sábado, 14 de junho de 2008

Crise acelera avanço neonazista

Vitória eleitoral anima extrema direita alemã, que ganha terreno no cada vez mais empobrecido leste do país
ALEMANHA

Marcos Guterman

A história ensina que não é bom subestimar a capacidade dos nazistas de perceber oportunidades históricas. Assim como na década de 20 do século passado, a extrema direita alemã está aproveitando agora uma mistura explosiva de crise econômica e hesitação política dos partidos tradicionais para alimentar um projeto declarado de se tornar uma força nacional.

Os neonazistas alemães, cuja ação é bastante limitada pela legislação, parecem estar se sentindo bastante à vontade, sobretudo após um importante triunfo nas últimas eleições no Estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental - terra da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que classificou o resultado como ‘desagradável’.

O Partido Nacional Democrático (NPD, na sigla em alemão), nome fantasia da agremiação neonazista, obteve 7,5% dos votos na eleição, em setembro, dando-lhe direito a cinco cadeiras no Parlamento do Estado.

Com os votos ainda quentes nas urnas, algumas lideranças civis voltaram a pedir a proibição do NPD, mas o governo se disse contrário, sob o argumento de que o problema não era legal, e sim de mobilização da sociedade para esvaziar o discurso dos extremistas.

Analistas ouvidos pelo Estado concordam com essa avaliação. Todos coincidem no ponto segundo o qual os neonazistas crescem a reboque do desemprego, da desatenção do poder federal e de uma indiferença mais ou menos generalizada.

Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, que fica no antigo lado comunista da Alemanha, é o Estado mais pobre do país e, portanto, é o ecossistema ideal para o florescimento do extremismo de direita.

Um estudo divulgado na semana passada mostra o quanto cresceu a clientela preferencial dos neonazistas. Segundo a Fundação Friedrich Ebert , ligada ao Partido Social Democrata, há 6,5 milhões de alemães abaixo da linha de pobreza, que é de 938 euros. Essa massa ganha, em média, 424 euros por mês, e representa 8% da população.

O índice sobe para 20% no lado oriental da Alemanha, exatamente a base do crescimento neonazista. ‘O voto nos nazistas em 1930-33 e o voto nos neonazistas hoje são votos de protesto, e os políticos dos grandes partidos precisam trabalhar duro para remover as causas desse protesto’, afirma Richard J. Evans, especialista em história contemporânea alemã na Universidade de Cambridge (Reino Unido). ‘O melhor meio de lidar com o neonazismo é reduzir o desemprego nas regiões do leste da Alemanha, que são sua maior fonte de apoio.’ No entanto, para Robert Gelatelly, historiador da Universidade Estadual da Flórida (EUA) que editou o livro As Entrevistas de Nuremberg, o problema é ainda mais profundo. Segundo ele, sucessivos governos alemães têm se dedicado bastante a resolver a crise do leste, ‘mas 50 anos de desmandos comunistas provaram-se muito mais difíceis de superar do que se imaginava’.

Entre especialistas alemães, parece haver bem menos boa vontade em relação à reação de suas instituições quando confrontadas com o problema do neonazismo. Christian Gerlach, historiador da Universidade de Colúmbia (EUA), por exemplo, acha que há ‘leniência’ (ler na próxima página).

Uma parte do problema pode ser debitada na conta da própria democracia. Como se convencionou acreditar, Hitler subiu ao poder em 1933 por conta da confusa situação política após a Primeira Guerra Mundial. Agora, novamente, os defensores do nazismo encontram campo para crescer dentro de um regime democrático.

Mas há diferenças que o tempo tratou de estabelecer. ‘A Alemanha impôs limites a sua democracia desde a fundação da Alemanha Ocidental’, explica Max Paul Friedman, historiador da Universidade Estadual da Flórida. ‘Diferentemente dos EUA, onde quase todo tipo de manifestação é protegida por lei, na Alemanha o sujeito pode ser punido por negar o Holocausto, incitar ataques racistas e cometer outros crimes de expressão política radical.’ De fato, vários partidos políticos já foram banidos na Alemanha desde o fim da 2ª Guerra por defender o nazismo, e as expressões políticas desse movimento têm sido sistematicamente limitadas. Por outro lado, como adverte Richard Evans, ‘uma democracia deve respeitar o voto das minorias’, ainda que violentas. A ‘minoria’ que o NPD quer representar são os alemães que não querem nem ouvir falar em imigrantes. A plataforma do partido é simples: os imigrantes devem ser expulsos do país.

Com essa disposição, e uma enorme resiliência, o NPD agora pretende ser o guarda-chuva sob o qual os diversos grupos extremistas de direita no país podem se abrigar, no que eles têm chamado de ‘pacto pela Alemanha’. ‘O apelo dos grupos neonazistas desde os anos 70, e especialmente desde a reunificação, deixou de ser basicamente o antisemitismo e agora é a propaganda antiimigração’, afirma Max Friedman. ‘Durante as campanhas eleitorais é possível ver cartazes do NPD com fotos de famílias turcas carregando bagagens sob o slogan ´Tenham uma boa viagem para casa´ - uma maneira esperta de escapar das restrições à propaganda racista.’ O relativo sucesso do NPD neste momento reflete, portanto, a recorrência da questão da imigração como problema na Alemanha.

A perseguição ao imigrante, muitas vezes violenta, feita por grupamentos paramilitares a serviço do NPD, lembra os ataques aos judeus nos anos 20 e 30. Trata-se de uma ação que visa a destruir o sujeito desenraizado que surge como uma ameaça ao modo de vida alemão. A preocupação é saber até aonde os neonazistas conseguirão ir. ‘Eu não acho que os ´neo´ irão mais longe’, argumenta Robert Gellately. ‘Mas não é uma coisa boa que eles já tenham chegado tão longe.

Fonte: Estado de São Paulo(arquivo, 25.10.2006)
http://blog.controversia.com.br/2006/10/25/crise-acelera-avanco-neonazista/

Violência de neonazistas na Itália deixa um morto

Presos dois últimos neonazistas acusados de assassinato em Verona

A polícia italiana prendeu nesta terça-feira os últimos dois membros do grupo neonazista que no último dia 1º de maio espancou até a morte em Verona, noroeste do país, um jovem de 29 anos por este ter se negado a dar um cigarro.

Os dois rapazes, Federico Perini, de 20 anos, e Nicoló Veneri, de 19, foram presos no aeroporto de Bergamo, norte do país, após retornarem à Itália vindos de Londres.

Após a agressão, ambos haviam fugido no automóvel da mãe de um deles, dirigindo-se à Áustria.

De lá seguiram para a Alemanha e depois pegaram um avião com destino a Londres. Nessa última segunda-feira, os médicos do hospital de Verona certificaram a morte cerebral da vítima da agressão, Nicola Tommasoli, um desenhista industrial que ficou em coma após a surra recebida pelo grupo de ultradireita.

Os outros três integrantes do grupo presos entre o domingo e a segunda-feira são: Guglielmo Corsi, de 19 anos, Andrea Vesentini, de 20, e Raffaele Delle Donne, de 19.

Fonte: ANSA(06.05.2008)
http://www.comunitaitaliana.com/site/index.php?option=com_content&task=view&id=5363&Itemid=2&date=2008-07-01

Antropologia - neonazismo usa internet para propagar seus ideais

A intolerância e o ódio racial encontraram um potente meio para se propagar: a internet.

Uma pesquisa aponta o crescimento rápido de páginas virtuais destinadas à disseminação do racismo e do ideário de superioridade da ´raça ariana´: em 2002 elas eram cerca de 8 mil e em 2007 já totalizavam 12,6 mil. O estudo procurou identificar quem são os neonazistas, em que portais se encontram, como operam na internet e quais são os discursos que usam para validar suas visões.

A antropóloga Ana Dias, autora da pesquisa, afirma que um dos maiores desafios foi driblar os mecanismos que dificultam a identificação imediata do conteúdo das páginas racistas. Segundo ela, em geral, essas páginas são muito densas tanto em hipertextualidade quanto em multimídias (ícones, vídeos e imagens ocupam dezenas de bytes), dificultando sua localização por mecanismos de busca.

Os dados mostram que há, no Brasil, mais de 150 mil simpatizantes de movimentos neonazistas, racistas e revisionistas, sendo que cerca de 100 mil são ativistas.

- Não são adolescentes que se juntam a um movimento por diversão. Trata-se de um grupo de pessoas que acredita em suas idéias e está disposto a pô-las em prática.

Discursos distorcidos

Segundo Dias, há dois discursos que sustentam as idéias desses grupos: o genômico, que se baseia na premissa de que a ´raça ariana´ possui genes superiores e foi escolhida por Deus para promover o desenvolvimento da raça humana; e o discurso mitológico, que cria mitos e se apropria de outros para construir o ideário ariano.

Um dos mitos mais fortes é o do sangue ariano, que seria responsável pela conexão transcendental existente entre os arianos. Para esse grupo, se esse sangue permanecer puro, ou seja, se não houver mistura de raças, a raça ariana evoluirá e se tornará eterna.

