quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fascistas criaram 'ilha gay' na Itália para confinar homossexuais (Fascismo)

Alan Johnston. BBC News
Atualizado em 14 de junho, 2013 - 07:57 (Brasília) 10:57 GMT

Ilha de San Domino, no arquipélago de Tremiti,
no Mar Adriático, na Itália
Há 75 anos, durante o fascismo na Itália, um grupo de homens rotulados de "degenerados", foram expulsos de casa e internados em uma ilha.

Eles eram mantidos em cárcere privado, mas alguns deles dizem ter vivido uma experiência liberalizante nesta que teria sido a primeira comunidade abertamente gay do país.

Todos os anos, turistas são atraídos pela beleza dessa pequena faixa de ilhas vulcânicas do Mar Adriático.

Mas apenas recentemente um grupo de visitantes chegou ao arquipélago de Tremiti, não apenas para aproveitar a paz e o sossego do lugar, mas para lembrar um fato importante.

O grupo era formado por ativistas de direitos dos gays, lésbicas e transgêneros.

Eles vieram para realizar uma pequena cerimônia relembrando um triste episódio ocorrido na ilha há 70 anos.

'Avanço da degeneração'

Por volta do final dos anos 1930, o arquipélago teve participação importante no esforço dos fascistas de Benito Mussolini de suprimir a homossexualidade.

Os gays atrapalhavam o projeto do líder fascista do país, Benito Mussolini, que queria disseminar uma Itália de imagem masculina.

"Fascismo é um regime viril. Portanto, os italianos são fortes e masculinos, e é impossível que a homossexualidade possa existir no regime fascista", diz o professor de história da Universidade de Bergamo, Lorenzo Benadusi.

Assim, a estratégia era a de encobrir a questão de todas as formas possíveis.

Leis discriminatórias contra gays acabaram não sendo aprovadas na época, mas o clima criado não permitia manifestações de homossexualidade, que poderiam ser vigorosamente reprimidas.

E um prefeito da cidade siciliana de Catania tirou grande proveito dessa atmosfera de repressão de Mussolini.

"Nós notamos que alguns clubes, praias e lugares nas montanhas recebem muitos desses homens doentes e jovens de todas as classes sociais buscam a sua companhia", escreveu.

Ele estava determinado a combater o "avanço da degeneração" na cidade "ou, pelo menos, conter a aberração sexual que ofende a moralidade e que é um desastre para a saúde pública e para o melhoramento da raça".

E ele continuou: "Este demônio precisa ser atacado e queimado na sua essência".

Livro

Benito Mussolini, o "Il Dulce" (O Líder)
"Nós fazíamos teatro e podíamos nos vestir de mulher que ninguém dizia nada"

Giuseppe B, prisioneiro de San Domino

Assim, em 1938, cerca de 45 homens acusados de serem homossexuais em Catania, na Sicília, foram presos e enviados a um exílio interno.

Subitamente, o grupo se viu confinado a 600 km de distância, na ilha de San Domino, em Tremitis, no Mar Adriático.

O episódio foi totalmente esquecido. Acredita-se que ninguém que tenha enfrentado a punição continue vivo atualmente e existem apenas poucos relatos do que aconteceu na ilha.

Mas no livro A Ilha e a Cidade, os pesquisadores Gianfranco Goretti e Tommaso Giartosi falam de dezenas de homens, a maioria de Catania, e as duras condições que enfrentaram em San Domino.

Eles teriam chegado algemados e então abrigados numa casa ampla de dormitórios espartanos, sem eletricidade ou água encanada.

"Nós ficávamos curiosos, porque eles eram chamados de 'as garotas'", conta Carmela Santoro, uma moradora da ilha que era apenas uma criança quando os exilados gays começaram a chegar.

"Nós íamos assisti-los a sair do barco... todos bem vestidos, no verão, com meias brancas... de chapéu. E nós vínhamos vê-los com surpresa... 'olha aquela uma, como ela se mexe!' Mas nós não tínhamos nenhum contato com eles".

Outro morador, Attilio Carducci, relembra quando um sinal sonoro tocava às 8 da noite todos os dias, anunciando que os homens não podiam mais ficar do lado de fora.

"Eles eram trancados dentro dos dormitórios e ficavam sob vigilância da polícia", relembra.

"Meu pai sempre falava bem deles. Ele nunca teve nada de mal a dizer sobre eles - e ele era um representante local fascista".

Os prisioneiros sabiam que a exposição de sua homossexualidade teria causado vergonha e raiva de seus familiares em lares extremamente conservadores nas cidades e vilas italianas.

Um pouco dessa atmosfera é capturada na carta de um filho para um pai pobre e agricultor. Ele estava estudando para ser padre quando foi preso.

Implorando às autoridades judiciais para deixá-lo ir pra casa, ele escreveu: "Imagine, Sua Excelência, o dor do meu amado pai. Que desonra para ele!"

"Exílio por cinco anos... Isso me enlouquece só em pensar".

O prisioneiro, identificado apenas como Orazio L, requisitou a chance de deixar a ilha para "servir à Pátria" no Exército.

"Me tornar soldado, e depois retornar ao seminário para viver em confinamento é o único jeito no qual eu posso reparar o escândalo e a desonra para a minha família", escreveu.

Nem tão ruim

Mas alguns relatos dados por ex-exilados gays indicam que a vida não era tão ruim em San Domino.

Eles descrevem o dia a dia em um regime de prisão comparativamente tranquilo.

Sem querer, os fascistas criaram um canto na Itália onde se era esperado ser abertamente gay.

Pela primeira vez na vida, os homens podiam ser eles mesmos, livres do estigma que normalmente os circundava na devota Itália católica dos anos 1930.

O relato de um ex-prisioneiro da ilha explicou o que isso significava, numa rara entrevista publicada há alguns anos na revista gay Babilonia. Ele disse que de certa forma, os homens viviam melhor na ilha do que fora dela.

"Naquela época se você era um femmenella (gíria italiana para homem gay), você não poderia nem mesmo sair de casa ou se fazer perceber, a polícia prenderia você", disse ele de sua cidade natal, perto de Nápoles.

"Na ilha, de um outro lado, nós celebrávamos nossos dias de santo ou a chegada de alguém novo. Nós fazíamos teatro e podíamos nos vestir de mulher que ninguém dizia nada".

E para completar, claro, ele disse que existiam romances e até mesmo brigas.

Alguns prisioneiros partiram, disse Giuseppe, com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, e o consequente fim do regime de confinamento de San Domino. Os prisioneiros foram então colocados numa espécie de confinamento doméstico nas cidades de onde eles vieram.

Exclusivamente gay

Um grande número de homens gays foram internados junto com prisioneiros políticos em outras pequenas ilhas, como Ustica e Lampedusa, mas San Domino foi única em que todos os exilados eram gays.

É extremamente irônico, levando em conta a situação na Itália daquele tempo, que os gays pudessem encontrar um certo grau de liberdade apenas em uma prisão numa ilha.

Na celebração dos gays ativistas de direitos humanos, que se reuniram no arquipélago há algumas semanas, foi inaugurada uma placa em memória dos exilados.

O marco será uma lembrança perene da perseguição de Mussolini contra homossexuais na Itália.

"Isto é necessário, porque ninguém sabe o que aconteceu naqueles anos", disse um dos ativistas, Ivan Scalfarotto, que também é membro do Parlamento, em Roma.

Ele afirma que a comunidade gay ainda sofre na Itália. Os homossexuais não são mais presos e despachados para ilhas, mas até mesmo hoje em dia eles não são considerados cidadãos "classe A".

Para Scalfarotto, ainda existe o estigma social ligado à homofobia na Itália, já que o Estado não estende todos os direitos civis a casais homossexuais.

Por isso, Scalfarotto acredita que a luta pela igualdade continua na Itália.

