O "jogo dos sete erros"(ou mais precisamente muito mais que sete) dos "revis" parece nunca ter fim. A bíblia do "revisionismo"(negação do Holocausto) no Brasil, o livro "Holocausto: judeu ou alemão?" é uma pérola ilustrativa de como distorcer dados, fatos, etc, isso quando não os cria para compôr uma versão fictícia e "alternativa"(falsa) da História na qual a Alemanha, então sob o regime nazista(ou como os "revis" gostam de chamar, 'nacional-socialista'), foi uma vítima da guerra que encabeçou e não o oposto.
A não ser que se queira considerar que a Alemanha sim foi vítima da guerra, vítima da megalomania de um ditador que a lançou à destruição numa guerra suícida, racista e genocida.
Mas certamente essa não é a visão dos "revis"(negadores do Holocausto), que de uma forma geral costumam idolatrar o genocida megalomaníaco Adolf Hitler.
Indo à edição da bíblia do "revisionismo" brasileiro, na página 76, edição eletrônica em português de "Holocausto: judeu ou alemão" de S.E. Castan, encontramos uma pérola sobre a invasão da União Soviética à Finlândia em novembro de 1939, no episódio que ficou conhecido como a "Guerra de Inverno" em que a União Soviética foi derrotada de forma acachapante:
"A UNIÃO SOVIÉTICA ATACA A FINLÂNDIA
No dia 30 de novembro de 1939, a União Soviética bombardeou a Helsinski e,
sem declaração de guerra, atacou a Finlândia, que se havia recusado a ceder-lhe duas bases. Assinaram a paz em março de 1940, após uma guerra terrível, já que
foi disputada em pleno inverno. Atencão leitores: As duas potências, que em conjunto possuíam terras em redor de 53.000.000 de quilômetros quadrados, a Grã-Bretanha e a França, que lutavam contra a Alemanha de 800.000 quilômetros quadrados de terras, por ter entrado em guerra contra a Polônia, e cujos chefes no início de outubro haviam se declarado os DEFENSORES DA LIBERDADE DA HUMANIDADE, não entortaram nenhum dedo contra a União So-[104] viética, que em setembro invadiu a Polônia e em novembro a Finlândia. Podem ter certeza de que aí tinham coisas !... É só pensar um pouquinho."
Primeiro erro encontrado e observado, não só nesse trecho como no livro inteiro, é que o livro "revisionista" é cheios de erro de português.
Por ironia faltou uma 'revisão'(sic) pro livro "revisionista". Pode parecer preciosismo ou implicância, mas para um grupo que apresenta a postura de soltar "edições bombásticas" reveladoras da "verdade histórica" negando ou distorcendo a História, de forma pretensiosa, é no mínimo curioso que não tenham sequer feito uma revisão de português no livro.
Em português se costuma escrever nomes próprios estrangeiros(por exemplo, nomes de cidades, países) nas versões aceitas ortograficamente no país(no caso me refiro ao português do Brasil), tanto por costume ou por 'aportuguesamento' do termo. A capital da Finlândia em português(do Brasil) se escreve
Helsinque e não '
Helsinki', além do próprio erro do autor do livro na grafia original da palavra, na edição eletrônica consta a palavra escrita como "Helsinski"(marcada em negrito no texto acima).
Segundo erro observado, e mais relevante, é que o autor do livro erra ao (super)dimensionar as áreas dos países citados, 'Grã-Bretanha'(que como país responde como Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Grã-Bretanha é apenas a Ilha formada por Escócia, País de Gales e Inglaterra)e França em relação à Alemanha, para mostrar que os dois países citados possuíam uma enorme disparidade territorial em relação à Alemanha, o que é falso.
Além de que no livro mencionado há diversas afirmações que são opiniões do autor sem qualquer nota ou indicação da fonte de onde foram tiradas as mesmas(ou dados) nos quais ele se apoiou pra fazer as respectivas afirmações, como por exemplo nessa questão da disparidade territorial dos três países. Esse livro é uma verdadeira obra de como não se fazer um livro de História.