A pesquisadora cita exemplos como o da página norte-americana National Alliance, na qual está expressa a preocupação de seus integrantes com a formação de líderes que sejam capazes de lutar pelos ´direitos´ dos brancos. Já na página do grupo brasileiro Valhalla88 aparecem o ódio ao negro e ao judeu e a recusa a mistura inter-racial.

Graças à denuncia feita pela antropóloga e por outros internautas ao Ministério Público, essa página foi retirada do ar.

Fonte: Jornal do Brasil(clipping do site da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão/Procuradoria Geral da República)
http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/marco/antropologia-neonazismo-usa-internet-para-propagar-seus-ideais/

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Site oferece ajuda a familiares de neonazistas alemães

Além de ajuda via internet, outra organização oferece ajuda pelo telefone.
Da BBC


Reprodução/BBC
Imagem do site apoiado pelo governo da Alemanha (Foto: Reprodução/BBC)

Pais e familiares de jovens neonazistas alemães podem obter ajuda e aconselhamento através de um novo portal na internet. O site da associação "Contra o esquecimento - pela democracia", que se dedica ao combate do neonazismo, é apoiado pelo governo da Alemanha e oferece ajuda anônima a familiares de jovens com tendências radicais.

Três especialistas aconselham os familiares através de correspondência via e-mail ou na sala de bate-papo da página da associação na internet.

Segundo a vice-diretora da associação, Cornelia Schmalz-Jacobsen, o site quer ajudar também colegas, amigos e professores de jovens neonazistas, que são mais facilmente "seduzidos" pelo movimento radical de direita.

"Muitas vezes essas pessoas se sentem isoladas e não sabem a quem pedir ajuda", disse Schmalz-Jacobsen. "Nós queremos apoiá-los."

No site da associação essas pessoas também podem conversar entre si e contatar quem teve experiências similares à sua.

Pelo telefone

Mas o site não é a única fonte de ajuda para quem tem um jovem neonazista na família ou no seu círculo de conhecidos. Desde março deste ano uma outra associação oferece aconselhamento por telefone em toda a Alemanha.

A associação "Exit" (saída em inglês) também quer ajudar pais de neonazistas a tirarem seus filhos da influência de organizações de extrema direita.

Além da hotline telefônica, familiares recebem aconselhamento personalizado e podem contatar pessoas que conseguiram abandonar o neonazismo.

Segundo novas estatísticas do governo alemão, o número de atos violentos cometidos por neonazistas alcançou um novo recorde em março deste ano, quando foram registrados mais de 1,3 mil delitos.

O número total de delitos de extremistas de direita no primeiro trimestre de 2008 chegou a 3364, um crescimento de 737 atos violentos em relação ao mesmo período de 2007.

Fonte: Globo/BBC(26/05/2008)
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL535705-5602,00.html

terça-feira, 10 de junho de 2008

Neonazistas desfiguram rosto de PM em São Paulo a pancadas

Vinte gangues são investigadas por crimes de intolerância em SP.

Vinte gangues que agem contra negros, nordestinos e homossexuais na Grande São Paulo são investigadas pela Delegacia de Crimes Raciais e de Intolerância.

No Centro da capital, jovens de classe média foram detidos na Rua Augusta por agredir um policial militar. A via ficou manchada de sangue.

Era madrugada de domingo (8), quando cinco rapazes xingaram e agrediram um jovem negro de 22 anos que caminhava com uma amiga. A moça correu para pedir ajuda. O PM, que estava à paisana, tentou evitar a agressão mas acabou sendo espancado. O rapaz negro conseguiu fugir durante a confusão.

Segundo testemunhas, um dos integrantes da gangue pulou sobre a cabeça da vítima. O policial levou golpes de cano e soco inglês, além de chutes de coturnos com bicos de aço.

A brutalidade só terminou com a chegada da polícia. Ainda assim, os agressores não se intimidaram. “Na hora em que os policiais foram efetuar a prisão, eles, parecendo gangue de rua mesmo, chamaram os policiais para a briga, enfrentaram os policiais”, conta a tenente Jaqueline Paiva.

O PM foi socorrido pelos próprios colegas. “Eu o conhecia, ele trabalhou comigo há algum tempo, e ele estava com o rosto completamente desfigurado. Na hora em que encontrei com ele, não o reconheci no momento”, relatou a tenente. O PM precisou passar por uma cirurgia plástica.

Reportagem no Bom Dia Brasil:


Prisão

Três agressores foram presos. Dois deles são irmãos e moram com a mãe, viúva, em um prédio de classe média da Zona Sul da cidade. Pelo interfone, ela disse não saber que os filhos faziam parte de uma gangue ou que portassem objetos como um soco inglês. “Não senhor, de jeito nenhum. Inclusive dizem que eles estavam com isso, com aquilo. Eles não estão nem com mochila porque mochila é quando eles vão para a faculdade”, afirmou a mãe.

Os três presos são operadores de telemarketing e vão responder por injúria, lesão corporal e tentativa de homicídio. Eles devem ser transferidos para um Centro de Detenção Provisória (CDP) nesta segunda-feira (9).

Celulares

Segundo a polícia, na agenda do celular de um deles, o nome do outro aparece seguido das letras “ns”, que seriam as iniciais de “Nacional Socialista”, o partido nazista alemão.

“Nos celulares dele, ainda para confirmar as características deles, algumas mensagens, sou skin, fotos com punhal, soco inglês. Eles de coturno, coisas que comprovam que eles são realmente skinheads”, afirmou a tenente Jacqueline.

Mais um caso

Na mesma madrugada em que o policial foi agredido, um rapaz de 21 anos foi morto a facadas, também na Rua Augusta. A polícia não descarta o envolvimento de skinheads na morte do rapaz.

Os casos de violência deixam inseguros os freqüentadores da região. “Precisamos de uma idéia de segurança maior”, afirmou o arquiteto Breno Miguel. “A gente não sabe aonde pode andar”, disse uma mulher que prefere não se identificar.

Fonte: G1
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL593955-5605,00.html

Link do vídeo: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM838812-7823-POLICIAL+MILITAR+E+ESPANCADO+POR+JOVENS+DE+CLASSE+MEDIA+EM+SAO+PAULO,00.html

Observação importante não comentava e divulgada na entrevista e matéria(serve como alerta): a negação do Holocausto, vulgo "revisionismo" do Holocausto(entre aspas, por não se tratar de História e sim de propaganda ideológica), é divulgada principalmente por grupos de extrema-direita(neonazistas e afins, e outros grupos extremistas diversos), no Brasil e no mundo. Esperamos que não haja impunidade neste caso para com os culpados deste crime bárbaro que choca a sociedade brasileira mais uma vez com o terrorismo promovido por esses bandos de bárbaros.

Neonazistas atacam pessoas brutalmente em São Paulo

'Poder letal das gangues é muito grande'

A delegada Margarette Correia Barreto, titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerâcia (Decradi), diz que o poder letal das gangues intolerantes que agem na região central de São Paulo é muito grande.

Em entrevista ao G1, ela comentou as características dessas pessoas que se reúnem para agredir negros, judeus e homossexuais.

O caso mais recente foi registrado na madrugada deste domingo (8) na Rua Augusta, no Centro de ã Paulo. Um policial militar foi agredido ao tentar defender um rapaz negro que era atacado por um grupo de supostos skinheads. O PM levou golpes de cano e soco inglês, além de chutes e pontapés, e teve ferimentos graves no rosto.

São grupos intolerantes que pregam a exclusão de determinadas pessoas do grupo social. Alguns perseguem negros, judeus ou homossexuais. Basicamente, eles pregam a supremacia racial de algumas etnias sobre outras e o extermínio de algumas pessoas que eles discordam de comportamentos ou procedência, explicou a delegada.

De acordo com Margarette, o Decradi investiga de 20 a 25 gangues de intolerantes em São Paulo. A delegacia faz o cadastramento dos grupos para que, quando ocorrer um crime de intolerância, as pessoas envolvidas sejam rapidamente identificadas. “O que eles têm em comum é essa cultura de intolerância, de perseguição, mas são jovens de todas as classes sociais”, disse. Confira alguns pontos da entrevista:

Crime na região central

A delegada confirma que o maior número de casos ocorre na região central de São Paulo. “Essas regiões são freqüentadas pelos grupos intolerantes e, também, por pessoas da diversidade. Então, quando eles encontram um negro, um judeu ou um homossexual nesses locais acabam fazendo os ataques. Pelo levantamento, é na região central e na Avenida Paulista o maior foco”, afirmou.

Roupas e prevenção

Margarette Barreto diz que os crimes de intolerância são de difícil prevenção. “Algumas vezes eles estão trajando as vestimentas do grupo intolerante. Outras, não. Então é complicado se fazer prevenção porque, quando eles não querem ser percebidos pela polícia, eles andam como pessoas comuns. Nessa ocorrência de domingo, algumas pessoas estavam trajando a roupa própria e outras, não.”