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130613_ilha_gay_mussolini_gm.shtml

Ver mais:
A ilha 'gay' na Itália de Mussolini (DN Globo, Portugal)
La isla gay creada por el fascismo en Italia (BBC Mundo)

sábado, 15 de junho de 2013

Dzankoi, Crimeia (Einsatzgruppen)

Uma ordem para liquidar o campo judaico em Dzankoi [Dzankoy] foi documentado pelo comando traseiro do 11º Exército em 1 de janeiro de 1942. É preservada como NOKW-1866 e afirma que devido a "fome e a eclosão iminente de epidemias", o campo "deve, portanto, ser liquidado". Arad cita o documento no livro "The Holocaust in the Soviet Union" (O Holocausto na União Soviética), pág. 208. É mais uma evidência de que o 11º Exército na Crimeia estava envolvido na liquidação dos judeus.

Nos meses seguintes desta liquidação, outros judeus foram executados nas proximidades de Dzankoy e Simferopol, conforme documentado no EM 178 aqui.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2013/06/dzankoi-crimea.html
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Neonazismo alemão apresenta sua nova face

As meninas do Reich. 11/05/2013 | 17h01
O julgamento de Beate Zschäpe, o mais importante das últimas décadas contra um grupo neonazista alemão, evidenciou o papel feminino nada secundário no extremismo xenófobo do século 21


Figura central da Clandestinidade Nacional Socialista, Beate morou com militantes que teriam se suicidado Foto: CHRISTOF STACHE / AFP
Léo Gerchmann

leo.gerchmann@zerohora.com.br

Professora universitária em Frankfurt, na Alemanha, Michaela Köttig, cujo nome consta na lista negra de grupos neonazistas (eles não têm a imagem dela, e ela não se deixa fotografar), vê se comprovar a tese que defende com ardor: a de que as mulheres jamais se limitaram e continuam não se limitando a papéis secundários no extremismo xenófobo. Mais do que isso: para surpresa de quem imagina a Alemanha imune ao vírus letal do nazismo por conta dos anticorpos adquiridos 70 anos atrás, na II Guerra Mundial, Michaela sustenta que skinheads e assemelhados não são meros casos de polícia. Refletem uma mentalidade ainda presente nas famílias e nas instituições alemãs.

O fato que corrobora os 20 anos de estudos acadêmicos da professora alemã é o atual julgamento, em Munique, da neonazista Beate Zschäpe, uma das fundadoras e líderes do grupo Clandestinidade Nacional Socialista (CNS). Beate e seus comparsas são acusados de terem matado 10 pessoas na Alemanha, a maioria de origem turca, entre 2000 e 2007. Beate teria participado de 15 assaltos a bancos para financiar, por exemplo, dois atentados à bomba em bairros de imigrantes. Ela só foi presa em 2011, quando se entregou à polícia após o suicídio de outros dois criadores da CNS.

Michaela, 48 anos, está em Porto Alegre para participar, às 19h30min de quarta-feira, do painel Mulheres, Violência e Criminalidade, no Instituto Goethe (com entrada franca), a convite do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). Em entrevista a ZH da quarta-feira passada, ela disse que o próprio CNS, de Beate, é uma demonstração de o quanto o neonazismo está impregnado na sociedade alemã: há, apenas nessa unidade extremista, 129 integrantes, muitos deles mulheres.

Com o sorriso acolhedor que suaviza a sonoridade seca do idioma, Michaela perfila as linhas da sua tese sobre a participação de meninas e mulheres jovens em grupos extremistas alemães. Acredita que, se Beate não tivesse se entregado à polícia, os crimes poderiam não ter sido elucidados.

A professora também é cética quanto à possibilidade de esses crimes levarem a outras investigações.

— O serviço secreto alemão está envolvido no processo. O serviço secreto falhou. Não acredito que se empenhe em elucidar esse e outros casos. Vão tentar encobrir a participação deles no cenário neonazista, porque têm agentes infiltrados nos movimentos. Esse caso ocorreu durante tantos anos porque tinha o envolvimento do serviço secreto — analisa a especialista.

Crítica à análise sexista do caso

Michaela também critica a sociedade civil em geral e a imprensa germânica em especial pela abordagem que dão ao CNS.

— A imprensa erra por se ater ao envolvimento sexual entre a mulher que sobreviveu e outro integrante do grupo. O mais importante é entender o que ocorre, as motivações e o que fizeram. Isso mostra como a imprensa lida com o envolvimento das mulheres nos movimentos neonazistas. Acham que elas estão lá por conta dos homens e que não têm motivação política própria, como se a violência fosse uma coisa de homens, com as mulheres tendo participação subalterna — diz.

A estudiosa sustenta que a realidade em relação à mulher sempre foi bem outra. Nos anos 1940, havia grupos feministas que participavam ativamente do Partido Nazista e assumiam papéis importantes enquanto os homens iam à guerra. Atualmente, segundo ela, "as estratégias de penetração nas instituições levam mulheres neonazistas e se tornarem professoras para formar pessoas, os grupos discutem de forma deliberada como influenciar as novas gerações".

— As mulheres atuam também como advogadas e professoras de história, por exemplo. São posições estratégicas na sociedade com o objetivo de influenciar. Na universidade, não há essa reflexão, pensam que todos lá são de esquerda, que esse problema não existe. Tenho exemplos de meninas normais, que são engajadas militantes do movimento neonazista. Algumas são da direção do movimento.

A noiva nazi _ Vida no underground

— Uma suposta célula neonazista alemã vai a julgamento em Munique por ligação com assassinatos de motivação racial.

— Os crimes ocorreram ao longo de sete anos, entre 2000 e 2007. Morreram oito turcos, um imigrante grego e um policial alemão.

— Beate Zschaepe, 38 anos, é acusada de participar da Clandestinidade Nacional Socialista (CNS), que matou 10 pessoas, a maioria de origem turca. Ela nega as acusações.

— Além da cumplicidade com os assassinatos, ela é acusada de envolvimento em 15 roubos à mão armada, um incêndio criminoso, e dois ataques à bomba. Beate pode ser condenada à prisão perpétua. Quatro homens também são acusados de colaboração com a organização.

— O grupo foi descoberto em novembro de 2011. Dois comparsas de Beate, Uwe Mundlos, 38, e Uwe Boenhardt, 34, suicidaram-se após um assalto a banco frustrado. Beate

morava com os dois homens em um apartamento em Zwickau. Uma arma encontrada com eles foi usada para matar 10 pessoas.

— No local, foi encontrado um vídeo mostrando os corpos das vítimas e identificando a CNS como autora dos assassinatos. Nas imagens, aparecia um desenho da Pantera Cor-de-Rosa, que atualizava um placar de mortes.

— O caso gerou críticas à polícia, que antes de descobrir a célula de extrema-direita, havia atribuído os crimes à máfia turca. O escândalo provocou demissões na área de inteligência. Arquivos de inteligência sobre extremistas de direita teriam sido destruídos após as atividades do grupo virem à tona.

— Na segunda-feira, ao entrar no tribunal, Beate permaneceu de braços cruzados e de costas. A defesa conseguiu a prorrogação do julgamento para 14 de maio, alegando preconceito por parte do juiz.

Número de adeptos dobrou na Alemanha

Em 20 anos, o contingente de neonazistas na Alemanha subiu de 20 mil para 40 mil. São pessoas que falam em criar o IV Reich, realizam acampamentos e fazem atividades recreacionistas que remontam aos antigos germânicos, como disputas de arco e flecha. Os grupos mais visados são ainda os judeus, além de imigrantes (especialmente quando são negros), muçulmanos e, em uma menor escala, italianos e estrangeiros do Leste Europeu.

— Há até grupos de anti-antifascistas, que ameaçam sindicatos e personalidades. Fazem listas de pessoas que devem ser perseguidas. Eu estou nessas listas — diz a professora Michaela Köttig.

O protagonismo da mulher em movimentos nazistas mostra um fenômeno mais amplo, de acordo com Michaela Köttig: a penetração resiliente das ideias nacionalistas e xenófobas na sociedade alemã.

