segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Pausa Musical - Feliz 2013
Ao som da banda do Frodo Bolseiro, Feliz 2013 a todos, boas comemorações.
domingo, 30 de dezembro de 2012
Ciganos em Auschwitz - Parte 1 (Holocausto)
Para a Alemanha nazista os ciganos tornaram-se um dilema racista. Os ciganos eram arianos, mas na mente nazista havia contradições entre o que eles consideravam como superioridade da raça ariana e a imagem dos ciganos...*
Em uma conferência realizada em Berlim em 30 de janeiro de 1940, foi tomada a decisão de expulsar 30 mil ciganos da Alemanha para os territórios da Polônia ocupada ...
Os relatórios dos SS Einsatzgruppen [forças-tarefa especiais] que operavam nos territórios ocupados da União Soviética mencionam o assassinato de milhares de ciganos, juntamente com o extermínio em massa dos judeus nessas áreas.
As deportações e execuções dos ciganos veio sob autoridade de Himmler. Em 16 de dezembro de 1942, Himmler emitiu uma ordem para enviar todos os ciganos para os campos de concentração, com algumas exceções ...
Os ciganos deportados foram enviados a Auschwitz-Birkenau, onde um acampamento especial cigano foi erguido. Mais de 20.000 ciganos da Alemanha e de outras partes da Europa foram enviados para este acampamento, e a maioria deles foram gaseados lá ...
Wiernik descreveu a chegada do maior grupo cigano trazido para Treblinka, na primavera de 1943:
Extraído de. Yitzhak Arad, BELZEC, SOBIBOR, TREBLINKA - the Operation Reinhard Death Camps Indiana University Press -, 1987.,--páginas150-153--
De acordo com o Institut Fuer Zeitgeschicthe, em Munique, pelo menos 4.000 ciganos foram assassinados por gás em Auschwitz-Birkenau. (Ver contagem das vítimas em Holocaust Almanac)
Fonte: Site da Universidade Fordham/Nizkor*
http://www.fordham.edu/halsall/mod/gypsy-holo.asp
Tradução: Roberto Lucena
*Observação: este texto foi publicado originalmente em grupos de discussão da Usenet ou da Undernet (mais provável que tenha sido no da Usenet no grupo alt.revisionism), nos primórdios da internet. O site Nizkor apresenta uma cópia do texto da discussão original de 1993, ou seja, o texto tem quase 20 anos na rede:
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/auschwitz/ftp.py?camps/auschwitz//gypsies.01
O interessante é ver no verbete da Wikipedia que a Undernet tombou devido as famosas Flame Wars provocadas por trolls, mesma causa do declínio do Orkut (do Google) e de várias redes/listas de discussão.
Ver também:
Ciganos em Auschwitz - Parte 2
Ciganos em Auschwitz - Parte 3
Em uma conferência realizada em Berlim em 30 de janeiro de 1940, foi tomada a decisão de expulsar 30 mil ciganos da Alemanha para os territórios da Polônia ocupada ...
Os relatórios dos SS Einsatzgruppen [forças-tarefa especiais] que operavam nos territórios ocupados da União Soviética mencionam o assassinato de milhares de ciganos, juntamente com o extermínio em massa dos judeus nessas áreas.
As deportações e execuções dos ciganos veio sob autoridade de Himmler. Em 16 de dezembro de 1942, Himmler emitiu uma ordem para enviar todos os ciganos para os campos de concentração, com algumas exceções ...
Os ciganos deportados foram enviados a Auschwitz-Birkenau, onde um acampamento especial cigano foi erguido. Mais de 20.000 ciganos da Alemanha e de outras partes da Europa foram enviados para este acampamento, e a maioria deles foram gaseados lá ...
Wiernik descreveu a chegada do maior grupo cigano trazido para Treblinka, na primavera de 1943:
"Um dia, enquanto eu estava trabalhando perto do portão, vi os alemães e ucranianos fazerem preparativos especiais ... enquanto isso, o portão se abriu e cerca de 1.000 ciganos foram trazidos (este foi o terceiro transporte de ciganos). Cerca de 200 deles eram homens, e o resto mulheres e crianças ... todos os ciganos foram levados para as câmaras de gás e depois cremados"Ciganos do Governo Geral [Polônia] que não foram enviados para Auschwitz e para os campos da Operação Reinhard foram baleados no local pela polícia local ou gendarms. Na região oriental do distrito de Cracóvia, nos municípios de Sanok, Jaslo, e Rzeszow, cerca de 1.000 ciganos foram mortos.
Extraído de. Yitzhak Arad, BELZEC, SOBIBOR, TREBLINKA - the Operation Reinhard Death Camps Indiana University Press -, 1987.,--páginas150-153--
De acordo com o Institut Fuer Zeitgeschicthe, em Munique, pelo menos 4.000 ciganos foram assassinados por gás em Auschwitz-Birkenau. (Ver contagem das vítimas em Holocaust Almanac)
Fonte: Site da Universidade Fordham/Nizkor*
http://www.fordham.edu/halsall/mod/gypsy-holo.asp
Tradução: Roberto Lucena
*Observação: este texto foi publicado originalmente em grupos de discussão da Usenet ou da Undernet (mais provável que tenha sido no da Usenet no grupo alt.revisionism), nos primórdios da internet. O site Nizkor apresenta uma cópia do texto da discussão original de 1993, ou seja, o texto tem quase 20 anos na rede:
http://www.nizkor.org/ftp.cgi/camps/auschwitz/ftp.py?camps/auschwitz//gypsies.01
O interessante é ver no verbete da Wikipedia que a Undernet tombou devido as famosas Flame Wars provocadas por trolls, mesma causa do declínio do Orkut (do Google) e de várias redes/listas de discussão.
Ver também:
Ciganos em Auschwitz - Parte 2
Ciganos em Auschwitz - Parte 3
Minissérie 'Holocausto' (Gerald Green, 1978). Não existe filme com nome Holocausto
Como já vi muita gente atrás de algum filme chamado Holocausto no Feedjit do blog, achei que seria bom esclarecer aos que procuram por algum filme com o nome Holocausto, pra não procurar a esmo uma vez que pouca gente esclarece esse detalhe, que não existe um filme específico com esse nome, conforme podem ver na parte de Filmografia do blog (tem uma lista de filmes sobre o Holocausto).
O tal filme que muitos procuram com esse nome na verdade se trata da minissérie pra TV produzida pela NBC (emissora de TV dos EUA) lançada no final dos anos '70 com o nome de Holocausto, baseada na novela de Gerald Green [01], com o mesmo nome da minissérie.
A minissérie conta com quatro episódios (mas já achei uma versão com cinco episódios, pode ser porque cortaram partes dos quatro episódios pra pôr em um único episódio extra e diminuir o tamanho dos quatro episódios) teve forte impacto na época em que foi lançada, contando com um elenco de peso com Meryl Streep, James Woods, Rosemary Harris, Ian Holm, David Warner e Michael Moriarty. Dirigida por Marvin J. Chomsky [02].
Um fado curioso da minissérie é que ela foi a responsável, por conta do impacto que teve na Alemanha Ocidental e em vários países onde foi exibida, pela popularização do nome Holocausto pra se referir ao genocídio da Segunda Guerra Mundial.
Sobre essa parte segue minha tradução de trecho do FAQ do site do USHMM (Museu Memorial do Holocausto dos EUA), que esclarece de forma mais detalhada o fato:
Notas
[01] Novela de Gerald Green (Google Books), Holocausto, que serviu como base da história da minissérie Holocausto produzida pela rede NBC (EUA). Obituary: Gerald Green - Blockbusting writer of grittily humane tales; Christopher Hawtree; The Guardian, Friday 22 September 2006
[02] Elenco da minissérie. Extraído da base de dados do site IMDb (Holocaust, TV Mini-series, 1978), site especializado em cinema com um dos maiores bancos de dados sobre filmes.
[03] What is the origin of the word “Holocaust”?. FAQ do site do Museu Memorial do Holocausto dos EUA. Sobre a popularização do termo Holocausto para se referir ao genocídio nazista da Segunda Guerra Mundial.
Se copiar algum texto pertencente ao blog, indique a origem do texto.
Trailer da minissérie (em inglês):
O tal filme que muitos procuram com esse nome na verdade se trata da minissérie pra TV produzida pela NBC (emissora de TV dos EUA) lançada no final dos anos '70 com o nome de Holocausto, baseada na novela de Gerald Green [01], com o mesmo nome da minissérie.
A minissérie conta com quatro episódios (mas já achei uma versão com cinco episódios, pode ser porque cortaram partes dos quatro episódios pra pôr em um único episódio extra e diminuir o tamanho dos quatro episódios) teve forte impacto na época em que foi lançada, contando com um elenco de peso com Meryl Streep, James Woods, Rosemary Harris, Ian Holm, David Warner e Michael Moriarty. Dirigida por Marvin J. Chomsky [02].
Um fado curioso da minissérie é que ela foi a responsável, por conta do impacto que teve na Alemanha Ocidental e em vários países onde foi exibida, pela popularização do nome Holocausto pra se referir ao genocídio da Segunda Guerra Mundial.
Sobre essa parte segue minha tradução de trecho do FAQ do site do USHMM (Museu Memorial do Holocausto dos EUA), que esclarece de forma mais detalhada o fato:
Ao final dos anos de 1940, no entanto, uma mudança estava em andamento. O Holocausto (com minúscula ou um H maiúsculo) tornou-se um termo mais específico devido ao seu uso em traduções israelenses da palavra sho'ah palavra. Esta palavra hebraica tinha sido usado ao longo da história judaica para se referir a ataques a judeus, mas na década de 1940 foi frequentemente sendo aplicada ao extermínio dos judeus da Europa pelos nazistas. (Judeus falantes do iídiche usavam o termo churbn, uma tradução para o iídiche de sho'ah) A equação do holocausto com o termo Sho'ah foi visto de forma mais proeminente na tradução oficial em inglês da Declaração de Independência de Israel, em 1948, nas publicações traduzidas do Yad Vashem ao longo dos anos 1950, e na cobertura jornalística do julgamento de Adolf Eichmann em Israel, em 1961.
Tal uso influenciou fortemente a adoção do termo holocausto como a referência principal no idioma inglês para o abate nazista de judeus europeus, mas a conexão da palavra com a "Solução Final" só tomou forma em definitivo mais de duas décadas depois. Em abril de 1978, a transmissão da mini-série de TV, Holocausto, baseada no livro de Gerald Green, de mesmo nome, e o uso, mais tarde no mesmo ano, proeminente do termo na criação da Comissão Presidencial sobre o Holocausto pelo presidente Carter, cimentou o seu significado no mungo anglófilo pelo mundo. Esses eventos, juntamente com o desenvolvimento e criação do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos durante os anos 1980 e 1990, estabeleceu o termo Holocausto (com H maiúsculo) como uma referência padrão para a aniquilação sistemática de judeus europeus pelo regime nazista da Alemanha. [03]
Notas
[01] Novela de Gerald Green (Google Books), Holocausto, que serviu como base da história da minissérie Holocausto produzida pela rede NBC (EUA). Obituary: Gerald Green - Blockbusting writer of grittily humane tales; Christopher Hawtree; The Guardian, Friday 22 September 2006
[02] Elenco da minissérie. Extraído da base de dados do site IMDb (Holocaust, TV Mini-series, 1978), site especializado em cinema com um dos maiores bancos de dados sobre filmes.
[03] What is the origin of the word “Holocaust”?. FAQ do site do Museu Memorial do Holocausto dos EUA. Sobre a popularização do termo Holocausto para se referir ao genocídio nazista da Segunda Guerra Mundial.
Se copiar algum texto pertencente ao blog, indique a origem do texto.
Trailer da minissérie (em inglês):
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
"Assim comecou o terror" Livro de Götz Aly (Por que os alemães? Por que os judeus?)
Götz Aly esclarece a origem do antissemitismo na Alemanha de Hitler
Alguns judeus conduzidos a campos de concentração EFE
20 de dezembro de 2012. 02:13h Luis PALACIOS.
Por que os alemães assassinaram seis milhões de homens, mulheres e crianças pelo único motivo de serem judeus? Como foi possível tal atrocidade? Com estas inquietantes perguntas começa o livro do historiador Götz Aly entitulado "Por que os alemães? Por que os judeus?". São perguntas que todos nós fazemos quando, considerando o povo alemão como civilizado, trabalhador e rico culturalmente, não podemos entender de onde procede essa veia criminosa. O livro, bem documentado, desenvolve com rigor um processo que começa no século XIX. Explica o antissemitismo como uma questão social e explica como o coletivismo nacional vai ganhando terreno; detém na etapa do entreguerras e dedica atenção ao "partido escoba nacionalsocialista" e a Hitler. A tese a que se propõe esse volume, bem documentado, é que foi a inveja - analizada em profundade pela mão de Kant - e o ressentimento do povo alemão ante os judeus que lhes levou a uma arrogância racial, ao antissemitismo e ao extermínio. Além disso, acrescente "quem não queira falar das vantagens que brindou a milhões de alemães comuns, que não fale do nacional-socialismo e nem do Holocausto", mas os "estômagos agradecidos" dos alemães e as vantagens que retiraram do regime nazi se pagaram às custas de assassinatos, dos judeus aniquilados.
Patrimônio alemão
Estamos ante uma história interminável, afirma Aly, que explica em que momento e sob que circunstâncias concretas os alemães desenvolveram seu próprio antissemitismo. Arnold Zweig diria no ano de 1927 que "o alemão não é, faz-se", ainda que o evidente é que o antissemitismo se converteu em patrimônio dos alemães. O autor rechaça com Röpke o argumento encubridor de que o capitalismo e a alta burguesía haviam contribuído para a vitória do nacional-socialismo, a verdade é que sem o apoio da ampla maioria do povo alemão, o nacional-socialismo não haveria alcançado o poder nem teria se mantido nele. Um livro original, polêmico e preciso que nos reafirma no rechazo mais absoluto do Holocausto. E que nos alerta, porque um sucesso estruturalmente parecido pode se repetir.
Sobre o autor
Historiador e jornalista especializado no extermínio que levou a cabo o Terceiro Reich
Ideal para...
conhecer as causas que alentaram o antissemitismo na Alemanha.
Um defeito
É um volume muito escueto para um tema muito amplo.
Uma virtude
A precisião com a qual é detalhada cada afirmação. Seus evidentes paralelismos com a atualidade.
Pontuação: 8
Fonte: La Razón (Espanha)
http://www.larazon.es/detalle_normal/noticias/438188/cultura+libros/asi-comenzo-el-terror
Tradução: Roberto Lucena
Observação: não concordo com vários pontos citados na matéria, mas acho que não é motivo pra rechaçar de cara o livro de Götz Aly.
Alguns judeus conduzidos a campos de concentração EFE
20 de dezembro de 2012. 02:13h Luis PALACIOS.
Por que os alemães assassinaram seis milhões de homens, mulheres e crianças pelo único motivo de serem judeus? Como foi possível tal atrocidade? Com estas inquietantes perguntas começa o livro do historiador Götz Aly entitulado "Por que os alemães? Por que os judeus?". São perguntas que todos nós fazemos quando, considerando o povo alemão como civilizado, trabalhador e rico culturalmente, não podemos entender de onde procede essa veia criminosa. O livro, bem documentado, desenvolve com rigor um processo que começa no século XIX. Explica o antissemitismo como uma questão social e explica como o coletivismo nacional vai ganhando terreno; detém na etapa do entreguerras e dedica atenção ao "partido escoba nacionalsocialista" e a Hitler. A tese a que se propõe esse volume, bem documentado, é que foi a inveja - analizada em profundade pela mão de Kant - e o ressentimento do povo alemão ante os judeus que lhes levou a uma arrogância racial, ao antissemitismo e ao extermínio. Além disso, acrescente "quem não queira falar das vantagens que brindou a milhões de alemães comuns, que não fale do nacional-socialismo e nem do Holocausto", mas os "estômagos agradecidos" dos alemães e as vantagens que retiraram do regime nazi se pagaram às custas de assassinatos, dos judeus aniquilados.
Patrimônio alemão
Estamos ante uma história interminável, afirma Aly, que explica em que momento e sob que circunstâncias concretas os alemães desenvolveram seu próprio antissemitismo. Arnold Zweig diria no ano de 1927 que "o alemão não é, faz-se", ainda que o evidente é que o antissemitismo se converteu em patrimônio dos alemães. O autor rechaça com Röpke o argumento encubridor de que o capitalismo e a alta burguesía haviam contribuído para a vitória do nacional-socialismo, a verdade é que sem o apoio da ampla maioria do povo alemão, o nacional-socialismo não haveria alcançado o poder nem teria se mantido nele. Um livro original, polêmico e preciso que nos reafirma no rechazo mais absoluto do Holocausto. E que nos alerta, porque um sucesso estruturalmente parecido pode se repetir.
Sobre o autor
Historiador e jornalista especializado no extermínio que levou a cabo o Terceiro Reich
Ideal para...
conhecer as causas que alentaram o antissemitismo na Alemanha.
Um defeito
É um volume muito escueto para um tema muito amplo.
Uma virtude
A precisião com a qual é detalhada cada afirmação. Seus evidentes paralelismos com a atualidade.
Pontuação: 8
Fonte: La Razón (Espanha)
http://www.larazon.es/detalle_normal/noticias/438188/cultura+libros/asi-comenzo-el-terror
Tradução: Roberto Lucena
Observação: não concordo com vários pontos citados na matéria, mas acho que não é motivo pra rechaçar de cara o livro de Götz Aly.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Pausa Musical - Feliz Natal e Boas Festas
Feliz Natal a todos e Boas Festas. Ao som dos 4 de Liverpool.
Wonderful Christmas Time | Ding Dong, Ding Dong |
Rudolph The Red-Nosed Reindeer | Happy Xmas (War Is Over) |
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Arqueólogo israelense faz escavações em campo de extermínio nazista
(AP) KIRYAT MALACHI, Israel - Quando o arqueólogo israelense Yoram Haimi decidiu investigar a história não conhecida de sua família no Holocausto, ele foi de encontro para a habilidade que ele conhece melhor: Começou a escavar.
Depois de saber que dois de seus tios foram assassinados no infame campo de extermínio de Sobibor, ele embarcou em um projeto de escavação, que está para brilhar uma nova luz sobre o funcionamento de uma das mais notórias máquinas de matar nazistas, incluindo a identificando a localização das câmaras de gás onde centenas de milhares foram assassinados.
Sobibor, no leste da Polônia, talvez marque o exemplo mais vivo da “Solução Final”, a trama nazista para exterminar os judeus europeus. Ao contrário de outros campos que tinham pelo menos a fachada de ser uma prisão ou campo de trabalho, Sobibor e os campos vizinhos de Belzec e Treblinka foram projetados especificamente para exterminar os judeus. As vítimas eram transportadas para lá em vagões de gado e gaseados até a morte quase que imediatamente.
