quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Os campos de internação do sul da França (Holocausto)

Os campos de internação do sul da França
Da exclusão ao extermínio


Na foto: Os campos de internação do sul da França
Löw e Bodek “Toujours la même chose”. Lavis. Camp de Gurs, 1940

Que a prática da xenofobia, da discriminação e da exclusão podem, sob certas condições, conduzir ao extermínio do outro é uma afirmação não só de ordem especulativa senão uma das mais duras lições do século XX. Um índice revelador de tal escalada que foi da “exclusão” até a “eliminação” massiva da população considerada indesejável é provido pelas transformações sofridas pelos campos de reclusão do sul da França. Efetivamente, estes locais destinados em princípio a serem centros de refugiados, especialmente de espanhóis republicanos e alemães social-democratas e comunistas, transformariam-se, no curso da guerra, de campos de deportação, à antessala dos centros de extermínio no centro da Europa.

A questão assume um viés particularmente espinhoso: aqueles centros de detenção foram localizados antes da chegada do governo pró-alemão de Vichy, precisamente foram construídas durante o período da República, sob o governo de Daladier em 1938. Esta nota singular dos campos do sul da França, o fato que remontam suas origens ao período republicano, os tem investido de caráter problemático que alcançam o coração da mesma memória histórica francesa. Contudo, nas últimas décadas, tem-se podido assistir a relevantes expressões por voltar-se sobre os passos daquele ignominioso lastro que nasceu durante a República. Uma das maiores expressões de retorno sobre o cenário dos campos do sul da França, anos depois do massacre, foi empreendida pela Biblioteca Municipal de Toulouse - fisicamente próxima a área onde se localizavam aqueles campos - sob a iniciativa e direção de Monique-Lise Cohen. De fato, a Biblioteca Municipal de Toulouse organizou diversas amostras sobre o antissemitismo no sul da França.

A abjeta lógica - a que vai da segregação ao extermínio - que testemunham estes campos, aquela que os levou a operar como centros de internação para estrangeiros e a chegar a serem campos de morte, é digno de uma revisão sobre sua existência.

Um traço singular no processo de deportação no sul da França concerne a anterioridade dos campos de internação referente ao governo de Vichy e a ocupação alemã. Mais precisamente, a origem destes campos remonta ao período da República, sob o governo de Daladier, em 1938. Esta “iniciativa” será herdada pelo governo pró-alemão de Vichy transformando o caráter e fim dos campos. Revela-se assim uma certa continuidade entra a obra do governo Republicano e o governo de Vichy sustentada, apesar de seus contrastes, no fino fio da xenofobia e da discriminação. Aqueles campos de refugiados destinados a comunistas, republicanos espanhóis e social-democratas alemães, converteram-se a partir de novembro-dezembro de 1940 em campos de judeus.

Na foto: Chegada dos refugiados espanhóis a França.
L’Illustration, 11 de fevereiro de 1939.

Com exatidão, os campos do sul da França nascem com o decreto-lei de 12 de novembro de 1938 do governo de Daladier. Aquele decreto já fazia referência aos “estrangeiros indesejáveis” um termo que evocava uma lei de 1849 que previa a expulsão de todos os estrangeiros julgados perigosos. O contexto destas medidas remetiam diretamente, durante este período, aos acontecimentos que por aqueles anos eram vividos no território espanhol, em especial Barcelona e outras zonas da Espanha próximas a França. Durante o mês de janeiro de 1939 um contingente numeroso de republicanos espanhóis, intimidados ante o avanço franquista, se dirigiam até a fronteira francesa.

