quarta-feira, 30 de março de 2011

Tribunal revisa a condenação por venda de material nazi na livraria Kalki de Barcelona

Efe | Europa Press | Barcelona

Os acusados, durante o julgamento
O Tribunal Superior celebrará nesta quarta-feira uma audiência para revisar a sentença ditada em 2009 pelo Fórum Provincial de Barcelona que condenou a penas de até três anos e meio de cárcere, quatro responsáveis pela desaparecida livraria Kalki da cidade condal e de uma editora de Molins de Rei (Barcelona) por vender material de ideologia nazi.

A Sala que deliberará sobre este assunto será integrada pelos magistrados Adolfo Prego, Andrés Martínez Arrieta, Alberto Jorge Barreiro, Diego Ramos e Miguel Colmenero, que serão componentes da resolução, segundo informaram fontes do alto tribunal.

A sentença ditada em outubro de 2009 pela Audiencia de Barcelona considerava provado que, entre janeiro e julho de 2003, os condenados venderam, através da livraria situada na rua Argenter do bairro de Sant Pere e de sua página web, todo tipo de publicações nas quais se justificava e exaltava o regime nazi e se incitava o genocídio do povo judeu.

Segundo o tribunal, alguns dos livros e revistas confiscados da livraria e dos domicílios particulares também incitavam a discriminação, a exclusão e a eliminação de distintos grupos raciais e sociais enquanto que exaltavam e justificavam os regimes fascistas totalitários baseados na supremacia da raça ariana.

Assim mesmo, alguns documentos ridicularizam ou banalizam o Holocausto, o que, para os magistrados, equivale a justificá-lo.

A venda deste tipo de livros constitui um delito contínuo de difusão de ideias genocidas e outro contra os direitos fundamentais e às liberdades públicas, segundo recordou a Audiência de Barcelona.

Em concreto, condenou-se a Ramon B.F., presidente do neonazi Círculo de Estudos Indoeuropeus (CEI), a três anos e meio de prisão e a pagar 6.000 euros de multa pela difusão de ideias genoidas, um delito contra os direitos humanos e outro de associação ilícita.

Assim mesmo, a Audiência impôs a Oscar P.G., propietário da livraria e dirigente do CEI, a pena de três anos e meio de cárcere e uma multa de 3.600 euros pelos mesmos três delitos. Carlos G.S., dirigente do CEI, foi condenado pelos mesmos delitos a três anos de prisão e 3.240 euros de multa, enquanto que o quarto acusado, Antonio L.S., propietário da editora, foi condenado com dois anos e meio de cárcere e 2.400 euros de multa por difusão de ideias genocidas e um delito contra os direitos humanos.

O CEI, fundado em Valência em 1997 por Ramón B.F., promovia esta ideologia. Tinha como lema "Irmandade Ariana", e como símbolo, as iniciais deste, I e A(em espanhol H e A), que coincidem com as de Adolf Hitler.

Além disso, obrigava a todos seus membros a vestir uniforme, com camisa parda e pantalonas e botas botas militares, além do bracelete com o símbolo da entidade.

Os dirigentes do grupo pretendiam ser uma espécie de "Estado Maior", autodenominado "SS", que poderia impôr um sistema fascista em qualquer lugar da Europa ainda que o impusesse militarmente. O juramento para pertencer ao grupo paramilitar prometia fidelidade eterna a Hitler e suas ideias.

As investigações começaram em finais de 2002 depois de ter conhecimento de que, através da livraria e da editora, distribuia-se este tipo de material. A citada livraria vendia os livros editados pela empresa editorial, pelo que os Mossos estabeleceram um vínculo profissional e comercial entre os detidos.

Nos registros praticados em julho de 2003 e maio de 2004, os agentes interceptaram 10.000 livros, fitas de vídeo, revistas, publicações em outras línguas, "fanzines" e suásticas. A maioria das publicações eram distribuídas na Europa, sobretudo na França e em Portugal, assim como na América do Sul, principalmente no Chile. A sentença ordena o confisco de todo o material.

Devido à pressão policial, em maio de 2005 o CEI se dissolveu e em novembro de 2006 ingressaram 18.000 euros na condenação em favor das Comunidades Israelitas de Barcelona, SOS Racismo e Amical Mathausen, que se fizeram presentes no julgamento como acusações populares.

Um caso parecido a este foi o da livraria Europa, do bairro de Gràcia de Barcelona, cujo propietário, Pedro Varela, foi condenado por justificar também o Holocausto.

Fonte: Europa Press/elmundo.es (Espanha)
http://www.elmundo.es/elmundo/2011/03/30/barcelona/1301464457.html
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 29 de março de 2011

Projeto resgata obras de compositores perseguidos pelo nazismo

Kletzki: judeu, parou
de compor após o nazismo
Pesquisadores de uma universidade do Texas buscam registros e obras de músicos que foram forçados a interromper a carreira após a chegada dos nazistas ao poder.

O músico Timothy Jackson, professor da Universidade do Norte do Texas, em Denton, nos Estados Unidos, vem trabalhando num projeto importante para a música: resgatar os trabalhos de dez compositores que ficaram "perdidos" na história. Sobretudo por conta da ascensão do nazismo na Alemanha.

Um desses compositores é Paul Kletzki. Nascido em 1900 na cidade polonesa de Lodz, Kletzki logo se tornou uma das estrelas do cenário musical alemão. Respeitado por compositores e maestros, alcançou particular sucesso em Weimar, com suas sinfonias e concertos ao piano.

Só que Kletzki era judeu, e os compositores judeus eram proscritos pelos nazistas, não interessando a que tipo de música se dedicassem. "Quando Paul Kletzki estava começando a estourar, Hitler chegou ao poder (em 1933) e o compositor percebeu que seu futuro estava arruinado", conta Jackson.

Primeiramente, Kletzki fugiu para a Itália. Em seguida foi para a Rússia e logo depois para a Suíça. Traumatizado com as atrocidades dos nazistas – ele perdeu os pais e a irmã na perseguição – Kletzki parou de compor em 1942 e enterrou os papéis com suas músicas dentro de uma caixa.

Arte desenterrada

A caixa foi descoberta em 1964, mas o compositor não pôde ir ao local abri-la. Apenas após a sua morte, em 1973, a viúva, Yvonne, viu que todas as composições permaneciam intactas. Ela repassou todo o trabalho do marido para Timothy Jackson e desde então várias das composições de Kletzki foram gravadas em CD. A última gravação, um concerto de piano, chegou a ser indicado ao Grammy deste ano.

De acordo com o curador musical do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, Bret Werb, vários compositores perseguidos pelo regime nazista vêm sendo redescobertos e seus trabalhos resgatados após vários anos, em pesquisas realizadas em diversos lugares do mundo. Werb ressalta que a Internet tem facilitado e intensificado o intercâmbio de informações. Com isso, se sabe cada vez mais sobre esse período perdido.

"Não fosse isso, grande parte da música produzida naquele tempo ficaria perdida", diz Werb. "É nosso dever dar uma segunda chance àqueles que foram injustiçados no passado".

Mesmo doente, Oppel foi
chamado pelos nazistas
Músico na guerra

Outro nome importante revelado pelas pesquisas foi o do músico Reinhard Oppel. Jackson chegou a ele quando estava pesquisando sobre músicos contemporâneos do famoso teórico de música Heinrich Schenker, de Viena, logo no começou de seu projeto, no início dos anos 1990. Oppel e Schenker haviam sido professores na Universidade de Kiel.

O pastor Kurt Oppel, de 80 anos de idade e residente em Heidelberg, era filho de Reinhard Oppel. Ele lembra que seu pai era um homem incomum e interessante, que conseguia ser "dócil e colérico ao mesmo tempo". Ele era, sobretudo, um músico. Ele aprendeu a tocar órgão aos seis anos de idade, antes mesmo de entrar para a escola, e trombone, aos 60.

