domingo, 3 de maio de 2015

Os empresários de Hitler e o negócio dos campos de concentração

Se houve um grupo de cúmplices do nazismo que se "safou" de ter má imagem com o fim da Segunda Guerra Mundial, esse foi o dos empresários. Homens de negócios alemães, austríacos, franceses e também estadunidenses que se enriqueceram sob o capitalismo fascista que foi imposto pelo III Reich. Nomes tão conhecidos como Bayer, Ford, Standard Oil ou Siemens colaboram ativamente com Hitler e não tiveram dúvidas em utilizar como trabalhadores escravos a prisioneiros judeus, soviéticos ou espanhóis dos campos de concentração.
Prisioneiros de Mauthausen transportam pedras para a construção do campo
O adjetivo "fanático" é o que mais se tem utilizado na história para definir a Hitler e ao amplo grupo de suplentes que dirigiram o destino da Alemanha nazi. Contudo, há outro qualificativo muito menos utilizado e que se torna imprescindível para explicar sua estratégia política e militar. Hitler e o resto de sua camarilha eram grandes "homens de negócios".

Em suas mentes pesavam mais o dinheiro e as questões econômicas que seu desejo de exterminar judeus. Seu modelo de capitalismo fascista, pese a estar sob uma forte intervenção estatal, tornou-se muito atrativo para os empresários alemães e também para importantes magnatas estrangeiros, principalmente estadunidenses.

A SS criou suas próprias empresas para se beneficiar do trabalho escravo dos milhões de prisioneiros capturados pelo exército alemão. A DEST e a DAW foram as duas mais destacadas. O objetivo de Himmler era que, graças a essas companhias, a SS pode jogar um papel predominante na economia alemã, inclusive no cenário de paz que se abriria depois da guerra.

Fazer negócio a qualquer preço

As empresas de armamento, automotivas, produtos farmacêuticos e tecnologia não podiam contar com os jovens alemães para trabalhar em suas fábricas porque esses se encontravam nas frentes de batalha. Os prisioneiros dos campos e os trabalhadores forçados se converteram na melhor opção e também na mais barata. O negócio dos campos era redondo. A DEST administrava os trabalhadores, a SS oferecia a segurança e as empresas aportavam o resto. Na repartição dos papéis todos ganhavam. Todos menos os deportados, que morreriam aos milhares nas pedreiras e nas fábricas controladas pelo empório da SS e pelas empresas privadas alemães e norte-americanas.
O selo "Hollerith" indica que os dados deste prisioneiro espanhol foi processado pela IBM
A lista de firmas alemãs que colaboraram e se beneficiaram das políticas bélicas e genocidas do regime nazi é interminável. Desde gigantes da automotivas até pequenas empresas familiares e inclusive particulares que utilizaram prisioneiros dos campos de concentração para cultivar suas terras ou trabalhar em suas granjas. Essas são algumas das mais destacadas:

IG Farben - Este consórcio foi o que melhor exprimiu todas as opções de negócio que facilitava o regime nazi. Fabricou combustível e um tipo de borracha sintética chamada "Buna" para o exército alemão, fornecendo os produtos químicos para o extermínio em massa dos "inimigos" do Reich e se aproveitando do trabalho escravo de milhares de prisioneiros dos campos. Três empresas químicas e farmacêuticas constituíam o coração da IG Farben: Bayer, Basf e a Hoechst.

Audi - Empregou em sua cadeia de produção 20.000 trabalhadores forçados.

Daimler - Utilizou em grande escala trabalhadores forçados para a fabricação de automóveis.

Bosch - Empregou cerca de 20.000 trabalhadores forçados.

Volkswagen - Colocou em grande parte de sua produção trabalhadores forçados.

Krupp (atualmente Thyssenkrupp) - Krupp teve a honraria de ser a empresa modelo do nacional-socialismo e empregou mais de 75.000 trabalhadores forçados.

Deutsche Bank - o historiador Harold James analisou o período nazi em 1995. James rotulou a atitude do banco naquela época como "complacente".

Lufthansa - autorizou o historiador Lutz Budraß a realizar um estudo sobre sua participação na criação da Luftwaffe. Os dados oficiais do estudo não foram publicados ainda. A pergunta permanece no ar.

Bertelsmann - Encarregou o historiador Saul Friedländer um estudo que foi apresentado em 2002. A gigante dos meios de comunicação se aproveitou do regime nazi de forma massiva.

Quandt (proprietária da BMW) - Segundo a investigação levada a cabo pelo historiador Joachim Scholtyseck, Günther Quandt enriqueceu no período compreendido entre 1933 e 1945. A empresa do magnata utilizou 50.000 trabalhadores escravos.

Oetker - Abriu seus arquivos em 2007 depois da morte do patriarca, Rudolf August Oetker. O historiador Deren Erkenntnisse revelou que Rudolf A. havia pertencido à Waffen-SS e colaborado ativamente com o regime nazi.

Adidas e Siemens - Permitiram que se investigue seus arquivos. Sabe-se que, ambas empresas, empregaram milhares de trabalhadores escravos.

Cúmplices em Detroit e Nova Iorque

Historiadores e economistas coincidem na opinião de que para Hitler seria impossível se lançar à conquista de Europa sem o apoio de quatro grandes multinacionais estadunidenses: Standard Oil, General Motors, Ford e IBM.

General Motors. Fabricou milhares de caminhões militares em suas fábricas da Alemanha. Seu modelo batizado com o nome de Blitz, Relâmpago, serviu a Hitler para entrar com suas tropas na Áustria. A admiração do Führer pela tecnologia de Opel e seu agradecimento em contar com sua colaboração lhe levou a conceder a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã a seu diretor executivo, James Money. A GM utilizou prisioneiros dos campos de trabalhadores escravos.

Ford. O fundador da companhia, Henry Ford, já era conhecido em fins dos anos 20 por seu profundo antissemitismo. Hitler admirava profundamente a Ford, a ponto de chegar a dizer que era sua inspiração. Esse amor era mútuo e permitiu que a empresa automobilística estadunidense se convertesse no segundo produtor de caminhões para o exército alemão, superado unicamente pela Opel-General Motors. Henry Ford também foi distinguido por Hitler com a Grande Cruz da Ordem da Águia Alemã em 1938. Depois da invasão da França, a empresa estadunidense continuou trabalhando para o Reich e se negou a fabricar motores para os aviões da Royal Air Force britânica. Igual à GM, a Ford se aproveitou do trabalho escravo de milhares de deportados.

Standard Oil Proporcionou a Hitler o combustível e a borracha necessária para empreender a invasão da Europa. O governo nazi, consciente de que as importações de petróleo se reduziriam com o estouro da guerra, decidiu fabricar combustível sintético. O complexo processo de elaboração não havia sido possível sem a aliança entre o consórcio alemão IG Farben e a Standard Oil norte-americana. Os navios cisternas da Standard forneceram combustível a barcos alemães em Tenerife e outros portos da Espanha franquista.

IBM. Seu "mérito" foi dotar o regime nazi de seus ainda primitivos, mas eficazes, sistemas informáticos. Suas máquinas, que funcionavam com cartões perfurados, precursores dos ordenadores, resultaram em uma enorme utilidade para o governo alemão. Himmler era consciente das possibilidades que lhe oferecia a tecnologia da IBM para organizar, distribuir, explorar e eliminar milhões de judeus e prisioneiros de guerra que caíram em suas mãos durante a guerra. Realizaram censos da comunidade judaica que serviram para identificar e eliminar com maior facilidade seus membros. Na maioria dos campos de concentração se abriu um "departamento Hollerith" (nome da filial alemã da IBM) na qual se realizaram fichas de cada deportado, incluindo sua profissão, sua raça ou religião.

Escravos espanhóis

O grosso dos republicanos que passaram pelos campos de concentração trabalhou e morreu pelas ordens da DEST, a empresa de propriedade da SS. As pedreiras de Mauthausen e Gusen, assim como o moinho de pedra localizado junto a esta última, cobraram o maior número de vidas entre os espanhóis. O empório dirigidos pelos homens de Himmler também controlava a maior parte dos trabalhos que os republicanos realizaram em subcampos como Schlier-Redl-Zipf, Bretstein ou Vöcklabruck. Não obstante, houve algumas empresas privadas alemãs e austríacas que, especialmente depois de 1942, exploraram os republicanos que ficaram vivos.

A maior delas foi a Steyr-Daimler-Puch que empregou internos de Mauthausen, desde 1941, para trabalhos de construção em sua fábrica de Steyr. Em 1942 negociou com os altos mandatários do regime a utilização de prisioneiros no processo de fabricação de armamento e veículos para o exército. Fruto dessas conversas, Himmler aprovou a construção de um subcampo, dependente de Mauthausen, que dotasse a fábrica de operários. Meio milhão de espanhóis se viram obrigados a trabalhar em condições inumanas. Uns dez por cento deles morreu no próprio subcampo, assassinados violentamente ou por uma mortal combinação de fome, esgotamento e frio. A empresa também dirigiu fábricas nos túneis de Ebensee e Gusen, pelos quais passaram um menor número de republicanos.

A outra grande companhia armamentista que se aproveitou dos trabalhadores de Mauthausen foi a Masserschmit, que instalou uma de suas maiores plantas nos túneis da Bergkristall, próxima de Gusen. Foram poucos os espanhóis que trabalharam nela fabricando fuselagens e outras peças para diversos modelos de aviões de combate. Contudo, como ocorreu com a fábrica da Steyr-Daimler-Puch de Ebensee, dezenas de republicanos pereceram junto a milhares de soviéticos, poloneses, judeus e tchecos na perfuração das galerias subterrâneas em que se alojam suas fábricas.
Prisioneiras escravas do campo de concentração de Ravensbrück
As prisioneiras espanholas deportadas para Ravensbrück trabalharam em diversas empresas que fabricavam armamento e peças para veículos e aviões do Exército alemão. A mais conhecida delas foi a Siemens und Halske, que em 1942 construiu uma fábrica junto ao campo de produção de componentes eletrônicos destinados aos mísseis V1 e V2. A princípio, as mulheres seguiam dormindo em Ravensbrück e se deslocavam cada dia até a fábrica. Em fins de 1944, para poupar tempo, a Siemens construiu uns barracões na própria fábrica nos quais alojou suas trabalhadoras forçadas. As condições de vida eram igualmente duras como no campo central e capatazes se encarregavam de que as mulheres débeis e enfermas fossem devolvidas a Ravensbrück onde, geralmente, acabavam sendo executadas.