Entre o 26 de janeiro - a um dia da queda de Barcelona - e o 9 de fevereiro - quando os nacionalistas fecharam definitivamente a fronteira catalã -, mais de 500.000 espanhóis, primeiro civis e militares feridos e depois os soldados republicanos, passaram pela aduana de Perthus. O primeiro “centro especial” destinado a internação de refugiados foi instalado por decreto em 21 de janeiro de 1939 em Rieucros perto de Mende(Lozère). Em pouco tempo esta “designação de residência” se tornaria em “internação administrativa”. Pouco depois, entre março e abril de 1939 se situam seis centros nas periferias dos Pirineus Orientais para o internamento de milicianos: em Bram(Aude) reservado aos anciãos; Agde (Hérault) e Riversaltes (Pirineus-Orientais)destinado aos catalães; Sepfonds (Tarn-et-Garonne) e Le Vernet (Ariège)para os trabalhadores e Gurs (Basses Pyrénées)onde esteve internada Hannah Arendt. Estes dois últimos centros foram os campos franceses mais importantes e funcionaram até 1944. Particularmente o campo de Le Vernet - onde permaneceu o escritor e ensaísta Arthur Koestler - teria como nota própria a ser “campo repressivo” onde deveriam ficar presos os “indivíduos perigosos para a ordem pública e a segurança nacional”, em geral comunistas e dirigentes das Brigadas Internacionais.

O destino dos internados nos campos do sul da França sofreria rapidamente as consequências das cada vez mais estreitas relações do governo de Vichy com o regime nazi. Seguindo os termos do tratado concluído em 22 de junho, o regime de Vichy entregou, na noite de 8 de fevereiro de 1941, algo em torno de vinte alemães antinazis reclusos nos campos para as autoridades do Reich. Entre estes alemães estavam os prestigiados Herschel Grynspan, Rudolf Hilferding e Rudolf Breitscheid, morto num campo nazi em 1944.

Pouco a pouco, os campos foram afetados pela coloratura particular das políticas antissemitas que impunham a aproximação do governo de Vichy ao regime nazi. Em 2 de outubro de 1940 o prefeito de Haute Garonne ordena que os ‘israelitas franceses sem recursos’ se dirijam ao campo de Clairfont. Sem nenhuma pressão alemã, Vichy estabeleceu uma discriminação jurídica que repousava sobre o postulado racial. O propósito do governo de Vichy era “limitar a influência judia” por uma série de interdições profissionais. Numa declaração promulgada em 18 de outubro o Conselho de Ministros adaptava o decreto anterior de 1938 relativo ao internamento de estrangeiros ao novo parâmetro racial e a perseguição antissemita. A nova lei permitia aos prefeitos internar nos “campos especiais” o estrangeiros de “raça judia”. A administração municipal começou, então, a revisar suas estatísticas segundo o novo critério racial. Em novembro, o prefeito de Haute Garonne indica a Vichy que os 53% dos 2000 internados de seu departamento eram da “raça judia” porcentagem que se elevaria a 70 % dos 40.000 estrangeiros internados da Zona Não-Ocupada.

A política fazia a população judia sofrer um virada crucial em outubro de 1940 quando se condena os judeus estrangeiros ao internamento e a vigilância especial em vilas distantes. O centro provincial maior, logo promovido a categoria de campo, foi o de Bouches du Rhône acerca de Aix, na carvoaria de Milles, onde foram reunidos 2.000 emigrados, entre os quais se encontrariam intelectuais de renome tais como Golo Mann, Walter Benjamin, Max Ernst e Lion Feuchtwanger que estampou num livro suas memórias do internamento sob o título de 'Diabo na França'.

Na foto: Monumento à Memoria dos deportados
(Cemitério do Campo de Noé)

Os mais notórios campos do sul da França foram Gurs, Argèles, Noé, Récébédou e Riversaltes. Vichy operou Vernet, Rieucros e a prisão de Brébant em Marselha como campo de punição. Os campos se caracterizaram, sobretudo, por suas condições de vida intoleráveis. Um informe do American Friends Service Comittee de janeiro de 1942 os chamava de locais para “esquálidos, apertados e enfermos com altas probabilidades de morrer”. André Jean-Faure, inspetor dos campos de Vichy e sem dúvida um não-crítico do regime descobriu condições chocantes nos campos. As crianças e os anciãos pereciam rapidamente entre a falta de vestimenta, o tifo e a tuberculose. Serge Klarsfeld calculou em 3000 os judeus mortos neste período.

