terça-feira, 20 de novembro de 2012

Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01

RESUMO

Neste ensaio se analiza a relação entre a experiência original do fascismo italiano e suas expressões homólogas na América Latina (especialmente os casos do Brasil e do México) no período entreguerras. O objetivo principal é expôr as muitas ambiguidades, incertezas e leituras equivocadas que ocorreram em ambos sentidos durante essa época, em particular desde o lado italiano. Assim se chega a desenhar um mapa de encontros e sobretudo desencontros, que matizam a infuência e "difusão" do fascismo de origem italiana na América Latina, abarcando entre outros aspectos alguns elementos culturais e ideológicos. Avança-se assim para detectar os limites de expressão e propagação de um fascismo verdadeiro com respeito a outros fenômenos "nativos" da América Latina tais como as ditaduras e alguns movimentos políticos nacionalistas, e a marcar dessa forma um âmbito mais preciso de utilização da categoria "fascismo" na região.

PALAVRAS CHAVE: Fascismo, nacionalismo, Itália, América Latina, entreguerras.

Artigo recebido: 4 de fevereiro de 2008; Aprovado: 7 de julho de 2008; Modificado: 30 de setembro de 2008.

Introdução

A presença de um modelo político fascista ou semifascista na América Latina foi objeto de discussões e estudos ao longo das últimas quatro décadas, especialmente com relação aos regimes nacional-populistas, as ditaduras militares e alguns grupos nacionalistas radicais e "de direita" [01]. Um dos denominadores comuns das investigações foi o uso extensivo do qualificativo "fascismo" para cobrir um espectro amplo de fenômenos, entre fatos e personagens, oscilando desde o populismo da direita conservadora e autoritária, e passando por forças castrenses (com o modelo prototípico do ditador chileno Augusto Pinochet). A aplicação imprudente e excessiva do termo foi, além disso, característica dos ambientes políticos de esquerda os quais se cultivou por um longo tempo a ideia errônea de que a América Latina foi "a guarida do fascismo em suas formas mais abertamente contrarrevolucionárias e ditatoriais" [02]. Este uso polêmico, genérico e superficial da palavra, pela imprecisão, ou escasso rigor científico e o risco de graves erros de interpretação, foram denunciados por vários investigadores do fenômeno fascista, como Gilbert Allardyce, Stanley Payne e Emilio Gentile [03]. Cabe se perguntar de onde se origina esta ambiguidade ou incertidão semântica ao redor de um fenômeno fundamental do século XX. Neste ensaio se investigará uma das causas originais (não a única, mas sem dúvida importante) no "jogo de ilusões" entre as manifestações latinoamericanas do fascismo e a Itália fascista.

Naturalmente, para qualquer observador atento, na América Latina resultam de imediato evidentes as diferenças a respeito do fascismo europeu, se de "fascismo" se pode falar. Aqui não há movimentos de massas impulsionados pela classe média, líderes messiânicos, "religiões políticas" ou ideologias palingenésicas e poderosos partidos únicos, tampouco se percebe essa difura atmosfera intelectual voluntarista, vanguardista, soreliana e nietzcheana atiçada pelos mitos da guerra mundial, que constitui a base reativa para a formação da filosofia política do fascismo. Stanley Payne assinala a respeito que "a fragilidade ou bem a ausência de um fascismo verdadeiro na América Latina" se deve à "taxa geralmente baixa de mobilização política; um atraso mais que geracional em relação aos países mais atrasados da Europa; o caráter não competitivo do nacionalismo [...]; o controle tradicional elitista-patronal dos procedimentos políticos e portanto, a capacidade dos grupos dominantes e menos radicais [...] para reprimir o nacionalismo revolucionário; a composição multirracial de muitas associações latinoamericanas [...]; o predomínio político da casta militar [...] a debilidade da esquerda revolucionária [...]; a tendência dos nacionalistas latinoamericanos depois de 1930 a rechaçar tanto a Europa como a América do Norte e orientados para um nativismo populista ou de tradição hispânica; a insuficiência da economia social-nacional sindicalista do Estado em países dependientes [...]; o desenvolvimento, enfim, de um modo característico de nacionalismo radical na forma de movimentos populistas [...]" [04].

Na América Latina, contudo, existem também elementos comuns ou facilmente reconhecíveis para quem está familiarizado com os "modelos" europeus: a crise do liberalismo, a crítica à democracia parlamentar, o rechaço às oligarquias tradicionais, os impulsos à modernização nacional, a oposição ao imperialismo anglo-saxão (e a ideia de uma "nova ordem" mundial com a liderança de potências emergentes), a reação contra o "perigo" comunista (mais imaginário que real, ou bem distante geograficamente) e a busca de um sistema de tipo corporativo. O repertório de semelhanças é, sem dúvida, suficiente para perguntarmos não somente sobre a presença e extensão do fenômeno fascista - como assinalou em um momento Hélgio Trinidade - [05] senão precisamente indagar sobre as características das variantes regionais do mesmo. A este "fascismo" não teremos qualificativos tais como o "fascismo de esquerda" (Lipset, Incisa di Camerana) [06] ou o "fascismo desde cima/de direita" (Torcuato di Tella) [07], limitaremo-nos a descrever algumas peculiaridades das formas "fascistas" ou próximas ao fascismo presentes na América Latina, ao dar por certo que este constitui uma fenomenologia de alcance mundial com uma notável variação regional. O que faz falta por agora é, em primeiro lugar, incorporar as tendências mais recentes da investigação internacional sobre o fascismo, que lhe tirou a centralidade de questões tais como as classes sociais (fascismo=mobilização ou revolução das classes médias), as peculiaridades nacionais (fascismo=revanche de países humilhados ou ambiciosos) e a oposição às forças de esquerda (fascismo=anticomunismo), ou a relação com o modelo econõmico (fascismo=ditadura da burguesia ou fascismo=corporativismo) no que se enfoca melhor na ideología, na cultura, na morfologia institucional e na geopolítica [08]. Em segundo lugar é preciso abordar o problema da relação que existe entre todo fascismo e seu modelo original, que é sem dúvida alguma o italiano.

As investigações na Itália, na realidade, nunca perderam a consciência de que o fascismo fora essencialmente um produto "Made in Italy", uma perspectiva excessivamente limitada que em alguns casos (De Felice) dificultava ver os caracteres fascistas presentes em outras experiências extra-italianas, quer dizer, negar que o fascismo fora um fato de alcance mundial e de época. A atenção para a América Latina era óbvia, porque aqui se observavam fenômenos parecidos com características em parte similares e em partes diferentes a respeito do modelo transatlântico, o que criava confusão. Por outro lado, existia também uma linha de estudos que sem exagerar o alcance do "fascismo" como ideologia ou modelo político, destacava a influência do regime de Benito Mussolini como exemplo de Estado forte, autoritário e modernizador. Assim chegavam a ver erroneamente ou superficialmente como um "sucesso" da ditadura italiana tanto a função desta como um modelo, assim como o entrelaçar de contatos entre esta e os regimes latinoamericanos [09]. Este erro se deve em grande medida à falta de distinção entre a influência política e geopolítica por um lado (que foram menos consistentes do que se crê), e a influência ideológica por outro lado (ainda mais débil, muito além das imitações superficiais e as sugestões ocasionais e de toda toda forma, inferior às expectativas) [10].

A confusão dos âmbitos de influências, por demais, está presente já na produção escrita da época especialmente na Espanha e América Latina, onde se lia o fascismo no sentido conservador e autoritário, perdendo de vista ou mal interpretando os aspectos revolucionários, modernistas e progressivos da ideologia fascista [11], o que se levou a incluir apressadamente o fascismo entre "as direitas" [12]. Cabe mencionar além disso o hitlerismo antifascista que se propaga em muitos países entre as organizações trabalhistas e em círculos governamentais (no México), e alcança níveis de alarmismo exacerbado em fins da década de trinta e durante a Guerra, com as denúncias - em grande medida inverossímeis ou francamente exageradas - da presença de uma ubíqua "quinta coluna" fascista em todo o continente [13]. O aspecto mais surpreendente desta falta de entendimento ou alteração perceptiva - como se queira chamar - ao redor da presença fascista na América é talvez a confusão entre o verdadeiro fascismo (italiano) e suas imitações ou formas homólogas latinoamericanas. Os países que talvez podem exemplificar melhor estas confusões são México e Brasil: o primeiro, ao desenvolver um regime populista revolucionário de partido único com várias características em comum com o fascismo (mas derivadas do desenvolvimento autônomo) e o segundo, por ser o berço do movimento popular mais próximo ao fascismo de toda a América Latina. A estes dois casos nacionais lhes dedicaremos mais espaço em nosso percurso pelas formas e as manifestações políticas próximas ou paralelas ao fascismo na região.

O objetivo principal deste ensaio é mostrar através da profunda desilusão italiana pela escassa difusão ideológica e política do fascismo na América Latina, o desencontro com os movimentos, regimes e figuras políticas e intelectuais que se diziam fascistas ou simpatizantes (ou bem tinham esta reputação ou pareciam alinhados), para pôr em evidência como em grande parte da região se experimenta trajetórias político-ideológicas peculiares que, ao se extinguir abruptamente os fascismos "clássicos" europeus em 1945 (e ao mudar, em consequência, o clima ideológico mundial), manifestaram-se mais francamente nos modelos autóctenes de nacional-populismo. Desde o olhar italiano se chegara a descobrir finalmente o jogo de miragens e equívocos que contribuiu para originar a escassa ou errônea compreensão do que foi (e é) o fascismo na região [14].

1. Percepções e Realidades

Para abordar o tema, poderíamos começar por assinalar que o fascismo, ao contrário do comunismo, não é uma ideologia com vocação internacional. Ou melhor, ela o é somente na medida em que os objetivos nacionais se conjugam com as tarefas de elevar o status da "Civilização" (ocidental) e com a luta contra os inimigos desta (bolchevismo, liberalismo, individualismo, cosmopolitismo) e, em geral, contra a "decadência" (que é um conceito axial para todos os fascismos). Cada fascismo expressa, com efeito, um impulso de sua própria realidade nacional, surge - por assim dizer - de cada contexto com características peculiares e únicas, e só secundariamente se entrelaça com a fenomenologia ideológica e política mundial. Com estas exceções pode-se falar de "internacionalismo fascista" (especialmente nos anos vinte), e se pode detetar intenções de buscar laços e sinergias entre os movimentos fascistas internacionais e apregoar um "fascismo universal" (como o fizeram os CAUR [15] e alguns intelectuais italianos na década dos anos trinta). Contudo, todos os intentos de unir os esforços dos movimentos e regimes de tipo fascista se subordinam sempre ao princípio dos interesses nacionais. Não existe - nunca existiu em nenhuma parte - algo assim como uma forma de solidariedade espontânea com consequências políticas, como a que existiu entre os movimentos socialistas e comunistas mundiais e que favoreceu a formação do Komintern no período entreguerras. E fora isto, finalmente, a debilidade fatal do fascismo.