Para se ter uma ideia do erro em relação à extensão dos países, usando dados atuais, mas que não ficam muito distantes dos da época do conflito, se não me engano(citando de memória) a Alemanha na época era um pouco maior até, essas são as extensões atuais do Reino Unido, França e Alemanha:
Reino Unido(área):total:
243.610 km²terras: 241.930 km²
água: 1.680 km²
nota: inclui Rockall e as Ilhas Shetland
Fonte: The World Factbook
Reino UnidoFrança(área):
total:
643.427 km²; 551.500 km² (França metropolitana)
terra: 640.053 km²; 549.970 km² (França metropolitana)
água: 3.374 km²; 1.530 km² (França metropolitana)
nota: os primeiros números incluem as regiões além-mar da Guiana Francesa, Guadeloupe, Martinica, e Reunião(Réunion)
Fonte: The World Factbook
FrançaAlemanha(área):total:
357.022 km²terra: 348,672 km²
água: 8.350 km²
Fonte: The World Factbook
AlemanhaO autor do livro "revisionista" "Holocausto: judeu ou alemão?" afirma que as áreas da França e Reino Unido(consideremos acima a extensão relativa ao Reino Unido, como dito antes, Grã-Bretanha corresponde apenas Inglaterra, País de Gales e Escócia) somadas têm "53 milhões de quilômetros quadrados" e que a Alemanha tinha na época "800.000 quilômetros quadrados de terras". Se somarmos as áreas da França e Reino Unido hoje e compararmos com a da Alemanha, dá algo assim:
Somatório das áreas totais do Reino Unido(243.610 km²*) e França(643.427 km²*): 887.037 km²Área da Alemanha: 357.022 km²*
*Números referem-se à área total de cada país segundo o World Factbook
Ou seja, as áreas atuais de França e Reino Unido juntas dão um pouco mais que o dobro do tamanho da área da Alemanha atual. Nem sequer chega a 1 milhão de quilômetros quadrados. 53 milhões de km² é algo absurdo e não só demonstra a má fé do autor do livro sobre os dados lançados como a manipulação dos mesmos para fazer uso da ideia de disparidade territorial como sinônimo de disparidade bélica.
Só para se ter uma ideia, a área total da União Soviética(quando existia) era de cerca de 22 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, era uma imensidão que não chegava nem à metade do número de 53 milhões de quilômetros quadrados exposto pelo autor do livro "revisionista". O mesmo nem sequer indicar como chegou a esse número de 53 milhões.
Você pode questionar: mas ele não estava se referindo à extensão das áreas sob domínio do Império Britânico e da França na época?
Poderia ser referente a isso só que não há indicação alguma no livro que confirme isso, livros têm que mostrar a coisa claramente, não há indicação de notas de onde ele tirou os dados apresentados, quanto mais na afirmação acima transcrita do livro que se mostra completamente errada e distorcida. O trecho é um absurdo total, típica distorção cínica feita por "revisionistas" do Holocausto.
Já foi perguntado o porquê da "implicância" com esse tipo de literatura, os motivos principais são o antissemitismo(racismo) e apologia ao nazismo explícitos ou implícitos, fora que, como material informativo o livro é uma porcaria completa por apresentar uma série de distorções e manipulações, além de falta de notas e referências como o trecho apresentado acima. O livro é inteiro assim. Vejam a chatice de ler e ter catar cada distorção(várias são esdrúxulas e dá pra ver de cara que não tem fundamento) apresentada num livro desse tipo apresentado como "verdade histórica".
Destaco novamente essa parte do trecho escolhido do livro "revi":
"e cujos chefes no início de outubro haviam se declarado os DEFENSORES DA LIBERDADE DA HUMANIDADE, não entortaram nenhum dedo contra a União So-[104] viética, que em setembro invadiu a Polônia e em novembro a Finlândia. Podem ter certeza de que aí tinham coisas !... É só pensar um pouquinho"
Procurei no livro e não achei uma fonte que indicasse a procedência da informação acima apresentada pelo autor. Onde está a afirmação de que Reino Unido e França se declaravam defensores da liberdade? Ainda se levando em conta que a França logo após tombou ante a Alemanha sendo criado governo colaboracionista fascista e a República de Vichy. No Reino Unido a turbulência dos fascistas era bem grande.
