mulheres e até crianças – começou em maio de 1940 quando 2.800 ciganos foram deportados para o gueto de Lodz e de lá para Chelmno, onde foram dentre os primeiros a serem mortos por gaseamento em unidades móveis de veículos utilitários em um período entre dezembro de 1941 e janeiro de 1942. De forma similar, no verão de 1942, ciganos alemães e poloneses do gueto de Varsóvia foram deportados para Treblinka, onde foram mortos nas câmaras de gás. Ciganos alemães também foram deportados para guetos em Bialystok, Cracóvia e Radom.
Durante a guerra, alguns pequenas diferenças de opinião surgiam dentro do alto escalão do governo em relação à “Solução Final da Questão Cigana”. Himmler acalentava a idéia de preservar um pequeno grupo de ciganos “puros” para estudos étnicos destes “inimigos do Estado” raciais, mas o regime rejeitou a idéia. Em um decreto datado de 16 de dezembro de 1942, Himmler ordenou a deportação de ciganos e meio-ciganos para Auschwitz-Birkenau. Pelo menos vinte e três mil ciganos foram mandados para lá, o primeiro grupo a chegar da Alemanha em fevereiro de 1943. A grande parte dos ciganos em Auschwitz-Birkenau eram da Alemanha e de territórios anexados ao Reich, tal como a Boêmia e Moravia. A Polícia também deportou pequenos contingentes de ciganos da Polônia, Hungria, Iugoslávia, França, Bélgica, dos Países Baixos e da Noruega.
Em Auschwitz-Birkenau, os oficiais destinaram um “Campo para Famílias Ciganas” para os ciganos da Seção B-IIe de Birkenau. Dos barracões de madeira, as câmaras de gás e os crematórios eram claramente visíveis. Durante os dezessete meses de existência do campo, a maioria dos ciganos levados a este campo morreram. Eles eram mortos nas câmaras e gás ou morriam de inanição, exaustão pelo trabalho pesado, e doenças (dentre as quais tifo, varíola e uma doença rara chamada Noma[
http://www.ibemol.com.br/jaoc2003/59.asp]). Outros, inclusive muitas crianças, morreram como resultado de diversas experiências médicas cruéis feitas pelo Dr. Josef Mengele e outros médicos SS. O campo cigano foi liquidado na noite entre 02 e 03 de agosto de 1944, quando 2.897 ciganos sinti e romani foram mortos nas câmaras de gás. Os restantes 1.400 homens e mulheres foram transferidos para os campos de concentração de Buchenwald and Ravensbruck, destinados ao trabalho forçado.
Depois da Alemanha invadir a União Soviética em junho de 1941, esquadrões especiais da SS (Einsatzgruppen) e unidades regulares do Exército e Polícia começaram a fuzilar ciganos na Rússia, Polônia e nos Bálcãs, ao mesmo tempo que exterminavam judeus e líderes comunistas. Acredita-se que milhares de homens, mulheres e crianças ciganos tenham sido mortos nestas ações, geralmente executadas sob o pretexto de que as vítimas eram "espiãs".
Na Europa ocidental e do sul, o destino dos ciganos Sinti e Romani foi diferente em cada país, dependendo de circunstâncias locais. Por toda a Europa ocupada, ciganos, assim como judeus, foram detidos, mortos, deportados para campos na Alemanha e no Leste Europeu. O regime colaboracionista de Vichy, na França, internou trinta mil ciganos, muitos dos quais foram deportados posteriormente para Dachau, Ravensbruck, Buchenwald e outros campos. Na Croácia, membros locais do movimento facista Ustasha mataram milhares de ciganos, juntamente com sérvios e judeus. Na Romênia, em 1942, milhares de ciganos e judeus foram expulsos para Transnistria (oeste de Ucrânia) onde a grande parte dos deportados morreram de doença, desnutrição e tratamento cruel. Na Sérvia, no outono de 1941, destacamentos de atiradores do exército alemão exterminaram quase toda a população, ao lado de judeus predominantemente adultos, em retaliação a soldados mortos pelo movimento de resistência sérvio. Na Hungria, alemães e colaboradores húngaros começaram a deportação de ciganos em outubro de 1944.
A imprecisão quanto à quantidade pré-Holocausto de ciganos Sinti e Romani e a escassez de pesquisas, especialmente sobre o seu destino fora da Alemanha durante o holocausto, tornaram difícil estimar o número e porcentagem de mortos. Estimativas acadêmicas de mortes pelo genocídio Sinti e Romani variam entre 220.000 e 500.000.
Depois da guerra, a discriminação contra ciganos na Europa continuou. Na Alemanha Ocidental, os tribunais concordaram em indenizar o grupo Sinti e Romani pela perseguição racial apenas para deportações que ocorreram de 1943 até o fim da guerra. Eles não retroagiram a decisão para 1938 até a década de 1960. Hoje, com a ascensão de um nacionalismo estridente em muitos dos países do Leste Europeu e desemprego por toda a Europa, os ciganos Sinti e Romani continuam a enfrentar preconceito disseminado na população e discriminação oficial.
Fonte: Sinti & Roma: Victims of the Nazi Era, 1933-1945 (publicado pelo Museu do Holocausto dos EUA, USHMM. Usado com permissão.)/Site "A Teacher's Guide to the Holocaust"
http://fcit.coedu.usf.edu/holocaust/people/USHMMROM.HTM
Tradução: Marcelo H., Roberto Lucena
Com
exceção dos
quadros cinzas da página ("
Who Were the "Gypsies?" e "
Dr. Robert Ritter: Racial Science and "Gypsies"").
Quadros cinzas (canto direito da página original do texto):
Quem eram os "ciganos"?
Robert Ritter: ciência racial e "ciganos"