Os observadores contemporâneos mais atentos não se deixaram enganar e expressaram juízos céticos ou negativos sobre o conteúdo "fascista" das ditaduras latinoamericanas [16]. A influente revista Crítica Fascista em 1937 adverte a seus leitores que não tem como se entusiasmar por essas ditaduras e arriscar a fazer "de toda a erva uma só" [17]. O Conde Ciano (Ministro de Relações Exteriores e genro de Mussolini) observou nesse mesmo ano que:
"em todo o continente há uma tendência a considerar como "fascistas" as muitas medidas de caráter autoritário que são, na realidade, as ações de somente ditaduras militares ou semimilitares características desses países [...] para proveito pessoal [...]. O "Fascismo", na realidade, não é conhecido em suas verdadeiras finalidades e em sua essência no continente americano. [...] Em geral, quando se fala de "fascismo" na América do Sul se fala desta ou daquela pessoa que têm tendências de caráter fascista. Todos os demais homens políticos ignoram quase completamente o que são a teoria e práxis fascista" [18].
Os ditadores latinoamericanos, efetivamente, não se ajustavam ao perfil de Mussolini. Ainda que estes homens admirassem o Duce e o fascismo, eram por demais nacionalistas para reconhecer dúvidas a um modelo estrangeiro ou tolerar intromissões políticas externas [19]. Eram, sobretudo, bastante conservadores para aceitar o componente socialista, populista e revolucionário do fascismo. Deste eles tinham, como todo mundo, uma visão parcial e deformada. Por seu lado, o regime fascista não se inclinava a aceitar por princípio o caráter reacionário dos ditadores que eram a expressão de interesses castrenses, oligárquicos e pessoais, ao invés de serem a manifestação autêntica das massas nacionais [20]. Na imprensa fascista era frequente que se dessem "lições" a homens fortes latinoamericanos, para "impedir que alguns simples reacionários ou caudilhos militares exagerassem em se atribuir credenciais ilegítimas do fascismo" [21].

É certo também que a percepção italiana da realidade latinoamericana tinha suas limitações. Os fascistas italianos tão sencíveis em conceder o título de "fascista" a movimentos e regimes estrangeiros, especialmente se eram do tipo militar, personalista ou conservador, não souberam reconhecer os fenômenos paralelos (nacional-populistas) ou francamente próximos (fascismo "de esquerda", se aceitamos a expressão de Lipset e Incisa di Camerana) que se manifestavam na distância das terras americanas. O fascismo italiano tinha um componente populista, mas o populismo como fenômeno político em sentido estrito e completo é em si uma forma política autônoma, quer dizer, como o fascismo é autônomo em relação ao nacionalismo ou ao socialismo (que são suas duas principais raízes históricas) [22]. Os fascistas italianos simplesmente não souberam detetar o populismo. Além disso - enquanto estiveram dispostos a reconhecer formas políticas sui generis - não perceberam ou rechaçaram as formas mais esquerdistas e peculiares de fascismo que também nasciam, com a influência do modelo italiano mas respondendo a uma causalidade local diferente. A luta para construir a nação, derrubar as oligarquias decimonónicas (do séc. XIX) e romper com a dependência das potências anglo-saxãs levou a vários casos à formação de movimentos e regimes de tipo fascistizantes (Brasil, México, Bolívia), que não foram entendidos completamente pela Itália fascista, que os viu como algo exótico, distante e confuso.

Notas

* Este artigo é resultado do projeto de pesquisa do autor entitulado "Nación y nacionalismo", financiado pelo Instituto Nacional de Antropologia e Historia, INAH, do México.

[01] Ver entre os numerosos estudos, Theotonio Dos Santos, Socialismo o fascismo: el nuevo carácter de la dependencia y el dilema latinoamericano (Buenos Aires: Periferia, 1974); René Zavaleta Mercado, "Nota sobre fascismo, dictadura y coyuntura de disolución", Revista Mexicana de Sociología 41:1 (enero-marzo 1979): 75-85; David Viñas, Qué es el fascismo en Latinoamérica (Barcelona: La Gaya Ciencia, 1977); Hélgio Trinidade, "El tema del fascismo en América Latina", Revista de Estudios Políticos 30 (1982): 111-142. Geralmente estes autores se adscriben à teoria marxista e aos modelos de "dependência".

[02 Roger Grifn, The Nature of Fascism (New York: Routledge, 1991), 148.

[03 Cfr. Franco Savarino, "La ideología del fascismo entre pasado y presente", em Diálogos entre la historia social y la historia cultural, eds. Franco Savarino et al. (México: INAH-AHCALC, 2005), 253-272.

[04 Stanley G. Payne, Il fascismo (Roma: Newton, 1999), 345.

[05 Helgio Trinidade, "El tema del fascismo", 111.

[06 Seymour Martin Lipset, El hombre político. Las bases sociales de la politica (México: REI, 1993); Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos. Biografia di un continente (Milano: Corbaccio, 1994).

[07 Torcuato S. Di Tella, "Fascismo desde arriba" en Diccionario de las ciencias sociales y políticas, eds. Torcuato S. Di Tella et al. (Buenos Aires: Emecé, 2001), 271-272.

[08 Em particular as influentes investigações de George Mosse, Zeev Sternhell, Roger Grifn e Emilio Gentile que marcam um "giro" cultural (e institucional) nos estudos sobre o fascismo. Gentile define o fascismo como "um fenômeno político moderno, nacionalista e revolucionário, antiliberal e antimarxista, organizado por um partido milícia, como uma concepção totalitária do Estado, com uma ideologia ativista e antiteorética, com um fundamento mítico, viril e anti-hedonista, sacralizada como uma religião laica que afirma a supremacia absoluta da nação ao que se entende como uma comunidade orgânica etnicamente homogênea e hierarquicamente organizada em um Estado corporativo com uma vocação belicista a favor de uma política de grandeza, de poder e de conquista encaminhando à criação de uma nova ordem e de uma nova civilização". Emilio Gentile, Fascismo, historia e interpretación (Madrid: Alianza, 2004), 19.

9 Por exemplo, em Pietro Rinaldo Fanesi, "Le interpretazioni storiografiche e politiche dell'America Latina nel periodo fascista", en Ruggiero Romano. L'Italia, l'Europa, l'America, ed. A. Filippi (Camerino: Università di Camerino, 1999), 395-405. Mas é uma interpretaçaõ comum. Mugnaini por seu lado, Marco Mugnaini, "L'Italia e l'America latina (1930-1936): alcuni aspetti della politica estera fascista", Storia delle Relazioni Internazionali 2 (1986): 199-244 interpreta o encontro do fascismo com os regimes castrenses em termos de simpatias, interesses e instrumentalizações políticas (203-207).

10 Vê-se uma evaluación bastante precisa destas influências contraditórias em Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354; e cfr. Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo italiano en América Latina (1922-1940)", Reflejos 9 (2000-2001): aquí 107-109. Sobre la infuencia del fascismo entre las comunidades italianas (que se encontra fora do alcance deste estudo) existe já uma boa bibliografia: véase, entre otros a Joao Fábio Bertonha, "A migraçao internacional como Fator de Política Externa: os emigrantes italianos, a Expansâo Imperialista e a Politica Exterior da Itàlia, 1870-1943", Contexto Internacional, XXI: 1 (Enero-junio 1999): 123-64; Emilio Franzina y Matteo Sanflippo eds., Il fascismo e gli emigrati (Roma-Bari: Laterza, 2004); y Eugenia Scarzanella (ed.), Fascisti in Sud America (Firenze: Le Lettere, 2005).

11 Por exemplo, na Espanha um observador contemporâneo (1934) escreve: "Empiezan a existir en España grupos fascistas. Oír a la mayoría de quienes los componen, encoleriza. Se titulan fascistas por haber llegado a la cómoda conclusión de que orden y fascismo son términos sinónimos. Impórtanle un adarme la médula sindicalista, tan en pugna con la tesis conservadora, ni su carácter de doctrina en plena evolución. Ellos lo que quieren es orden, no justicia". Cesar Juarrós, Atalayas sobre el fascismo (Madrid: Ma. Yagües Editor, 1934), 42.

12 Que el fascismo fuera una revolución moderna (al lado y en rivalidad con la comunista) es un hecho aceptado por la mayoría de las investigaciones científicas actuales. El fallecido George Mosse titula significativamente su último líbro The Fascist Revolution. Toward a General Theory of Fascism (New York: Howard Fertig, 1999). La colocación del fascismo sobre el eje derecha-izquierda es más problemática, posiblemente la mejor opción sería asignarle un lugar "central" ("ni derecha ni izquierda" es el título de un famoso estudio de Zeev Sternhell), reconociendo la posibilidad de oscilar en los dos sentidos y marcando una distinción especialmente de las derechas con las cuales suele ser confundido. Cfr. Sandra McGee Deutsch, Las Derechas: The Extreme Right in Argentina, Brazil, and Chile, 1890-1939 (Stanford: Stanford University Press, 1999).

13 Un ejemplo de esta literatura alarmista es la obra de Hugo Fernández Artucio, La organización secreta nazi en Sudamérica (México: Minerva, 1943). Es posible leer retrospectivamente la obsesión por el fascismo internacional de esa época a la luz de la obsesión contemporánea por el "peligro" islámico.

14 Para um exame mais geral e de corte geopolítico das relações italianas com a América Latina remeto a Franco Savarino, "En busca de un "Eje" latino: la política latinoamericana de Italia entre las dos guerras mundiales", Anuario del Centro de Estudios Históricos "Prof. Carlos A. Segretti" 6 (2006): 239-261.

15 Comitati d'Azione per l'Universalità di Roma. Véase Mario Cuzzi, L'internazionale delle camicie nere. I CAUR 1933-1939 (Milano: Mursia, 2005).

16 Oreste Villa (agregado comercial en la Legación italiana en México en los años treinta) critica severamente todos los dictadores latinoamericanos con la excepción de Juan Vicente Gómez. Cfr. Oreste Villa, L'America Latina, problema fascista (Roma: Nuova Europa, 1933), 50-58.

17 Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", Critica Fascista, XVI: 3 (diciembre 1937): 44-47. En italiano es un juego de palabras: "fare di tutta l'erba un fascio" (haz=fascio).

18 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., Documenti Diplomatici Italiani (DDI), s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 653. Las palabras de Ciano son también indicativas de lo difícil que era para los fascistas comprender los fenómenos políticos característicos de la región, como el populismo, o reconocer aquí elementos familiares en la maraña de formaciones autoritarias y auto-reivindicaciones o imitaciones del modelo italiano con ninguno o escaso espesor ideológico.

19 Marco Mugnaini, "L'Italia", 208-211.

20 Aldo Albonico, Italia y América (Madrid: MAPFRE, 1994), 166 y cfr. Folco Testena, "Sguardo sommario sulla situazione dell'America di lingua latina", Civiltá Fascista (Agosto 1942): 653-657. Sobre las dictaduras sudamericanas véase Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 195-245. Los regímenes militares latinoamericanos resultaron ser menos permeables de lo esperado a las infuencias fascistas, también por la incompatibilidad fundamental existente entre el militarismo y el fascismo. Stanley Payne, Fascism. Comparision and definition (Madison: The University of Wisconsin Press, 1980), 19 y 167-175.

21 Aldo Albonico, "Immagine e destino delle comunità italiane in America latina attraverso la stampa fascista degli anni trenta", Studi Emigrazione XIX:65 (marzo 1982): 43.

