quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ONU critica governo francês por desmontar acampamento da etnia rom

Mundo: ONU critica governo francês por desmontar acampamento da etnia rom


Obervadores das Nações Unidas afirmam que evacuação de acampamento rom na periferia de Paris viola os direitos humanos. Ministro do Interior é acusado de repetir política conservadora de Sarkozy.

A polícia da França expulsou, nesta quarta-feira (29/08), centenas de pessoas de um acampamento de membros da etnia rom na periferia de Paris. Segundo as autoridades, cerca de 500 pessoas foram obrigadas a deixar o local, num bairro popular na periferia da capital francesa. Diversos observadores das Nações Unidas criticaram a conduta da polícia francesa.

O ministro francês do Interior, Manuel Valls, ordenou uma série de batidas em acampamentos da etnia rom próximos a Paris, Lyon e Lille, afirmando que eles deveriam ser desmantelados por razões sanitárias. A polícia chegou na manhã de quarta ao subúrbio de Stains, na periferia de Paris, onde as barracas dos roma foram destruídas depois da evacuação.

Os roma reclamaram que não lhes foi oferecida nenhuma alternativa de alojamento. A administração do bairro, por outro lado, declarou que os alojamentos oferecidos a eles não foram aceitos e que os pedidos de que deixassem o local voluntariamente também não haviam sido acatados.

Alta vulnerabilidade

França não respeita direitos humanos, afirmam observadores

Observadores da ONU para minorias, migrantes, racismo e direito a uma moradia adequada criticaram que a evacuação compulsória pode deixar as famílias atingidas numa situação de "alta vulnerabilidade". Segundo eles, o processo de evacuação não está de acordo com o direito internacional.

François Crépeau, encarregado de reportar sobre a situação dos migrantes na França, declarou que o governo francês parece querer expulsar todos os membros da etnia rom do país, onde acontece um debate generalizado a respeito da política oficial em relação aos roma, que em sua maioria procedem da Romênia e da Bulgária.

"A expulsão coletiva é condenada pelo direito internacional e qualquer repatriação deveria ser voluntária, respeitando os padrões internacionais, baseada na vontade individual e monitorada de maneira independente", afirmou Crépeau.

Raquel Rolnik, relatora especial da ONU para questões de moradia adequada, afirmou que a evacuação forçada não é uma resposta apropriada e que "soluções alternativas deveriam ser buscadas em respeito aos padrões dos direitos humanos". Segundo ela, é importante garantir sobretudo a moradia de crianças e mulheres e daqueles que apresentam enfermidades ou deficiências.

Repetindo os conservadores

Faltam alternativas de moradia, segundo enviados da ONU à França

O ministro Valls foi criticado dentro das fileiras de seu próprio partido, o socialista. Ele está sendo acusado de repetir a política linha-dura do governo conservador de Nicolas Sarkozy. A Comissão Europeia havia declarado, no início de agosto, que continua observando atentamente a política francesa para minorias.

Paris havia anunciado que pretende abolir parcialmente as diretrizes da União Europeia que limitam a permissão de trabalho para búlgaros e romenos, a fim de facilitar a integração dos roma no país. No entanto, ignorando totalmente tal premissa, as autoridades resolveram dissolver o acampamento na quarta-feira.

Estima-se que haja na França hoje em torno de 15 mil a 20 mil imigrantes de origem rom, a maioria deles vivendo nas periferias das cidades e em acampamentos com condições precárias.

"Os roma são cidadãos da União Europeia e a minoria mais marginalizada dentro da Europa. Lamentavelmente esses atos demonstram que eles nem sempre gozam do mesmo direito de livre movimento e assentamento que outros cidadãos e que continam sendo vítimas de um tratamento discriminatório", resumiu Rita Izsák, especialista da ONU para assuntos relacionados a minorias.

SV/afp/rtr/dpa
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,16206841,00.html

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Alemanha lança operação contra grupos neonazis e apreende armas e propaganda

Cerca de 900 polícias revistaram mais de 140 vivendas
Alemanha lança operação contra grupos neonazis e apreende armas e propaganda

23.08.2012 - 18:27 Por Isabel Gorjão Santos

Autoridades apreenderam símbolos nazis, armas e material de propaganda Autoridades apreenderam símbolos nazis, armas e material de propaganda (Ralf Roeger/AFP)

Mais de 900 polícias foram mobilizados nesta quinta-feira para aquela que foi considerada a maior operação contra grupos neonazis no estado alemão da Renânia do Norte-Vestefália, na parte ocidental do país. Apreenderam computadores, armas e material de propaganda.

A operação envolveu buscas em mais de 140 vivendas e em bares, e no final a polícia mostrou punhais, balas, painéis com a cruz suástica e a imagem de Hitler e armas, várias armas, algumas de grande calibre. Não foram efectuadas detenções, mas alguns membros dos grupos de extrema-direita visados já estariam detidos.

“Com esta operação conseguimos infligir um golpe na rede de neonazis”, garantiu o ministro do Interior estadual, Ralf Jäger. “Estes grupos são anti-estrangeiros, racistas e anti-semitas”, disse numa conferência de imprensa sobre a operação policial.

A Renânia do Norte-Vestefália é o estado com mais população da Alemanha, cerca de 18 milhões de habitantes, e esta operação, para recolha de provas, foi realizada depois de ter sido banida e proibida a actividades de três organizações neonazis locais – a Kamaradschaft Aachener Land, que opera em Aquisgrano (Aachen), a Resistência Nacional de Dortmund e a Kamaradschaft Hamm.

A polícia já tinha considerado estas organizações “violentas” e dois membros do primeiro grupo foram detidos em Maio de 2010, em Berlim, por terem em sua posse bombas artesanais que pretenderiam fazer explodir durante uma manifestação de protesto contra grupos neonazis, adiantou o El País.

Só na cidade de Dortmund, que tem cerca de meio milhão de habitantes e é considerada um bastião dos neonazis na parte ocidental da Alemanha, foram agora revistadas 93 vivendas. Foi ali que, em Dezembro, as autoridades estaduais estabeleceram um novo centro de coordenação da polícia para investigar grupos neonazis.

Desta vez foram apreendidos cerca de 1000 cartazes do Partido Nacional Democrático Alemão (NPD), de extrema direita, adiantou a Deutsche Welle, o que “demonstra a estreita ligação do partido aos grupos violentos neonazis”, disse Ralf Jäger.

O debate sobre a possível ilegalização deste partido já se prolonga há vários anos, e agora vários responsáveis locais e federais já manifestaram a intenção de voltar a fazer esse pedido junto do Tribunal Constitucional, depois de ter falhado uma tentativa, em 2003, por alegada falta de provas.

Mais de 22.000 membros de grupos neonazis em todo o país

No ano passado Ralf Jäger anunciou uma estimativa segundo a qual existem na Renânia do Norte-Vestefália cerca de 4000 neonazis, e agora adiantou que 400 a 600 serão violentos. Esta operação, que começou pelas 6h e se prolongou até ao meio-dia, pretendeu também evitar que acontecesse neste estado o que ocorreu em Turíngia, na parte oriental da Alemanha, onde em Novembro se descobriu que, entre 2000 e 2007, nove cidadãos de origem turca, um de origem grega e uma mulher polícia foram assassinados por grupos neonazis sem que as autoridades tenham actuado.

Quase todos estes assassínios foram cometidos com a mesma arma, o caso provocou um escândalo na Alemanha e levou à demissão, em Julho, do chefe dos serviços secretos internos alemães Heinz Fromm.

Esta operação policial ocorre também 20 anos depois de um dos mais violentos ataques contra estrangeiros na Alemanha do pós-guerra, que ocorreu na cidade de Rostock, no Nordeste do país, entre 22 e 26 de Agosto de 1992. Na altura, centenas de neonazis atiraram pedras e cocktails molotov e incendiaram um edifício onde viviam sobretudo ciganos que tinham pedido asilo, perante várias centenas de pessoas a assistir e a aplaudir. Não houve mortos, mas o ataque despertou a atenção para o crescimento de grupos neonazis e xenófobos sobretudo na parte oriental da Alemanha, recorda a Spiegel. Na antiga Alemanha de Leste os extremistas parecem ganhar terreno.

Em todo o país haverá cerca de 22.400 membros de grupos neonazis, segundo um relatório apresentado no mês passado pelos serviços de informações internas. Serão menos do que em 2010, quando as estimativas apontavam para 25.000, mas por outro lado tem aumentado o número de extremistas neonazis preparados para recorrer à violência, de 9500 para pelo menos 9800.