Reinhard Oppel nunca fizera segredo da sua má vontade em relação aos nazistas. Aos 62 anos de idade, já enfrentando graves problemas cardíacos, foi chamado para uma inspeção militar. Ele morreu em 1941.

Após a guerra, seu filho Kurt foi para a Alemanha Ocidental, deixando as obras parcialmente enterradas ou em caixas de margarina numa casinha de jardim de amigos da família.

Compositores perdidos

O pesquisador Jackson também busca também detalhes da história de sua própria família. Sua mãe foi uma artista e cresceu sob a sombra do Holocausto. Por meio de suas buscas, ele espera descobrir mais "compositores perdidos". O professor afirma que grande parte de suas descobertas acabam vindo à tona por "acaso", dependendo de quanto os familiares pretendem resgatar de seus ancestrais.

"Nós esperamos que suas músicas não sejam relacionadas a arte proibida ou de compositores exilados, ou mesmo consideradas músicas do Holocausto. Mas que as obras sejam vistas, simplesmente, como música", defende Werb.

Autora: Christina Bergmann (msa)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,14941773,00.html

sábado, 26 de março de 2011

O problema Wiesel e os "revisionistas" - parte 1

O problema sobre o livro do Wiesel A Noite, veio à tona numa discussão com "revis", só que colocarei só o link do IHR, que é de onde eles copiam o texto pra blogs e depois traduzem sem dar o devido "crédito" aos gurus do movimento. É incrível como eles conseguem inclusive passar a perna nos gurus do bando.

De fato, o livro do Wiesel é problemático, e chamar de "problemático" é pra pegar leve nos adjetivos, pois a expressão correta seria: o livro é muito ruim. Esse livro é literalmente "alegria" pra "revisionistas".

Por isso que chega a ser impressionante que, mesmo com um livro ruim em mãos, os "revis" conseguem a proeza de distorcer em cima do que consta no livro quando seria fácil demonstrar o quanto o livro é ruim e tendo trechos escritos em uma linguagem metafórica que em nada ajuda no rigor histórico de uma narrativa.

Numa das alegações que eles fazem, ou mais precisamente o Robert Faurisson ("revi" francês e um dos gurus proeminentes do bando) faz neste texto do IHR, é mencionar que o Wiesel não citou nada sobre câmaras de gás ou gaseamentos no livro "A Noite". Trecho:
Elie Wiesel passes for one of the most celebrated eyewitnesses to the alleged Holocaust. Yet in his supposedly autobiographical book Night, he makes no mention of gas chambers. He claims instead to have witnessed Jews being burned alive, a story now dismissed by all historians. Wiesel gives credence to the most absurd stories of other "eyewitnesses."[1]
Tradução:
Elie Wiesel passa por uma das mais celebradas testemunhas oculares do alegado Holocausto. Entretanto, em seu livro supostamente autobiográfico "A Noite", ele não faz nenhuma menção a câmaras de gás. Ele afirma que ao invés disso, ele testemunhou que judeus foram queimados vivos, uma história agora rejeitada por todos historiadores. Wiesel dá credibilidade às mais absurdas histórias de outras "testemunhas".
Vistoriando o livro A Noite, ao contrário do que o Faurisson alegou, encontra-se um trecho em que o Wiesel cita gaseamentos, num "diálogo em voz alta" de Wiesel questionando Deus(um trecho pra ser entendido como uma forma de questionamento a uma entidade divina onde envolvem questionamentos de ordem espiritual dele, Wiesel):

The melody choked in his throat. And I, mystic that I bad been, I thought: Yes, man is very strong, greater than God. When You were deceived by Adam and Eve, You drove them out of Paradise. When Noah's generation displeased You, You Brought down the Flood. When Sodom no longer found favor in Your eyes, You made the sky rain down fire and sulfur. But these men here, whom You have betrayed, whom You have allowed to be tortured, butchered, gassed, burned, what do they do? They pray before You! [2]
Tradução:

A melodia sufocada em sua garganta. E eu, místico que mal havia sido, pensei: Sim, o homem é muito forte, maior que Deus. Quando você foi enganado por Adão e Eva, Você os expulsou do Paraíso. Quando a geração de Noé desagradou Você, Você trouxe o Dilúvio. Quando Sodoma não agradou mais seus olhos, Você fez o céu chover fogo e enxofre. Mas estes homens aqui, a quem Você traiu, os quais Você permitiu que fossem torturados, gaseados, queimados, o que eles faziram? Eles oram antes para Você!
O Wiesel na queixa que faz a Deus sobre as desgraças do campo de concentração, cita que pessoas estão sendo "torturadas, gaseadas, queimadas".

Ou seja, pra citar que pessoas estavam sendo gaseadas, ao contrário do que o Faurisson alega no texto porco que escreveu e que as groupies do movimento revinazi repetem, o Wiesel ouviu sim falar em gaseamentos. E sendo redundante novamente, as pessoas eram gaseadas em câmaras de gás.

O livro foi reeditado em 2006, a edição usada acima é a nova, mas eu verifiquei em uma versão anterior do livro o trecho acima pra ver se houve alguma alteração e se encontra igual.

Esta é a primeira parte da série, aguardem que vem mais.

Notas

[1] "A Prominent False Witness: Elie Wiesel", texto do "revisionista" francês Robert Faurisson no site do IHR.
[2] "Night", Elie Wiesel, edição de 2006, versão digital, página 68, em inglês.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Partes do diário de Anne Frank foram escritos com esferográfica?

Partes do diário de Anne Frank foram escritos com esferográfica?

Negadores do Holocausto dizem:

Partes do diário de Anne Frank foram escritos com esferográfica, as quais não se encontravam disponíveis antes do fim da guerra.

Negadores do Holocausto argumentam:

David Irving, cuja a Alta Corte em Londres declarou ser um negador do Holocausto, racista e antissemita, afirmou que partes do diário de Anne Frank tinham sido escritos com "caneta esferográfica", sendo que essas canetas não eram disponíveis pro uso até início dos anos de 1950s.[1]

A verdade sobre se algumas partes do diário foram escritas de caneta esferográfica.

Anne escreveu o corpo de seu diário com uma caneta tinteiro - que é uma caneta que utiliza tinta molhada. Os unicos traços significantes de caneta esferográfica caneta estão restritos a dois pedaços de papel soltos colocados junto com os materiais do diário mais tarde (provavelmente por Otto Frank). Eles estão distintamente com uma mão diferente da de Anne. Quando Otto Frank organizou os livros e papeis depois da guerra, ele numerou as páginas, em parte, com esferográfica e, em parte, com lápis colorido.[2]

Conclusão

Anne escreveu o corpo de seu diário com uma caneta tinteiro. Os únicos traços de esferográfica são duas notas soltas escritas por outra pessoa e postas com os papéis mais tarde e alguns números de páginas escritos sobre as folhas durante o processo de compilação.

Notas

1. "David Irving answers a student asking for his views on the Anne Frank Diary."
http://www.fpp.co.uk/Auschwitz/docs/controversies/AnneFrank/Jules150286.html
2. Netherlands State Institute for War Documentation, The Diary of Anne Frank: The Critical Edition (New York: Doubleday, 1988): pp. 160-165.

Fonte: Holocaust Denial on Trial
http://www.hdot.org/en/learning/myth-fact/annefrank2
Tradução: Roberto Lucena

Também ler:
66 Perguntas e Respostas sobre o Holocausto
55. O que provocou a morte de Anne Frank algumas semanas antes do fim da guerra?
56. É autêntico o Diário de Anne Frank?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Bispo negacionista Williamson enfrentará novamente a justiça alemã

O bispo negacionista Williamson enfrenta novamente a justiça alemã

O prelado é acusado de incitação ao ódio racial e contratou para sua defesa um advogado de ideias neonazistas
LAURA LUCCHINI - Berlim - 23/03/2011

Um novo processo contra o bispo lefebvriano britânico Richard Williamson terá lugar a partir do próximo mês de julho na cidade de Ratisbona, na Alemanha, segundo deu-se a conhecer hoje a Promotoria. Williamson, que é conhecido por suas teses negacionistas do Holocausto judeu, é acusado na Alemanha de incitação ao ódio racial. O julgamento, inicialmente programado para novembro de 2010, foi adiado porque Williamson quis trocar de advogado.