Ela cita três itens que estimulam a adesão de mulheres ao movimento nazista: a falta de reflexão dentro das famílias a respeito da participação no nazismo durante a II Guerra Mundial, o apego dos netos a avós afeitos a ideias nacionalistas (ao mesmo tempo em que mantêm conflitos geracionais com os pais) e o contexto social, genérico, refratário a discutir o nazismo. Isso, segundo ela, forma um ambiente propício.

— Não se politiza o tema (do neonazismo), trata-se dele como se fosse delinquência juvenil. Acompanhar, perseguir ou reprimir a extrema-direita é um problema, porque a sociedade não quer saber disso, por conta do passado. Atualizar o tema do nazismo significa atualizar o papel que as famílias tiveram. Atinge a todos. Melhor ignorar, virar as costas. Minha área de pesquisa é justamente sobre isso, sobre as biografias dessas famílias e sobre as mulheres que se engajam nessas organizações. São biografias de famílias, a partir de entrevistas com famílias em mais de uma geração.

Direita simpatiza com Ahmadinejad

A ideia segundo a qual a economia em crise justificaria a persistência das ideias nazistas na sociedade alemã é contestada por Michaela, que, ao ser perguntada a respeito, responde com certa ironia.

— Melhor seria se as causas fossem econômicas, vinculadas à austeridade. O fato é que, depois da reunificação, passou a vingar a ideia de uma Alemanha grande, única. Em meados dos anos 2000, os movimentos deixaram de ser marginais. Mas eles passaram a se entranhar na sociedade, nas instituições estabelecidas. Começaram a fazer contatos e contaminar as instituições dos mais diversos tipos, como associações de pais. Todas as instituições passaram a ser alvo do movimento. Fica muito mais sutil. A ideia vai se consolidando. De repente, todos estão pensando igual, e ninguém se deu conta.

E sobre a possibilidade de surgir uma figura como a de Adolf Hitler? Michaela não acredita que se chegue a tanto.

— A estrutura democrática da Alemanha não permitiria isso. O número de pessoas que simpatizam com a democracia é muito maior. Ainda assim, não se deve negligenciar a presença desses movimentos.

Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, nega o Holocausto, Michaela diz que a reação geral é de choque. A direita, claro, simpatiza com as declarações dele, e esses grupos se valem dessas manifestações.

Fonte: zerohora
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/05/neonazismo-alemao-apresenta-sua-nova-face-4135046.html

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Polícia decreta prisão preventiva de quatro suspeitos de agredir militante de esquerda de 18 anos

Clément Méric, o jovem agredido por skinheads
na noite desta quarta-feira, 5 de junho de 2013,
se encontra atualmente em estado de morte cerebral.
Entre os suspeitos detidos para interrogatório está o suposto autor dos golpes de soco inglês que causaram a morte cerebral da vítima. Ele seria um jovem de 20 anos ligado a movimentos neonazistas. Episódio reacende a discussão sobre grupos de extrema-direita na França

Depois de prometer uma açao rápida, o ministro do Interior da França, Manuel Valls, anunciou nesta quinta-feira a prisao preventiva de quatro suspeitos de envolvimento na agressao cometida na noite desta quarta-feira, no centro de Paris. Um grupo de três skinheads atacou o estudante e militante de extrema-esquerda Clément Méric, de 18 anos, que teve a morte cerebral decretada. Segundo a polícia, o suspeito de ser o autor dos golpes de soco inglês que mataram Méric seria um jovem de 20 anos.

O incidente aconteceu próximo às Galerias Lafayette, em uma área nobre da capital francesa. Os skinheads fariam parte do grupo radical Juventude Nacionalista Revolucionária. A JNR é um movimento neonazista que repudia o casamento entre pessoas do mesmo sexo e se guia por ideias ultranacionalistas. Serge Ayoub, fundador do grupo, entretanto, negou qualquer ligação com o caso.

Clément Méric era estudante da SciencesPo., uma das mais prestigiadas universidades francesas, e era conhecido no meio político de esquerda.

O Partido de Esquerda, ao qual Clément Méric era filiado, convocou seus militantes para uma passeata em homenagem ao jovem nesta quinta-feira, às 18h30, horário local, 13h30 no horário de Brasília, na Praça Saint-Michel, região central de Paris.

Os estudantes da SciencesPo. também farão uma homenagem a Méric, hoje à tarde, em frente ao Instituto de Ciências Políticas da universidade.

O episódio reacende a discussão sobre os grupos de extrema-direta na França. O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, declarou que o governo vai estudar todos os meios legais para destruir esses "grupos de inspiração neonazista que prejudicam a República". Disse Ayrault ao Senado: "Nossa responsabilidade é encontrar respostas jurídicas e políticas para que movimentos racistas, antissemitas e homofóbicos sejam combatidos".

Já no outro lado do espectro político, a líder de extrema-direita Marine Le Pen, negou ligação de seu partido, a Frente Nacional, com os agressores e criticou o que chamou de generalização de esquerda.

Fonte: RFI/France24
http://www.portugues.rfi.fr/franca/20130606-jovem-militante-de-esquerda-e-agredido-por-skinheads-no-centro-de-paris

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Idoso espancado por suposto trio neonazista morre em Ipeúna, SP

Felipe Turioni Do G1 São Carlos e Araraquara. 01/06/2013 12h48 - Atualizado em 01/06/2013 19h55
[Vídeo da matéria no link do site]

Morreu na manhã deste sábado (1º), em Ipeúna (SP), o guardador de carros Benedito Oliveira, de 71 anos, que foi espancado por três supostos neonazistas em abril, em Rio Claro (SP). Segundo informações do filho da vítima, Donizete Oliveira, o idoso morreu em casa, onde estava desde que recebeu alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Rio Claro, na terça-feira (28), após 32 dias de uma nova internação. A causa da morte ainda não foi divulgada.

“Deram alta porque já não tinha mais o que fazer, ele estava sem reação”, afirmou Oliveira sobre o pai. Ele estava internado para tratar de doenças contraídas na primeira internação. Após a agressão, ele ficou 15 dias internado e havia recebido alta no dia 20 de abril, mas passou mal e voltou ao hospital no dia 27. Benedito Oliveira não falava e se alimentava por uma sonda.

O guardador de carros Benedito Oliveira permance internado em Rio Claro (Foto: Reprodução/EPTV)

Segundo o filho dele, o sentimento após a morte do pai é de indignação. “Indignação com tudo o que aconteceu, desde a agressão até a falta de amparo, até para ser tratado precisamos comprar a sonda, porque a saúde pública não dá, não tivemos assistência e as autoridades deveriam dar uma olhada para mais essa vítima da violência”, comentou Oliveira.

O enterro será neste domingo (2), às 10h, no Cemitério São João Batista, em Rio Claro.

O caso

Jovens suspeitos de espancar idoso
em Rio Claro (Foto: Rodrigo Sargaço / EPTV)
O guardador de carros trabalhava na madrugada do dia 6 de abril, no Centro de Rio Claro, quando foi agredido por três jovens. Um conseguiu fugir, mas dois deles foram presos em flagrante pela Guarda Municipal. Eles disseram ser do Paraná, mas trabalhavam em Rio Claro.

Os dois jovens detidos possuem tatuagens racistas no corpo e o delegado que fez a ocorrência, Mário Antônio de Oliveira, informou que eles disseram não gostar de negros e pobres. Eles ainda relataram a um guarda municipal que 'negros têm que morrer mesmo'.

A Polícia de Ponta Grossa confirmou que os rapazes são suspeitos de integrar um grupo neonazista, mas em depoimento eles negaram. Eles foram levados para a penitenciária de Itirapina. O terceiro suspeito do crime não foi identificado pela polícia.