22 Sobre el populismo hay una vasta literatura que resultaría imposible reportar aquí. Véase entre los clásicos: Octavio Ianni, La formación del Estado populista en América Latina (México: ERA, 1975); Ernesto Laclau, Política e ideología en la teoría marxista (Madrid: Siglo XXI, 1978); Margaret Canovan, Populism (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1981). Ver también María M. Mackinnon y Mario A. Petrone (eds.), Populismo y neopopulismo en América Latina (Buenos Aires: Eudeba, 1998); y cfr. Franco Savarino, "Populismo: perspectivas europeas y latinoamericanas", Espiral XIII:37 (septiembre-diciembre 2006): 77-94.

Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Link alternativo: http://historiacritica.uniandes.edu.co/view.php/573/index.php?id=573
Tradução: Roberto Lucena

Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03

Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Governos aumentam vigilância sobre os cidadãos afirma a Google

Não são novidade as interferências de vários órgãos governamentais, um pouco por todo o mundo, com o objetivo de limitar a informação divulgada na web. Ainda há poucos dias, por exemplo, o Google ficou indisponível na China.

Desde 2010, que a empresa californiana transmite duas vezes por ano, os resultados do relatório de transparência, onde são divulgadas as conclusões sobre os pedidos efetuados pelos estados de todo o mundo à Google. O objetivo é limitar a livre circulação de informação entre os cibernautas.

As conclusões do relatório sobre o primeiro trimestre deste ano já são conhecidas e estão disponíveis para consulta no blog oficial da empresa. Segundo os dados do sexto relatório, “existe uma tendência clara: a vigilância dos governos está em ascensão.” A empresa justifica este aumento com números: assim, se nos primeiros seis meses de 2010 foram registados em média cerca de 13 mil pedidos para a entrega de dados de utilizadores, já este último semestre os números ultrapassam a barreira dos 20 mil.

A empresa acrescenta ainda que, entre 2009 e 2011, esta interferência foi praticamente insignificante contudo, “no primeiro semestre de 2012 foram registados 1791 pedidos, por parte de funcionários governamentais, de todo o mundo, para a eliminação de 17746 informações e conteúdos.”

Os países que lideram esta lista de preocupações, tendo em conta o primeiro semestre deste ano, são: os E.U.A com 7969 pedidos de dados de utilizadores, seguidos da Índia com 2319 e em terceiro lugar o Brasil solicitou 1566 informações sobre utilizadores.

Quanto a Portugal, foram registados um total de 184 pedidos sobre 247 utilizadores, dos quais 14 por cento foram satisfeitos por parte da Google.

Fonte: tecnologia.com.pt (Portugal)
http://www.tecnologia.com.pt/2012/11/governos-aumentam-vigilancia-sobre-os-cidadaos-afirma-a-google/

sábado, 17 de novembro de 2012

Oliver Stone. Uma lição de história sobre os erros dos EUA

A série documental “The Untold History of United States” estreou ontem à noite nos EUA com o primeiro de dez episódios

Segunda Guerra Mundial

Oliver Stone realizou “The Untold History of United States” a pensar nos filhos. “Quando me contaram o que andavam a aprender na escola fiquei perturbado por perceber que não lhes tinham dado uma visão mais honesta do mundo”, conta no início da série documental, que estreou ontem à noite no canal Showtime norte-americano.

“Quando era novo e estudava em Nova Iorque também achava que tinha recebido uma boa educação”, conta – e é a sua voz que narra o resto da série. “Estudei História e tudo fazia sentido. Nós éramos o centro do mundo. Era o destino. Éramos os bons.” Mas isso foi antes de viajar pelo mundo, de ter estado na Guerra do Vietnã e de ter realizado dezenas de filmes, muito deles sobre política (“JFK”, “Nixon”, “Wall Street”...).

Stone decidiu produzir “The Untold History of United States” para que os filhos tivessem acesso a “algo que vá além da tirania de agora, do nevoeiro em que vivemos”, explica. O que é que isso significa em concreto? Uma visão da América que não estamos habituados a ter na TV, em filmes ou em livros Made in USA.

“Não nos centramos nas coisas que a América fez bem”, diz Stone, que, a par da série, também lançou um livro com o mesmo título a 30 de Outubro (em co--autoria com Peter Kuznick, professor de História da American University). “Para isso já há bibliotecas cheias de livros e o currículo escolar. Estamos mais preocupados com os erros.”

A série começou a ser produzida em Fevereiro de 2008 e funciona “como se fossem dez filmes”, diz o realizador. “Foi pensada como um filme sobre a bomba atómica, porque nasci nessa altura, mas depois vi que também daria um bom documentário”, conta. O que foi pensado como um documentário de hora e meia transformou-se numa série com dez episódios. “Tive mais olhos que barriga”, justifica Stone. E tudo por causa de George W. Bush.

“Estávamos em 2008 e estava zangado com o pesadelo que o nosso país vivia. Decidi expandir o documentário porque queria perceber George Bush... como é que ele se safou e como é que o pusemos outra vez na Casa Branca em 2004 depois de tudo o que fez.”

A lição de história não convencional da série inclui imagens de arquivo nunca dantes vistas, como recriações em laboratórios nucleares norte-americanos encenadas para noticiários.

Os primeiros quatro episódios da série dissecam a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, mas a história prolonga--se pela Guerra do Iraque até à era Obama. Segundo Stone, o actual presidente não é melhor que Woodrow Wilson ou George W. Bush: “Alguém que pegou numa situação má e a tornou ainda pior ao vender-se a financiadores de Wall Street de bolsos cheios.”

A série, que tem mantido Stone ocupado nestes últimos quatros anos, ainda não tem data de estreia prevista para Portugal.

Por Clara Silva, publicado em 13 Nov 2012 - 03:10 | Atualizado há 4 dias 15 horas

Fonte: Ionline (Portugal)
http://www.ionline.pt/boa-vida/oliver-stone-uma-licao-historia-sobre-os-erros-dos-eua

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Minúcias do Holocausto (Arnost Tauber; Dov Paisikovic)

O documento de Nuremberg NI-4829 é o depoimento de um certo Arnost Tauber, que afirma (ênfase minha):
Fui preso em duas ocasiões. A primeira vez em maio de 1939 pela distribuição de illegal leaflets. Fui preso por 77 dias. Em setembro de 1939 fui preso pela segunda vez no in the course of the hostage actions and levado a Dachau por meio da prisão em Pankratz, e de lá para Buchenwald. De Buchenwald fui transferido para o campo principal de Auschwitz em outubro de 1942, e uma semana mais tarde fui enviado de lá para Monowitz com o primeiro transporte. Permaneci em Monowitz até agosto de 1944, quando fui transferido para Treblinka.
E durante o interrogatório:
Pergunta: Então você foi enviado para Treblinka em 4 de agosto de 1944, correto?

Resp. Sim.
Mas o que se passa aqui? Treblinka está claramente fora de lugar neste testemunho.

Mas tente lembrar de um campo diretamente relacionado a Auschwitz com um nome semelhante. Se você pensou em Trzebinia, você acertou. Permitam-me citar o livro 'Auschwitz Chronicle' de D. Czech (pág. 787):
Os prisioneiros são evacuados do campo auxiliar de Trzebinia e aqueles capazes de marchar são conduzidos a Auschwitz. [...] Arnost Tauber, Abraham Piasecki e Karl Broszio escaparam durante a marcha a pé.
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Às vezes, os "revisionistas" podem ser úteis. Assim, um "revi" de nick "polardude" encontrou uma discrepância entre uma lista de transporte de Westerbork e o livro 'Auschwitz Chronicle' de Czech. A lista na pág. 51 da edição crítica revisada do Diário de Anne Frank, 453 judeus partem para Auschwitz em 19 de maio de 1944, entre eles 199 homens, 220 mulheres e 34 crianças.

Por outro lado, Czech lista 453 judeus que chegam de Westerbork em 21 de maio de 1944, assim: 250 homens receberam numeração A-2846-A-3095, 100 mulheres recebem numeração A-5242-A5341. 103 judeus não registrados foram gaseados. Como esse negacionista aponta, mesmo com todas as crianças do sexo masculino, haveria apenas 233 homens sobre este transporte. Agora, obviamente, Czech está errado.

Mas essa correção também nos permite endereçar uma suspeita a Carlo Mattogno sobre Dov Paisikovic, que ele citou em seus livros sobre os Bunkers e as incinerações ao ar livre:
Em 17 de outubro de 1963, em Viena, Dov Paisikovic escreveu um relatório sobre sua experiência como membro da então chamada unidade especial de Auschwitz. Como ele afirma com freqüência, Paisikovic (nascido em Rakowec, então na Tchecoslováquia, em 1 de abril de 1924) foi deportado para Auschwitz do gueto em Munkacs (Hungria) em Maio de 1944 e foi registrado com a ID de número A-3076. No entanto, de acordo com a o livro de Danuta Czech, os números de identificação de A-2846 até A-3095 foram atribuídos a 250 judeus holandeses vindos do campo de Westerbork.
Agora que sabemos que Czech estava errado, não há nenhum mistério - o número de Paisikovic é de fato legítimo.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/08/holocaust-minutiae-arnost-tauber-dov.html
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sobre o termo revimané ("revisionistas" e negação do Holocausto)

Pode parecer banal, e talvez seja, mas pra evitar o mau uso do termo por gente mal intencionada querendo criar confusão ou se passar por terceiros aproveitando-se da paranoia desses "revis", acho que é bom fazer o registro de onde vem essa expressão que era bastante usada no Orkut para se dirigir aos revimanés, ops, "revisionistas".

O termo surgiu no fórum de Segunda Guerra do Orkut (na maior comunidade) lançado por um colega de fórum anos atrás, provavelmente 2006 ou antes disso. Ou seja, não é algo novo e não é uma expressão criada pelo pessoal deste blog como muita gente pode achar pois a gente costuma usar muito o termo (digamos que o termo "pegou").

Revimané obviamente é uma palavra criada que mistura parte da palavra "revisionista" com 'mané', que significa idiota, palerma, trouxa, estúpido etc. Portanto revimané nada mais é do que um "revisionista" idiota, tolo, trouxa, imbecil ou estúpido.

É bom fazer o registro pois já peguei comentários de terceiros usando esse termo, o que pode por vezes remeter a que achem que seja alguém do blog comentando, quando não é, uma vez que é um termo razoavelmente bem conhecido pois a comunidade onde o termo surgiu e foi empregado era bastante frequentada/acessada por milhares de pessoas. Refiro-me a grande comunidade sobre Segunda Guerra e sobre o Holocausto no Orkut (as comunidades não-"revisionistas" obviamente).

Fica aqui o registro do termo. O uso da expressão é público, ou seja (em outras palavras), qualquer pessoa pode fazer usa dela pois não possui "copyright".

P.S. um último aviso, embora possa mudar de ideia depois pois infelizmente é algo que vem acontecendo há algum tempo, é sobre terceiros que usam fakes ou termos que a gente usa tentando confundir e ao mesmo tempo não assumir o que defendem ou dizem. Eu ia fazer um post só dedicado a isso mas por enquanto acho que não há necessidade do post, mas... nunca se sabe quando a gente pode vir a mudar de ideia e fazer o post. Pra se combater o extremismo não é muito louvável esse tipo de postura delinquente de uso de fakes pra tentar instigar intrigas ou brigas.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Câmaras de gás nos campos da Aktion Reinhard (Belzec, Sobibor, Treblinka). A cor dos cadáveres

Belzec, Sobibor, Treblinka. Negação do Holocausto e Operação Reinhard.
Capítulo 5: Câmaras de gás nos campos da Aktion Reinhard (6). Coloração dos cadáveres.