As acusações contra Williamson se centram em uma entrevista realizada na Alemanha pela televisão sueca na qual o polêmico bispo, de 71 anos, pôs em dúvida o número de vítimas do Holocausto e a existência das câmaras de gás: "Creio que as provas históricas falam fortemente contra o fato de que seis milhões de judeus foram gaseados intencionalmente nas câmaras de gás como estratégia aleivosa de Adolf Hitler. (...) Creio que não houve câmaras de gás". Segundo o bispo, as vítimas judias do regime nazi na Alemanha não superariam a 200 ou 300.000.

Ainda que a entrevista não fosse destinada ao público alemão, foi realizada em Zaitzkofen, próximo de Ratisbona, onde está a sede da Irmandade Pio X a qual pertence Williamson, e por esta razão se considera que a justiça local é a quem deve processar Williamson.

Na Alemanha, negar o Holocausto ou suas fases é considerado um delito de incitação ao ódio racial e é passível de processo de até seis anos de reclusão. Em abril de 2010 o tribunal de Ratisbona condenou a Williamson o pagamento de uma multa de 12.000 euros, a qual a juíza Karin Frahm rebaixou para 10.000 euros. Tanto o bispo como a Promotoria recorreram desta decisão.

As controvertidas declarações, retransmitidas na Suécia em princípios de 2009, provocaram um grande escândalo já que coincidiram com o levantamento por parte do Vaticano da excomunhão que pesava, desde 1988, sobre o bispo britânico e outros três seguidores do cismático francês Marcel Lefebvre, fundador da Irmandade Pio X. O alvoroço que esta história causou na Alemanha obrigou a chanceler democrata-cristã Angela Merkel a confrontar o Papa Benedito XVI: "Se uma decisão do Vaticano chega a causar a impressão de que o Holocausto pode ser negado, esta decisão tem que ser esclarecida. Por parte do Papa e do Vaticano têm que se afirmar muito claramente que não se pode haver negação", condenou então Merkel.

Depois, Ratzinger reconheceu erros no levantamento da excomunhão deste religioso, e disse que se inteirou de suas teses negacionistas só depois de haver revogado sua excomunhão. Tanto a questão do caso Williamson como o escândalo dos abusos sexuais a menores no seio da Igreja Católica estão entre os momentos mais críticos do pontificado de Benedito XVI.

Em novembro passado, a revista Der Spiegel denunciou que Williamson escolheu para dirigir sua defesa, Wolfram Nahrath, notório membro da extrema-direita alemã, filiado ao neonazi Partido Nacional Democrata (NPD) e último chefe da proibida organização juvenil ultradireitista Wiking Jugend (Juventude Viking).

Fonte: El País(Espanha)
http://www.elpais.com/articulo/sociedad/obispo/negacionista/Williamson/enfrenta/nuevamente/justicia/alemana/elpepusoc/20110323elpepusoc_3/Tes
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
El polémico obispo negacionista del Holocausto será juzgado en Alemania (laverdad.es/EFE, Espanha)

terça-feira, 22 de março de 2011

6 anos de prisão para Demjanjuk. Último julgamento de criminoso de guerra nazi na Alemanha

Promotores alemães pedem seis anos de prisão para acusado nazi
terça-feira 22 de março de 2011 16:59 GYT
Por Christian Kraemer

John Demjanjuk
MUNIQUE, Alemanha (Reuters) - Promotores alemães pediram nesta terça-feira seis anos de cárcere para John Demjanjuk, acusado de ajudar a matar 27.900 judeus no Holocausto, ao final do que provavelmente seja o último julgamento por crimes de guerra no país.

O promotor do Estado Hans-Joachim Lutz disse ante o tribunal de Munique, ao final do julgamento que durou 16 meses, que Demjanjuk, de 90 anos, foi "parte da maquinária nazi" e cúmplice do assassinato de judeus.

"Qualquer um com tanta culpa como esta deve ser castigado, apesar de uma idade tão avançada e inclusive 60 anos depois do crime", disse Lutz em seus argumentos finais. Os promotores podiam ter pedido uma condenação de até 15 anos.

Demjanjuk negou qualquer papel no Holocausto. Declarou que foi recrutado pelo exército soviético em 1941, e que se converteu em um prisioneiro de guerra alemão e que trabalhou em campos de prisioneiros alemães.

Os promotores acusam Demjanjuk, que esteve no topo da lista dos criminosos de guerra mais procurados do Centro Simon Wiesenthal, de ajudar nas mortes no campo de extermínio de Sobibor, onde é apontado que cerca de 250.000 judeus foram assassinados. O acusado nega haver ali trabalhado.

Sua família disse que estava demasiado frágil para se submeter a um julgamento, que começou em novembro de 2009 na cadeira de rodas e ao qual compareceu acamado.

Demjanjuk nasceu na Ucrânia e combateu no Exército Vermelho antes que os nazis o capturassem e o recrutassem como guarda do campo. Emigrou para os Estados Unidos em 1951 e se naturalizou em 1958.

Lutz disse que baseia seu pedido de seis anos de prisão pelo alto número de vítimas. Também afirmou que muitos outros prisioneiros de guerra que se converteram em guardas haviam conseguido escapar.

"O acusado poderia ter tentado escapar", disse e acrescentou que Demjanjuk participou voluntariamente e por convicção na aniquilação de judeus.

O promotor disse que quanto maior for o crime, maior era a necessidade de se evitá-lo se tentar escapar fosse arriscado.

Demjanjuk foi sentenciado à morte em Israel en 1988 depois de que os sobreviventes do Holocausto disseram que era o célebre guarda apeliado de "Ivan o terrível" no campo de Treblinka, onde morreram 870.000 pessoas.

O Supremo Tribunal de Israel anulou depois a condenação quando novas provas demonstraram que outro homem foi provavelmente o guarda de Treblinka.

(Reportagem de Christian Kraemer; Traduzido para o espanhol por Raquel Castillo na Redação de Madrid)

Fonte: Reuters (América Latina)
http://lta.reuters.com/article/worldNews/idLTASIE72L15720110322
http://lta.reuters.com/article/worldNews/idLTASIE72L15720110322?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 20 de março de 2011

Einsatzgruppe Aegypten (Egípcio)?

Yahoo News:
O diretor do centro de pesquisa sobre nazismo em Ludwigsburg, Klaus-Michael Mallman, e o historiador berlinense Martin Cueppers alegam que um Einsatzgruppe foi preparado para ir à Palestina para duramente matar os cerca de meio milhão de judeus que fugiram da Europa para escapar dos campos de extermínio nazistas como Auschwitz e Birkenau.

No estudo, publicado mês passado, eles dizem que o "Einsatzgruppe Egypt"(Einsatzgruppe Egípcio) estava estacionado em Atenas e estava pronto para desembarcar na Palestina no verão de 1942, anexo aos "Afrika Korps" conduzidos pelo famoso comandante do deserto, o General Erwin Rommel.
Interessante, se verdadeiro.

Atualização: a referência é Mallmann, Klaus-Michael (und Cüppers, Martin) Beseitigung der jüdisch-nationalen Heimstätte in Palästina. Das Einsatzkommando bei der Panzerarmee Afrika 1942 in: Matthäus, Jürgen / Mallmann, K.-M. (Hgg) Deutsche, Juden, Völkermord. Der Holocaust als Geschichte und Gegenwart Darmstadt: Wiss. Buchgesellschaft WBG, 2006. Link do livro em inglês.