Vídeo

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/Mundo/alemanha-lanca-operacao-contra-grupos-neonazis-e-apreende-armas-e-propaganda-1560189?all=1

Ver mais:
Polícia alemã proíbe três organizações neonazis (Euronews)
Polícia faz operação contra extrema-direita na Alemanha (AFP/Terra)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Julgamento contra 26 neonazis é iniciado na Alemanha

Os detidos foram objeto de manifestação de apoio (Reuters)

O julgamento está programado para ser concluído em meados de setembro.

Notimex

Berlim.- No dia de hoje se iniciou o julgamento contra 26 supostos neonazis, na cidade alemã de Koblenz, os quais foram objeto de uma manifestação de apoio realizada sábado passado no centro da cidade, protagonizada por membros de facções políticas.

Os acusados têm idade que vão dos 19 aos 54 anos. São membros e simpatizantes da 'Oficina de Ação do Médio Reno', que se localizava até março na assim chamada 'Casa Café' – café é a cor com a qual na Alemanha se identifica o nazismo - na população conurbada de Bad Neunahr-Ahrweiler.

De acordo com a Promotoria do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, os indivíduos são acusados de pertencer a um grupo de extrema-direita que é contrário à Constituição; além disso, crê-se que eles fizeram atos de violência contra alemães que pertencem à esquerda.

O julgamento está programado pra ser concluído em meados de setembro. Os acusados foram detidos durante uma batida que levou a cabo às autoridades judiciais há 5 meses à 'Oficina de Ação do Médio Reno’.

Ataque Neonazi

Cerca de 100 neonazis armados con paus, explosivos e barras de metal, atacaram uma vivenda na qual estava o escritório de membros e simpatizantes de esquerda que leva o nome de ‘Praxis’, palavra que em alemão (e português) significa 'prática'.

Em outras ocasiões golpearam antifascistas, espiaram a quem se declarava de esquerda e pintaram suásticas em via pública.

Entre os cabeças do ataque se encontra o chefe da 'Oficina de Ação do Médio Reno', Christian H., de 27 anos, assim como Axel Reitz, de 29 anos, também conhecido como 'o Hitler de Colônia'.

A acusação que foi feita contra os detidos consta de 926 folhas e nelas asinalam as autoridades que a ação foi planejada com muita antecipação.

‘Casa Café’

O objetivo da 'Casa Café', que se instalou em Bad Neuhnar-Ahrweiler em 2010 era criar um estado segundo o modelo da Alemanha que se encontrava sob o regime de Adolf Hitler.

Alguns dos detidos explicaram que um dos "sonhos" de sua organização era conseguir estourar uma revolução de extrema-direita, na qual se executaria todos os antifascistas.

A relação entre o partido neonazi (Partido Nacional da Alemanha) com a Oficina de Ação da Renânia do Norte-Vestfália está sendo investigada, já que possivelmente havia vínculos entre ambos e ao que parece este partido apoiou em termos financeiros à organização.

Em se confirmando, o Partido Nacional da Alemanha será banido.

O especialista alemão em neonazismo, Bernd Wagner, declarou em Koblenz que “todos eles (a ala neonazi) tem o medo idiota de que a raça branca desapareça”.

Acrescentou que "os neonazis alemães se veem numa luta apocalíptica contra o sistema, contra o capitalismo internacional, de predomínio dos dos Estados Unidos e contra a democracia ocidental. Chamam essa posição de "Resistência Nacional".

Wagner é também fundador da iniciativa cidadã 'Saída', grupo que ajuda os indivíduos que queiram abandonar o meio neonazi a ter uma 'vida normal',

Internacional
Redator: Angel Valdes

Fonte: El Financeiro (México)
http://www.elfinanciero.com.mx/index.php?option=com_k2&view=item&id=35732&Itemid=26
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
26 alleged neo-Nazis go on trial in Germany on charges of anti-leftist violence (AP/Montreal Gazette)
Inicia el juicio contra 26 presuntos neonazis alemanes (veracruzanos.com, México)

domingo, 19 de agosto de 2012

Polícia investiga depredação contra fazenda histórica em Paranapanema

A Secretaria da Cultura de São Paulo registrou boletim de ocorrência.
O local é conhecido por ter tijolos marcados com a suástica, símbolo nazista.

Vídeo no link da matéria.

Do G1 Itapetininga e Região

A polícia de Paranapanema irá investigar possível crime contra o patrimônio na antiga fazenda Cruzeiro do Sul, propriedade que fica no limite entre os municípios de Paranapanema, Itaí e Itapeva (SP). A fazenda ficou conhecida após serem encontrados tijolos marcados com a suástica, símbolo do nazismo.

O boletim de ocorrência sobre a depredação do local foi registrado pela Secretaria de Estado da Cultura. De acordo com nota divulgada pela Secretaria, técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico constataram o fato em 9 de agosto de 2012, durante realização de vistoria. O conjunto da Fazenda encontra-se em Estudo de Tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), portanto, não poderia ter sofrido nenhuma intervenção sem a prévia aprovação do órgão.

Durante a vistoria, os especialistas detectaram destruição. Eles relataram que um antigo armazém foi totalmente destruído. Já um edifício identificado como curral, teve a estrutura do telhado e algumas paredes destruídas. O relatório indica que os danos não foram causados pelo tempo, mas provocados por ações humanas. A declaração é baseada na forma de disposição de tijolos. Segundo nota enviada à imprensa pela Secretaria de Cultura, os tijolos que exibem a inscrição da suástica nazista foram encontrados partidos ao meio, sendo que alguns deles estavam alinhados em pilha, de modo organizado. Já outros tijolos, com outras inscrições, foram encontrados na íntegra.

Tijolos com o símbolo nazista foram quebrados. (Foto: Secretaria de Estado da Cultura)Tijolos com o símbolo nazista foram quebrados. (Foto: Secretaria de Estado da Cultura)

A propriedade tem aproximadamente 144 hectares, o equivalente a mais de um milhão e quatrocentos mil metros quadrados. O lugar foi vendido para uma usina para plantio de cana de açúcar.

Durante a 2º Guerra Mundial, a fazenda pertencia a uma família muito poderosa no Rio de Janeiro, que mantinha negócios em São Paulo. Registros históricos indicam que a família era apoiadora da Ação Integralista do Brasil, uma organização que apoiava as práticas nazistas como pregação da superioridade da raça ariana, imposta pelo ditador Adolf Hitler, na Europa. A história desses propritários é marcada não só pela riqueza, mas também porque traziam crianças negras de orfanatos cariocas para viver e trabalhar na área. Esses meninos não tinham nomes, eram chamados por números. Em documentos encontrados por pesquisadores, existem fotos ainda que mostram animais marcados com o símbolo nazista.

Depois dos simpatizantes nazistas e dos outros donos do lugar, o aposentado Aparecido Refulia foi o último morador da fazenda. O homem, de 72 anos viveu na fazenda até o fim de abril deste 2012. Ele conta que ficou por cinco anos como zelador de confiança dos antigos proprietários. O antigo morador afirma que conheceu as obras em pé e viu parte ser destruída pelas máquinas da usina. “Foram quebrando, foram metendo trator... estão destruindo tudo”, afirma.

A usina que é atual dona das terras tem sede em Piracicaba. O advogado não foi encontrado para comentar sobre as constatações feitas por técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico.

Já o delegado seccional de Avaré, Jorge Cardoso Oliveira, confirmou a abertura de inquérito policial, em Paranapanema, para investigar o caso. A pena para crime contra patrimônio varia de seis meses a um ano de reclusão, se for culposo. E de um a três anos, no caso de crime doloso, quando há intenção de ser praticado.

O caso também será encaminhado à procuradoria geral do estado para providências judiciais.

Prédios estão completamente destruídos na fazenda Cruzeiro do Sul. (Foto: Divulgação / Secretaria de Estado da Cultura)

A Secretaria de Estado da Cultura abriu boletim de ocorrência e a polícia irá investigar a depredação. (Foto: Divulgação / Secretaria de Estado da Cultura)

Fonte: G1
http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-regiao/noticia/2012/08/policia-investiga-depredacao-contra-fazenda-historica-em-paranapanema.html

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Eurodeputado antissemita descobre que é judeu

Csanad Szegedi, do partido húngaro de extrema-direita Jobbik, descobriu que os avós maternos são sobreviventes do Holocausto

O eurodeputado húngaro, Csanad Szegedi, do partido de extrema-direita Jobbik, e famoso pelos seus comentários anti-semitas, descobriu que é judeu. Os avós maternos são sobreviventes do Holocausto, depois de terem estado em Auschwitz, durante a II Guerra Mundial.