Fonte: G1/Canal Rio Claro
http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2013/06/idoso-espancado-por-suposto-trio-neonazista-morre-em-ipeuna-sp.html
http://www.canalrioclaro.com.br/noticia/16290/idoso-espancado-por-suposto-trio-neonazista-morre-em-ipeuna.html

Ler a notícia do caso aqui:
Idosos negros são atacados por neonazistas em Rio Claro

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Faurisson e a piscina de Auschwitz I

Em 2001, Faurisson publicou este artigo sobre a piscina de Auschwitz I. Ele afirmou que "a piscina era uma piscina. Que foi criada para os detentos". Entretanto, a testemunha solitária que Faurisson citou no artigo original afirmou que "deve-se notar que só os mais aptos e bem alimentados, a exceção daqueles dos trabalhos mais severos, poderiam entrar nesses jogos...".

Esta é uma uma distorção direta feita por Faurisson, contestada por seu próprio testemunho. A piscina só foi feita pruma pequena minoria de detidos: os trabalhadores administradores de Auschwitz I. Não sabemos de qualquer extrato de que estes eram judeus. Os trabalhadores de Buna (Auschwitz III) e aqueles selecionados para Birkenau nunca chegaram perto disso; nem aqueles com rações de fome, nem aqueles que faziam trabalho pesado. No entanto, como certamente era a intenção de Faurisson, os negacionistas "engolem" esta "prova" como se fosse relacionado a todo complexo de Auschwitz. Ambos, astro3 [Kollerstrom] e 'Hannover' [Hargis] alegam precisamente isto aqui. Os leitores podem decidir por si mesmos se essa leitura 'equivocada' do fato foi feita por desonestidade ou se por pura estupidez. Com Hargis e Kollerstrom, ambas opções são plausíveis

Além disso, em um adendo no mesmo link, Faurisson citou um relato de uma testemunha tardia, escrito em 1997, afirmando que "um diretor de cinejornal tinha a filmagem de alguns deportados nadando lá." Um estudioso honesto pode concluir que isto indica o propósito reral de propaganda da piscina, mas Faurisson é um estudioso desonesto e prefere chamar a testemunha de mentiroso, exceto na pequena parte em que o seu testemunho apóia a afirmação de Faurisson.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2008/05/faurisson-and-swimming-pool-at.html
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Judeus: questões sobre Vichy (Livro de Laurent Joly)

Judeus: questões sobre (Juifs: questions sur Vichy)

Por Jacques Duquesne (L'Express), publicado em 15/06/2006

Altamente documentada, a tese de Laurent Joly sobre o Comissariado Geral imposto pelo país ocupante. Daí a aceitar sua conclusão...

Os nazis mandavam, Vichy fazia. A partir do verão de 1940, o SS Dannecker queria criar na França um escritório central para assuntos judaicos. Os homens de Vichy, já haviam desenvolvido sua própria legislação antissemita, tardiamente. Substituindo a Pierre Laval como chefe de governo, o almirante Darlan não demora muito para satisfazer o ocupante. Assim cria o Comissariado Geral para Assuntos Judaicos (CGQJ, sigla em francês).

Estranhamente, ela não fez um livro real sobre o CGAJ. E aqui está, um bloco de 1.000 páginas da tese. Laurent Joly trabalhou todos os arquivos disponíveis. Ele dá a esta triste instituição, seus líderes, a ideologia por trás deles, a sua pequena equipe, uma imagem detalhada. Necessariamente mais sutil do que o sentido usual, porque qualquer investigação aprofundada revela brigas pessoais, as diferenças de interesse ou táticas.

A "arianização" das propriedades judaicas

Alguns leitores vão descobrir um assunto pouco tratado, com o foco definido, logicamente, sobre as deportações: o roubo e a "arianização" das propriedades dos judeus que interessava ​​- no sentido material - muitos dirigentes. Lamentamos que este estudo, de uma riqueza rara, dedica apenas nove páginas de relatórios complexos à CGAJ com o Presbitério e com a União Geral dos Judeus na França (UGIF), instituição dita representativa criada por uma lei de 1941. E não vamos aceitar a conclusão de que "depois da Romênia, a França de Vichy é, certamente, dos países satélites que, por si só, desempenhou o papel mais criminoso nas políticas genocidas dos nazistas." Há quase 40 anos no livro La Destruction des juifs d'Europe (A destruição dos judeus europeus), Raul Hilberg, disse essencialmente: "Na Holanda, os alemães deportaram mais de três quartos dos judeus, na França, as estatísticas eram exatamente o oposto, impedidos com os esforços para deportar todos os judeus franceses, os alemães foram atrás da propriedade da comunidade judaica ".

Fonte: L'Express (França)
http://www.lexpress.fr/culture/livre/vichy-dans-la-solution-finale-histoire-du-commissariat-general-aux-questions-juives_821365.html
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Hitler sobre os povos bálticos e eslavos

Quando Goebbels expressou seu desprezo pelos povos bálticos e da Ucrânia simplesmente seguia as opiniões de seu Führer. Que igual a ele, não fazia distinção entre bálticos ou eslavos, aliados ou inimigos. Todos são simplesmente subumanos.

[Noite de 17-18 de setembro de 1941]

Os povos eslavos não foram destinados a viver uma vida própria. Eles sabem disso e lhes faríamos mal em persuadi-los do contrário. Fomos nós que criamos em 1918 os países bálticos e a Ucrânia. Mas hoje não temos nenhum interesse em manter os estados bálticos nem em criar uma Ucrânia independente. Temos igualmente que impedir sua volta ao cristianismo. Seria um grande erro, seria como lhes dar uma forma de organização.

Tampouco sou partidário de que haja uma universidade em Kiev. Mais vale não lhes ensinar a ler. Não vão nos querer porque lhes torturemos com escolas. Só o fato de lhes dar uma locomotiva para conduzir seria um grande erro. E que tolice, de nossa parte, realizar uma distribuição de terras! Apesar de tudo isto, faremos com que os indígenas vivam melhor do que já viveram até agora. Entre eles encontraremos material humano necessário para cultivar a terra.

Proveremos de cereais a todos os que na Europa carecem deles. A Crimeia nos dará os frutos do sul, o algodão e a borracha (40.000 hectares de plantações serão suficientes para assegurar nossa independência).

Os pântanos de Pripet nos manterão abastecidos de juncos.

Aos ucranianos lhes forneceremos lenços, pedras de cristal e tudo aquilo que os povos colonizados gostam.

Livro: Las conversaciones privadas de Hitler (Bormann-Vermerke); Tradução de Alfredo Nieto, Alberto Vilán, Renato Lavergne e Alberto Clavería. Editora Crítica, Barcelona 2004. pg. 27. Em inglês o título do livro é Hitler's Table Talk, organizado por Hugh Trevor-Roper, historiador britânico. Em formato ebook.

Fonte: blog antirrevisionismo (Espanha)
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2008/07/02/hitler-sobre-los-pueblos-balticos-y-eslavos/
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 26 de maio de 2013

"Genocídio por Telepatia, Explica Hilberg" a "trollada" de Faurisson

Esse texto foi escrito em 1988 pelo negacionista francês Faurisson alegando que o historiador do Holocausto Raul Hilberg havia dito que o genocídio dos judeus na Segunda Guerra fora feito por "telepatia". O trecho da versão em português a se destacar do texto do Faurisson "Genocídio por Telepatia" é este:
Sete meses depois Hilberg resumiu a sua nova tese perante uma audiência de perto de 2,700 pessoas na Avery Fischer Hall em Nova Iorque: a política Alemã para a destruição física dos Judeus era explicada pela leitura da mente! Nenhum documento atestando esta política criminosa poderia ser encontrado, porque não existia tal documento. Por vários anos, a inteira máquina burocrática Alemã operou por uma espécie de telepatia. Como Hilberg acrescentou:[4]
O curioso é que a suposta fonte usada como sendo origem da afirmação do Hilberg simplesmente não existe, a fonte indicada é esta:
[4] Citado em: George De Wan, "The Holocaust in Perspective," Newsday (Long Island, New York), 23 de Fevereiro de 1983, p. II/3. Também citado no Summer 1985 Journal, pp. 170-171.
O suposto historiador citado George De Wan e seu livro "The Holocaust in Perspective" provavelmente são uma criação do Faurisson, e o texto aparece com alguns acréscimos de fontes diferentes nas edições em outros idiomas com a citação do "Summer 1985 Journal" e da revista "Newsday (Long Island, NY)", ou omitindo o suposto historiador "George De Wan" como podem verificar abaixo:
Na versão em inglês: Quoted in: George De Wan, "The Holocaust in Perspective," Newsday (Long Island, New York), Feb. 23, 1983, p. II/3. Also quoted in the Summer 1985 Journal, pp. 170-171.