Atualização 2: a resposta na Cesspit é previsivelmente histérica. Eles não sabem nem qual prova foi encontrada, mas já a negam de forma antecipada!

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/04/einsatzgruppe-aegypten.html
Texto: Sergey Romanov
Tradução: Roberto Lucena


Observação 1: o link do Yahoo! está quebrado pois a matéria data de 2006. Mas é possível encontrar a matéria original pelo Google.

Observação 2: o blog não se destina a tratar de assuntos sobre conflitos recentes no Oriente Médio, e sim sobre Segunda Guerra, Holocausto, neonazismo/fascismo e negacionismo do Holocausto. Quando algo relacionado ao Oriente Médio é mencionado no blog, isto diz respeito apenas àqueles assuntos relacionados e que fazem parte da temática do blog citada anteriormente, e não diz respeito a posicionamentos sobre os conflitos atuais (do pós-Segunda Guerra) no Oriente Médio. A menos que algum outro membro do blog queira discutir ou mencionar isto. Portanto, a você meu caro, que queira perturbar aqui, enchendo o saco com este tipo de assunto (conflitos recentes no Oriente Médio), desencane e vá encher o saco de terceiros em outro lugar com este tipo de assunto.

Observação 3: aos que se enquadram neste perfil descrito acima, levem a sério a observação 2, pois não é (nem de longe) uma observação retórica. Não se trata de ironia ou texto de duplo sentido, a observação 2 deve ser interpretada literalmente e será seguida à risca, pelo menos no que diz respeito ao posicionamento que mencionei antes.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Há 100 anos nascia o médico nazi Josef Mengele: o 'Anjo da Morte'

O doutor fez experimentos com humanos em Auschwitz e foi o responsável pelo extermínio de milhares de judeus | Fugiu para a Argentina e nunca pagou por suas atrocidades

por Lorena Ferro

Mengele, o médico nazi que fez
experimentos com humanos e
exterminou milhares de judeus
encontrou refúgio na Argentina.
Atroz, monstruosa, bárbara, cruel, inumana... a lista de qualificativos para definir a (criminosa) práxis que levou a cabo Josef Mengele seria interminável. Ele que fora médico do campo de concentração e extermínio de Auschwitz durante a II Guerra Mundial ganhou o apelido de Anjo da Morte: por fazer experimentos com humanos e ser o responsável pela morte de milhares de judeus. Faleceu em 1979 (ainda que sua deceso se connheceu seis anos depois) sem prestar contas por suas atrocidades. Hoje faz um século do seu nascimento.

Friamente, usou os judeus como cobaias humanas com todo tipo de experimentos macabros - a muitos outros enviou-lhes diretamente do trem ao crematório - e fugiu do campo de concentração em janeiro de 1945, dias antes de sua liberação. Josef Mengele nem sequer foi citado nos Julgamentos de Nuremberg e como muitos outros criminosos nazis cruzou o Atlântico e converteu a América do Sul em seu esconderijo.

O Anjo da Morte se ocultou detrás de nomes falsos (Wolfgang Gerhard foi um deles) para se safar da justiça que o buscava por seus numerosos crimes. Na década de 60 foi localizado na Argentina onde se solicitou para ele uma ordem de detenção, mas pouco depois perderam sua pista. Ainda assim, bem atrás da captura dele estava Simon Wiesenthal, o caçador de nazis, que não se cansava de assegurar que alguns dos participantes do Holocausto estavam na América do Sul. Da Argentina, Mengele emigrou para o Paraguai e ali se acreditava que ainda estava em 1982.

Morreu em 1979 no Brasil

Em 1985 continuava-se a busca no Paraguai e inclusive se oferecia dinheiro por informação sobre ele, até que em junho se soube que o médico nazi havia morrido em 1979 no Brasil. Era o que assegurava seu filho mas nem todo mundo acreditava. Dias depois se confirmava que o cadáver encontrado pertencia a Josef Mengele.

Sete anos mais tarde, uma ampla reportagem relatva o êxodo nazi que foi iniciado pelo Anjo da Morte (em 2010 The New York Times trazia à tona que o governo dos EUA havia dado cobertura aos nazis fugidos) e pouco depois as provas da ADN reconfirmavam que o cadáver encontrado em 1985 era o de Josef Mengele. Ainda assim, nem todos acabaram crendo que ele houvera morrido.

O certo é que Josef Mengele, o Anjo da Morte, viveu e atuou impunimente e faleceu em 1979 sem haver prestado contas à justiça nem às vítimas por suas atrocidades.

Fonte: LaVanguardia.es (Espanha)
http://www.lavanguardia.es/hemeroteca/20110316/54126804757/hace-100-anos-nacio-el-medico-nazi-josef-mengele-el-angel-de-la-muerte.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: o texto não traz nenhuma novidade além de manter viva a memória das atrocidades do sociopata Mengele em Auschwitz. Mas uma coisa interessante na matéria(por isso fiz questão de traduzir) chama atenção que é a inclusão de hiperlinks remetendo pro exemplar digitalizado do jornal na época em que ocorreram esses fatos. O jornal do texto é da Espanha. A iniciativa no Brasil coube ao Jornal do Brasil, que também pôs a disposição na rede os exemplares antigos dele, digitalizados.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Biografia de Salazar, de Filipe R. Meneses - "Mais perto do vício do que da virtude"

Entrevista com o investigador Filipe Ribeiro de Meneses
"Mais perto do vício do que da virtude"

O autor da primeira biografia académica de Oliveira Salazar defende que o ditador se considerava o português mais capacitado para governar

Filipe Luís

No livro, parece defender que a principal prioridade de Salazar era manter-se no poder. Como explica a ideia do "sacrifício pessoal", as suas vacilações no cargo?

Não encontrei nada que me fizesse acreditar que Salazar alguma vez pensou a sério, e desejou, sinceramente, retirar-se da cena política, e sobretudo da Presidência do Conselho de Ministros. Teria feito todo o sentido, do ponto de vista da evolução do regime, a sua eleição à Presidência da República após a morte de Carmona: seria a demonstração cabal de que o regime era mais do que só Salazar. Mas Salazar travou essa eleição porque significaria a sua marginalização - isto depois de quase duas décadas a proclamar o desejo de se afastar de São Bento... Havia, parece-me a mim, uma enorme encenação a este respeito.

Mas é credível a tese do "sacrifício"?

Não mais nem menos do que o que sucede com outras figuras políticas - e Salazar era mais dono do seu tempo do que qualquer seu sucessor o conseguiu ser. Não tinha de comparecer perante o parlamento; raramente reunia o Conselho de Ministros; não se tinha de preocupar em manter a liderança partidária; não tinha de ir a Bruxelas semana sim, semana não... Tinha a vida que queria, e trabalhou como quis. Idealizou uma forma de governar e foi-lhe sempre fiel.

O poder era o seu "oxigénio", viciou-se nele, ou devemos acreditar na tese do espírito de missão?

Salazar desejava o poder, e convenceu--se de que governaria melhor do que qualquer outro português. Estou convencido de que ele acreditava ser (ou que a certa altura acreditou ser) uma figura providencial. Reprimiu quem reclamasse uma alternativa ao regime, mas travou a evolução desse mesmo regime para se proteger, impossibilitando assim o que sempre disse desejar - passar alguns anos antes da morte no Vimieiro, longe da política, tratando do seu jardim. Parece-me assim estar mais próximo do vício do que da virtude.

Nunca assumiu uma relação ou um casamento por deveres do Estado? Ou os compromissos afetivos assustavam-no?

A primeira explicação sempre me pareceu disparatada. Mas isso não quer dizer que a segunda seja correta. Parece--me mais simples dizer que organizou a vida como quis, subalternizando a vida emocional à carreira profissional.

