segunda-feira, 15 de julho de 2013

Judeus na África do Norte: Opressão e Resistência

Judia do Marrocos, foto sem data
(anterior à segunda guerra)
Os judeus do norte da África tiveram um pouco mais de sorte que os demais: uma vez que estavam geograficamente distantes dos campos de concentração no centro e no leste europeu não tiveram o mesmo destino que os judeus da Europa. Eles também escaparam de viver sob o total domínio germânico, uma vez que os alemães nunca ocuparam o Marrocos ou a Argélia; e embora os nazistas tenham ocupado a Tunísia a partir de novembro de 1942, quando os Aliados desembarcaram no Marrocos e na Argélia, em maio de 1943, os alemães nunca tiveram tempo nem recursos para sujeitar os judeus locais às medidas implementadas nas áreas de dominação direta nazista na Europa. No entanto, no Marrocos, Argélia, e Tunísia, os tradicionais ataques de anti-semitas de europeus e nativos islâmicos contra os judeus e suas propriedades continuaram, sob o beneplácito das autoridades de Vichy.

Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, o governo francês havia instalado campos de internação na região dos Pirineus para prender republicanos espanhóis que haviam lutado contra os rebeldes fascistas ligados a Franco durante a Guerra Civil espanhola, pessoas suspeitas ou condenadas por crimes políticos, e também judeus que não cometeram nenhum tipo de crime, mas que fugiam da Alemanha nazista e procuravam asilo na França.

Depois da assinatura do armistício com a Alemanha, as autoridades de Vichy prenderam e enviaram para os campos de trabalho na Argélia e no Marrocos os estrangeiros, inclusive judeus, que haviam lutado ao lado da França contra os alemães em 1940, bem como refugiados que haviam se apresentado como voluntários para defender o território francês. Quando lá chegavam, os refugiados recebiam auxílio dos comitês judaicos locais, do Comitê de Distribuição Comum, e do HICEM, uma organização internacional para auxílio à migração. Estas instituições também tentaram tirar vistos e organizar viagens para que os refugiados fossem para os Estados Unidos

A administração de Vichy enviou outros refugiados judeus para campos no sul do Marrocos e da Argélia para efetuarem trabalho escravo na estrada de ferro subsaariana. Naquela região existiam aproximadamente 30 campos, incluindo Hadjerat M' Guil e Bour-Arfa, no Marrocos, e os de Berrouaghia, Djelfa, e Bedeau, na Argélia. As condições eram muito difíceis para os mais de 4.000 trabalhadores judeus obrigados a trabalhar de sol-a-sol na construção daquela ferrovia.

Desde setembro de 1942 os Aliados já planejavam estabelecer uma segunda frente de batalha contra os nazistas no norte da África. A Operação Tocha utilizou as forças americanas e britânicas, sob o comando do General Dwight D. Eisenhower, para chegar às praias da Argélia e do Marrocos e tomar as cidades de Casablanca, Orão e Argel. O presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt queria que administração de Vichy se unisse aos Aliados contra a Alemanha e a Itália, e por isto opôs-se à coordenação dos Aliados com as forças da França Livre, sob o comando do General Charles de Gaulle. No dia 8 de novembro os Aliados chegaram à Argélia e ao Marrocos e, inicialmente, encontrarem uma forte resistência das forças de Vichy, só entrando em Casablanca no dia 11 de novembro.

Na Argélia, as forças francesas da resistência secreta protagonizaram um golpe de estado na capital da Argélia, Argel, e conseguiram neutralizar a 19ª Tropa do Exército francês sob o comando do governo de Vichy. O golpe em Argel foi liderado pelos judeus Bernard Karsenty e Dr. José Aboulker, além do "Comitê dos Cinco", pessoas importante que apoiavam o regime de Vichy mas eram contra os alemães. Dos 377 participante no golpe, 315 eram judias. Apesar das autoridades norte-americanas haverem prometido armas aos líderes da resistência, elas nunca foram entregues. Oficiais norte-americanos, sob as ordens de Roosevelt, negociaram um acordo com o Almirante Jean François Darlan, Comissário Superior do norte da África, para que suas tropas não mais resistisse ao desembarque dos Aliados, nos dias 10 e 11 de novembro de 1942. Os sacrificados neste acordo foram os líderes da resistência francesa, comandados por Charles de Gaulle, que não ganharam nenhum poder.

Imediatamente após a chegada dos Aliados à Argélia e ao Marrocos, os alemães invadiram a Tunísia. No dia 23 de novembro de 1942, os alemães prenderam Moises Burgel, o presidente da comunidade judaica de Túnis, além de outros judeus importantes. A solidariedade e resistência à perseguição alemã contra os judeus tunisianos veio do Residente-Geral, Almirante Estéva, que era representante de Vichy, do prefeito de Túnis, o sheique al-Madina ‘Aziz Jallouli, e dos italianos que lá viviam, todos exigindo que qualquer medida tomada contra os judeus tunisianos deveria excluir os de cidadania italiana.

No início de dezembro, os alemães exigiram que Moisés Burgel e o rabino-chefe Haïm Bellaïche dissolvessem as instituições da comunidade judaica e ordenaram que o rabino selecionasse e enviasse trabalhadores judeus para trabalhar para as forças do Eixo, e ao mesmo tempo os nazistas avisaram às autoridades de Vichy e da Tunísia que eles não mais tentassem interferir em suas decisões sobre os judeus. Dois dias depois, os líderes judaicos entregaram aos alemães uma lista com o nome de 2.500 judeus, mas apenas 128 se apresentaram ao trabalho forçado. Os nazistas então realizaram uma varredura no bairro judaico da cidade de Túnis, e mandaram os que aprisionaram para um campo de trabalhos forçados em Cheylus, próximo à cidade. Ao mesmo tempo, as SS prenderam 100 judeus com prestígio dentro da comunidade judia, como forma de chantagear e exigir que fornecessem pessoas para o trabalho forçado.

Aproximadamente 5.000 judeus tunisianos foram recrutados para quase 40 campos de detenção e áreas de trabalho forçado, dirigidos por alemães e italianos, localizados próximos às linhas da frente de batalha. Dentre estes campos o mais importante era o porto militar localizado em Bizerte, sob domínio alemão. As condições nestes campos eram terríveis, principalmente naqueles liderados pelos alemães. Os judeus organizaram comitês para tentar melhorar a vida dos internos, classificando-os como doentes ou ajudando-os a escapar. Isto foi se tornando cada vez mais fácil, pois a disciplina nos campos era diminuída à medida que a dominação dos países do Eixo ia enfraquecendo na Tunísia.

Apesar de desgastados devido aos ataques terrestres e aéreos dos Aliados no começo de 1943, as autoridades nazistas continuaram perseguindo os judeus tunisianos, como, por exemplo, através da imposição de multas às comunidades judaicas, aparentemente para recompensar as vítimas nazistas dos bombardeios Aliados. Em março de 1943, colonos franceses anti-semitas da direita saquearam casas e lojas de judeus e denunciaram 20 membros da resistência anti-Vichy, incluindo alguns judeus, para as autoridades alemãs. Os alemães transferiram os presos para campos de concentração na Europa.

Sarah Sussman
Universidade de Stanford

Fonte: site do USHMM (Museu Memorial do Holocausto)
http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10007312

domingo, 14 de julho de 2013

sábado, 13 de julho de 2013

Neonazismo no RS: “que há de verdade ou mentira em tudo isso?” Entrevista especial com René Gertz

Neonazismo no RS: “que há de verdade ou mentira em tudo isso?” Entrevista especial com René Gertz

“Há autoridades gaúchas claramente interessadas em, por razões abscônditas, superestimar a presença “neonazista” por aqui", diz o historiador.

Confira a entrevista.
Foto: www.brasilescola.com

Desde 2003 o tema do neonazismo “ocupa algum lugar na imprensa brasileira”, mas os dados apresentados não conferem com o que acontece na realidade, diz o historiador gaúcho, René Gertz à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail. Crítico às matérias publicadas na imprensa gaúcha, ele assegura que “há razões para ser cético em relação aos ‘neonazistas virtuais’”. E dispara: “O delegado Paulo César Jardim lida há dez anos com o ‘neonazismo’ no Rio Grande do Sul. Segundo declarações públicas suas, ele fichou 35 ‘neonazistas’ durante todos esses anos. No meu livro, arrolo 32 nomes – e provavelmente o delegado não tem mais que isso, na sua lista. Para Santa Catarina não se conhece lista, mas sabe-se de muito poucos casos concretos. Para o Paraná há uma lista de 12 – portanto: 32 + 12 + 6? = 50 (talvez um pouco mais). Isso é aquilo que existe de concreto, de palpável”.