Mas a pesquisa em Sobibor tem sido difícil. Depois da revolta no campo em Outubro de 1943, os nazistas o desativaram e enterraram, replantando sobre ele para poder encobrir os seus rastros.
Hoje, altas árvores cobrem a maior parte das terras do antigo campo. Como sobraram tão poucos sobreviventes – somente 64 eram conhecidos – nunca houve layout original do campo, onde acredita-se que cerca de 250.000 judeus foram assassinados em um período de 18 meses. Da memória desses poucos sobreviventes e da pouca documentação alemã, os pesquisadores tiveram uma compreensão apenas limitada de como o campo operava.
“Eu sinto que sou um investigador em um laboratório criminal forense”, disse Haimi, 51, esta semana perto de sua casa no sul de Israel, antes de partir para outra escavação na Polônia. “Afinal de contas, é um local de assassinato”.
Em mais de cinco anos de escavações, Haimi foi capaz de remapear o campo e desenterrou milhares de itens. Ele não encontrou nada sobre sua família, mas em meio aos dentes, fragmentos de ossos e cinzas, através da qual ele tem peneirado, ele recuperou jóias, chaves e moedas que ajudaram a identificar algumas das vítimas sem nomes de Sobibor.
A grande concentração de cinzas levou a estimar que mais de 250.000 judeus foram mortos em Sobibor, na verdade.
“Devido à falta de informações sobre Sobibor, cada pequeno pedaço de informação é significativo”, disse Haimi. “Ninguém sabia onde estavam as câmaras de gás. Os alemães não queriam que ninguém descobrisse que estavam lá. Mas graças ao que temos feito, eles não conseguiram.”
A peça mais importante até agora, disse ele, foi uma etiqueta de identificação de metal com o nome de Lea Judith de la Penha, uma menina judia de 6 anos da Holanda que estava confirmada como morta em Sobibor no Memorial do Holocausto Yad Vasem em Israel.
Haimi a chama de “símbolo de Sobibor”.
“Os alemães não discriminavam. Eles matavam as garotinhas também”, disse ele. “Essa coisa (a etiqueta) tem estado hà 70 anos à espera para alguém encontrá-la.”
As escavações de Haimi, apoiadas pelo Yad Vashem, poderiam servir como modelo para futuros estudiosos do Holocausto, onde os nazistas mataram cerca de 6 milhões de judeus.
“Eu acho que o uso da arqueologia oferece a possibilidade de nos dar informações que não tínhamos antes”, Deborah Lipstadt, uma proeminente historiadora americana do Holocausto da Universidade de Emory, disse: “Isso nos dá outra perspectiva de quando estamos na fase em que temos muito poucas pessoas que podem falar em primeira pessoa do singular.”
Ela disse que se os pontos de evidências arqueológicas mostram que o número de mortos em Sobibor são maiores do que se pensava, “não está fora de sincronia com outras pesquisas que se têm feito.”
Basicamente o método de Haimi é semelhante ao que ele faz em casa, onde ele faz escavações para autoridades de Israel de antiguidades no sul do país – cortar quadrados de terra e peneirar através de um filtro. Devido às difíceis condições em Sobibor e à natureza sensível do esforço, ele também está contando com métodos não invasivos, de alta tecnologia, tais como radares de penetração no solo (GPR, nota do tradutor) e imagens de Satélites de Posicionamento Global (GPS, nota do tradutor).
Com base em restos coletados e padrões no solo, ele foi capaz de descobrir onde os nazistas colocaram postes para sustentar as cercas de arame farpado do campo.
O que o levou a seu grande avanço – o mapeamento, que os alemães chamavam de Himmelfahrsstrasse, ou “Caminho para o Paraíso”, um caminho em que os presos eram levados nus para as câmaras de gás. Ele determinou a rota pelos pólos que marcavam o caminho. À partir disso, ele determinou que tinha localizado as câmaras de gás.
Ele também descobriu que onde se pensava inicialmente que era outro acampamento, descobriu-se que era uma rota de trem interna dentro de Sobibor. Ele cavou e localizou montes de balas em locais de extermínio, utensílios de onde ele acredita que era onde se localizava a cozinha do campo e uma insígnia da suástica de um oficial nazista.
Ao longo do caminho, ele e seu parceiro polonês Wojciech Mazurek, juntamente com cerca de 20 trabalhadores, tropeçaram em milheres de itens pessoais pertencentes às vítimas: óculos, frascos de perfume, dentaduras, anéis, relógios, um boneco do Mickey Mouse, um diamente cravejado em uma correte de ouro, um par de brincos de ouro com a inscrição ER – parece ser as iniciais do proprietário – um medalhão de prata como o nome “Hanna” gravado.
Ele também descobriu uma versão única da estrela amarela que os judeus usavam obrigados pelos nazistas, feita de metal em vez de pano, que os investigadores determinaram que teve origem na Eslováquia.
Marek Bem, um ex-diretor do museu de Sobibor, disse que as primeiras escavações no local começaram em 2001, ele disse que o mapeamento dos longos 200 metros da Himmelfahrsstrasse abre a porta para olhar para as reais câmaras de gás.
“Estamos mais perto da verdade”, disse ele. “Isso nos diz para onde olhar para as câmaras de gás.”
Haimi não está autorizado a levar qualquer um dos itens para fora da Polônia, mas ele consulta regularmente o Instituto Internacional para Pesquisas do Holocausto Yad Vashem, que o ajuda a interpretar suas descobertas e lhe dá uma perspectiva histórica.
Dan Michman, chefe do instituto, disse que a pesquisa ajuda Haimi a lançar luz sobre os “aspectos técnicos” do Holocausto. Ele também concede uma visão, por exemplo, do que as pessoas escolhem para levar com eles em seus momentos finais.
“Seus detalhes são importantes e são um importante instrumento contra a negação do Holocausto. Isso não é memória, são baseados em fatos. É uma prova difícil”, disse ele.
Mas a precisão do formato é a maior contribuição de Haimi, permitindo aos pesquisadores aprender mais sobre como funcionava, disse Deborah Dwork, diretora do Strassler Family Center for Holocaust and Genocide Studies at Clark University in Worcester, Massachusetts. (Tradução literal: Centro do Holocausto e Estudos de Genocídio da Universidade Clark de Worcester, Massachusetts).
Ela disse que alguns críticos têm sugeridos que os ex-campos da morte são “sagrados” e “devem permanecer intocados”. Mas ela disse que acredita que a escavação é justificável. “Eu sinto que a nossa necessidade de conhecimento supera nossas preocupações.”
Uma vez que seu trabalho em Sobibor for concluído, Haimi espera passar para a pesquisa em Treblinka e outros campos de extermínio que foram destruídos.
Embora a arqueologia seja identificada com o estudo da história antiga, Haimi pensa que com os sobreviventes morrendo rapidamente, ela poderá em breve tornar-se um elemento-chave na compreensão do Holocausto.
“Esta será a futura ferramenta para as pesquisas do Holocausto”, disse ele.
Fonte: CBS News
http://www.cbsnews.com/8301-202_162-57497518/israeli-archaeologist-digs-into-nazi-death-camp/
http://www.cbsnews.com/8301-202_162-57497518/israeli-archaeologist-digs-into-nazi-death-camp/
Tradução: Leo Gott
Ver mais:
Arqueólogo procura família em campo de execução nazista (Terra)
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Pela primeira vez, suspeitos de nazismo serão julgados no Brasil
O MP sustentou que os réus integravam um grupo que pregava o preconceito contra judeus, negros, homossexuais e punks
01-12-2012 09:49
No primeiro semestre de 2013, quatro suspeitos de integrar um grupo neonazista serão julgados na capital gaúcha por tentativa de homicídio, formação de quadrilha e racismo, um fato inédito no Brasil, segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul. O delegado Paulo César Jardim, que coordena uma equipe de investigação contra grupos extremistas no Sul do País há dez anos, compara o fato - guardadas as devidas proporções - ao histórico tribunal de Nuremberg, que condenou os principais dirigentes do nazismo após a 2ª Guerra Mundial.
"Teremos a experiência, através do júri popular, de julgar o envolvimento de nazistas pela primeira vez. Há mais de 60 anos, um fato semelhante aconteceu em Nuremberg, mas é claro que respeitamos as proporcionalidades. Na América do Sul, esse tipo de fato, com tentativa de homicídio e formação de quadrilha, é inédito", disse ele. Ainda sem data definida, o júri vai decidir o futuro de Luzia Santos Pintos, Fábio Roberto Sturm, Laureano Vieira Toscani e Thiago da Silva.
Eles se envolveram, segundo denúncia do Ministério Público (MP) aceita pela Justiça, em uma agressão a judeus em maio de 2005 no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Com facas e canivetes, os quatro, junto com outros 10 suspeitos, teriam agredido Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn.
O MP sustentou que os réus integravam um grupo que pregava o preconceito contra judeus, negros, homossexuais e punks. Além das agressões, eles veiculavam ideias discriminatórias pela internet, divulgavam letras de músicas, fotografias e imagens com mensagens de conteúdo antissemita e nazista e pregavam a supremacia da raça ariana. Dos 14 denunciados, dez recorreram e aguardam decisão do recurso por parte da juíza Elaine Maria Canto da Fonseca.
Paulo César Jardim não acredita, mesmo com uma eventual condenação, no fim da propagação do nazismo no Estado: "É um posicionamento ideológico, por isso não acredito no seu término. (...) Os inúmeros inquéritos remetidos à Justiça estão se fazendo necessários para o julgamento dos indiciados, para nós é importante."
Advogado critica "perseguição policial"
Defensor do réu Laureano Vieira Toscani, o advogado Guilherme Rodrigues Abrão sustenta que seu cliente não é neonazista e garante que ele não estava presente na agressão contra os judeus, em 2005. Ele criticou a "perseguição" feita pela Polícia Civil.
"A polícia teve uma visão muito apressada, por conta de um reconhecimento precário, que resultou na prisão deles. Eles não participaram do fato. Embora possua material (de cunho nazista) e tenha lido sobre essas questões, o Laureano não é uma pessoa com qualquer tipo de preconceito", argumentou Abrão.
"Seus pais são professores universitários, residiram na Europa e uma irmã já se relacionou com um negro. Não há motivos para o Laureano participar de qualquer movimento ideológico que cultive o ódio e o preconceito. Muito se dá por uma certa perseguição e estigma", completou.
Rebatendo o defensor, Jardim ironizou: "Quase 90% das pessoas que estão no Presídio Central são 'inocentes' e foram 'injustamente condenadas'". Os demais réus não contrataram advogados e terão defensores públicos no tribunal. O Terra entrou em contato com a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.
Histórico de violência
Em agosto de 2011, uma briga envolvendo punks, skinheads e ao menos um neonazista em um bar da capital gaúcha ligou o sinal de alerta da polícia para a atuação de grupos que pregam o ódio e a discriminação no Sul do País, inspirados pela ideologia de Adolf Hitler. Responsável pelo indiciamento de 35 neonazistas no Estado na última década, Jardim afirmou que está "na gênese" do gaúcho a guarida para movimentos desse tipo.
Já em 2010, um grupo de defesa dos direitos dos travestis no Rio Grande do Sul recebeu ameaças por telefone de um suposto neonazista, que disse preparar uma ação na 14ª Parada Livre. Em edição anterior do evento, cartazes que pregavam a morte de homossexuais foram afixados no bairro Bom Fim, onde ocorre a passeata. Em novembro do mesmo ano, policiais civis apreenderam material de apologia ao nazismo em uma residência no centro de Porto Alegre.
Foram recolhidos fotografias, CDs, camisetas, distintivos, facas, uma soqueira e um laptop, mas ninguém foi preso. Em 2009, apreensões semelhantes ocorreram em Cachoeirinha, Viamão e Porto Alegre. Também em 2009, o casal Bernardo Dayrell e Renata Ferreira foi assassinado após uma festa neonazista no Paraná. O crime foi cometido na BR-116, em Quatro Barras, região metropolitana de Curitiba, e teve motivações de disputa entre o grupo neonazista liderado por Dayrell e Ricardo Barollo, apontado pela polícia como o mandante do duplo homicídio.
Além dele, Jairo Maciel Fischer, Rodrigo Motta, Gustavo Wendler, Rosana Almeida e João Guilherme Correa foram acusados de participar no crime. No dia do assassinato do casal, vários membros do grupo neonazista foram a uma festa em comemoração ao aniversário de Adolf Hitler em uma chácara de Quatro Barras. Conforme a lei 7.716, de 1989, "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo" prevê pena de até três anos de reclusão.
Fonte: Terra/meionorte.com
http://www.meionorte.com/noticias/geral/pela-primeira-vez-suspeitos-de-nazismo-serao-julgados-no-brasil-190100.html
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6344992-EI5030,00-RS+pela+vez+suspeitos+de+nazismo+serao+julgados+no+Pais.html
01-12-2012 09:49
No primeiro semestre de 2013, quatro suspeitos de integrar um grupo neonazista serão julgados na capital gaúcha por tentativa de homicídio, formação de quadrilha e racismo, um fato inédito no Brasil, segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul. O delegado Paulo César Jardim, que coordena uma equipe de investigação contra grupos extremistas no Sul do País há dez anos, compara o fato - guardadas as devidas proporções - ao histórico tribunal de Nuremberg, que condenou os principais dirigentes do nazismo após a 2ª Guerra Mundial.
"Teremos a experiência, através do júri popular, de julgar o envolvimento de nazistas pela primeira vez. Há mais de 60 anos, um fato semelhante aconteceu em Nuremberg, mas é claro que respeitamos as proporcionalidades. Na América do Sul, esse tipo de fato, com tentativa de homicídio e formação de quadrilha, é inédito", disse ele. Ainda sem data definida, o júri vai decidir o futuro de Luzia Santos Pintos, Fábio Roberto Sturm, Laureano Vieira Toscani e Thiago da Silva.
Eles se envolveram, segundo denúncia do Ministério Público (MP) aceita pela Justiça, em uma agressão a judeus em maio de 2005 no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Com facas e canivetes, os quatro, junto com outros 10 suspeitos, teriam agredido Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn.
O MP sustentou que os réus integravam um grupo que pregava o preconceito contra judeus, negros, homossexuais e punks. Além das agressões, eles veiculavam ideias discriminatórias pela internet, divulgavam letras de músicas, fotografias e imagens com mensagens de conteúdo antissemita e nazista e pregavam a supremacia da raça ariana. Dos 14 denunciados, dez recorreram e aguardam decisão do recurso por parte da juíza Elaine Maria Canto da Fonseca.
Paulo César Jardim não acredita, mesmo com uma eventual condenação, no fim da propagação do nazismo no Estado: "É um posicionamento ideológico, por isso não acredito no seu término. (...) Os inúmeros inquéritos remetidos à Justiça estão se fazendo necessários para o julgamento dos indiciados, para nós é importante."
Advogado critica "perseguição policial"
Defensor do réu Laureano Vieira Toscani, o advogado Guilherme Rodrigues Abrão sustenta que seu cliente não é neonazista e garante que ele não estava presente na agressão contra os judeus, em 2005. Ele criticou a "perseguição" feita pela Polícia Civil.
"A polícia teve uma visão muito apressada, por conta de um reconhecimento precário, que resultou na prisão deles. Eles não participaram do fato. Embora possua material (de cunho nazista) e tenha lido sobre essas questões, o Laureano não é uma pessoa com qualquer tipo de preconceito", argumentou Abrão.
"Seus pais são professores universitários, residiram na Europa e uma irmã já se relacionou com um negro. Não há motivos para o Laureano participar de qualquer movimento ideológico que cultive o ódio e o preconceito. Muito se dá por uma certa perseguição e estigma", completou.
Rebatendo o defensor, Jardim ironizou: "Quase 90% das pessoas que estão no Presídio Central são 'inocentes' e foram 'injustamente condenadas'". Os demais réus não contrataram advogados e terão defensores públicos no tribunal. O Terra entrou em contato com a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.
Histórico de violência
Em agosto de 2011, uma briga envolvendo punks, skinheads e ao menos um neonazista em um bar da capital gaúcha ligou o sinal de alerta da polícia para a atuação de grupos que pregam o ódio e a discriminação no Sul do País, inspirados pela ideologia de Adolf Hitler. Responsável pelo indiciamento de 35 neonazistas no Estado na última década, Jardim afirmou que está "na gênese" do gaúcho a guarida para movimentos desse tipo.
Já em 2010, um grupo de defesa dos direitos dos travestis no Rio Grande do Sul recebeu ameaças por telefone de um suposto neonazista, que disse preparar uma ação na 14ª Parada Livre. Em edição anterior do evento, cartazes que pregavam a morte de homossexuais foram afixados no bairro Bom Fim, onde ocorre a passeata. Em novembro do mesmo ano, policiais civis apreenderam material de apologia ao nazismo em uma residência no centro de Porto Alegre.
Foram recolhidos fotografias, CDs, camisetas, distintivos, facas, uma soqueira e um laptop, mas ninguém foi preso. Em 2009, apreensões semelhantes ocorreram em Cachoeirinha, Viamão e Porto Alegre. Também em 2009, o casal Bernardo Dayrell e Renata Ferreira foi assassinado após uma festa neonazista no Paraná. O crime foi cometido na BR-116, em Quatro Barras, região metropolitana de Curitiba, e teve motivações de disputa entre o grupo neonazista liderado por Dayrell e Ricardo Barollo, apontado pela polícia como o mandante do duplo homicídio.
Além dele, Jairo Maciel Fischer, Rodrigo Motta, Gustavo Wendler, Rosana Almeida e João Guilherme Correa foram acusados de participar no crime. No dia do assassinato do casal, vários membros do grupo neonazista foram a uma festa em comemoração ao aniversário de Adolf Hitler em uma chácara de Quatro Barras. Conforme a lei 7.716, de 1989, "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo" prevê pena de até três anos de reclusão.
Fonte: Terra/meionorte.com
http://www.meionorte.com/noticias/geral/pela-primeira-vez-suspeitos-de-nazismo-serao-julgados-no-brasil-190100.html
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Cruz Vermelha e Vaticano ajudaram milhares de nazis a escapar
Pesquisa mostra como documentos de viagem ended up in hands of the likes of Adolf Eichmann, Josef Mengele e Klaus Barbie no caos do pós-guerra
Dalya Alberge
Oficiais da SS los Auschwitz los 1944. A partir da esquerda: Richard Baer, que se tornou o comandante de Auschwitz, em maio de 1944, Josef Mengele, comandante de Birkenau, Josef Kramer, escondido, e o ex-comandante de Auschwitz Rudolf Höss, em primeiro plano, o homem da direita não é identificado. Foto: AP
Ambos, Cruz Vermelha e o Vaticano, ajudaram milhares de criminosos de guerra e colaboradores a escaparem depois da segunda guerra mundial, de acordo com o livro que reúne provas de documentos não publicados.