Estabelece uma diferença entre Estado Novo e salazarismo. Qual é ela, tendo em conta que o Estado Novo, praticamente, não sobreviveu a Salazar?

Parece-me que o salazarismo - a fidelidade à pessoa de Salazar - era uma das muitas correntes que existiam dentro do Estado Novo. Este foi a continuação de uma ditadura militar em que vários movimentos combatiam pela supremacia ideológica, não desaparecendo automaticamente com a ascensão ao poder de Salazar. Havia republicanos conservadores, fascistas, monárquicos, católicos... e, pelo meio, oriundos destes setores e até de outros, surgiram os salazaristas. Mas não era fácil ser salazarista: o líder aparecia pouco, falava menos, e não gostava da palavra "salazarismo". O líder não queria deixar-se prender por um programa detalhado, e desconfiava de quem o quisesse seguir a todo o custo... Se o Estado Novo mal sobreviveu a Salazar não foi devido ao enorme vazio que este deixou e que Marcelo Caetano não conseguiu colmatar - foi porque, graças à guerra colonial, Salazar deixou o regime numa situação impossível de resolver.

Encontrou um Salazar-ser humano versus um Salazar-estadista? Ou as duas faces confundem-se?

As duas faces confundem-se. Se Salazar tem dúvidas sobre o caminho a seguir, estas são passageiras e apenas confiadas a um número muito reduzido de interlocutores. O professor de Direito - ou o católico - parece preocupar-se pouco com os poderes da PVDE/PIDE, com o que se passa no Tarrafal, com o assassinato de Humberto Delgado. O homem que se orgulhava de ter "nascido pobre" é insensível à pobreza extrema que se encontra no País, ou à emigração que a política económica dos seus governos provoca. Nunca visitou as colónias mas não duvidava do caminho traçado quanto à preservação do Ultramar.

Defende que Salazar estava convencido de que o seu regime era o mais apropriado à índole do povo português. Tendo em conta a longevidade do Estado Novo, esta tese não estaria certa, pelo menos no seu tempo?

Mas - justamente - qual é o seu tempo? São os anos Trinta, Quarenta, Cinquenta ou Sessenta? Qual é o verdadeiro Estado Novo? O segredo da longevidade do regime reside na sua capacidade de resposta e de evolução, acompanhando, de forma distorcida e sempre com algum atraso, o que se passa no resto da Europa. Salazar está no centro da teia, e luta por lá se manter, mas as prioridades do regime mudaram constantemente, porque os intervenientes também mudaram. Salazar quis, e conseguiu, ir renovando a sua elite ministerial de forma a evitar a cristalização do Estado Novo.

Há quem diga que, se Salazar se tivesse submetido a eleições livres, as teria ganho. Faz algum sentido?

Custa a crer, seja na realização de eleições livres em Portugal antes de 1974, ou na capacidade de Salazar de as ganhar. Mas uma coisa era votar contra Salazar dada a oportunidade de o fazer livremente - muitos o teriam feito - e outra bem diferente era lutar para que essas eleições se realizassem. Foram poucos os que o fizeram.

A faceta das violências, da repressão e dos crimes do regime não está relativamente desvalorizada no seu livro? Ou deve-se isso a um esforço de distanciamento político?

Não gosto do termo "desvalorizado".
A repressão existiu, e os crimes foram cometidos. Mas não escrevi uma história do Estado Novo - escrevi uma biografia política do seu líder. E por isso tentei transmitir no livro o distanciamento que Salazar criou entre essa repressão e a sua pessoa. Precisava dela para se manter no poder, mas não queria conhecer os detalhes do que se passava no Aljube ou em Caxias. Quando lhe chegava às mãos uma queixa precisa sobre o mau tratamento de presos políticos, pedia esclarecimentos ao diretor da PIDE - que obviamente dizia que as queixas eram injustas - e o caso morria aí. Era como a pobreza: denúncias da situação em que muitos portugueses viviam chegavam às mãos de Salazar, mas este não reagia. Era extremamente frio.

Dois dos períodos mais importantes do regime foram as guerras de Espanha e Mundial. Nota-se, no livro, um certo fascínio pela forma como Salazar se desenvencilhou nesses períodos...

Sem dúvida. Foi um esforço enorme, possível apenas graças a uma tenacidade e uma força de vontade singulares, impressionantes até. Trabalhou sob uma pressão constante durante quase dez anos. No entanto, temos de nos lembrar que muitas das decisões tomadas (a começar pelo apoio dado aos militares espanhóis em 1936) foram guiadas pelo desejo de salvaguardar o regime e, por isso mesmo, a posição do próprio Salazar: era isto depois apresentado como o verdadeiro interesse nacional.

Foi o homem certo no lugar certo durante a II Guerra Mundial? Teve aí ocasião para revelar o seu génio?

Revelou o seu génio (especialmente no que toca a Espanha durante a II Guerra Mundial), mas também as suas limitações. Demorou demasiado tempo a entender a fraqueza estratégica da Alemanha e as vantagens de que dispunha a Grã-Bretanha. Desta demora resultou, em parte, o desentendimento com Armindo Monteiro. Por outro lado, não parece ter entendido o funcionamento da Alemanha nazi. Convencido da paixão alemã pela eficiência, pela sistematização e pela uniformização, Salazar não se apercebeu da falta de nexo e de lógica que caracterizavam a política de guerra alemã. Vendo em Hitler um político tradicional, Salazar parece ter acordado demasiado tarde para o que aconteceria quando à política racial dos nazis se juntasse à necessidade de vencer uma guerra mundial. O facto de Salazar nunca ter denunciado o Holocausto, mesmo depois de finda a guerra, conta contra ele.

Tinha mesmo prestígio e notoriedade internacionais (sobretudo nos anos 30 ou 40) ou essa ideia resulta mais da propaganda do Estado Novo?

Salazar tinha mesmo prestígio. Não há dúvida que os mercados financeiros o admiravam. Os elogios feitos pelo Times ao ministro das Finanças português a partir de 1928 são disso testemunha. Por outro lado, a Europa dos anos Trinta estava a evoluir em direcção à extrema-direita, mas não o estava a fazer como um bloco unido: e nem todos os que pensavam que a era dos regimes parlamentares tinha acabado desejavam ser governados por demagogos como Hitler e Mussolini, ou generais brutais como Franco. Salazar aparecia como um modelo a seguir, sobretudo no mundo Católico. O seu passado profissional funcionava como uma garantia do seu valor, da sua modéstia e da sua moderação. Porém, quando se escrevia sobre ele, ou sobre Portugal, no estrangeiro, era com base nas publicações do Secretariado de Propaganda Nacional, o que criava uma imagem falsa da realidade portuguesa, sobretudo do corporativismo nacional.

Nota-se uma fractura entre o ante e o pós-guerra, no regime e na própria energia de Salazar. Salazar deixou de acreditar em si e no país?

É muito difícil falar sobre este período da vida de Salazar. Por um lado não deixou de trabalhar; consultamos os seus diários e vemos que ele continuou a receber pessoas, a rever legislação, a exercer a tutela habitual sobre a administração do país. Por outro lado, porém, quem o conhecia melhor estava espantado, ou mesmo assustado, com a sua condição física. Parece-me que a crise teve a ver com a dificuldade em ler o que se iria passar no mundo e, por consequência, em Portugal. Haveria guerra com a União Soviética? Qual o papel dos comunistas nos governos francês, belga e italiano? Sobreviveria Franco à enorme pressão internacional a que estava sujeito? Recuperaria a economia europeia? Qual o papel dos impérios coloniais num mundo dominado por soviéticos e norte-americanos (sobretudo após a independência da Índia)? O Estado Novo tinha demonstrado as suas limitações durante a guerra, e a contestação popular tinha aumentado. Salazar precisava de paz e de estabilidade, precisava de saber com o que contava no resto do mundo. Uma vez definida a situação internacional, o estado de espírito de Salazar melhorou.