René Gertz (foto abaixo) é professor nos Departamentos de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Licenciado em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, é mestre em Ciência Política pela UFRGS, e doutor, na mesma área, pela Universidade de Berlim, onde também obteve o título de pós-doutor. É autor de O aviador e o carroceiro: política, etnia e religião no Rio Grande do Sul dos anos 1920 (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002), O Estado Novo no Rio Grande do Sul (Passo Fundo: Editora Universidade de Passo Fundo, 2005), e O neonazismo no Rio Grande do Sul (Porto Alegre: EDIPUCRS e Editora AGE, 2012).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Desde quando e por que razão se fala que existem grupos neonazistas no Rio Grande do Sul?

Foto: Helena Gertz
René Gertz – Nas décadas de 1930 e 1940, existiu uma coisa chamada “nazismo”. Militantes ou simpatizantes, obviamente, sobreviveram no pós-guerra pelo mundo afora. Também no Rio Grande do Sul existiram alguns nazistas, naqueles anos. Parte deles foi expulsa no contexto da Segunda Guerra Mundial, outros foram embora por conta própria e ainda outros ficaram por aqui. Além disso, é provável que um ou outro tenha vindo para cá após a guerra, fugindo da caça a eles, na Alemanha derrotada. Não existem estudos a respeito destes últimos, de forma que as referências a eles são folclóricas, significando que são diz-que-diz-ques, sem base objetiva.

Nos anos 1980, ocorreu em Porto Alegre um fenômeno que poderia ter sido classificado de “neonazista”, mas, em geral, não o foi. Trata-se da Editora Revisão, cujo proprietário foi Siegfried Ellwanger Castan, o qual publicou livros e outros materiais em que criticava e negava as versões sobre o regime alemão, sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Como Castan não era um nazista dos anos 1930-1940, poderia ter sido classificado como “neonazista” – mas não o foi, ao menos de forma usual, nas referências que eram feitas a ele em público.

Na verdade, incluir o episódio da Editora Revisão na tradição nazista está correto, em certo sentido, pois o “neonazismo”, de fato, é algo neo/novo. Nos anos finais do século passado, ganhou força, no cenário internacional, um fenômeno de radicalismo, de preconceito e de violência promovido, via de regra, por jovens, como os “hooligans” e semelhantes. E ainda que aqui, nesta breve fala, seja obrigado a simplificar ao máximo esse tipo de movimento, ele também chegou ao Brasil.

No início, um dos tratamentos mais difundidos para designar tais grupos foi “skinhead”, mas, aos poucos, se popularizou, cada vez mais, a expressão “neonazista”. O primeiro caso mais concreto, no Rio Grande do Sul, que despertou interesse na opinião pública, ocorreu dez anos atrás, na forma de uma banda chamada Zurzir. Em 2005, aconteceu um dos episódios mais marcantes, quando um grupo de três jovens identificados como judeus por usarem quipá foi atacado, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, resultando em ferimentos graves em um deles. Houve também incidentes em campos de futebol, um ataque a um guarda negro do Trensurb, e alguns episódios semelhantes. Em resumo, isso que atende, por aqui e pelo restante do Brasil, pelo nome de “neonazismo” é um fenômeno que veio a ser considerado relevante nos últimos dez anos.

IHU On-Line – Como o senhor avalia as matérias recentes publicadas na imprensa, divulgando dados de pesquisas que apontam o RS como o segundo estado que mais baixa material neonazista? Quais são seus argumentos contrários à pesquisa?

René Gertz – Desde, no mínimo, 2003, o tema “neonazismo” ocupa algum lugar na imprensa brasileira. A intensidade variou, mas o citado ataque aos rapazes judeus, em 2005, representou um primeiro pico. Em 2009, houve um assassinato no Paraná que representou outro momento de intensificação de notícias – talvez tenha oportunidade de voltar a este caso, mais diante. E ao final de 2012 foi noticiado que está marcado para meados deste ano de 2013 o julgamento daqueles rapazes que participaram do ataque aos meninos judeus.

Além de uma possível agitação natural decorrente da aproximação do julgamento, pode-se – como hipótese! – imaginar certa artificialidade nessa alaúza de agora, pois o julgamento se dará por júri popular, e os interessados na condenação, obviamente, sabem que uma agitação para criar um clima negativo contra o “neonazismo”, na opinião pública, pode influenciar os jurados contra os réus. É apenas uma hipótese, mas plausível.

Dentro desse contexto, ao menos duas matérias jornalísticas de impacto foram divulgadas no decorrer do mês de abril. Uma de repercussão mais restrita, sob o título “Proliferação de grupos neonazistas aterroriza Sul”, na edição online de O Globo, do dia 6 de abril de 2013, e a outra publicada pela Empresa Brasileira de Comunicação – EBC, sob o título “O mapa da intolerância... mapa da intolerância...”, no dia 11 do mesmo mês.

A pergunta, naturalmente, se refere a esta segunda matéria, que divulgou uma pesquisa que teve repercussão em uma infinidade de meios de comunicação. Tenho, porém, restrições a ambas as matérias.

IHU On-Line – Quais são suas restrições a esta segunda matéria? Suas pesquisas parecem concentrar-se em “neonazistas reais”, desconfiando, por consequência, dos números de “neonazistas virtuais” – é isso?

René Gertz – É mais ou menos isso. Em primeiro lugar, devo dizer que no meu recente livro O neonazismo no Rio Grande do Sul (EDIPUCRS/AGE, 2012) transcrevo uma longa (e até maçante) pendenga com a autora da pesquisa em questão, Adriana Abreu Magalhães Dias. Como alguns colegas me criticaram de forma veemente por essa parte do livro, acusando-me até de falta de decoro acadêmico, remeto os interessados ao livro, pois, com a leitura, entenderão minhas razões pessoais para não comprar um carro usado dessa pessoa.

Mas há também argumentos lógicos, universais para não me entusiasmar com os números apresentados por ela. Ainda que numa entrevista dela ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em 2007, tenha falado num total de 150.000 “neonazistas” para todo o Brasil, na sua dissertação (p. 35), então recém-defendida, e em várias outras manifestações insistiu em 90.000. O destaque da manifestação na matéria da EBC está num suposto ou efetivo crescimento vertiginoso no decorrer dos anos. Acontece que na dissertação de 2007 ela insistiu que metade dos “neonazistas” brasileiros se encontrava em Santa Catarina (45.000). Um dado que causa estranheza é que, mesmo a matéria de 2013 não apresentando um número total para todo o Brasil, certamente não é exagerado pressupor, agora sim, 140.000, pois – além dos 45.000 de SC – ela arrola 42.000 no RS, 29.000 em SP, 18.000 no PR, 8.000 no DF, 6.000 em MG. Isso dá um total de 137.000. Não está errado pressupor – dentro desta lógica – que haja, no mínimo, mais 3.000 nos demais estados. Isso representaria um crescimento geral de 50.000, ou, em termos percentuais, em torno de 55%. Estranho que em Santa Catarina esse crescimento teria sido ZERO!

Outro argumento. Santa Catarina foi insistentemente apresentado como o estado com o maior número de “neonazistas” do país. Acontece que a polícia de lá desconhece essas hordas, inclusive não trabalhando com esquema especial para reprimir os poucos atos classificados na categoria de “neonazistas” – concentrando, muito mais, sua preocupação nos desafios representados por ações de bandidos “comuns”, que têm desafiado o poder do Estado com atos violentos, divulgados com muito destaque na imprensa, mas jamais apresentados como “neonazistas”.

Terceiro argumento. Em abril de 2009, ocorreu uma famigerada reunião de “neonazistas” no Paraná, durante a qual duas pessoas foram assassinadas. O episódio teve enorme repercussão em todo o país. A violência dentro do próprio grupo decorreu do fato de que foi uma reunião programática, na qual se discutiram questões fundamentais de longo prazo do movimento, objetivos e estratégias de ação, enfim. Estranho é que numa reunião dessa importância estivessem representantes do “neonazismo” do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais e de outros estados, mas NENHUM representante do Rio Grande do Sul nem de Santa Catarina (uma pessoa que, naquele momento, residia há pouco tempo no Rio Grande do Sul era paranaense, e se desconheciam atos “neonazistas” da parte dele, por aqui, até então). Como se pode explicar esse fato se dos pressupostos 140.000 “neonazistas” de todo o Brasil as duas “bancadas” supostamente majoritárias, que representariam nada menos que 87.000, ou seja, mais de 60% do total, não estivessem representadas numa reunião de tanta importância?

Estes são apenas três argumentos que recomendam que pessoas responsáveis tenham cuidado em divulgar a matéria em pauta – e esta foi minha crítica ao IHU, por divulgá-la de forma acrítica, e que, no final, motivou esta entrevista. Há razões para ser cético em relação aos “neonazistas virtuais” de Adriana Abreu Magalhães Dias.