Os grupos se vestem com roupas parecidas e alguns instrumentos. “Eles usam coturno com biqueira de aço, alguns usam algumas camisetas com dizeres skinheads ou hooligans. Mas isso depende da gangue que ele faz parte”, afirmou.

Participação dos pais

A delegada Margarette Barreto concede entrevista ao SPTV (Foto: Reprodução/TV Globo)Muitos pais não percebem que o filho faz parte de uma gangue, de acordo com Margarette. “Quando o filho sai de casa com uma roupa diferente, eles acham que é o modismo, não acreditam que o filho está fazendo parte de uma gangue de intolerantes. Os pais devem observar os filhos para que isso não aconteça”, disse.

A delegada também contou o caminho dos jovens para ser aceito nesses grupos. “Primeiro, ele começa a se vestir com as roupas da gangue, começa a sair em alguns passeios. Depois, para o batismo, ele tem que cometer um ato de intolerância. Ou ele é submetido a lesões corporais pelo grupo para ver se ele agüenta apanhar, ou ele tem que cometer um ato de intolerância contra um dos segmentos que aquela gangue odeia.”

Importância das denúncias

A delegada diz que essas gangues são muito violentas e a polícia conta com a denúncia da população contra os grupos. “Eles promovem ataques com muita lesão às pessoas envolvidas. Geralmente, ocasionam a morte ou lesão corporal grave nas pessoas. Eles concentram os golpes, o coturno com biqueira de aço é uma arma, eles usam soco inglês e barra de ferro. Então, o poder letal dessas gangues é muito grande.”

As denúncias podem ser feitas pelo 181, o Disque-Denúncia, ou pelo telefone do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde funciona a Decradi: 3315-0151. A testemunha não precisa se identificar.

Fonte: G1
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL594398-5605,00-PODER+LETAL+DAS+GANGUES+E+MUITO+GRANDE+DIZ+DELEGADA.html

Observação importante não comentava e divulgada na entrevista e matéria(serve como alerta): a negação do Holocausto, vulgo "revisionismo" do Holocausto(entre aspas, por não se tratar de História e sim de propaganda ideológica), é divulgada principalmente por grupos de extrema-direita(neonazistas e afins, e outros grupos extremistas diversos), no Brasil e no mundo. Esperamos que não haja impunidade neste caso para com os culpados deste crime bárbaro que choca a sociedade brasileira mais uma vez com o terrorismo promovido por esses bandos de bárbaros.

sábado, 7 de junho de 2008

Holocausto na Letônia - Rumbula (Frîda Michelson)

Esta tradução se refere ao Capítulo 8 do livro The Holocaust in Latvia, 1941-1944: The Missing Center do Historiador letão Andrew Ezergailis.


Traduzido por Leo Gott à partir do link:
http://www.rumbula.org/remembering_rumbula.shtml


Frîda Michelson





Frîda Michelson era uma modista, com boas relações na comunidade de Rîga, que conhecia muito bem a Letônia e falava o letão sem sotaque. Ela obedeceu a ordem para entrar no gueto e ficou no apartamento da Rua Ludzas No. 37, onde ela vivia com sua amiga Sonja Bobrov. Ela viu a evacuação da parte oriental do gueto, e se voluntariou como costureira, conforme vimos. Na manhã de 8 de Dezembro, ela se dirigiu para fora do gueto em uma das primeiras colunas. Ela não trabalhou nesse dia, e viu muito tráfego nas ruas. Na Rua Maskavas no início da claridade; bondes e pedestres começaram a aparecer.






Nossa coluna começou a verter para dentro da floresta. Na entrada uma enorme caixa de madeira estava de pé. Um homem da SS estava próximo a ela e ficava gritando vez ou outra: “Deixam todos os objetos de valor e dinheiro nesta caixa.”…Nós obecemos. Um pouco mais adiante um policial letão ordenou: “Tire o seu casaco e jogue-o em cima dos demais” Existia uma montanha de sobretudos. Meu cérebro estava trabalhando febrilmente. O instinto de sobrevivência estava me detendo. Não importava o quão era pequena, como a chance era precária, eu estava preparada a tomá-la. Eu saí da linha e corri para o policial “Olhe, eu sou uma costureira especialista.” Eu mostrei a ele meu documento e vários diplomas. “Eu posso trazer muitos benefícios para as pessoas. Olhe meus papéis.” “Vá mostrar seus diplomas para Stalin!” o policial gritou, e bateu com seu punho na minha mão. Meus papéis voaram em todas as direções — meus preciosos documentos — o passaporte, diplomas, Ausweise. Eu retirei meu sobretudo e joguei por cima dos demais. A condução dos policiais era ainda mais dura. O tiroteio, tiroteio ininterrupto, tornou-se mais alto. Nós estávamos próximos do fim. Um medo indescritível me deteve, um medo que beirava a perda de memória. Eu comecei a gritar histericamente, arrancando meus cabelos, o som dos tiros me sufocavam “Åtråk! Åtråk!” “Retire suas roupas! Fique somente de roupas íntimas.” Outra montanha de roupas. Eu tinha uma camisola branca por cima do vestido e três camadas de roupas interiores. Eu caí por baixo das roupas e tentei me esconder. Logo, senti uma forte dor do chicote nas minhas costas “Levante-se imediatamente e tire suas roupas.” “Eu já estou despida,” Eu respondi chorando. “Eu estou somente com uma camisola.” “Então vá e sem jogos!” Eu fui. Continuei gritando e arrancando meus cabelos. Um policial me parou e gritou obscenidades — por que ainda não se despiu? No mesmo momento outra mulher correu para o policial: “Meu marido é letão, veja lá, os policiais conhecem muito bem o meu marido. Eu não deveria morrer como os demais.” Usei este momento, enquanto a atenção do policial era distraída pela mulher, Lancei-me com o rosto na neve e fiz-me de morta. As pessoas passavam por mim, alguns me pisoteavam — Eu não mexia. Umpouco mais tarde ouvi muitas vozes em letão: “Olhe, tem alguém aqui no chão.” … Eu continuei ali como uma pedra. Então eu ouvi as vozes dos policiais: “Åtråk! Åtråk!”… Eu não estava em plena consciência. Uma mulher passou por mim se lamentando, “Ai, ai, ai … ” Alguns objetos atingiam as minhas costas. Mais objetos caíam sobre mim. Por fim, percebi que eram sapatos, pois caíam aos pares. Eu estava coberta de sapatos, galochas, botas de feltro. A carga era pesada, mas eu não me atrevia a mover um músculo. … Muitos, muitos outros sapatos caíam sobre mim. Eu podia ouvir as pessoas chorando amargamente, separando-se entre elas — e passar, passar, passar.… Finalmente os gritos e gemidos pararam, o tiroteio parou. Eu podia ouvir pás trabalhando não muito distante dali. Provavelmente cobrindo os corpos. Eu ouvi vozes russas… Uma montanha de calçados me pressionou. Meu corpo estava frio e imóvel. Entretanto, eu estava em plena consciência. A neve derretia à partir do calor do meu corpo. Eu estava deitada em uma poca d’água — água fria.… Silêncio por um tempo. Então, na direção das valas, uma criança chorou: “Mama! Mamaaa!” Alguns tiros. Silêncio. Assassinada.


Frîda Michelson rastejou por baixo dos sapatos. Ela encontrou algumas roupas na pilha, conseguiu algumas luvas e cachecóis e caminhou para fora da floresta de pinheiros de Rumbula. Ela teve sorte: alguns se aproximaram dela para ajudar, mas ninguém lhe traiu. Por fim, foi sua própria vontade de viver que a manteve viva, sua habilidade em costuras, seus conhecimentos na Letônia não permitiriam sua sobrevivivência. Ela foi libertada pelo Exército Vermelho em 1944, casou-se com um sobrevivente do gueto, teve dois filhos, que foram perseguidos pela KGB. Seu marido Mordekhai Michelson foi enviado para a Siberia. Em 1971 ela emigrou para Israel, onde ela morreu.
Figuras: Capa do Livro de Frîda Michelson e Rumbula

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A mezuzá nos pés da Madona - a fantástica história dos gêmeos Samuel e Joel

Os irmãos Sequerra

A fantástica história dos gêmeos Samuel e Joel

Nelson Menda, presidente do Conselho Sefaradi

No dia 24 de agosto de 1913, nasciam na cidade litorânea do Faro, no Algarve, sul de Portugal, os irmãos gêmeos Samuel e Joel Sequerra, filhos de um próspero empresário do ramo pesqueiro. Seu pai comandava com pulso firme uma frota de barcos especializados na captura de sardinhas, que eram enlatadas na unidade fabril da própria família. Os Sequerra tinha chegado ao Algarve no século XIX, provenientes da Inglaterra, e se orgulhavam do seu passado judaico-português. Duzentos anos antes do retorno, um Sequeira havia sido queimado pela inquisição em Portugal e seus três filhos tiveram de se refugiar na Inglaterra, passando a utilizar o sobrenome Sequerra. Em 1928, uma tragédia se abateu sobre a família. O pai de Samuel e Joel sofreu um grave acidente ferroviário em Portugal, vindo a falecer pouco tempo depois. Com a morte do patriarca, e tendo de enfrentar a crise mundial de 1929, a empresa dos Sequerra foi à falência.