A Cruz Vermelha já admitiu antes o conhecimento de que seus esforços para ajudar os refugiados foram usados por nazistas porque os administradores estavam sobrecarregados, mas a pesquisa sugere que os números são muito maiores do que se pensava.
Gerald Steinacher, um pesquisador da Universidade de Harvard, teve acesso a milhares de documentos internos dos arquivos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Os documentos incluem documentos de viagem emitidos pela Cruz Vermelha erroneamente aos nazistas no caos do pós-guerra.
Eles lançam luz sobre como e por que os assassinos genocidas, como Adolf Eichmann, Josef Mengele e Klaus Barbie e milhares de outros, evitaram ser capturados pelos aliados.
Ao comparar as listas de criminosos de guerra procurados com documentos de viagem, Steinacher diz que a Grã-Bretanha e Canadá sozinhos inadvertidamente deixaram passar cerca de 8.000 ex-membros das Waffen-SS em 1947, muitos com base em documentos válidos emitidos por engano.
Os documentos - que são discutidos no livro de Steinacher "Nazistas em Fuga: Como os capangas de Hitler fugiram da justiça" (Nazis on the Run: How Hitler's henchmen fled justice) - oferecem um panorama significativo do pensamento do Vaticano, particularmente, porque seus próprios arquivos de depois de 1939 ainda estão fechados. O Vaticano sempre se recusou a comentar.
Steinacher acredita que a ajuda do Vaticano era baseado em uma esperança de reviver um cristianismo europeu e no pavor à União Soviética. Mas, através da Comissão de Refugiados do Vaticano, criminosos de guerra conscientemente conhecidos conseguiam identidades falsas.
A Cruz Vermelha, sobrecarregada por milhões de refugiados, contou substancialmente das referências do Vaticano e nas frequentes e apressadas checagens militares dos Aliados na emissão de documentos de viagem, conhecidos como 10.100s.
Acreditava-se primeiramente na ajuda a refugiados inocentes, embora a correspondência entre delegações da Cruz Vermelha em Génova, Roma e Genebra mostrasse que estavam cientes que nazistas estavam passando.
"Embora o CICV tenha pedido desculpas publicamente, a sua ação foi bem além de ajudar algumas pessoas", disse Steinacher.
Steinacher diz que os documentos indicam que a Cruz Vermelha, principalmente em Roma ou Génova, emitiram pelo menos 120.000 dos 10.100s, e que 90% dos ex-nazistas fugiram através da Itália, principalmente para Espanha, América do Norte e América do Sul - especialmente para a Argentina.
Ex-membros da SS, muitas vezes misturados com refugiados genuínos, apresentaram-se como apátridas alemães étnicos para ganhar papéis de trânsito. Judeus tentando chegar à Palestina através da Itália às vezes eram contrabandeados pela fronteira com nazistas em fuga.
Steinacher diz que delegações individuais da Cruz Vermelha emitiram 10.100s para criminosos de guerra "por simpatia com os indivíduos ... atitude política, ou simplesmente porque estavam sobrecarregadas". Documentos roubados também foram usados para atravessar os nazistas com segurança. Ele disse: "Eles eram realmente um dilema. Era difícil. Ela queria se livrar do trabalho. Que ninguém queria fazê-lo...."
A Cruz Vermelha se recusou a comentar diretamente as conclusões de Steinacher, mas a organização diz em seu site: "O CICV já lamentou o fato de que Eichmann e outros criminosos nazistas utilizaram de forma maliciosa seus documentos de viagem para cobrir seus rastros."
The Guardian, quarta-feira, 25 de maio de 2011 15.31 BST
Fonte: The Guardian
http://www.guardian.co.uk/world/2011/may/25/nazis-escaped-on-red-cross-documents
Tradução: Roberto Lucena
Dalya Alberge
Oficiais da SS los Auschwitz los 1944. A partir da esquerda: Richard Baer, que se tornou o comandante de Auschwitz, em maio de 1944, Josef Mengele, comandante de Birkenau, Josef Kramer, escondido, e o ex-comandante de Auschwitz Rudolf Höss, em primeiro plano, o homem da direita não é identificado. Foto: AP
Ambos, Cruz Vermelha e o Vaticano, ajudaram milhares de criminosos de guerra e colaboradores a escaparem depois da segunda guerra mundial, de acordo com o livro que reúne provas de documentos não publicados.
A Cruz Vermelha já admitiu antes o conhecimento de que seus esforços para ajudar os refugiados foram usados por nazistas porque os administradores estavam sobrecarregados, mas a pesquisa sugere que os números são muito maiores do que se pensava.
Gerald Steinacher, um pesquisador da Universidade de Harvard, teve acesso a milhares de documentos internos dos arquivos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Os documentos incluem documentos de viagem emitidos pela Cruz Vermelha erroneamente aos nazistas no caos do pós-guerra.
Eles lançam luz sobre como e por que os assassinos genocidas, como Adolf Eichmann, Josef Mengele e Klaus Barbie e milhares de outros, evitaram ser capturados pelos aliados.
Ao comparar as listas de criminosos de guerra procurados com documentos de viagem, Steinacher diz que a Grã-Bretanha e Canadá sozinhos inadvertidamente deixaram passar cerca de 8.000 ex-membros das Waffen-SS em 1947, muitos com base em documentos válidos emitidos por engano.
Os documentos - que são discutidos no livro de Steinacher "Nazistas em Fuga: Como os capangas de Hitler fugiram da justiça" (Nazis on the Run: How Hitler's henchmen fled justice) - oferecem um panorama significativo do pensamento do Vaticano, particularmente, porque seus próprios arquivos de depois de 1939 ainda estão fechados. O Vaticano sempre se recusou a comentar.
Steinacher acredita que a ajuda do Vaticano era baseado em uma esperança de reviver um cristianismo europeu e no pavor à União Soviética. Mas, através da Comissão de Refugiados do Vaticano, criminosos de guerra conscientemente conhecidos conseguiam identidades falsas.
A Cruz Vermelha, sobrecarregada por milhões de refugiados, contou substancialmente das referências do Vaticano e nas frequentes e apressadas checagens militares dos Aliados na emissão de documentos de viagem, conhecidos como 10.100s.
Acreditava-se primeiramente na ajuda a refugiados inocentes, embora a correspondência entre delegações da Cruz Vermelha em Génova, Roma e Genebra mostrasse que estavam cientes que nazistas estavam passando.
"Embora o CICV tenha pedido desculpas publicamente, a sua ação foi bem além de ajudar algumas pessoas", disse Steinacher.
Steinacher diz que os documentos indicam que a Cruz Vermelha, principalmente em Roma ou Génova, emitiram pelo menos 120.000 dos 10.100s, e que 90% dos ex-nazistas fugiram através da Itália, principalmente para Espanha, América do Norte e América do Sul - especialmente para a Argentina.
Ex-membros da SS, muitas vezes misturados com refugiados genuínos, apresentaram-se como apátridas alemães étnicos para ganhar papéis de trânsito. Judeus tentando chegar à Palestina através da Itália às vezes eram contrabandeados pela fronteira com nazistas em fuga.
Steinacher diz que delegações individuais da Cruz Vermelha emitiram 10.100s para criminosos de guerra "por simpatia com os indivíduos ... atitude política, ou simplesmente porque estavam sobrecarregadas". Documentos roubados também foram usados para atravessar os nazistas com segurança. Ele disse: "Eles eram realmente um dilema. Era difícil. Ela queria se livrar do trabalho. Que ninguém queria fazê-lo...."
A Cruz Vermelha se recusou a comentar diretamente as conclusões de Steinacher, mas a organização diz em seu site: "O CICV já lamentou o fato de que Eichmann e outros criminosos nazistas utilizaram de forma maliciosa seus documentos de viagem para cobrir seus rastros."
The Guardian, quarta-feira, 25 de maio de 2011 15.31 BST
Fonte: The Guardian
http://www.guardian.co.uk/world/2011/may/25/nazis-escaped-on-red-cross-documents
Tradução: Roberto Lucena
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Antissemitismo ‘oficial’ de Estado, entre 1933 e 1948: Livro expõe circulares secretas visavam barrar entrada de judeus no País
Entre 1933 e 1948, o governo brasileiro emitiu dezenas de circulares secretas que visavam dificultar, ou até mesmo impedir, a entrada de judeus que fugiam do nazismo e do fascismo que dominavam a Europa. O mito do Brasil cordial, que não é racista, pode ser confrontado agora por meio do livro Cidadão do Mundo – o Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados do nazifascismo – 1933-1948 (Editora Perspectiva, 476 p., R$75,00). A obra, lançada no início do mês de dezembro, é originada da tese de livre docência da professora Maria Luiza Tucci Carneiro, apresentada em 2001 à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da USP.
O livro analisa o contexto desse ‘cidadão do mundo’: trata-se do judeu que começa a ser perseguido na Europa, a partir de 1933 com a ascensão do nazismo na Alemanha. “À medida que os nazistas vão invadindo outros países, surgem novos fluxos migratórios de judeus alemães que vão se somando a novas nacionalidades de judeus refugiados da guerra, como austríacos e poloneses”, explica a professora.
Com a perda da identidade jurídica decorrente da perseguição nazista, esse ‘cidadão no mundo’ foge de seu país de origem e busca rotas de fuga – incluindo o Brasil. “Mas aqui vai encontrar receptividade apenas dentro da comunidade judaica. A posição oficial do governo brasileiro é a de descaso para esse ‘cidadão do mundo’, ou mesmo de omissão em algumas situações bastantes críticas. As circulares secretas mostram que a orientação dada aos diplomatas brasileiros era de dificultar ou negar a emissão de vistos para os refugiados judeus”, conta.
A professora explica que o governo brasileiro vê esse ‘cidadão do mundo’ como perigoso para compor a ‘raça brasileira’ e também para a segurança nacional, pois o judeu era associado com o comunismo, ao parasitismo e a ideia de raça inferior. Por meio desta pesquisa, Maria Luiza demonstra que muitos desses judeus tinham posturas políticas liberais e que, entre 1940-1945, fortaleceram no Brasil os movimentos antifascistas.
Segundo a historiadora, uma minoria de diplomatas se mostrou sensibilizada com a situação vivenciada pelos judeus refugiados e raros foram os que se ofereceram para ajudar. Entre os diplomatas brasileiros que assumiram uma postura humanitária, ela cita Luiz Martins de Souza Dantas, embaixador do Brasil na França de 1922 a 1944, e que concedeu cerca de 500 vistos, desobedecendo as imposições antissemitas do governo Vargas expressas através das circulares secretas. Por suas ações salvacionistas, Souza Dantas é considerado pelo Instituto Yad Vashem, em Israel, como um dos “Justos entre as Nações“, sendo que o processo de reconhecimento foi aberto a pedido da própria professora Maria Luiza Tucci Carneiro. Outro exemplo é o de Aracy Moebius de Carvalho que ajudou a salvar centenas de refugiados judeus favorecendo a emissão de vistos pelo Consulado Geral do Brasil de Hamburgo, onde trabalhava ao lado do diplomata e escritor Guimarães Rosa, então cônsul geral.
Pós-guerra
Mesmo no pós-guerra, a emissão de circulares secretas continuou. A professora conta que em 1947, durante o período de criação da Organização das Nações Unidas (ONU), Oswaldo Aranha, ex-ministro das Relações Exteriores na Era Vargas, produziu um relatório, atendendo ao pedido do ministro Raul Fernandes, então chanceler do presidente Dutra. Neste documento, Aranha avalia alguns dos assuntos que seriam debatidos na primeira reunião da ONU: a discussão sobre genocídio instigada pelas imagens de catástrofe sobre o Holocausto; o controle do uso de armas atômicas, pensando-se do que ocorrera em Hiroshima e Nagasaki, no Japão; e, por fim, a divisão do território palestino com a criação do Estado de Israel.
“No final do relatório, Oswaldo Aranha apontava que se realmente fosse votada a partilha da Palestina, o Brasil poderia ficar tranquilo pois os judeus teriam, a partir de então, um território próprio específico e o país não precisaria mais se preocupar em receber esses ‘cidadãos do mundo’”, destaca a historiadora. “Ao mesmo tempo, Oswaldo Aranha havia recebido a orientação de seguir o voto dos Estados Unidos, fosse qual fosse o voto”, completa, mostrando a posição comprometida do governo brasileiro.
Outro ponto apresentado no livro é que a partir de abril de 1944, o Comitê Internacional para Refugiados Políticos apelou, por meio de dezenas de cartas, para dezenas de países, pedindo auxílio para salvar cerca de 10 mil crianças judias órfãs, retirando-as da França e Hungria ocupadas. Segundo a professora, um conjunto de documentos pesquisados junto ao Itamaraty revela a morosidade e a insensibilidade do governo brasileiro em assumir qualquer tipo de responsabilidade sobre a situação que exigia rápidas ações humanitárias.
“O governo de Vargas impõs uma série de condições para aceitar cerca de 500 crianças. Exigia, dentre outras condições, que elas fossem educadas por pais católicos, de forma a anular sua identidade judaica; não poderiam ter contato com a família de origem; e não deveriam ter mais de 10 anos de idade”, conta a professora. Quando o governo brasileiro decidiu oficialmente aceitar as crianças, em junho de 1945 – portanto em pleno governo Dutra -, elas já haviam sido resgatadas graças à ajuda dos Estados Unidos e Grã-Bretanha”, conta.
Mentalidade antissemita
Segundo a professora, a partir da documentação analisada, é possível perceber que os discursos de grande parte dos diplomatas e de um grupo de intelectuais católicos reproduziam as teorias de exclusão nazistas.
“Apesar dessa postura antissemita e da repressão policial, é possível identificar movimentos de resistência ao nazismo, que atuaram nos subterrâneos do governo Vargas e que lutaram em prol da Alemanha, França e da Áustria livres, conforme atestam os documentos pesquisados junto ao Fundo Deops/SP, sob a guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo”, finaliza a historiadora.
Mais informações: (11) 3091-8598 ou email malutucci@gmail.com, com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro ou junto ao Arqshoah – Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo disponível no endereço www.arqshoah.com.br
Reportagem de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 12/01/2011
Publicado em janeiro 12, 2011 por HC
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Fonte: Agência USP/Ecodebate
http://www.ecodebate.com.br/2011/01/12/antisemitismo-oficial-de-estado-entre-1933-e-1948-livro-expoe-circulares-secretas-visavam-barrar-entrada-de-judeus-no-pais/
http://www.usp.br/agen/?p=45541
Refugiados judeus no porto de Lisboa. Imagem de Roger Kahan (1940) |
Com a perda da identidade jurídica decorrente da perseguição nazista, esse ‘cidadão no mundo’ foge de seu país de origem e busca rotas de fuga – incluindo o Brasil. “Mas aqui vai encontrar receptividade apenas dentro da comunidade judaica. A posição oficial do governo brasileiro é a de descaso para esse ‘cidadão do mundo’, ou mesmo de omissão em algumas situações bastantes críticas. As circulares secretas mostram que a orientação dada aos diplomatas brasileiros era de dificultar ou negar a emissão de vistos para os refugiados judeus”, conta.
A professora explica que o governo brasileiro vê esse ‘cidadão do mundo’ como perigoso para compor a ‘raça brasileira’ e também para a segurança nacional, pois o judeu era associado com o comunismo, ao parasitismo e a ideia de raça inferior. Por meio desta pesquisa, Maria Luiza demonstra que muitos desses judeus tinham posturas políticas liberais e que, entre 1940-1945, fortaleceram no Brasil os movimentos antifascistas.
Segundo a historiadora, uma minoria de diplomatas se mostrou sensibilizada com a situação vivenciada pelos judeus refugiados e raros foram os que se ofereceram para ajudar. Entre os diplomatas brasileiros que assumiram uma postura humanitária, ela cita Luiz Martins de Souza Dantas, embaixador do Brasil na França de 1922 a 1944, e que concedeu cerca de 500 vistos, desobedecendo as imposições antissemitas do governo Vargas expressas através das circulares secretas. Por suas ações salvacionistas, Souza Dantas é considerado pelo Instituto Yad Vashem, em Israel, como um dos “Justos entre as Nações“, sendo que o processo de reconhecimento foi aberto a pedido da própria professora Maria Luiza Tucci Carneiro. Outro exemplo é o de Aracy Moebius de Carvalho que ajudou a salvar centenas de refugiados judeus favorecendo a emissão de vistos pelo Consulado Geral do Brasil de Hamburgo, onde trabalhava ao lado do diplomata e escritor Guimarães Rosa, então cônsul geral.
Pós-guerra
Mesmo no pós-guerra, a emissão de circulares secretas continuou. A professora conta que em 1947, durante o período de criação da Organização das Nações Unidas (ONU), Oswaldo Aranha, ex-ministro das Relações Exteriores na Era Vargas, produziu um relatório, atendendo ao pedido do ministro Raul Fernandes, então chanceler do presidente Dutra. Neste documento, Aranha avalia alguns dos assuntos que seriam debatidos na primeira reunião da ONU: a discussão sobre genocídio instigada pelas imagens de catástrofe sobre o Holocausto; o controle do uso de armas atômicas, pensando-se do que ocorrera em Hiroshima e Nagasaki, no Japão; e, por fim, a divisão do território palestino com a criação do Estado de Israel.
“No final do relatório, Oswaldo Aranha apontava que se realmente fosse votada a partilha da Palestina, o Brasil poderia ficar tranquilo pois os judeus teriam, a partir de então, um território próprio específico e o país não precisaria mais se preocupar em receber esses ‘cidadãos do mundo’”, destaca a historiadora. “Ao mesmo tempo, Oswaldo Aranha havia recebido a orientação de seguir o voto dos Estados Unidos, fosse qual fosse o voto”, completa, mostrando a posição comprometida do governo brasileiro.
Documentos do Itamaraty revelam a morosidade e a insensibilidade do governo |
“O governo de Vargas impõs uma série de condições para aceitar cerca de 500 crianças. Exigia, dentre outras condições, que elas fossem educadas por pais católicos, de forma a anular sua identidade judaica; não poderiam ter contato com a família de origem; e não deveriam ter mais de 10 anos de idade”, conta a professora. Quando o governo brasileiro decidiu oficialmente aceitar as crianças, em junho de 1945 – portanto em pleno governo Dutra -, elas já haviam sido resgatadas graças à ajuda dos Estados Unidos e Grã-Bretanha”, conta.