Com isso chego aos “neonazistas reais”. O delegado Paulo César Jardim lida há dez anos com o “neonazismo” no Rio Grande do Sul. Segundo declarações públicas suas, ele fichou 35 “neonazistas” durante todos esses anos. No meu livro, arrolo 32 nomes – e provavelmente o delegado não tem mais que isso, na sua lista. Para Santa Catarina não se conhece lista, mas sabe-se de muito poucos casos concretos. Para o Paraná há uma lista de 12 – portanto: 32 + 12 + 6? = 50 (talvez um pouco mais). Isso é aquilo que existe de concreto, de palpável. Nos 105.000 que Adriana Dias diz ter detectado para RS, SC e PR, juntos, precisamos acreditar cegamente como acreditamos em fantasmas, em duendes. Mais uma razão para ter tomado a iniciativa de criticar o IHU/Unisinos por publicar os dados propalados por Adriana Dias, sem qualquer referência ou comentário críticos.

IHU On-Line – Como o governo do estado e as autoridades se manifestam diante das notícias de que há grupos neonazistas no RS?

René Gertz – Esta pergunta me permite voltar à outra notícia recentemente divulgada, a de que a “proliferação de grupos neonazistas aterroriza o Sul” brasileiro. Segundo a matéria, o citado delegado Paulo César Jardim teria fornecido a informação de que fichou, ao todo, 500 (quinhentos) “neonazistas”. Acontece que essa mesma autoridade está falando, há anos, em “entre 30 e 40”, para, alguns meses atrás, numa declaração pública, citar o número exato de 35 “neonazistas” gaúchos. Causa estupefação que, de repente, sem que tenha sido noticiada qualquer intensificação de atos “neonazistas” no estado, esse número se tenha multiplicado por 15!

A polícia de SC tem dado menos atenção ao “neonazismo”, até porque tem coisas mais prementes a resolver (os atentados da bandidagem); no PR há um delegado designado para tratar do assunto, mas ele já declarou em público que “os ataques de neonazistas são mais escassos” no estado. Só no Rio Grande do Sul o delegado Jardim não perde oportunidade para desenhar um quadro tétrico da “ameaça neonazista” – a população gaúcha que leu o título da matéria de O Globo sabe que aquilo que efetivamente “aterroriza” aqui são os ataques diários a bancos, os assaltos chegando às próprias áreas rurais do interior do estado, as drogas etc. Os exageros divulgados aqui chamaram a atenção até de Adriana Dias. Em seu blog pode ler-se: “o delegado Jardim adora colocar seus feitos como primeiros. Além disso, afirmar que o racismo está na gênese do gaúcho é tão racista quanto o próprio racismo... Cadê o botão de sanidade?”.

Em resumo, respondendo à pergunta: há autoridades gaúchas claramente interessadas em, por razões abscônditas, superestimar a presença “neonazista” por aqui.

IHU On-Line – Como compreender a afinidade de pessoas com grupos neonazistas e a proliferação de conteúdos neonazistas na internet, mais de 60 anos depois da Segunda Guerra Mundial?

René Gertz – A esta pergunta não posso responder, porque eu justamente não consigo estabelecer qualquer relação de continuidade entre o nazismo dos anos 1930-1940 e o “neonazismo” atual, ao menos aqui no Rio Grande do Sul.

Fonte: site do Instituto Humanistas Unisinos
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/520006-neonazismo-no-rs-que-ha-de-verdade-ou-mentira-em-tudo-isso-entrevista-especial-com-rene-gertz

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Holocausto (fotos) - Valas comuns e corpos (cadáveres) - Parte 2

Esta é a continuação do post com fotos das valas comuns e cadáveres no Holocausto, texto original do Holocausto Controversies. Abaixo vou reproduzir o texto do post que no post original coloca todas as fotos de uma só vez. Decidi repartir as fotos em três partes (cada uma com 100 fotos mais ou menos) pois considerei que 300 fotos em um único post poderia saturar de informação quem fosse ver, como também pelo problema do conteúdo chocante das fotos. Segue abaixo a reprodução do texto do post do Holocaust Controversies, a segunda parte das fotos.
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Os arquivos online do site Ghetto Fighters’ House (Casa dos Combatentes do Gueto) foram reconfigurados, quebrando os links de minha antiga coleção de fotos no fórum RODOH.

Portanto, eu reproduzirei essa coleção abaixo até o limite permitido dos meus registros. As legendas das fotos são as que copiei do GFH Archives quando montei esta coleção. Onde eu acho que há imprecisões nas legendas, isto é assinalado.

As imagens podem ser ampliadas clicando sobre elas. Não é necessário dizer que muitas destas fotos são chocantes, por isso se faz necessário advertir pessoas sensíveis sobre o que irão ver.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto e fotos: Roberto Muehlenkamp
Mass Graves and Dead Bodies
http://holocaustcontroversies.blogspot.de/2010/10/mass-graves-and-dead-bodies.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver: [Parte 1], [Parte 3]

Clique abaixo (canto esquerdo) em LER TODO O TEXTO para ver as fotos e o post inteiro.

Observação: o Roberto Muehlenkamp colocou esta série de fotos em um post único com mais de 300 fotos, eu dividirei o post em 3 pra que haja uma melhor visualização das fotos (muita gente prefere ver seção a seção do que todas de uma vez só). Também não cheguei a uma conclusão sobre se as fotos devem ficar expostas, como no post original do Holocaust Controversies, ou no formato de links pra clicar, por isso (na dúvida) mantenho o formato original do Holocaust Controversies. Irei traduzindo as legendas das fotos aos poucos.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Peça teatral questiona preservação de tradições por colônias alemãs

"BRASILIEN.13 caixas", da diretora alemã Karin Beier e em cartaz em São Paulo, toma como base colônias de descendentes de alemães no Brasil para forçar o debate sobre tradições, segregação e integração social.

Foi lendo sobre a história de Hamburgo, onde dirige a companhia de teatro Deutsches Schauspielhaus Hamburg, que a diretora Karin Beier entrou em contato pela primeira vez com a questão da imigração alemã no Brasil. Na Alemanha, integração de estrangeiros é ponto constante de debate – e analisar o comportamento dos imigrantes alemães no exterior é uma forma de jogar luz sobre o tema.

Beier foi então a Joinville, onde entrevistou diversos descentendes de alemães. Nas entrevistas, as pessoas contaram a história de suas vidas e de seus antepassados. O material serviu de base para o projeto teatral BRASILIEN.13 caixas, em cartaz em São Paulo e que aborda – sempre levantando questionamentos – temas como integração e segregação.

"Queria ver como os alemães se envolveram em outras sociedades", disse Beier à DW Brasil. "O que mais me impressionou é como [parte dessa] comunidade é fechada, mas de uma maneira negativa. Eles estão na sexta geração e não se misturam. Eles mantêm a cultura e a tradição alemã de uma maneira muito limitada. Esse é exatamente o comportamento oposto que nós, alemães, esperamos das pessoas que deixaram a Alemanha."
Elenco de "BRASILIEN.13 caixas" conta com atores brasileiros e alemães

Em meados do século 19, um grupo privado chamado Hamburger Kolonisations-Verein (associação de colonização de Hamburgo) tinha como objetivo ampliar seus negócios levando migrantes ao Brasil em navios que viajavam vazios em busca de matérias-primas.

O movimento migratório deu origem à colônia alemã Dona Francisca, atual Joinville, em Santa Catarina. Hoje, muitos dos descendentes dos fundadores da colônia ainda vivem na região e tentam manter vivas as tradições e crenças de seus antepassados – de forma questionável, na opinião da diretora.

"Chega um ponto em que temos que questionar o conceito de identidade nacional", diz Beier. "O que é interessante é que, em pequenos comentários, e não nas histórias em si, você percebe nuances de arrogância no comportamento dessas pessoas, quase como um sentimento de superioridade."

O espetáculo é construído como uma crítica à preservação – mesmo depois de seis gerações – de tradições que não pertencem mais aos dias de hoje. "Acredito que manter tradições de maneira tão forte em um país estrangeiro é uma atitude tipicamente alemã", opina.
No placo, atores se apresentam como peças de museu

"Conversei com muitos idosos em Joinville e tive a impressão de que eles eram como peças de museu e não pessoas que vivem hoje, no mundo real. Eles conservam algo que não pertence aos dias de hoje. Assim nasceu a ideia de criar uma 'exposição humana' no palco. Essas pessoas não estão apenas em uma vitrine, mas intocáveis em uma espécie de cápsula", explica.

O palco como museu

O espetáculo é dividido em duas partes. A primeira funciona como um museu. A diretora buscou inspiração nas exposições humanas que aconteciam na Europa no final do século 19, quando negros, índios e outras minorias eram exibidos como animais em um jardim zoológico.