A cor dos cadáveres

Outras críticas de MGK (sigla pra Mattogno, Graf e Kues) às testemunhas da Aktion Reinhard envolve a cor dos cadáveres gaseados. [246] Para eles, pode ser tomado como uma "verdade" [247] o fato de que as vítimas do gaseamento deveriam exibir claras manchas vermelho-cereja, e como nenhuma testemunha se refere a coloração das vítimas, MGK estão "certos de que algo está errado com os testemunhos das câmara de gás". [248] Este tipo de argumentação é dúbia em sua origem, pois pressupõe um conhecimento exato de várias coisas: as circunstâncias dos assassinatos dentro das câmaras de gás, os fatores que provocam o aparecimento de uma cor "vermelho-cereja brilhante" nas vítimas de monóxido de carbono, que as vítimas gaseamento teriam que necessariamente exibir a cor vermelho-cereja, e que esta descoloração é facilmente aparente para o inexperiente olho humano.

Para sustentar tal afirmação, MGK tem que confiar na literatura médica e toxicológica sobre o envenenamento por monóxido de carbono, no entanto, para nosso conhecimento, nenhum dos quatro negacionistas (incluindo Friedrich Berg) que usa esta argumentação tem qualquer tipo de perícia médica a partir da qual julgariam ou interpretariam tal relato médico. Em sua análise superficial sobre um tema tão complicado, eles são rápidos ao tirar conclusões precipitadas seletivas sem uma apreciação plena das explicações feitas na literatura e sua aplicabilidade aos campos da Reinhard Aktion.

Um exemplo clássico dessa abordagem seletiva e defeituosa pode ser encontrada no manuseio feito por Thomas Kues de relatórios escritos por médicos judeus sobre as condições corporais dentro do gueto de Varsóvia entre 1940 e 1942. Em seu relato das circunstâncias de dentro do gueto, os médicos fornecem dados clínicos sobre os moradores que em breve seriam enviados para Treblinka, e o efeito das condições de desnutrição e fome em sua saúde física, algo que denominaram como "doença da fome". [249] Os médicos referiam-se às "hemodiluição" e de uma diminuição substancial na quantidade de hemoglobina no sangue dos judeus do gueto de Varsóvia.

Kues desonestamente apresenta o trabalho dos médicos de Varsóvia. Em seu artigo, Kues cita uma carta colocada junta como uma revisão dos resultados da autópsia das mortes por doença estritamente causadas por fome. Kues inclui a estatística de que a anemia foi encontrada em apenas 5,5% dos casos das autópsias como sendo "uma indicação de que mesmo entre os casos fatais de desnutrição, a anemia estava longe de estar sempre presente." No entanto, Kues deixa de fora uma importante declaração feita pelos médicos relacionada com a ausência da anemia nas autópsias:
Devemos enfatizar que apenas 5,5% dos casos apresentaram anemia avançada. Quantidades bastante grandes de hemossiderina são encontrados em fígados e baços, e é certo que em doenças relacionadas à fome RBCs são destruídas, mas, por outro lado, como resultado da diminuição do tamanho dos órgãos e tecidos, a quantidade de sangue deixada é suficiente para evitar os sintomas de anemia avançada. [250]
Assim, a anemia a qual Kues se refere é a anemia avançada, que foi menos presente do que formas mais leves. Kues deve perceber isso, pois ele cita relatórios dos médicos que examinam os pacientes com doença de fome abertamente afirmando que "a anemia era algo predominante."

Os pontos que os moradores do gueto sofreram com anemia e hemodiluição são muito notáveis, como eles minariam qualquer expectativa de que as vítimas da Aktion Reinhard deveriam exibir uma aparência vermelho-cereja. Uma fonte deixa este ponto explicitamente sobre as vítimas de monóxido de carbono:
Quando a vítima é anêmica a coloração ('rosa-cereja "clássica) pode ser fraca ou mesmo ausente, porque a hemoglobina presente é insuficiente para exibir a cor. Em vítimas racialmente pigmentadas a cor pode, obviamente, ser mascarada, embora ainda possa ser vista na face interna dos lábios, das unhas, língua e palmas das mãos e nas solas dos pés e mãos. Ela também é vista dentro das pálpebras, mas raramente na esclera. [251] (grifo nosso)
Assim, num artigo médico descrevendo uma circunstância que era aplicável às vítimas do gueto (com hemoglobina insuficiente), o aparecimento da coloração vermelho-cereja dificilmente era esperado para ser perceptível ("fraco ou mesmo ausente"). Entre outros pontos, os relatórios detalham o estado horrendo dos "sistemas circulatório e respiratório" dos judeus [252] A sua pobre saúd a esse respeito foi certamente ligada às condições de fome do gueto, como a literatura médica confirma:
A desnutrição tem um impacto enorme sobre as funções respiratórias. Ela afeta o desempenho muscular respiratório, a estrutura do pulmão, mecanismos de defesa e controle de ventilação e predispõe a pesoa à insuficiência respiratória e ventilação mecânica prolongada. [253]
Moradores do gueto tinham uma produção média cardíaca (volume de sangue que circula do coração para o corpo), que era de 50% da produção normal de um ser humano. [254] Este é um fato importante como Risser et al acreditam que os baixos níveis de carboxihemoglobina nas vítimas de monóxido de carbono (que eles acreditam que é fortemente correlacionada com a ausência da coloração vermelho-cereja) podem ser explicados devido a uma "capacidade comprometida para oxigenar". [255] Esta pobre capacidade para oxigenar adequadamente é bem relatado para as futuras vítimas de Treblinka pelos médicos judeus, mas certamente se aplica também aos judeus que viveram em outros guetos em todo o Governo Geral (Polônia), onde as condições de fome semelhantes abundavam.

Quando esses corpos mal oxigenados eram bem acondicionados em uma câmara de gás fechada por um período de tempo, a privação do oxigênio também certamente desempenhou um papel na morte das vítimas, o que explicaria as referências de testemunhas para as características azuis dos corpos gaseados. Num comunicado pós-guerra que Mattogno desonestamente deixou de fora, Pfannenstiel observou especificamente a causa da asfixia em um depoimento sobre sua viagem a Belzec como a causa das "faces azuladas" em algumas das vítimas das câmaras de gás. [256] Mattogno é ciente desta declaração , como ele cita a localização exata do documento de interrogatório, mas ele seletivamente deixa de fora a associação de Pfannenstiel dos rostos azuis por asfixia (não o envenenamento por monóxido de carbono) feita no período imediatamente após a sua citação; em vez disso, Mattogno desonestamente critica Pfannenstiel por alegar que as vítimas de monóxido de carbono deveriam ter ficado com coloração vermelho-cereja, apesar da clara declaração de Pfannenstiel de que as faces azuis não eram o resultado de monóxido de carbono. [257] Além disso, entre os testemunhos que citam as características azuis nos cadáveres (Pfannenstiel, Schluch, e Gerstein), Schluch e Pfannenstiel restringiram a coloração azulada às características faciais das vítimas. [258]

Kues também é incorreto ao supor que a cor vermelho-cereja das vítimas de monóxido de carbono estava presente "em pelo menos 95% de todos os casos fatais" desse envenenamento. [259] Em uma publicação de setembro de 2008 a respeito de uma crítica sobre os dez anos de quantidade de carbono monóxido de vítimas em Louisville, Kentucky, os autores observaram:
A intoxicação fatal de CO tem sido descrito em indivíduos que não apresentam a lividez cutânea clássica vermelho-cereja (27-29). Embora a presença de lividez vermelho-cereja nessas vítimas de Aids ao postular uma causa potencial de morte, nem sempre é uma característica confiável. Vinte e oito casos em nossa coleta de estudo, o que representa c. 30% do total de casos (n = 94) revisto, não conseguiu mostrar a aparência vermelho-cereja clássica na autópsia. Nas vítimas, que exibiram nem mudanças de decomposição, nem aparência vermelho-cereja (n = 13), o COHbg (carboxihemoglobina) variou de 29% a 71,5%. A clássica aparência vermelho-cereja estave ausente em casos secundários decompostos a um literal arco-íris de descoloração putrefata cutânea. A partir dos dados obtidos no nosso estudo conjunto, conclui-se que a intoxicação por CO ocorre frequentemente sem a lividez vermelho-cereja, em parte a partir das alterações de cor da decomposição manifestadas na autópsia. [260]
Assim, um estudo mais recente do que qualquer daqueles citados por Kues reduz a expectativa de uma aparência vermelho-cereja em cadáveres a 70%. Na verdade, ainda não está claro quando os cadáveres devem exibir alguma descoloração. No artigo de Kues sobre o assunto, depois de citar várias fontes de literatura médica, descontando a aparência com cor vermelho-cereja em casos não fatais como um indicador confiável de intoxicação por CO devido à sua raridade entre os doentes [261], Kues encontra um exemplo suficiente para declarar que tal aparência não é "altamente excepcional". [262] Apesar do registro de muitos mais casos fatais de envenenamento por CO que não apresentam a coloração vermelho-cereja, Kues escreve que a descoloração ocorre assim que o veneno seja absorvido no sangue. A visibilidade dessa descoloração antes do livor mortis (a parada do sangue após a morte), no entanto, não é um fenômeno freqüentemente observado como as fontes de Kues "mostrar". [263] Além disso, a pressão física sobre um cadáver ou impede ou limita severamente a aparência de cor durante o livor mortis; como mencionado no início deste capítulo, as câmaras de gás, embora nem sempre cheias a níveis extremos, tinham muitas pessoas por metro quadrado, o que faria pressão sob os cadáveres [264].

Quando estes fatos são combinados com a possibilidade pouco provável de que judeus desnutridos da Polônia ficaram na cor vermelho-cereja após o gaseamento (devido aos vários problemas de saúde descritos acima), as variáveis ​​que determinam a aparência e visibilidade de tal descoloração [265], e as presunções desonestas do argumento dos negacionistas 'para este fim, podemos descartar a sua cor vermelho-cereja no cadáver reivindicada como um fundamento. [266]

Também deve ser salientado que MGK têm falsamente atacado a descrição de Wiernik sobre a cor dos cadávares gaseados em sua experiência no campo de extermínio de Treblinka. Na tradução do Inglês deste relato, o texto afirma que todas as vítimas ficaram "amareladas do gás". [267] Kues então maliciosamente observou que o amarelo era a cor mais "dificilmente confundida com vermelho-cereja". [268] Para Mattogno e Graf, essa observação de Wiernik deveria mostrar algo "além da dúvida" de que a "história do motor de escape das câmaras de gás carece de qualquer tipo de base na realidade", mas é simplesmente uma propaganda. [269]

MGK sempre citou a edição em Inglês do texto de Wiernik, aparentemente sem se preocupar em verificar o texto original em polonês. O problema que se coloca aqui é que Wiernik, na versão original polonesa de 1944, usa uma expressão vernacular: os gaseados foram "żółci-zatruci". [270] "Zatruci" significa "envenenado", - "żółci" aqui vem de "żółć", que significa "fel", uma substância frequentemente associada a "veneno" (por exemplo, o alemão" Gift und Galle speien", não vem de" zolty ", que significa" amarelo "). Na literatura polonesa, muitas vezes encontraremos "żółć" associado a "cierpienie", "sofrimento". Então Wiernik, que está usando uma linguagem poética neste caso, quer nos relatar que as vítimas estavam "mortinhas da silva" (ou algo nesse sentido). [271] Então quer dizer que MGK haviam criticado Wiernik com base em uma tradução mal feita. Alguém poderia pensar que, desde MGK foram os únicos a se concentrar nas descrições de cor de cadáveres, que eles realmente verificaram a descrição original de Wiernik. Os padrões acadêmicos "revisionistas" não devem ser lá muito rigorosos. Recentemente, entretanto, muitos anos depois de fazer a alegação e só depois de ser informado do problema da tradução, Kues retira sua crítica sobre a declaração de Wiernik, descartando-o como não tendo "nada de concreto a dizer sobre as aparências dos cadáveres". [272]

Notas:

[246] O ponto que teve origem (brevemente) com apresentação de Berg de 1983 sobre a toxicidade dos gases de escape a diesel, e então, posteriormente, havendo uma contribuição de Berg em 2003 a "Dissecting the Holocaust" de Rudolf. Em "Treblinka and Bełżec", Mattogno and Graf aceitam o argumento en passant, enquanto Kues expandiu isso num artigo, ‘Skin Discoloration Caused by Carbon Monoxide Poisoning’ (Manchas causadas pela intoxicação de monóxido de carbono), http://www.codoh.com/newrevoices/nrtkco.html.