Mentalidade antissemita
Segundo a professora, a partir da documentação analisada, é possível perceber que os discursos de grande parte dos diplomatas e de um grupo de intelectuais católicos reproduziam as teorias de exclusão nazistas.
“Apesar dessa postura antissemita e da repressão policial, é possível identificar movimentos de resistência ao nazismo, que atuaram nos subterrâneos do governo Vargas e que lutaram em prol da Alemanha, França e da Áustria livres, conforme atestam os documentos pesquisados junto ao Fundo Deops/SP, sob a guarda do Arquivo Público do Estado de São Paulo”, finaliza a historiadora.
Mais informações: (11) 3091-8598 ou email malutucci@gmail.com, com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro ou junto ao Arqshoah – Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo disponível no endereço www.arqshoah.com.br
Reportagem de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 12/01/2011
Publicado em janeiro 12, 2011 por HC
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domingo, 16 de dezembro de 2012
Prova fotográfica das valas comuns em Kerch, 31 de dezembro de 1941
Em 31 de dezembro de 1941, as tropas soviéticas temporariamente libertaram Kerch e escavaram valas comuns cheias de judeus vítimas do nazismo. Estas foram fotografadas por foto-jornalistas, entre eles Dmitrii Baltermants, cujas fotos foram publicadas em Ogonyok em 2 de março de 1942. David Shneer nos dá um lote de fotografias aqui e a proveniência também é discutida neste artigo e também aqui. Yad Vashem tem fotos aqui. Finalmente, a escavação foi testemunhada por um judeu-poeta russo chamado Ilya Selvinsky, que a registrou em seu diário e no poema "Eu vi!", que foi publicado em um jornal soviético em 23 de janeiro de 1942; extratos de ambas as fontes são traduzidas e discutidas por Maxim D. Shrayer aqui. Estas fontes merecem maior exposição e atenção.
Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2012/12/photographic-proof-of-kerch-mass-graves.html
Tradução: Roberto Lucena
Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2012/12/photographic-proof-of-kerch-mass-graves.html
Tradução: Roberto Lucena
Klaus Barbie - O Inimigo do Meu Inimigo (My Enemy's Enemy) - documentário
"O inimigo do meu inimigo" é um documentário de Kevin MacDonald lançado em 2007 que narra o recrutamento e uso de nazistas pelos EUA e outros países aliados dos EUA na Guerra Fria contra comunistas e a URSS, especificamente a história de Klaus Barbie. O documentário mostra as atrocidades cometidas pelo grupo de Klaus Barbie na França, sua fuga da Europa, o assassinato de Che Guevara, sua prisão na Bolívia e posterior julgamento na França condenado por crimes contra a humanidade. O fio central do documentário é a omissão do governo francês (e dos países antissoviéticos) que sabia da presença de Barbie na Bolívia e só resolveu prendê-lo quando não era mais útil ao governo francês e países aliados da França, como um agente da contra-inteligência dos EUA e capanga de ditaduras de direita na América Latina.
Fala também da ideia do ex-SS da organização de um IV Reich nos Andes.
Só um aviso: o vídeo no Youtube pode não durar muito tempo em virtude de que muitas vezes cortam esses vídeos por conta dos "direitos autorais", apesar de que não são vídeos bastante vendidos pois não são exibidos na TV aberta do país. Coloquei links pro documentário Homo Sapiens 1900 (sobre a eugenia e histórica do racismo "científico"), de Peter Cohen (o mesmo de Arquitetura da Destruição) e os primeiros vídeos do documentário no Youtube fora removidos. Infelizmente a ganância das produtoras costuma falar mais alto que altruísmo e bom senso.
Filme legendado em espanhol (o vídeo com legenda em português, mais abaixo, foi removido do Youtube)
Fala também da ideia do ex-SS da organização de um IV Reich nos Andes.
Só um aviso: o vídeo no Youtube pode não durar muito tempo em virtude de que muitas vezes cortam esses vídeos por conta dos "direitos autorais", apesar de que não são vídeos bastante vendidos pois não são exibidos na TV aberta do país. Coloquei links pro documentário Homo Sapiens 1900 (sobre a eugenia e histórica do racismo "científico"), de Peter Cohen (o mesmo de Arquitetura da Destruição) e os primeiros vídeos do documentário no Youtube fora removidos. Infelizmente a ganância das produtoras costuma falar mais alto que altruísmo e bom senso.
Filme legendado em espanhol (o vídeo com legenda em português, mais abaixo, foi removido do Youtube)
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
[Pausa Musical] - Mélanie Laurent - En t'attendant (álbum)
Post "off topic", mas a música é sempre uma boa pedida para acalmar as feras. Brincadeiras à parte, acho que não há problema em usar o espaço do blog pra sugerir ou citar alguma banda, música ou cantante.
Primeira da lista, e é uma surpresa pois não vi divulgação desse disco no país, pra variar, pois com algumas exceções a programação cultural atual da TV brasileira é quase literalmente um esgoto a céu aberto de "qualidade". Mas como eu dizia, a primeira da lista é a Mélanie Laurent.
Pra quem não consegue associar o nome à pessoa, a bela francesa fez o papel da Shosanna Dreyfus no filme Bastardos Inglórios. E a mesma aparece neste filme francês lançado em 2010, sobre a deportação dos judeus franceses, La Rafle, título em português ficou como "Amor e Ódio", trailer.
En t'attendant é o álbum de estréia da moça, gostei do som, é diferente, bem produzido e arranjado. Logo abaixo, seguem alguns vídeos das músicas do disco:
Esse vídeo segue em separado pois a última música "Tango", que é tocada colada com "Circus", só saiu na edição Deluxe do disco. Abaixo as músicas executadas ao vivo também no estúdio da Europe1.fr:
Bom som a todos, mas dessa vez sem 'Au revoir, Shosanna'. (hehehehehe).
Primeira da lista, e é uma surpresa pois não vi divulgação desse disco no país, pra variar, pois com algumas exceções a programação cultural atual da TV brasileira é quase literalmente um esgoto a céu aberto de "qualidade". Mas como eu dizia, a primeira da lista é a Mélanie Laurent.
Pra quem não consegue associar o nome à pessoa, a bela francesa fez o papel da Shosanna Dreyfus no filme Bastardos Inglórios. E a mesma aparece neste filme francês lançado em 2010, sobre a deportação dos judeus franceses, La Rafle, título em português ficou como "Amor e Ódio", trailer.
En t'attendant é o álbum de estréia da moça, gostei do som, é diferente, bem produzido e arranjado. Logo abaixo, seguem alguns vídeos das músicas do disco:
Mélanie Laurent - Kiss | Mélanie Laurent - Insomnie |
Música título do disco, En T'anttendant, ao vivo no estúdio da Europe1.fr: | O clipe de En T'Anttendant. Abaixo |
Esse vídeo segue em separado pois a última música "Tango", que é tocada colada com "Circus", só saiu na edição Deluxe do disco. Abaixo as músicas executadas ao vivo também no estúdio da Europe1.fr:
Bom som a todos, mas dessa vez sem 'Au revoir, Shosanna'. (hehehehehe).
RODOH - Fórum de discussão sobre Holocausto e negação do Holocausto (vulgo, "revisionismo)
Conforme comentei aqui recentemente, eu tenho dito que o local apropriado pra discussão de algo relativo a Holocausto, segunda guerra, "revisionismo" etc é o fórum RODOH, hospedado nos EUA. Obviamente pra quem queira discutir o assunto. Link do RODOH:
http://www.rodoh.us/
http://forum.rodoh.com/
Descrição breve do fórum:
Este fórum atual é o segundo RODOH, o antigo acabou sendo extinto depois de um ataque de um bando de idiotas bancando "justiceiros virtuais", e nele havia uma seção em português para usuários do Brasil (e de qualquer país lusófono, obviamente, mas o maior número de usuários que falava português no fórum era composto por brasileiros, por isso que geralmente só me refiro a brasileiros).
Não sei se é possível restaurar essa seção, e eu só pediria algo nesse sentido (a restauração da mesma) se houvesse gente de fato interessada em discussão e não simples "aporrinhamento", pois pra pedir pra abrir e a coisa e depois a mesma ficar jogada às traças - como ficou no antigo RODOH - é algo que não farei.
A seção não precisaria ser exclusiva para língua portuguesa, poderia ser uma seção destinada a outros idiomas, algo mais abrangente. Mas é só uma ideia, não moverei uma palha para pedir a abertura disso sem que pessoas entrem no fórum e deem sinal de vida por lá. Pois como disse antes, no antigo RODOH esta seção em português ficou largada porque os "revis" brasileiros (lusófonos em geral) costumam ficar entocados em "malocas" por serem bastante refutados e se irritarem com isso, daí que só "discutem" em patotas e com agressões em locais só pra "revisionistas".
Pro pessoal que achar que o discurso acima é duro segue um aviso, não tenho nenhuma pretensão em ser agradável com "revisionistas", apenas se a pessoa se dirigir a mim normalmente, eu farei o mesmo, mas não é bom entender isso (educação) como um sinal de "amizade", não sou amigo de "revisionistas" e gente com esse perfil político, particularmente não faço a mínima questão de convívio ou amizade com gente desse tipo. "Ah, mas você é bem radical!", exato, acertou, em alguns pontos (princípios) eu sou bem radical, sem meio termo, por isso não é muito recomendável bancar o "espertalhão" comigo (ser dissimulado), pois não costumo interpretar esse tipo de gesto "espertalhão" como um ato de boa fé e eu tenho uma certa facilidade pra perceber quando estão tentando bancar o "esperto" comigo.
http://www.rodoh.us/
http://forum.rodoh.com/
Descrição breve do fórum:
Obrigado por seu interesse no Fórum RODOH. RODOH é um fórum de liberdade de expressão que não é um site "revisionista" ou não-"revisionista".Mas alguém pode perguntar: "Ah, mas o fórum é em inglês!". Acho que qualquer um percebe isso (sem ironia) facilmente. Segue abaixo uma breve explicação.
Sabemos que o assunto principal abordado aqui pode ser extremamente controverso e até mesmo um tabu. Esperemos que isso não seja impedimento para uma troca aberta e honesta de idéias. Talvez o nosso lema, que contempla acima de tudo a liberdade de expressão e o debate aberto, seja um objetivo muito ambicioso, mas um fórum de discussões é bom quando seus participantes o tornam bom, e liberdade de expressão pode nem ser sempre algo bonito. A administração e coordenação do RODOH está interessado em responder perguntas e ouvir quaisquer críticas construtivas.
Este fórum atual é o segundo RODOH, o antigo acabou sendo extinto depois de um ataque de um bando de idiotas bancando "justiceiros virtuais", e nele havia uma seção em português para usuários do Brasil (e de qualquer país lusófono, obviamente, mas o maior número de usuários que falava português no fórum era composto por brasileiros, por isso que geralmente só me refiro a brasileiros).
Não sei se é possível restaurar essa seção, e eu só pediria algo nesse sentido (a restauração da mesma) se houvesse gente de fato interessada em discussão e não simples "aporrinhamento", pois pra pedir pra abrir e a coisa e depois a mesma ficar jogada às traças - como ficou no antigo RODOH - é algo que não farei.
A seção não precisaria ser exclusiva para língua portuguesa, poderia ser uma seção destinada a outros idiomas, algo mais abrangente. Mas é só uma ideia, não moverei uma palha para pedir a abertura disso sem que pessoas entrem no fórum e deem sinal de vida por lá. Pois como disse antes, no antigo RODOH esta seção em português ficou largada porque os "revis" brasileiros (lusófonos em geral) costumam ficar entocados em "malocas" por serem bastante refutados e se irritarem com isso, daí que só "discutem" em patotas e com agressões em locais só pra "revisionistas".
Pro pessoal que achar que o discurso acima é duro segue um aviso, não tenho nenhuma pretensão em ser agradável com "revisionistas", apenas se a pessoa se dirigir a mim normalmente, eu farei o mesmo, mas não é bom entender isso (educação) como um sinal de "amizade", não sou amigo de "revisionistas" e gente com esse perfil político, particularmente não faço a mínima questão de convívio ou amizade com gente desse tipo. "Ah, mas você é bem radical!", exato, acertou, em alguns pontos (princípios) eu sou bem radical, sem meio termo, por isso não é muito recomendável bancar o "espertalhão" comigo (ser dissimulado), pois não costumo interpretar esse tipo de gesto "espertalhão" como um ato de boa fé e eu tenho uma certa facilidade pra perceber quando estão tentando bancar o "esperto" comigo.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)
Relações Internacionais (R:I). Versão impressa ISSN 1645-9199
Relações Internacionais n.31 Lisboa set. 2011
As direitas radicais na fase terminal do Estado Novo
Riccardo Marchi
Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)
Lisboa, Texto, 2009, 439 páginas
O livro tem por objetivo o estudo dos movimentos da direita radical na fase terminal do Estado Novo – a década de 1960 e os quatro primeiros anos da seguinte –, procurando enquadrá-los no quadro geral da história política e ideológica do regime. Por isso, o autor vai mais longe e procura definir as linhas de continuidade/descontinuidade entre este período e os antecedentes.
MOVIMENTOS DE INTELECTUAIS
Os movimentos da direita radical em Portugal são essencialmente de extracção intelectual e têm como pólos os principais centros universitários do país: Lisboa e Coimbra. Aliás, era essa a tradição, como acontecera já com o Integralismo Lusitano, na década de 1920, que acabou por se desagregar no imediato pós-28 de Maio de 1926, a partir do qual as suas facções mais radicais ou desaparecem ou se aproximam gradualmente da nova situação, acabando por se integrar no regime autoritário implantado por Salazar a partir da Constituição de 1933 (vide a Ordem Nova, em que pontificavam Marcello Caetano e Teotónio Pereira). A excepção poderia ter sido o nacional-sindicalismo de Rolão Preto – o único movimento da direita radical concebido para as massas –, prontamente proibido e banido por Salazar que, como acentua o autor, «não era um fascista, não era um chefe de massas, não era um líder carismático à maneira dos anos 30» (p. 390).
Aproveitando a conjuntura política ditada pela II Guerra Mundial e a «lógica bipolar da Guerra Fria» na qual Portugal assume um papel estratégico significativo, Salazar pôde, sem grandes dificuldades, «apagar as tensões políticas que tinham emergido no imediato pós-guerra, reprimir o activismo da oposição, afastar o derrube revolucionário da situação e relegar o tema da abertura do regime a um morno debate interno entre ortodoxos e liberais» (p. 15). O que acaba por afectar a capacidade de acção das facções mais radicais da direita portuguesa que, na década de 1940 e no contexto da guerra, se assumiam como defensoras do fascismo italiano e no nacional-socialismo alemão. Daí que na década seguinte se assista a uma letargia profunda da direita radical, ficando os seus membros limitados «a encontros ocasionais e a manter relações epistolares, de troca intelectual» (p. 17).
Como acentua António Costa Pinto no «Prefácio», o reacender da centelha emerge essencialmente de três catalisadores: «o motor intelectual do neofascismo europeu, a derradeira batalha pela sobrevivência do império colonial português e a chegada ao poder de Marcello Caetano, com o seu ímpeto inicial de reforma do regime» (p. 13).
Ao longo das 400 páginas do seu livro, Riccardo Marchi descreve pormenorizadamente o percurso, por vezes labiríntico e sinuoso, dos movimentos da direita radical em Portugal, cuja periodização essencial pode ser feita em torno de três publicações.
A revista Tempo Presente (1959-1961), que tem como director Fernando Guedes e como membros do Conselho de Redacção Caetano de Melo Beirão, António José de Brito, Goulart Nogueira e António Manuel Couto Viana, cujo ideário assenta na defesa de um corporativismo totalitário neofascista.
O semanário Agora (1961-1969), em que reaparecem antigos militantes nacionalistas da década de 1940, como Raul Carvalho Branco (director e editor), Manuel Saldida e José O’Neill, que, como chefe de redacção, é quem controla de facto a publicação, assumindo-se como porta-voz da «direita "caceteira"». Como sumaria Marchi, o tema principal é a guerra em África, em cujo contexto defendem a construção de «uma frente nacional contra os inimigos da Pátria», a luta contra a «Frente Leste interna» (os traidores instalados no regime, os cépticos, os incapazes, os prudentes), que «integra a panóplia dos inimigos que o nacionalismo radical combate já desde os anos de Alfredo Pimenta: o catolicismo progressista longa manus do comunismo, os liberais-democratas, cuja oposição ao Estado Novo enfraquece o Império em proveito do imperialismo russo-americano, o sionismo internacional» (p. 191). Por não se reverem na linha editorial definida por O’Neill, os homens da Tempo Presente não participam até 1967, ano em que este é substituído por Goulart Nogueira que traz para a redacção «toda a componente neofascista do nacionalismo radical» (p. 197).
Quando Marcello Caetano substitui Salazar, em Setembro de 1968, o Agora salienta sobretudo a continuidade do Estado Novo para além de Salazar, de cuja obra o primeiro não deixaria de ser o prossecutor. Mas, dois meses depois, perante as perspectivas de «abertura», passa ao ataque:
MARCELLO CAETANO, A LIBERALIZAÇÃO E O IMPÉRIO
A publicação da revista Política (1969-1974), propriedade da sociedade Edições Polémica, constituída com esse único fim, inicia-se a 22 de Novembro de 1969. Tem como director Jaime Nogueira Pinto e entre os sócios fundadores da editora conta-se Francisco Lucas Pires, ambos integrados na corrente nacional-revolucionária. No entanto, acentua Riccardo Marchi, «não é uma revista nacional-revolucionária» na medida em que nela participam «representantes das diversas almas do nacionalismo português, monárquico, republicano, católico, salazarista, todas convergentes em torno das teses integracionistas» (p. 298), «reunidos à volta da aversão ao Governo de Marcello Caetano e, sobretudo, à ala tecnocrática liberal cada vez mais influente no interior do regime e perigosamente activa nos assuntos vitais para o nacionalismo radical, nomeadamente a política ultramarina» (p. 293). É aliás a «Ala Liberal», ou melhor, o seu espírito (p. 304) presente na Assembleia Nacional depois das eleições de 1969, um dos inimigos principais para os redactores da revista, que julgam as suas posições «à luz do princípio de que as guerras subversivas vencem-se nas frentes de batalha e perdem-se nas retaguardas, com a abertura de fendas demo-liberais no tecido do Estado autoritário, disfarçadas de reformismo modernista» (Ibidem). A campanha contra os liberais da Assembleia Nacional é uma constante em todos os números da revista e intensifica-se desde o Verão de 1972, após a publicação do manifesto da SEDES «Portugal: o País que somos e o País que queremos ser». E «o crescente peso que os liberais assumem no interior das instituições do Estado torna-se uma das culpas mais graves imputadas pelos nacionalistas radicais ao Presidente do Conselho» (p. 306).