Depois de várias semanas de especulação na Internet, Szegedi admitiu em junho passado as origens judaicas, o que, segundo o judaísmo, faz dele um judeu, apesar de não ser praticante.

Pressionado pelo Jobbik, o político de extrema-direita renunciou no mês passado ao partido, entregando o cartão de filiação.

Mas isso não chegou para o partido húngaro, que o quer ver fora do Parlamento Europeu, onde está desde 2009. O Jobbik disse, no entanto, que a decisão não está relacionada com as raízes do eurodeputado, mas com a existência de provas de corrupção.

O partido refere-se a uma gravação de 2010 entre Szegedi e um ex-presidiário, que o eurodeputado admite ter tido lugar, mas que garante ter sido adulterada. Então, o condenado terá dito ter provas da origem judaica do político húngaro que, por sua vez, depois de manifestar surpresa, terá comprado o silêncio.

O Jobbik considera a gravação genuína e quer que Szegedi deixe o Parlamento Europeu.

Szegedi, de 30 anos, que já pediu desculpas à comunidade judaica pelas suas palavras, prometeu visitar Auschwitz.

Fonte: tvi24
http://www.tvi24.iol.pt/internacional/csanad-szegedi-szegedi-jobbik-holocausto-parlamento-europeu-tvi24/1368259-4073.html

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mostra em Bayreuth expõe destinos de músicos vítimas do antissemitismo

Cultura

Dos ressentimentos antissemitas do próprio Richard Wagner até o Holocausto nazista parece haver um contínuo. "Vozes silenciadas" explora de frente aspecto delicado na história do clã Wagner.

O reboco está se soltando da fachada em algumas partes do Teatro do Festival de Bayreuth. No parque, logo abaixo do prédio, atualmente sempre cercado de curiosos, flores brilham coloridas. Cercas vivas, podadas com esmero, circundam o gramado recentemente cortado. O vento sopra forte por entre as folhas das árvores. Um punhado de visitantes passeia pelo terreno bem cuidado.

À primeira vista, parece ser apenas mais um verão na chamada "Colina Verde". Mas, desta vez, algo está diferente. Logo ao lado do busto de Richard Wagner – feito pelo artista-modelo do nazismo Arno Breker – foram recentemente montados 40 painéis cinzentos.

Maestro Franz Allers, um dos primeiros judeus expulsos do Teatro de Wuppertal

De longe, eles fazem pensar em lápides modernas e esta primeira impressão não é de todo equivocada. As placas trazem impressas fotos em preto e branco e breves biografias de músicos mortos há muito tempo, que participaram do Festival Wagner em Bayreuth e foram proscritos devido a sua origem judaica.

Portanto, as vítimas do furor nazista durante o Terceiro Reich não foram apenas dois músicos da orquestra do teatro – como até agora tem se afirmando, minimizando o terror. Pesquisas recentes provam que 12 músicos foram deportados para os guetos e assassinatos nos campos de concentração e extermínio.

Porém, como documenta essa mostra ao ar livre, alguns membros do clã Wagner circulavam como antissemitas convictos muito antes da tomada de poder por Adolf Hitler. De certa maneira, eles prepararam o solo para a catástrofe nazi-fascista já durante Império Alemão (1871-1918).

Tema delicado para o clã

Vozes silenciosas – O Festival de Bayreuth e os "judeus" de 1876 a 1945 é o título da exposição que informa sem rodeios sobre os mais recentes dados desta questão – com o aval das duas diretoras do festival. Naturalmente a mostra ganha certo potencial explosivo no contexto do Festival Wagner deste ano. E mais ainda devido à dispensa do barítono russo Evgeny Nikitin, acusado de portar no peito a tatuagem de uma suástica.

Barítono Herman Horner cantou em Bayreuth em 1928, morto num campo de concentração em 1942

A exposição no local e a mostra complementar na Nova Prefeitura podem ser visitadas até 14 de outubro. Partindo dos primórdios do evento dedicado à obra de Wagner, o foco também é a chamada "limpeza" das casas de ópera alemãs de todo o pessoal artístico de origem judaica, durante o regime nazista.

Entretanto a Colina Verde da cidade da Alta Francônia, Baviera constitui um foco especial. Para os historiadores, que se basearam em jornais e fontes históricas – mas que não puderam examinar todos os arquivos para realizar seu trabalho – a iniciativa é o sinal de uma abordagem cautelosa de um tema extremamente delicado para o clã Wagner.

Cosima: pior ainda

"Com seu panfleto O judaísmo na música e com os escritos anti-semitas, sobretudo em seus últimos anos de vida, Wagner naturalmente forneceu um quadro ideológico sólido para todos os seus sucessores", declara Hannes Heer, curador da mostra histórica.

"Ele era radicalmente antissemita. Sua visão era a seguinte: deportar os judeus da Alemanha em 1879", afirma o curador. O compositor tolerava o maestro Hermann Levi, embora considerasse a "raça judaica" como "o inimigo nato da humanidade pura e de tudo o que é nobre".

Apesar disso, Levi pôde até reger a estreia de Parsifal em 1882, embora somente por pressão do rei da Baviera Ludovico II. "[Wagner] o torturava, o humilhava. Depois o chamou novamente porque era também fascinado pela capacidade [de Levi] como regente. Mas, pelo menos, o compositor não exercia "terror psicológico" contra o maestro", ressalva o curador Heer.

Já com Cosima Wagner, a esposa, a história era outra. De certo modo, ela praticava uma "política de apartheid". Ao assumir o leme na Colina Verde, após o falecimento do compositor, ela parecia ter prazer em atormentar Levi e outros judeus, da pior forma possível. Sistematicamente, excluía os músicos judeus da lista de elenco.

Tradição contínua

Soprano Bella Alten, uma das 44 "vozes silenciadas"

Na nova prefeitura de Bayreuth, onde se encontra a segunda parte da mostra sobre o destino de 44 astros perseguidos da cena operística alemã, é também possível escutar novamente algumas das "vozes silenciadas".

Entre elas encontra-se a do barítono judeu Friedrich Schorr. Siegfried Wagner, filho do compositor, seguiu o curso antissemita de Cosima, e só entregou a Schorr o papel de Wotan na tetralogia O Anel do Nibelungo a fim de esvaziar os argumentos dos que acusavam Bayreuth de ter se degenerado em um local de culto nacionalista com toque antissemita.

Após uma cerimônia de caráter nacional germânico, acompanhada por palavras de ordem antissemitas, diversos jornais de gabarito haviam zombado que os festivais foram cooptados para comício partidário.

A mostra em duas partes documenta de forma vívida o quão cedo regentes do festival e membros da família Wagner – como por exemplo a nora do compositor Winifred, diretora do evento até 1944 – já simpatizavam com a ideologia nacional-socialista.

Trata-se, portanto, de uma tradição contínua, indo desde os ressentimentos antissemitas de Richard Wagner até o extermínio dos judeus nos campos de concentração de Hitler.

Autoria: Thomas Senne (av)
Revisão: Marcio Pessôa

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,16124253,00.html

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Buchenwald (campo de concentração)

Um dos maiores campos de concentração da Alemanha, ubicado a 8 km ao norte da cidade de Weimar. Começou a funcionar em 16 de julho de 1937 e foi libertado em 11 de abril de 1945.
Dos 238.980 prisioneiros provenientes de 30 países que passaram por ele, 43.045 foram assassinados, incluindo os prisioneiros de guerra soviéticos.

Buchenwald estava dividido em três seções: o “campo grande”, que albergava prisioneiros com maiores privilégios; o "campo pequeno", para prisioneiros comuns, e o "campo de tendas", estabelecido em 1939 para prisioneiros poloneses. Também incluía uma área administrativa, as barracas das SS, as fábricas e os 130 campos satélites. Dois comandantes estiveram no comando do campo: o coronel das SS Karl Koch, de 1937 a 1941; e de 1942 a 1945, o tenente-coronel das SS Hermann Pister.

O primeiro grupo de 149 prisioneiros chegou a Buchenwald em julho de 1937, em sua maioria presos políticos e delinquentes comuns. Pouco depois começaram a chegar grandes transportes, e em fins de 1937 já havia 2.561 prisioneiros, em sua maior parte políticos. Na primavera de 1938 juntaram-se ao campo pessoas rotuladas como "antissociais". Para essa mesma época chegaram os primeiros transportes de judeus alemães. Em julho o número de presos era de 7.723. Em 23 de setembro de
1938 chegaram 2.200 judeus da Áustria, e outros 10.000 depois do pogrom de 9-10 de novembro de 1938 (Kristallnacht- Noite dos Cristais).