De todos os campos da Zona Não-Ocupada, o de Gurs foi talvez o mais infame. Localizado em Basses-Pyré, sudoeste da cidade de Pau, Gurs foi apressadamente construído em 1939 como centro de detenção para 15.000 refugiados espanhóis. Durante os anos da guerra a população do campo, a maioria judeus mas também espanhóis e romenos, flutuou entre 6.000 a 29.000 pessoas. Em 1940, durante uma série de dramáticos traslados, as autoridades alemães expulsaram cerca de 7.000 judeus de Palatinado para Gurs em trens selados. Muitos daqueles que os nazis expulsaram de Baden, da Saarland e da Alsácia-Lorena hegaram a Gurs em 1940 só para aguardar a deportação em 1942. Cerca da metade dos judeus expulsos nesta operação estavam por chegar aos sessenta anos de idade(o mais velho foi um de 100 anos)e, naturalmente, não puderam sobreviver sob aquelas condições. Em novembro de 1940 uma média de oito pessoas por dia morriam no campo. Em novembro de 1943 haviam morrido 1.038 pessoas e cerca de 3900 haviam sido deportadas aos campos de morte nazi.

O campo de Riversaltes, a 20 quilômetros ao norte do povoado de Perpignan nos Pirineus Orientais, alojou cerca de 9.000 pessoas, a maioria judeus, incluindo até 3.000 crianças. Riversaltes abriu em 1941 para ‘atender’ o cada vez mais crescente número de internos judeus.

Até Riversaltes, foram orientadas uma série de esforços de diversas organizações judias para aliviar as penúrias dos que ali se encontravam: o rabino René Hirschler, capelão geral para os campos, intentou manter uma quantidade módica de vida cultural e religiosa judia para os prisioneiros, a Comissão Nîmes, um grupo de ajuda combinado, trabalhou para levar diversas formas de assistência as mães e crianças internados. As condições alimentares e de vestimenta em Riversaltes eram de tal grau de indigência que em 1942 o American Friends Service Comittee computava uma morte diária com maior incidência entre as crianças.

O campo de Noé com a metade de sua população judia e a outra dividida entre alemães e espanhóis foi outro campo de detenção onde os internos sofreram iguais condições inumanas durante sua permanência.

Entre os campos mais cruéis se encontra aquele de Le Vernet no que estaria internado o grande escritor Arthur Koestler junto a uma população que chegaria aos 3000 internos. Daquela população cerca de um quarto eram membros das Brigadas Internacionais e o resto judeus. Koestler pôde finalmente evadir-se, em 1940, mas o caráter de terror do campo ficaria bem retratado em seu livro de memórias 'A escória da terra'.

Como assinalamos mais acima estes campos sofreram pouco a pouco uma importante mudança de status. No começo entre 1939 e 1940, a maior parte deles eram campos para “estrangeiros perigosos” que persistiam como um corpo estranho à democracia, sendo sua existência amplamente debatida na câmara de deputados e na imprensa, sobretudo pelos diários de esquerda L’Humanite e o Populaire que em fevereiro de 1939 denunciavam a existência de “campos de concentração”. Mas a partir de 1942 os campos do sul da França, até esse momento herança assumida bem que mal pelo Estado francês, tornaram-se instrumentos naturais da política repressiva de Vichy.

Já em janeiro de 1940, 13.000 espanhóis haviam sido deportados desde os campos do sul até o campo nazi de Mauthausen onde pereceriam em número de 5.000.

Este caminho que recorreram os campos do sul da França, caminho impensado por aqueles a que na democracia os criaram seguramente sem imaginar sua transformação posterior, confrontam-nos com a periculosidade do gesto segregacionista ou xenófobo ainda quando se queira que este seja contido dentro das margens da lei. A sutil pátina que separa a exclusão do extermínio pode ser franqueada sob certas circunstâncias, certas mas não excepcionais circunstâncias segundo nos demonstra o século que deixamos."

Pablo M. Dreizik
Os campos de internação do sul da França.

Fonte: Fundación Memoria del Holocausto
Texto original(espanhol): http://www.fmh.org.ar/revista/18/delaex.htm
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A "Solução Final" Cigana

A "Solução Final" Cigana

Não houve, alguns dizem, apenas uma Solução Final. Cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a atenção volta-se para o bem ignorado sofrimento dos não-judeus atingidos pelos nazistas.