Na versão em francês (outro link): (George DeWan, " The Holocaust in Perspective", Newsday (Long Island, NY), 23 février 1983, p. II-3)."

Na versão em alemão: Newsday, Long Island, New York, 23.2.1983, S. II/3)
Num dos textos hospedados no VHO diz o seguinte:
This essay is an adaptation of a piece originally written on 1st September 1988, "Raul Hilberg explique maintenant le génocide par la télépathie!", in Ecrits révisionnistes, vol. II, p. 783-786.. The Journal for Historical Review (http://www.ihr.org), Volume 18 number 1, January/February 1999, p. 15. First displayed on aaargh: 17 April 2001.
Tradução:
Este ensaio é uma adaptação do pedaço originalmente escrito em 1 de setembro de 1988, "Raul Hilberg explica a execução do genocídio por telepatia!", em Ecrits révisionnistes, vol. II, p. 783-786.. The Journal for Historical Review (http://www.ihr.org), Volume 18 número 1, Janeiro/Fevereiro de 1999, pág. 15. Primeiramente exibido no Aaargh: 17 de abril de 2001.
Como se demonstra que a fonte é forjada: qualquer publicação, principalmente de referências no assunto, encontra-se listado em algum banco de dados de Universidades e outros sites (de livros) espalhados na web, é praticamente impossível não haver qualquer referência ao livro citado como fonte, como também ao suposto historiador "George De Wan", caso existissem. Além de outros erros nas versões do texto em vários idiomas.

Os únicos registros do suposto historiador "George De Wan" e do livro dele, não catalogado em qualquer base de dados de biblioteca, são de sites de negação do Holocausto ("revisionistas").

Esta citação sobre o "genocídio por telepatia" atribuída ao Raul Hilberg é bem conhecido de sites negacionistas, bem conhecida e explorada, e muita gente cai na 'trollada' sem verficar este detalhe da fonte. Ela também foi usada e repetida no livro negacionista Debating the Holocaust, do fake Thomas Dalton.

Pra quem quiser ler mais sobre a fraude do Dalton, confiram os textos publicados no Holocaust Controversies sobre o assunto. Caso queiram ler um dos textos principais do HC sobre o caso Dalton em português, confiram a tradução em português do texto do Roberto Muehlenkamp Uma boa análise de "Debatendo o Holocausto" de "Thomas Dalton".

O incrível é que nem o Nizkor, site que é especialista em textos negacionistas (primeiro grande site que combateu o negacionismo, e igualmente conhecido), não detectou a fraude intencional do Faurisson, fazendo uma discussão aqui como se fosse verdadeira a fonte inexistente ao invés de verificá-la.

sábado, 25 de maio de 2013

O Primavera Francesa (Printemps français) tornou-se um "exército secreto" (extrema-direita)

Este é o comunicado que acaba de ser publicado no site do Printemps français (Primavera Francesa), a ala radical da oposição à lei Taubira. Ele se batizou como "A Ordem do dia número um", na forma de um exército secretro.

Observando a promulgação, sábado 18 de maio, da lei do casamento para todos, este texto pretende ser o manifesto de fundação de uma "nova força de resistência". "A França está sendo submetido a forças que a querem escravizar completamente. A batalha está apenas começando. Ela continuará até a vitória."

"Na véspera da batalha, os partidos políticos já anunciaram a sua colaboração com o poder ideológico, alegando falsamente que a lei Taubira não pode ser revogada. Ao se colocarem no campo inimigo, eles se autoplocamaram como adversários ", escrevem os autores do texto, de forma bastante explícita à UMP.

"Tidos como alvos"

Segue a seguinte proclamação exaltada: "O Primavera Francesa, portanto, afirma que serão tidos como alvos: o governo atual e todos os seus apoiadores, os partidos políticos que colaboraram com a lei, os lobbies que elaboraram o programa ideológico e os órgãos que a difundiram".

O comunicado termina com: "Esta agenda é imediatamente executória."

Este texto ocorre em um ambiente de alta tensão, inclusive no movimento anti-casamento gay e alguns dias antes da manifestação no dia 26 de maio, em Paris. O exemplo mais recente desses antagonismos: causou raiva nas alas mais radicais as declarações frias de Frigide Barjot após o suicídio de Dominique Venner. Querendo distanciar o gesto dele do movimento, o porta-voz da manifestação disse que foi um ato de alguém "um pouco perturbado". "Dominique Venner faz parte de uma pequena minoria à margem [que quer] atos violentos, de uma ação forte, dizia que fazemos manifestações suaves", disse ela na terca-feira, 21 de maio em RTL.

Seguindo sua agenda de imprensa, a Primavera Francesa planeja protestar quinta-feira ou sexta-feira na sede do Grande Oriente em Paris.

Fonte: Droite(s) Extreme(s), Le Monde (França)
http://droites-extremes.blog.lemonde.fr/2013/05/22/le-printemps-francais-joue-a-larmee-secrete/
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Diferentes abordagens do holocausto dominam mostra de cinema judaico em Lisboa

terça, 21 maio 2013 11:15. Publicado por Roni Nunes

Será a 1ª edição de uma mostra totalmente dedicada ao cinema judaico

A Judaica, como foi intitulada, ocorre em Lisboa, no cinema São Jorge, entre os dias 22 e 25 de maio, contando com oito longas-metragens de ficção e quatro documentários. Os filmes são provenientes de diversos países e todos, sem exceção, são fortemente marcados por possuir um pano de fundo histórico e social relevante.

Como dificilmente poderia ser de outra forma, o doloroso tema do holocausto domina o evento – mas com abordagens muito diferentes das habituais tragédias sentimentais do cinema de Hollywood. Conforme esclarece a diretora executiva do evento, Elena Piatok, “o tema pesa e há muitos títulos focados nele, que é incontornável. Mas as obras escolhidas não mostram o habitual, aquilo que já se viu em outros filmes. Tentei evitar a abordagem no estilo de Hollywood”, salientou.

Os filmes foram escolhidos dentro de eventos do mesmo género lhe pareceram mais adequados a um público alargado, com temáticas mais universais. “Tentei que fosse a mais abrangente possível – que falasse de música, de humor, que incluísse documentários. Espero que as pessoas gostem. Tentei abrir ao máximo o leque dentro das minhas poucas possibilidades em termos de orçamento”. A ideia da mostra partiu de uma constatação muito simples: eventos semelhantes existem por toda a Europa, tanto na ocidental como na oriental, para além dos Estados Unidos. “Até em Xangai existe. A cultura judaica é internacional, não tem fronteiras”, observa.

As honras da sessão de abertura cabem ao filme Comboio da Vida, segunda obra do realizador franco-romeno de origem judaica Radu Mihaileanu, que o ano passado esteve em cartaz em Portugal com A Fonte das Mulheres. Entre a programação de ficção, três obras recentes merecem destaque: Lore, de Cate Shortland, Hannah Arendt, de Margarethe von Trotta, e Zaytoun, o novo filme de Eran Riklis – realizador de A Viagem do Diretor, que esteve em cartaz por cá em 2011. Mahler no Divã (Felix Adlon e Percy Adlon), O Tempo Perdido (Anna Justice), O Quinto Céu (Dina Zvi-Riklis) e Simon e Os Carvalhos (Lisa Ohlin) completam a programação de ficção.