O público pode andar entre as caixas e observar os atores. Eles recebem um fone de ouvido e podem escolher o número da caixa que querem ouvir. Os textos foram construídos com fragmentos das entrevistas feitas em Joinville.

"Em um primeiro momento, os atores estão apenas sentados, depois começam a bater no vidro para chamar a atenção dos espectadores. O público decide se quer ouvir diversas histórias de uma mesma pessoa ou passear entre diferentes histórias. Ninguém consegue ouvir tudo, pois as histórias não se repetem", conta.

Em certo momento, os "guardas" do museu pedem que as pessoas tomem seus lugares, dando início à segunda parte do espetáculo. Entre as caixas, uma atriz sobe ao palco e começa o monólogo escrito especialmente para a ocasião pela escritora austríaca Elfriede Jelinek, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2004.

A diretora enviou e-mails para a autora sobre as experiências que teve em Joinville e perguntou se ela estaria interessa em escrever um epílogo para o espetáculo.

"A segunda parte é muito importante porque o texto de Jelinek fala sobre a arrogância alemã. Ela está sempre muito interessada em criticar o comportamento alemão. Em alguns pontos, você percebe que o texto foi baseado nesses relatos, mas ela escreve de uma maneira muito livre. O texto é excelente", diz a diretora.

Durante o texto de Jelinek, em um dos momentos finais do espetáculo, crianças de diversas etnias entram no palco. Elas estão curiosas para ver as pessoas dentro das caixas. "Nesse momento, os alemães começam a cobrir os vidros com fotos tipicamente alemãs, fechando-se ainda mais em seu pequeno ninho", completa Beier.

"BRASILIEN.13 caixas" está em cartaz no Sesc Pompeia em São Paulo até 7 de julho. O espetáculo tem previsão de estreia em Hamburgo em janeiro de 2014.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pe%C3%A7a-teatral-questiona-preserva%C3%A7%C3%A3o-de-tradi%C3%A7%C3%B5es-por-col%C3%B4nias-alem%C3%A3s/a-16922266

sábado, 6 de julho de 2013

Korkoro - Liberté - Freedom - Filme sobre o Holocausto cigano na França ocupada (Vichy)

Segue abaixo a descrição do filme Korkoro que foi lançado em 2009 na França como Liberté, pouco conhecido do público geral, que retrata a perseguição dos ciganos na França ocupada pelos nazistas pelo regime de Vichy (dos fascistas franceses colaboracionistas dos nazis). Uma indicação pra quem quiser saber mais sobre a perseguição dos ciganos pelo regime nazi e pelos colaboracionistas dos nazis pela Europa (em vários países houve colaboracionismo por parte dos regimes fascistas fantoches locais, com deportações e perseguições de minorias).
Korkoro ("Sozinho" na língua romani) é um filme francês de drama de 2009 escrito e dirigido por Tony Gatlif, estrelado pelos atores franceses Marc Lavoine, Marie-Josée Croze e James Thierrée. O elenco do filme foi formado por várias nacionalidades, com gente da Albânia, Kosovo, Geórgia, Sérvia, França, Noruega, e os nove ciganos que Gatlif encontrou na Transilvânia.

Baseado em uma anedota/conto sobre a Segunda Guerra Mundial escrita pelo historiador Romani (Cigano) Jacques Sigot (seu blog e website), o filme foi inspirado na verdadeira vida de um Romani que escapou dos nazistas com a ajuda de aldeões franceses, e mostra o assunto raramente retratado do Porrajmos (o Holocausto Cigano). [1] Além dos ciganos, o filme tem um personagem que representa a resistência francesa na pele de Yvette Lundy (o link direciona pra verdadeira Yvette Lundy e não a atriz do filme), uma professora de francês deportada por forjar os passaportes para os ciganos. Gatlif queria que o filme fosse um documentário, mas a falta de documentos de apoio fez com que ele apresentasse o filme como um drama.

O filme estreou no Festival de Filme Mundial de Montreal (Montréal World Film Festival), vencendo o Grande Prêmio das Américas, entre outros prêmios [2] Foi lançado na França como Liberté em fevereiro de 2010, onde arrecadou $ 601.252 dólares; e receitas provenientes da Bélgica e dos Estados Unidos levaram o total para $ 627.088 dólares. [3] A música do filme, composta por Tony Gatlif e Delphine Mantoulet, recebeu uma indicação na categoria de melhor música escrita para um filme no 36º César Awards.

Korkoro tem sido descrito como "uma rara homenagem cinematográfica" aos mortos no Porrajmos. [4] Em geral, o filme recebeu críticas positivas da crítica, incluindo elogios por ter um ritmo incomum vagaroso para um filme sobre o Holocausto. [5] Os críticos o consideraram como um dos melhores trabalhos do diretor, junto a Latcho Drom, o "mais acessível" de seus filmes. O filme tem o mérito em mostrar os Romanis (ciganos) de uma forma não-estereotipada, longe de suas representações clichês como músicos.
Trailer:


Link do filme completo no Youtube (sem legendas):
http://www.youtube.com/watch?v=wlTdGWDnl5U

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Matéria de jornal: "Líderes ensaiam saudação nazifascista em protesto sem pauta" (sobre as manifestações no Brasil)

Esse foi o título da matéria de "O Dia" (que não segue nenhuma "corrente ideológica" de esquerda, já que muita gente afirma, ou por ignorância ou cinismo/má fé e sectarismo, que quem diz isso só o diz por ser de esquerda e bla bla bla) sobre a presença de fascistas nas ruas se infiltrando nas manifestações e causando baderna em muitos casos e segregação política:
Líderes ensaiam saudação nazifascista em protesto sem pauta
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2013-06-24/lideres-ensaiam-saudacao-nazifascista-e-culpam-imprensa-em-protesto-sem-pauta.html

Eu não sou contra qualquer manifestação popular de caráter democrático cobrando por melhoras sociais no país ou outras bandeiras, por sinal, manifestações sempre ocorreram, o povo é que sempre teve uma certa relutância em participar de manifestações nas ruas ou simplesmente as rotulava e "ignorava", mas sou totalmente contrário a que uma manifestação legítima se transforme em ato contra a democracia do país ao ser sequestrada pela extrema-direita saudosista de ditadura desviando totalmente o foco das manifestações pra panfletagem política de quinta categoria, por conta da inação de um público despolitizado e por vezes conformista. Manifestação tem que ter sentido, senão vira "terra de ninguém" ou algo vazio e espetáculo de mídia. A grande mídia do Brasil não informa nada razoável sobre as manifestações, só faz espetacularizar a coisa.

Acho que a citação é pertinente pois há muito se alerta da presença desses grupos no país, principalmente na internet difundido todo tipo de asneira possível, e as autoridades do país só fazem vista grossa na maioria dos casos como se "achassem" "normal" (nada demais) esse tipo de extremismo e com um "conceito" de democracia liberticida num país que sequer resolveu suas pendência com seu passado recente e que possui um caldo cultural autoritário persistente e arcaico herdado da colonização ibérica.

Espero que a população tenha discernimento e saiba isolar e afastar esses bandos de futuras manifestações, pois se eles "liderarem" a coisa, é complicado. O povo deixar se "conduzir" por um bando de cabeças de bagre fazendo saudação fascista é fim de linha.

Só um adendo, esse tipo de fenômeno (da presença de grupos fascistas) não foi em todo país, ficou restrito a algumas capitais de alguns estados, mesmo assim continua valendo o que foi dito cima. O que ocorre é que a grande mídia, ao invés de mostrar o país inteiro como ele é, acaba por bairrismo resumindo o país (de forma mambembe) a 3 ou 4 cidades, distorcendo totalmente a imagem da realidade do país (do que se passa nele como país e não em algumas cidades).

terça-feira, 2 de julho de 2013

Até onde foi Hollywood para ajudar os nazis?

PÚBLICO. 01/07/2013 - 16:46

A Oeste Nada de Novo (Nada de Novo no Front),
o filme com que tudo começou DR
Novo livro defende que nos anos 1930 os grandes estúdios “colaboraram” com o regime de Hitler, o ditador que não gostava de Chaplin mas que sabia que o cinema era uma arma poderosa.

Ben Urwand passou uma década mergulhado em arquivos alemães e americanos para contar um “episódio escondido da história de Hollywood”, diz ao semanário britânico The Observer – o da relação dos patrões dos grandes estúdios de cinema com o regime nazi nos anos 1930. O resultado da sua pesquisa será publicado em Outubro pela Harvard University Press, com o título The Collaboration: Hollywood’s Pact with Hitler, e promete instalar a polémica.

O envolvimento da indústria com os estúdios já era conhecido, mas agora o investigador garante que o material reunido lhe permite concluir que a “colaboração” – termo usado dos dois lados para descrever a natureza da sua ligação – entre Hitler e a indústria norte-americana de cinema envolvia autocensura nos filmes já produzidos e o abandono de projectos que poderiam conter críticas aos nazis.