Junto a estas grandes companhias, houve também pequenas empresas que se aproveitaram do trabalho escravo dos prisioneiros. Em Mauthausen destacou, por cima do resto, a empresa local de materiais de construção Poschacher. Seu dono, Anton Poschacher, pagou à DEST para ter a sua disposição um grupo de reclusos. No total, em seu pequeno canteiro trabalharam 42 espanhóis menores de 18 anos. A empresa tirou um grande benefício do emprego desses jovens, pelo que pagava à DEST menos de 50% do salário que havia cobrado um trabalhador austríaco. Depois da guerra, seus responsáveis não foram perseguidos. A empresa não só conseguiu manter suas posses, como ainda ampliou e hoje em dia é a proprietária da maior parte dos terrenos que morreram 120.000 prisioneiros de Mauthausen, entre eles, 5.000 espanhóis.

Este artigo recolhe estratos do livro "Los últimos españoles de Mauthausen" (Os últimos espanhóis de Mauthausen) da Editora B. Nele são citados devidamente as diversas fontes consultadas.

Fonte: El Diario (Espanha)
http://www.eldiario.es/el-holocausto-espa%C3%B1ol/hitler-concentracion-deportado-mauthausen-gusen-ravensbruck-franco_6_369273071.html
Título original: Los empresarios de Hitler y el negocio de los campos de concentración
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Repúdio ao ataque contra professores no Paraná

A quem não soube do caso, saiu (repercutiu) na impressa internacional:
Massacre em Curitiba repercute na mídia internacional

Eu ia prosseguir com os posts sobre segunda guerra etc, mas não dá pra prosseguir sem destacar isso. É um absurdo o que está se passando, toda semana essa direita tresloucada no país, eleita na "passionalidade latina", emocional, manipulável e irracional de parte da população, e influenciada por certa mídia venal do país, apronta alguma.

Pra inteirar as pessoas do que se passa, há uma greve, legítima por sinal, de professores (segunda greve), que foram em marcha para Assembleia daquele estado protestar contra a aprovação de rapinagem contra a Previdência desses servidores. Embaixo um resumo do que se passa:
A segunda greve dos professores paranaenses em menos de dois meses foi decidida em assembleia, realizada no último sábado em Londrina, em protesto contra as alterações propostas pelo governo Richa, que afetarão os servidores estaduais aposentados e pensionistas com mais de 73 anos de idade. Cálculos indicam que as mudanças reduzirão praticamente pela metade - de 57 para 29 anos - o tempo de solvência dos fundos de previdência do funcionalismo público. Na mesma assembleia, os professores lançaram a campanha salarial de 2015.

Esta é a segunda vez este ano que o governo tucano tenta impor mudanças à previdência dos servidores estaduais. A primeira tentativa ocorreu em fevereiro, semanas depois de ter declarado que o Paraná encontrava-se à beira do colapso financeiro.

Na ocasião, os professores e outras categorias do funcionalismo mobilizaram-se e conseguiram não só forçar o governo a retirar a proposta de votação na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) como obrigaram os deputados estaduais a extinguirem a "comissão geral", um artifício regimental por meio do qual o governo impunha medidas impopulares restringindo o tempo de debate.
Link com a matéria completa.

Pra barrar o avanço da marcha pacífica o governo do Estado do Paraná (ocupado pelo PSDB) mandou o aparato repressivo do Estado (ler por "aparato repressivo" o poder policial, ou mais precisamente, o Batalhão de Choque) abrir fogo contra professores, veja bem, professores (é isso mesmo que você leu) jogando bombas de gás, spray de pimenta, tiros de bala de borracha e até uso de cães da raça Pit Bull que atingiu um cinegrafista de TV com um ataque sórdido e criminoso. Imagens abaixo, professora atingida:

A quem quiser ver mais imagens, confiram nesses links abaixo o tamanho da agressão:
1. As imagens de um cenário de barbárie e guerra no Paraná
2. Embate entre a Polícia Militar e os servidores termina com 213 feridos


Aqui um vídeo com áudio e imagens gravadas no Palácio do governo onde se ouve gente comemorando os ataques:
Os abutres que comemoraram o massacre da PM contra professores no Paraná


Aliás, usar cães deste tipo pra conter multidão que quando mordem perdem o controle, bombas etc é um ato criminoso do Estado e a agressão contra professores é um ato sórdido, de uma mente conturbada que não deveria estar a frente de um governo de Estado (Unidade da Federação) ou de qualquer coisa. Aqui a foto (print de vídeo) do ataque do cão da raça Pit Bull ao cinegrafista de uma emissora de TV:

Aqui o vídeo do ataque do cachorro, culpa do aparato mandado pelo governador de Estado:



Há algo a dizer disso senão repúdio? E tem mais coisas a citar (mas quem quiser saber mais procure os blogs com informação) só que estou enojado.


O ato de agressão foi tão repulsivo, principalmente pelo alvo (professores), que causou espanto e perplexidade no país e fora do país, porque um governo de estado que ataca professores dessa forma com mais de 200 feridos, e feridos grave, a meu ver (é opinião pessoal) perdeu a legitimidade, sem falar no golpe previdenciário sendo votado à revelia da vontade popular e os professores sendo reprimidos desta forma por serem contrário ao golpe na Previdência deles.

A quem não sabe, inclusive há milhares/milhões de brasileiros que não sabem, quem comanda (é responsável) a polícia militar, que é a polícia que é responsável pela parte repressiva, é o governador de Estado (Unidade da Federação).

Toda vez que há um choque deste tipo o povo mais ignorante não sabe a atribuição de cada poder do país e suas divisões. Mas se não sabiam agora sabem.

Antes de tudo, a princípio este é um problema da população daquele Estado, a princípio pois atinge a todos no país. Mas digo isso porque não gosto quando alguém de fora, principalmente do eixo econômico que dissemina ódio regional via mídia há décadas, quer de forma imprópria interferir (emitir opiniões cretinas, ignorantes) em assuntos internos, então adoto o mesmo princípio de tentar não emitir comentários se não forem algo nacional, mas este é um caso que transcende a fronteira regional/estadual, e passível até de intervenção federal.

Não dá pra qualquer pessoa, principalmente nacional, não emitir uma nota de repúdio pelas cenas que se viu desse ataque que poderia ter resultado em mortes. Solidarizo-me com o povo atacado.

Que fique registrado também pra ala reacionária ou idiotizada da população, que vez por outra vem aqui também escrever besteira, e que tira selfie com aparato repressivo que ataca professores: não me venham mais com desculpa esfarrapada com grita dizendo que querem "melhor educação". Isso é e sempre foi papo furado.

Não se vê uma palavra dessa horda de protofascistas com "discurso liberaloide" (ou nem tanto) que invadiram a Avenida Paulista (principalmente) nos dias 15 de março e 12 de abril criticando a agressão contra professores, quando qualquer cidadão comum, democrata, emitiria comentários de repúdio ao ocorrido.

Quem acha normal professores serem atacados desta forma, quem fica contra reivindicação justa de professores por melhoria pois sem isso não haverá melhora alguma de ensino sendo que os estados e prefeituras são quem mais detonam o ensino público do país (disparados), quer tudo menos melhora na educação. Estados e municípios (governadores e prefeitos) são os principais responsáveis pelo caos do ensino público no país.

Portanto, arrumem outra desculpa pra "protestar" (entre aspas) em avenida incitados por emissora de TV que deve mais de bilhão em sonegação (sonegação é crime), pois a maioria do povo já sabe que os tais protestos foram organizados por grupos extremistas que não querem melhorar nada.

O projeto político desses radicaizinhos de direita pro país é um Estado autoritário, repressivo com sucateamento gradativo do Estado brasileiro, tal qual já ocorreu no passado. O que se viu (a agressão aos professores) foi só uma forma (exemplo) de atuar (repressão) dos políticos que defendem este modelo econômico que tombou com FHC.

Como o povo brasileiro, pelo visto, tem memória curta, parece que precisa de um repeteco de cenas repulsivas como estas pra cair a ficha, coisa que já ocorreu em 1988:
Massacre de professores em 1988 se repete

Quando disserem da próxima vez que brasileiro tem memória curta, de fato vou ter que aceitar. A maioria tem memória curta mesmo, por isso parte da população é facilmente manipulável pela mídia oligopolizada do país.

terça-feira, 21 de abril de 2015

O "Mises Daily" e a negação do Holocausto

Desde 2003, um certo cavalheiro vem publicando artigos no Mises Daily, que é um diário (newsletter) com artigos do Ludwig von Mises Institute (LMI), que atinge cerca de 40.000 pessoas por dia de acordo com o "Sobre" da página do LMI (sigla do instituto). Aqui está a lista de seus artigos no Mises Daily [Screenshot]. O Daily e seus assinantes não foram avisados de que esta pessoa começou uma carreira paralela na Internet como negador do Holocausto.