Entre os documentários, destaque para O Apartamento, uma incrível história do pós-2ª Guerra reconstituída a partir dos restos de cartas e fotografias de uma idosa recém falecida, e Hava Nagila, obra que utiliza do humor para reconstruir, a partir da mais famosa música judaica, a história da cultura do seu povo através dos tempos. A Mala de Hana, uma versão sobre o holocausto direcionada aos mais jovens, e Nunca te Esqueças de Mentir, filme sobre a infância na Polónia ocupada pelos nazis, são os outros trabalhos selecionados.

Fonte: C7nema (Portugal)
http://www.c7nema.net/festival/item/39029-diferentes-abordagens-do-holocausto-dominam-mostra-de-cinema-judaico-em-lisboa.html

O fim da história para Claude Lanzmann (Documentário)

Vasco Câmara, em Cannes. 18/05/2013 - 15:20

Com Le Dernier des Injustes, um dos filmes mais aguardados em Cannes, o realizador do Shoah regressa aos campos nazis e ao debate sobre o papel que os judeus tiveram no seu próprio extermínio. Fora de competição.

Vídeo. O fim da história para Claude Lanzmann

O novo documentário inclui a entrevista ao
rabino Benjamin Murmelstein, feita em 1975 DR
O “climax da crueldade” da Solução Final chamou-se Theresienstadt, campo de concentração que o regime nazi vendia aos americanos, à Cruz Vermelha e aos judeus alemães como um “campo modelo”, cidade que o führer lhes doava. Na panóplia de instrumentos de crueldade, a mentira era uma forma de esconder o crime e de os próprios criminosos aceitarem, através da camuflagem da linguagem, o crime que iam cometer.

Dentro de Theresienstadt desenrolou-se uma “história louca”, a que o cineasta Claude Lanzmann, 87 anos, regressa com Le Dernier des Injustes, um “documentário magistral” que faz a capa da edição deste sábado do diário francês Libération, na véspera da sua apresentação no Festival de Cannes. Com o documentário de mais de três horas e meia o cineasta regressa a uma personagem que filmara em 1975 para o seu monumento de nove horas chamado Shoah: Benjamin Murmelstein, Grande Rabino de Viena durante a ocupação, que Adolf Eichmann, o chefe da logística de extermínio, nomeou em 1944 para liderar o Conselho Judeu do campo e executar os seus planos. Tudo numa invenção perversa do regime que obrigava os responsáveis de um gueto a executarem as ordens alemãs e, concretamente, a fazerem a lista dos deportados para o extermínio.

Muitos foram mortos nos campos, houve os que se suicidaram e os que, como Murmesltein, foram acusados no final da Guerra de colaboração, de terem negociado com o Diabo – antigos prisioneiros de Theresienstadt apontaram o dedo ao rabino. Julgado em 1946, considerado inocente, Murmesltein retirou-se para Roma, onde Lanzmann o entrevistou. Esse material, que não ficou na versão final de Shoah e foi entregue ao Museu do Holocausto em Washington, é a base de Le Dernier des Injustes (era a designação que Murmesltein dava a si próprio).

“Estive muito consciente das contradições selvagens em que se encontravam estas pessoas que não se tinham voluntariado para este trabalho, que tinham sido escolhidas pelos alemães que, quando não encontravam gente suficiente, as apanhavam na rua”, diz Lanzmann na longa entrevista ao jornal francês, que anuncia na capa “Lanzmann – um filme testamento”. “Quis mostrar que estes supostos colaboradores judeus não eram colaboradores. Eles nunca quiseram matar judeus, não partilhavam a ideologia dos nazis, eram uns infelizes sem esperança.”

Com Claude Lanzmann – e, tal como ele, contra o que escreveu a filósofa Hannah Arendt sobre a responsabilidade e colaboração dos judeus na sua própria morte – está Annete Wieviorka, especialista na história dos judeus no século XX. Diz ela no dossier do Libération: “A grande perversidade do nazismo foi confiar a administração de uma população aos que estavam destinados a ser assassinados.”

Le Dernier des Injustesé, concorda Lanzmann, uma forma de encerrar a sua história com o Holocausto, depois de Shoah, Sobibor, 14 Octobre 1943 (já um filme contra a ideia da passividade dos judeus perante a máquina de extermínio) ou Le Rapport Karski.

O dispositivo do novo documentário que o realizador leva a Cannes inclui a entrevista a Benjamin Murmelstein, feita em 1975, e imagens do cineasta hoje, nos lugares que já fizeram parte da sua odisseia, como Theresienstadt, cidade checa a uma hora de Praga. Para o Libération, o filme termina com um gesto simbólico de reabilitação: Lanzmann, ainda em 1975, nas ruas de Roma com Murmesltein, um abraço de afecto. É o fim da sua história.

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/cultura/noticia/o-fim-da-historia-para-claude-lanzmann-1594809

terça-feira, 21 de maio de 2013

Dominique Venner - Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris

Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris
AFP e PÚBLICO. 21/05/2013 - 18:05. (atualizado às 23:15)

Dominique Venner tinha 78 anos. Justificou o suicídio com a necessidade de "despertar as consciências adormecidas", mostrando-se contra a imigração.

A catedral de Notre-Dame foi esvaziada pela polícia PATRICK KOVARIK/AFP

Europa. França

O ensaísta e historiador de extrema-direita Dominique Venner, antigo membro da Organização Secreta Armada, matou-se na tarde desta terça-feira na catedral de Notre-Dame, em Paris.

De acordo com os media franceses, Venner, que tinha 78 anos, entrou na igreja, colocou-se atrás do altar e disparou um tiro na boca. Eram 16h. A catedral, uma das principais atracções turisticas da cidade, foi esvaziada e a polícia entrou para encontrar uma carta junto ao corpo.

Mais tarde, um outro ativista de extrema-direita leu numa rádio francesa uma mensagem deixada por Venner: "Sinto o dever de agir, enquanto ainda tenho força. Creio ser necessário sacrificar-me para quebrar a letargia que nos oprime. Escolhi um lugar altamente simbólico, que respeito e admiro. O meu gesto encarna uma vontade ética. Dou-me à morte para despertar as consciências adormecidas. Embora defenda a identidade de todos os povos em casa deles, insurjo-me contra o crime que visa substituir os nossas populações".

Esta manifestação anti-imigração já tinha também ficado evidente no blogue de Dominique Venner. No seu último post, publicado nesta terça-feira, escreveu um texto chamado "A manif de 26 de Março e Heidegger" em que diz que "os manifestantes [contra o casamento homossexual em França] têm razão em apregoar a sua impaciência . "A grande substituição da população da França e da Europa, como denunciou o escritor Renaud Camus, é um perigo verdadeiramente catastrófico para o futuro".

O texto diz que a França corre o risco de "cair nas mãos dos islamistas" e acusa todos os partidos à excepção da Frente Nacional (extrema-direita) de serem responsáveis por isso. "Desde há 40 anos que os políticos e os governos de todos os partidos (menos da Frente Nacional), com o patrocinio da Igreja, trabalharam activamente nesse sentido, acelerando por todos os meios a imigração afro-magrebina".

"São certamente precisos gestos novos, espectaculares e simbólicos, para agitar as sonolências, sacudir as consciências anestesiadas e reavivar na memória as nossas origens", escreveu o ensaísta.

Inicialmente, o suicídio de Venner foi associado a um protesto contra o casamento gay, mas o editor do ensaísta, Pierre-Guillaume de Roux, questionou imediatamente essa ligação: "Não acredito que o seu suicídio possa ser ligado ao casamento gay, isto vai muito mais além", disse à AFP Roux, acrescentando ter falado com o ensaísta por telefone na segunda-feira à noite para discutir a próxima obra deste, prevista para sair em Junho. Na sua opinião, o suicídio na Nôtre-Dame revela "uma essência simbólica extremamente forte que o aproxima a Mishima". A referência é ao escritor japonês Yukio Mishima, ligado à extrema-direita e ao movimento nacionalista nipónico, que se suicidou em 1970.