Segundo Urwand, a relação era tão emaranhada que a MGM, o maior dos estúdios da época, chegou a investir no rearmamento alemão para assim contornar restrições à circulação de capitais (havia uma lei alemã que impedia a saída de dinheiro estrangeiro do país). “Não se pode ir mais longe do que ter o maior dos estúdios da América a financiar armamento um mês depois da Noite de Cristal [9 de Novembro de 1938, data em que várias lojas, sinagogas e outros lugares ligados aos judeus na Alemanha e na Áustria foram destruídos por ordem do regime]”, diz o historiador. A Paramount, por seu lado, aplicava parte dos lucros que fazia com o mercado germânico em pequenos documentários noticiosos que muitas vezes enalteciam os nazis.

Thomas P. Doherty, autor de Hollywood and Hitler, 1933-1939, outra obra lançada recentemente, lembra, no entanto, que há documentos que mostram que a atitude da MGM respeitava indicações do próprio Departamento do Comércio dos Estados Unidos. E o também historiador Steven Ross sublinha que os mesmos patrões colaboracionistas financiavam o combate à espionagem nazi em Hollywood.

“Nos anos 1930, os estúdios não colaboravam só recusando-se a fazer filmes que atacassem os nazis – também não defendiam os judeus nem tocavam no tema da perseguição alemã aos judeus”, diz o académico da Universidade de Harvard ao Observer. Na relação entre o Reich e Hollywood era bem claro que a última palavra pertencia sempre aos alemães, defende Urwand, com base em documentação até aqui inédita. A indústria, acrescenta ao diário americano The New York Times, colaborava “com Adolf Hitler, a pessoa, o ser humano”.

O mais paradoxal, sublinha o investigador, é que a maioria dos grandes estúdios estava na mão de imigrantes judeus, muitos chegados aos Estados Unidos para fugir aos nazis. Para o jovem Urwand, de 35 anos, tudo se resumia a uma questão de dinheiro: “Eles sentiam que Hitler poderia vir a ganhar a guerra e, por isso, queriam trabalhar com os nazis para preservarem os seus negócios.”

O começo de tudo

O receio de que o mercado alemão virasse as costas a Hollywood começou em Dezembro de 1930, quando o Partido Nazi protestou contra a exibição de A Oeste Nada de Novo (All Quiet on the Western Front, no original), filme de Lewis Milestone baseado no romance homónimo de Erich Maria Remarque, em que o autor escreve sobre o cansaço físico e mental dos soldados alemães durante a Primeira Grande Guerra (Óscar para Melhor Realizador e Melhor Produção, pela primeira vez na história da Academia). Encorajados por Joseph Goebbels, homem de confiança de Hitler que viria a ser ministro da Propaganda do Reich, membros do partido soltaram ratos e lançaram bombas de mau cheiro nas salas berlinenses onde o filme de Milestone estava a ser exibido.

Com medo de perder novas oportunidades de negócio, os patrões dos estúdios começaram a aceder aos pedidos do Governo alemão, explica-se na sinopse do livro The Collaboration disponível na Internet. E quando Hitler – que sabia reconhecer como poucos políticos do seu tempo o impacto que o cinema podia ter na opinião pública – chegou ao poder, os patrões da indústria cinematográfica passaram a lidar directamente com os seus representantes. O diálogo – mantido muitas vezes em reuniões entre executivos dos estúdios e o cônsul alemão em Hollywood, Georg Gyssling – podia acontecer ao mais alto nível, tendo chegado a envolver o próprio Goebbels e Louis B. Mayer, o lendário produtor a quem se atribui a criação do star system nos anos dourados da MGM.

“Não quis que o que eu escrevi sobre os judeus fosse generalizado, mas há certos judeus no negócio do cinema que decidiram trabalhar com líderes nazis”, continua o académico, lembrando que três dos maiores estúdios – a MGM, a Paramount e a 20th-Century Fox – só saíram da Alemanha em meados da década de 1940.

Urwand descobriu uma carta datada de Janeiro de1938, e assinada “heil Hitler”, em que a delegação alemã da 20th-Century Fox se manifesta interessada nas opiniões do führer sobre os filmes americanos. Explica ainda o investigador que Hitler gostava de produções que girassem à volta de líderes fortes, como Lanceiros da Índia ou Revolta na Bounty, e detestava Chaplin e o seu O Grande Ditador, como seria de esperar.

Deborah Lipstadt, historiadora do Holocausto da Universidade de Emory, está ansiosa por ler o livro do jovem Urwand e diz que ele pode ter em mãos um verdadeiro blockbuster. Em declarações ao New York Times a académica elogia-lhe a “audacidade da história” que tem para contar.

Ben Urwand, nascido na Austrália e com antepassados judeus (os seus avós maternos fugiram da Hungria e passaram os anos da guerra escondidos), começou o projecto que agora vai dar um livro em 2004, quando deu com uma entrevista em que o argumentista Budd Schulberg se referia vagamente a reuniões entre o produtor Louis B. Mayer e o cônsul alemão em Los Angeles para discutir cortes nos filmes.

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/cultura/noticia/ate-onde-foi-hollywood-para-ajudar-os-nazis-1598898

sábado, 29 de junho de 2013

Evidência fotográfica dos fuzilamentos em massa: 1. Sdolbunov (gueto de Mizocz, Ucrânia, Holocausto)

Em outubro de 1942, os judeus do gueto de Mizocz foram assassinados em uma ravina em Sdolbunov Gebietskommissariat, ao sul de Rovno (Rivne), por membros do Gendarmerie alemão e do Schutzmannschaft ucraniano. Fotografias dos fuzilamentos são reproduzidas aqui e aqui.

O USHMM (Museu Memorial do Holocausto dos EUA) explica como as fotografias vieram a domínio público:
De acordo com o Zentrale Stelle na Alemanha (Zst. II 204 AR 1218/70), esses judeus foram coletados pelo Gendarmerie alemão e o Schutzmannschaft ucraniano durante a liquidação do gueto de Mizocz, que continha cerca de 1.700 judeus. Na véspera da liquidação do gueto (13 de outubro de 1942), alguns dos habitantes se levantaram contra os alemães e foram derrotados depois de uma curta batalha. Os membros restantes da comunidade foram transportados do gueto para esta ravina no Sdolbunov Gebietskommissariat, sul de Rivne, onde eles foram executados. Informações sobre esta ação, inclusive as fotos, foram adquiridas por um homem chamado Hille, que era o Bezirks-Oberwachtmeister da Gendarmerie na época. Hille, aparentemente, deu as cinco fotos (havia originalmente sete) para a firma de advocacia de uma empresa têxtil em Kunert, Tchecoslováquia, onde trabalhou como porteiro depois da guerra. O governo checo confiscou as fotos do advogado em 1946 e, posteriormente, tornou-as públicas. As fotos, que realmente mostram o assassinato de judeus em conexão com a liquidação do gueto, também foram confirmadas como autênticas por um comunicado do Gendarmerie-Gebietsfuehrer Josef Paur em 1961.
A confirmação da autenticidade das fotos foi então confirmada por um perpetrador, Josef Paur, cujo julgamento pode ser encontrado aqui.

A ignorância dos negadores relativas a essas fotos pode ser medida a partir desta discussão na Cesspit e deste artigo de Porter. Nenhum deles tem conhecimento do julgamento de Paur, nem o fato de que os perpetradores eram Gendarmerie e ucranianos (daí o fracasso dos negacionistas em identificar os uniformes). Note-se também como Porter critica uma fotografia por conter sangue e uma outra fotografia na qual o sangue é supostamente ausente!

Fonte: Holocaust Controversies
Texto; Sergey Romanov
Photographic Evidence of Mass Shootings: 1. Sdolbunov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2008/10/photographic-evidence-of-mass-shootings.html
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Holocausto (fotos) - Valas comuns e corpos (cadáveres) - Parte 1

Os arquivos online do site Ghetto Fighters’ House (Casa dos Combatentes do Gueto) foram reconfigurados, quebrando os links de minha antiga coleção de fotos no fórum RODOH.

Portanto, eu reproduzirei essa coleção abaixo até o limite permitido dos meus registros. As legendas das fotos são as que copiei do GFH Archives quando montei esta coleção. Onde eu acho que há imprecisões nas legendas, isto é assinalado.

As imagens podem ser ampliadas clicando sobre elas. Não é necessário dizer que muitas destas fotos são chocantes, por isso se faz necessário advertir pessoas sensíveis sobre o que irão ver.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto e fotos: Roberto Muehlenkamp
Mass Graves and Dead Bodies
http://holocaustcontroversies.blogspot.de/2010/10/mass-graves-and-dead-bodies.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver: [Parte 2], [Parte 3]

Clique abaixo (canto esquerdo) em LER TODO O TEXTO para ver as fotos e o post inteiro.