Este mês, o relatório do negacionista do Holocausto, Bradley R. Smith, publicou um artigo dele intitulado "Free-Riding on the Juggernaut of Conscience" (O parasitismo no Rolo Compressor da Consciência), que defende, sem citar quaisquer fontes, que, dessas pessoas que alegam ser sobreviventes ou parentes de sobreviventes do Holocausto, "a proporção de merecimento ... é minúscula." E ele prevê que
... apesar da forte saúde do Rolo Compressor e da capacidade ilimitada para sua expansão, um câncer está virando uma metástase e um dia vai quebrar seus eixos, quebrar sua sustentação e o conduzir a uma parada catastrófica súbita no centro de uma multidão, que de repente perceberá o quanto foi crédula em relação a essas pessoas por muitos anos, e de que eles têm montantes muito grandes de uma parte do que seria hoje seu próprio tesouro, além da decepção inercial da multidão sobre o Rolo Compressor e seus agora pilotos destroçados.
E conclui:
E quando a parada finalmente ocorrer, e os caronas forem jogados pela estrada entre seus antigos adoradores, aqueles que sentirem os impulsos de vingança contra qualquer um deles terão um conforto em saber que nenhum deles nunca pagou de forma alguma por seu passeio alto e poderoso, a bordo do Rolo Compressor da Consciência.
Quem é o autor desta luta livre com seus estereótipos ofensivos sobre massas de judeus parasitas?

Vejam seus perfis na Amazon [screenshot] e na Wikipedia [Screenshot], comparem os endereços de email. Ele afirma na crítica da Amazon [screenshot] que
Assim como a fumigação de roupas com gás cianeto para aliviar epidemias de tifo deu origem a acusações da realização de gaseamentos homicidas em Auschwitz, a inoculação por prisioneiros em Andersonville contra a varíola produziu encargos de que a vacina nocional foi usada para matar seus destinatários. Assim como os processos destinados à implicação de Hitler em ordenar o extermínio de populações de campos de concentração, foi secretamente oferecida a Wirz clemência se ele implicasse Jefferson Davis, presidente da Confederação, em um suposto programa de assassinar prisioneiros da guerra da União.
Ele expandiu seu "argumento" em um longo trecho de Outubro de 2009 chamado "The Last Casualty is Never Buried" (O último desastre nunca é enterrado) que pode ser encontrado em sua página no Scribd, na qual ele afirma:
"Zyklon B" é de fato o nome comercial do fumigante feito para tais fins na Alemanha desde muito antes da Segunda Guerra Mundial, quando foi ocasionalmente importado para uso nos Estados Unidos, entre outros países. Apesar da inadequação de um fumigante para fins de matar pessoas, as memórias de Hoss relatam sua ampla utilização para esse fim. É possível que Höss, ciente da prevalência e popularidade do rumor entre seus captores, comprometeu-se a apoiar a história em suas memórias, mesmo que apenas para ganhar uma curta trégua em sua sentença de morte iminente. Também é possível que esses trechos de suas memórias tenham sido escritos ou ditados por outra pessoa; Höss estava inegavelmente e totalmente à mercê dos seus captores determinados e vingativos. De qualquer forma, Höss foi executado pelo uso de um produto que havia sido introduzido no campo, pelo menos inicialmente, para aliviar a morte e sofrimento entre os presos.
Ele também postou extensivamente o negacionismo do Holocausto na página de discussão da Amazon. Ele afirma lá [screenshot] que o verdadeiro número de mortos do Holocausto é de 1.723.433. Ele também edita regularmente páginas da Wikipédia sobre luminares como David McCalden e David Irving, e também fez uma tentativa frustrada de ter a página da Wikipédia de David Cole reintegrada.

Parece que ele é apenas mais uma pessoa de ascendência germânica, cuja incapacidade de aceitar o resultado da Segunda Guerra Mundial levou-o a abraçar negação. O fato é que ele esperou até atingir a idade de 65 para 'vir a público' com essas crenças, o que não as torna menos condenáveis. Temos certeza de que o Mises Daily e seus leitores chegarão à mesma conclusão.

Não temos nenhum desejo de restringir seu direito de postar suas opiniões de negação do Holocausto e velados ataques ad hominem a judeus (basta prestar atenção no futuro sobre seus 'impulsos vingativos' sendo expressos contra eles) no CODOH ou em qualquer outro lugar, mas acreditamos que os assinantes do Mises Daily tem o direito de fazer escolhas informadas sobre quais os autores que recebem em suas caixas de e-mails.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2010/01/mises-daily-columnist-is-holocaust.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: "Mises Daily" and HD
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 7 de abril de 2015

segunda-feira, 6 de abril de 2015

O revisionismo neofranquista (1): guia de uso - Pío Moa

Acho que é preciso destacar que na Espanha, por volta dos anos oitenta, consolidada melhor ou pior a Transição e ainda distantes dos oito anos (1996-2004) de governo de José María Aznar, em que discutir sobre a 2ªR (2ª República) e a GCE (Guerra Civil Espanhola) era, ao menos na Universidade, um exercício de relativa unanimidade. Desterrados os argumentos da propaganda franquista, a Segunda República deixava de ser um caos anárquico de roubos, mortes e violações e se convertia em uma oportunidade de progresso perdida; o "Movimento" de regeneração nacional iniciado em julho de 1936 passava a ser considerado um golpe de Estado de livro e a Guerra Civil já não se decidia por intervenção divina, como boa cruzada, senão pelo abandono das democracias europeias frente à aliança de Hitler, Mussolini e Franco. Sinceramente, não parecia haver nada de extraordinário nisto. Toda ditadura constrói mitologias heroicas de luta e resistência por diversos motivos, e se crer nelas como se subministram requer sectarismo e ignorância em partes iguais.

domingo, 5 de abril de 2015

[HB] Sobre política e História do Brasil no blog, outro adendo

As desvantagens de um blog em relação a um site comum é justamente o fato de que, quando os posts ficam antigos, é difícil pra quem lê os posts recentes entender porque assuntos teoricamente "off-topic" (fora do escopo do blog) são abordados no blog. Exceto quando os posts são fixados como link e fica sempre em destaque, mas o formato de um blog não ajuda e não é igual a de um site comum.

Eu ia colocar um post sobre o tema do blog (segunda guerra e neofascismo) mas fica pra outra ocasião, a questão deste post é mais urgente.

Eu já comentei neste post "História do Brasil e "revisionismo" (negacionismo) do Holocausto" o porquê do assunto História do Brasil ser relevante e ser abordado no blog, não só pra cidadania de um país como para o combate do extremismo político que aflora em qualquer país que não conhece sua própria História.

Boa parte dos brasileiros (generalizando) é profundamente ignorante em relação à história do país, e não precisa ninguém me mostrar exemplos disso, eu já vi tanto comentário absurdo e estúpido sobre o Brasil e o mundo, proferido por brasileiros, que dá pra entender perfeitamente porque tem gente hoje pedindo volta de "ditadura militar" no país. Isto é fruto de ignorância e total falta de reflexão.

A falta de conscientização histórica (e má formação) e de memória é responsável por isso. Então este não é um assunto banal como muita gente tenta tratar ou quer fazer parecer crer que é.

Um povo que não tem consciência histórica de como foi formado, e do que representa como nação, está condenado a viver sempre com essas instabilidades políticas que surgem de tempos em tempos, justamente porque certos setores do país (parte da classe dominante ou "elite", como chamam) se sentirem incomodados com qualquer reforma política no país ou estarem agindo alinhados a interesses externos pra desestabilizar o país.

Eu ia colocar um post sobre as marchas dos dias 13 e 15 de março aqui e resolvi não publicar porque notei que desde a Copa havia muitos posts com assuntos atuais e pensei se não seria melhor colocar num blog à parte pra isso, por esta razão estou fazendo este post, pra comentar a coisa. Se for o caso coloco o link aqui pra lerem. Por esta razão não publiquei o post das marchas.

Eu não posso simplesmente ver um extremismo que levou o país a uma ditadura de 21 anos, que aleijou pesado uma chance do país hoje já estar noutro patamar econômico e social ao tirarem João Goulart do poder, crescer a frente dos meus olhos e não tomar posição contra isso, mostrando o que está por detrás dessa desestabilização política. Posso errar por excesso mas jamais por omissão.

Alguém pode indagar que possa ser oportunismo se usar um blog sobre segunda guerra e publicar textos referentes à História do Brasil e política atual, mas acho que não é pelo simples fato de que muitos desses fatos do passado, incluindo os da segunda guerra, vêm sendo usados por grupos extremistas na atualidade no país pra incitar rupturas da democracia e golpes de estado como se pode ver nestas imagens da última "marcha" do dia 15 de março: "Ei, PT, vai tomar no c*!"

Manifestantes de 15/03 contra a solidariedade aos professores em greve


Vale a pena ver este vídeo também: Dia 15


Isto em São Paulo, que é onde esses grupos mais articulados se agrupam por não aceitarem a derrota de 2014 nas eleições.

Revival de 1932?...

Como podem ver no vídeo, uma reação bastante "democrática". A camisa da seleção da CBF (entidade sempre envolvida em falcatruas) ser usada como símbolo da marcha é a cereja do bolo, a falta de identidade política e desorganização política total. O que demonstra o descontrole emocional deste tipo de "marcha". Curioso que um ano antes, até próximo à Copa, esse mesmo pessoal gritava "Não vai ter Copa", depois lotaram os estádios pra "curtir" o evento (com ingressos caros), e agora usam a camisa da seleção brasileira de futebol. Esquizofrenia política define.

Havia uma coisa curiosa na finada rede social do Google, o Orkut, que exemplifica este fenômeno que aparece nos vídeos. Muito forista do Orkut, nas comunidades de segunda guerra, posava de "democrata" por dizer que era "contra o nazismo" e coisas afins (o famoso "bla bla bla"), o que não quer dizer muita coisa pois muitos desses não se fazem de rogados em defender a ditadura de 1964, propaganda radical de direita atual e grupos que pedem intervenção militar no país agora.

Minha paciência com este pessoal autoritário pseudodemocrata (ou trouxa) se esgotou em definitivo. Acho ridículo que esse pessoal, como o que posava de "democrata" no Orkut, fique posando de democrata quando nunca o foram. A visão deste pessoal de democracia é algo totalmente turvo, paranoico (são altamente sugestionáveis pela mídia brasileira), manipulável emocionalmente, literalmente uma manutenção de uma tradição autoritária ibérica (e até religiosa) que pelo visto não se dão conta que estão repetindo os erros do passado continuamente numa conjuntura totalmente adversa daquela do século XX.