Venner foi paraquedista na guerra com a Argélia e, em 1962, escreveu o ensaio Pour une critique positive, que, segundo o Libération, foi importante para uma parte da extrema-direita, ao expor o que chamava de necessidade de refundação intelectual após o fim da guerra.

Pouco conhecido do grande público em França, mas muito respeitado na extrema-direita, o ensaísta foi autor de várias obras sobre a história (política e militar), armas de fogo e caça, destaca o Le Monde, acrescentando que Venner chegou a ser sondado para liderar a Frente Nacional, logo a após a sua criação, em 1972, posto que seria ocupado por Jean-Marie Le Pen.

Marine Le Pen, filha de Jean-Marie e actual dirigente da Frente Nacional, já reagiu no Twitter, qualificando este suicídio como "um gesto, eminentemente político, que deve ter tido o objectivo de despertar o povo francês".

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/ensaista-frances-de-extremadireita-matase-na-notredame-de-paris-1595084

Ver mais:
Dominique Venner, le père de l’extrême droite moderne, s’est suicidé (Droites Extremes, Le Monde, França)
Man kills himself inside Notre-Dame cathedral in Paris (BBC)
Far-right French historian, 78-year-old Dominique Venner, commits suicide in Notre Dame in protest against gay marriage (The Independent, Reino Unido)
Notre Dame Cathedral suicide by French writer Dominique Venner a 'gay marriage protest' (news.com.au, Austrália)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A extrema direita na Europa (parte 4): Jobbik aproveita a onda da desilusão (Hungria)

Jobbik aproveita a onda da desilusão (Texto de 1 abril 2010, de uma série de 7 textos sobre a extrema-direita na Europa, no presseurop.eu)
Komment.hu Budapeste

Membros do Jobbik e da Guarda Magiar em Budapeste
, a 23 de Outubro de 2009, no aniversário da revolta de
1956 contra a invasão soviética. AFP
Um ano após a sua participação nas eleições europeias, o partido Jobbik talvez continue a seduzir inúmeros eleitores nas próximas legislativas húngaras (11 e 25 de Abril). É muito provável que a formação populista, xenófoba, anticigana e nacionalista de Gábor Vona pese na formação do futuro Governo.
Balázs Ablonczy

As forças políticas que detiveram o poder na Hungria, nos últimos 20 anos, defraudaram cruelmente as esperanças dos eleitores. Os inúmeros filiados no partido Jobbik [nacionalista, cujo nome significa, ao mesmo tempo, "o mais à direita" e "o melhor"] são o resultado dessa decepção. Qual será o programa e a retórica deste partido?

Quando o vemos no YouTube, as expressões que os simpatizantes mais utilizam são "decepção" e "confio nele". Perante as câmaras, o adepto da extrema-direita afirma, de modo corajoso, que apoia este partido porque conhece bem o programa, que é inovador e muito bom. Retoma, assim, a deixa de um velho diálogo: o que é original não é bom e o que é bom não é original?

Em nome de um Estado forte

O alarmismo a propósito de fascistas e nazis, tão do gosto dos intelectuais de esquerda, já não se usa. O Jobbik não é um partido nazi. Porque o movimento de Gábor Vona não é um partido. São três partidos juntos.

Segundo as últimas sondagens, o partido obtém fortes apoios nas regiões do Leste da Hungria, cujos eleitores desejam um Estado forte, que resolva os problemas de ordem pública e as questões existenciais que se lhes colocam todos os dias, criando uma guarda que os defenda dos ciganos. Ainda assim, nenhum dirigente da Guarda Magiar [organização paramilitar do partido, proibida no final de 2009] nem do Jobbik explicou como é que os seus desfiles marciais, seguidos por gente corajosa, conseguiram solucionar fosse o que fosse relativamente à integração dos ciganos na Húngria. Também está por provar a necessidade de gente fardada: as missões da Guarda Magiar limitam-se, ao que parece, ao voluntariado e à defesa da população durante as cheias.

Fartos do capitalismo e da UE

Os simpatizantes do Jobbik incluem eleitores de base da direita radical, que abandonaram outros partidos de direita. Estes últimos são visivelmente influenciados pelo mito da invasão da Hungria pelos promotores imobiliários israelitas e estão fartos do capitalismo, da UE e dos governos em geral. Possuem uma força limitada.

Uma parte do grupo limita-se a dizer que os demais partidos radicais europeus são capazes de influenciar as políticas governamentais. Atribuem ao Jobbik uma tarefa pedagógica: quando estiverem no Parlamento, poderão pressionar o Fidesz [artido conservador, na oposição, a que as sondagens dão a vitória nas legislativas de 11 e 25 de Abril] e colocá-lo na "direcção certa". Mas nenhum dos seus modelos estrangeiros, nem o polaco PiS nem o austríaco FPÖ, se refere aos ciganos e aos judeus num tom tão violento, nem ao Holocausto de forma tão aberta como os fóruns oficiais e semi-oficiais do Jobbik. Nem Ján Slota, do Partido Nacional Eslovaco, se atreve a fazê-lo, apesar de ter ali à mão, para acicatar o ódio contra os estrangeiros, a minoria húngara do seu país.

Afinidades com o nacional-socialismo

A verdade é que há no Jobbik uma terceira facção, que não disfarça a simpatia pelo nazismo. A seus olhos, o partido é demasiado brando, mas eles são realistas. Até à data, o Jobbik conseguiu conciliar a admiração incompreensível pelo primeiro-ministro russo Vladimir Putin, cuja actuação é muitas vezes contrária aos interesses nacionais húngaros, e o desejo de que seja demolido o memorial aos soldados russos, na Praça Szabadság [Praça da Liberdade] de Budapeste.

Os simpatizantes do Jobbik, em suma, estão desiludidos com tudo, excepto com o Estado – apesar de o Estado, sobretudo ele, não ter brilhado nestes últimos anos. Mas como poderá funcionar bem nas mãos de um partido cujo objectivo é o confronto permanente? No fundo, o Jobbik não passa de um partido político. Enquanto tal, o mais certo é que seja permeável a casos de corrupção. Acabará por ser uma grande decepção, mais uma, para a maioria dos seus eleitores.

O roubo, a insegurança, a precariedade ou a impotência podem legitimar a raiva e a decepção. Será possível, no entanto, que consigam fundar uma estratégia política?
Links exteriores

Artigo original do Komment (húngaro)

Romênia
O extremismo húngaro não tem limites

Treinos intensos, aspecto guerreiro, reuniões clandestinas em sítios secretos, uniformes com dragonas, bandeiras húngaras, slogans revisionistas: com o Pelotão Sicula, é mesmo a sério. Depois da proibição da Guarda Magiar, milícia paramilitar da extrema-direita húngara, em 2009, um grupo de jovens siculas, a minoria de origem húngara na Transilvânia, decidiu pegar no testemunho. "O Pelotão Sicula é a falange romena da Guarda Magiar", aponta o Adevărul. "Somos siculas, não somos magiares nem romenos. Em comparação com a Guarda Magiar, somos uma espécie de associação amiga”, afirma Csibi Barna, 30 anos, líder do grupo. Para ele, “a independência dos siculas” é um objectivo pessoal e não um fim em si. Contudo, o grupo, composto essencialmente por jovens, não esconde a admiração pela Grande Hungria e quer fazer perdurar as tradições do seu povo. “Aqui, como na Hungria, perdem-se cada vez mais perante os novos hábitos ocidentais. Se desaparecerem, deixaremos de poder falar em nação húngara”, proclama um dos seus membros.