Observação: o Roberto Muehlenkamp colocou esta série de fotos em um post único com mais de 300 fotos, eu dividirei o post em 3 pra que haja uma melhor visualização das fotos (muita gente prefere ver seção a seção do que todas de uma vez só). Também não cheguei a uma conclusão sobre se as fotos devem ficar expostas, como no post original do Holocaust Controversies, ou no formato de links pra clicar, por isso (na dúvida) mantenho o formato original do Holocaust Controversies. Irei traduzindo as legendas das fotos aos poucos.

domingo, 23 de junho de 2013

O ícone mais idiota da negação do Holocausto: a piscina de Auschwitz

Mas o que quero dizer é, Jon Harrison já tratou disso, Pressac já tratou disso, e van Pelt já tratou disso:
Dada a dicotomia entre a muito complexa natureza e a história de Auschwitz e o hábito de muitos em considerar o campo apenas como um "centro de extermínio em massa altamente secreto", muitas pessoas, incluindo historiadores e sobreviventes de boa-fé, e gente de não 'tão' boa-fé assim como os negadores do Holocausto, muitas vezes acabam cometendo a falácia de composição: eles, em razão das características de parte de Auschwitz, que foi usado para extermínio em massa, citam isso como as características de Auschwitz como um todo. Um exemplo clássico e favorito dos negacionistas é a chamada piscina de Auschwitz I. Eles argumentam que a presença de uma piscina, com três trampolins, mostra que o campo era realmente um lugar bastante benigno e, portanto, não poderia ter sido um centro de extermínio. Eles ignoram que a piscina foi construída como um reservatório de água com a finalidade de combater incêndios (não havia hidrantes no campo), e que os trampolins foram adicionados mais tarde, e que a piscina era apenas acessível a homens da SS e alguns prisioneiros arianos privilegiados empregados como 'presos-funcionários' no campo. A presença da piscina não diz nada sobre as condições de prisioneiros judeus em Auschwitz, e não põe em cheque a existência de um programa de extermínio, com suas instalações apropriadas em Auschwitz II (Birkenau).
No entanto, isto continua retornando, retornando, e retornando, como um zumbi.

O "argumento" é tão assustadoramente ilógico que alguém fica surpreso de até mesmo com os cultuadores do negacionismo quererem repeti-lo, já que eles continuam fazendo isso mesmo havendo perdido a "graça" (o impacto inicial).

Nenhum historiador ou tribunal jamais afirmou que cada prisioneiro de Auschwitz tinha que morrer - ou que tiveram que morrer imediatamente. A presença de grupos relativamente privilegiadas de prisioneiros (como Kapos, "arianos" ou judeus) é reconhecido por todos. A presença de amenidades (como um bordel) para determinados prisioneiros privilegiados não é um segredo.

Então, por que a persistente menção da estrutura, a qual não contradiz a existência de nada, até mesmo se alguém negar sua principal função como um reservatório de água (e que nem sequer está situado na seção de extermínio, ou seja, Birkenau, e no entanto, mesmo que se se situasse lá, isto não seria um problema)?

Como completamente um estúpido, ignorante ou desonesto pode continuar pensando em usar a piscina Auschwitz como um truque/distorção em nome do "revisionismo"?

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.de/2010/01/dumbest-holocaust-denial-icon-auschwitz.html
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O diario de Alfred Rosenberg. Hitler a Rosenberg: "Finalmente chegou seu momento!"

Apresentado em Delaware o diário perdido do ideólogo nazi.
As autoridades o descrevem como "uma janela de uma alma obscura"

Dia a dia da barbárie nazi
O pedante filósofo do nazismo

Carolina García. Washington 13 JUN 2013 - 21:04 CET
Arquivado em:

Documento dos diários de Alfred Rosenberg recuperados nos EUA / Vídeo: AFP-LIve! / Foto: Efe

Alfred Rosenberg ao centro
com a farda nazista
“Em uma das partes do diário, Alfred Rosenberg conta como Adolf Hitler lhe pede que o acompanhe até o jardim. Uma vez do lado de fora, Hitler lhe diz: "Finalmente chegou seu momento!", segundo explicou Henry Mayer, assessor do Museu do Holocausto, durante a roda de imprensa sobre o achado do diário de Rosenberg, assessor e confidente do genocida nazi. "Rosenberg não desenvolveu esta frase", continua o especialista, "o que Hitler disse foi tão grande que não podia deixar de lê-lo". "Nosso trabalho é encontrar evidências do Holocausto e este documento é um desses objetos que saíram a luz depois de uma longa busca que durou mais de 10 anos", explicou com sossego Mayer, em Delaware. O diário pertence ao Governo dos EUA, que pretende expô-lo no Museu do Holocausto, situado em Washington para que seja acessível ao público, aos pesquisadores e aos estudantes.

As páginas compreendem o período que vai do ano de 1936 até 1944, um período no qual Rosenberg era o responsável pelo saque de pertences nos países ocupados pelos nazistas e do planejamento da invasão dos territórios soviéticos. "Como ministro do Reich, ele teve um papel decisivo nos assassinatos em massa de milhares de judeus que ocupavam os territórios do Leste e no envio de civis, forçados a trabalhar nos campos de concentração para apoiar os esforços da Alemanha na guerra", disseram as autoridades.

"O diário é uma janela à alma obscura de um dos grandes males da história da humanidade", disse John Morton, diretor de Imigração dos EUA, presente também na roda de imprensa. Segundo explicaram as autoridades, conhecia-se a existência destas memórias porque foram citadas nos julgamentos de Nuremberg, um conjunto de processos jurídicos empreendidos por iniciativa das nações aliadas vencedoras ao final da Segunda Guerra Mundial, nos quais se determinou a sancionar as responsabilidades de dirigentes, funcionários e colaboradores com o regime nazi. Mas o diário desapareceu depois da guerra.

Durante muito tempo se acreditava que o documento estava em posse de Robert Kempner, um dos promotores dos Estados Unidos que participou desses julgamentos contra crimes de guerra. Kempner morreu em 1993. Vários anos depois, o Museu do Holocausto chegou a recuperar até 150.000 documentos, mas o diário seguia desaparecido. O FBI abriu uma investigação sobre o caso, ainda que não apresentou nenhum cargo.

Morton não quis revelar a identidade exata da pessoa que tinha as memórias, tão só disse que era um amigo do secretário pessoal de Kempner, Margot Lipton. Em princípios de 2013, o museu e um agente de Investigação e Segurança Nacional dos EUA começaram a buscar as páginas desaparecidas. Foi recuperado finalmente em cinco de abril.

Rosenberg (1893-1946) foi um ideólogo nazi, assim como autor de livros como "O mito do século XX (1930). Exerceu a posição de chefe do Departamento de Assuntos Externos do Partido Nazi em 1933. Em 1940, fundou uma organização denominada Império Rosenberg, cuja missão era saquear e confiscar os tesouros culturais de toda a Europa. Julgado como criminoso nazi ante o Tribunal Militar Internacional de Nuremberg em 1945, Rosenberg foi declarado culpado e condenado à morte. Foi enforcado em 1946, junto com outros nove altos dirigentes,

“A descoberta deste diário vai outorgar um novo ponto de vista sobre a política dos dirigentes nazis e dos perpetradores do Holocausto", afirmam. Os fragmentos estão em muito bom estado e são uma peça fundamental para entender os julgamentos de Nuremberg. "Que este diário esteja em boas mãos é uma vitória!", disse com ênfase o assessor da pinacoteca. Apesar de que se realizará uma análise mais aprofundada do achado, “sabemos que estas páginas dão muita e nova informação sobre os líderes do partido nazi e sua relação com o Estado", concluiu Mayer.

Fonte: El País (Espanha)
http://cultura.elpais.com/cultura/2013/06/13/actualidad/1371148457_958021.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
EUA encontram diário perdido de líder nazista e assessor de Hitler
(Blog Avidanofront)
Long-Lost Diary Of Alfred Rosenberg Found
(Ibitimes TV)

Diário de Rosenberg completo online, USHMM:
Museu do Holocausto recupera diário de Alfred Rosenberg. Diário completo colocado online

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fascistas criaram 'ilha gay' na Itália para confinar homossexuais (Fascismo)

Alan Johnston. BBC News
Atualizado em 14 de junho, 2013 - 07:57 (Brasília) 10:57 GMT

Ilha de San Domino, no arquipélago de Tremiti,
no Mar Adriático, na Itália
Há 75 anos, durante o fascismo na Itália, um grupo de homens rotulados de "degenerados", foram expulsos de casa e internados em uma ilha.

Eles eram mantidos em cárcere privado, mas alguns deles dizem ter vivido uma experiência liberalizante nesta que teria sido a primeira comunidade abertamente gay do país.