Estou fazendo este comentário como post por prevenção, pra que não chegue algum "esperto" com o "dedo em riste" criticando o conteúdo por não entender posts futuros (caso hajam), por eu bater frontalmente com esta pregação extremista que estes grupos vêm fazendo, pedindo Impeachment de presidente recém reeleita, a serviço de potências estrangeiras (como sempre) e grupos poderosos locais que sempre mamaram nas tetas do Estado com sonegação fiscal e contas na Suíça como no caso HSBC. Exemplos:
Bancos e grandes empresas são suspeitos de pagar propina para anular dívidas na Receita
A nota da afiliada da Globo sobre a Operação Zelotes
Operação Zelotes: Gerdau pode ter pago a maior propina
Caso HSBC
Sonegação bilionária de emissora de TV, documentário de 17 minutos

E isso foram só alguns links, tem pilhas deles com detalhes e mais detalhes. Operação esta que foi mal comentada na grande mídia, pois tocou no calcanhar da mesma. Vejam como são as coisas, quando o grupo que pilha bilhões ou milhões é alinhado com a mídia, são blindados e os casos abafados, quando é o contrário (caso da Petrobras), a coisa se torna um escarcéu diário na mídia. O caso HSBC é um escândalo internacional de grandes proporções com bilhões desviados há décadas e mal é comentado pela mídia que omite a lista inteira de contas do banco.

É tanto podre do pessoal/grupos "anticorrupção" "indignados" (incitados pela grande mídia oligopolizada) do dia 15 de março que chega a ser deprimente ver gente se deixar se manipular por isto. O rombo fiscal disso aí supera o escândalo da Petrobras, atacada por ser estatal pela mídia oligopolizada e por seus tentáculos políticos no congresso querendo entregar o pré-Sal a grupos privados estrangeiros, usando a questão da corrupção com empreiteiras para atacar. Se o povo brasileiro fosse mais informado (mas pode ser, sempre é tempo de ser) e menos manipulável por mídia tendenciosa, veria o que está por trás destes ataques constantes a Petrobras e o silêncio criminoso sobre estes casos acima.

Fico imaginando uma TV nos Estados Unidos (país cultuado por esses cidadãos como "modelo", um dos países mais desiguais dos ditos desenvolvidos) sonegando imposto pro fisco. O que aconteceria? Prenderiam os donos por sonegação com penas grandes (30 anos, algo assim), tentariam recuperar o dinheiro desviado e a TV seria liquidada. Não entendo a covardia do governo em não citar abertamente o nome dessas emissoras.

Fica o aviso dado. Eu não pretendo agradar A ou B com os posts sobre assuntos atuais, se alguém quiser discutir segunda guerra, sem problemas, mas sem panfletagem ordinária nível "revi". Não são só os ditos negacionistas do Holocausto que fazem "revisionismo" da segunda guerra.

Acho relevante comentar esses assuntos aqui já que não concordo com muita coisa que saem em blogs com mais audiência e com a mídia oligopolizada do país. Se você pode publicar o que pensa (e sabe) pra que esperar que terceiros "falem" por você? E que falem muitas vezes de forma equivocada ou algo que você não concorda?

Sempre aparece gente "pulando de paraquedas" no blog (um exemplo recente aqui) com críticas absurdas, e em boa parte dos casos com grosseria, então fica o aviso de que nem sempre, dependendo do humor do dia, a pessoa pode responder de forma educada certas grosserias. Então, por favor, não vale chorar depois alegando que não foi avisado posando de vítima, pois vítima que ataca antes não é vítima. Sem esta de quererem posar de vítima se atacam antes, comigo esse tipo de postura não dura.

Sobre Oriente Médio, a quem quiser saber minha posição sobre isso, confiram os links aqui:
Os conflitos do Oriente Médio e os "revisionistas"
Tag Oriente Médio

Digo isso porque recentemente veio gente escrever bobagem sobre o assunto exigindo que eu e/ou o pessoal do blog (aí fica pra eles emitirem a opinião deles, se quiserem) tivessem postura "x" com Israel (foi isso que deduzi mesmo com uma afirmação cheia de erros) porque muçulmanos são assim e assado.

Eu pergunto: não é petulância extrema alguém vir nesses termos discutir, sem nunca ter discutido antes no blog, vir cobrar que a gente tenha postura tal sobre um assunto? Não diria que é só petulância, é falta de noção extrema mesmo.

De onde esse pessoal tira que eu ou o pessoal do blog somos obrigados a ter postura tal com Israel, muçulmanos etc? Com base em quê alguém que nunca discutiu com você chega te cobrando algo?

Eu realmente não gostei do comentário, pois representa uma cretinice fora do comum e uma petulância sem igual, respondi onde lhe foi feito. Isso não deixa de ser fruto em parte dessa ignorância e extremismo que assola o país atualmente. Até radicalismo importado sobre conflito no Oriente Médio andam trazendo. É literalmente o fim da picada. Quem ler o post sobre Oriente Médio vai entender porque comento essas coisas.

Essas pessoas precisam entender que há muitos brasileiros no Brasil (eu me incluo nisso) que não veem o mundo por essa ótica de "complexo de vira-latas" que muita gente no país manifesta, portanto, não tomarei qualquer postura política com base no que grupos nos EUA tomam, Europa etc, e sim por uma ótica brasileira. Se alguém não gostar disso? Simples: procurem o porto e aeroporto mais próximo e vá se alistar no exército do país da preferência de vocês. Resolvida a questão. Mas este recado é direcionado aos brasileiros apenas: comportem-se como brasileiros, parem com essa mania chata de acharem que são cidadãos do mundo quando não são, ninguém é, todo mundo nasce em algum canto e tem ligação histórica com algum país, mesmo tendo ideais humanistas etc. Tá na hora dessas pessoas pararem com esse comportamento pueril, infantilizado, pois está se chegando a um limite essa idiotia voluntária.

Tem uma vertente "liberal" (é assim que se proclamam ou se rotulam) que mais de uma vez se estourou porque vêm com aquelas idiotices (panfletos) de "nazismo de esquerda", de "fascismo estatal", de "liberalismo santo" e bobagens panfletárias do tipo, e isto está no mesmo nível de panfletagem do que um PSTU prega. Isso é distorção histórica pra fins políticos.

Fiz vários posts sobre o autoritarismo histórico dos liberais (coisa omitida por esses grupos), mas as referências estão todas lá nos textos, caso alguém queira rebater. E fiz porque, ao contrário do que é disseminado no Brasil (mas fora do país também, e bastante), o liberalismo tem mais ligações com o fascismo (ler este post e esta tag Liberalismo) do que muita gente pensa.

Afinal, aonde foram parar os liberais/industriais da Europa, que não eram judeus, durante o nazismo? Evaporaram? Ou estavam ganhando muito dinheiro com a guerra? Trabalho escravo no nazismo: tag trabalho escravo e empresas.

Como podem ver, é um assunto totalmente ligado à segunda guerra.

A discussão aqui é sobre História, então deixem a panfletagem de lado um pouco e se atenham aos fatos, ou pelo menos não saiam chutando com aquela arrogância típica que muitos usam pois não dou a mínima pra essa postura pedante incentivada por certos astrólogos neocons.

Mas pra encerrar, deixa eu dar uma de "coxinhada" ao avesso aqui: só no Brasil uma figura ridícula dessas ganha contornos de "algo sério" ou é levado a sério (vale a pena ver esse vídeo rebatendo algumas sandices da figura). Vale a pena também ler isto, isto e isto.

Daí se tira o grau de ignorância de parte da população. E ao contrário do PT, que falhou pesado na questão do ensino básico (refiro-me ao PT porque está à frente do governo federal há 3 mandatos e no começo do quarto), eu não sou nem um pouco tolerante com essa ignorância pedante que se propagou no país, uma ignorância misturada com falta de educação e boçalidade, um orgulho em ser ignorante e repetir besteiras anticientíficas, extremismo e clichês da guerra fria por não compreender o mundo atual (e não procurar compreender, por só ler porcarias e idiotices conspiratórias) e viver em estado de paranoia constante.

Observação: irei fazer uma revisão do texto pra corrigir os erros e tentar resumir certas partes.

domingo, 29 de março de 2015

Werner Heyde. A psiquiatria nos campos de concentração, os Totenkopf e a Aktion T4

Werner Heyde figura nos livros de história do III Reich por dois motivos. Nas histórias militares, ou das SS, é o jovem psiquiatra que sanou as dúvidas de Himmler sobre a cordura (tolerância) e sanidade de de Theodor Eicke. A raíz de seus relatórios, Eicke deixou de estar recluso em uma clínica psiquiátrica, para ser nomeado comandante do maior campo de concentração (KZ) da Alemanha, Dachau, a partir de junho de 1933.

A partir daí, Eicke desenvolveu uma singular carreira como organizador de todo o sistema de campos de concentração do III Reich, previu o assassinato de Ernst Röhm na chamada Noite dos longos punhais. Em 1940, abandonou essas responsabilidades para liderar uma divisão com o pessoal de seus campos. Terminou morrendo no front, quando seu Storch foi derrubado em 26 de fevereiro de 1943. Talvez devido a essa morte prematura, todo o pessoal dos KZ, nos julgamentos pós-guerra, atribuíram a sua formação, a crueldade e dureza do sistema. Eles só seguiam as ordens de Eicke. Nada além disso.

Mas regressemos a Werner Heyde.

Werner Heyde ingressa no NSDAP em 01-05-1933 pela recomendação de Eicke, e participou no desenho e na realização prática dos programas de esterilização e eugenia. Começou trabalhando dois dias na semana nas SS-Totenkopfverbände, como chefe das unidades psiquiátricas dos KZ, ao mesmo tempo que era professor associado da Universidade de Würzburg. SS-Hauptsturmführer (capitão) em 1936, de 1939 a dezembro de 1941 foi o diretor médico da Aktion T4. A Aktion T4 consistiu em matar, segundo suas próprias cifras, a 70.273 doentes mentais alemães entre 1939 e 1941, sem incluir outras mortes e seleções no KZ. Heyde também trabalhou nas esterilizações forçadas.