[247] M&G, Treblinka, pág. 73.

[248] Thomas Kues, ‘Skin Discoloration Caused by Carbon Monoxide Poisoning,’ Inconvenient History blog, http://www.revblog.codoh.com/2011/06/skin-discoloration/.

[249] Myron Winick, ed., Hunger Disease: Studies by the Jewish Physicians in the Warsaw Ghetto, trans. Martha Osnos. New York: Wiley, 1979.

[250] Ibid., p.226.

[251] Bernard Knight, Forensic Pathology (New York: Oxford University, 1991), p.507; See Charles Provan, ‘The Blue Color of the Jewish Victims at Belzec Death Camp,’ The Revisionist 2/2, 2004, pp.159-164.

[252] Winick, Hunger Disease, pp.134-137.

[253] Marco Ghignone and Luc Quintin, ‘Malnutrition and Respiratory Function,’ International Anesthesiology Clinics 42/1, Spring 1986, pp.65-74.

[254] Winick, Hunger Disease, pp.134-135.

[255] Daniele Risser, Anneliese Boensch, and Barbara Schneider, ‘Should Coroners Be Able to Recognize Unintentional Carbon Monoxide-Related Deaths Immediately at the Death Scene?’ Journal of Forensic Sciences, 40/4, July 1995, p.597.

[256] Wilhelm Pfannenstiel, 6.6.1950, BAL 162/208 AR-Z 252/59, Bd. 1, p.44.

[257] Mattogno, Bełżec, p.56.

[258] Pfannenstiel afirmou que algumas vítimas apresentavam um “inchaço azulado sobre o rosto,” enquanto Schluch afirmou que o azul só aparecia nos "lábios e pontas dos narizes" de alguns cadáveres. Portanto, é provável que a referência de Gerstein a "corpos azulados" se deveu a algum exagero, algo que Gerstein estava inclicando a fazer em seus relatos.

[259] In ‘Skin Discoloration Caused by Carbon Monoxide,’ Kues cites two studies, one of which clearly states that it found such a characteristic in 91% of the CO cases it surveyed.

[260] Sean M. Griffen, Michael K. Ward, Andrea R. Terrell, and Donna Stewart, ‘Diesel Fumes Do Kill: A Case of Fatal Carbon Monoxide Poisoning Directly Attributed to Diesel Fuel Exhaust with a 10-year Retrospective Case and Literature Review,’ Journal of Forensic Science, 53/5, September 2008, p.1208.

[261] i.e., Bruno Simini, ‘Cherry-red discolouration in carbon monoxide poisoning,’ The Lancet, Vol. 352 (October 1998), p. 1154; Kent R. Olson, MD, ‘Carbon Monoxide Poisoning: Mechanisms, Presentation, and Controversies in Management,’ The Journal of Emergency Medicine, Vol. 1, 1984, p. 236.

[262] See Kues’ second bullet point in the section ‘Summary of the medical evidence’.

[263] See in Kues’ article Item 2, item 3, Item 4, Item 5, Item 6, Item 7, and Item 8. All fatalities presented through his selected sources had progressed into stages of livor mortis, including those of the “fresh corpses” that Kues discusses in Risser et al (“fresh corpses…are said to show a typically cherry-pink coloring of livor mortis.”)

[264] Jason Payne-James, Anthony Busuttil, William S. Smock (editors), Forensic Medicine: Clinical and Pathological Aspects, London: Greenwich Medical Media, 2003, p.98, Table 9.5.

[265] G.H. Findlay, ‘Carbon Monoxide Poisoning: Optics and Histology of Skin and Blood,’ British Journal of Dermatology, 1988, pp.45-51.

[266] It should be kept in mind that testimony regarding the gas van experiment at Sachsenhausen reported the cherry-pink color (see pX). We doubt that such a detail will change MGK’s denial of homicidal gassings.

[267] Wiernik, ‘A Year in Treblinka,’ p.158.

[268] Original version of Kues, ‘Skin Discoloration Caused by Carbon Monoxide,’ available at http://www.codoh.com/newrevoices/nrtkco.html.

[269] M&G, Treblinka, p.73.

[270] Wiernik, Rok w Treblince, p.7.

[271] Perhaps another example would be the statement, “I am feeling blue today.” This is not connected to the actual color blue.

[272] Kues, ‘Skin Discoloration Caused by Carbon Monoxide’, Revised version, n. 40.


Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2011/12/belzec-sobibor-treblinka-holocaust_6507.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: esta é uma tradução do resumo de parte do livro (mais especificamente o resumo de uma parte do capítulo 5) disponibilizado no blog Holocaust Controversies e elaborado pela equipe do blog (o nome dos autores constam no PDF do ebook). Quem quiser baixar o livro completo segue o link - EBOOK.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Livro fala sobre a infiltração e influência de Hitler no Brasil

Mais uma obra do jornalista Roberto Lopes promete polêmica e discussão em torno de um dos temas mais temidos, o nazismo. Ele acaba de lançar “Diplomatas e Espiões”, que desvenda a infiltração hitlerista na democracia brasileira. Considerado um livro-bomba, ele traz as influências nazistas sobre dezenas de personalidades brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial (1941-1945).

Os materiais que resultaram no livro foram emitidos pelo FBI e pelo Departamento de Estado americano, descobertos pelo jornalista, e autor da obra, em Washington. Os documentos contêm advertências dos militantes brasileiros às autoridades norte-americanas em relação ao encantamento dos oficiais sul-americanos com a máquina hitlerista. Havia também uma manobra de emergência dos militantes americanos no Rio para evitar que grande parte do exército brasileiro passasse para o lado alemão.

A obra também revela servidores do Itamaraty fascinados com o nazismo, defensores públicos e até colaboradores do nazismo. Também há um cônsul que se ofereceu para espionar Berlim de seu apartamento no Rio de Janeiro, porém o governo americano interceptou as negociações. O livro também revela que o general Euclides Gaspar Dutra também não escondia sua simpatia pelo nazismo.

Um fato inacreditável é narrado no livro. Um diplomata, descoberto pelo staff do Palácio do Catete como informante alemão, em vez de ser demitido por Getúlio Vargas, fora promovido e sua nomeação para um período de “descanso” em algum lugar longe da zona de guerra.

Lopes reúne fatos e documentos sobre a realidade e os bastidores da real história no início dos anos de 1940. Ele não só destrói a ideia “Panamericanismo” imposto por Roosevelt, ex-presidente dos EUA, como também afirma de Hitler foi considerado a grande ameaça sobre a Democracia nas Américas.

“Diplomatas e Espiões” contém 160 páginas e custa em torno de R$ 29,90.

Fonte: O Regional
http://www.oregional.com.br/portal/detalhe-noticia.asp?Not=291180

domingo, 4 de novembro de 2012

Quem foi Joseph Mengele?

Algumas das imagens mais marcantes de Auschwitz são as terríveis cenas da chegada de transportes de judeus para aquele campo de concentração. Em meio ao caos e o desespero estava uma figura solitária em imaculados uniformes e luvas brancas impecáveis,  inspecionando os presos e acenando um de cada vez para um lado ou para o outro com o seu chicote. De um lado estava a fome, a brutalidade e a privação, mas também uma chance de sobrevivência. Do outro lado, a morte instantânea nas câmaras de gás. A figura assustadora que frequentemente tomava esta decisão, era Josef Mengele, um dos médicos designados para Auschwitz. Ele passou a simbolizar a maneira que a medicina tornou como uma ferramenta para o genocídio.

Mengele nasceu na Baviera, pouco antes da Primeira Guerra Mundial em uma família de classe média alta que tinha um negócio de máquinas e ferramentas. Foi um estudante promissor, foi enviado a Munique em 1920, onde ele foi atraído pelas teorias raciais de Alfred Rosenberg, o "filósofo" do nacional-socialismo. Como Mengele tornou-se um adepto da ideologia nacional-socialista, ele mudou-se para Frankfurt-am-Main, onde recebeu seu diploma de medicina estudando com Otmar von Verschuer, o diretor do Instituto de Higiene Racial na Universidade de Frankfurt. A ênfase principal de sua pesquisa foi a importância da hereditariedade no contexto de "ciência racial" nazista. No momento em que terminou seus estudos, Mengele era tanto membro do Partido Nacional-Socialista como das SS. Ele era um fanático anti-semita e odiava os Roma e Sinti (ciganos), muito além do que ele odiava os judeus.

No início da Segunda Guerra Mundial, Mengele estava engajado com a Waffen-SS. Ele serviu como médico em várias unidades na invasão da União Soviética, recebendo quatro medalhas por sua ação. Depois de ser ferido e declarado impróprio para o serviço ativo, Mengele foi nomeado para servir como médico em Auschwitz, em maio de 1943. Mengele não era o médico-chefe de Auschwitz - que foi Eduard Wirths - mas Mengele tinha seu próprio laboratório em um bloco, financiamento independente e uma equipe de médicos presos que ele supervisionava.

Mais do que qualquer outro médico da SS designado para Auschwitz, Mengele parecia confortável com o regime cruel e com o processo de assassinato no campo. Mengele foi designado - como foram os outros médicos de Auschwitz – para supervisionar as "escolhas" na chegada dos transportes. Essas seleções determinavam quais seriam enviados imediatamente para as câmaras de gás, e quem iria se tornar prisioneiro do campo. Ao contrário de vários dos outros médicos, no entanto, ele parecia glorificado com o poder que lhe deram. Mengele carregava um chicote com que ele indicava vida ou morte para os presos que chegavam. Ele sempre usou a cultura sobre os prisioneiros e há relatos de uso de sua pistola para matar prisioneiros desobedientes. Ao contrário dos outros médicos, Mengele frequentemente estava presente nas rampas de chegada, quando ele não estava programado, ele certificava que suas ordens sobre os gêmeos que seriam enviados para o seu "laboratório" fossem realizadas.