Os judeus eram tratados com extrema crueldade. eram obrigados a trabalhar 14-15 horas por dia, e viviam sob terríveis condições. Nessa etapa, o objetivo dos alemães era pressionar os judeus para que abandonassem o país. Em fins de 1938 liberaram 9.370 judeus de Buchenwald, depois que suas famílias e organizações judaicas e internacionais conseguiram fazer arreglos para que
emigrassem. Durante o breve lapso em que esses prisioneros estiveram em Buchenwald, 600 foram assassinados, suicidaram-se ou morreram por diversas causas.

Iniciada a guerra, milhares de opositores políticos foram presos e levados a Buchenwald. O número de prisioneiros aumentou novamente quando judeus da Alemanha e do Protetorado da Boêmia e Morávia foram deportados para o campo; em setembro de 1939 havia 2.700.

Posteriormente, milhares de poloneses foram confinados no campo das tendas.

Em 17 de outubro de 1942 os nazis ordenaram que todos os prisioneiros judeus no Reich fossem transferidos para Auschwitz, com exceção de 204 trabalhadores. Em 1944, judeus húngaros foram transportados em direção contrária, de Auschwitz a Buchenwald. Esses permaneceram pouco tempo no campo principal, para logo serem repassados para campos satélites. Os judeus recebiam um tratamento muito pior que os demais prisioneiros, e foram vítimas de experimentos médicos.

Em 1943 os alemães terminaram a construção de fábricas de armamentos no lugar. Isto acarretou num incremento de população: em fins de 1944 havia 63.048 prisioneiros, e 86.232 em fevereiro de 1945.

Em 18 de janeiro de 1945 os alemães começaram a evacuar Auschwitz e outros campos na Europa
oriental. Isto provocou o traslado de milhares de prisioneiros judeus para Buchenwald, entre eles centenas de crianças para as quais foram montadas barracas especiais no campo de tendas, denominadas de "Bloco das c rianças 66"; a maioria delas sobreviveu.

Em 1943 se organizou no campo um movimento de resistência denominado Comitê Clandestino Internacional, no qual também participavam judeus. O movimento conseguiu sabotar parte do trabalho que se realizava na fábrica de armamentos, e introduziu como contrabando ao campo, armas e munições.

Os alemães começaram a evacuar os prisioneiros judeus em 6 de abril de 1945. No dia seguinte foram evacuados outros milhares de prisioneiros. Cerca de 25.500 morreram durante a evacuação. Nos últimos dias de Buchenwald, os membros da resistência conseguiram demorar as evacuações. Em 11 de abril a maioria dos efetivos das SS havia fugido. Os membros da resistência tomaram o controle do campo e capturaram os SS que ficaram. Nesse dia, 21.000 prisioneiros foram libertados em Buchenwald, incluindo 4.000 judeus e 1.000 crianças. Em 1947, 31 funcionários do campo foram julgados nos Julgamentos de Nuremberg. Dois foram condenados a morte e quatro a prisão perpétua.

Notas

Zadoff, Efraim (Ed.), SHOA - Enciclopedia del Holocausto, Yad Vashem y E.D.Z. Nativ Ediciones,
Jerusalém 2004. Baseado em: Rozett, Robert & Shmuel Spector (Ed.), Encyclopedia of the Holocaust,
Yad Vashem and Facts On File, Inc., Jerusalem Publishing House Ltd, 2000

Fonte: Yad Vashem
http://www1.yadvashem.org/yv/es/holocaust/about/pdf/buchenwald.pdf
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Judeus e bolcheviques (A mentira sobre o bolchevismo e os judeus)

Um ensaio de Richard J. Green
Web Version 1.3.

Negadores do Holocausto e apologistas do nazismo frequentemente fazem muitas reivindicações reveladoras sobre os judeus, o bolchevismo e o stalinismo. Eles frequentemente afirmam que o bolchevismo foi um movimento judaico que resultou em assassinato em massa de cristãos em uma escala muito maior do que a Solução Final. A implicação disso é que mesmo que o Holocausto não houvesse ocorrido, os judeus o mereceram e/ou o fato do assassinato em massa cometido pelos stalinistas, de alguma forma, diminuiria o fato dos nazistas e seus cúmplices terem cometido um assassinato em massa. Mesmo se os negadores do Holocausto e nazi-apologistas tivesses seus fatos corretos, alguém perguntaria qual a lógica do seu raciocínio. Como o suposto fato de alguns judeus terem participado de um assassinato em massa justificaria o assassinato em massa de todos os judeus? Não obstante, essa implicação absurda e desumana devemos, como de costume, analisar os supostos fatos.

Os crimes do Stalinismo

Os crimes do stalinismo não devem ser subestimados. Que o regime stalinista cometeu crimes de magnitude sem precedentes e desumanidade vai além de qualquer debate razoável. As coletivizações forçadas no Cazaquistão, Ásia Central Soviética, e, é claro na Ucrânia[1] teve um custo terrível:
A Grande Fome de 1932-33 na qual 5-10 milhões de vidas foram perdidas, foi causada em grande parte pelo caos da coletivização. Embora a produção agrícola tenha declinado na década de 1930, a exportação de grãos aumentou. Robert Tucker chama de coletivização forçada a uma revolução de "iniciada pelo Estado, dirigida pelo Estado, e imposta de cima pelo Estado." [2],[3]
A brutalidade do regime stalinista é incontestável. A origem judaica dessa brutalidade, por outro lado, é uma afirmação mentirosa.

O Bolchevismo era um movimento judaico?

Em uma publicação no grupo alt.revisionism da Usenet, Jacob Minsky [4] demonstra, em termos inequívocos, o absurdo de tal posição. Primeiro, ele cita Pipes:
O censo do Partido Comunista realizado em 1922 mostra que apenas 959 membros judeus participavam antes de 1917.[5]
Minsky, em seguida, coloca a seguinte pergunta para o seu interlocutor apologista-nazi:
Por que o Bund (União Judaica Trabalhista) [link1] [link2] foi um dos dois únicos partidos políticos (o outro foi o pequeno e judaico PSR, um partido socialista democrático) inequivocamente condenaram no Congresso dos Deputados a tomada bolchevique do poder? [6]
A típica resposta dos antissemitas é escolher bolcheviques pouco proeminentes e afirmar, sem provar, que todos eram judeus. Que Trotsky era judeu é verdade, mas antissemitas esquecem de citar que ele era um dos maiores e primeiros críticos de Stalin e que este criticismo custou-lhe a própria vida. Talvez, pouco menos que 1000 judeus que foram membros de início do Partido foram para posições de liderança, mas como Aristóteles assegura: "Uma andorinha só não faz verão".

Claro, é ridículo culpar uma etnia pelos crimes dos bolcheviques. O fato de Stalin era georgiano não torna todos os georgianos responsáveis ​​pelos crimes do stalinismo. Alguns podem argumentar que isso é tão injusto quanto culpar todos os alemães pelos crimes dos nazistas. Este ponto é válido: a culpa deve ser atribuída, individualmente, não coletivamente. Somente aqueles alemães que sabiam, ou que deviam saber sobre a Solução Final, participaram de sua execução, ou nada fizeram para impedi-la quando eles poderiam ter feito isso, torna culpado por esses crimes. Não sendo ncessário reafirmar que os jovens alemães nascidos após a guerra são inocentes.

Antissemitas culpam os judeus pelo por usar de algumas meias-verdades. Por este método, poderia ser demonstrado que foi na verdade os alemães, os responsáveis pelo bolchevismo. É tão sem propósito culpar os alemães pela ascensão do bolchevismo como é culpar os judeus. Marx, afinal, era um ateu alemão. Além disso, o líder político da Alemanha na época da Revolução Bolchevique foi um dos maiores patrocinadores bolcheviques.