A última grande batalha da Política foi o I Congresso dos Combatentes, em grande plano na revista em Junho de 1973. A questão é candente e cara aos nacionalistas, porque, para além da deriva liberal do marcelismo dos primeiros anos, agora estava em causa a própria pessoa do presidente do Conselho que fizera aprovar uma revisão constitucional que apontava para a autonomia progressiva das colónias, que podiam, inclusivamente, adquirir a designação honorífica de «estado».
O autor descreve também pormenorizadamente os movimentos do nacionalismo revolucionário no seio da Universidade de Coimbra, cuja acção é despoletada pela crise académica de 1969, com destaque para o Orfeão Académico de Coimbra, a Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra e a Sociedade Cooperativa Livreira Cidadela. Esta última, constituída em Novembro de 1970, apesar de ter recebido a aprovação do então presidente do Conselho – que fora previamente consultado sobre a sua constituição – e, consequentemente, o apoio do regime, acaba por se inserir «na rede heterogénea da oposição de direita ao governo de Marcello Caetano» (p. 265).
Este livro, a todos os títulos pioneiro na historiografia contemporânea portuguesa, constitui um excelente estudo sobre os movimentos da direita radical no Estado Novo desde o pós-guerra, salientando-se nas conclusões que nunca existiu uma «idade de ouro» da direita radical portuguesa e que «a geração do nacionalismo radical dos anos 60 não entra na militância política colhendo o testemunho da geração precedente» (p. 383). Não estão já em causa «nem o restauracionismo monárquico, nem a doutrina contra-revolucionária, nem o debate monarquia/república», nem se trata do «despertar do salazarismo extremo, nem tão-pouco do neofascismo lusitano». O cimento que une os numerosos movimentos que se reclamam do nacionalismo radical «é a reacção contra a agressão dos movimentos independentistas» (p. 384). Numa palavra, não é o regime que está em causa, mas o «Império», que «deve ser entendido como uma ideia-valor não gerada pelo Estado Novo, pelo autoritarismo, pelo fascismo, mas pela História, material e espiritual de Portugal», ou seja, trata-se de «defender Portugal e a maneira lusitana de estar no Mundo» (p. 389).
© 2012 Instituto Português de Relações Internacionais
IPRI - UNL
Instituto Português de Relações Internacionais
Rua Dona Estefânia, 195, 5 D
1000-155 Lisboa
Portugal
ipri@ipri.pt
José Manuel Tavares Castilho
Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1986), mestre em Sociologia pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (1997) e doutor em História Social Contemporânea pela mesma instituição (2008). Actualmente, é investigador do CESNOVA – Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa. De entre as publicações mais recentes destacam-se os livros Os Deputados da Assembleia Nacional, 1935-1974 (2009) e Os Procuradores da Câmara Corporativa, 1935-1974 (2010).
Fonte: Scielo
http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S1645-91992011000300018&script=sci_arttext
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Relações Internacionais n.31 Lisboa set. 2011
As direitas radicais na fase terminal do Estado Novo
Riccardo Marchi
Império, Nação, Revolução – As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)
Lisboa, Texto, 2009, 439 páginas
O livro tem por objetivo o estudo dos movimentos da direita radical na fase terminal do Estado Novo – a década de 1960 e os quatro primeiros anos da seguinte –, procurando enquadrá-los no quadro geral da história política e ideológica do regime. Por isso, o autor vai mais longe e procura definir as linhas de continuidade/descontinuidade entre este período e os antecedentes.
MOVIMENTOS DE INTELECTUAIS
Os movimentos da direita radical em Portugal são essencialmente de extracção intelectual e têm como pólos os principais centros universitários do país: Lisboa e Coimbra. Aliás, era essa a tradição, como acontecera já com o Integralismo Lusitano, na década de 1920, que acabou por se desagregar no imediato pós-28 de Maio de 1926, a partir do qual as suas facções mais radicais ou desaparecem ou se aproximam gradualmente da nova situação, acabando por se integrar no regime autoritário implantado por Salazar a partir da Constituição de 1933 (vide a Ordem Nova, em que pontificavam Marcello Caetano e Teotónio Pereira). A excepção poderia ter sido o nacional-sindicalismo de Rolão Preto – o único movimento da direita radical concebido para as massas –, prontamente proibido e banido por Salazar que, como acentua o autor, «não era um fascista, não era um chefe de massas, não era um líder carismático à maneira dos anos 30» (p. 390).
Aproveitando a conjuntura política ditada pela II Guerra Mundial e a «lógica bipolar da Guerra Fria» na qual Portugal assume um papel estratégico significativo, Salazar pôde, sem grandes dificuldades, «apagar as tensões políticas que tinham emergido no imediato pós-guerra, reprimir o activismo da oposição, afastar o derrube revolucionário da situação e relegar o tema da abertura do regime a um morno debate interno entre ortodoxos e liberais» (p. 15). O que acaba por afectar a capacidade de acção das facções mais radicais da direita portuguesa que, na década de 1940 e no contexto da guerra, se assumiam como defensoras do fascismo italiano e no nacional-socialismo alemão. Daí que na década seguinte se assista a uma letargia profunda da direita radical, ficando os seus membros limitados «a encontros ocasionais e a manter relações epistolares, de troca intelectual» (p. 17).
Como acentua António Costa Pinto no «Prefácio», o reacender da centelha emerge essencialmente de três catalisadores: «o motor intelectual do neofascismo europeu, a derradeira batalha pela sobrevivência do império colonial português e a chegada ao poder de Marcello Caetano, com o seu ímpeto inicial de reforma do regime» (p. 13).
Ao longo das 400 páginas do seu livro, Riccardo Marchi descreve pormenorizadamente o percurso, por vezes labiríntico e sinuoso, dos movimentos da direita radical em Portugal, cuja periodização essencial pode ser feita em torno de três publicações.
A revista Tempo Presente (1959-1961), que tem como director Fernando Guedes e como membros do Conselho de Redacção Caetano de Melo Beirão, António José de Brito, Goulart Nogueira e António Manuel Couto Viana, cujo ideário assenta na defesa de um corporativismo totalitário neofascista.
O semanário Agora (1961-1969), em que reaparecem antigos militantes nacionalistas da década de 1940, como Raul Carvalho Branco (director e editor), Manuel Saldida e José O’Neill, que, como chefe de redacção, é quem controla de facto a publicação, assumindo-se como porta-voz da «direita "caceteira"». Como sumaria Marchi, o tema principal é a guerra em África, em cujo contexto defendem a construção de «uma frente nacional contra os inimigos da Pátria», a luta contra a «Frente Leste interna» (os traidores instalados no regime, os cépticos, os incapazes, os prudentes), que «integra a panóplia dos inimigos que o nacionalismo radical combate já desde os anos de Alfredo Pimenta: o catolicismo progressista longa manus do comunismo, os liberais-democratas, cuja oposição ao Estado Novo enfraquece o Império em proveito do imperialismo russo-americano, o sionismo internacional» (p. 191). Por não se reverem na linha editorial definida por O’Neill, os homens da Tempo Presente não participam até 1967, ano em que este é substituído por Goulart Nogueira que traz para a redacção «toda a componente neofascista do nacionalismo radical» (p. 197).
Quando Marcello Caetano substitui Salazar, em Setembro de 1968, o Agora salienta sobretudo a continuidade do Estado Novo para além de Salazar, de cuja obra o primeiro não deixaria de ser o prossecutor. Mas, dois meses depois, perante as perspectivas de «abertura», passa ao ataque:
«As páginas do Agora tornam-se um apelo semanal à área nacional-revolucionária para que se estreite em torno dos valores originários da Revolução Nacional dos anos 30 e se oponha a todos os dirigentes do Estado Novo [...] que hoje, iluminados pelos valores liberais-democratas, "se entretêm, por mundos e fundos, a dar-nos conta das excelências dos papelinhos pelos quais se decide tudo [...]"» (pp. 202-203).A resposta marcelista foi inexorável e feita da maneira tradicional: através da Censura. O semanário vê-se obrigado a fechar definitivamente com o número de 29 de Março de 1969.
MARCELLO CAETANO, A LIBERALIZAÇÃO E O IMPÉRIO
A publicação da revista Política (1969-1974), propriedade da sociedade Edições Polémica, constituída com esse único fim, inicia-se a 22 de Novembro de 1969. Tem como director Jaime Nogueira Pinto e entre os sócios fundadores da editora conta-se Francisco Lucas Pires, ambos integrados na corrente nacional-revolucionária. No entanto, acentua Riccardo Marchi, «não é uma revista nacional-revolucionária» na medida em que nela participam «representantes das diversas almas do nacionalismo português, monárquico, republicano, católico, salazarista, todas convergentes em torno das teses integracionistas» (p. 298), «reunidos à volta da aversão ao Governo de Marcello Caetano e, sobretudo, à ala tecnocrática liberal cada vez mais influente no interior do regime e perigosamente activa nos assuntos vitais para o nacionalismo radical, nomeadamente a política ultramarina» (p. 293). É aliás a «Ala Liberal», ou melhor, o seu espírito (p. 304) presente na Assembleia Nacional depois das eleições de 1969, um dos inimigos principais para os redactores da revista, que julgam as suas posições «à luz do princípio de que as guerras subversivas vencem-se nas frentes de batalha e perdem-se nas retaguardas, com a abertura de fendas demo-liberais no tecido do Estado autoritário, disfarçadas de reformismo modernista» (Ibidem). A campanha contra os liberais da Assembleia Nacional é uma constante em todos os números da revista e intensifica-se desde o Verão de 1972, após a publicação do manifesto da SEDES «Portugal: o País que somos e o País que queremos ser». E «o crescente peso que os liberais assumem no interior das instituições do Estado torna-se uma das culpas mais graves imputadas pelos nacionalistas radicais ao Presidente do Conselho» (p. 306).
A última grande batalha da Política foi o I Congresso dos Combatentes, em grande plano na revista em Junho de 1973. A questão é candente e cara aos nacionalistas, porque, para além da deriva liberal do marcelismo dos primeiros anos, agora estava em causa a própria pessoa do presidente do Conselho que fizera aprovar uma revisão constitucional que apontava para a autonomia progressiva das colónias, que podiam, inclusivamente, adquirir a designação honorífica de «estado».
«Quando, no Inverno de 1972/73 se materializa a ideia de um grande encontro que dê voz aos antigos combatentes, os representantes mais activos da área nacional-revolucionária estão prontos a agarrar a ocasião, para dar um impulso à batalha nacionalista, desta vez não só contra os inimigos declarados de Portugal, mas também contra o poder político incerto» (p. 373).No entanto, o poder político movimenta-se activamente e acabam por ser afastados do Congresso cujo objectivo de politização dos antigos combatentes também falha rotundamente. «Tratou-se – conclui Riccardo Marchi –, de facto, da última ofensiva da área nacional-revolucionária, na tentativa de dar forma a uma revolução há anos sonhada e que outros, dez meses depois, realizarão numa trajectória diametralmente oposta» (p. 382).
O autor descreve também pormenorizadamente os movimentos do nacionalismo revolucionário no seio da Universidade de Coimbra, cuja acção é despoletada pela crise académica de 1969, com destaque para o Orfeão Académico de Coimbra, a Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra e a Sociedade Cooperativa Livreira Cidadela. Esta última, constituída em Novembro de 1970, apesar de ter recebido a aprovação do então presidente do Conselho – que fora previamente consultado sobre a sua constituição – e, consequentemente, o apoio do regime, acaba por se inserir «na rede heterogénea da oposição de direita ao governo de Marcello Caetano» (p. 265).
Este livro, a todos os títulos pioneiro na historiografia contemporânea portuguesa, constitui um excelente estudo sobre os movimentos da direita radical no Estado Novo desde o pós-guerra, salientando-se nas conclusões que nunca existiu uma «idade de ouro» da direita radical portuguesa e que «a geração do nacionalismo radical dos anos 60 não entra na militância política colhendo o testemunho da geração precedente» (p. 383). Não estão já em causa «nem o restauracionismo monárquico, nem a doutrina contra-revolucionária, nem o debate monarquia/república», nem se trata do «despertar do salazarismo extremo, nem tão-pouco do neofascismo lusitano». O cimento que une os numerosos movimentos que se reclamam do nacionalismo radical «é a reacção contra a agressão dos movimentos independentistas» (p. 384). Numa palavra, não é o regime que está em causa, mas o «Império», que «deve ser entendido como uma ideia-valor não gerada pelo Estado Novo, pelo autoritarismo, pelo fascismo, mas pela História, material e espiritual de Portugal», ou seja, trata-se de «defender Portugal e a maneira lusitana de estar no Mundo» (p. 389).
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Rua Dona Estefânia, 195, 5 D
1000-155 Lisboa
Portugal
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José Manuel Tavares Castilho
Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1986), mestre em Sociologia pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (1997) e doutor em História Social Contemporânea pela mesma instituição (2008). Actualmente, é investigador do CESNOVA – Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa. De entre as publicações mais recentes destacam-se os livros Os Deputados da Assembleia Nacional, 1935-1974 (2009) e Os Procuradores da Câmara Corporativa, 1935-1974 (2010).
Fonte: Scielo
http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S1645-91992011000300018&script=sci_arttext
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
AAARGH (site negacionista)
Não, isto não é uma expressão de lamentação. Isso é a "L'Association des Anciens Amateurs de Récits de Guerres et d'Holocaustes", um site de negação (denial. org) francofônico (mais precisamente, da Bélgica). Eles mencionaram nosso blog em sua recente newsletter. Citaram a publicação de Nick sobre a controvérsia dos arquivos de Arolsen (Nick pode comentar depois, se assim desejar), e também nos apresentou como sendo uma "segunda geração de antirrevisionistas". Só que sinto que o termo "antirrevisionistas" é um equívoco - não somos contra o revisionismo. Ou melhor dizendo, somos anti-"revisionistas" (sim, entre aspas).
O editor da Newsletter também mostra o habitual desleixo "revisionista", ao escrever:
Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/05/aaargh.html
Tradução: Roberto Lucena
[01] CODOH
[02] VHO: um dos maiores sites de negação do Holocausto que hospeda vários textos e arquivos de livros de negacionismo em vários idiomas, incluindo o português. Hospedado por Michael Santomauro, um notório "revi" antissemita de Nova York.
O editor da Newsletter também mostra o habitual desleixo "revisionista", ao escrever:
Ce site présente les liens suivants avec d'autres anti-révisionnistes:- e citando os links que temos em nossa barra lateral do blog. Penso que ele (a) não notou que colocamos o link do fórum CODOH [01] e do VHO [02], e também para vários sites que não compartilham nada com o "revisionismo".
(este site apresenta os seguintes links com outros antirrevisionistas:)
Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/05/aaargh.html
Tradução: Roberto Lucena
[01] CODOH
[02] VHO: um dos maiores sites de negação do Holocausto que hospeda vários textos e arquivos de livros de negacionismo em vários idiomas, incluindo o português. Hospedado por Michael Santomauro, um notório "revi" antissemita de Nova York.
domingo, 9 de dezembro de 2012
A controvérsia dos arquivos de Arolsen: pequeno conforto para negacionistas
Hoje o Washington Post traz uma atualização acerca da disputa sobre os registros alojados no Serviço Internacional de Arquivos em Arolsen, na Alemanha. A história primeiro estourou há pouco mais de um mês, quando foi revelado que mais de 20 países estavam pedindo à Alemanha para abrir o acesso ao arquivo de Arolsen a historiadores e parentes.
O arquivo, administrado desde 1955 pela República Federal da Alemanha, contém registros criados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) depois de 1945 através de seus esforços para rastrear e localizar as inúmeras pessoas deslocadas, refugiados e campos de concentração. Cerca de mais de 17 milhões de nomes estão contidas nesses registos.
Então, por que os arquivos Arolsen são de interesse para ambos, historiadores do Holocausto bem como para os negadores do Holocausto? Para entender isso, veja abaixo da dobra.
O motivo, ao que parece, para a obstinação de ambos, da CICV e do governo alemão, reside nas leis de privacidade estritas que regem o acesso aos arquivos alemães. Se você já se perguntou porque Christopher Browning e outros historiadores de peso têm que escrever Hans K. ou inventar pseudônimos para testemunhas oculares, isto se deve à lei alemã de proteção de dados. Isso se aplica tanto às vítimas, bem como perpetradores, com o resultado de que os homens da SS condenados ou absolvidos de acusaçõesacusados de crimes de guerra nos tribunais alemães não podem ser citados pelo nome por historiadores, apesar de suas identidades poderem livremente ser estabelecidas com consulta aos arquivos pessoais da SS disponíveis no Arquivos Nacionais dos EUA.
Da história de hoje do Washington Post, arece que o ITS também está ficando para trás em sua função primária, a de catalogar centenas de milhares de casos que necessitam de identificação. Isto fere não só aqueles que procuram estabelecer o destino de seus parentes desaparecidos, mas também pode prejudicar os casos de compensação trazidas por sobreviventes sob os regimes existentes. Contudo, parece que o governo alemão pode temer uma avalanche de novos pedidos de que os arquivos devam ser abertos.
Mas a compensação é uma questão de segunda ordem diante da principal controvérsia em torno acesso aos seus arquivos. Este diz respeito ao acesso para historiadores. Como os historiadores já trabalham sob restrições incrivelmente duras acerca da privacidade em outros arquivos alemães, como o ex-centro Zentrale Stelle für Landesjustizverwaltung em Ludwigsburg, que abriga os registros de investigações de crimes de guerra da Alemanha Ocidental, já há precedentes de como preocupações com a privacidade pode ser gerenciada. Até agora, devido à oposição alemã, nenhum acordo foi alcançado entre o comitê de supervisão de 11 países encarregados de Arolsen sobre estabelecer até mesmo um grupo de trabalho de especialistas para avaliar o valor dos registros para os historiadores.
Among the research centres that have protested the lack of access to Arolsen include the University of Amsterdam and the US Holocaust Memorial Museum.
Entre os centros de pesquisa que protestaram contra a falta de acesso a Arolsen estão incluídos a Universidade de Amsterdã e o Museu Memorial do Holocausto dos EUA (USHMM).
A ironia de toda a controvérsia é que muitos arquivos de Arolsen foram copiados para outros arquivos, incluindo o Arquivo Nacional dos EUA, e através dele então, para o arquivo do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.
Então, o que essas coleções existentes contém? Os 189 rolos de microfilmes no NARA (Arquivo Nacional dos EUA) sozinhos contém os registros de alguns mas não todos os campos de concentração alemães, mas mais interessante também um conjunto incompleto de listas de deportação de Berlim e várias outras cidades alemãs. Eles, portanto, ajudam a documentar o número de judeus transportados para Auschwitz, incluindo milhares de berlinenses deportados durante o então chamado Fabrikaktion de início de 1943, sobre o qual Wolf Gruner escreveu recentemente de forma detalhada.