O que pensava Salazar dos portugueses?

Salazar queixava-se sobretudo da falta de elites que o ajudassem a governar; muitos dos que tinham a educação necessária não eram politicamente aproveitáveis (e note-se que Salazar admitia a posições de responsabilidade pessoas oriundas de passados políticos bem distintos). No fundo era uma visão nacionalista e contrarrevolucionaria clássica: um povo rude mas bom, mal servido por uma elite politiqueira, dividida em fações inúteis e estéreis, incapazes de pensar no bem comum.

De episódios que o senhor descreve nesta obra podemos concluir que era Salazar detentor de um fino e inteligente sentido de humor?

Absolutamente. São extremamente divertidos os comentários trocados com o Secretário-Geral do MNE, Embaixador Teixeira de Sampaio, sobre Nicolás Franco, irmão e Embaixador do ditador espanhol em Lisboa. Mas, em geral, só alguns eleitos tinham contacto directo com este sentido de humor. Mesmo assim, por vezes o público tinha acesso a esta faceta de Salazar - veja-se, por exemplo, os artigos escritos no jornal Novidades durante a ditadura militar, em que Salazar criticou a obra financeira do General Sinel de Cordes de forma acessível a todos.

A ideologia ruralista, o medo do cosmopolitismo, do desenvolvimento, da prosperidade económica, faz de Salazar um asceta, um ecologista prematuro ou um provinciano de horizontes limitados?

Salazar era nacionalista, mas tinha pouca fé no seu país, sobretudo na capacidade de sobrevivência de Portugal se completamente aberto a influências estrangeiras. Pensava, como muitos nacionalistas (não só portugueses) que a população urbana estava atingida por um cosmopolitismo prejudicial. Mas Portugal nunca foi uma fortaleza do isolacionismo, nem mesmo nos anos Trinta - e nos anos Cinquenta e Sessenta sofreu transformações importantes na sua estrutura económica e no seu relacionamento com o resto da Europa. Salazar era cauteloso, mas não era, regra geral, dogmático. E onde ir buscar as elites de que tanto precisava para administrar o país e as colónias senão às cidades?

As observações de Salazar sobre o destino de um Portugal sem colónias, com cedências de soberania, estão de alguma forma confirmadas pela atualidade?

Passamos aqui da História para a política. Mas parece-me que a resposta à sua pergunta é 'não' - e isto porque Salazar conduziu o País - mas sobretudo o regime - para um beco sem saída por causa das colónias. Era impossível, como Marcelo Caetano depressa constatou, transformar o Estado Novo em algo mais aceitável domestica e internacionalmente quando se continuava a combater em África, quando era necessário o apoio de Pretória e de Salisbúria e quando a situação interna se estava a radicalizar. O "orgulhosamente sós" foi muito mais perigoso para a soberania nacional, e o papel de Portugal no mundo, do que qualquer outra política desde então seguida. Após o 25 de Abril e o PREC, a integração europeia deu um novo fôlego a Portugal, permitindo que o País se reinventasse após a queda dos mitos salazaristas e revolucionários. O que a União Europeia não fez, claro, foi transformar Portugal num país rico, e por isso as dificuldades financeiras de que Salazar beneficiou para se tornar parte imprescindível da ditadura militar a partir de 1928 continuam a atormentar a nossa vida nacional, 80 anos depois...

Salazar continua vivo e influente? O que subsiste e o que desapareceu?

O interesse em Salazar e no Estado Novo, que é enorme, não deve ser confundido com saudade do regime; é sobretudo o desejo natural de entender as especificidades do caso português, de tentar entender por que somos como somos (embora me pareça, após ter escrito o livro, que temos a tendência de exagerar o papel de Salazar neste processo: as nossas qualidades e os nossos defeitos, assim como alguns dos problemas que se nos atravessam pela frente são bem anteriores ao Estado Novo). Porém, nem todos os que tentam ir ao encontro deste interesse sobre o passado o fazem isentos de fins políticos. Quero dizer com isto que a memória de Salazar e algumas das suas características pessoais (o cuidado com os dinheiros públicos, por exemplo) são usadas como armas de arremesso ideológicas contra a "situação" atual. Quarenta anos depois da sua morte, pouco parece restar da obra de Salazar, porque Portugal seguiu um caminho bem diferente do por ele desejado. Mas se a I República não marcou um novo começo para Portugal e se o Estado Novo guardou muito da I República, parece-me lógico partir do princípio que o corte entre Estado Novo e o regime atual não foi total.

Fonte: Visão(aeiou, Portugal)
http://aeiou.visao.pt/mais-perto-do-vicio-do-que-da-virtude=f570269

sábado, 12 de março de 2011

Quem foi Oswald Pohl

Oswald Pohl em Nuremberg,
sentenciado à pena de morte
(1892-1951), chefe da principal secretaria econômico-administrativa das SS (Wirtschafts Verwaltungshauptamt, WVHA). Pohl entrou no Partido Nazista em 1926 e na SS em 1929. Seu talento como organizador chamou a atenção do chefe da SS Heinrich Himmler, que fez de Pohl chefe da principal secretaria de administração das SS em 1935.

Em 1939, Pohl foi nomeado diretor ministerial do Ministério do Interior. Nessa posição, ele rapidamente construiu empresas SS com a ajuda de apoiadores nazistas de várias indústrias alemãs. Em 1942 as atividades de Pohl foram reunidos sob um novo local: a WVHA, que foi responsável pela inspecção do campo de concentração, e dos projetos de trabalho de mais de 500.000 prisioneiros do campo de concentração, que às vezes eram escondidos para trabalhar para empresas alemãs. Este fez de Pohl um dos homens mais poderosos e proeminentes nas SS.

Pohl também trouxe a idéia de mandar de volta à Alemanha todos os pertences pessoais de judeus que foram gaseados - incluindo o cabelo, dentes de ouro, roupas, alianças e outras jóias etc - e usá-las ou transformá-las em dinheiro. Esta operação foi em toda parte a ênfase das SS para serem eficientes e financeiramente independentes de outros países. Depois da guerra, Pohl foi preso e condenado à morte. Ele foi executado em 1951.

Fonte: Shoah Resource Center (Yad Vashem)
http://www1.yadvashem.org/odot_pdf/Microsoft%20Word%20-%205731.pdf
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Maus", como gatos, ratos, nazis e judeus

Por Pepe Flores

Os livros sobre história de sobrevivência em campos de concentração deveriam contar como um subgênero próprio. Relatos como "O diário de Anne Frank" ou "O homem em busca do sentido" são clássicos que, com frequência, são passados nas escolas para que o estudante tenha uma aproximação com a época do Holocausto. Dentro desses testemunhais, chega às mãos "Maus: relato de um sobrevivente", de Art Spiegelman, considerada uma das grandes novelas gráficas da história contemporânea, laureada em 1992 com o Prêmio Pulitzer.

Vladek Spiegelman, um judeu polonês que sofreu as inclemências do regime nazi, narra sua história através do desenho de seu filho, Art. Para mostrar o caráter antitético da relação entre alemães e judeus, o desenhista se vale de uma metáfora muito simples: os nazis são gatos, os judeus são ratos. Uma relação de depreciação que, nas páginas do livro, converte-se em um símile perfeito da caça sistemática de judeus durante o regime nazi. O zoológico de Spielgman também inclui a porcos poloneses e cachorros estadunidenses, poderosas alegorias de como o reino animal simboliza o papel das nacionalidades na guerra. Também destaca o detalhe do uso de máscara, com um porco disfarçado de gato, ou de combinações, como uns curiosos ratos tigrados, filhos de judeus e alemães.