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Muitos ciganos estão satisfeitos que seu sofrimento durante a Segunda Guerra Mundial recebeu um reconhecimento tardio, mas estão contrariados de como suas perdas nas mãos dos nazistas estão sendo reconhecidas, diz um líder da comunidade cigana americana. "Temos sido consistentemente colocados em 'outras' categorias, juntos com Testemunhas de Jeová, homossexuais, poloneses e católicos, como se não fôssemos parte da Solução Final," diz Ian Hancock.

Roma e Sinti são os nomes corretos para os descendentes dos grupos não-arianos do norte da Índia que migraram pro sudeste da Europa no 13º século e tornaram-se artesãos intinerantes; europeus pensaram que os recém-chegados vieram do Egito, daí o nome de ciganos.

"Roma ... era a única outra população ao lado dos judeus que era alvo para a exterminação nas bases raciais da Solução Final, " Hancock escreveu na Encyclopedia of Genocide(Enciclopédia do Genocídio) ...

Suas palavras ecoam daqueles muitos portas-vozes ciganos. Judeus e ciganos compartilham um status não invejável como vítimas principais dos nazistas. Na hierarquia racial nazista, ciganos, que ameaçavam a pureza biológica da "superior" raça ariana, situavam-se entre os "subumanos" eslavos e os "anti-humanos" judeus.

As medidas "legais" que marginalizaram a comunidade cigana na Grande Alemanha, as batidas a ciganos perambulando em outras partes na Europa oculpada e suas mortes nas mãos dos Einsatzgruppen, esquadrões móveis do extermínio, parecem uma inquietante similaridade à campanha anti-judaica dos nazis. Uma diferença, a taxa de sobrevivência cigana durante o Holocausto foi mais alta.

Cerca de dois terços da população judaica no pré-guerra da Europa pereceram durante o Holocausto. Do estimado de 2.5 milhões de ciganos que viviam na Europa em 1939, de 250.000 a 1.5 milhão morreram sob o Terceiro Reich, dependendo das estimativas dos historiadores, a maior parte diz que uma estimativa acurada estaria em algo em torno da metade, significanto que certca de um quarto dos ciganos europeus foram vítimas de Hitler.

Entretanto o número, a taxa de morte era certamente maior entre ciganos na própria Alemanha, enquanto que a comunidade por todo o continente era "completamente dizimada, completamente destroçada," Hancock disse. "Os efeitos psicológicos estão ainda sendo sentidos" pelos 2 milhões dos 4.5 milhões de ciganos da Europa.

"Determinar a porcentagem ou números de Roma que morreram no Holocausto (chamado de Porrajmos, 'paw-RYE-mos,' em Romani, uma palavra que significa 'o Devoramento') não é fácil," de acordo com o artigo de Hancock da enciclopédia. "Muita da documentação nazi ainda precisa ser analizada, e muitos assassinatos não foram registrados, desde que eles tomaram lugar em campos e florestas onde os Roma estavam retidos."

"É possível que os nazis eram mais concentrados em eliminar os judeus e que uma vez que a população judaica da Europa fosse aniquilada, os ciganos seriam os próximos alvos principais," marido e esposa, James e Brenda Davis Lutz da Universidade de Indiana escreveram no inverno de 1995 sobre a questão no Holocaust and Genocide Studies. "Os ciganos como um povo sobreviveram as campanhas dirigidas contra eles em maior medida em virtude de que estavam localizados em áreas sob o controle de governos aliados com a Alemanha. Estes governos geralmente recusavam participar no extermínio de ciganos (como apenas alguns não participaram da destruição dos judeus europeus)."

A campanha anti-cigana na Alemanha, que era baseada nos preconceitos populares e leis discriminatórias que eram anteriores a curta vida da República de Weimar, tiveram início rapidamente depois que Hitler assumiu o poder em janeiro de 1933. Ciganos eram castrados e esterelizados, enviados cedo para os campos de concentração e proibidos de casar com alemães. Uma Central para "Combate à Moléstia Cigana" foi aberta em Munique em junho de 1936.

Muitos ciganos sofreram com blitz na Alemanha na semana de 12-18 de junho de 1938, "Semana de limpeza cigana," uma precursora para Kristallnacht(Noite dos Cristais)cinco meses depois.