Heyde perdeu seu cargo a frente da T4 ao ser acusado pelo SD de atividades homossexuais, que pelo visto reconheceu, alegando traumas infantis. Himmler considerou que era valioso demais para as SS e não o expulsou da organização. Tendo em conta seu enfoque prático nessas questões, sem dúvida pesou a favor de Heyde o fato de que estava casado desde 1927, de forma que sua homossexualidade não o impedia de ter filhos para o Reich. Heyde chegou a SS-Obersturmbannführer (tenente coronel), e no pós-guerra seguiu trabalhando como médico e perito judicial sob nome falso. Descoberto e acusado, suicidou-se na prisão de Butzbach em 13-02-1964.

Bibliografia:

Michael Burleigh: Death and Deliverance. Euthanasia in Germany 1900-1945. Pan Books, Londres 2002, pg. 116-120. (1º ed. 1994 Cambridge University Press).

French MacLean: The Camp Men, Schiffer Militay History, Atglen, PA, 1999. Pg. 108.

Verbete da Wikipedia alemã (a Wikipedia inglesa, consultada em 16-02-15 contém muitos erros).


Werner Heyde no momento de sua detenção em 1959. Fonte: http://historyofmentalhealth.com/

Fonte: blog Antirrevisionismo (Espanha)
Título original: Werner Heyde. La psiquiatría en los campos de concentración, los Totenkopf y la Aktion T4
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2015/02/16/werner-heyde-la-psiquiatria-en-los-campos-de-concentracion-los-totenkopf-y-la-aktion-t4/
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Ishay Landa - "O Aprendiz de Feiticeiro: a Tradição Liberal e o Fascismo" [O elo "perdido" dos liberais com o fascismo] (livro)

Resenha/Crítica de Guy Lancaster

Capa da 1ª edição
No atual discurso político norte-americano, termos como "liberal" e "fascista" foi - como "comunista" e "socialista" - há muito tempo esvaziado do seu conteúdo substantivo, empregados pelos comentadores de extrema-direita de forma intercambiável para rotular ideias ou pessoas que eles acham repreensíveis. Na verdade, o livro de 2008 de Jonah Goldberg, "Liberal Fascists: The Secret History of the American Left from Mussolini to the Politics of Meaning" [Liberal-fascistas: A História Secreta da esquerda norte-americana de Mussolini às Políticas de Significado], tentou formular uma taxonomia do fascismo para permitir sua ligação com tais excrescências de esquerda, como o feminismo, o vegetarianismo, direitos dos homossexuais, e até mesmo o neopaganismo. Enquanto isso, o supostamente "liberal" Presidente Barack Obama tem sido frequentemente retratado tanto como o fascista Adolf Hitler e como o comunista Joseph Stálin, às vezes no mesmo letreiro raivoso, como se essas imagens representassem anseios ideológicos idênticos. O entendimento popular do fascismo claramente não melhorou a partir do momento em que George Orwell em "A política e o idioma Inglês" (1946) ["Politics and the English Language"], alertou para os efeitos práticos de transformar tais termos em borrões de Rorschach ideológicos: "Já que você não sabe o que fascismo é, como você pode lutar contra o fascismo?" (Menos crucialmente, pode-se também colocar a seguinte questão: Se alguém acredita que o fascismo gerou movimentos de casamento feministas e gays, como pode fazer sentido o apoio de tantos governos fascistas pelo Vaticano?).

Uma correção tão necessária, não só para concepções populares do fascismo, mas também para um registro acadêmico que há muito tem deturpado o fascismo como política de "terceira via" entre o capitalismo e o comunismo, "O Aprendiz de feiticeiro" ("The Apprentice’s Sorcerer"), de Ishay Landa, argumenta convincentemente que o fascismo tem a sua origem na tradição liberal ocidental, embora de uma forma mais de acordo com a observação concisa de Upton Sinclair: "O fascismo é capitalismo, mais assassinato." Landa começa por identificar como uma precondição histórica para o fascismo "a tensão inerente entre a dimensão política da ordem liberal e sua natureza econômica "(21). Ou seja, a burguesia europeia do século XVIII exigiu governos representativos, a fim de libertar os mercados do protecionismo feudal, mas eles foram seguidos mais tarde pelas classes mais baixas, que, por sua vez, exigiram acesso à franquia para si, a fim de proteger seus próprios interesses, colocando o liberalismo econômico original contra o emergente liberalismo político. Quando John Locke defendeu a democracia como para escorar capitalismo, Vilfredo Pareto, cujas obras inspiraram Benito Mussolini, atacou a democracia "inteiramente nas premissas do liberalismo econômico", tais como "a sua restrição da 'livre circulação de capitais', e sua invasão da propriedade privada via tributação progressiva"(53). Cepas similares de pensamento eram correntes entre os pensadores alemães do período entreguerras, principalmente Oswald Spengler, e o estado de espírito (animus) de Adolf Hitler contra a democracia alemã foi baseado na crença de que "a República [de Weimar] significou uma interferência política ilegal e pernicioso na economia "(78).

Para melhor movimentar o debate para além da visão dominante da "terceira via" sobre o fascismo, Landa realiza um levantamento exaustivo do que ele chama de "liberais antiliberais" - como Arthur Moeller van den Bruck, Thomas Carlyle, George Sorel e outros - examinando como tais críticos ostensivos do capitalismo de fato procuraram reforçar a ordem liberal. Por exemplo, Landa profundamente argumenta que a crítica de Carlyle sobre o laissez-faire se baseia precisamente na observação de que "esse sistema conduz, apesar de si, à democracia e o governo das massas, destruindo o elitismo", como mais tarde liminares fascistas contra o laissez-faire foram empregadas "não fora do entusiasmo revolucionário, mas para evitar a revolução; não para desafiar o capitalismo, mas para aprumar seu navio; não para criar a sociedade sem classes, mas para consolidar as divisões de classe"(156, 157). O tema do declínio da civilização ocidental, expressa tantas vezes pelos primeiros pensadores do século XX, ergue-se regularmente a partir de desespero com a participação das massas na política, e Landa encontra em Sorel "não tanto um inimigo do capitalismo, como ... um inimigo do capitalismo fraco, dada a procura de compromissos com o socialismo parlamentar, que foi uma espécie de economia mista, decadente "(197).

Nos dois últimos capítulos do livro, Landa confronta quatro "mitos" sobre o fascismo. Em relação ao primeiro, de que o fascismo constitui uma tirania da maioria, Landa ilustra como supostas forças liberais defensoras da democracia, de Alexis de Tocqueville a Benedetto Croce, preocuparam-se principalmente com a supremacia das classes proprietárias, enquanto outros pensadores como Ludwig von Mises propôs que uma ditadura pode ser necessária para defender o liberalismo. Em relação ao segundo mito, contra a noção de que o fascismo promovia coletivismo enquanto o liberalismo promovia o individualismo, o autor observa "que tanto o fascismo quanto o liberalismo foram, de fato, permeados de ambivalências insolúveis em sua abordagem com o individualismo" (251-2); De fato, embora o fascismo regularmente empregava a retórica do coletivismo (colocando no topo a nação, raça ou sociedade), ele era também um individualismo também fetichizado na forma do "grande homem" e da democracia desmantelada em nome do individualismo. A origem da "Grande Mentira" cuida do seguinte escrutínio, e Landa o localiza dentro de uma longa tradição liberal de escritos esotéricos que visam apoiar as elites enquanto escondia a verdade das massas "vulgares" e "ingênuas". Finalmente, quanto às alegações de que o fascismo constituiu um ataque nacionalista sobre o cosmopolitismo liberal, Landa encontra fascistas exibindo um pouco da mesma ambivalência sobre a ideia de nação como eles fizeram com o individualismo (afinal, é através das nações que as massas têm os seus direitos) , embora para a Alemanha a nação forneceu "a plataforma necessária, da qual lança uma campanha de expansão capitalista" (319).

As novas abordagens de Landa exigem não apenas uma nova conceituação da tradição liberal, mas também - uma vez que este apresenta uma genealogia do fascismo não utilizado pela maioria dos estudiosos de violência em massa da Europa - uma revisitação a análises anteriores sobre a inter-relação entre fascismo e genocídio. Por exemplo, Aristotle Kallis, em "Genocídio e Fascismo: O condutor exterminador na Europa fascista (2009)" [Genocide and Fascism: The Eliminationist Drive in Fascist Europe], prontamente emprega a noção de "terceira via" para explicar como regimes fascistas desenvolveram visões utópicas de regeneração nacional que procuravam apagar o passado imediato e resgatar o Estado-nação, mas a tese de Landa fornece uma imagem muito mais rica desse desenvolvimento, pois agora o passado para ser expurgado é reconhecido como avanço democrático do interesse do povo, enquanto o estado para renascer é uma ordem hierárquica e contentamento entre as diversas classes quanto ao seu lugar nesta ordem. Além disso, a gama de vítimas, que inclui não apenas judeus, mas comunistas e socialistas, bem como os "não-produtores" (as pessoas fisicamente e mentalmente inaptas), faz muito mais sentido, se o fascismo é entendido como um capitalismo militante em vez de um conceito intelectual genérico ou anti-ideologia.