Kaiser alemão patrocina o bolchevismo

Martin Gilbert afirma o seguinte sobre o apoio do governo alemão ao bolchevismo:
Os bolcheviques não esperavam que os Governos alemão e austríaco fossem ser simpáticos à sua causa revolucionária, mas os caciques políticos em Berlim e Viena estavam ansiosos para apoiar o avanço do bolchevismo na esperança, não tão improvável, de que os bolcheviques minassem o governo estável na Rússia e destruisse os poder de guerra do czar. Em 7 de janeiro [1915-RJG] um grupo bolchevique em Petrogrado distribuiu folhetos aos soldados, trabalhadores e camponeses, convidando-os a não pagar as suas rendas mensais em impostos. No mesmo dia em Constantinopla, um rico bolchevique, Alexander Helphand, aproximou-se do embaixador da Alemanha na Turquia com as seguintes palavras: 'Os interesses do Governo alemão são idênticos aos dos revolucionários russos. "... A conversa de Helphand marcou o início de um interesse crescente alemão para estimular a revolução na Rússia: um interesse que foi se intensificando pelo impasse no campo de batalha, e que encontra seu ponto culminante na facilitação do retorno de Lênin à Rússia, atravessando solo alemão. Dentro de três meses, o governo alemão deu dinheiro a um intermediário da Estônia para dar a Lenin, para encorajá-lo a exercer suas atividades antiguerra. Na verdade, ele não precisou de nenhum encorajamento.
Gilbert adiciona a nota de rodapé:
O montante pago a Lenin foi entre 200.000 e 250.000 marcos, algo que na época equivaleria a algo entre US $ 50.000 e 62.000 dólares. Quando os bolcheviques chegaram para pagar o empréstimo em 1923, a inflação do marco era tal que ele valia menos de US $ 1. [07]
Será que nossos "amigos" antissemitas culparão os alemães pelas origens do bolchevismo tão prontamente quanto culpam os judeus? Culpar um ou outro grupo , na minha opinião, é algo ridículo. Quero apenas apontar a hipocrisia de nossos "amigos" que, sem dúvida, continuam a culpar os judeus pela Revolução Bolchevique, bem como a exploração capitalista, o buraco de ozônio e a morte térmica do universo.

Stalin atinge os judeus

Examinar a questão de saber se Stalin era um judeu exterminador de cristãos, é bastante relevante para examinar como ele tratava os judeus.
Em nosso contexto, a evolução da União Soviética, especialmente depois de 1948 - o ano da morte misteriosa de Jdanov e o "caso de Leningrado" - são de maior importância. Pela primeira vez depois do Grande Expurgo, Stalin teve um grande número de altos funcionários executados, e sabemos com certeza que isso foi planejado como o início de outro expurgo nacional. Isto teria sido levado a cabo pela história do "complô dos médicos" se a morte de Stalin não tivesse intervido. Um grupo de maioria de médicos judeus foi acusado de ter planejado "acabar com os quadros dirigentes da URSS." [30] ... Além disso, o conteúdo absurdo da acusação contra os médicos, de que "eles matam as pessoas em posições de liderança em todo país", deve ter enchido de maus pressentimentos todos os que estavam familiarizados com o método de Stalin de acusar um inimigo fictício do crime que ele mesmo estava prestes a cometer. (O exemplo mais conhecido é, naturalmente, a acusação de que Tukhachevski conspirou com a Alemanha no momento em que Stalin estava contemplando uma aliança com os nazistas)...

O mais dramático novo elemento neste último expurgo, que Stalin planejou nos últimos anos de sua vida, foi uma mudança decisiva na ideologia, a introdução de uma conspiração judaica mundial. Durante anos, o terreno para esta mudança fora cuidadosamente colocado em uma série de julgamentos nos países satélites - o julgamento de Rajk na Hungria, o caso Ana Pauker na Romênia, e, em 1952, o julgamento de Slansky na Tchecoslováquia. Nessas medidas preparatórias, altos funcionários do partido foram escolhidos em virtude de suas "origens judaicas burguesas" e acusados de sionismo; essa acusação foi gradualmente alterada para implicar agências notoriamente não-sionistas (especialmente o Comitê Judaico Americano de Articulação de Distribuição), a fim de indicar que todos os judeus eram sionistas, e que todos os grupos sionistas eram "mercenários do imperialismo americano" 32. Não havia nada de novo no "crime" de sionismo, além da campanha que evoluiu e começou a mirar os judeus da União Soviética, outra mudança significativa aconteceu: os judeus agora eram acusados de "cosmopolitismo" ao invés de sionismo, e o padrão de acusações que se desenvolveram com este slogan estavam cada vez mais próximos do padrão nazista da conspiração judaica mundial oriunda do livro antissemita Os Protocolos dos Sábios de Sião. Agora ficava assustadoramente claro a impressão profunda que este pilar da ideologia nazista teve sobre Stalin - as primeiras indicações disto tinham ficado claras desde o pacto Hitler-Stalin - em parte, com certeza, devido ao valor como propaganda na Rússia como em todos os países satélites, onde o sentimento antijudaico foi generalizado e a propaganda antijudaica sempre gozava de grande popularidade, mas em parte também porque este tipo de conspiração mundial fictícia fornecia um fundo ideologicamente mais adequado para afirmações dos governo totalitários controlando o mundo do que Wall Street, o capitalismo, o imperialismo. A adoção aberta, sem vergonha do que tinha se tornado para o mundo inteiro o sinal mais importante do nazismo foi o último cumprimento que Stalin prestou ao seu falecido colega e rival no domínio total com quem, para sua decepção, ele não tinha sido capaz de chegar a um acordo duradouro. [08]
Assim, está claro que não apenas a alegação de que o bolchevismo foi uma conspiração judaica para cometer genocídio contra os cristãos é uma mentira, como o número de soviéticos culpados por assassinato em massa era em sua maioria antissemita e que poderiam ter tentado exterminar o que é dito sobre nosso "herói" dos nazi-apologistas, a aniquilação total do povo judeu na Europa.

The Bolshevik Canard
Web Version 1.2

Notas

[01] Green, Barbara B. The Dynamics of Russian Politics: A Brief History, Westport: Greenwood Press, 1994, pp. 39-40.

[02] Ibid., p. 38.

[03]Tucker, Robert C., "Stalinism as Revolution from Above," in Stalinism: Essays in Historical Interpretation, ed. Robert C. Tucker, New York: W. W. Norton, 1977, p. 83 as cited in Green Ibid.

[04] Minsky, Jacob, Article: 191161 of alt.revisionism,Subject: Re: I AM PROUD TO BE ON THE NIZKOR ENEMIES LIST,Message-ID: , Date: Mon, 14 Jul 1997 03:36:26 GMT

[05] Pipes, Richard, Russia Under the Bolshevik Regime, New York: Vintage Books, 1995, p. 113. ISBN 0-679-76184-5 as cited in Minsky, Ibid.

[06] Minsky, op. cit. Minsky also cites: Dmitri Volkogonov, Stalin: A Political Portrait, Volume 1, Moscow: Novosti, 1996, ISBN 4-7020-0025-0.

[07] Gilbert, Martin, The First World War: A Complete History, New York: Henry Holt and Company, 1994, p. 125.

[08] Arendt, Hannah, The Origins of Totalitarianism, New York: Harcourt & Brace, 1979 pp. xxxviii-xl. Her notes are as follows:
[30] Armstrong, op. cit., pp. 235 ff.
[32] Armstrong, op. cit., p. 236
[op. cit. refers to: Armstrong, John A. , The Politics of Totalitarianism: The Communist Party of the Soviet Union from 1934 to the Present, New York, 1961-my note-RJG]

Fonte: The Holocaust History Project
http://www.holocaust-history.org/bolshevik-canard/
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Hollande admite responsabilidade da França na deportação de judeus

François Hollande é o primeiro presidente socialista francês a quebrar o tabu da chamada “rafle du Vel d’Hiv”. O primeiro chefe de Estado francês a admitir a responsabilidade da França na deportação de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, foi o conservador Jacques Chirac, ao qual o socialista Hollande prestou homenagem.

A verdade é que este crime foi cometido em França, pela França. O grande mérito do presidente Chirac foi ter reconhecido, aqui, a 16 de julho de 1995, esta verdade”, afirmou François Hollande, que prosseguiu: “A República perseguirá, com a maior determinação, todos os atos, todas as palavras antissemitas que possam provocar nos judeus de França uma sensação de inquietação no seu próprio país.” Uma referência ao assassinato de três crianças judias e de um professor judeu por Mohamed Merah em março último, na cidade de Toulouse.

O presidente francês participava na cerimónia, em Paris, que relembra os 13.152 judeus deportados pela França há 70 anos.

A “rafle du Vel D’Hiv” ocorreu nos dias 16 e 17 de julho de 1942. Durante esses dois dias, as autoridades francesas perseguiram e detiveram 13.152 judeus, os quais, na sua maioria, ficaram retidos no Velódromo de Inverno (“Vel d’Hiv”) – posteriormente demolido, em 1959 – antes de serem enviados aos campos de extermínio nazistas. “Nenhum soldado alemão foi mobilizado” para essa operação realizada por policiais franceses, lembrou o presidente.

Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2012/07/22/hollande-admite-responsabilidade-da-franca-na-deportacao-de-judeus/

Ver mais:
Presidente da França honrou memória de milhares de judeus parisinos reprimidos (Voz da Rússia)
Hollande lembra participação francesa na deportação de judeus (RFI, Portugal)
Hollande assume responsabilidades francesas no Holocausto (Publico.pt, Portugal)
François Hollande admite responsabilidade de França no Holocausto (RTP, Portugal)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A direita e os imigrantes

NORUEGA
A direita e os imigrantes

O julgamento de Anders Behring Breivik, acusado de matar 73 pessoas por razões políticas, terminou em 22 de junho. Como a Noruega, país rico e famoso pela tranquilidade, foi cenário de tal violência? A militância de extrema direita de Breivik, contudo, reflete uma visão de mundo predominante na Europa
por Rémi Nilsen

Foto: Anders Behring Breivik, em 3 de maio, durante seu julgamento. Analistas acreditavam que massacre havia sido um ataque islâmico.

Na sexta-feira, 22 de julho de 2011, quando uma bomba devastou o bairro administrativo de Oslo, onde se situam a maior parte dos ministérios e a sede do governo, os analistas imediatamente pensaram que o terrorismo islamita internacional tinha atacado; na rua, imigrantes foram maltratados.1 Mas, quando se soube do massacre na ilha de Utøya, situada a uns 50 quilômetros dali, as opiniões começaram a ficar confusas: por que o terrorismo islamita internacional teria decidido exterminar dezenas de adolescentes do acampamento de verão da Liga dos Jovens Trabalhistas (AUF)? O assassino que a polícia prendeu no mesmo dia era um grande loiro de olhos azuis vindo dos belos bairros de Oslo: Anders Behring Breivik, antigo filiado ao Partido do Progresso (Fremskrittspartiet), agremiação populista de tendência de extrema direita. A Noruega ficou chocada.

Um ser humano capaz de matar crianças a sangue frio é por definição um psicopata. Aparentemente, Breivik tinha trabalhado sozinho – poderíamos ver nessa matança apenas uma grande notícia sensacionalista se ele não tivesse reivindicado um ato político, destinado a fazer entender que os “marxistas culturais” – quer dizer, toda a esquerda – estavam entregando a Europa aos muçulmanos. Seu “manifesto” de 1.500 páginas publicado na internet oferece ao corajoso leitor uma antologia de temas que estão longe de ser inéditos nos debates políticos noruegueses.

Conservadorismo cultural, defesa de valores cristãos, medo do desaparecimento da cultura e da identidade europeias por culpa de uma política migratória muito frouxa, islamofobia embalada em um discurso que ousa evocar os direitos humanos: muitas posições parecidas com as do Partido do Progresso.

“Uma nova cruzada”

Carl Ivar Hagen, antigo responsável por esse partido, declarou em 2004 que “os muçulmanos há muito tempo já indicaram claramente, assim como Hitler o fez, que seu objetivo a longo prazo era dominar o mundo”.

Durante a campanha para as eleições legislativas de 2009 – vencidas pela coalizão “vermelho-verde”,2 mas que viram o Partido do Progresso se tornar a segunda maior força política do país, com 22,9% dos votos −,3 sua atual presidente, Siv Jensen, lançou a teoria de uma “islamização insidiosa” do país. Em agosto de 2010, uma figura crescente do mesmo partido, Christian Tybring-Gjedde, acusou o Partido Trabalhista de “apunhalar a cultura norueguesa pelas costas”, enquanto o responsável pelas questões de imigração postava a seguinte mensagem no Twitter: “Temo que uma nova cruzada seja necessária”.

Três sites servem para o essencial das discussões desse movimento – um deles, o Right.no, recebe subsídios do Ministério das Relações Internacionais. Apresentam-se como “críticos” do Islã e se mostram abertamente pró-Israel, denunciando fortemente o antissemitismo. Um de seus principais colaboradores, que foi durante um tempo, segundo Breivik, seu inspirador, é o blogueiro Fjordman; por muito tempo anônimo, ele preferiu revelar sua identidade para não ser associado ao assassino.

Peder Jensen, seu verdadeiro nome, é um antigo estudante de árabe atualmente empregado como enfermeiro em um estabelecimento para deficientes mentais. Apoia Israel desde 2002, quando foi observador em Hebron de uma organização de direitos humanos que defendia os palestinos. Ele se baseia em teorias da conspiração difundidas por Bat Ye’or – nome artístico de Gisèle Littman Orebi, britânica de origem egípcia – em seu livro Eurabia:4 os dirigentes europeus teriam escolhido se aliar aos muçulmanos para trair a população branca em troca de garantias na aquisição de petróleo – uma velha fantasia que existe desde a crise petroleira de 1973.5

Classe média

A imigração “maciça” de populações cujas taxas de natalidade são supostamente muito elevadas seria o sinal desse acordo secreto. A Europa estaria, assim, em guerra, num sentido mais ou menos literal. É com essa ideologia que Fjordman e seus acólitos incitam à “resistência ativa”, fazendo abertamente referência à ocupação da Noruega pelos nazistas. “Não são, claramente, neonazistas clássicas essas pessoas que espancam muçulmanos nas ruas”, nota Thomas Hylland Eriksen, professor de Antropologia Social especialista em multiculturalismo. “Não se trata de desempregados do sexo masculino deixados na mão devido ao fechamento das fábricas. São pessoas de classe média inferior, que leram muito, mesmo que suas leituras tenham sido muito seletivas.”6

Há realmente um “problema de imigração” na Noruega? A política de abertura à mão de obra estrangeira foi encerrada em 1975. Eram os paquistaneses que acabavam de chegar, então, ao mercado de trabalho. Essa comunidade, primeira e segunda gerações, representa hoje o grupo mais importante vindo de um país fora da Europa, e a maioria das 90 mil pessoas de confissão muçulmana – lembremos que a Noruega é um Estado confessional, onde 86% dos 5 milhões de habitantes se definem como protestantes luteranos. Os que chegaram depois de 1975 são essencialmente cidadãos da União Europeia – Suécia, Polônia, França, Alemanha – empregados pela indústria ou refugiados e exilados submetidos a critérios de aceitação muito estritos.

Ainda que o desemprego seja mais elevado na população oriunda da imigração (7,7%, enquanto a média nacional é de 3,3%; na segunda geração, o desemprego é apenas 1% mais elevado do que para o conjunto dos jovens),7 esta é relativamente bem integrada. Segundo uma sondagem de 2010, 70% dos noruegueses “apreciavam a cultura dos imigrantes e sua participação na vida ativa, e pensavam que os trabalhadores imigrantes vindos de um país de fora da Escandinávia contribuíam positivamente para a economia norueguesa”.8

A Noruega parece então ter conseguido criar uma sociedade multicultural onde a integração não é um problema maior. Então, como explicar que a islamofobia tenha se tornado um elemento cada vez mais frequente no debate político?

O país – riquíssimo, principalmente graças ao petróleo e aos recursos marítimos – foi muito pouco atingido pela crise financeira e a crise da dívida. O Estado de bem-estar social continua reinando: não houve cortes drásticos nos gastos públicos (apesar de uma reorganização que conduziu ao fechamento de alguns estabelecimentos), e o país mantém sem dúvida a política social mais generosa do mundo. Há anos, a Noruega está em primeiro lugar na classificação estabelecida pelas Nações Unidas dos países onde as condições de vida são as melhores.

Neoliberalismo

No entanto, ela não foi poupada pelo neoliberalismo, conduzido pelo Partido Trabalhista: as desigualdades sociais e as diferenças salariais aumentaram muito ao longo dos últimos vinte anos. “Depois de 1990, a diferença salarial entre o 1% que ganha mais e a remuneração média aumentou muito mais rápido na Noruega do que no Reino Unido ou nos Estados Unidos”,9 segundo um relatório da empresa de marketing à esquerda Manifest. A parte de ativos financeiros brutos (depósitos bancários, ações etc.) detida pela classe média foi dividida por dois entre 1984 e 2008. Os salários dos mais ricos aumentaram muito, enquanto os dos assalariados caíram.

É nesse contexto que a imigração se tornou uma questão política central. Os neoliberais, sob a influência da empresa de marketing Civita, financiada por organizações patronais, se esforçaram para provar que o modelo nórdico de Estado de bem-estar social não era mais viável, a despeito de uma realidade cotidiana que mostrava que o sistema fiscal e o crescimento da produtividade sustentavam amplamente o modelo atual.