Em dezembro daquele ano, a primeira referência conhecida para a "Solução Final da questão cigana" apareceu num documento assinado pelo Chefe da SS Heinrich Himmler. Em janeiro de 1940, 250 crianças ciganas foram assassinadas em Buchenwald, usada como cobaias humanas num teste de cristais de Zyklon-B.

Ao contrário dos judeus na Alemanha e outros países da Europa, as vítimas ciganas dos nazis e suas famílias não receberam nenhuma pagamento reparatório, diz Hancock. Ele diz que advogados estão trabalhando para recuperar ativos ciganos totalizando "muitos milhões de dólares" que foram depositados em bancos suíços antes da guerra e nunca retornaram a seus donos de direito. "Temos a documentação," ele diz.

Sem nenhuma data especial ou cerimônias para celebrar as perdas de sua comunidade nos tempos de guerra, representantes de organizações ciganas participaram das atividades do anual Yom HaShoah do Museu Memorial do Holocausto dos EUA em Washington.

Uma estátua de madeira homenageando ciganos mortos durante a guerra foi dedicada em 1991 numa cidade no sudoeste da Hungria; acredita-se que seja o primeiro memorial do tipo no leste europeu. Grupos ciganos na Alemanha tem protestado contra os planos do senado de Berlim em levantar um monumento nacional do Holocausto que omite as vítimas de sua comunidade. Ignatz Bubis, presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, participou de sua petição.

"Sobreviventes ciganos ... que foram sistematicamente perseguidos por razões raciais não estão interessados em competir por status de vítima," Toby Sonneman, editor do Informativo Aliança Romani-Judaica, escreveu na edição de maio de 1994. "Eles apenas querem que suas vozes sejam escutadas e seu sofrimento seja reconhecido."

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Excerto do livro "Hitler's Other Victims: There wasn't, some say, just one Final Solution"(As outras vítimas de Hitler: Não houve, alguns dizem, apenas uma Solução Final). de Steve Lipman, Staff Writer. The Jewish Week, 02 de maio de 1997.
Copyright © The Jewish Week, 1997.

Fonte: The Patrin Web Jornal - Romani Culture and History
http://www.geocities.com/~patrin/othervictims2.htm (link morto)
Novo link:
http://www.reocities.com/~patrin/othervictims2.htm
Excerto(inglês): Steve Lipman
Tradução(português): Roberto Lucena

Foto: Jewish Library, Ciganos no Campo de Concentração de Belzec
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/images/Holocaust/belzecgyp.jpg
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/gypsies.html

domingo, 11 de janeiro de 2009

Uniforme nazi incomodou Tom Cruise

Ator interpreta soldado nazi em «Valquíria»
Por: Redação / MM

Ante-estreia do filme Valkyrie em Nova Iorque

O ator Tom Cruise confessa que hesitou ao vestir pela primeira vez o uniforme nazi, utilizado na Segunda Guerra Mundial, que caracteriza o seu mais recente personagem, escreve o jornal espanhol «20 Minutos».

Em «Valquíria», Tom Cruise dá vida ao coronel Klaus von Stauffenberg, que tentou assassinar Hitler ao colocar uma bomba na sua secretária, provocando ferimentos no líder alemão, em 1944.

«O uniforme era real e hesitei um pouco ao vesti-lo. Posteriormente, o mesmo ajudou-me a encarnar Stauffenberg, porque entrei mais facilmente na personagem», disse Tom Cruise.

«Valquíria» tem a realização de Bryan Singer e é baseada em fatos verídicos sobre a tentativa de assassinato de Hitler, montada por oito responsáveis do exército alemão.

Fonte: IOL Diário(11.01.2009, Portugal)
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/491213

Observação: no Brasil o filme "Valkyrie" será lançado com o título de "Operação Valquíria".

Príncipe Harry alvo de controvérsia por afirmações alegadamente racistas

Reino Unido: Príncipe Harry alvo de controvérsia por afirmações alegadamente racistas

Londres, 11 Jan (Lusa) - Quatro anos após ter causado escândalo ao ser fotografado com uniforme nazi, o Príncipe Harry volta a ser centro de controvérsia por palavras alegadamente racistas proferidas num vídeo dos seus tempos de militar.