Além disso, outros arquivos de Arolsen foram copiados para arquivos do Yad Vashem. Foram estes arquivos, por exemplo, nos quais Christian Gerlach encontrou uma cópia de um relatório de 1945, indicando os números de chegadas em Auschwitz em 1944 daqueles que foram selecionados para o trabalho, clarificando o destino dos judeus deportados durante a Ação húngara.
Assim, os arquivos do ITS oferem um pequeno consolo aos negadores do Holocausto como Ernst Zundel, que afirma que os materiais Arolsen provam que houve um número de mortos muito inferior dentro dos campos de concentração alemães.
O valor do arquivo Arolsen para pesquisadores não reside na abertura dos arquivos relacionados com os principais campos de concentração, uma vez que a maioria destes já estão disponíveis para acesso público no NARA. Além disso, os registros detalhados de muitos campos como Majdanek e Neuengamme foram destruídos, e não podem ser mais recuperados. Nem Arolsen contém materiais relativos aos campos da Aktion Reinhard. Não se pode excluir que o arquivo Arolsen também pode conter mais documentos relacionados com o destino de judeus deportados como o relatório Glaser mencionado acima. Mas este não é o único material que Arolsen detém.
Em vez disso, os arquivos do ITS também poderiam ajudar a esclarecer o destino de literalmente milhões de outros deportados, especialmente os trabalhadores forçados não-judeus da Europa Ocidental e Oriental, como também das vítimas de expulsões étnicas na Europa Central e do Leste depois de 1945. Arolsen é, portanto, motivo de preocupação não só para os historiadores do Holocausto, mas, para os historiadores da Segunda Guerra Mundial e suas conseqüências como um todo. A investigação sobre a deportação de mais de 7 milhões de trabalhadores estrangeiros para a Alemanha, os movimentos pós-guerra das Pessoas Deslocadas, programas de repatriamento e as expulsões étnicas, todos serão enriquecidos pelo acesso aos arquivos do ITS.
Neste sentido, os negadores do Holocausto expõem sua falta de imaginação e falta de humanidade quando se concentram apenas sobre o destino dos judeus europeus, ignorando o destino de milhões de não-judeus que também sofreram por causa das políticas nazistas de deportação. Nem parecem tão preocupados com o destino dos alemães étnicos expulsos do leste da Cortina de Ferro. Talvez, neste último caso, porque é mais fácil palpitar superficialmente a fonte das estimativas do que fazer uma devida investigação.
Atualização: ver a resposta ao AAARGH aqui.
Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Nicholas Terry
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/05/arolsen-aaargh-all-those-names.html
Tradução: Roberto Lucena
O arquivo, administrado desde 1955 pela República Federal da Alemanha, contém registros criados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) depois de 1945 através de seus esforços para rastrear e localizar as inúmeras pessoas deslocadas, refugiados e campos de concentração. Cerca de mais de 17 milhões de nomes estão contidas nesses registos.
Então, por que os arquivos Arolsen são de interesse para ambos, historiadores do Holocausto bem como para os negadores do Holocausto? Para entender isso, veja abaixo da dobra.
O motivo, ao que parece, para a obstinação de ambos, da CICV e do governo alemão, reside nas leis de privacidade estritas que regem o acesso aos arquivos alemães. Se você já se perguntou porque Christopher Browning e outros historiadores de peso têm que escrever Hans K. ou inventar pseudônimos para testemunhas oculares, isto se deve à lei alemã de proteção de dados. Isso se aplica tanto às vítimas, bem como perpetradores, com o resultado de que os homens da SS condenados ou absolvidos de acusaçõesacusados de crimes de guerra nos tribunais alemães não podem ser citados pelo nome por historiadores, apesar de suas identidades poderem livremente ser estabelecidas com consulta aos arquivos pessoais da SS disponíveis no Arquivos Nacionais dos EUA.
Da história de hoje do Washington Post, arece que o ITS também está ficando para trás em sua função primária, a de catalogar centenas de milhares de casos que necessitam de identificação. Isto fere não só aqueles que procuram estabelecer o destino de seus parentes desaparecidos, mas também pode prejudicar os casos de compensação trazidas por sobreviventes sob os regimes existentes. Contudo, parece que o governo alemão pode temer uma avalanche de novos pedidos de que os arquivos devam ser abertos.
Mas a compensação é uma questão de segunda ordem diante da principal controvérsia em torno acesso aos seus arquivos. Este diz respeito ao acesso para historiadores. Como os historiadores já trabalham sob restrições incrivelmente duras acerca da privacidade em outros arquivos alemães, como o ex-centro Zentrale Stelle für Landesjustizverwaltung em Ludwigsburg, que abriga os registros de investigações de crimes de guerra da Alemanha Ocidental, já há precedentes de como preocupações com a privacidade pode ser gerenciada. Até agora, devido à oposição alemã, nenhum acordo foi alcançado entre o comitê de supervisão de 11 países encarregados de Arolsen sobre estabelecer até mesmo um grupo de trabalho de especialistas para avaliar o valor dos registros para os historiadores.
Among the research centres that have protested the lack of access to Arolsen include the University of Amsterdam and the US Holocaust Memorial Museum.
Entre os centros de pesquisa que protestaram contra a falta de acesso a Arolsen estão incluídos a Universidade de Amsterdã e o Museu Memorial do Holocausto dos EUA (USHMM).
A ironia de toda a controvérsia é que muitos arquivos de Arolsen foram copiados para outros arquivos, incluindo o Arquivo Nacional dos EUA, e através dele então, para o arquivo do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.
Então, o que essas coleções existentes contém? Os 189 rolos de microfilmes no NARA (Arquivo Nacional dos EUA) sozinhos contém os registros de alguns mas não todos os campos de concentração alemães, mas mais interessante também um conjunto incompleto de listas de deportação de Berlim e várias outras cidades alemãs. Eles, portanto, ajudam a documentar o número de judeus transportados para Auschwitz, incluindo milhares de berlinenses deportados durante o então chamado Fabrikaktion de início de 1943, sobre o qual Wolf Gruner escreveu recentemente de forma detalhada.
Além disso, outros arquivos de Arolsen foram copiados para arquivos do Yad Vashem. Foram estes arquivos, por exemplo, nos quais Christian Gerlach encontrou uma cópia de um relatório de 1945, indicando os números de chegadas em Auschwitz em 1944 daqueles que foram selecionados para o trabalho, clarificando o destino dos judeus deportados durante a Ação húngara.
Assim, os arquivos do ITS oferem um pequeno consolo aos negadores do Holocausto como Ernst Zundel, que afirma que os materiais Arolsen provam que houve um número de mortos muito inferior dentro dos campos de concentração alemães.
O valor do arquivo Arolsen para pesquisadores não reside na abertura dos arquivos relacionados com os principais campos de concentração, uma vez que a maioria destes já estão disponíveis para acesso público no NARA. Além disso, os registros detalhados de muitos campos como Majdanek e Neuengamme foram destruídos, e não podem ser mais recuperados. Nem Arolsen contém materiais relativos aos campos da Aktion Reinhard. Não se pode excluir que o arquivo Arolsen também pode conter mais documentos relacionados com o destino de judeus deportados como o relatório Glaser mencionado acima. Mas este não é o único material que Arolsen detém.
Em vez disso, os arquivos do ITS também poderiam ajudar a esclarecer o destino de literalmente milhões de outros deportados, especialmente os trabalhadores forçados não-judeus da Europa Ocidental e Oriental, como também das vítimas de expulsões étnicas na Europa Central e do Leste depois de 1945. Arolsen é, portanto, motivo de preocupação não só para os historiadores do Holocausto, mas, para os historiadores da Segunda Guerra Mundial e suas conseqüências como um todo. A investigação sobre a deportação de mais de 7 milhões de trabalhadores estrangeiros para a Alemanha, os movimentos pós-guerra das Pessoas Deslocadas, programas de repatriamento e as expulsões étnicas, todos serão enriquecidos pelo acesso aos arquivos do ITS.
Neste sentido, os negadores do Holocausto expõem sua falta de imaginação e falta de humanidade quando se concentram apenas sobre o destino dos judeus europeus, ignorando o destino de milhões de não-judeus que também sofreram por causa das políticas nazistas de deportação. Nem parecem tão preocupados com o destino dos alemães étnicos expulsos do leste da Cortina de Ferro. Talvez, neste último caso, porque é mais fácil palpitar superficialmente a fonte das estimativas do que fazer uma devida investigação.
Atualização: ver a resposta ao AAARGH aqui.
Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Nicholas Terry
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/05/arolsen-aaargh-all-those-names.html
Tradução: Roberto Lucena
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sábado, 8 de dezembro de 2012
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 04
6. Negro Contra Negro
Em 1921, o Estado do Mato Grosso ofereceu concessões de terras para empresários americanos. Quando souberam do recrutamento de trabalhadores afro-americanos para ocupar tais terras, imediatamente, o presidente do Estado, um bispo católico, cancelou as concessões. O Itamarati, em medida preventiva, deliberou negar vistos diplomáticos para esses potenciais imigrantes.30 Dada a preocupação da elite em evitar o "enegrecimento" do país, dois deputados federais Andrade Bezerra (PE) e Cincinato Braga (SP) apresentaram o Projeto de Lei nº 209 no Congresso, após o episódio, em 1921, propondo a proibição da entrada de imigrantes negros. Sem apoio político suficiente, o projeto foi arquivado; todavia, a idéia permaneceu viva. Dois anos depois, um outro deputado federal, Fidélis Reis (MG), apresentou uma nova versão do projeto cuja essência continuava sendo a barreira de cor.31 A repercussão na opinião pública teve desdobramentos na "imprensa negra", que mediante uma série de artigos não escamoteou sua posição sobre a matéria:
Assim, quando se cogitou a imigração de negros norte-americanos para o Brasil, a "imprensa negra" reagiu com repulsa. Os motivos eram diversos. Um dos argumentos era que tais negros transplantariam o ódio racial para nosso país, representando uma "ameaça à harmonia e à paz da nação". Como a fusão das raças implicaria, necessariamente, o desaparecimento do negro, a entrada de negros americanos iria retardar este processo:
Os autores destes artigos avaliavam o negro norte-americano como refratário à miscigenação; logo, sua presença no país colocaria em risco o projeto de branqueamento, embora cientes de que a imigração estava orientada politicamente por uma conotação racista: contra negros, índios e asiáticos, os articulistas defendiam a entrada de imigrantes como necessidade. Portanto, a questão devia ser colocada nos seguintes termos: qual era o imigrante mais conveniente para resolver o problema do negro?33
Apesar da dúvida quanto à qualidade étnica dos estrangeiros que entraram no estado de São Paulo, era praticamente consensual a rejeição da "immigração de pretos". Os vários grupos étnicos aceitos pela política imigratória do estado renovavam a esperança de branqueamento. Por isso, a seleção racial passava estritamente pelo critério: ser de "raça branca", independente da origem nacional do imigrante.
Considerações Finais
O fenômeno do branqueamento tinha a "proeza" de ocultar o racismo anti-negro que trazia na sua essência Este fenômeno foi levado a cabo de maneira acentuada pela elite paulista no início do século XX, sendo difundido intensamente pelo discurso científico e previsões estatísticas. Já sua dimensão ideológica, penetrou e foi compactuada ou absorvida por uma fração da comunidade negra, sob a forma de branqueamento: "estético", "biológico" e "social". O paradigma branco de beleza, comportamento, moral, mentalidade, etiqueta e cultura, foram assimilados e reassimilados, total ou parcialmente, por alguns membros daquela comunidade. O embuste racial chegou ao extremo de alguns negros repudiarem a hipótese do Brasil e, em particular, São Paulo, receber imigrantes do mesmo grupo racial, fossem estadunidenses ou africanos, pois temiam o "enegrecimento" do estado.
Como escreve Iray Carone, o branqueamento foi "uma pressão cultural exercida pela hegemonia branca, sobretudo após a Abolição da Escravatura, para que o negro negasse a si mesmo, no seu corpo e na sua mente, como uma espécie de condição para se integrar (ser aceito e ter mobilidade social) na nova ordem social" (Bento & Carone, 2002:14). Em linhas gerais, essa também é a explicação de Florestan Fernandes, para quem só é possível entrar no "mundo dos brancos" passando por um "processo de abrasileiramento que é, inapelavelmente, um processo sistemático de embranquecimento" (Fernandes, 1972:16).35 Contudo, é necessário repensar essa interpretação corrente de conceber branqueamento como sinônimo ou pré-requisito da integração do negro na sociedade de classes. Segundo Maria Aparecida Silva Bento, "isso decorre do fato de que essa sociedade de classes se considera, de fato, como um mundo dos brancos no qual o negro não deve penetrar" (Bento & Carone, 2002:52). Já Angela Figueiredo vai mais longe, postulando que "quase todos nós nascemos embranquecidos, visto que há uma predominância dos aspectos da cultura branca se é que assim podemos denominá-la em nossa sociedade, e só enegrecem ou se tornam negros ao longo dos anos os que optam por incluir em suas vidas os aspectos identificados com a cultura negra e se tornam curiosos em conhecer o seu passado" (Figueiredo, 2002:104).
De toda sorte, foi possível inferir que a ideologia do branqueamento no início do século XX em São Paulo deformou as relações raciais: contribuiu para desenvolver, no branco, um certo complexo de superioridade e, no negro, em contraposição, um complexo de inferioridade. Os brancos, independente da classe social, produziram uma auto-representação positiva e concebiam seus valores como naturalmente superior. Já alguns negros, construíram uma auto-imagem negativa e passaram a se avaliar como inferiores.36 Na verdade, estabeleceu-se um círculo vicioso: quanto mais profundos os traumas do racismo, mais o negro ajustava seu comportamento e atitudes de acordo com a ideologia do branqueamento; quanto maior os ataques racistas, mais profundos eram os traumas. Nesse sentido, a interiorização da ideologia do branqueamento pelo negro deve ser entendida como um mecanismo psicossocial, utilizado para evitar as agruras do racismo à paulista.
Referências Bibliográficas
Neste link do texto original no Scielo.
*Este texto é a versão parcial e reajustada de um dos capítulos da minha dissertação de mestrado, intitulada Uma História Não Contada. Negro, Racismo e Trabalho no Pós-Abolição em São Paulo (1889-1930), FFLCH/USP, 2001. Agradeço às valiosas sugestões dos(as) pareceristas da revista para a melhoria deste artigo.
NOTAS
30. Ao consultar o arquivo do Itamarati, Jeff Lesser constatou que, em 1921, "o ministro das Relações Exteriores, José Manoel de Azevedo Marques, temendo a entrada de afro-americanos no País, instruiu a Embaixada do Brasil em Washington e os consulados a recusar vistos para todos os imigrantes negros destinados ao Brasil" (Lesser, 1994:85).
31. Uma análise desses projetos encontra-se em Skidmore (1976:212-16) e em Souza Ramos (1996:65-8). Como afirma este autor, para a elite "o risco da imigração de negros norte-americanos, para além de sua suposta inferioridade racial, consistia na possibilidade de que não se fundissem, seja fisicamente ao trabalhador nacional, seja simbolicamente à cultura brasileira" (ibidem:79).
32. "Fomos sempre, intransigentemente, contrarios á entrada dos negros norte-americanos no Brasil, isso porque não era um individuo que buscava agasalho em nossa Patria, mas um bando de homens que prentendia invadir a nossa terra, trazendo além da differença de costumes, de habitos, de tradições e de lingua, o odio indomavel à raça branca existente nos negros yankees" (Getulino, Campinas, 24/2/1924:1). Ver, também, 30/9/1923.
33. Quando Ford resolveu montar uma unidade exploratória dos recursos minerais e reservas naturais no norte do país em 1929, voltou aos noticiários a polêmica da imigração de negros americanos. Os jornais eram radicalmente contra que se importasse trabalhadores negros. "Os comentários a respeito da propalada emigração de negros americanos para o Pará (concessões do Tapajos) promovida pela empresa Ford parece que foram precipitadas (Progresso, São Paulo, 28/7/1929).
34. "Colonias extrangeiras" (Progresso, São Paulo, 31/1/1930:1).
35. Tal assertiva, igualmente, encontra-se em Cardoso & Ianni (1960:224).
36. Roger Bastide destacou a ambigüidade da ideologia racial construída pelos negros: "há pois uma ambivalência nessas ideologias, um flutuação entre o racismo puro, o orgulho da cor, e um sentimento de inferioridade, que leva à imitação do branco, à adoção dos seus pontos de vista, e à tentativa de apresentar a imagem de um negro branco" (Bastide & Fernandes, 1959:167).
Fonte: Scielo (Estud. afro-asiát. vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2002)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-546X2002000300006&script=sci_arttext
Autor: Petrônio José Domingues
Ver também:
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 03
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 02
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 01
Em 1921, o Estado do Mato Grosso ofereceu concessões de terras para empresários americanos. Quando souberam do recrutamento de trabalhadores afro-americanos para ocupar tais terras, imediatamente, o presidente do Estado, um bispo católico, cancelou as concessões. O Itamarati, em medida preventiva, deliberou negar vistos diplomáticos para esses potenciais imigrantes.30 Dada a preocupação da elite em evitar o "enegrecimento" do país, dois deputados federais Andrade Bezerra (PE) e Cincinato Braga (SP) apresentaram o Projeto de Lei nº 209 no Congresso, após o episódio, em 1921, propondo a proibição da entrada de imigrantes negros. Sem apoio político suficiente, o projeto foi arquivado; todavia, a idéia permaneceu viva. Dois anos depois, um outro deputado federal, Fidélis Reis (MG), apresentou uma nova versão do projeto cuja essência continuava sendo a barreira de cor.31 A repercussão na opinião pública teve desdobramentos na "imprensa negra", que mediante uma série de artigos não escamoteou sua posição sobre a matéria:
A imigração negra norte-americana prejudica a solução do problema negro brasileiro e ameaça a harmonia da raça e a paz da nação.
Estamos alistados no exercito daquelles que combatem em todo e qualquer terreno, a invasão do negro norte-americano no nosso paiz.