No entanto, alguns trabalhos recentes no campo de estudos sobre genocídio complementam a tese de Landa. Christopher Powell, em "Barbaric Civilization: A Critical Sociology of Genocide" (2011) [Civilização barbárica: Uma sociologia crítica do Genocídio], argumenta que o próprio discurso da civilização, na verdade, aumenta a capacidade de uma sociedade - e possibilita o monopólio do Estado - para a violência, especialmente porque o habitus "civilizador" permite uma fácil "idealização do outro" daquelas populações ou indivíduos que não compartilham essas 'performances' de comportamento civilizado. É claro que um dos marcadores da civilização tem sido a economia de livre mercado, e a ausência de um sistema deste tipo entre muitos povos do mundo, serviu bem para justificar a exploração colonial europeia dos chamados grupos "bárbaros"; muito antes dos líderes europeus do século XIX se preocuparem com as 'coisas' dos marxistas, o Inglês na América do Norte condenou as tendências "comunistas" dos nativos, cuja falta de qualquer conceito de "propriedade privada" lhes marcou como selvagens. Mesmo hoje em dia, entre os herdeiros da tradição liberal ocidental, o capitalismo é equiparado com a civilização - as forças de ocupação norte-americanas no Iraque começaram a privatizar grandes setores do governo a partir do momento em que seus pés tocaram o chão de Bagdá, apresentando-a ao mundo como uma "modernização" da sociedade iraquiana.

Em seu epílogo, Landa ilustra brevemente como as elites empresariais e governamentais no Reino Unido e nos Estados Unidos, na verdade, simpatizavam com o fascismo, com Winston Churchill até mesmo soltando elogios ocasionais a Hitler: "O verdadeiro Sonderweg, ao que parece, não é um alemão, ou um italiano, ou um espanhol, ou uma forma austríaca, mas o caminho do Ocidente"(248). Tal expansão de nossa perspectiva é muito atrasada. Em um trabalho recente, "Origins of Political Extremism: Mass Violence in the Twentieth Century and Beyond (2011)" [As origens do extremismo político: violência em massa no século XX and além], o cientista político Manus I. Midlarsky coloca o nacional-socialismo alemão, o imperialismo japonês e islamismo radical sob o microscópio, mas deixa intocadas atrocidades tais como a brutal ocupação britânica da Índia (o modelo que Hitler aspirava), a colonização belga do Congo, ou a guerra genocida dos Estados Unidos contra os nativos norte-americanos; mas, em seguida, nenhuma delas, apesar do número de mortes rivalizar com o Holocausto, encaixam-se em sua definição de extremismo, pois, em vez de serem vistos como fora do centro político de suas respectivas sociedades, descontínuos com a história anterior, os autores destas atrocidades encarnavam de fato os ideais de suas respectivas sociedades - especialmente a primazia do sistema capitalista.

Portanto, a tese de Landa nos permite começar a construir um quadro conceitual muito maior das atrocidades em massa e suas origens, revelando que a tradição liberal não reside apenas na parte inferior do extremismo fascista na Europa, em todas as suas armadilhas terríveis, mas também no Destino Manifesto dos Estados Unidos e muito mais. Neste quadro, os ideais e ações de fascistas não são tão únicos, não tão estranhos, mas muito familiar.

Onde Landa ocasionalmente perde o fio do seu argumento é nos lugares onde ele traz a sua análise para casar com as décadas pós-fascistas (se é que podemos falar de tal). Depois de notar como a retórica fascista no individualismo santificou o sacrifício do indivíduo para o bem maior - "o indivíduo" virá sempre em primeiro lugar, quando confrontado com a sociedade de massa; mas a "sociedade" virá em primeiro lugar, quando confrontada com as demandas de massas de indivíduos"(255) - ele salta para a administração de Margaret Thatcher, ilustrando a mesma dinâmica de sua retórica, como sua negação dos sem-teto como um grupo contra ela, ou como o coletivismo em convocar o bem maior da sociedade durante a guerra pelas Ilhas Malvinas. Da mesma forma, ao explicar as origens liberais do "Grande Mentira" fascista, Landa desvia na sobreposição de teatro e política, especialmente como manifestado na carreira de Arnold Schwarzenegger, que brevemente contrasta tais filmes anti-establishment dele como "The Running Man" (O Sobrevivente) e "Total Recall" (O Vingador do Futuro), com seu pró-establishment como governador da Califórnia.

Claro, este é um subtexto crítico deste livro que, se o fascismo não se origina de um impulso antiliberal e irracional confinado num tempo e lugar, mas sim das próprias contradições inerentes à tradição liberal, a tradição pela qual nossas vidas continuam a ser governadas, então o fascismo pode emergir mais uma vez, talvez com uma mudança de marca sob alguma "cara nova" - ou talvez nunca tenha ido embora totalmente. Nos Estados Unidos, inúmeros políticos têm suas carreiras financiadas pelos capitalistas, trabalham abertamente a fim de limitar o poder de voto dos pobres e não-brancos - uma solução clássica para a crise do liberalismo. Na escala global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) exige que as nações do Sul do globo fiquem satisfeitas com sua sorte (a classe de contentamento de idade), como privatizam componentes de suas comunidades e as priva de seus recursos. Podemos dizer que essas medidas evidenciam elementos de um impulso fascista dentro de nossos sistemas políticos e econômicas? Sim, podemos, pois o trabalho magistral de Landa responde a reclamação de George Orwell ao preencher a palavra "fascista" com significado e poder mais uma vez, e que ela pode ser utilizada não como um insulto genérico, mas como uma boa descrição daqueles que destruiriam a democracia para o bem do lucro.

31 de outubro de 2012

Autor: Ishay Landa
The Apprentice’s Sorcerer: Liberal Tradition and Fascism
Haymarket Books, Chicago, 2012. 362pp.
ISBN 9781608462025

Sobre Ishay Landa: israelense, Professor titular de História da Universidade Aberta de Israel

Sobre Guy Lancaster: Dr. Guy Lancaster é editor da Enciclopédia Online de História e Cultura do Arkansas e autor de "Racial Cleansing in Arkansas, 1883–1924: Politics, Land, Labor, and Criminality" (Lexington Books, 2014) [Limpeza étnica/racial no Arkansas, 1883-1924: Política, terra, trabalho e criminalidade"].

Fonte: Marx and Philosophy Review of Books
http://marxandphilosophy.org.uk/reviewofbooks/reviews/2012/629
Título original: The Apprentice’s Sorcerer: Liberal Tradition and Fascism; Reviewed by Guy Lancaster
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Manter ou não manter o resort turístico de Hitler, eis a questão

Colosso de Prora. Manter ou não manter o resort turístico de Hitler, eis a questão. 22/12/2014, 16:24

O que está a perturbar a sociedade alemã não é só o aproveitar financeiramente um marco nazi. Alguns argumentam que esta reconstrução é, de alguma forma, o cumprir das ambições iniciais de Hitler.


Delirante é um adjetivo apropriado para descrever Adolf Hitler. Ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial, o Fuhrer alemão incumbiu um tenente da sua confiança de criar o resort turístico ideal para a população da nação nacional-socialista. Nasceu o Complexo de Prora, um resort turístico com mais de 10.000 quartos numa ilha do mar báltico. Porém, com a guerra, nunca chegou a ser totalmente construído. Hoje, 2014, continua envolvido em polêmica, uma vez que já estão em marcha obras para o transformar num resort moderno, conta o jornal norte-americano Washington Post.

O primeiro dilema com este espaço surgiu em 2011, quando foi autorizada a abertura de um hostel para jovens num dos edifícios que faz parte do complexo. Mas agora a situação está ainda mais complicada.

O complexo batizado de Colosso de Prora está a gerar debate na sociedade alemã sobre a mercantilização do espaço contra a “Vergangenheitsbewältigung”, termo alemão para como o país deve lidar com o seu passado negro.

Edifícios com seis andares, todos iguais, ao longo de mais três quilômetros foram construídos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Porém, em tempos de guerra o turismo não foi prioridade para Hitler. O espaço foi adaptado num campo de treino e habitação para os soldados alemães.

Hoje, um grupo de investidores está a fazer o que os nazis nunca conseguiram: transformar o local num complexo turístico. Grande parte dos edifícios está a ser reaproveitada e reconstruída. Onde até agora estão edifícios memória do Terceiro Reich, vão aparecer condomínios de luxo, um hotel de cinco estrelas e um spa.

A fachada de alguns dos blocos está a ser alterada, eliminado a natureza austera da arquitetura durante o Terceiro Reich e o seu caráter militar, escreve o Washington Post.

O que está a perturbar a sociedade alemã não é só o aproveitar financeiramente um marco nazi. Alguns argumentam que esta renovação e reconstrução é, de alguma forma, o cumprir das ambições iniciais do governo nacional-socialista.

Na publicidade ao complexo, um dos construtores descreve o projeto original como um “monumento mundialmente famoso” e que nos seus dias foi reconhecido com um feito arquitetônico. Supostamente, o design do complexo foi escolhido pelo próprio Adolf Hitler, conta o Washington Post.

“Estes não são edifícios inofensivos”, afirmou Jürgen Rostock, cofundador do Centro de Documentação de Prora, em declarações ao Washington Post. “O propósito original do Hitler era a construção de [um resort] em preparação da guerra que estava para vir. Esta forma de lidar com este edifício trivializa-o e afirma o regime Nazi”.

Mas ainda existem mais problemas. O centro de documentação de Prora, responsável por explicar o programa Strength Through Joy pode vir a ser mudado relocado para outra localização, na periferia do complexo.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitas das estruturas nazi foram preservadas como testamento do regime inumano, ao mesmo tempo que outros foram transformados em escritórios. O estádio de Berlim, construído para os jogos Olímpicos de Hitler em 1936, é hoje a casa do clube de Futebol do Hertha de Berlim. O edifício Detlev-Rohwedder-Haus, a sede do ministério da Aviação de Hermann Göring, alberga agora uma filial do Ministério das Finanças, lembra o jornal norte-americano.

Fonte: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2014/12/22/manter-ou-nao-manter-o-resort-turistico-de-hitler-eis-questao/

domingo, 28 de dezembro de 2014

Itália: Presos neofascistas suspeitos de planejar ataques durante a época de Natal

De Fernando Peneda | Com LUSA/ITRAI. 22/12 17:15 CET

A polícia italiana anunciou a prisão de 14 neofascistas suspeitos de planejar ataques contra alvos políticos e da magistratura, uma ação que envolvia uma dezena de assassinos coordenados.