Harry, de 24 anos, terceiro na ordem de sucessão da Coroa britânica, surge num vídeo a tratar um elemento da sua unidade militar por "paki" (de "paquistanês", mas que é usualmente uma forma pejorativa de designar paquistaneses e indianos) e outro de "raghead" ("cabeça de turbante", designação desprimorosa para árabes).

O semanário sensacionalista News of the World teve acesso ao vídeo, colocando-o online, que foi feito pelo próprio Harry a descrever os seus camaradas de armas em 2006, quando era aspirante a oficial.

Harry está a filmar um momento de repouso da sua unidade, naquilo que parece ser a sala de embarque de um aeroporto, com os militares visivelmente prostrados no chão a dormitar, foca um seu camarada de origem asiática e diz: "Ah, o nosso amiguinho 'paki', Ahmed."

Noutro passo do vídeo, Harry filma preparativos para um exercício nocturno em Chipre, encontra um cadete com o rosto escondido por detrás de uma espécie de véu e exclama: "Aqui está Dan. F... pareces um 'raghead'." O cadete visado sorri.

Em nenhum dos dois comentários se apercebe qualquer intenção por parte de Harry de melindrar os visados, antes parece o uso de uma linguagem pacificamente aceite naquele meio militar.

Mas isso não impediu o News of the World de titular "A vergonha do vídeo racista de Harry".

A família real já divulgou um pedido de desculpas, sublinhando que o Príncipe utilizou as palavras controversas "sem preconceitos" ao referir-se a "um membro muito apreciado da sua unidade" e garantindo de "de modo algum quis insultar o seu amigo".

"O Príncipe Harry compreende perfeitamente quanto esse termo pode ser insultuoso e está desolado se com isso magoou alguém", explica a família real no comunicado.

Harry serviu durante dez semanas no Afeganistão, mas foi recambiado para o Reino Unido por receio de que a sua presença concentrasse especiais ameaças sobre ele e a sua unidade.

Actualmente é tenente da Força Aérea Real (RAF) e vai iniciar o treino de piloto de helicóptero de combate.

O órgão de vigilância às discriminações no Reino Unido considerou as declarações de Harry "perturbadoras" e solicitou um inquérito ao Ministério da Defesa.

OM.

Lusa/fim

Fonte: Lusa(Portugal, 11.01.2009)
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/491213

sábado, 10 de janeiro de 2009

Antissemitismo: um "fantasma do passado" que continua bem vivo

Conflito na Faixa de Gaza provoca guerra de opiniões na internet

PARIS (AFP) — O conflito israelense-palestino vem gerando polêmica na internet e provocando discussões racistas ou anti-semitas, que obrigaram algumas mídias a redobrarem a vigilância.

Na França, alguns sites decidiram bloquear os comentários de artigos sobre o assunto.

"Com o ataque de Israel à Faixa de Gaza, foi muito rápido o desencadeamento da raiva e de insultos", comentou o jornal de esquerda Libération. O site Libération.fr preferiu bloquear o link de comentários para não se transformar num canal de diálogos racistas e anti-semitas".

O Libération propôs ainda aos internautas que debatam o conflito num fórum, acessível apenas aos que aceitarem se inscrever.

O site do jornal gratuito "20 minutes" fechou também quarta-feira a página de comentários de artigos sobre Gaza. "Os moderadores estavam trabalhando como loucos. Havia muitos comentários anti-semitas que desatavam, em resposta, frases contra os muçulmanos", declarou à AFP Clémence Lemaistre, chefe de redação do 20 minutes.fr.

O site do canal de informação contínua LCI fez o mesmo na quarta-feira. "Quase 90% das opiniões não foram validadas porque em nada contribuíam; eram raivosas e poderiam aumentar as tensões, segundo Pascal Emond, chefe de redação do LCI.fr.

Na França, a mídia on-line, quando controla a priori os comentários dos internautas no site, pode ser considerada juridicamente responsável por propósitos racistas ou anti-semitas, condenados pela legislação.