Para não passar em branco, resolvi traduzir um trecho sobre a guerra citada pra mostrar a diferença de qualidade entre um texto escrito por um historiador de verdade e um "revisionista", pros leitores do blog terem uma ideia clara da distância intelectual e de informação entre um e outro.
Sobre a Guerra de Inverno na Finlândia entre União Soviética e Finlândia, segue um trecho do livro "Russia's War" do historiador Richard Overy, que mostra a derrota de Stalin e o sacrifício de centenas de vidas de soldados soviéticos na ofensiva esdrúxula dele fruto de sua tirania e porque não megalomania também(tradução minha):
"Poucas semanas depois, em 5 de outubro, um pedido similar foi feito à Finlândia: uma base naval e uma aérea na boca do Báltico em Hanko pegando o istmo da Carélia, norte de Leningrado, para fornecer uma melhor defesa àquela cidade vital. Em troca foi oferecida à Finlândia uma extensa área do território soviético na Carélia. Os finlandeses recusaram e em 13 de novembro as negociações cessaram. Stalin quase que certamente teria preferido uma solução política, mas quando os finlandeses recusaram ser intimidados ele rasgou o tratado de não-agressão Soviético-Filandês e preparou uma campanha militar para trazer a Finlândia inteira para a órbita soviética. Um governo títere comunista, a espera, foi estabelecido para Finlândia, e Stalin redigiu planos de incorporar a Finlândia à União Soviética como a República Soviética Carelo‐Finlandesa. Em 30 de novembro a artilharia soviética iniciou um bombardeio à fronteira finlandesa, e os exércitos soviéticos avançaram, experando uma rápida vitória. Mais tarde Khrushchev recordou o comentário de Stalin que "tudo o que tínhamos que fazer era abrir fogo que em poucas rodadas da artilharia os finlandeses capitulariam". Stalin confiou em prosseguir com as convicções vaidosas de Voroshilov: "Tudo está bem, tudo está em ordem, tudo está pronto." 40
A campanha na Finlândia foi um desastre para o Exército Vermelho. Expôs ao mundo como era fraca a capacidade ofensiva das forças expurgadas e enfatizaram para o exterior o valor do dano do terror que tinha ocorrido. Apesar da vantagem numérica, os exércitos designados para a Guerra de Inverno foram parados por um sólido conjunto de fortificações, a Linha Mannerheim. Soldados soviéticos lutaram obstinadamente mas sofreram baixas excepcionais, um total de 126.875 soldados morreram em quatro meses. Seus cadáveres congelados permaneceram em grotescos amontoados onde tombaram. As tropas foram mal treinadas para defesas fixas na tempestade; havia escassez de armas automáticas e roupas de inverno; o sistema de suprimento de comida rapidamente sucumbiu e o transporte era pobremente organizado. Congelamento e fome se somavam às baixas infligidas pelo rápido movimento das tropas finlandeses em esqui e por atiradores de tocaia. Os comandantes eram controlados de perto por um centro por oficiais políticos que conheciam pouco sobre o campo de batalha.
Os finlandeses apelaram por um armistício, e o Exército Vermelho estava extremamente alvejado para prosseguir na guerra de conquista do país inteiro. Em 12 de março de 1940 a paz foi assinada. A Finlândia foi forçada a ceder os territórios e bases pedidas um ano antes, mas sua independência foi assegurada. A União Soviética foi expulsa da Liga das Nações pelo ato de agressão gratuito.
A Guerra de Inverno foi o maior conflito empreendido pelo Exército Vermelho desde a guerra civil 20 anos antes, maior até que as batalhas de fronteira com os japoneses em Khalkhin‐Gol que lutaram no verão anterior onde o Exército Vermelho envergonhado foi salvo pela intervenção do General Zhukov."
Russia's War(A Guerra da Rússia), autor:
Richard Overy, partes extraídas das páginas 63-4
Essa é a diferença(acima) de um texto escrito por um historiador de verdade e um "revionista", vulgo negador do Holocausto, que distorce ou nega a História para justificar seus posicionamentos políticos.
Ver também:S. E. Castan e suas mentiras – Parte 1 – Pré-GuerraCastan, atentado em Sarajevo, Gravilo Princip e as velhas distorções "revisionistas"