Em 1933, a viúva mudou-se para Lisboa com seus cinco filhos: Semtob, o mais velho, os gêmeos Samuel e Joel, então com 20 anos, Mazal, a única mulher e Jacob, o caçula. Quem me relatou esses fatos foi o Salomão Sequerra, um experiente consultor de Informática, sentado em uma confortável poltrona na sala de seu apartamento no Leme, Rio de Janeiro, em março deste ano. Salomão é um homem tranqüilo de fala pausada que ainda conserva um forte sotaque português. Nasceu em Lisboa em 1943 e mudou-se com os pais e os irmãos para o Brasil em 1958, aos 15 anos de idade. Ele é filho de Joel e sobrinho de Samuel, dois heróis anônimos do século XX que ajudaram a salvar um número significativo de refugiados do nazismo, judeus e não judeus. É uma história comovente que somente agora, em pleno século XXI, exatos 60 anos depois, começa a ser revelada.

"A Espanha representou, durante os anos sombrios da II Grande Guerra, uma tábua de salvação para os fugitivos do ódio nazista"

Tudo começou em Barcelona, capital da Catalunha, Espanha, em 1942. Era uma época conturbada em todo o território europeu, com a expansão militar da Alemanha nazista, que àquela altura já tinha invadido e ocupado a Áustria, Polônia, Tcheco-Eslováquia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica, Romênia, Bulgária, Iugoslávia, Grécia e, especialmente, a França, país limítrofe à Espanha. Legiões de refugiados vagavam de um país ocupado para o outro, em busca desesperada da única rota possível de fuga: a fronteira franco-espanhola.

A travessia dos Pirineus, a pé, levava alguns dias e era realizada sob as piores condições climáticas possíveis, debaixo de frio, vento e neve. Os refugiados, além disso, precisavam driblar a vigilância da polícia francesa de fronteiras, que colaborava abertamente com a gestapo na caça aos fugitivos judeus, sem falar nos ladrões e contrabandistas que perambulavam pela região em busca de dinheiro fácil. A Espanha não havia sido invadida pelas tropas de Hitler porque era considerada uma aliada fiel do regime nazista.

O país saíra, há poucos anos, de uma sangrenta insurreição armada que representara, na verdade, uma avant-première da II Guerra Mundial. O generalíssimo Franco tinha sido o vitorioso, com o apoio financeiro, militar e ideológico da Alemanha. Barcelona, importante reduto republicano e anti-fascista, foi uma das cidades mais castigadas pelas falanges franquistas. O dialeto catalão estava proibido e até mesmo a sardana, dança folclórica tradicional, era considerada subversiva e punida com prisão. Apesar de toda a simpatia e gratidão que Franco nutria por Adolf Hitler, a Espanha representou, durante os anos sombrios da II Grande Guerra, uma tábua de salvação para os fugitivos do ódio nazista. O governo espanhol fazia vista grossa para os refugiados judeus que entravam no país, recusando-se a devolvê-los à polícia francesa ou à gestapo.

Os irmãos Sequerra desempenharam um importante papel na criação desse ambiente favorável junto às autoridades espanholas, o que permitiu a salvação de um expressivo número de homens, mulheres e crianças. Samuel e Joel portavam credenciais de voluntários da Cruz Vermelha Portuguesa e eram também funcionários da JOINT, a American Jewish Joint Distribution Committee, uma entidade de assistência aos refugiados mantida por particulares e que havia sido fundada em 1914 pelo filantropo norte-americano Jacob Schiff.

Assim que desembarcaram em Barcelona, vindos de Lisboa, os dois irmãos se hospedaram no Hotel Bristol, em plena Plaza de la Cataluña, que se transformou, em muito pouco tempo, no ponto de encontro dos refugiados que conseguiam chegar à cidade. Samuel tinha se graduado em Economia e era um diplomata nato, com enorme capacidade de relacionamento. Sua missão era contatar e fazer amizade com ministros, embaixadores, cônsules, chefes de polícia, superintendentes penitenciários e até mesmo diretores de hospitais. Joel, um assistente social na completa acepção da palavra, executava o trabalho de bastidores, percorrendo com seu carro os postos de fronteira, as prisões, as delegacias de polícia e os diversos campos de prisioneiros onde pudesse encontrar e socorrer fugitivos da barbárie nazista.

"De 1942 a 1945 Samuel e Joel conseguiram salvar aproximadamente 1.000 pessoas, entre as quais o Barão de Rothschild"

Os dois trabalhavam em total sintonia e contavam com o apoio de um eficiente grupo de voluntários que tinham ajudado a organizar. Uma vez localizado um refugiado, era preciso retirá-lo da prisão e encontrar uma residência digna, roupas, alimentos, um emprego e, mais importante do que tudo, documentos e vistos para que pudesse sair do país em segurança.

De 1942 a 1945 Samuel e Joel conseguiram salvar aproximadamente 1.000 pessoas, entre as quais o Barão de Rothschild, que, no impressionante relato da escritora Trudy Alexi no livro "A Mezuzá nos Pés da Madona" editado no Brasil pela Imago, "chegou com as roupas esfarrapadas, depois de cruzar os Pirineus andando junto com a família".

Trudy, na época uma adolescente, conseguiu fugir do inferno hitlerista pela escarpada fronteira franco-espanhola na companhia de seus pais e um irmão, tendo se radicado, posteriormente, nos EUA. A escritora dedicou parte de sua vida a entrevistar sobreviventes do Holocausto que, como sua própria família, haviam utilizado a rota Pirineus-Barcelona para alcançar a liberdade. É ela quem menciona, pela primeira vez, o nome Seguerra, assim mesmo, com g, citado 14 vezes em sua obra. Um outro livro, de autoria do escritor Haim Avni, publicado em hebraico e inglês, Spain, the Jews, and Franco, também se refere ao trabalho heróico dos dois irmãos.

Cada refugiado necessitava de uma atenção específica, pois não havia dois casos iguais. Para os homens solteiros, a salvação estava, muitas vezes, nas "noivas" portuguesas e espanholas que os irmãos Sequerra, com ajuda da coletividade, tratavam de arranjar. Como "maridos", tinham o direito de conseguir os documentos necessários para a sonhada viagem do casal à América, destino preferido da maioria dos perseguidos. Muitos desses casamentos fictícios, por estranho que possa parecer, redundaram em uniões reais e duradouras. Para outros, a solução era menos complicada.

Bastava ir à respectiva legação diplomática e conseguir passaportes e vistos para um país que os aceitasse. Com a progressão da guerra, contudo, e a política dúbia de muitas nações, estava ficando cada dia mais difícil obter esses documentos, especialmente para os judeus poloneses, que não eram reconhecidos como cidadãos pelo consulado do seu país.

Em alguns casos, quando havia risco iminente de deportação, o refugiado era internado às pressas em um hospital, onde um cirurgião amigo constatava a necessidade urgente de uma cirurgia para retirada do apêndice. Extirpava-se, na maioria das vezes, um órgão saudável, mas em contrapartida salvava-se uma vida.

Quando se esgotavam as possibilidades de conseguir passaportes e salvo-condutos em território espanhol, os Sequerra encaminhavam os refugiados para Portugal, país que também ajudou muitos judeus a escapar do inferno nazista. Em Lisboa, a comunidade judaica havia montado uma estrutura para prestar-lhes auxílio médico e financeiro, além de assistência para a obtenção de passaporte português e um providencial visto para uma terra que os acolhesse. Além dos Estados Unidos, Marrocos, no norte da África, Cuba, México e Bolívia foram alguns dos poucos países que aceitaram receber refugiados, em um período em que as portas se fechavam para os judeus.

Essa intensa atividade dos irmãos Sequerra em Barcelona não passou despercebida da Gestapo, que mantinha numerosos agentes na cidade. O escritório da Joint já havia sido transferido do Hotel Bristol para uma sede maior, no Paseo de Grácia. Uma noite, Samuel e Joel foram salvos pela própria dedicação ao trabalho.

Com excesso de tarefas, tiveram de fazer serão, tendo sido surpreendidos pelo ruído de uma violenta explosão, que destruiu completamente seu carro, estacionado nas proximidades. Tivessem saído na hora habitual, provavelmente teriam sido mortos pela bomba-relógio que os nazis colocaram sob o veículo.

A esse atentado seguiram-se outros dois, mas Samuel e Joel não esmoreceram e levaram a cabo sua meritória atividade até que tivessem retirado do território espanhol todos os refugiados que assim o desejassem. Alguns decidiram, com o fim da guerra, permanecer na Espanha, dando origem a uma florescente comunidade judaica.

Samuel e Joel continuaram suas atividades comunitárias em Portugal, mudando-se para o Brasil nos final dos anos 50. Samuel, solteiro, foi para a iniciativa privada, sendo eleito e reeleito Presidente do Cemitério Comunal Israelita, no Rio, cargo que exerceu com enorme competência e dedicação até sua morte, em 1992.