Mengele, de acordo com outros médicos que serviram em Auschwitz, estava totalmente de acordo com a brutal administração de Auschwitz. Ele acreditava claramente que os prisioneiros eram menos humanos e colocou em prática essa crença. Há vários casos conhecidos onde Mengele pessoalmente assassinou presos com sua pistola ou com injeções fatais de fenol. A medida em que ele desviou dos padrões éticos da medicina é ilustrada por seu tratamento às 600 mulheres doentes que encontrou no "hospital" em sua chegada à Auschwitz. Ele ordenou que todas elas fossem imediatamente enviadas para as câmaras de gás. Mas não foi apenas a sua administração do departamento médico de Auschwitz que mereceu sua inclusão como um dos piores criminosos de Auschwitz. Foram as experiências que ele realizou em infelizes presos indefesos.

A paixão que atraiu Mengele para as rampas de chegada era a sua "coleção" de gêmeos. Tal como o seu mentor, o Dr. Verschuer, Mengele acreditava que se pares de gêmeos sem defeitos hereditários fossem cuidadosamente analisados, ​​um pesquisador poderia sintetizar uma determinação completa e confiável da hereditariedade e da relação "entre a doença, tipos raciais, e miscigenação." Esta pesquisa foi entusiasticamente apoiada pelo Dr. Verschuer que arranjou ajuda financeira para Mengele receber por seu trabalho. Mengele continuou sua cuidadosa medição nos gêmeos mesmo depois da interrupção de outros experimentos em Auschwitz.

A “coleção” de gêmeos de Mengele ficava alojada em um bloco especial onde os outros médicos da prisão o ajudavam - incluía um radiologista, um antropólogo, e um patologista – que cuidadosamente mediam e analisavam ​​os gêmeos. Os arquivos foram cuidadosamente dispostos e o último documento, o relatório da dissecção da vítima, sempre no topo. Principalmente porque Mengele considerava sua "base de dados" de grande valor científico, os gêmeos foram muitas vezes mais bem tratados do que outros prisioneiros em Auschwitz. Mengele os protegia das atribuições de trabalho duras e garantia que eles tivessem refeições adequadas, mas não importa o quão bem eles foram tratados, nunca Mengele pensava neles como pessoas. Eles sempre foram apenas sujeitos de sua pesquisa. E o passo final era de que a investigação sempre era um exame post-mortem. Mengele não teve pudores sobre tudo pessoalmente matando gêmeos como a etapa final de sua pesquisa. Ele é conhecido por ter matado gêmeos apenas para resolver uma discussão sobre o diagnóstico com outro médico.

O interesse experimental de Mengele não se limitou aos gêmeos. Além de sua pesquisa sobre os gêmeos, Mengele mantinha uma "coleção" de anões e pessoas (especialmente os judeus) com anormalidades genéticas que ele encontrava nas rampas de chegada. Ele estava especialmente interessado em uma condição chamada "noma", que é uma condição gangrenosa do rosto e boca, devido à debilitação extrema. Embora seja claro que esta doença rara foi causada, em Auschwitz, pelas condições do campo, Mengele tentou encontrar causas raciais e genética para a doença.

A última área de experimentação que Mengele atuou foi sua tentativa de mudar a cor dos olhos. Estes experimentos foram inteiramente de natureza racial. Começando com um interesse em prisioneiros com olhos de cores diferentes e presos com cabelo loiro e olhos castanhos, Mengele começou a injetar vários produtos químicos nos olhos de seus súditos experimentais. Cientificamente, é claro, não existe possibilidade de que a injeção de azul de metileno, pode alterar a cor dos olhos. O resultado foi só dor e infecções. Muitas das crianças eventualmente recuperavam da injeção, mas conduziam à morte num caso e, em outro na cegueira.

Além de suas experiências, Mengele assiduamente recolhia "espécimes" para o Dr. Verschuer. Sete pares de gêmeos com cores de olhos diferentes, por exemplo, foram mortos com injeções de fenol e, após a dissecção, os olhos enviados para seu mentor. Em 1944, Verschuer, enviou para o Instituto de Antropologia Kaiser Wilhelm uma proposta de nova pesquisa no qual ele afirmou:

Meu assistente, o Dr. Mengele juntou-me nesse ramo de pesquisa. Ele atualmente é Hauptsturmführer e médico do campo de concentração de Auschwitz. Investigações antropológicas sobre os mais diversos grupos raciais deste campo de concentração estão sendo realizadas com a permissão do Reichsführer SS [Himmler], as amostras de sangue são enviadas para análise no meu laboratório.

Na verdade, houve um fluxo constante de tais espécimes com os olhos acima mencionados para o Dr. Verschuer.

Com o fim da guerra Mengele se tornou um fugitivo. Ele nunca trabalhou como médico de novo. Ele eventualmente fugiu para a América do Sul - provavelmente com a ajuda de sua família - onde viveu como um homem caçado. Em 1985, quando morava no Brasil, ele sofreu um acidente vascular cerebral ao nadar e se afogou. Sua obra, como os outros "experimentos" realizados por outros médicos em Auschwitz, morreu com ele. Suas anotações e arquivos sobre os gêmeos nunca foram encontrados e o que se sabe é que eram cientificamente e clinicamente inútil.

Por onde começar sua pesquisa

O livro mais completo sobre como Josef Mengele e outros médicos foram afetados pela filosofia nazista é:

Robert Jay Lifton, The Nazi Doctors, Basic Books (1986)

Narrativas pessoais por gêmeos que sobreviveram experimentos de Mengele estão em:

Benno Muller-Hill, Murderous Science, Oxford University Press (1988)

Disputas contemporâneas de bioética nas áreas de genética médica, experimentação humana e eutanásia são explicados em:

Arthur L. Caplan (Ed.), When Medicine Went Mad, Humana Press (1992)

Relatos pessoais de experiências médicas realizadas em Auschwitz:

Lore Shelley (Ed.), Criminal Experiments on Human Beings in Auschwitz & War Research Lab, Mellen Research (1991)
Lucette Lagnado, Children of the Flames, William Morrow (1991).
Duas memórias de prisioneiros que fisicamente trabalharam com o Dr. Mengele:

Miklos Nyisli, Auschwitz: A Doctor's Eyewitness Account, Arcade Paperbacks (1960)
Gisella Perl, I Was a Doctor in Auschwitz, I.U.P. (1948)

Um site mantido por vítimas de experimentos médicos em Auschwitz:



Fonte: The Holocaust History Project
Tradução: Leo Gott

sábado, 3 de novembro de 2012

Morreu Wilhelm Brasse, fotógrafo dos horrores de Auschwitz

Varsóvia - Morreu Wilhelm Brasse, fotógrafo dos horrores de Auschwitz
por Lusa, texto publicado por Paula Mourato

Wilhelm Brasse, ex-prisioneiro do campo de extermínio nazi de Auschwitz-Birkenau, que por ordem das autoridades fotografou dezenas de milhares de companheiros, morreu ontem aos 95 anos em Zywiec, Polónia, disse um porta-voz do museu do holocausto.

Brasse forneceu igualmente documentos sobre as experiências pseudo-clínicas dos médicos Josef Mengele e Eduard Wirths, este médico chefe das SS (força de elite do regime nazi) em Auschwitz-Birkenau.

Nascido em 1917, Brasse trabalhou na sua juventude como fotógrafo no sul da Polónia. Após o início da II Guerra Mundial, recusou, apesar das suas origens austríacas, assinar a "Volksliste", que significava adesão ao ocupante alemão, e inscreveu-se no exército polaco.

Preso pelos alemães durante uma tentativa de passagem da fronteira húngara em 1940, foi enviado para o campo de Auschwitz-Birkenau, recebendo o número de prisioneiro 3.444.

Em janeiro de 1941, sob ordem de Rudolf Höss, comandante do campo de Auschwitz, onde foram exterminados cerca de 1,1 milhões de pessoas, das quais um milhão de judeus, foi criada uma célula de identificação dos prisioneiros, a Erkennungsdienst.

No mês seguinte, Brasse e outros sete detidos ficaram nessa célula, sendo que o seu trabalho consistia, sobretudo, em fotografar os novos prisioneiros, "salvo os que eram enviados diretamente para as câmaras de gás", como explicou à agência AFP em 2009.

Fonte: AFP/Diário de Notícias (Portugal)
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=2843571

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Questão indígena brasileira. Ato público em defesa da comunidade Guarani-kaiowá (vídeo)

Repassando adiante pra quem quiser também repassar o vídeo pra mais gente, vídeo com a fala de uma mulher índia em um ato de defesa da comunidade indígena dos Guarani-Kaiowá, no Rio.

Como eu sei que muita gente é impaciente e pode não querer ouvir a fala por conta do começo em algum idioma tupi-guarani, a parte em português começa a partir de 1:37 segundos. Vídeo abaixo:



Vídeo repassado pela Rox aqui.

Pra quem está por fora do que se passa, pode ler a matéria da Deutsche Welle no mesmo post sobre o problema:
Apelo dos Guarani-Kaiowá ecoa na comunidade internacional

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Memoriais e falta de ação concreta para combater o extremismo xenófobo

O título dessa matéria da DW me chamou atenção: "Pode um memorial acabar com o preconceito contra os sinti e roma?"

Eu acredito que não, mas considero que é um reconhecimento do que houve contra os ciganos (Roma e Sinti) na Segunda Guerra.

Mas o título remonta algo que me chama atenção faz tempo: há uma "explosão" de memoriais (não é algo em tese negativo) mas o combate efetivo a grupos que disseminam ideologias de ódio como o nazismo não segue esse ritmo, pelo contrário, é algo muitas vezes negligenciado e que se tem impressão muitas vezes de ocorrer uma vista grossa com esses bandos de extrema-direita.

Além do problema do enfoque demasiado desses Memoriais à Segunda Guerra quando o presente é negligenciado, não se discute de forma mais contundente a atuação dos grupos de extrema-direita quando já há um histórico considerável da atuação desses bandos no pós-Segunda Guerra até o presente.

Esses bandos não começaram a fazer negação do Holocausto e apologia do nazismo/fascismo há uma semana e sim há várias décadas (pros que acham que o negacionismo é algo novo).

Até que ponto um memorial "conscientiza" alguém a ser uma "pessoa melhor"? Pra quem crê nisso eu sugiro ver o caso grego. Link1 Link2
"Em algumas sondagens divulgadas na passada semana, o partido era o terceiro colocado nas intenções de voto, apenas atrás do par que sustenta a coligação no governo – os socialistas do PASOK e os conservadores da Nova Democracia (ND)." Link3
Na Grécia o partido neonazi (extrema-direita) é a terceira força política oriunda do caos político e econõmico que assola aquele país, com o pacote de "austeridade" da UE através do governo de Ângela Merkel.

O que alimenta esse crescimento do partido neonazi grego? Miséria, caos social, crise econômica, intransigência de orgãos supranacionais (Banco Central europeu, pacote de austeridade fiscal ignorando os efeitos da crise social e política). A combinação clássica que cataputou o partido de Hitler ao poder na Alemanha na década de 30 do século passado. Em crises profundas e caos o povo tende a se refugiar no ultranacionalismo xenófobo pregado por esses grupos/partidos. Daí que se tira a conclusão, pelo menos minha, de ceticismo em relação ao "efeito" que esses Memoriais possam ter se não há nenhum projeto educacional de longo prazo pra população e projeto de inclusão dessas minorias, fora outros problemas de ordem moral e política como os conflitos do Oriente Médio.