A prosperidade crescente do país, cujo PIB progrediu de forma ininterrupta desde 1998 – com exceção de um recuo em 2009 – e se classifica, por habitante, como o terceiro da Europa,10 permitiu ocultar o agravamento das desigualdades sociais. Isso deixa à direita populista o campo livre para recuperar as frustrações de um eleitorado que se sente maltratado – essencialmente a classe média, que, desde o começo dos anos 1990, está perdendo em relação aos mais ricos.

Segundo Eriksen, a direita radical islamofóbica norueguesa se compõe “de pessoas que têm a impressão de ter sido desclassificadas. Elas consideram que seu nível de vida estagnou; sentem-se marginalizadas e excluídas pela sociedade. Veem-se como uma força essencial da nação, mas não conseguem mais se identificar com esta, porque outra concepção da comunidade nacional se impôs: mais cosmopolita e igualitária, baseada antes na cidadania do que na aparência etnonacional”.

Além das fronteiras


A direita populista pretende precisamente se apropriar da “vontade popular”; para citar Ali Esbati, “dos que pertencem a uma elite em certos meios e não podem suportar ver que os que eles desprezam ocupam o terreno para se tornarem mais visíveis na sociedade. Eles odeiam o movimento operário, as organizações para a libertação das mulheres ou ainda as personalidades de meios culturais ou acadêmicos que se expressam em favor de outra ordem social”. Helge Luras, “especialista em terrorismo” do muito reputado Instituto Norueguês de Relações Internacionais (Nupi), confirmou isso numa rede de televisão russa (Russian Today, 22 de julho), afirmando que “os multiculturalistas carregam a responsabilidade do atentado, pois eles abafaram a vontade popular com sua política de imigração”.

No entanto, mesmo que uma violência excepcional como essa tenha acontecido na Noruega, a onda direitista não se limita à Escandinávia. Se acreditarmos em Esbati, é inclusive fora do contexto escandinavo que é preciso procurar a origem disso. “Em todo o mundo ocidental, ao longo dessas últimas décadas, as forças muito organizadas do capitalismo trabalharam contra a estagnação econômica através de uma exploração ainda mais dura e da recuperação de antigos bastiões do movimento operário, atacando de passagem os regimes de previdência, os serviços de saúde pública e o direito trabalhista. Essa situação degradada cria um ambiente social dividido segundo linhas étnicas e religiosas. Esses temas são recorrentes e transnacionais.”

Rémi Nilsen

Jornalista, é o responsável pela edição norueguesa do Le Monde Diplomatique

Ilustração: Pool News / Reuters

1 Dagsavisen, Oslo, 25 jul. 2011.
2 Partido Trabalhista, Partido Socialista de Esquerda – fundado nos anos 1970, contra a política pró-norte-americana dos trabalhistas – e Partido do Centro.
3 Nas últimas eleições, em setembro de 2011, ele teve apenas 11,5% dos votos.
4 Bat Ye’or, Eurabia. L’axe euro-arabe [Eurábia, o eixo euro-árabe], Edições Jean-Cyrille Godefroy, Paris, 2006.
5 Andreas Malm, Hatet mot muslimer [O ódio contra os muçulmanos], Atlas, Estocolmo, 2011.
6 Aftenposten, Oslo, 1º ago. 2011.
7 Dados do Escritório Nacional de Estatísticas (www.ssb.no).
8 “A imigração e os imigrantes 2010”, Escritório Nacional de Estatísticas.
9 “A nova Noruega. A concentração do poder econômico do período pós-1990”, Manifest, Oslo, 2011.
10 Atrás de Liechtenstein e Luxemburgo.

Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=1207

Observação: apesar do viés da publicação, isto não comprometeu o conteúdo da matéria. A matéria é relevante pois descreve como a visão do assassino da Noruega é bem compartilhada na Europa e fora dela. Não se trata de um "louco" e sim de um extremista que pôs em prática o que muita gente em vários países europeus (e não-europeus) pensam sobre imigrantes, racismo etc.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Hungria vê renascer um antissemitismo soterrado durante ditadura comunista

Budapeste - Entre antigas lideranças do regime nazista perdoadas, criminosos de guerra nazistas em liberdade e outros incidentes que refletem uma tolerância do governo conservador com a extrema direita, a Hungria ainda enfrenta um de seus velhos fantasmas, o antissemitismo.

Em Budapeste há 17 anos, Laszlo Csatary, chefe da polícia do gueto judeu da cidade eslovaca de Kosice (Kassa em húngaro, Kaschau em alemão) durante a Segunda Guerra Mundial, não havia sido perturbado até agora pelas autoridades, apesar das informações sobre seu passado apresentadas há dez meses pelo Centro Simon Wiesenthal, com sede em Jerusalém.

O Centro denuncia o papel de Laszlo Csatary, de 97 anos, na morte ou deportação de 15.700 judeus de Kosice.

A justiça húngara indicou em 16 de julho "problemas" na investigação iniciada em setembro de 2011, baseando-se em informações do Centro, principalmente por causa da distância temporal e geográfica dos fatos, assim como pela localização no exterior das testemunhas sobreviventes.

No ano passado, um tribunal de Budapeste absolveu "por falta de provas" o húngaro Sandor Kepiro, suspeito de crimes de guerra em 1942 na Sérvia, então anexada pela Hungria, aliada da Alemanha nazista. Kepiro morreu alguns meses depois, aos 97 anos de idade.

Renascimento de um "culto Horthy"

Nos últimos anos, a Hungria viu renascer um antissemitismo soterrado durante muito tempo sob a ditadura comunista, oculto por razões ideológicas para explorar a fibra do combate antifascista da Segunda Guerra Mundial.

Prova disso é o ressurgimento do "culto" a certas lideranças nazistas, principalmente ao aliado de Adolf Hitler, Miklos Horthy, regente que ficou no poder de 1920 a 1944, cujo nome foi recentemente atribuído a um parque e que tem sua imagem exibida em bustos e estátuas em localidades húngaras.

O escritor Joszef Nyirö, membro da direção do Partido Nazista da Cruz Flechada, foi homenageado durante uma recente cerimônia na presença do presidente do Parlamento, Laszlo Kövér, membro do partido no poder (Fidesz), e do primeiro-ministro conservador, Viktor Orban.

O renascer de um "culto Horthy", iniciado pelo partido de extrema direita Jobbik (16,71% nas eleições legislativas de 2010), mas apoiado por lideranças do Fidesz, coincide com uma multiplicação dos incidentes de caráter antissemita.

Em janeiro, o pianista húngaro Andras Schiff, que vive nos Estados Unidos, cancelou seus concertos na Hungria, depois de ter sido chamado de "judeu desgraçado" na internet.

Em março, o escritor húngaro de origem judaica Akos Kertész, de 80 anos, deixou a Hungria, pediu asilo político no Canadá e se queixou de ter sido ameaçado por simpatizantes da extrema direita e do governo conservador.

No início de maio, a Federação de Comunidades Judaicas da Hungria (Mazsihisz) denunciou a discriminação racial contra um ator húngaro, Joszef Szekhelyi, que havia sido marginalizado em um festival cultural por suas origens.

No início de junho, o Grã-Rabino Jozsef Schweitzer, de 90 anos, foi insultado na rua: "Ódio a todos os judeus", disse uma pessoa. O governo húngaro denunciou essa agressão verbal.

Fonte: FP (France Presse)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2012/07/17/interna_mundo,312501/hungria-ve-renascer-um-antissemitismo-soterrado-durante-ditadura-comunista.shtml

terça-feira, 17 de julho de 2012

França - Arquivos sobre o holocausto são exibidos pela 1º vez

Os perturbadores arquivos policiais sobre a maior deportação de judeus franceses durante Segunda Guerra Mundial estão sendo abertos ao público pela primeira vez, um raro retrato dos dias mais sombrios da colaboração da França com os nazistas.

A mostra, que começa nesta terça-feira, coincide com o 70º aniversário da batida policial em Paris que mandou mais de 13 mil judeus para o campo de extermínio de Auschwitz. Fotos, assinaturas e registros de bens pessoais de muitas vítimas entregues em 16 e 17 de julho de 1942 estão em exibição na prefeitura de Paris.

O presidente François Hollande vai fazer um discurso em memória à deportação no antigo velódromo de inverno, no domingo, o primeiro evento em lembrança do acontecimento em 17 anos. As informações são da Associated Press.