Todos os anos, turistas são atraídos pela beleza dessa pequena faixa de ilhas vulcânicas do Mar Adriático.

Mas apenas recentemente um grupo de visitantes chegou ao arquipélago de Tremiti, não apenas para aproveitar a paz e o sossego do lugar, mas para lembrar um fato importante.

O grupo era formado por ativistas de direitos dos gays, lésbicas e transgêneros.

Eles vieram para realizar uma pequena cerimônia relembrando um triste episódio ocorrido na ilha há 70 anos.

'Avanço da degeneração'

Por volta do final dos anos 1930, o arquipélago teve participação importante no esforço dos fascistas de Benito Mussolini de suprimir a homossexualidade.

Os gays atrapalhavam o projeto do líder fascista do país, Benito Mussolini, que queria disseminar uma Itália de imagem masculina.

"Fascismo é um regime viril. Portanto, os italianos são fortes e masculinos, e é impossível que a homossexualidade possa existir no regime fascista", diz o professor de história da Universidade de Bergamo, Lorenzo Benadusi.

Assim, a estratégia era a de encobrir a questão de todas as formas possíveis.

Leis discriminatórias contra gays acabaram não sendo aprovadas na época, mas o clima criado não permitia manifestações de homossexualidade, que poderiam ser vigorosamente reprimidas.

E um prefeito da cidade siciliana de Catania tirou grande proveito dessa atmosfera de repressão de Mussolini.

"Nós notamos que alguns clubes, praias e lugares nas montanhas recebem muitos desses homens doentes e jovens de todas as classes sociais buscam a sua companhia", escreveu.

Ele estava determinado a combater o "avanço da degeneração" na cidade "ou, pelo menos, conter a aberração sexual que ofende a moralidade e que é um desastre para a saúde pública e para o melhoramento da raça".

E ele continuou: "Este demônio precisa ser atacado e queimado na sua essência".

Livro

Benito Mussolini, o "Il Dulce" (O Líder)
"Nós fazíamos teatro e podíamos nos vestir de mulher que ninguém dizia nada"

Giuseppe B, prisioneiro de San Domino

Assim, em 1938, cerca de 45 homens acusados de serem homossexuais em Catania, na Sicília, foram presos e enviados a um exílio interno.

Subitamente, o grupo se viu confinado a 600 km de distância, na ilha de San Domino, em Tremitis, no Mar Adriático.

O episódio foi totalmente esquecido. Acredita-se que ninguém que tenha enfrentado a punição continue vivo atualmente e existem apenas poucos relatos do que aconteceu na ilha.

Mas no livro A Ilha e a Cidade, os pesquisadores Gianfranco Goretti e Tommaso Giartosi falam de dezenas de homens, a maioria de Catania, e as duras condições que enfrentaram em San Domino.

Eles teriam chegado algemados e então abrigados numa casa ampla de dormitórios espartanos, sem eletricidade ou água encanada.

"Nós ficávamos curiosos, porque eles eram chamados de 'as garotas'", conta Carmela Santoro, uma moradora da ilha que era apenas uma criança quando os exilados gays começaram a chegar.

"Nós íamos assisti-los a sair do barco... todos bem vestidos, no verão, com meias brancas... de chapéu. E nós vínhamos vê-los com surpresa... 'olha aquela uma, como ela se mexe!' Mas nós não tínhamos nenhum contato com eles".

Outro morador, Attilio Carducci, relembra quando um sinal sonoro tocava às 8 da noite todos os dias, anunciando que os homens não podiam mais ficar do lado de fora.

"Eles eram trancados dentro dos dormitórios e ficavam sob vigilância da polícia", relembra.

"Meu pai sempre falava bem deles. Ele nunca teve nada de mal a dizer sobre eles - e ele era um representante local fascista".

Os prisioneiros sabiam que a exposição de sua homossexualidade teria causado vergonha e raiva de seus familiares em lares extremamente conservadores nas cidades e vilas italianas.

Um pouco dessa atmosfera é capturada na carta de um filho para um pai pobre e agricultor. Ele estava estudando para ser padre quando foi preso.

Implorando às autoridades judiciais para deixá-lo ir pra casa, ele escreveu: "Imagine, Sua Excelência, o dor do meu amado pai. Que desonra para ele!"

"Exílio por cinco anos... Isso me enlouquece só em pensar".

O prisioneiro, identificado apenas como Orazio L, requisitou a chance de deixar a ilha para "servir à Pátria" no Exército.

"Me tornar soldado, e depois retornar ao seminário para viver em confinamento é o único jeito no qual eu posso reparar o escândalo e a desonra para a minha família", escreveu.

Nem tão ruim

Mas alguns relatos dados por ex-exilados gays indicam que a vida não era tão ruim em San Domino.

Eles descrevem o dia a dia em um regime de prisão comparativamente tranquilo.

Sem querer, os fascistas criaram um canto na Itália onde se era esperado ser abertamente gay.

Pela primeira vez na vida, os homens podiam ser eles mesmos, livres do estigma que normalmente os circundava na devota Itália católica dos anos 1930.

O relato de um ex-prisioneiro da ilha explicou o que isso significava, numa rara entrevista publicada há alguns anos na revista gay Babilonia. Ele disse que de certa forma, os homens viviam melhor na ilha do que fora dela.

"Naquela época se você era um femmenella (gíria italiana para homem gay), você não poderia nem mesmo sair de casa ou se fazer perceber, a polícia prenderia você", disse ele de sua cidade natal, perto de Nápoles.

"Na ilha, de um outro lado, nós celebrávamos nossos dias de santo ou a chegada de alguém novo. Nós fazíamos teatro e podíamos nos vestir de mulher que ninguém dizia nada".

E para completar, claro, ele disse que existiam romances e até mesmo brigas.

Alguns prisioneiros partiram, disse Giuseppe, com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, e o consequente fim do regime de confinamento de San Domino. Os prisioneiros foram então colocados numa espécie de confinamento doméstico nas cidades de onde eles vieram.

Exclusivamente gay

Um grande número de homens gays foram internados junto com prisioneiros políticos em outras pequenas ilhas, como Ustica e Lampedusa, mas San Domino foi única em que todos os exilados eram gays.

É extremamente irônico, levando em conta a situação na Itália daquele tempo, que os gays pudessem encontrar um certo grau de liberdade apenas em uma prisão numa ilha.

Na celebração dos gays ativistas de direitos humanos, que se reuniram no arquipélago há algumas semanas, foi inaugurada uma placa em memória dos exilados.

O marco será uma lembrança perene da perseguição de Mussolini contra homossexuais na Itália.

"Isto é necessário, porque ninguém sabe o que aconteceu naqueles anos", disse um dos ativistas, Ivan Scalfarotto, que também é membro do Parlamento, em Roma.

Ele afirma que a comunidade gay ainda sofre na Itália. Os homossexuais não são mais presos e despachados para ilhas, mas até mesmo hoje em dia eles não são considerados cidadãos "classe A".

Para Scalfarotto, ainda existe o estigma social ligado à homofobia na Itália, já que o Estado não estende todos os direitos civis a casais homossexuais.

Por isso, Scalfarotto acredita que a luta pela igualdade continua na Itália.

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130613_ilha_gay_mussolini_gm.shtml

Ver mais:
A ilha 'gay' na Itália de Mussolini (DN Globo, Portugal)
La isla gay creada por el fascismo en Italia (BBC Mundo)

sábado, 15 de junho de 2013

Dzankoi, Crimeia (Einsatzgruppen)

Uma ordem para liquidar o campo judaico em Dzankoi [Dzankoy] foi documentado pelo comando traseiro do 11º Exército em 1 de janeiro de 1942. É preservada como NOKW-1866 e afirma que devido a "fome e a eclosão iminente de epidemias", o campo "deve, portanto, ser liquidado". Arad cita o documento no livro "The Holocaust in the Soviet Union" (O Holocausto na União Soviética), pág. 208. É mais uma evidência de que o 11º Exército na Crimeia estava envolvido na liquidação dos judeus.

Nos meses seguintes desta liquidação, outros judeus foram executados nas proximidades de Dzankoy e Simferopol, conforme documentado no EM 178 aqui.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2013/06/dzankoi-crimea.html
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Neonazismo alemão apresenta sua nova face

As meninas do Reich. 11/05/2013 | 17h01
O julgamento de Beate Zschäpe, o mais importante das últimas décadas contra um grupo neonazista alemão, evidenciou o papel feminino nada secundário no extremismo xenófobo do século 21


Figura central da Clandestinidade Nacional Socialista, Beate morou com militantes que teriam se suicidado Foto: CHRISTOF STACHE / AFP
Léo Gerchmann

leo.gerchmann@zerohora.com.br

Professora universitária em Frankfurt, na Alemanha, Michaela Köttig, cujo nome consta na lista negra de grupos neonazistas (eles não têm a imagem dela, e ela não se deixa fotografar), vê se comprovar a tese que defende com ardor: a de que as mulheres jamais se limitaram e continuam não se limitando a papéis secundários no extremismo xenófobo. Mais do que isso: para surpresa de quem imagina a Alemanha imune ao vírus letal do nazismo por conta dos anticorpos adquiridos 70 anos atrás, na II Guerra Mundial, Michaela sustenta que skinheads e assemelhados não são meros casos de polícia. Refletem uma mentalidade ainda presente nas famílias e nas instituições alemãs.