Contudo, a virtude de Art em "Maus" não só é saber recuperar a história do Holocausto, senão nos mostrar, graças aos saltos narrativos característicos dos quadrinhos, as causas e as consequências que teve tal acontecimento na vida do sobrevivente. Assim, atestamos como a educação que recebeu, por nascer em uma casa abastada, serviu a nosso personagem para conseguir a amizade de um oficial nazi. Do mesmo modo, notamos como um envelhecido Vladek se nega a desperdiçar até um grão de café, depois de sofrer na própria carne as garras da fome.

Não obstante, o conflito mais profundo não ocorre entre gatos e ratos, senão entre Art e Vladek. Produtos de épocas e conjunturas diferentes, chocam-se constantemente em suas visões de mundo. De certo modo, a sobrevivência de Vladek é uma louça bastante pesada para Art, que na escritura da novela encontra uma reivindicação com si mesmo e seu pai, alegoria inconsciente do sentir de uma geração judia do pós-guerra.

"Maus" é uma novela multifacetada. Pode-se ler como testemunho, história de vida, documentário, ou em seu nível mais profundo, como um tributo de um filho a seu pai. Há que se agradecer a Spiegelman a introdução de quadros desnecessários na história corrente, mas indispensáveis para compreender a relação entre Vladek e seu descendente. Através dos traços, pode-se (re)viver um Holocausto que vai mais além de um relato sobrevivência ou o lugar comum do espírito humano. "Maus" não é uma crônica histórica:** é uma crônica de como deve se contar, sentir e respeitar a história**, seja a nossa ou a alheia. Porque ao final, saber como mantê-la viva - em sua parte humana, não a estatística — converte-se no bálsamo que cura feridas.


Fonte: ALT1040
http://alt1040.com/2011/03/geekoteca-maus-como-gatos-ratones-nazis-y-judios
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 8 de março de 2011

Uma boa análise de "Debatendo o Holocausto" de "Thomas Dalton"

Acho que a última análise com uma estrela de "Debating the Holocaust" (Debatendo o Holocausto), como transcrito abaixo, merece uma tirada de chapéu em reconhecimento.

Em 27 de janeiro de 2011, o leitor "Rhomphaia", escreveu o seguinte:
Embora este livro definitivamente levante alguns pontos interessantes, o problema com ele começa logo na capa:

Thomas Dalton não existe e, portanto, não tem PhD verificável ou registro para ensinar em qualquer universidade.

De fato, as evidências sugerem que Michael Santomauro, um diretor editorial da Editora de Teses e Dissertações, é provavelmente o autor (e ele também não tem nenhum PhD, o que significa que a descrição inteira da "carreira" de Thomas Dalton é forjada). A Editora de Teses e Dissertações é de propriedade da Castle Hill Publishers, que foi fundada por um oponente de longa data do Holocausto, Germar Rudolf. Portanto, com interesse na informação por completo, quando você compra esse livro, 1/3 dos lucros vão para Germar Rudolf, cuja agenda INTEIRA é voltada para negar o holocausto por quaisquer meios necessários (um "agitador", no jargão do livro).

Ninguém pode ler as coisas que Michael Santomauro tem escrito e acreditar por um minuto que ele é um observador neutro simplesmente examinando todos os lados da questão. O Sr. Santomauro é o editor e, provavelmente, o autor deste livro, e ainda, se você vai para a última página de críticas, você o encontrará analisando seu próprio livro sem revelar quaisquer dessas informações (sob o título: "Banido em 15 países"). Isso é, pelo menos, desonestidade intelectual, e deve lançar sérias dúvidas sobre a afirmação de "análise neutra" do livro.

Então seja prevenido, um livro com uma mentira tão grande dessas na capa NÃO irá apresentar todos os lados da questão de forma imparcial. Na minha opinião, este é um ataque meticulosamente montado contra o Holocausto, e que apresenta argumentos cuidadosamente construídos sobre o holocausto, para em seguida habilmente, astuciosamente e sistematicamente tentar desmontá-lo.

O problema é que ele não apresenta todas as provas sobre o Holocausto, é cuidadosamente inclinado em afirmar algo sobre o Holocausto, mas deixa de fora partes importantes de informação (como o fato de que mais de três milhões de "seis milhões" judeus que morreram na Segunda Guerra Mundial campos de concentração foram identificados pelo nome, e mais nomes estão sendo rastreados e verificados a cada ano), e constrói com cuidado espantalhos (Hitler emitiu uma ordem escrita para exterminar os judeus), para em seguida pô-los abaixo(não é possível encontrar a escrita ordem), e tudo ignorando as evidências que saíram das bocas dos próprios homens de Hitler de que um programa desse tipo, com ou sem ordem escrita de Hitler, não existia.

Outro exemplo de "neutralidade" deste livro: Zyklon-B é um pesticida usado para matar piolhos, não para exterminar pessoas. Verdade, mas então o que faremos com as declarações de Rudolf Hoss*, o diretor de Auschwitz, quando disse como eles usaram o Zyklon-B para matar pessoas, parafraseado aqui:

Havia 2 bunkers, e entre eles, eles apanharam cerca de 2000 pessoas. As portas estavam screwed shut e solid pellets de Zyklon-B foram dropped into the chambers através de vents, releasing o gás Zyklon-B. Cerca de um terço das vítimas morria imediatamente (presumidamente aquelas mais próximas das vents), e todo mundo dentro estava morto em cerca de 20 minutos.

Se Zyklon-B não foi usado para matar pessoas, então por que o diretor de Auschwitz dá uma versão muito detalhada de como eles FIZERAM uso dele para matar pessoas? Ele estava também conspirando para promover o "mito" do Holocausto?

É verdade que há alguns problemas com algumas coisas ditas sobre o Holocausto, mas os problemas NÃO são evidentes como este livro faz de conta. É possível, por exemplo, que apenas 4 ou 5 milhões de judeus tenham morrido, não 6 milhões (como é fato que 3 milhões já estão documentados), mas o que REALMENTE tornaria o Holocausto menor se Hitler e seu regime apenas tivesse conseguido capturar e assassinar 4 ou 5 milhões? Enquanto pode haver alguma estimativa para cima por parte de sobreviventes do Holocausto (falando nisso, não realmente comprovada), há uma extrema estimativa PARA BAIXO da parte deste livro.

Apenas tomem cuidado, pois este livro nem remotamente de longe é o mais confiável e equilibrado como as 5 estrelas das análises aqui nos levariam a crer. Somente aqueles que realmente não SABEM nada dos fatos do holocausto será influenciado por esse livro. Para aqueles conscientes sobre a pesquisa independente, filmagens e provas fotográficas, e do verdadeiro registro histórico encontrado em centenas, talvez milhares de relatórios bem pesquisados, este livro sai como nada mais do que um cuidadoso ataque habilidoso contra o holocausto já realizado em forma impressa.

Embora eu não esteja certo de que este livro mereça, seria interessante ver se alguém gastaria tempo em fazer uma réplica completa. Eu, por exemplo, adoraria ver, e que eliminassem de uma vez por todas, a idéia de que este livro é mesmo remotamente neutro, equilibrado e justo.

*Seu sobrenome é na realidade pronunciado com a letra alemã que parece com um "B" maiúsculo, mas é aproximadamente equivalente ao "ss" em inglês.
Eu discordo da opinião do crítico de que o panfleto propaganda de "Dalton" "levanta alguns pontos interessantes", mas acho que o crítico obviamente não olhou para as falsidades "revisionistas" como nós fazemos e portanto não pode saber que "Dalton" essencialmente papagueia os argumentos de outros "revisionistas" mais capazes que ele, e que são, portanto, nossa prioridade. Entretanto, temos também dedicado algumas postagens ao Sr. "Dalton", e que acho que o crítico gostará de ler.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Roberto Muehlenkamp
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/02/good-review-of-daltons-screed.html
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 5 de março de 2011

Viúva de Guimarães Rosa morre aos 102 anos

Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, viúva do escritor João Guimarães Rosa , morreu na manhã desta sexta-feira de causas naturais, em São Paulo. Aos 102 anos, ela sofria de Mal de Alzheimer.