Bem à entrada dessa necrópole, no bairro do Caju, uma placa em bronze presta uma merecida homenagem ao herói anônimo que nunca aceitou, em vida, qualquer tipo de honraria e que se encontra sepultado na própria entidade que dirigiu com extremo zelo.

Seu irmão Joel, que veio com a esposa e os quatro filhos para o Rio de Janeiro em 1958, continuou desenvolvendo seu trabalho em entidades de auxílio aos refugiados, participando de projetos em prol dos judeus da Hungria, Egito, Romênia e Bulgária. Depois dessas campanhas, Joel atuou de forma decidida na colocação de bônus de Israel junto à coletividade judaica no Brasil, papéis destinados a financiar o desenvolvimento econômico daquele país.

Em 1979, aos 66 anos, Joel Sequerra se aposentou, transferindo-se para Haifa com a esposa Simy. Naquela aprazível cidade israelense já vivia, há vários anos, seu filho Arão, um brilhante arquiteto com Mestrado e Doutorado no Technion. Arão precisava de alguém com coragem suficiente para enfrentar o caótico trânsito israelense e transportar em segurança até a escola seus filhos pequenos e ninguém melhor do que o vovô Joel para tão arriscada tarefa.

Depois de ter ajudado a salvar a vida de milhares de refugiados judeus nas perigosas estradas da fronteira espanhola, Joel Sequerra curtiu seus últimos anos como motorista particular dos seus dois netos, vindo a falecer em Haifa, onde está enterrado, aos 74 anos, em 1988.

Além do internauta Salomão, que me relatou, emocionado, a maior parte dessa comovente história e do arquiteto Arão, Joel e Simy Sequerra tiveram mais dois filhos: Moisés, um virtuose do violino radicado em Lyon, França e Thea, uma jornalista que residia em Lisboa e faleceu em um acidente automobilístico em 1976.

Simy Sequerra, a viúva de Joel, mora com o filho Arão e os netos em Haifa, Israel. Os gêmeos Samuel e Joel Sequerra nunca gostaram de conversar com a família e os amigos sobre o que presenciaram durante os anos de chumbo da II Guerra e sempre recusaram receber qualquer tipo de homenagem, alegando, modestamente, que não haviam feito mais do que sua obrigação.

Uma frase de Joel, todavia, merece ficar registrada para a posteridade, pois resume em poucas palavras o misto de esperança e amargura que o acompanhou por toda a vida: "eu gostaria de acreditar que esse tenha sido o último Holocausto".

Texto publicado por Jorge Magalhães, em 09/05/2007:
http://hebreu.blogspot.com/2007/09/os-irmos-sequera.html

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Memória da guerra não tem ponto final, diz Köhler - parte 2

Dia da libertação

As solenidades deste domingo pelos 60 anos do fim da guerra foram abertas com um culto ecumênico na igreja Kaiser-Wilhelm-Gedächniskirche, na avenida Kurfürstendam, no centro de Berlim. Na presença de representantes dos três poderes, o presidente da Conferência dos Bispos Alemães, cardeal Karl Lehmann, e o presidente do Conselho da Igreja Evangélica Luterana da Alemanha, Wolfgang Huber, lembraram o 8 de maio de 1945 como "dia da libertação".

"Fomos libertados para respeitar a inviolabilidade da dignidade humana e, por isso, para a dedicação aos que são desprezados e maltratados. Somente a memória nos dá a confiança de que a guerra e a violência não têm a última palavra", disse Huber.

(Foto)Cardeal Lehmann: '8 de maio de 1945 foi também um reinício'

Lehmann disse em seu sermão que o 8 de maio de 1945 "não só foi o fim de um terrível regime, mas também a data de um reinício. A história, no entanto, privilegiou bem mais os alemães ocidentais, enquanto as pessoas no Leste carregaram muito mais o pesado fardo da catástrofe".

Em seguida, o chanceler federal Gerhard Schöder, e os presidentes do Bundestag (câmara baixa do Parlamento), Wolfgang Thierse, do Bundesrat (câmara alta do Legislativo), Matthias Platzeck, e o presidente do Tribunal Federal Constitucional Hans-Jürgen Papier, depositaram coroas de flores pelas vítimas da guerra e da tirania no memorial nacional Neue Wache, em Berlim.

Neonazistas desistem de passeata

(Foto)Polícia e manifestantes impediram passeata de neonazistas

Cerca de 15 mil pessoas bloquearam, com o apoio da polícia, uma passeata de cerca de três mil neonazistas que estava iniciando no centro de Berlim. Os neonazistas protestavam contra o que chamam de "culto à culpa alemã" em contraposição aos pedidos de perdão que o país tem feito às vítimas da guerra desencadeada pela Alemanha.

Na noite de sábado, cerca de 25 mil pessoas, portando velas, lâmpadas e lanternas, já haviam formado uma corrente de 31 quilômetros, na capital alemã, numa vigília contra o fortalecimento da extrema direita no país.

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, arquivo, 08.05.2005)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1577458_page_2,00.html

terça-feira, 3 de junho de 2008

Memória da guerra não tem ponto final, diz Köhler - parte 1

(Foto)Público acompanhou discurso do presidente no telão em Berlim

Presidente alemão conclama compatriotas a manter viva a lembrança do sofrimento e da violência que partiu da Alemanha nazista e a lutar contra a repetição de crimes semelhantes. Passeata de neonazistas é barrada em Berlim na comemoração dos 60 anos do fim da II Guerra.

"Nós temos a responsabilidade de manter viva a memória do sofrimento e da violência que partiu da Alemanha nazista e de garantir que isso nunca se repita. Não há um ponto final", disse o presidente alemão Horst Köhler, em discurso no Parlamento, neste domingo (08/05), durante a principal cerimônia na Alemanha pelo 60º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.

A tragédia que a Alemanha provocou ao mundo têm efeitos até hoje, acrescentou. "Nós alemães recordamos com horror e vergonha a Segunda Guerra desencadeada pela Alemanha e o Holocausto cometido pelos alemães. Rememoramos os seis milhões de judeus que foram mortos com energia diabólica", afirmou Köhler. Ele manifestou "repulsa e desprezo por aqueles que cometeram esse crime contra a humanidade e destruíram a honra de nosso país".

(Foto)Presidente alemão Horst Koehler discursa no Bundestg (Parlamento alemão)

Köhler disse que a "a maioria dos alemães sentiu-se aliviada" com o fim da guerra. Ele lembrou os milhões de judeus, grupos ciganos sinti e roma, homossexuais e deficientes, as vítimas da fúria alemã, sobretudo, na Polônia e União Soviética, mas também os civis mortos nos bombardeios contra a Alemanha, os perseguidos e as mulheres violentadas em massa. "Estamos de luto por todas as vítimas, porque queremos ser justos com todos os povos, inclusive com o nosso próprio povo", afirmou.

Ao mesmo tempo, o presidente avaliou como "motivo para alegria e gratidão", a transformação externa e interna pela qual passou a Alemanha nos últimos 60 anos. "Essa gratidão devemos, em primeiro lugar, aos povos que derrotaram a Alemanha e a libertaram do nazismo. Eles deram uma chance ao nosso país no pós-guerra", ressaltou.

(Foto)Cerimônia no Bundestag pelos 60 anos do fim da II Guerra

No mesmo tom das críticas feitas pelo presidente norte-americano George W. Busch em sua viagem aos países bálticos, Köhler lembrou que na zona de ocupação soviética o sofrimento de muitas pessoas continuou depois da Segunda Guerra. "Só numa parte da Europa foi possível construir sem obstáculos sociedades livres".

Referindo-se à revolução pacífica de 1989, o presidente disse: "Os alemães orientais escreveram um dos melhores capítulos da história alemã". Hoje – continuou Köhler – a Alemanha é uma democracia estável. "Hoje a Europa é caracterizada pela liberdade, democracia e o respeito aos direitos humanos e a Alemanha está cercada de amigo e parceiros".

Infelizmente, observou ainda, "na Alemanha também há incorrigíveis, que querem voltar ao racismo e extremismo de direita. Mas eles não têm qualquer chance contra a absoluta maioria de alemães conscientes que mantêm nossa democracia vigilante e resistente", disse sob forte aplauso das lideranças políticas do país.

Köhler fez questão de ressaltar as relações de amizade que hoje unem a Alemanha e Israel e destacou ainda a importância da parceria transatlântica com os Estados Unidos. "Hoje a guerra na Europa se tornou impossível", disse.

Fonte: Deutsche Welle(arquivo, 08.05.2005)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1577458,00.html

sábado, 31 de maio de 2008

Colunas de Zyklon - coluna Kula

Uma das peças de propaganda "revisionistas" mais difundidas é a idéia de que não havia buracos nas câmaras de gás nazistas. No seguinte texto do Holocaust History Project, todas as distorções "revisionistas" são desmitificadas e é apresentada uma explicação detalhada das colunas de Zyklon, que fizeram parte de todo aparato de assassinato em massa nos campos de extermínio nazi.