O fato que corrobora os 20 anos de estudos acadêmicos da professora alemã é o atual julgamento, em Munique, da neonazista Beate Zschäpe, uma das fundadoras e líderes do grupo Clandestinidade Nacional Socialista (CNS). Beate e seus comparsas são acusados de terem matado 10 pessoas na Alemanha, a maioria de origem turca, entre 2000 e 2007. Beate teria participado de 15 assaltos a bancos para financiar, por exemplo, dois atentados à bomba em bairros de imigrantes. Ela só foi presa em 2011, quando se entregou à polícia após o suicídio de outros dois criadores da CNS.

Michaela, 48 anos, está em Porto Alegre para participar, às 19h30min de quarta-feira, do painel Mulheres, Violência e Criminalidade, no Instituto Goethe (com entrada franca), a convite do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). Em entrevista a ZH da quarta-feira passada, ela disse que o próprio CNS, de Beate, é uma demonstração de o quanto o neonazismo está impregnado na sociedade alemã: há, apenas nessa unidade extremista, 129 integrantes, muitos deles mulheres.

Com o sorriso acolhedor que suaviza a sonoridade seca do idioma, Michaela perfila as linhas da sua tese sobre a participação de meninas e mulheres jovens em grupos extremistas alemães. Acredita que, se Beate não tivesse se entregado à polícia, os crimes poderiam não ter sido elucidados.

A professora também é cética quanto à possibilidade de esses crimes levarem a outras investigações.

— O serviço secreto alemão está envolvido no processo. O serviço secreto falhou. Não acredito que se empenhe em elucidar esse e outros casos. Vão tentar encobrir a participação deles no cenário neonazista, porque têm agentes infiltrados nos movimentos. Esse caso ocorreu durante tantos anos porque tinha o envolvimento do serviço secreto — analisa a especialista.

Crítica à análise sexista do caso

Michaela também critica a sociedade civil em geral e a imprensa germânica em especial pela abordagem que dão ao CNS.

— A imprensa erra por se ater ao envolvimento sexual entre a mulher que sobreviveu e outro integrante do grupo. O mais importante é entender o que ocorre, as motivações e o que fizeram. Isso mostra como a imprensa lida com o envolvimento das mulheres nos movimentos neonazistas. Acham que elas estão lá por conta dos homens e que não têm motivação política própria, como se a violência fosse uma coisa de homens, com as mulheres tendo participação subalterna — diz.

A estudiosa sustenta que a realidade em relação à mulher sempre foi bem outra. Nos anos 1940, havia grupos feministas que participavam ativamente do Partido Nazista e assumiam papéis importantes enquanto os homens iam à guerra. Atualmente, segundo ela, "as estratégias de penetração nas instituições levam mulheres neonazistas e se tornarem professoras para formar pessoas, os grupos discutem de forma deliberada como influenciar as novas gerações".

— As mulheres atuam também como advogadas e professoras de história, por exemplo. São posições estratégicas na sociedade com o objetivo de influenciar. Na universidade, não há essa reflexão, pensam que todos lá são de esquerda, que esse problema não existe. Tenho exemplos de meninas normais, que são engajadas militantes do movimento neonazista. Algumas são da direção do movimento.

A noiva nazi _ Vida no underground

— Uma suposta célula neonazista alemã vai a julgamento em Munique por ligação com assassinatos de motivação racial.

— Os crimes ocorreram ao longo de sete anos, entre 2000 e 2007. Morreram oito turcos, um imigrante grego e um policial alemão.

— Beate Zschaepe, 38 anos, é acusada de participar da Clandestinidade Nacional Socialista (CNS), que matou 10 pessoas, a maioria de origem turca. Ela nega as acusações.

— Além da cumplicidade com os assassinatos, ela é acusada de envolvimento em 15 roubos à mão armada, um incêndio criminoso, e dois ataques à bomba. Beate pode ser condenada à prisão perpétua. Quatro homens também são acusados de colaboração com a organização.

— O grupo foi descoberto em novembro de 2011. Dois comparsas de Beate, Uwe Mundlos, 38, e Uwe Boenhardt, 34, suicidaram-se após um assalto a banco frustrado. Beate

morava com os dois homens em um apartamento em Zwickau. Uma arma encontrada com eles foi usada para matar 10 pessoas.

— No local, foi encontrado um vídeo mostrando os corpos das vítimas e identificando a CNS como autora dos assassinatos. Nas imagens, aparecia um desenho da Pantera Cor-de-Rosa, que atualizava um placar de mortes.

— O caso gerou críticas à polícia, que antes de descobrir a célula de extrema-direita, havia atribuído os crimes à máfia turca. O escândalo provocou demissões na área de inteligência. Arquivos de inteligência sobre extremistas de direita teriam sido destruídos após as atividades do grupo virem à tona.

— Na segunda-feira, ao entrar no tribunal, Beate permaneceu de braços cruzados e de costas. A defesa conseguiu a prorrogação do julgamento para 14 de maio, alegando preconceito por parte do juiz.

Número de adeptos dobrou na Alemanha

Em 20 anos, o contingente de neonazistas na Alemanha subiu de 20 mil para 40 mil. São pessoas que falam em criar o IV Reich, realizam acampamentos e fazem atividades recreacionistas que remontam aos antigos germânicos, como disputas de arco e flecha. Os grupos mais visados são ainda os judeus, além de imigrantes (especialmente quando são negros), muçulmanos e, em uma menor escala, italianos e estrangeiros do Leste Europeu.

— Há até grupos de anti-antifascistas, que ameaçam sindicatos e personalidades. Fazem listas de pessoas que devem ser perseguidas. Eu estou nessas listas — diz a professora Michaela Köttig.

O protagonismo da mulher em movimentos nazistas mostra um fenômeno mais amplo, de acordo com Michaela Köttig: a penetração resiliente das ideias nacionalistas e xenófobas na sociedade alemã.

Ela cita três itens que estimulam a adesão de mulheres ao movimento nazista: a falta de reflexão dentro das famílias a respeito da participação no nazismo durante a II Guerra Mundial, o apego dos netos a avós afeitos a ideias nacionalistas (ao mesmo tempo em que mantêm conflitos geracionais com os pais) e o contexto social, genérico, refratário a discutir o nazismo. Isso, segundo ela, forma um ambiente propício.

— Não se politiza o tema (do neonazismo), trata-se dele como se fosse delinquência juvenil. Acompanhar, perseguir ou reprimir a extrema-direita é um problema, porque a sociedade não quer saber disso, por conta do passado. Atualizar o tema do nazismo significa atualizar o papel que as famílias tiveram. Atinge a todos. Melhor ignorar, virar as costas. Minha área de pesquisa é justamente sobre isso, sobre as biografias dessas famílias e sobre as mulheres que se engajam nessas organizações. São biografias de famílias, a partir de entrevistas com famílias em mais de uma geração.

Direita simpatiza com Ahmadinejad

A ideia segundo a qual a economia em crise justificaria a persistência das ideias nazistas na sociedade alemã é contestada por Michaela, que, ao ser perguntada a respeito, responde com certa ironia.

— Melhor seria se as causas fossem econômicas, vinculadas à austeridade. O fato é que, depois da reunificação, passou a vingar a ideia de uma Alemanha grande, única. Em meados dos anos 2000, os movimentos deixaram de ser marginais. Mas eles passaram a se entranhar na sociedade, nas instituições estabelecidas. Começaram a fazer contatos e contaminar as instituições dos mais diversos tipos, como associações de pais. Todas as instituições passaram a ser alvo do movimento. Fica muito mais sutil. A ideia vai se consolidando. De repente, todos estão pensando igual, e ninguém se deu conta.

E sobre a possibilidade de surgir uma figura como a de Adolf Hitler? Michaela não acredita que se chegue a tanto.

— A estrutura democrática da Alemanha não permitiria isso. O número de pessoas que simpatizam com a democracia é muito maior. Ainda assim, não se deve negligenciar a presença desses movimentos.

Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, nega o Holocausto, Michaela diz que a reação geral é de choque. A direita, claro, simpatiza com as declarações dele, e esses grupos se valem dessas manifestações.

Fonte: zerohora
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/05/neonazismo-alemao-apresenta-sua-nova-face-4135046.html

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