Fonte: AP
http://www.dgabc.com.br/News/5969375/arquivos-sobre-o-holocausto-sao-exibidos-pela-1-vez.aspx

Homenaje al holocausto de judíos franceses cerca de Paris (Televisa, México)

sábado, 14 de julho de 2012

Aparece degolado um juiz tcheco que condenou neonazis

O falecido enviou à prisão quatro extremistas que atacaram a casa de uma família cigana com bombas incendiárias
11.07.12 - 02:29 - PACO SOTO | VARSÓVIA.

A extrema-direita hostiliza
os ciganos tchecos. :: EFE
A Policía da República de Tcheca investiga a morte do juiz Miloslav Studnicka, que há dois anos condenou a penas de 20 e 22 anos de prisão a quatro neonazis que haviam atacado uma família cigana. O magistrado, de 64 anos, foi encontrado degolado em sua casa de campo na segunda-feira. Os investigadores não descartam nenhuma hipótese e buscam alguma relação direta entre aquela condenação, ou julgamentos contra o crime organizado dos quais participou o falecido, e sua morte.

Os quatro neonazis condenados por Studnicka foram acusados de haver atacado a casa de uma família cigana com bombas incendiárias, o que fez com que uma criança de dois anos ficassem gravemente ferida, com queimaduras em 80% do corpo e sequelas para toda a vida. Em declarações à emissora Rádio Praga, o ministro da Justiça, Pavel Blazek, ressaltou que "caso seja demonstrado que a morte do juiz está vinculada com o trabalho realizado e as sentenças ditadas, devo dizer que isto representaria uma tragédia para a justiça tcheca".

Alertados pelos companheiros de Miloslav Studnicka, porque este não retornou ao seu lugar de trabalho no Tribunal Provincial de Ostrava, a polícia e um grupo de socorristas se dirigiram à casa de campo do magistrado e o encontraram morto em seu interior, com o pescoço cortado e várias feridas visíveis em outras partes do corpo. A notícia do assassinato do juiz comoveu à sociedade tcheca, que vê com preocupação a ascensão da extrema-direita, sobretudo de grupos neonazis violentos.

No ano passado estouraram no norte da Boêmia violentos enfrentamentos entre grupos de cidadãos partidários da extrema-direita e membros da comunidade cigana. A polícia avisou há alguns meses que a extrema-direita tcheca, que está se fortalecendo através das redes sociais, participa de mobilizações contra os ciganos.

Homenagem boicotada

Por outra parte, uma homenagem oficial aos ciganos tchecos exterminados pelos nazis durante à Segunda Guerra Mundial, que ocorreu na segunda-feira na localidade onde fora levantado o campo de concentração de Lety (Boêmia do Sul), foi boicotado por várias associações defensoras desta coletividade. O protesto desencadeou a negativa do governo de centro-direita de Petr Necas a desmantelar uma pocilga industrial para cerdos que ocupa agora o lugar onde os nazis construíram a sinistra instalação.

A justificativa da falta de meios manifestada por Necas não convence o presidente do Comitê para Indenização do Holocausto Cigano e vice-presidente do Partido Cigano para a Igualdade de Oportunidades, Cenek Ruzicka. "Se o governo assegura que quer honrar à memória das vítimas, o primeiro que teria que ser feito é desmantelar a pocilga", resume.

As instalações industriais foram construídas nos anos 70 do século XX, durante o regime comunista tchecoslovaco, e desde então vários governos prometeram desmantelá-las. Em 2010 abriram no antigo emplazamiento do campo de concentração um lugar de oração e uma exposição permanente sobre o Holocausto. Em Lety morreram 90% dos 5.000 ciganos pegos pelos nazis.

Fonte: elcorreo.com (Espanha)
http://www.elcorreo.com/vizcaya/v/20120711/mundo/aparece-degollado-juez-checo-20120711.html
Tradução: Roberto Lucena

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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Campo de detenção para imigrantes marca ascensão de direita radical na Grécia

De socialistas à extrema direita, partidos gregos instrumentalizam xenofobia para vencer próximas eleições. Centro de detenção na periferia de Atenas comporta mil estrangeiros sem documentos.

A Grécia abriu nesta segunda-feira (30/04), na periferia da capital, seu primeiro campo de detenção especialmente construído para imigrantes sem permissão de residência. A inauguração transcorreu a uma semana das eleições nacionais, em cuja campanha a imigração tem emergido como fator central, em meio a recessão e endividamento crônicos.

Pesquisas de intenção de voto mostram que os extremistas de direita contam com o apoio de 5% do eleitorado grego. Isso lhes garantiria assentos no parlamento pela primeira vez. Os imigrantes têm sido alvo da campanha eleitoral dos radicais.

Como recurso para conquistar votos, o partido socialista PASOK, atualmente no poder, e seu rival conservador Nova Democracia também prometem combater a imigração. Numa manifestação em Atenas, nesta segunda-feira, o ministro da Proteção Civil, Miahlis Chrysohoidis, declarou: "Estamos enviando uma mensagem em todas as direções: o país não está mais desguarnecido".

Na semana anterior, o líder oposicionista conservador Antonis Samaras declarara que deteria o que chamou de "invasão desarmada" por parte de imigrantes sem permissão.

Moradores protestam: medo da criminalidade

Polícia grega torna dfícil
a vida dos estrangeiros
Segundo um porta-voz da polícia, o campo de detenção comporta até mil presos. Até o momento, várias dezenas de pessoas foram transferidas para o local e alojadas em contêineres originalmente destinados a abrigar vítimas de desastres naturais, como terremotos.

A unidade se situa em Amygdaleza, no limite norte de Atenas. Seus moradores realizaram uma série de protestos contra a inauguração, alegando que o campo contribuirá para aumentar a criminalidade no local. Segundo Panayiotis Anagnostopoulos, vice-prefeito de Acharnes, a 25 quilômetros da capital, as autoridades locais já apelaram para a Justiça, numa tentativa de sustar a inauguração do campo. "Espero que os tribunais ajam rapidamente", declarou.

Até meados de 2013, está planejada a construção no país de um total de 50 campos de detenção para imigrantes não legalizados.

Cercas e batidas

As autoridades gregas estão também erguendo uma cerca de arame ao longo de parte do Rio Evros, que faz fronteira com a Turquia e configura um importante ponto de ingresso dos imigrantes ilegais.

Nos últimos anos – desde a adoção de medidas de controle mais severas nas outras fronteiras no Mar Mediterrâneo – a Grécia se tornou o principal ponto de acesso à União Europeia para imigrantes sem papéis. A cada ano, cerca de 130 mil deles – 90% do volume total do bloco de 27 países – entram na UE através da Grécia.

Numa batida no início de abril, a polícia deteve milhares de chamados "imigrantes ilegais" que ocupavam prédios vazios em Atenas. As autoridades calculam que haja cerca de 1 milhão de imigrantes em meio à população da capital, de 11 milhões de pessoas. Atualmente estão sendo processados 30 mil requerimentos de asilo.

Extremistas em ascensão

Dezenas de pessoas já foram
transferidas para campos de detenção
Até pouco tempo atrás, o partido Aurora Dourada era relativamente obscuro. Nas eleições de 2009 ele conseguiu ínfimo 0,23% dos votos. Seus membros fazem saudações fascistas e preconizam responsabilizar os políticos pela crise econômica nacional, deportar os imigrantes e selar as fronteiras nacionais com minas terrestres.

Recentemente, Ilias Nicolacopoulos, professor de Ciência Política na Universidade de Atenas, advertiu para um avanço do Aurora Dourada nas pesquisas de opinião. Ele classifica o grupo como "a forma mais extrema da extrema direita".

Ketty Kehagioglou, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em Atenas, confirmou existir na Grécia "uma tendência alarmante de ataques racistas contra estrangeiros não pertencentes à UE". "Em épocas de instabilidade é sempre fácil procurar bodes expiatórios", declarou.

AV/afp/rtr/dapd/dpa
Revisão: Francis França

NOTÍCIAS / Política
União Europeia

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,15920422,00.html

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 03

As igrejas alemãs ante Hitler

A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).

Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].

A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].

Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].

No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].

As associações alemãs e o nazismo

Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.

Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.

Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].

Conclusões

Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.

Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].

A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.

Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.

O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].

Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.

Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].

Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].

Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.

Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.

Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.

Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.

NOTAS

[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.

[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.

[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.

[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.

[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.

[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.

[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.

[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.

[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.

[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.

[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.

[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.

[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.

[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.

[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.

[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.

[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.

[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.

[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.

[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.

[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.

[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.

[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.

[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).

[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.

[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.

[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.

[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.

Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena

Ver Parte 01 e Parte 02.

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