Colunas de Zyklon - coluna Kula

Introdução

Em Auschwitz-Birkenau, nas câmaras de gás dos crematórios II e III, o Zyklon-B era colocado através de buracos no teto. Depois dos recentes experimentos com este veneno, a equipe do campo tinha aprendido que era importante deixar as pastilhas de Zyklon para serem removidos depois da morte das vítimas, e também para provocar um aumento da velocidade de evaporação do gás.

A solução para estes problemas era o uso de uma coluna de malha de arame, que percorria todo o chão acima do teto pelo telhado. Um homem das SS, usando uma máscara de gás e em pé no telhado, colocaria as pastilhas no topo da coluna e poria uma cobertura de madeira sobre isso. As pastilhas caiam dentro de uma cesta interna de malha de arame, que as recebia e então liberavam seu veneno dentro da câmara de gás.

Depois que o assassinato em massa estivesse completo, a cobertura era aberta, a cesta era retirada, e o Zyklon que restava expelia seu veneno de um modo inofensivo ao ar livre. Enquanto isso, a ventilação da câmara de gás e a cremação de cadáveres podiam ter início.

Estas colunas são relatadas no inventário do crematório II, 31 de março de 1943, como "mecanismo de introdução de malha de arame" (Drahtnetzeinschiebvorrichtung) com "coberturas de madeira" (Holzblenden).

Esquema

Abaixo há um esquema de uma seção transversal da introdução da coluna, vista de lado. Cada um das medidas foram coletadas de várias fontes de depoimentos de testemunhas oculares; eles foram sintetizados dentro deste desenho. As medidas mostradas são as melhores aproximações daquelas fontes, mas não devem ser consideradas exatas para medida em centrímetros.(clique na imagem para vê-la ampliada)

Fontes: Gutman, Yisrael, and Michael Berenbaum, Anatomy of the Auschwitz Death Camp, 1994; Pressac, Jean-Claude, Auschwitz: Technique and Operation of the Gas Chambers, Beate Klarsfeld Foundation, New York, 1989.

Esboço

Michal Kula, um ex-prisioneiro que trabalhou num local de confecção de esquadrias metálicas do campo de Auschwitz-Birkenau, deu um depoimento descrevendo a introdução das colunas em junho de 1945. Abaixo há um esboço ilustrando o que ele descreveu naquele depoimento. As imagens são do livro de Jean-Claude Pressac "Auschwitz: Technique and Operation of the Gas Chambers"(Auschwitz: Técnica e Operação das Câmaras de Gás), que foi originalmente publicado em francês; as traduções estão abaixo.

Este esboço mostra a menor "cesta de arame" abaixo a coluna dentro da qual isto foi inserido. Esta "parte móvel" é o que realmente carrega as pastilhas de Zyklon para elas liberarem o gás venenoso, e é o que era retirado uma vez que a operação de gaseamento era completada.(clique na imagem para vê-la ampliada)

Traduções:

PARTIE MOBILE - PARTE MÓVEL

Coiffe en tôle - Tampa de Metal

Intervalle separant le tube en tôle du 3ème tamis: 25 mm - Espaço entre os tubos de metal e a terceira estrutura: 25 mm

Troisième tamis intérieur à maille de 1 mm de côté - Terceira, interna, estrutura de 1 mm de malha

Tube en fine tôle zinguée de 15 cm de côté - Tubo de metal galvanizado interno, 15 cm²

PARTIE FIXE - PARTE FIXA

Pièce de métal reliant les 1er et 2ème tamis - Pedaço de metal unindo a primeira e segunda estruturas

Premier tamis extérieur en fil de 3 mm de diamètre et de maille de 45 mm de côté - Primeira, externa, estrutura de 3 mm de diâmetro de arame, 45 mm de malha

Deuxième tamis intérieur à maille de 25 mm de côté - Segunda, interior, estrutura de 25 mm de malha

3 m environ - Aproximadamente 3 m

Cornières de 50 x 50 x 10 mm - Calhas de 50 x 50 x 10 mm

Fonte: Pressac, Jean-Claude, Auschwitz: Technique and Operation of the Gas Chambers, Beate Klarsfeld Foundation, New York, 1989, p. 487.

Testemunho de Erber

Em 1981, o historiador Gerald Fleming conversou com o ex SS-Sergeant Major Josef Houstek, que havia mudado seu nome para Josef Erber depois de servir em Auschwitz. Erber descreveu as colunas parecendo ligeiramente diferentes:
Em cada uma destas áreas de gaseamento [dos crematórios [II and III] em Birkenau] estavam dois dutos: em cada duto, quatro tubos de ferro percorriam do chão até o teto. Estes estavam recobertos com malha de arame de aço e dentro havia um recipiente de estanho com uma borda baixa. Anexo a este estanho havia um arame pelo qual isto poderia ser retirado pelo telhado. Quando as tampas eram levantadas, alguém poderia retirar o recipiente de estanho e remexer os cristais do gás dentro dele. Então o recipiente foi baixado, e a tampa fechada. 6

6. Prisioneiro Josef Erber ao autor, 14 de setembro de 1981.

Os "quatro tubos de ferro" são supostamente as quatro calhas ao redor dos quais a malha do lado externo fora envolvida. O recipiente de estanho baixado por um arame deveria ser, mais cedo ou mais tarde, a versão do lado de dentro da "cesta de arame" descrita por Kula.

Fonte: Fleming, Gerald, Hitler and the Final Solution, 1984, p. 188.

A descrição de Tauber

Henryk Tauber deu um depoimento em maio de 1945 que incluiu uma descrição das colunas:
A lateral destes pilares, que iam até o telhado, eram de malha de arame pesado. Dentro desta grade, havia outra de malha mais fina e dentro daquela uma terceira de malha mais fina ainda. Dentro da jaula desta última malha havia uma lata removível que era retirada com um arame para recuperar as pastilhas das quais o gás havia evaporado.

[...]

A sala de despir e a câmara de gás eram cobertas primeiro com um bloco de concreto e então com uma capa de de solo coberto com grama. Existiam quatro pequenas chaminés, as aberturas através das quais o gás era expelido naquelas saídas acima da câmara de gás.
Fonte: Pressac, Jean-Claude, op.cit., p. 484.

Vista Aérea

As aeronaves de reconhecimento dos Aliados adquiriram a capacidade militar para sobrevoar a área de Auschwitz em meados de 1944. A fábrica da IG Farben próxima produzia borracha sintética e óleo, e era de interesse militar por esta razão, mas várias fotografias foram também tiradas do campo de Birkenau. Em 25 de agosto de 1944, um aeroplano capturou esta vista de Birkenau, incluindo as câmaras de gás dos crematórios II e III.

Nesta fotografia, o crematório II está no retângulo central à direita, e o crematório III está abaixo à direita. O Norte está ao fundo(parte inferior).

Abaixo, uma ampliação da mesma fotografia mostra a edificação do crematório II. Ao fundo, a chaminé do crematório faz uma extensa sombra. Extendendo-se pra cima(sul) da edificação está o subsolo da câmara de gás, Leichenkeller 1. Quatro manchas escuras são visíveis, correspondendo às quatro "pequenas chaminés" da introdução das colunas.

Fonte: U.S. National Archives, Record Group 317 - Auschwitz Box Envelope 17 / Security Set - CIA Annotated Negative #17, photograph of August 25, 1944.

Vista Terrestre

Abaixo está uma vista do terreno do mesmo crematório, olhando ao norte de seu Sul. Na direita está a edificação do crematório com sua chaminé visível. Jean-Claude Pressac situa a data desta fotografia entre 9 e 11 de fevereiro de 1943. A edificação está ainda sendo construída e não será terminada até fim de março de 1943.

A câmara de gás Leichenkeller 1, justo à direita da fumaça do trem, extende-se na direção da câmara e ligeiramente para direita.

Abaixo, uma ampliação da mesma fotografia mostra a câmara de gás. Como o resto da edificação, está em construção. Não tinha sido ainda coberta com terra, fazendo as "pequenas chaminés" parecerem mais altas que elas seriam.

Uma cuidadosa análise fotográfica mostrou que as duas sombras escuras curtas e verticais, sob o centro da janela nesta foto, estão "pequenas chaminés" ao sul. (O retângulo escuro à sua direita parece estar contra a parede da edificação, atrás da câmara de gás. É desconhecido o que está mais curto, e a sombra cinza mais clara está à sua esquerda. As linhas de luzes verticais em frente à câmara de gás são postes da cerca.) A terceira "pequena chaminé" está atrás da fumaça do trem, e no canto superior da quarta pode apenas ser vista, justo à esquerda da fumaça do trem, e mais escurecida pelo monte de cobertura de neve da terra. Deste ângulo, sua colocação está oscilando devido a alternância leste-oeste.