No livro Hitler de Joachim Fest ele lança a teoria (a qual concordo com ele) sobre as razões para o crescimento do nazismo na Alemanha e ascensão de Hitler ao poder, não foi o antissemitismo que levou Hitler ao poder máximo na Alemanha como muita gente crê e sim o discurso nacionalista, o sentimento de vingança (provocado pelo excesso do Tratado de Versailhes) e a crise social e econômica pela qual passou aquela população na época, algo parecido com o que a Grécia passa hoje, seguida de Espanha e Portugal.

Situação na Espanha: NYT diz que Espanha tranca o lixo por conta da fome da população
Mais da crise na Grécia: Pais abandonam os próprios filhos na Grécia

Achei por bem lançar essa opinião já que as matérias de jornais/revistas por si só geralmente não têm caráter opinativo, ou são muito brandas pro meu gosto, e uma vez que não dá pra ficar passivo diante do que ocorre. Também porque muitas matérias da mídia meio que colocam uma viseira nessa questão econômica e de crise social nos países que abrem espaço pros partidos de extrema-direita chegarem ao poder, e depois se perguntam "chocados"(de forma cínica) como a coisa eclode, como os "Hitlers" chegam ao poder.

domingo, 28 de outubro de 2012

Apelo dos Guarani-Kaiowá ecoa na comunidade internacional

Brasil
Apelo dos Guarani-Kaiowá ecoa na comunidade internacional

Em cartas públicas, populações indígenas pedem que seja decretada sua "morte coletiva" em vez de emitida ordem de despejo. Problema de demarcação de terras que existe desde os anos 1970 ganhou atenção internacional.

Nas últimas semanas, documentos assinados por integrantes do povo indígena Guarani-Kaiowá que vive no estado de Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste do país, circularam na imprensa e nas mídias sociais. O mais comovente deles foi divulgado no início do mês, em resposta a uma ordem judicial de reintegração de posse de uma fazenda no município de Iguatemi. A carta assinada por indígenas Guarani-Kaiowá da comunidade de Pyelito Kue pede que a justiça decrete a "morte coletiva" dos indígenas em vez da expulsão de seu território tradicional.

Assim como esse grupo, outros também procuram formas de tornar público o longo processo de demarcação de terras. O grupo Guarani-Kaiowá de Passo Piraju, por exemplo, divulgou uma carta na última semana em que detalha a situação do assentamento que existe há 12 anos nas margens do rio Dourados, no Mato Grosso do Sul.

"É para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Passo Piraju e para enterrar-nos todos aqui, somente assim, não reivindicaremos os nossos direitos de sobreviver. Esta é a nossa última decisão conjunta diante da decisão da Justiça Federal do Tribunal Regional da 3ª Região (TRF-3) São Paulo-SP", diz trecho da carta.

Nesta quinta-feira (25/10), a organização de defesa dos direitos indígenas Survival International divulgou um comunicado pedindo "que seja permitido aos Guarani permanecer em sua terra, e que todos os territórios Guarani sejam demarcados urgentemente, antes que mais vidas sejam perdidas".

Pixação no Museu do Índio,
em Brasília, marca protesto
A imprensa chegou a falar de um possível suicídio coletivo, mas nota divulgada na noite desta terça-feira pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) alerta para a interpretação equivocada da posição dos indígenas. “Os Kaiowá e Guarani falam em morte coletiva (o que é diferente de suicídio coletivo) no contexto da luta pela terra, ou seja, se a Justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los de suas terras tradicionais, estão dispostos a morrerem todos nelas, sem jamais abandoná-las”, diz o documento, que reflete preocupação da entidade com uma possível onda de alarmismo que pode ser mais prejudicial para os grupos indígenas.

Em entrevista à DW, Cleber Buzatto, secretário-executivo do Cimi, diz que o manifesto reflete o desejo daquela população indígena de defender seu direito à terra. “No nosso entendimento, a carta reafirma a decisão coletiva da comunidade de não sair mais uma vez da terra tradicional pela qual eles vêm lutando nas últimas décadas”, disse.

Segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), até 2010, 43 mil Guarani-Kaiowá haviam sido registrados. Eduardo Backer, advogado da ONG de direitos humanos Justiça Global, disse à DW que o caso dos Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue representa a retomada de território e "é um processo de resistência na tentativa de implementar uma política pública de demarcação que não está sendo feita pelo Estado".

Problema histórico

"A demarcação de terras é um problema histórico no Brasil, mas especificamente no Mato Grosso do Sul é um problema muito grande e acaba gerando uma série de outros problemas: confinamento, aumento dos índices de suicídio e violência", explica Eduardo Backer, ao lembrar que alguns processos de demarcação já duram 20 ou 30 anos.

Um artigo do Guarani-Kaiowá Tonico Benites, mestre e doutorando em Antropologia Social do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado nesta segunda-feira no site da Justiça Global no Brasil, faz um levantamento dos aspectos históricos ligados à demarcação. "Iniciativas de articulação e luta de várias lideranças Guarani e Kaiowá para retornar aos antigos territórios começaram a despontar no final da década de 1970", diz o texto.

Crianças da etnia Guarani-Kaiowá brincam em
torno da escola cuja obra foi interrompida por
falta de verbas
O advogado Eduardo Backer ressalta o poder dos grupos políticos e do agronegócio, predominantes no Estado, e atribui a demora na resolução dos impasses à ação dessas forças. "A proximidade do poder político e de grupos econômicos interessados na preservação de uma determinada estrutura fundiária que favorece a perpetuação de seu poder econômico e político acaba impossibilitando a demarcação desse território sob o argumento falso de que se perderia a capacidade econômica do estado", alerta.

Violência e morte

Para Cleber Buzatto, a demora nos procedimentos de demarcação potencializa situações de violência entre integrantes de um mesmo grupo, suicídio entre jovens e violência por parte de grupos armados comandados, segundo ele, por fazendeiros. "Os Guarani, cansados de aguardar pela ação do Estado, promovem eles próprios ações que chamam de retomada como uma estratégia de tentar fazer com que o Estado se movimente de uma forma um pouco mais ágil", afirmou Buzatto.

Informações repassadas à DW pelo Cimi revelam uma situação tensa no Estado, que já registra centenas de processos de conflitos entre indígenas e latifundiários. Em todo o país, mais da metade dos registros de morte violenta de indígenas ocorre entre o grupo Guarani-Kaiowá. O Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas 2011 registra 503 assassinatos de indígenas entre 2003 e 2011 no país. Desses, 279 são de Guarani-Kaiowá. Dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, dão conta de 555 casos de suicídio desse grupo entre 2000 e 2011.

Outro tipo de violência, dessa vez contra lideranças indígenas, também causa preocupação, segundo Eduardo Backer. "Já há vários mortos, principalmente pela atuação de pistoleiros e fazendeiros", disse, ao lembrar que muitas lideranças estão hoje em programas de proteção da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Preconceito e conservadorismo

Apesar de ser uma garantia constitucional, a preservação de território indígena ainda não recebe apoio amplo da sociedade brasileira. "É importante que a comunidade tenha ciência desses fatos e apoie os Guarani-Kaiowá no sentido de sensibilizar o governo brasileiro para agilizar os procedimentos de demarcação das terras", ressalta Cleber Buzatto.

Para Eduardo Backer, além das forças políticas e econômicas regionais, há o que classificou de conservadorismo e preconceito de parcela da sociedade brasileira que, segundo sua visão, defende um processo de aculturação que "impede que esses povos vivam de acordo com seus modos de vida tradicionais".

Autora: Ericka de Sá
Revisão: Francis França

Fonte: Deutsche Welle/Terra
http://www.dw.de/apelo-dos-guarani-kaiow%C3%A1-ecoa-na-comunidade-internacional/a-16329642
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6253564-EI306,00-Apelo+dos+GuaraniKaiowa+ecoa+na+comunidade+internacional.html

sábado, 27 de outubro de 2012

Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler

Sarajevo, 1941-1945. Muçulmanos, cristãos e judeus na Europa de Hitler

Em 15 de abril de 1941, Sarajevo caiu com a 16ª Divisão de Infantaria Motorizada da Alemanha. A cidade, como o resto da Bósnia, foi incorporada ao Estado Independente da Croácia, um dos mais brutais países entre os estados-satélites nazis governado pelo regime ultranacionalista croata Ustasha. A ocupação colocou uma extraordinária quantidade de desafios à cultura cosmopolita de Sarajevo e sua consciência cívica; esses desafios incluíam crises humanitárias e políticas e tensões sobre a identidade nacional. Como detalhado pela primeira vez no livro de Emily Greble, o complexo mosaico de confissões da cidade (Católico, Ortodoxo, Muçulmano, Judaico) e etnias (Croata, sérvio, judeu, muçulmano bósnio, Roma, e várias outras minorias nacionais) começaram a fraturar sob o violento assalto do regime Ustasha sobre os "sérvios, judeus e roma" — contestadas categorias de identidade neste espaço multiconfessional — atravessando as tradições mais básicas da cidade. Também não houve unanimidade dentro dos vários grupos étnicos e confessionais: alguns croatas católicos detestavam o regime Ustasha, enquanto outros caminharam para poder dentro dele; muçulmanos discutiam sobre a melhor forma de se posicionar no mundo do pós-guerra, e alguns lançaram sua sorte com Hitler e entraram para a malfadada divisão muçulmana da Waffen-SS.

Com o tempo, essas forças centrípetas foram envolvidas pela guerra civil na Iugoslávia, um conflito civil de vários lados onde havia luta entre partisans comunistas, Chetniks (nacionalistas sérvios), Ustashas, e uma série de outros grupos menores. A ausência de um conflito militar em Sarajevo permite que Greble explore os diferentes lados do conflito civil, lançando luz sobre os caminhos que as crises humanitárias contribuíram para aumentar as tensões civis e as formas com que os grupos marginalizados procuravam o poder político dentro do sistema político em mudança. Há muito drama nestas páginas: nos dias finais da guerra, os líderes da Ustasha, percebendo que seu jogo havia acabado, transformou a cidade num matadouro antes de fugirem do país. A chegada dos partisans comunistas em abril de 1945 marcou o início de uma nova era revolucionária, e que foi recebida com cautela pelas pessoas da cidade. Greble conta esta história complexa, com notável clareza. Ao longo do livro, ela enfatiza as medidas que os líderes da cidade tomaram para preservarem o pluralismo cultural e religioso que por muito tempo permitiu diversas populações da cidade prosperarem juntas.

Título original: Sarajevo, 1941–1945. Muslims, Christians, and Jews in Hitler's Europe
Autora: Emily Greble

Fonte: Cornell University Press
http://www.cornellpress.cornell.edu/book/?GCOI=80140100324500
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pode um memorial acabar com o preconceito contra os sinti e roma?

Durante décadas os sinti e roma alemães lutaram por um memorial, por terem sido vítimas de um genocídio e por serem discriminados até hoje em várias regiões da Europa. Agora ele foi inaugurado em Berlim.

"O trágico no fato de o memorial ser inaugurado hoje é que muitos dos sobreviventes não podem mais vivenciar esse reconhecimento", declarou Silvio Peritore, membro da direção do Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha.