Apoiamos francamente attitude patriotica assumida pelo governo ante a grave ameaça da immigração negra, e a combateremos pela pena e pela palavra porque ella representa, indiscutivelmente, o maior prejuiso para a solução do problema negro brasileiro. (Getulino, Campinas, 23/9/1923:1)32
Assim, quando se cogitou a imigração de negros norte-americanos para o Brasil, a "imprensa negra" reagiu com repulsa. Os motivos eram diversos. Um dos argumentos era que tais negros transplantariam o ódio racial para nosso país, representando uma "ameaça à harmonia e à paz da nação". Como a fusão das raças implicaria, necessariamente, o desaparecimento do negro, a entrada de negros americanos iria retardar este processo:
A vinda dos negros norte-americanos será o golpe de morte para aquela obra mathematica, do desapparecimento gradativo da raça negra no Brasil. (Getulino, Campinas, 23/9/1923:1)
Os autores destes artigos avaliavam o negro norte-americano como refratário à miscigenação; logo, sua presença no país colocaria em risco o projeto de branqueamento, embora cientes de que a imigração estava orientada politicamente por uma conotação racista: contra negros, índios e asiáticos, os articulistas defendiam a entrada de imigrantes como necessidade. Portanto, a questão devia ser colocada nos seguintes termos: qual era o imigrante mais conveniente para resolver o problema do negro?33
Não cuidamos de saber se, por exemplo, a imigração russa nos e prejudicial ou util. Ignoramos se nos convem ou não que para aqui afluam correntes de israelitas. Nesse ponto, podemos dizer que apenas somos unanimes quando se trata da immigração de pretos.34
Apesar da dúvida quanto à qualidade étnica dos estrangeiros que entraram no estado de São Paulo, era praticamente consensual a rejeição da "immigração de pretos". Os vários grupos étnicos aceitos pela política imigratória do estado renovavam a esperança de branqueamento. Por isso, a seleção racial passava estritamente pelo critério: ser de "raça branca", independente da origem nacional do imigrante.
Considerações Finais
O fenômeno do branqueamento tinha a "proeza" de ocultar o racismo anti-negro que trazia na sua essência Este fenômeno foi levado a cabo de maneira acentuada pela elite paulista no início do século XX, sendo difundido intensamente pelo discurso científico e previsões estatísticas. Já sua dimensão ideológica, penetrou e foi compactuada ou absorvida por uma fração da comunidade negra, sob a forma de branqueamento: "estético", "biológico" e "social". O paradigma branco de beleza, comportamento, moral, mentalidade, etiqueta e cultura, foram assimilados e reassimilados, total ou parcialmente, por alguns membros daquela comunidade. O embuste racial chegou ao extremo de alguns negros repudiarem a hipótese do Brasil e, em particular, São Paulo, receber imigrantes do mesmo grupo racial, fossem estadunidenses ou africanos, pois temiam o "enegrecimento" do estado.
Como escreve Iray Carone, o branqueamento foi "uma pressão cultural exercida pela hegemonia branca, sobretudo após a Abolição da Escravatura, para que o negro negasse a si mesmo, no seu corpo e na sua mente, como uma espécie de condição para se integrar (ser aceito e ter mobilidade social) na nova ordem social" (Bento & Carone, 2002:14). Em linhas gerais, essa também é a explicação de Florestan Fernandes, para quem só é possível entrar no "mundo dos brancos" passando por um "processo de abrasileiramento que é, inapelavelmente, um processo sistemático de embranquecimento" (Fernandes, 1972:16).35 Contudo, é necessário repensar essa interpretação corrente de conceber branqueamento como sinônimo ou pré-requisito da integração do negro na sociedade de classes. Segundo Maria Aparecida Silva Bento, "isso decorre do fato de que essa sociedade de classes se considera, de fato, como um mundo dos brancos no qual o negro não deve penetrar" (Bento & Carone, 2002:52). Já Angela Figueiredo vai mais longe, postulando que "quase todos nós nascemos embranquecidos, visto que há uma predominância dos aspectos da cultura branca se é que assim podemos denominá-la em nossa sociedade, e só enegrecem ou se tornam negros ao longo dos anos os que optam por incluir em suas vidas os aspectos identificados com a cultura negra e se tornam curiosos em conhecer o seu passado" (Figueiredo, 2002:104).
De toda sorte, foi possível inferir que a ideologia do branqueamento no início do século XX em São Paulo deformou as relações raciais: contribuiu para desenvolver, no branco, um certo complexo de superioridade e, no negro, em contraposição, um complexo de inferioridade. Os brancos, independente da classe social, produziram uma auto-representação positiva e concebiam seus valores como naturalmente superior. Já alguns negros, construíram uma auto-imagem negativa e passaram a se avaliar como inferiores.36 Na verdade, estabeleceu-se um círculo vicioso: quanto mais profundos os traumas do racismo, mais o negro ajustava seu comportamento e atitudes de acordo com a ideologia do branqueamento; quanto maior os ataques racistas, mais profundos eram os traumas. Nesse sentido, a interiorização da ideologia do branqueamento pelo negro deve ser entendida como um mecanismo psicossocial, utilizado para evitar as agruras do racismo à paulista.
Referências Bibliográficas
Neste link do texto original no Scielo.
*Este texto é a versão parcial e reajustada de um dos capítulos da minha dissertação de mestrado, intitulada Uma História Não Contada. Negro, Racismo e Trabalho no Pós-Abolição em São Paulo (1889-1930), FFLCH/USP, 2001. Agradeço às valiosas sugestões dos(as) pareceristas da revista para a melhoria deste artigo.
NOTAS
30. Ao consultar o arquivo do Itamarati, Jeff Lesser constatou que, em 1921, "o ministro das Relações Exteriores, José Manoel de Azevedo Marques, temendo a entrada de afro-americanos no País, instruiu a Embaixada do Brasil em Washington e os consulados a recusar vistos para todos os imigrantes negros destinados ao Brasil" (Lesser, 1994:85).
31. Uma análise desses projetos encontra-se em Skidmore (1976:212-16) e em Souza Ramos (1996:65-8). Como afirma este autor, para a elite "o risco da imigração de negros norte-americanos, para além de sua suposta inferioridade racial, consistia na possibilidade de que não se fundissem, seja fisicamente ao trabalhador nacional, seja simbolicamente à cultura brasileira" (ibidem:79).
32. "Fomos sempre, intransigentemente, contrarios á entrada dos negros norte-americanos no Brasil, isso porque não era um individuo que buscava agasalho em nossa Patria, mas um bando de homens que prentendia invadir a nossa terra, trazendo além da differença de costumes, de habitos, de tradições e de lingua, o odio indomavel à raça branca existente nos negros yankees" (Getulino, Campinas, 24/2/1924:1). Ver, também, 30/9/1923.
33. Quando Ford resolveu montar uma unidade exploratória dos recursos minerais e reservas naturais no norte do país em 1929, voltou aos noticiários a polêmica da imigração de negros americanos. Os jornais eram radicalmente contra que se importasse trabalhadores negros. "Os comentários a respeito da propalada emigração de negros americanos para o Pará (concessões do Tapajos) promovida pela empresa Ford parece que foram precipitadas (Progresso, São Paulo, 28/7/1929).
34. "Colonias extrangeiras" (Progresso, São Paulo, 31/1/1930:1).
35. Tal assertiva, igualmente, encontra-se em Cardoso & Ianni (1960:224).
36. Roger Bastide destacou a ambigüidade da ideologia racial construída pelos negros: "há pois uma ambivalência nessas ideologias, um flutuação entre o racismo puro, o orgulho da cor, e um sentimento de inferioridade, que leva à imitação do branco, à adoção dos seus pontos de vista, e à tentativa de apresentar a imagem de um negro branco" (Bastide & Fernandes, 1959:167).
Fonte: Scielo (Estud. afro-asiát. vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2002)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-546X2002000300006&script=sci_arttext
Autor: Petrônio José Domingues
Ver também:
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 03
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 02
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 01
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Um Shamir não muito esperto
Um notável moonbat judeu antissemita Israel Shamir recentemente escreveu:
Os fundamentos para bombardear Auschwitz já incluíam informações sobre os gaseamentos (baseado no relatório Vrba-Wetzler e outras fontes), que estava disponível muito antes da guerra acabar.
Shamir é claramente ignorante em história, mas pensa que ele pode discuti-la de qualquer forma. Além disso, ele vergonhosamente regurgita lixo negacionista.
Ele também elogia negacionistas:
Em outra parte, ele escreve:
E claro que neste artigo em seu site, está repleto de habituais banalidades "revisionistas".
Tirem suas próprias conclusões.
Atualização: ver também este artigo, basicamente, do mesmo negacionista idiota, e o comentário de Shamir, repleto do mesmo. Mas especialmente recheado com esta pequena dose de demagogia:
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/05/shamir-not-very-sharp.html
Tradução: Roberto Lucena
Gilad reiterou: foi a RAF que repetidamente rejeitou a necessidade de bombardeio de AuschwitzClaro, a Cruz Vermelha (CICV) foi deixada inspecionar apenas o principal campo de Auschwitz, não estamos falando de Birkenau
Outro movimento de propaganda sionista. O campo foi uma instalação de internamento, que contou com a Cruz Vermelha (ao contrário do centro de internamento dos EUA em Guantánamo). Se fosse bombardeado, os internos iriam morrer - ou como resultado do bombardeio, ou devido à fome porque os suprimentos não chegariam. Na verdade, Gilad aconselharia bombardear Guantánamo? Esta ideia de "bombardear Auschwitz" só faz sentido apenas se alguém aceita a visão de "complexo industrial de extermínio", a qual foi formada só bem depois da guerra.
Os fundamentos para bombardear Auschwitz já incluíam informações sobre os gaseamentos (baseado no relatório Vrba-Wetzler e outras fontes), que estava disponível muito antes da guerra acabar.
Shamir é claramente ignorante em história, mas pensa que ele pode discuti-la de qualquer forma. Além disso, ele vergonhosamente regurgita lixo negacionista.
Ele também elogia negacionistas:
Da mesma forma, os revisionistas têm tarefas religiosas e metafísicas, mesmo que usem algumas palavras e conceitos científicos. Jurgen Graf deixou isto claro em seu importante livro, mas o mesmo foi relatado por Mahler, Zundel e outros.Livro importante? Desculpe, qual livro importante foi escrito pelo moonbat negacionista Juergen Graf?
Em outra parte, ele escreve:
Os inocentes historiadores revisionistas ficaram tão animados quando se divertiram com a idéia de "finalmente descobrir a verdade". Eles prepararam os seu bem elaborados livros e diagramas de consumo de gás e de calor no corpo.Quais historiadores "revisionistas"?
E claro que neste artigo em seu site, está repleto de habituais banalidades "revisionistas".
Tirem suas próprias conclusões.
Atualização: ver também este artigo, basicamente, do mesmo negacionista idiota, e o comentário de Shamir, repleto do mesmo. Mas especialmente recheado com esta pequena dose de demagogia:
Você então afirma: "Zundel é um odiador de judeus". Ora, ninguém tem que amar os judeus.Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/05/shamir-not-very-sharp.html
Tradução: Roberto Lucena
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 03
4. A Ideologia do Branqueamento nos Contos da "Imprensa Negra"
Enquanto representação do real, a literatura tem a capacidade de captar os sentimentos e desejos mais ocultos da alma humana de uma época, que não são codificados racionalmente. Já como mecanismo ideológico, a literatura cumpre o papel de transmitir os valores ideológicos da dominação, seja de classe, de gênero ou de raça.
Tendo em vista um recorte racial, é possível sustentar que alguns escritores da "imprensa negra", no início do século XX, submetiam os textos ficcionais à orientação mais geral da ideologia do branqueamento. Na amostragem qualitativa coletada, explicaremos de que maneira este fenômeno perpassava todo o universo mágico dos contos destes autores.
Em um conto intitulado Episódio da Revolta da Ilha de São Domingos o autor descreve como os negros se insurgem contra a opressão escravista, conquistam a liberdade e resolvem vingar-se de todas as atrocidades cometidas pelos brancos. "Então matam, incendeiam, arrazam (sic) tudo que no seu caminho encontram". Todavia, é na parte central, quando é iminente a morte de uma camponesa "linda, loura, mais loura que uma filha de Albion", que podemos desvelar o imaginário branqueador do texto.
A multidão de negros revoltosos prende a família de camponeses brancos. O líder dos revoltosos lança-se com um punhal sobre a cabeça da camponesa, mas, subitamente, um outro negro intervém:
Surpreendido com a atitude do companheiro de luta, o líder dos revoltosos lembrou ao destemido apaixonado da lei de justiçamento para todo aquele que desrespeita sua autoridade. Então, este negro, em um ato de coragem, entrega-se no lugar de sua "loura" e, imediatamente, é aprisionado ao pé de uma árvore. Sem cerimônias, o infeliz foi executado, cumprindo:
Do ponto de vista do imaginário, o personagem negro é inferiorizado em relação ao branco. Quando discriminado, aquele promete vingar-se, na primeira oportunidade, das ofensas da "loura". Ao libertar-se dos grilhões, entretanto, o negro releva todas as humilhações que sofreu da musa de seus sonhos. Mais: expressa sua paixão avassaladora por ela. Em um gesto de amor, renuncia à sua própria vida para salvá-la.
A estrutura do conto é idílica. Estamos diante do que podemos denominar do amor impossível: um homem negro jamais seria correspondido afetivamente por uma mulher branca. O personagem negro representa a figura do anti-herói. Seu final é infeliz e trágico. Em um sentido amplo, a morte do rejeitado simboliza a extinção da raça negra, ao passo que a preservação da vida da mulher celebra o triunfo da "raça branca". Em outra perspectiva, podemos aventar que apenas na morte o negro se iguala ao branco, ou seja, quando ele deixa de existir, não significando mais nenhum tipo de ameaça no mundo real. Somente assim haveria o reconhecimento de sua humanidade. No final, cumpria-se a profecia do branqueamento.
O conto "Quando o Coração Falla" narra a história de um negro, mais uma vez sem nome, que na adolescência, em 1899, foi convidado por alguns amigos para assistir a uma opereta na casa de espetáculo da comunidade italiana e se apaixona pela atriz principal da companhia, "a bela, garbosa e minuscula Cesira".
Em uma das apresentações, o negro foi convidado para procurá-la no camarim do teatro. Sem delongas, assim o fez:
Ao terminar o espetáculo, o negro acompanhou-a até o hotel, causando admiração entre seus amigos:
A estrutura do conto é semelhante à receita do anterior. Um homem negro se apaixona por uma mulher branca e insanamente alimenta o sonho de conquistá-la. Porém, devido a uma fatalidade não descrita ele tem que se afastar dela, mas jamais consegue esquecê-la, ou seja, a musa encantadora, de "pescoço torneado e branco", continua a hipnotizá-lo, sobretudo pelo seu padrão de beleza, que, daquele dia em diante, nortearia sua preferência na escolha de novos relacionamentos. Cesira passou a ser o seu ideal de mulher. Estamos diante de um caso de amor inter-racial impossível. Um dos aspectos mais importantes da "ideologia da brancura", detectado implicitamente, consiste no fato de o negro apenas sentir-se plenamente realizado com uma branca. Impossibilitado de realizar seus planos, ele amargura na dor da saudade.
Em outro conto, batizado de "A Quem me Entender", um negro, convidado pelos amigos, vai a uma "simples, mas encantadora reunião familiar". No local da tertúlia, estava conversando despretensiosamente com os convidados, mas, de repente, olhou para uma mulher (branca, provavelmente loira) que, inexplicavelmente, o fascinou. Foi amor à primeira vista. Ascendeu no seu coração um sentimento platônico.
No entanto,
Verifica-se que, novamente, o personagem negro é um sujeito sem nome; desprovido de identidade. A ausência de identidade, transportada para toda a coletividade, é o requisito básico da invisibilidade do negro. Essas características demonstram de forma cabal o ideal de branqueamento dos autores dos contos escritos para os jornais da "imprensa negra".
O último conto analisado dessa breve seleção é "O Lenço de Maria". Ambientado na época da escravidão, narra a história de um escravo que ama sua sinhá. Depois de sofrer algum tempo em função da paixão reprimida, Halibrach resolve abrir o seu coração, em um passeio pela fazenda, e declara-se para Maria:
Embora sensibilizada com seu escravo, a Sinhá não oculta o caráter utópico daquele voluntarioso caso de amor. O sentimento que aflora é de piedade pela humilhante atitude daquela infeliz criatura. Frustrado com a reação de seu amor, Halibrach resolve atentar contra sua própria vida.
Reproduz ficticiamente a fórmula consagrada do amor inter-racial impossível. Para Halibrach, um negro com nome de branco, sem Maria nada mais faz sentido. A "linha de cor" a separá-los é indelével. O seu fim é trágico: morre em prol de sua branca. É curioso observar que o personagem negro recebe um nome justamente no episódio em que seu papel social de sujeição ao branco é nitidamente identificado (ibidem).26
Constatamos que a versão idílica do amor impossível do homem negro pela mulher branca pauta a mensagem simbólica dos textos. Isso revela que os contos eram um artifício de projeção do imaginário do negro no início do século XX, ou seja, o "inconsciente coletivo" negro transferia no outro mulher branca desejos, qualidades, virtudes, enfim, valores positivos desprezados ou recusados para si.
5. O Desaparecimento do Negro
Alguns artigos da "imprensa negra" eram explicitamente favoráveis ao desaparecimento do negro. Apesar de reconhecerem a contribuição indígena e africana na formação da nacionalidade, o multirracialismo era concebido como obra do passado. No Brasil, em geral, e em São Paulo, especialmente, estaria forjando-se um sistema unirracial. A construção da unidade racial, sob o eufemismo de "fusão das raças", passaria pela diluição do sangue negro, ou seja, pela sua extinção.27 A vontade destes negros era expressa da seguinte maneira:
A nacionalidade nesse novo sistema racial não seria incolor, mas branca. A campanha ideológica da elite negra em prol do branqueamento era requisito necessário para solucionar "A Questão da Raça". Este foi o título de um artigo do jornal Auriverde:
O sistema racial estadunidense era evocado incessantemente para realçar as vantagens do modelo racial brasileiro, supostamente democrático. Lá, o negro enclausurou-se em guetos, tornando-se impermeável e conflituoso o contato com o branco; aqui, o negro foi aceito de braços abertos, fundindo-se no branco. A eventual "pieguice" do brasileiro facilitava o processo de branqueamento em curso, como assinala o artigo "O Sentimentalismo Brasileiro":
Desta vez, o sistema racial brasileiro era colocado face ao estadunidense para sinalizar qual seria o destino do negro. Embora fosse sentimentalista, o brasileiro era insensível à morte do povo negro. Mais: ele compartilhava do projeto de extermínio não declarado daquele segmento da população. Daí a pergunta: "o nosso sentimentalismo não é homicida?". Segundo o articulista, a execução do negro brasileiro, cuja extinção estava prevista para trinta ou cinqüenta anos, operaria "por atacado" enquanto a do negro americano aconteceria "a varejo".