Fonte: Presseurop.eu (série A extrema direita na Europa, parte 4)
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/223261-jobbik-aproveita-onda-da-desilusao

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Ultras (extrema-direita) à caça de ciganos e judeus (a ação do Jobbik na Hungria)

Na Hungria. Ultras à caça de ciganos e judeus
Pediram ao Parlamento para que se fizesse 'listas de judeus' porque representam 'um perigo para a segurança nacional'.
Por: Silvia Blanco, El País Internacional

Um seguidor do Jobbik, numa manifestação contra
o Congreso Mundial Judaico em 4 de maio em
Budapeste. / LASZLO BELICZAY (EFE)
Boa parte do oxigênio que a extrema-direita necessita para seguir bombeando ódio vem do escândalo e da provocação. O Congresso Mundial Judaico, que escolheu Budapeste para alertar sobre o crescente antissemitismo na Hungria, foi uma ocasião que o partido ultra Jobbik aproveitou para conseguir passar adiante suas teorias da conspiração. Foi na semana passada. Sabiam que não passariam desapercebido e que seu líder, Gábor Vona, discursara contra Israel ou que Márton Gyöngyösi, o deputado que em novembro pediu no Parlamento para que se fizesse 'listas de judeus' porque representam 'um perigo à segurança nacional', proclamasse ante 400 fiéis que: 'Nosso país está subjulgado ao sionismo. Colonizam-no enquanto nós, os nativos, só temos o papel de excedentes'.

Em apenas dez anos, o Jobbik - que significa Movimento para uma Hungria melhor - converteu-se em um dos partidos de ultradireita com mais sucesso na Europa, junto com o Aurora Dourada na Grécia: é a terceira força política na Hungria, tem 43 deputados em uma Câmara de 386 e três de seus membros sentam-se no Parlamento Europeu, com o detalhe de que são eurófobos. Uma de suas referências internacionais é o Irã. A retórica antissemita que usam não é, contudo, a que mais benefícios lhe dá. A grande obsessão do Jobbik são os ciganos - que representam cerca de 10% dos dez milhões de húngaros - que são para o Jobbik o que os imigrantes representam para os neonazis gregos e o resto da ultraidireita europeia.

O rechaço aos ciganos conecta melhor com os estereotipos que circulam na sociedae húngara, 'muito menos antissemita do que contrária aos ciganos', explica Péter Krekó, especialista em extrema-direita do think tank Political Capital de Budapeste. Tampouco poupam esforços em apontar seu discurso antissistema, separando-se do resto dos políticos proclamando-se 'os únicos que dizem a verdade, aqueles que rompem tabus e abordam diretamente a questão cigana'.

A crise econômica que sacode à União Europeia é um incentivo para que germinem este tipo de movimentos, mas essa é só uma parte da explicação. Jobbik já estava ali bem antes. Como assinala Krekó, 'as raízes de sua ascensão estão também na crise política e institucional da UE. Os partidos tradicionais perderam sua credibilidade', comenta, para acrescentar que, longe da imagem de pessoas frustradas e sem educação - que também existem - 'a base do Jobbik são jovens, homens, de classe média alta e muitos universitários'. A popularidade do partido é estável nas pesquisas, com um apoio similar ao que obteve em abril de 2010, dos 17% dos votantes.

O programa do Jobbik se baseia na segregação dos ciganos. Em seu escritório com vistas ao Danúbio no Parlamento de Budapeste, o deputado Márton Gyöngyosi debulhava o ideário do partido meses antes de pedir que se fizessem listas de judeus. Com seu perfeito inglês e bem vestido, comentava que pretendem 'separar as crianças ciganas em internatos para removê-los dos que os rodeiam: das influências de seus pais, mas sobretudo daqueles da comunidade (cigana), que é desanimadora'.

Ou seja, como explica Krekó, 'querem meter os ciganos em campos de "reeducação"'. O Jobbik os apresenta como uma comunidade incapaz de se integrar à sociedade, como vagos que vivem só de subsídios, sem educação e destinados a ter filhos de maneira irresponsável. Isto num contexto no qual, como nota Gyöngyösi, a 'natalidade dos húngaros [os ciganos, pelo visto, não o são] é catastrófica'.

O Jobbik culpa com exclusividade os ciganos de um tipo de delito, relacionado com furtos e o uso de navalhas. Ainda que seja um conceito anterior à existência do partido, isto lhe dá visibilidade. Esta ideia está na base da criação da Guarda Húngara, uma organização vinculada ao Jobbik formada por civis uniformizados que se dedicava a patrulhar os povoados para aterrorizar os ciganos. Ainda que tenha sido proíbida em 2009, seus restos dispersos seguem atuando. O último incidente sonoro ocorreu em Miskolc quando em outubro passado se reuniram 3000 seguidores do Jobbik com tochas nos bairros ciganos.

Um dos riscos mais inquietantes dos movimentos extremistas é sua capacidade de distorção da política de um país. Porque, ainda que tenham pouco poder em relação ao número de deputados, tentam condicionar a agenda dos partidos maiores. Na Húngria haverá eleições em 2014. Fidesz, o partido conservador de Viktor Orbán, compartilha com o Jobbik o discurso ultranacionalista e, como conta Krekó, 'as críticas aos bancos e a ideia de que os políticos europeus conspiram contra a Hungria'.

Mas o Fidesz não é antissemita. Orbán se vangloria em condenar esta atitude em seus discursos e organiza atos para comemorar o Holocausto. Contudo, não menciona o Jobbik ante os líderes judeus quando estes denunciaram o crescente antissemitismo. Fidesz não criticou o enaltecimento, em todo país, do ditador Miklós Horthy, responsável último da deportação a Auschwitz de meio milhão de (judeus) húngaros. O governo incluiu, no ano passado no programa educativo, dois autores filonazistas e concedeu um prêmio de jornalismo a um reconhecido antissemita e depois pediu a ele que o devolvesse. Estas contradições podem responder ao fato de que o Fidesz, com a popularidade muito minguada desde que obtivera uma grande maioria de dois terços em 2010, está preocupado com a força do Jobbik.

Por: Silvia Blanco, El País Internacional

Fonte: El País/El Espectador.com
http://www.elespectador.com/noticias/elmundo/articulo-421730-ultras-caza-de-gitanos-y-judios
http://internacional.elpais.com/internacional/2013/05/12/actualidad/1368388706_483405.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
The shadow of anti-semitism falls on Europe once more as Hungary's far-fight Jobbik party protests against World Jewish Congress meeting in Budapest (The Independent, Reino Unido, dia 05.06.2013)

Observação: muito frequentemente eu traduzo (quando não encontro texto em português) matérias de jornais (ou revistas) de fora com o tema do blog, esta matéria saiu no dia 12 de maio último no jornal El País da Espanha conforme link acima, reproduzido no Elespectador.com, também de língua espanhola. Esta tradução foi feita entre os dias 12, 13 e 14 só que só publicada no dia 15. Pra minha surpresa, quando coloco o termo Jobbik e judeus na busca encontro textos com o mesmo título e quase a mesma tradução, sem indicação da fonte do jornal El País. Se esta matéria é de outra Agência de Notícia, então o erro foi do El País, mas a matéria acima que li foi do dia 12 de maio. Eu não quis usar o termo ultras (por não ser usual) e coloquei "extrema-direita".

Por isso fica o aviso, eu não coloco texto de sites e jornais brasileiros sem indicação de fonte, li esta matéria originalmente no Elespectador.com e no El País no dia 12 de maio, e é estranho não citarem o El País nas traduções. Por conta dessas coisas e de outros comportamentos não citados nesta observação, tenho evitado usar jornais e sites brasileiros sobre estes assuntos (fascismo, extrema-direita, nazismo, neonazismo e afins), pois além desses problemas eventuais mencionados, a mídia brasileira costuma ser bem rasa e sensacionalista com estes assuntos, meio que pra chocar o público, em geral não explicam a origem do problema e/ou retratam-no de forma banal, isto pra não listar mais problemas. E nem precisaria adicionar (mas faço questão de citar) como o povo vê hoje o nível da mídia brasileira: de mal a pior.

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