Fonte: Pressac, Jean-Claude, Auschwitz: Technique and Operation of the Gas Chambers, Beate Klarsfeld Foundation, New York, 1989, p. 340. Cited by Pressac as PMO neg. no. 20995/494, Kamann series. And Keren, Daniel, Jamie McCarthy, and Harry W. Mazal, Holocaust and Genocide Studies, Oxford University Press, Vol. 18, No. 1, Spring 2004, pp. 68ff.: "The Ruins of the Gas Chambers: A Forensic Investigation of Crematoriums at Auschwitz I and Auschwitz-Birkenau."

Um Respiradouro Similar

Uma rara fotografia de uma introdução de respiradouro similar de Majdanek, não de Auschwitz, foi preservada. Majdanek foi também um campo onde gaseamentos em massa foram realizados.

Quando o Exército Vermelho chegou em julho de 1944 os soldados acharam enormes depósito transbordado de bens. Eles descobriram cadáveres e mais evidências de uma enorme série de atrocidades, as quais noticiaram imediatamente para a imprensa mundial.

(Feig, Konnilyn, Hitler's Death Camps, 1979, p. 330.)

Um homem do exército soviético posou para esta fotografia, pegando a cobertura do aparelho, em pé próximo ao aparelho. Foi publicada pela London press em outubro de 1944. É desconhecido como similar a isto pareciam às "pequenas chaminés" de Auschwitz-Birkenau.

Fonte: The Illustrated London News, October 14, 1944, p. 442.

Negadores do Holocausto

Negadores do Holocausto rejeitam que estas colunas também existiram. A convergência desta evidência, incluindo os testemunhos convincentes que deram detalhes antes de corroborar evidências que foram desenterradas é ignorada.

Os depoimentos de Kula e Tauber descrevendo as inserções de "aparelhos de malha de arame", décadas antes corroborando a evidência foram descobertos nos arquivos, não podem ser descartados. O depoimento de Houstek/Erber dos mesmos aparelhos, também antes desta evidência ser descoberta, é também uma forte corroboração.

Negadores provavelmente sustentarão que uma menor diferença em suas descrições significa que devamos ignorá-los. Mas realmente devemos esperar achar narrativas idênticas? Os prisioneiros deram suas descrições meses depois do fato; o perpetrador, 35 anos mais tarde. Que devem contar para alguns como diferença. Justamente como em grande medida, não sabemos se os nazis em fulga da operação de gaseamento tentaram usar ligeiramente diferentes tipos do equipamento de hora em hora.

Certamente, se todas as três descrições eram exatamente semelhantes, devemos suspeitar que a narrativa mais recente foi copiada das mais antigas. Por elas não serem, sabemos que aqui estão três testemunhas oculares separadas por estes itens.

Negadores do Holocausto rejeitam a validade das fotografias aéreas, alegando que aqueles quatro postes escuros no telhado de cada câmara de gás foram retoques adicionados pela CIA ou alguma outra conspiração. John Ball, que não é nenhum perito em interpretar fotografias aéreas, sugere uma destas hipóteses ou, alternativamente, que os postes escuros eram vasos em repouso em cada câmara de gás.

Os objetos mostrados no telhado na foto terrestre, dizem alguns negadores, são caixas comuns de material de construção.

Negadores também alegam que não há nenhuma evidência dos quatro buracos no telhado de cada câmara de gás. Porque as câmaras foram dinamitadas numa tentativa de esconder evidência de assassinatos em massa da chegada do Exército Soviético, os telhados desmoronaram e é difícil dizer nos escombros o que é um buraco e o que não é. Mais tarde neste ano, um ensaio no website direcionará esta questão em detalhe.

Finalmente, negadores do Holocausto intencionalmente confundem o sólido apoio no telhado das colunas das câmaras de gás com as colunas de malha de arame. Como óbvia evidência de seus crimes, as últimas seriam removidas pelos nazis das câmaras de gás antes delas serem destruídas. De forma absurda, negadores mostram fotos de sólidas colunas como prova de que as colunas de malha de arame nunca existiram.

Esta débil intenção em reescrever a história não se sustenta.
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Agradecimentos ao voluntário Harry Mazal do Holocaust History Project pela assistência de pesquisa.

Última alteração: 30 de outubro de 2005
Contato técnico/administrativo: webmaster@holocaust-history.org

Texto: Jamie McCarthy e Mark Van Alstine
http://www.holocaust-history.org/auschwitz/intro-columns/
Tradução: Roberto Lucena

Documentário debate relação entre homossexualidade e nazismo


(Foto)'Homens, heróis, gays nazistas' e a cultura da masculinidade

No documentário "Homens, heróis, gays nazistas", o diretor alemão Rosa von Praunheim aborda a relação entre homossexualidade e nazismo, cujo ideário e estética estão cada vez mais presentes na cena gay atual.

Em uma série de documentários realizada recentemente, o célebre diretor gay alemão Rosa von Praunheim (Eu sou minha própria mulher, 1992 e O Einstein do Sexo, 1999) relata sobre testemunhas gays sobreviventes da era nazista.

Em Schwein gehabt – Joe Luga (Joe Luga teve sorte), por exemplo, Von Praunheim conta a história do cantor Joe Luga, que fazia shows travestido de mulher para os soldados alemães da frente russa. Somente após a guerra, nos anos de 1950 e 1960, sua homossexualidade o levou às prisões da antiga Alemanha Ocidental.

Mas é no longo documentário Männer, Helden, Schwule Nazis (Homens, heróis, gays nazistas), disponível desde o ano passado em DVD, que o diretor aborda a paradoxal relação entre a homossexualidade e as idéias do radicalismo de direita, cuja estética está cada vez mais presente na cena gay atual.

Homossexualidade e nazismo: é possível?

(Foto)Alexander Schlesinger posa em frente ao aeroporto de Tempelhof

Andre, ex-ativista skinhead, fala sobre a "cultura da masculinidade" em grupos de extrema direita. Botinas, cabeças raspadas e suspensórios são símbolos de virilidade e radicalismo.

Bernd Ewald Althaus, preso nos anos de 1990 por propagar "a mentira de Auschwitz", explica suas convicções, enquanto é mostrado distribuindo panfletos para festas gays em Berlim.

Alexander Schlesinger pertence a um partido de extrema direita, cujo nome não foi citado. Ele explica que seu chefe está informado de sua homossexualidade.

Os três são gays assumidos e estão ou estiveram ligados ao movimento de extrema direita. Em seu documentário, Von Praunheim tenta não somente mostrar o paradoxo entre a homossexualidade e o neonazismo, mas também que a sexualidade está presente em todos, até mesmo em nazistas.

Nazistas de ontem e de hoje

(Foto)A homossexualidade de Ernst Röhm (c) foi tolerada durante anos por Hitler

Entre os casos mais famosos, trazidos por Von Praunheim à tela, estão Ernst Röhm, chefe da SA (Seção de Assalto), a tropa de segurança do partido de Hitler, e Michael Kühnen, líder do proibido FAP (Partido Liberal dos Trabalhadores Alemães).

Ernst Röhm vivia sua homossexualidade de forma relativamente aberta. Ele quis abolir o parágrafo 175 do Código penal, que até os anos de 1970 considerava a homossexualidade crime na Alemanha.

Sua homossexualidade era motivo de chacota da oposição social-democrata. Por uma ameaça de golpe de Estado e por sua homossexualidade, Hitler o mandou fuzilar, em 1934, juntamente com seus aliados. Cerca de 40 anos mais tarde surgia Michael Kühnen, chefe do FAP e um dos mais importantes neonazistas da Alemanha.

(Foto)Michael Kühnen (c) morreu de aids

Em 1986, Kühnen publicou o manifesto Nacional-socialismo e Homossexualidade, onde explicava, entre outros, que os homossexuais eram mais aptos a assumir funções de chefia, já que não tinham família, podendo assim se dedicar completamente à sua causa. Nas teorias de Kühnen, a mulher assumia uma função biológica. Michael Kühnen morreu de aids em 1991, fato negado, assim como sua homossexualidade, pela maioria dos seus seguidores.

Nem Hitler nem Hess escaparam

Em Homens, heróis, gays nazistas, nem o ditador Adolf Hitler e seu vice, Rudolph Hess, escaparam da homossexualidade. Por sua feminilidade, Hess era chamado de "senhorita Hess" por alguns companheiros de partido e só se casou porque Hitler o obrigou, explica o documentário de Rosa von Praunheim.

No livro O Segredo de Hitler, o historiador e professor da Universidade de Bremen Lothar Machtan tenta provar que o ditador era homossexual, usando como argumentos, entre outros, depoimentos de antigos camaradas e o fato de Hitler só ter tido relações com mulheres aos 48 anos.

Esquerda passiva, direita ativa

(Foto)Para Von Praunheim, a sexualidade está em todos

Quanto ao avanço do neonazismo entre os homossexuais da atualidade, que muitas vezes adotam a estética do radicalismo de extrema direita sem mesmo ter convicções políticas neonazistas, o diretor de 65 anos explica, no final de seu filme, sua visão atual dos movimentos de emancipação gays.

"Os tempos de uma esquerda ativa já passaram, vivemos agora uma época de um engajamento de direita."