A absorção biológica do negro pelo branco, gerada pela mestiçagem, seria acelerada pela imigração branca. Esta é a tônica do artigo "Desaparecerão os Pretos do Brasil?":
Para o articulista, o branqueamento era causado, também, pela atitude do negro brasileiro que, ao contrário de seus "irmãos" americanos, fazia questão de casar com mulher branca. A estimativa de tempo para extinção do negro, novamente, era apresentada: setenta e cinco anos. A imigração européia era avaliada como fonte de higienização racial do negro. Este fenômeno adquiria maior velocidade em São Paulo, conforme apuramos em "Saneamento Étnico da População Paulista":
O artigo assegura que o projeto racial da elite paulista não foi obra do acaso. Com a entrada de milhares de imigrantes europeus, implementou-se em São Paulo a operação "saneamento étnico", baseada na eliminação de raças diversas, inclusive a negra, pela infusão do sangue ariano.
NOTAS
26. O curioso é que não se observavam enredos centrados em relacionamentos amorosos envolvendo homem brancos e mulheres negras.
27. Sobre essa questão, consultar Seyferth (1996).
28. O artigo "Fusão das Raças" era emblemático: "Como apressar a fusão das raças no nosso país? Sera these utópica e idealista, ou corresponde realmente esse anseio a uma necessidade nacional?! Não há tergiversar que salta a vista, ser problema nacional a fusão das raças, no Brasil. Um povo só se faz nação unida quando dispõe de principios homogeneos civis, políticos ou religiosos, mas a nação só se faz forte só se funde em irmandade de sangue, sentido-se uma em todo e em cada indivíduo. [...] com a diversidade das raças que para elle [Brasil] emigram, um dique e um limite, tendem a accentuar diversamente, os habitos e o futuro dos varios elementos da federação. E a crescer essa diversidade, na razão directa della, virá o enfraquecimento nacional" (Getulino, Campinas, 7/10/1923:1).
29. A denúncia do ideal de branqueamento impetrada pela elite política ou intelectual continuava: "Miguel Pereira e Belisario Penna affirmaram que e o Brasil um vasto hospital. E nos tememos affirmar que esse vasto hospital deriva da doença mais grave, que é o preconceito de raça e de côr, enfim a dor da mentalidade dos nossos dirigentes, deixando que pereça toda uma gente que e precisa ser substituída, porque é mestiça, porque é negra e devera ser branca, custe o que custar, mesmo a custa do esfacelamento do Brasil, pela vasa do aryanismo internacional immigrado" (O Clarim da Alvorada, São Paulo, 9/6/1929:1).
Fonte: Scielo (Estud. afro-asiát. vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2002)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-546X2002000300006&script=sci_arttext
Autor: Petrônio José Domingues
Ver também:
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 04
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 02
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 01
Enquanto representação do real, a literatura tem a capacidade de captar os sentimentos e desejos mais ocultos da alma humana de uma época, que não são codificados racionalmente. Já como mecanismo ideológico, a literatura cumpre o papel de transmitir os valores ideológicos da dominação, seja de classe, de gênero ou de raça.
Tendo em vista um recorte racial, é possível sustentar que alguns escritores da "imprensa negra", no início do século XX, submetiam os textos ficcionais à orientação mais geral da ideologia do branqueamento. Na amostragem qualitativa coletada, explicaremos de que maneira este fenômeno perpassava todo o universo mágico dos contos destes autores.
Em um conto intitulado Episódio da Revolta da Ilha de São Domingos o autor descreve como os negros se insurgem contra a opressão escravista, conquistam a liberdade e resolvem vingar-se de todas as atrocidades cometidas pelos brancos. "Então matam, incendeiam, arrazam (sic) tudo que no seu caminho encontram". Todavia, é na parte central, quando é iminente a morte de uma camponesa "linda, loura, mais loura que uma filha de Albion", que podemos desvelar o imaginário branqueador do texto.
A multidão de negros revoltosos prende a família de camponeses brancos. O líder dos revoltosos lança-se com um punhal sobre a cabeça da camponesa, mas, subitamente, um outro negro intervém:
Mas, oh milagre! Outro preto obsta que seu chefe consumma aquelle acto! Porque! Porque elle ama. Ama com toda a sua alma aquela moça.
Então ella o reconheceu e suas faces que estavam lividas tornaram-se vermelhas como o carmin, teve vergonha, tinha-o insultado e agora ella via claramente aquella scena em que ella lhe dissera, no auge da raiva, que negro não era gente, elle jurou vingar-se.
Ela agora estava arrependida de o ter dito. Então negro não era gente? Por que? Seriam talvez os brancos melhores que os pretos? E ella, que sem dizer palavra, soffreu naquelle momento como soffreram os virtuosos apostolos de Christo. (O Menelick, São Paulo, 1/1/1916)
Surpreendido com a atitude do companheiro de luta, o líder dos revoltosos lembrou ao destemido apaixonado da lei de justiçamento para todo aquele que desrespeita sua autoridade. Então, este negro, em um ato de coragem, entrega-se no lugar de sua "loura" e, imediatamente, é aprisionado ao pé de uma árvore. Sem cerimônias, o infeliz foi executado, cumprindo:
[...] a terrível lei que era imposta a todos que desejavam a vida de quem quer que fosse a morte e elle docemente morreu, morreu como um bravo, morreu por amor de uma branca, cumprindo assim dum modo sublime o seu juramento.
E agora junto ao cadaver puderam dizer: que os negros são tão gente como os brancos. (idem)
Do ponto de vista do imaginário, o personagem negro é inferiorizado em relação ao branco. Quando discriminado, aquele promete vingar-se, na primeira oportunidade, das ofensas da "loura". Ao libertar-se dos grilhões, entretanto, o negro releva todas as humilhações que sofreu da musa de seus sonhos. Mais: expressa sua paixão avassaladora por ela. Em um gesto de amor, renuncia à sua própria vida para salvá-la.
A estrutura do conto é idílica. Estamos diante do que podemos denominar do amor impossível: um homem negro jamais seria correspondido afetivamente por uma mulher branca. O personagem negro representa a figura do anti-herói. Seu final é infeliz e trágico. Em um sentido amplo, a morte do rejeitado simboliza a extinção da raça negra, ao passo que a preservação da vida da mulher celebra o triunfo da "raça branca". Em outra perspectiva, podemos aventar que apenas na morte o negro se iguala ao branco, ou seja, quando ele deixa de existir, não significando mais nenhum tipo de ameaça no mundo real. Somente assim haveria o reconhecimento de sua humanidade. No final, cumpria-se a profecia do branqueamento.
O conto "Quando o Coração Falla" narra a história de um negro, mais uma vez sem nome, que na adolescência, em 1899, foi convidado por alguns amigos para assistir a uma opereta na casa de espetáculo da comunidade italiana e se apaixona pela atriz principal da companhia, "a bela, garbosa e minuscula Cesira".
Em uma das apresentações, o negro foi convidado para procurá-la no camarim do teatro. Sem delongas, assim o fez:
Não, Cesira, não creio! Vejo que tudo isto é um sonho. É demasiada felicidade para mim!... Faça-me ouvir com tua voz maviosa, o que há pouco me dissestes... Não creio que tambem tu esperavas por este instante supremo. Repita-me que muito me queres... E frenetico, acariciava seus perfumados cabellos fios de ouro, beijava-lhe a face encantadora, os olhos negros, o pescoço torneado e branco, e... tornava a extasiar-me fitando-a demoradamente (O Clarim da Alvorada, São Paulo, 3/2/1924:1)
Ao terminar o espetáculo, o negro acompanhou-a até o hotel, causando admiração entre seus amigos:
Assim, por muitos e interminaveis dias, durou o nosso hydillio, até que por uma fatalidade fomos obrigados a nos separar.
Dessa data são decorridos 24 annos e, guardo ainda indelevel, na memoria e no coração, a lembrança desses dias. (idem)
A estrutura do conto é semelhante à receita do anterior. Um homem negro se apaixona por uma mulher branca e insanamente alimenta o sonho de conquistá-la. Porém, devido a uma fatalidade não descrita ele tem que se afastar dela, mas jamais consegue esquecê-la, ou seja, a musa encantadora, de "pescoço torneado e branco", continua a hipnotizá-lo, sobretudo pelo seu padrão de beleza, que, daquele dia em diante, nortearia sua preferência na escolha de novos relacionamentos. Cesira passou a ser o seu ideal de mulher. Estamos diante de um caso de amor inter-racial impossível. Um dos aspectos mais importantes da "ideologia da brancura", detectado implicitamente, consiste no fato de o negro apenas sentir-se plenamente realizado com uma branca. Impossibilitado de realizar seus planos, ele amargura na dor da saudade.
Em outro conto, batizado de "A Quem me Entender", um negro, convidado pelos amigos, vai a uma "simples, mas encantadora reunião familiar". No local da tertúlia, estava conversando despretensiosamente com os convidados, mas, de repente, olhou para uma mulher (branca, provavelmente loira) que, inexplicavelmente, o fascinou. Foi amor à primeira vista. Ascendeu no seu coração um sentimento platônico.
No entanto,
"[...] passada aquella ephemera chimera, em que fiquei totalmente subjugado por seus attrahentes olhos azues, bem poucas vezes a tenho visto. Em compensação, noticias suas jamais deixei de tel-as, portanto quanto mais tempo não a vejo mais impaciente e com saudades permaneço". (O Clarim da Alvorada, São Paulo, 3/3/1924:1)
Verifica-se que, novamente, o personagem negro é um sujeito sem nome; desprovido de identidade. A ausência de identidade, transportada para toda a coletividade, é o requisito básico da invisibilidade do negro. Essas características demonstram de forma cabal o ideal de branqueamento dos autores dos contos escritos para os jornais da "imprensa negra".
O último conto analisado dessa breve seleção é "O Lenço de Maria". Ambientado na época da escravidão, narra a história de um escravo que ama sua sinhá. Depois de sofrer algum tempo em função da paixão reprimida, Halibrach resolve abrir o seu coração, em um passeio pela fazenda, e declara-se para Maria:
[...] atirando-se de joelhos aos seus pés implorou a felicidade que tanto almejava.
A moça commovida pelas apaixonadas phrases que se escapavam dos labios de seu escravo, levou o lenço aos olhos para enxugar duas lágrimas! (Getulino, Campinas, 30/9/1923)
Embora sensibilizada com seu escravo, a Sinhá não oculta o caráter utópico daquele voluntarioso caso de amor. O sentimento que aflora é de piedade pela humilhante atitude daquela infeliz criatura. Frustrado com a reação de seu amor, Halibrach resolve atentar contra sua própria vida.
Maria, exclamou Halibrach louco, minha não serás nunca, porém, eu tambem não mais serei do mundo!
Halibrach que vaes fazer?
Senhora, vou matar-me...
Oh! não, não!
Sim Maria adeus! E que esse lenço humedecido com tuas lagrimas me acompanhe ao silencio da tumba!
E, arrebatando das mãos da moça o perfumoso lenço que ella trazia desapareceu por entre os arvoredos do jardim!
Pela manhã, quando o sol brilhante repraiava os seus raios, doirando a selva das campinas, um corpo gelido repousava sobre um canteiro de saudades! Era Halibrach morto!Porem, elle não foi assim tão infeliz nos seus amores, porque levou para a gelidez do tumulo o lenço ainda humido das lagrimas de Maria! (idem)
Reproduz ficticiamente a fórmula consagrada do amor inter-racial impossível. Para Halibrach, um negro com nome de branco, sem Maria nada mais faz sentido. A "linha de cor" a separá-los é indelével. O seu fim é trágico: morre em prol de sua branca. É curioso observar que o personagem negro recebe um nome justamente no episódio em que seu papel social de sujeição ao branco é nitidamente identificado (ibidem).26
Constatamos que a versão idílica do amor impossível do homem negro pela mulher branca pauta a mensagem simbólica dos textos. Isso revela que os contos eram um artifício de projeção do imaginário do negro no início do século XX, ou seja, o "inconsciente coletivo" negro transferia no outro mulher branca desejos, qualidades, virtudes, enfim, valores positivos desprezados ou recusados para si.
5. O Desaparecimento do Negro
Alguns artigos da "imprensa negra" eram explicitamente favoráveis ao desaparecimento do negro. Apesar de reconhecerem a contribuição indígena e africana na formação da nacionalidade, o multirracialismo era concebido como obra do passado. No Brasil, em geral, e em São Paulo, especialmente, estaria forjando-se um sistema unirracial. A construção da unidade racial, sob o eufemismo de "fusão das raças", passaria pela diluição do sangue negro, ou seja, pela sua extinção.27 A vontade destes negros era expressa da seguinte maneira:
O que devemos fazer é [...] o seguinte:
Não pretendemos perpetuar a nossa raça, mas, sim, infiltramo-nos no seio da raça privilegiada a branca, pois, repetimos, não somos africanos, mas puramente brasileiros. (O Bandeirante, São Paulo, 9/1918:3)28
A nacionalidade nesse novo sistema racial não seria incolor, mas branca. A campanha ideológica da elite negra em prol do branqueamento era requisito necessário para solucionar "A Questão da Raça". Este foi o título de um artigo do jornal Auriverde:
Como esta surge como força negativa e anarchica, como a collaboração negra é considerada deprimente, o negro se isola, se individualiza e cria uma civilização sua, dentro da civilização alheia.
E por isso, o problema negro é considerado o problema mais serio da América do Norte.
O Brasil, abrindo-se para todas as raças e acceitando o negro como acceitou resolveu com muito mais simplicidade o problema racial.
O negro está desaparecendo, está fundido no caminho dessa fusão, tem elle intensamente collaborado para a grandeza material e moral do Brasil.
Portanto, neste ponto, não invejamos a civilização yankee, por que, nesse ponto, obtivemos vantagens... (Auriverde, São Paulo, 29/4/1928:3)
O sistema racial estadunidense era evocado incessantemente para realçar as vantagens do modelo racial brasileiro, supostamente democrático. Lá, o negro enclausurou-se em guetos, tornando-se impermeável e conflituoso o contato com o branco; aqui, o negro foi aceito de braços abertos, fundindo-se no branco. A eventual "pieguice" do brasileiro facilitava o processo de branqueamento em curso, como assinala o artigo "O Sentimentalismo Brasileiro":
Nós brasileiros costumamos orgulhar-nos da nossa bondade de coração, da nossa piedade e sentimentalismo generosos. Convictamente affirmamos em dose mais elevada que os outros povos.
Pretendendo ser mais humanos que os americanos, nós não lynchamos os negros, mas fizemos a extinguirmos completamente a raça negra, abandonando-a á ignorância, á degradação ao analphabetismo, á promiscuidade, á cachaça, á syphillis, a ociosidade.
Qual é o preferível é sentimentalismo brasileiro ou a brutalidade americana?
O nosso sentimentalismo não é homicida?
Daqui a trinta ou cincoenta annos a raça negra está extinta no Brasil graças ao nosso sentimentalismo.
Os americanos lyncham cincoenta negros por anno. Nós matamos a raça negra inteira no Brasil. (O Clarim D'Alvorada, São Paulo, 28/9/1929:4)
Desta vez, o sistema racial brasileiro era colocado face ao estadunidense para sinalizar qual seria o destino do negro. Embora fosse sentimentalista, o brasileiro era insensível à morte do povo negro. Mais: ele compartilhava do projeto de extermínio não declarado daquele segmento da população. Daí a pergunta: "o nosso sentimentalismo não é homicida?". Segundo o articulista, a execução do negro brasileiro, cuja extinção estava prevista para trinta ou cinqüenta anos, operaria "por atacado" enquanto a do negro americano aconteceria "a varejo".
A absorção biológica do negro pelo branco, gerada pela mestiçagem, seria acelerada pela imigração branca. Esta é a tônica do artigo "Desaparecerão os Pretos do Brasil?":
Muitos carecemos de renovar o nosso sangue por meio de correntes immigratorias européias. Porque o preto brasileiro, que do contrario de seu collegas norte-americanos, faz questão em se casar com mulher branca. Daqui a três quartos de seculo pertencera ao passado. (Progresso, São Paulo, 13/2.29)
Para o articulista, o branqueamento era causado, também, pela atitude do negro brasileiro que, ao contrário de seus "irmãos" americanos, fazia questão de casar com mulher branca. A estimativa de tempo para extinção do negro, novamente, era apresentada: setenta e cinco anos. A imigração européia era avaliada como fonte de higienização racial do negro. Este fenômeno adquiria maior velocidade em São Paulo, conforme apuramos em "Saneamento Étnico da População Paulista":
Não passaram despercebidos aos paulistas de quarenta anos atrás que, em vez de tentar agravar com o adicionamento de elementos de raças diversas, julgaram ser seu dever sanear e melhorar eugenicamente sua população pela introdução de grandes contigentes de sangue ariano. (Progresso, São Paulo, 24/11/1929)29
O artigo assegura que o projeto racial da elite paulista não foi obra do acaso. Com a entrada de milhares de imigrantes europeus, implementou-se em São Paulo a operação "saneamento étnico", baseada na eliminação de raças diversas, inclusive a negra, pela infusão do sangue ariano.
NOTAS
26. O curioso é que não se observavam enredos centrados em relacionamentos amorosos envolvendo homem brancos e mulheres negras.
27. Sobre essa questão, consultar Seyferth (1996).
28. O artigo "Fusão das Raças" era emblemático: "Como apressar a fusão das raças no nosso país? Sera these utópica e idealista, ou corresponde realmente esse anseio a uma necessidade nacional?! Não há tergiversar que salta a vista, ser problema nacional a fusão das raças, no Brasil. Um povo só se faz nação unida quando dispõe de principios homogeneos civis, políticos ou religiosos, mas a nação só se faz forte só se funde em irmandade de sangue, sentido-se uma em todo e em cada indivíduo. [...] com a diversidade das raças que para elle [Brasil] emigram, um dique e um limite, tendem a accentuar diversamente, os habitos e o futuro dos varios elementos da federação. E a crescer essa diversidade, na razão directa della, virá o enfraquecimento nacional" (Getulino, Campinas, 7/10/1923:1).
29. A denúncia do ideal de branqueamento impetrada pela elite política ou intelectual continuava: "Miguel Pereira e Belisario Penna affirmaram que e o Brasil um vasto hospital. E nos tememos affirmar que esse vasto hospital deriva da doença mais grave, que é o preconceito de raça e de côr, enfim a dor da mentalidade dos nossos dirigentes, deixando que pereça toda uma gente que e precisa ser substituída, porque é mestiça, porque é negra e devera ser branca, custe o que custar, mesmo a custa do esfacelamento do Brasil, pela vasa do aryanismo internacional immigrado" (O Clarim da Alvorada, São Paulo, 9/6/1929:1).
Fonte: Scielo (Estud. afro-asiát. vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2002)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-546X2002000300006&script=sci_arttext
Autor: Petrônio José Domingues
Ver também:
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 04
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 02
A ideologia do branqueamento no Brasil, o racismo brasileiro - parte 01
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