Os detidos pertencem a um grupo de uma organização de extrema-direita banida, a Ordine Nuovo.

Dois anos de investigação, de escutas telefônicas e um polícia infiltrado, revelaram que o grupo começou a armazenar armas e planejava realizar ataques no Natal.

“Existe uma estrutura, a procuradoria nacional anti-máfia, que tem todos os instrumentos e potencialidade para levar a cabo este tipo de ações”, sublinhou Fausto Cardella, procurador-geral de L’Aquila.

O grupo pretendia assassinar responsáveis políticos, fazer explodir a sede da Equitalia, a agência responsável pela cobrança de impostos e atacar esquadras de polícia.

A organização Ordine Nuovo, fundada em 1956 com o objetivo de relançar o fascismo no país, foi acusada de vários ataques nos anos de 1970 tendo sida dissolvida pelo governo italiano em 1973.

De Fernando Peneda | Com LUSA/ITRAI

Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2014/12/22/italia-presos-neofascistas-suspeitos-de-planear-ataques-durante-a-epoca-de-natal/

Ver mais:
Mais de 14 neofascistas detidos pela polícia (A Bola, Portugal)
Aquila Nera, un fascismo di provincia dai miti arrugginiti (Europa Quotidiano, Itália)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

[Pausa Musical] - Benny Andersson Orkester (BAO) - Allt syns när man är naken

Pra quem não conhece, essa é uma banda ou mini-orquestra formada (e encabeçada) pelo ex-integrante do ABBA, Benny Andersson (o que ficava ao piano/teclados), a Benny Anderssons Orkester (sigla BAO), e que circula pela Suécia e às vezes pelo resto da Europa em pequenas turnês ou apresentações, mas a maioria das apresentações da BAO que aparece no Youtube são pela Suécia mesmo. O som dela tem uma sonoridade de músicas folclóricas da Suécia embora tenha alguma influências sonora do som do ABBA.

Incrível ter levado tanto tempo pra descobrir essa banda. Pra quem sentir saudades da sonoridade do ABBA, embora não seja a mesma coisa, é uma boa dica.

Com o vocal impressionante (figura carismática, com potência vocal fora de série, o fato de ser cantora lírica, ou próximo a isso, também ajuda) de Helen Sjöholm, que dá o contorno final à banda. Ela participou deste filme sueco, que gostaria de assistir, de Kay Pollak, "Så Som I Himmelen" (Título em português: A Vida no Paraíso; Título em inglês: As it is in Heaven), que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e tem uma cena memorável dela cantando a música "Gabriellas Sång" (Música de Gabriella) que foi removido do Youtube pela turma do Copyright (pra variar, gente mala da pior espécie, e não me apareça gente defendendo esses malas. Vão se ferrar ambos, a turma do Copyright e os defensores), só que achei um vídeo semelhante ao que havia visto e foi removido (demora uns 15 segundos pro áudio começar, não tirem antes), assistam enquanto a "turma do copyright" não apronta de novo:
Helen Sjöholm - Gabriellas sång. ( Så som i himmelen ) Allsang På Grensen. Norway


Link alternativo:
As it is in Heaven (Så Som I Himmelen) - Gabriellas Sång
Helen Sjöholm a TV sueca com "Gabriellas sång-TV4"
Link morto: Helen Sjöholm - Gabriellas sång (OST - Så Som I Himmelen)
https://www.youtube.com/embed/PvVFPqQOJAc

Não vou me alongar pois não conheço direito os discos da BAO (não deu pra decorar todas as músicas pois eles cantam em sueco, com exceção de um disco lançado em inglês com versões das músicas em inglês, Story of a Heart) embora já tenha ouvido a maioria

Aqui a música Story of a heart (versão em inglês). E aqui a versão em sueco, ao vivo, do DVD da banda: Sommaren Du Fick - BAO. Prefiro a versão no idioma original.

A maioria das composições é da mesma dupla do ABBA, Benny Andersson e Björn Ulvaeus.

Outra curiosidade sonora da coisa é que o sueco, apesar da visível diferença das línguas neolatinas, tem muito som de vogal, por isso que soa agradável as músicas cantadas nesse idioma, e acho legal quando cantam no idioma original da banda.

Boas festas e fiquem ao som de "Allt Syns När Man Är Naken", que quer dizer mais ou menos "Tudo fica visível quando você está nu" ou "As coisas ficam mais claras quando você fica despido", música da dupla Björn e Benny com melodia fora de série, na voz de Helen Sjöholm acompanhada de Tommy Körberg e Kalle Moraeus nos vocais auxiliares (secundários). Como curiosidade, vídeo de gravação da música com a BAO:
ABBA BENNY ALLT SYNS NAR MAN AR NAKEN 2011

A música ao vivo, inteira, em algum programa sueco:
Benny Anderssons Orkester - Allt Syns När Man Är Naken



Link alternativo, aqui com a apresentação dela no DVD:
Benny Anderssons Orkester (DVD) - Allt syns när man är naken
E este outro com outra apresentação (ao vivo) da mesma música na TV sueca:
Benny Anderssons Orkester (BAO) - Allt Syns När Man Är Naken

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Apresentam na FIL de Guadalajara "El Fascismo en Brasil y América Latina" (O Fascismo no Brasil e América Latina)

MÉXICO, D.F. (proceso.com.mx).- O fascismo costuma ser definido como um movimento conservador ou reacionário, sobretudo na literatura marxista, que o considera um fenômeno político surgido para contra-arrestar os avanços do socialismo.

Contudo, não é "nem reacionário nem conservador, mas está ligado a ambos por parentesco ideológico e por conveniência política, sobretudo no período entreguerras", assinalam Franco Savarino Roggero e João Fábio Bertonha em "El Fascismo en Brasil y América Latina" (O Fascismo no Brasil e América Latina), livro editado pelo Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH).

Na obra, que foi apresentada na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, os autores comentaram que o fascismo latinoamericano surgiu no início do século XX com a crise do liberalismo ocasionada pela Primeira Guerra Mundial; ante as elites liberais que perderam a força e o controle da esfera política, surgiram novas forças promovidas e impulsionadas pela classe média, nas quais se inseriu o fascismo.

O desenvolvimento desse movimento na América Latina é muito mais débil e não se dá em todos os países; basta dizer que a Ação Integralista Brasileira, similar ao Partido Fascista Italiano, ou ao Nacional-Socialista alemão, pode ser considerado o único partido e massas na região. Não tem intelectuais de renome; “talvez Vasconcelos se aproxima um pouco do fascismo, ainda que não se pode classificá-lo como fascista a secas”, considerou Savarino Roggero.

Como pensador utópico, José Vasconcelos desenvolveu a ideia de um homem nome em seu ensaio "raça cósmica", retomando o sonho de Bolívar, onde a América Latina é o centro da civilização mundial, o que soa muito próximo ao fascismo, disse o pesquisador da INAH.

Fundado por Gustavo Sáenz de Sicilia, um produtor de cinema, em 1922 nasce em ambientes católicos o Partido Fascista Mexicano. Integravam-no curas e conservadores; nessa época, a imprensa mexicana e a dos Estados Unidos denunciavam que o Episcopado Mexicano se encontrava ligado a esse partido pelos apoios que outorgavam a este. Ele desaparece praticamente em fins de 1923.

Inclusive, narram os autores, um dos motivos pelos que Obregón expulsou o delegado apostólico do México, em 1923, foi a presunção de estar impulsionando o Partido Fascista Mexicano.

Existem muitos movimentos imitadores de grupos e pessoas que tratam de ser fascistas sem sê-lo; o exemplo mexicano mais conhecido se deu em 1934 com o movimento dos Camisas Douradas, que pelo nome evocavam os Camisas Negras italianos, ou os Camisas Pardas alemães, afirmou Savarino Roggero.

“Muitos saem com a ideia de que os Camisas Douradas eram os fascistas mexicanos; até houve colegas que escreveram livros sobre isso, mas eu não estou de acordo. Estudei a documentação da diplomacia italiana e claramente ela dizia que não eram fascistas", finalizou.

A Redação; 7 de dezembro de 2014
Cultura e Espetáculos

Fonte: proceso.com.mx (México)
http://www.proceso.com.mx/?p=390142
Título original: Presentan en la FIL de Guadalajara “El Fascismo en Brasil y América Latina”
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Presentan en México una obra sobre el fascismo en Brasil y América Latina (Notimérica.com, México, editado por Europa Press)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Na Legião Azul franquista houve poucos voluntários e muitos forçados". Entrevista de Xavier Moreno

Referimo-nos ao livro "La División Azul. Sangre española en Rusia, 1941-1945" (Link resgatado: Link2) (Barcelona, 2004) [A Divisão Azul. Sangue espanhol na Rússia, 1941-1945]; Hitler y Franco. Diplomacia en tiempos de guerra, 1936-1945" (Link alternativo: https://dialnet.unirioja.es/servlet/libro?codigo=739760) (Barcelona, 2007) [Hitler e Franco. Diplomacia em tempos de guerra, 1936-1945]; e agora se publica "Legión Azul y Segunda Guerra Mundial. Hundimiento hispano-alemán en el Frente del Este, 1943-1944" (Link alternativo: https://dialnet.unirioja.es/servlet/libro?codigo=843860) (Madrid, 2014) [Legião Azul e Segunda Guerra Mundial. Afundamento hispano-alemão na Frente do Leste, 1943-1944].

Dado que a Legião Azul é pouco conhecida entre o grande público, devemos considerar que podia ser de interesse para nossos leitores entrevistar este especialista sobre as relações existentes entre o franquismo e o Terceiro Reich, cuja generosidade agradecemos por ter concedido responder nossas perguntas.