Aracy ficou imortalizada na literatura brasileira com a dedicatória que o escritor fez a ela no livro "Grande Sertão: Veredas", de 1956, onde dizia: "A Aracy, minha mulher, Ara, pertence esse livro". Aracy e Rosa se conheceram em Hamburgo, Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra, quando ambos trabalhavam no consulado brasileiro na cidade. Ela era encarregada da seção de vistos e ajudou centenas de famílias judias a fugirem da Alemanha. Aracy, que teve apenas um filho do primeiro casamento, deixa quatro netos e oito bisnetos.

Ela tem o nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel e também é homenageada no Museu do Holocausto de Washington (EUA).

Segundo informações de uma representante da família, Dona Aracy ficou muito próxima de uma das famílias que ajudou a resgatar da Alemanha. Quando voltaram ao Brasil ela e Maria Margareth Bertel Levy, ou Dona Margarida - como era conhecida, se tornaram quase inseparáveis. A amiga alemã ficou viúva cedo e acabou sendo ´adotada´ pelos Tess. "Quando uma ficava doente, a outra também ficava. Parecia que eles sentiam as mesmas coisas. Em 2003 as duas caíram, uma em casa, outra na rua, e acabaram ficando de cama até hoje", afirmou a fonte.

Dona Margarida faleceu no último dia 21 de falência múltipla dos órgãos e, três dias após o ocorrido, Dona Aracy começou a passar mal e foi internada novamente. De acordo com a representante da família, é evidente que ela não tinha conhecimento do falecimento da amiga, mas é curioso como elas passaram por muitos problemas semelhantes em períodos próximos.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro José Gregori compareceram ao velório, no Hospital Albert Einstein. Aracy já foi cremada no Crematório Horto da Paz. Dona Aracy ia completar 103 anos no dia 20 de abril.

Fonte: Guara Notícias
http://www.guaranoticias.com.br/index.php?i=m&c=2&m=6570

Ver mais:
Morre em SP aos 102 anos a viúva do escritor Guimarães Rosa, Aracy

sexta-feira, 4 de março de 2011

Notas de um campo de trânsito

Localizado em Dubrovitsi próximo à Staraja Russa, ao sul do lago Ilmen depois de 6 de setembro de 1941, Durchgangslager (Dulag) 150, um campo de trânsito para prisioneiros de guerra soviéticos, era subordinado à 281ª Divisão de Segurança e ao comandante do exército de retaguarda da área 584.

O cozinheiro do campo, Franz H., manteve um diário, que está anexado ao registro de sua deposição em 17.10.1970 (Arquivos Federais Alemães da Seção da Secretaria de Ludwigsburg, 319 AR-Z 10/70, Vol. 1, fl. 187f.) e parcialmente transcrito na coleção de documentos Deutscher Osten 1939-1945. Der Weltanschauungskrieg in Photos und Texten., editada por Klaus Michael Mallmann, Volker Rieß and Wolfram Pyta, 2003 e pelo Wissenschaftliche Buchgesellschaft, Darmstadt. Os excertos deste diário transcritos na p. 163 e ss. da coleção traduzidos como se segue:
6.10.1941
"Várias centenas de prisioneiros recusaram-se a trabalhar (Robott). Como da última v ez que eles tiveram que se ajoelhar na praça durante toda tarde no vento frio e cortante. K. atirou em um desses prisioneiros. As pessoas se sentem como se fossem números de alvo em um campo de tiro."

13.10.1941
"Os prisioneiros estão morrendo como moscas, o cemitério foi deslocado. 12 prisioneiros estavam mortos esta manhã. Melhor morto que um prisioneiro."

18.10.1941
"M. golpeou novamente entre 2-3 prisioneiros. Pessoas que de outro modo pouco teriam a dizer da vida descobrem seu talento para interpretar os mestres da crueldade aqui. Por mais que demore, tudo [que alguém faz] retorna algum dia."

31.10.1941
"O destino e as tragédias continuam tendo seu curso. O frio determina que que mais pessoas irão morrer. Nesta manhã mais de 30 mortos estão estirados lá. Nesta semana houve 20 mortos várias vezes. Novamente eles estão congelando no portão e esperando por roupas que os mortos não precisam mais, pois eles estão despidos. Há sempre um aglomerado de gente. […] Pacientes como animais, indiferentes e aparentemente sem qualquer emoção eles aceitam a vida. M. disse que quando enterrava o 'morto' ele ainda se movia e eles pisavam em seu corpo e sua garganta até ele se engasgar, pois de outra forma eles teriam que levá-lo de volta."

2.11.1941
"No transporte para Riga, P. sozinho atirou em 30 prisioneiros."

5.11.1941
"50 estavam mais uma vez mortos esta manhã. […] Os mortos estão estirados como camundongos. Ontem no transporte novamente 10 morreram até chegar à estação. Hoje havia de novo um transporte de prisioneiros feridos e doentes. Como sempre eles são levados em veículos abertos, primitivos e frágeis. No frio forte, 10 graus no mínimo, eles vêm descalços para a sala fria e então são transportados."

6.11.1941
"Agora eles estão usando um panje cart para transportar os cadáveres. Os carregadores não conseguem administrar. Totalmente despidos eles são atirados dentro de carroças como sacos. Eu ficarei doente se assistir mais isso."

12.11.1941
"Esta manhã houve um incidente pavoroso aqui. Ele relembra o de Dünaburg. Eles besuntaram a cabeça de um judeu com graxa e atearam fogo. Quando ele gritou de dor eles bateram em sua cabeça com um machado. Ele foi levado para as valas comuns, jogado em uma vala e, quando ele estava dentro provavelmente recuperou a consciência e gritou que estava ferido. Então a vala foi rapidamente fechada com pás."

27.11.1941
"Novamente os judeus foram terrivelmente assassinados no campo."

12.1.1942
"Um comissário foi recentemente capturado, após interrogatório ele foi perguntado se não tinha mais nada a dizer. Com uma postura firme, ele declarou que os prisioneiros alemães estavam em melhores condições do que os russos conosco. Pouco antes de deixar o campo ele foi assassinado, para 'simplificar' as coisas. Nesse meio tempo, no bunker onde ele se sentou, outros 2 prisioneiros foram adicionados, entretanto, o homem que realizava a execução não sabia qual deles era o comissário. Então ele simplesmente atirou nos três."

26.1.1942
"Os presos selecionados por nós aqui para o transporte mais distante, viviam da maneira mais primitiva. 200 já estão mortos. Cenas horríveis estão ocorrendo. Eles comem uns aos outros. Continuamente se encontra cadáveres faltando uma parte da coxa, do braço, do peito, ou do rosto. Até mesmo o cérebro é comido. Se apenas eu conseguisse sair daqui."

28.1.1942
"Os prisioneiros arrancam corações e pulmões de outros e os comem. 500 foram levados embora, os que podiam andar, os outros estão mortos. Nenhum é deixado."

18.2.1942
"Como já sabemos há algum tempo, os judeus da Alemanha são levados para o leste, principalmente para a Letônia (Riga), e lá são fuzilados depois de algum tempo."
De acordo com o relatório soviético que faz parte da coleção de documentos, cerca de 5.000 prisioneiros de guerra sucumbiram à fome, frio, maus tratos e fuzilamentos no inverno de 1941/42 em campos na área de Staraja Russa.

Uma foto mostrando algumas das vítimas de Dulag 150 está incluída no blog em Fotos do leste alemão.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Roberto Muehlenkamp
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2010/12/notes-from-transit-camp.html
Tradução: Roberto Lucena

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