O Estado alemão levou muito tempo para reconhecer o genocídio dos sinti e roma – para muitos, tempo demais. Por exemplo para Franz Rosenbach. Ele foi obrigado a prestar trabalhos forçados, sobreviveu a Auschwitz e foi a escolas alemãs relatar tudo o que viveu. Ele foi um dos maiores defensores do memorial. Há poucos dias, Rosenbach faleceu, aos 85 anos.

Uma exposição em Heidelberg retrata o genocídio dos sinti e roma no período nazista. Ela foi inaugurada em 1997. Um ano depois, Peritore passou a fazer parte do grupo do centro cultural e de documentação. "Em muitos memoriais, o genocídio dos sinti e roma era apenas uma nota de rodapé na história do Holocausto judeu, porque, durante décadas, pesquisadores em parte esqueceram esse tema, em parte o ignoraram conscientemente", afirma.

Não se trata de opor o número de vítimas: seis milhões de judeus europeus contra 500 mil sinti e roma, argumenta. "O que um memorial representa? O reconhecimento das vítimas, a responsabilidade para com a história que resultou do Holocausto."

Aparentemente, os sinti e roma são, até hoje, uma minoria indesejada. Por isso, o reconhecimento de que foram vítimas, a memória do genocídio foi por muito tempo recusada para eles. Ao menos essa é a impressão que pessoas como Franz Rosenbach têm. "As pessoas se perguntam: por que eles não querem isso?" Eles são os outros, o que inclui a maioria da sociedade alemã.

Preconceito e exclusão seculares

Família sinti e roma alemã
Cerca de 15 mil pessoas por ano visitam a exposição sobre o genocídio dos sinti e roma alemães em Heidelberg: turmas de escolas, universitários e também policiais, que na sua profissão têm de lidar com os "ciganos", frequentemente tachados de criminosos. Como diz Armin Ulm, pesquisador no centro de documentação, esses clichês existem há séculos.

"Esse é um fenômeno que existe na Europa desde a chegada dos sinti e roma, nos séculos 14 e 15. Havia também atribuições positivas, como o clichê romântico representado na figura de Carmen (a 'cigana' apaixonada da ópera de Georg Bizet), mas a maioria são atribuições negativas: o 'cigano' ladrão, a 'cigana' que lê a mão."

Essas ideias se perpetuaram com o passar do tempo. A expressão 'cigano' pode ser encontrada já nas crônicas da Idade Média: "A palavra aparece, por exemplo, na crônica da cidade de Hildesheim." Em diversos documentos é possível encontrar diferentes formas de escrita, porém não é claro sobre quem se está falando, pois nem os sinti nem os roma se descreviam como ciganos. A maioria rejeita esse termo por considerá-lo discriminatório.

"Como é possível que a tradição dos clichês "ciganos" se perpetue até hoje numa sociedade esclarecida?", pergunta Peritore. A pergunta não é retórica. Há 12 milhões de sinti e roma vivendo na Europa, e em muitos países eles continuam sendo excluídos, também em países da União Europeia.

"Em países como Hungria, Romênia, República Tcheca e Eslováquia, os sinti e roma são privados de direitos humanos elementares. Eles não possuem o mesmo direito de acesso a fatores essenciais para a vida, como emprego, serviço de saúde pública e moradia digna", diz Peritore.

Membros da etnia sinti e roma são discriminados, criminalizados e estilizados com inimigos em muitos países do sul e do centro da Europa. Em vez de investimentos em infraestrutura, o que tornaria a vida dos sinti e roma mais fácil em suas terras natais, o dinheiro da União Europeia some por caminhos obscuros, denuncia Peritore.

Deportação de sinti e roma em
Colônia na época nazista
Ele não economiza críticas aos políticos e à sociedade da Europa Ocidental. "Se ouvimos falar aqui na Alemanha sobre o 'problema dos roma', então trata-se de pessoas que vêm para cá procurando uma vida mais segura e melhores oportunidades de emprego. Essa é um desejo legítimo." Mas também aqui ele são considerados um risco para a segurança e frequentemente criminalizados, como aconteceu na França em 2010, quando o então presidente Nicolas Sarkozy afrontou a lei francesa e europeia e deportou os sinti e roma.

Peritore denuncia também a prática alemã de deportar sinti e roma de volta para o Kosovo, mesmo que lá eles corram o risco de ser perseguidos e na Alemanha já tenha há muito se integrado na sociedade. Onde os sinti e roma tiveram chances iguais, argumenta, seguiram os mesmos caminhos que seguem os outros integrantes da sociedade.

"Isso contradiz principalmente as afirmações generalizadas daqueles que são contra os sinti e roma e dizem que de nada adiantam todos os programas e projetos, pois supostamente eles são contrários à cultura desses povos. Isso mostra que essas afirmações são mentiras, pois podemos ver que é possível quando as pessoas recebem chances iguais e justas."

Um memorial em Berlim

Estas duas meninas foram
deportadas para a Polônia
A exposição sobre o genocídio dos sinti e roma mostra também fotos de sinti e roma alemães antes de 1933. São cenas da vida familiar, bons civis, quase caretas. Elas mostram que essas pessoas faziam parte da sociedade. Isso não as salvou da perseguição e da morte.

"Pesquisadores sérios já mostraram há muito tempo que houve um segundo Holocausto: eram as mesmas motivações político-raciais, o mesmo aparelho criminoso, os mesmos métodos de extermínio nos mesmos locais, executados de forma sistemática e eficiente." Contudo, somente o chanceler federal alemão Helmut Schmidt reconheceu esse fato, em 1982.

Após a decisão parlamentar de que não haveria um memorial único para todas as vítimas do Holocausto, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) autorizou em 1992 a construção de um memorial para os sinti e roma. O que se seguiu foi uma longa discussão: governo, historiadores e também os representantes dos sinti e roma não conseguiram chegar a um acordo sobre os detalhes.

Para o Conselho Central dos Sinti e Roma da Alemanha não se trata somente de um reconhecimento tardio, mas também de responsabilidade com o presente e o futuro, para evitar a discriminação e a exclusão. "Se for para aprender algo, então que seja isso. Mas talvez essa seja uma pretensão muito grande", diz Peritore, e na sua voz é possível reconhecer um tom de tristeza.

Autora: Birgit Görtz (cn)
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/pode-um-memorial-acabar-com-o-preconceito-contra-os-sinti-e-roma/a-16328944

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Merkel inaugura memorial para ciganos vítimas do Holocausto

BERLIM — A chanceler alemã, Angela Merkel, inaugurou nesta quarta-feira um memorial em homenagem aos cerca de meio milhão de ciganos assassinados pelo regime nazista e alertou para a enorme discriminação ainda existente contra essa minoria.

O monumento, que sofreu muitos atrasos para ficar pronto, consiste em uma piscina redonda com um monólito triangular no centro no qual repousará a cada dia uma flor recém-colhida, e se localiza em frente ao Reichstag, o edifício do Parlamento, no centro de Berlim.

Uma linha do tempo sobre o extermínio nazista fica ao lado do memorial, que após 20 anos de atrasos foi finalmente construído com um subsídio do governo federal de 2,8 milhões de euros (3,6 milhões de dólares).

"Auschwitz", do poeta e compositor italiano Santino Spinelli, está gravado na borda da piscina em inglês e alemão, contando o sofrimento e a dor causados aos Sinti e Roma, dois grupos ciganos muito presentes na Alemanha.

O monumento foi projetado pelo artista israelense Dani Karavan, de 81 anos, e está localizado próximo a outros dois memoriais para as vítimas da barbárie nazista, um campo repleto de pilares para os seis milhões de judeus assassinados e um monumento menor para os homossexuais vítimas de Hitler.

Merkel, que estava visivelmente comovida durante a cerimônia de inauguração, afirmou que este capítulo terrível da história da Alemanha a enchia "de tristeza e vergonha". Ela saudou a obra de Karavan, ao dizer que seu design "fala tanto para o coração quanto para a mente".

"Este memorial lembra um grupo de vítimas que foi ignorado por muito tempo", afirmou, lembrando que o governo da Alemanha Ocidental só reconheceu o genocídio em 1982.

"Recorda a injustiça indescritível que foi infligida a vocês", afirmou à plateia, que incluía muitos sobreviventes idosos. Organizadores forneceram cobertores azuis para protegê-los do frio do mês de outubro.

"Os Sinti e Roma ainda sofrem de ostracismo e condenação", afirmou. "Proteger as minorias é nosso dever, hoje e amanhã".

"A sociedade não aprendeu nada"

O alemão Zoni Weisz, de 75 anos, lutou para conter as lágrimas ao relembrar sua fuga angustiante da deportação com a ajuda de um corajoso policial enquanto a maior parte de sua família foi enviada para um campo de concentração.

Ele disse que a Europa não estava vivendo à altura das responsabilidades competentes a ela após o assassinato dos Sinti e Roma sete décadas atrás.

"A sociedade não aprendeu nada, quase nada", afirmou. "Do contrário eles iriam nos tratar de forma diferente".

Os pais de Weisz, as irmãs e o irmão mais novo foram mortos em Auschwitz, enquanto ele sobreviveu escondido.

Os nazistas consideravam os Roma e Sinti racialmente inferiores, como os judeus, e realizaram uma campanha sistemática de opressão contra eles.

Em 1938, o chefe nazista Heinrich Himmler ordenou a "solução final da questão cigana".

Aqueles capturados na varredura foram confinados a guetos, deportados para campos de concentração e mortos. Muitos foram utilizados em experimentos médicos grotescos e esterilização forçada.

Historiadores estimam que cerca de 500.000 homens, mulheres e crianças ciganos de toda a Europa foram mortos entre 1933 e 1945, dizimando uma população com raízes na Alemanha que datam de seis séculos.

O líder do Conselho Central de Sinti e Roma na Alemanha, Romani Rose, que lidera uma comunidade de cerca de 70 mil pessoas, contestou ferozmente a referência utilizada no memorial aos "ciganos", um termo comumente usado no passado, mas agora visto como depreciativo.

Cerca de 11 milhões de ciganos vivem na Europa, sete milhões dos quais na União Europeia, assumindo o posto da maior minoria étnica do continente. Mas eles sofrem com uma pobreza desproporcional e com enorme discriminação.

A queda da Cortina de Ferro em 1989 e a expansão do Leste Europeu provocaram a migração de alguns dos ciganos para o oeste, mais rico, e países como França e Itália implementaram medidas de segurança, que incluem a destruição de acampamentos considerados ilegais.

Recentemente, Berlim manifestou seu desejo de deter essas migrações, desejando que fosse retirada a isenção de visto para os cidadãos sérvios e macedônios, muitos dos quais são ciganos.

Após o discurso de Merkel na cerimônia, um desordeiro protestou perguntando à chanceler: "O que você diz sobre os deportados? Eles também querem ficar aqui!".

De Deborah Cole (AFP)

Vídeos: Bluchannel TV e AFP


Fonte: AFP/Google
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iwie8AZmXk-piI7yPX13CE6XUOyg?docId=CNG.ed0cb0e81492b44ee019fd55ee283104.491

Ver mais:
Alemanha cria memorial para ciganos vítimas do Holocausto (BBC Brasil/Terra)
Merkel homenageia vítimas ciganas do Holocausto (Diário de Notícias, Portugal)

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