P. Que relação tem a Legião Azul com a Divisão Azul?

Muita, tanto que nasceu dela. Concretamente, quando a Divisão Azul foi retirada do Front, em outubro de 1943, por ordem de Madrid ficou na Rússia um pequeno contingente, a Legião Azul, de modo que sendo remanescente, evitasse possíveis reações alemãs e, a par, a imagem de que a Espanha abandonou a Alemanha a sua própria sorte.

Um soldado da Divisão Azul coloca um crucifixo na tumba de um companheiro.
P. Quem tomou parte da Legião Azul?

Em tese, 2.269 homens, dos quais em meu livro "Legião Azul e Segunda Guerra Mundial", listo os nomes e dados pessoais de 2.199. De fato, até agora se acreditava que eram os mais ideologizados entre os divisionários, mas não foi bem assim: majoritariamente foram os últimos a chegarem à Rússia que ficaram retidos pelo comando. Portanto, algo pouco voluntário e muito forçado.

P. Qual foi sua trajetória?

Primeiro sua entrada em combate foi atrasada pelo Ministério do Exército (o Min. do Exterior era totalmente contrário a sua existência). Depois, já no Front, foi parcialmente utilizada contra os partisans, o que desagradou bastante a maior parte de seus membros. Por outra parte, ficou concentrada num Front em apreensivo ante a possibilidade do início da esperada ofensiva de inverno do Exército Vermelho. Ações de patrulha e vigilância ocupavam suas horas. E finalmente, quanto o ataque foi desencadeado, a retirada foi de grande magnitude, tanto que afetou a todo o Grupo de Exércitos do Norte. A marcha foi um desastre.

Capa do livro Legião Azul, o estudo mais completo sobre o tema.
P. Foi relevante em termos bélicos/militares?

Não, pois eram muito poucos homens numa frente de magnitude enorme. Apontar aqui que, contudo, a luta a que se viu enfiada foi brutal, pois falamos de dezembro de 1943 e janeiro de 1944 na Rússia, quando a Alemanha havia perdido já toda a possibilidade de vitória e ficou ocupada na defesa de suas cada vez mais minguadas conquistas.

P. Qual foi a atitude de Franco ante a Legião Azul?

A de sempre: de passividade. Ainda que foi ele quem recolheu a ideia do ministro do Exército, Carlos Asensio, e a criou, não optou por retirá-la até que a pressão dos Aliados o obrigou.

A Legião Azul foi o último vestígio da colaboração militar franquista com Hitler.
P. Foi mitificado o papel da Legião Azul?

Não se pode mitificar seu papel enquanto que não participou de nenhum grande fato sob armas. Mas bem que tentaram esquecê-la, e muito pouco se havia escrito sobre ela. De fato, para mim, seu estudo significou o ponto final de uma trilogia que comecei há dez anos já com a Divisão Azul (2004) e prosseguiu com "Hitler y Franco" (2007).

* Podem acessar o índice de Legião Azul clicando aqui.

XAVIER MORENO JULIÁ (Barcelona, 1960) é doutor em História Contemporânea pela Universidade de Barcelona e professor da Universidade Rovira i Virgili, de Tarragona. É prêmio nacional de Pesquisa e publicou uma trilogia de relevantes investigações sobre a Divisão Azul e seu contexto.


Fonte: Blog de Xavier Casals (Blog sobre extremismo y democracia, Espanha)
http://xaviercasals.wordpress.com/2014/12/18/entrevista-a-xavier-moreno-en-la-legion-azul-franquista-hubo-poco-voluntario-y-mucho-forzado/
Título original: Entrevista a Xavier Moreno: “En la Legión Azul franquista hubo poco voluntario y mucho forzado”
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: sugestão de blog sobre fascismo e extremismo para lerem (em espanhol), Blog de Xavier Casals, com um post para um PDF de livro sobre conceitos do Fascismo, abaixo.
Link: Nuestro ensayo "¿Qué era? ¿Qué és? El fascismo" en PDF gratuito

Há mais blogs sobre fascismo e segunda guerra acrescentados na parte de "favoritos" (Destaque) no blog, canto esquerdo.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Os filósofos de Hitler: os pensadores antes e depois do Holocausto

De Kant a Nietzsche, de Alfred Bäumler a Kurt Huber, de Theodor Adorno a Walter Benjamin, todos esses filósofos debateram em torno das mesmas ideias que foram utilizadas pelo ditador alemão em seus propósitos. Um livro da pesquisadora Yvonne Sherratt aporta chaves no assunto.

O tema é espinhoso e escreveram não poucos livros a respeito. Qual foi o papel de determinados pensadores e filósofos no nazismo. Já em 1953, Habermas escreveu Heidegger contra Heidegger, um texto onde reprovava o filósofo – então seu professor - por ter negado sua corresponsabilidade na ascensão de Hitler. O tempo passa e as perguntas parecem seguir sendo as mesmas.

Assim demonstra a professora da Universidade de Oxford, Yvonne Sherratt, no livro 'Los filósofos de Hitler' (Os filósofos de Hitler), publicado originalmente pela Yale University Press e que agora chega à Espanha editado pela Cátedra. O livro faz um passeio pelos pensadores ao redor do nazismo antes, durante e depois do Holocausto. Incluem-se as influências involuntárias, os colaboradores e os adversários. "Os filósofos eram celebridades. O que eles fizeram, como atuaram e que ideias promoveram, exerceu uma poderosa influência no imaginário alemão", escreve Sherratt.


É bem conhecida a adoração que Hitler professou por Nietzsche e que também simpatizou com as interpretações de Darwin favoráveis a sua causa. Encontrou fios de antissemitismo e utilizou a ideia de raça, a força e a guerra para legitimar seu projeto. Assim assegura a autora: "Hitler teve o sonho de governar o mundo, não só pela força, também com suas ideias. Via-se a si mesmo como um filósofo líder e surpreendentemente ganhou o apoio de muitos intelectuais de seu tempo".

Neste livro, Yvonne Sherratt explora não só a relação de Hitler com os filósofos senão que escava na crueldade, na ambição, na violência e traição que brotou aí onde menos se esperava, "no coração da torre de marfim da Alemanha". Por que teve a colaboração de filósofos como Schmitt, redator da constituição legal dos nazis, ou do mesmo Heidegger?

Sherratt planta várias hipóteses. Provavelmente viram ali a oportunidade de ascensão dentro das universidades alemãs. Mas, quais foram suas histórias e por que aderiram o racismo e a guerra? Para responder essas perguntas, a autora mergulha em distintos arquivos e consegue inclusive provas que demonstram como, na década de 1920, Hitler coloca a mão em pensadores nobres do passado, incluindo Kant, Nietzsche e Darwin, para a formação de seu corpo de leitura.

Nos filósofos de Hitler, Yvonne Sherratt revela como os pensadores da década de 1930 foram entusiastas colaboradores do regime nazi e se prestaram para aportá-lo num manto de respeito: de Martin Heidegger ou Carl Schmitt até opositores como Kurt Huber, junto a muitos outros perseguidos ou assassinados, como foi o caso de Theodor Adorno e Hannah Arendt, que se viram obrigados a fugir como refugiados. O livro relata seus destinos, que se dispersaram pelo mundo. Conclui com os julgamentos de Nuremberg, examinando se alguns filósofos foram julgados e se as universidades alemãs foram purgadas/limpas de nazis depois de 1945.

Karina Sainz Borgo

Fonte: Vozpopuli (Espanha)
http://vozpopuli.com/ocio-y-cultura/54257-los-filosofos-de-hitler-los-pensadores-antes-y-despues-del-holocausto
Título original: Los filósofos de Hitler: los pensadores antes y después del Holocausto
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Alemanha tem série de protestos contra suposta "islamização" do país

Em Dresden, 10 mil pessoas participam de caminhada organizada por autodenominados "europeus patriotas". Manifestação contrária reúne cerca de 9 mil pessoas.
Manifestação convocada pelo grupo Pegida em Dresden, no leste da Alemanha
Uma série de protestos contra uma suposta "islamização" da Alemanha atingiu seu ápice até o momento nesta segunda-feira (08/12), quando um ato organizado pelo grupo Pegida reuniu cerca de 10 mil pessoas em Dresden, no leste do país, segundo cálculos da polícia.

Na mesma cidade, em torno de 9 mil pessoas protestaram contra o movimento, no qual veem sinais de xenofobia, nacionalismo e intolerância religiosa. Pegida é uma sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente". Entre outras bandeiras, defende o endurecimento das leis para asilo.

Manifestações semelhantes aconteceram em Düsseldorf, no oeste, reunindo cerca de 500 pessoas do lado do grupo Pegida e em torno de 750 do outro, segundo cálculos da polícia. Apesar de os integrantes do Pegida negarem que extremistas de direita façam parte do grupo, ao menos em Düsseldorf alguns manifestantes eram oriundos da cena neonazista.

Em Dresden, a manifestação contra o grupo Pegida foi organizada pelas igrejas cristãs, por organizações judaicas e islâmicas, por estudantes e pela universidade local.

Apesar de alguns pequenos conflitos entre os dois lados em Dresden, todas as manifestações desta segunda transcorreram sem o registro de incidentes graves pela polícia.

Os protestos contra a "islamização" começaram em Dresden, há oito semanas, e são realizados sempre às segundas-feiras. Chama a atenção que o estado da Saxônia, do qual Dresden é a capital, praticamente não tem muçulmanos. Eles representam 0,1% da população local, segundo o último censo. Quase todos os muçulmanos que vivem na Alemanha estão no lado ocidental.

Apesar de os membros do Pegida fazerem questão de ressaltar que não possuem relações com a extrema direita, o partido extremista NPD já declarou ter simpatia pelos protestos. O partido eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD) afirmou entender os motivos dos manifestantes.

Cartazes pedem fim da "islamização da Europa"
AS/dpa/afp/ots

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/alemanha-tem-s%C3%A9rie-de-protestos-contra-suposta-islamiza%C3%A7%C3%A3o-do-pa%C3%ADs/a-18117431

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