Sempre houve gays ligados a movimentos de extrema direita, por mais paradoxal que seja esta posição, explica o diretor. Já que, a partir de 1935, os nazistas acirraram ainda mais a perseguição aos homossexuais. Através da fome e trabalhos forçados em campos de concentração, gays eram "reeducados" como heterossexuais.

Perguntado por Rosa von Praunheim sobre o que achava de homossexuais nazistas, o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, cujo lema eleitoral foi "Sou gay e é bom assim", declarou no documentário: "Nazistas, sejam eles homossexuais ou heterossexuais, eu desconsidero".

Carlos Albuquerque

Fonte: Deutsche Welle(15.01.2007)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2310990,00.html

Parlamento alemão reabilita homossexuais e desertores

(Foto)O desertor Albert Laucke chora na inauguração de um memorial aos desertores da Wehrmacht

Quase 60 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, os homossexuais e desertores condenados pela Justiça nazista serão plenamente reabilitados.

A reabilitação legal está assegurada com uma reforma da lei que anulou as injustiças judiciais dos nazistas, aprovada pelo Parlamento da Alemanha (Bundestag)nesta sexta-feira (17).

Os partidos Social Democrático (SPD) e Verde – da coalizão governamental – e o Partido do Socialismo Democrático, o PDS neocomunista, votaram a favor. Os partidos oposicionistas de centro-direita - União Democrata-Cristã (CDU), Social-Cristã (CSU) e o Partido Liberal (FDP) - votaram contra a reabilitação dos homosssexuais e desertores. A lei não precisa mais de aprovação da câmara alta do Legislativo alemão (Bundesrat).

Assim estão anuladas as sentenças contra 50 mil homossexuais e 22 mil penas de morte contra desertores das Forças Armadas (Wehrmacht), pronunciadas pelo regime de Hitler. Até então, a reabilitação dependia do exame individual dos casos. Todos as outras sentenças dos nazistas já haviam sido anuladas por uma lei de 1998.

A ministra alemã da Justiça, Herta Däubler-Gmelin (SPD), admitiu que "já estava mais do que na hora" para uma tal lei. Contudo, mesmo chegando tão tarde, ela é essencial, pois "devemos isto às vítimas da injustiça nazista".

Fonte: Deutsche Welle(17.05.2002)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,522676,00.html

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Homossexuais vítimas do nazismo ganham memorial em Berlim

Como através de uma janela, observador vê filme com dois homens se beijando

Em torno de 54 mil homossexuais foram condenados durante o regime nazista. Sete mil foram mortos em campos de concentração. Próximo ao Memorial do Holocausto, um monumento é inaugurado em memória às vitimas.

O amor que não ousa dizer o nome. Como se estivesse olhando através de uma janela, o observador vê uma cena de filme em preto-e-branco: dois homens se beijando projetados no interior de um bloco retangular de concreto de cerca de quatro metros de altura.

Num misto de instalação e escultura, o duo de artistas Michael Elmgreen e Ingar Dragset projetou o memorial dos homossexuais perseguidos pelo regime nacional-socialista, que o ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, inaugura nesta terça-feira (27/05) em Berlim.

Localizado em frente ao Memorial do Holocausto, a forma retangular do novo monumento dialoga com as colunas cinza retangulares do memorial aos judeus assassinados pelo regime de Hitler.

Além de honrar as vítimas perseguidas e mortas pelos nazistas, a Alemanha deseja, com este monumento, manter acordada a lembrança da injustiça e estabelecer um sinal duradouro contra a intolerância, a hostilidade e a exclusão de gays e lésbicas, explicam os dizeres ao lado do novo memorial.

Beijo gay, beijo lésbico

Ingar Dragset e Michael Elmgreen

Em 12 de dezembro de 2003, o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, decidiu a construção do monumento aos homossexuais – contra os votos dos partidos da União (CDU/CSU), à qual pertence a atual chanceler federal alemã Angela Merkel.

Este foi um belo presente de aniversário para o deputado federal do Partido Verde Volker Beck, ativista homossexual e um dos principais incentivadores do monumento.

Para Beck, a importância do memorial está no fato de ter sido negada, durante muito tempo, a injustiça feita a gays e lésbicas. O mesmo Parágrafo 175 do Código Penal Alemão que permitiu aos nazistas a perseguição e o assassinato de homossexuais foi válido na República Federal da Alemanha até 1969.

Quanto à resolução artística do monumento, o deputado não demonstra preocupação. Após críticas, principalmente de mulheres, a obra foi remodelada. No primeiro projeto, serão vistos dois homens se beijando. Mais tarde, serão duas mulheres.

Responsabilidade especial

Monumento do respeito aos homossexuais

A partir de 1935, os nazistas acirraram o Parágrafo 175. Um beijo entre pessoas do mesmo sexo já bastava para a perseguição judicial. Houve mais de 50 mil julgamentos. Os nazistas conseguiram impor, algumas vezes, até mesmo a castração das vítimas.

O Parágrafo 175 significava prisão em campos de concentração. Muitos não sobreviveram. Eles morriam de fome, doenças ou foram vítimas dos assassinatos sistemáticos.

Com exceção da Áustria anexada, a homossexualidade feminina não sofreu perseguição. Lesbianismo não era considerado perigoso ao regime. Se lésbicas, no entanto, entrassem em conflito com os nazistas, também se tornavam vítimas das repressões.

Direitos humanos de gays e lésbicas

O governo alemão observa a importância do novo monumento também pelo fato de pessoas serem, em várias partes do mundo, ainda hoje vítimas de hostilidade devido à sua identidade sexual.

"Devido a sua história, a República Federal da Alemanha tem a especial responsabilidade de se posicionar, decididamente, contra as agressões aos direitos humanos de gays e lésbicas", lê-se na placa do memorial.

Segundo o deputado Volker Beck, existem hoje mais de 80 países onde a homossexualidade entre pessoas adultas é passível de punição, que pode chegar até mesmo à pena de morte em 12 desses países – o que faz lembrar os nazistas e a importância do atual monumento.

Fonte: Deutsche Welle/Agências(27.05.2008)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3362743,00.html

terça-feira, 27 de maio de 2008

Holocausto na Letônia - Rumbula (8 de Dezembro de 1941)

Esta tradução se refere ao Capítulo 8 do livro The Holocaust in Latvia, 1941-1944: The Missing Center do Historiador letão Andrew Ezergailis.


Traduzido por Leo Gott à partir do link:
http://www.rumbula.org/remembering_rumbula.shtml



8 de Dezembro de 1941


O segundo dia dos assassinatos tem atraído menos atenção nas memórias, histórias, e depoimentos do que o primeiro. Na realidade, foi ainda mais terrível, porque todos sabiam o que ia acontecer, apesar de os judeus do gueto esperar uma contra esperança. A ação do dia 30 de novembro havia destruído todos as trapaças e auto-decepções, tanto para as vítimas como para os algozes. Estava nevando naquela segunda-feira. O gerente da estação de Rumbula, apesar de ter ouvido os tiros, não saiu de casa por causa da neve. Quantos policiais alemães e letões recusaram o trabalho no segundo dia, não sabemos. Mas foram poucos. Sabemos que o Tenente Zimmermann, depois de regressar a partir do primeiro dia de ação, disse a seu amigo Jahnke "Dez cavalos não vão voltar de novo."
O Tenente Vilnis foi para o QG da Anna Ielas e implorou para ser transferido para um batalhão. Com lágrimas nos seus olhos, ele disse a Pårups o que ele tinha visto. Os judeus do gueto, os homens do SD, e certamente Jeckeln, ele próprio tinham outra alternativa senão a de seguir por meio do curso que começou em 30 de novembro.

A organização e procedimentos do segundo dia dos assassinatos foi similar, senão idêntico ao do primeiro. O sistema parece ter sido um pouco mais apertado. As mesmas unidades que foram contratadas no primeiro dia foram orientadas a fazê-lo novamente. Os mesmo 12 atiradores foram para as valas. Saber se os mesmos policiais de Rîga foram novamente ou se outros foram contratados, não sabemos.

As informações sobre a polícia de Rîga, enquanto se aguarda a recuperação de dois arquivos pela prefeitura de Riga destes dois meses, é tão fragmentada que nenhuma resposta com certeza pode ser dada. Mais de um sobrevivente, incluindo Frîda Michelson, testemunharam que os judeus no segundo dia de ação estavam mais dóceis. Eles achavam que a atrocidade não poderia ser repetida e começaram falsos rumores começaram de que os judeus foram movidos para fora [do gueto] em 30 de novembro estavam vivos, em um campo de concentração. Desta vez, os 20kg de bagagens foram permitidos e recolhidos no gueto, e os proprietários foram informados de que seriam levadas por um caminhão para o seu destino. O número de judeus mortos dentro do gueto foi de "apenas" em torno de 300.

O segundo dia de Rumbula é notável pela milagrosa sobrevivência de três almas que foram salvas a partir do funil das valas, e que viveram para contar suas histórias: Frîda Michelson, Ella Meda¬e e Matîss Lutriñß.
Seus depoimentos vividamente retratam os acontecimentos da segunda ação e detalhadamente com mérito.

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