Em contrapartida, a plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube não é responsável pelos conteúdos, destacou um porta-voz desta filial do Google. "Não podemos controlar: a cada minuto que passa há o equivalente a 15 minutos de vídeos postados no YouTube", destacou.

Alertado pela comunidade, o YouTube pode retirar um vídeo que não considera necessário. Mas sobre o conflito israelense-palestino, os comentários raivosos em uma imensidão de vídeos se perdem.

Yassine Ayari, um engenheiro parisiense de 29 anos, afirmou por sua vez que a rede Facebook fechou nesta quarta-feira um grupo de discussão que havia criado em 29 de dezembro para "centralizar as iniciativas de apoio a Gaza".

O grupo foi fechado horas depois de dois e-mails do Facebook lembrando a interdição de difundir qualquer mensagem ameaçadora, raivosa e obscena, disse Ayari, que garante portanto ter tomado todos os cuidados contes tais excessos.

Contatado pela AFP, o Facebook não comentou este caso particular, mas lembrou que tem por política reagir rapidamente para retirar os grupos que violam seu regulamento.

Sem recorrer a medidas drásticas, como na França, outras mídias européias on-line tiveram problemas similares.

No site do jornal italiano Il Manifesto (extrema-esquerda), onde o "número de comentários explodiu desde o início do conflito em Gaza", "os internautas, entre eles a maioria pró-palestina de esquerda, enviam às vezes reflexões contra Israel com conotações de anti-semitismo", reconheceu o responsável do site Alberto Piccinini, que se esforça, no entanto, para "censurar muito pouco".

Na Suécia, o site do jornal Expressen indicou ter tomado as mesmas precauções.

"Recebemos comentários muito duros sobre este conflito, e algumas mensagens tiveram de ser retiradas", afirmou o responsável do site, Haakan Vikstroem.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5i4GfLS1qtET4KrsX7_JYOsM6qw7A

Ver mais: ataque antissemita na França
Carro em chamas é lançado contra sinagoga na França

Comentário: em que pese o direito pleno de crítica contra ações militares, principalmente de forma desproporcional, realizadas por qualquer Estado do mundo, a extrema-esquerda européia (e também a latinoamericana), ao invés de aproveitar o espaço e criticar o belicismo do conflito, conteta-se e se resume a apenas dar coro e força ao discurso antissemita/racista e xenofóbico da extrema-direita ao redor do mundo. Um certo cabo genocida de nome Adolf Hitler ficaria feliz em ver certos inimigos do passado fazendo coro à sua obsessão racista nos dias de hoje. Também é de se repudiar a mistura deliberada do conflito do Oriente Médio com fatos ocorridos na Segunda Guerra Mundial.

Livro que conta história falsa sobre o Holocausto causa polêmica nos EUA

NOVA YORK, EUA (AFP) — Um livro sobre os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, supostamente baseado em fatos reais, deu origem a um forte debate nos Estados Unidos, onde um editor insiste em publicá-lo como obra de ficção, contrariando a opinião de muitos sobreviventes do Holocausto.

"O anjo na cerca" (Angel at the Fence) relata a história, apresentada como real, de Herman Rosenblat, judeu sobrevivente do campo de concentração nazista de Schlieben, na Alemanha.

Rosenblat, hoje com 79 anos, conta que durante seu período de cativeiro, em 1945, uma menina jogava maçãs e outros alimentos para ele por cima da cerca do campo de concentração.

Doze anos depois, quando emigrou para os Estados Unidos, o sobrevivente conhece em Nova York uma jovem polonesa, Roma Radzicki, que segundo a história era a menina das maçãs, e eles se casam.

Rosenblat e Radzicki estão juntos até hoje e moram na Flórida.

O autor venceu um concurso literário com o relato, que inspirou um livro para crianças e teve seus direitos comprados por um estúdio de cinema para a produção de um roteiro adaptado.

Rosenblat chegou a ser convidado a participar do popular programa da apresentadora Oprah Winfrey, que descreveu seu livro como "a mais bela história de amor que eu já vi nos 22 anos desse show".

A editora Berkley Books, filial da Penguin, havia anunciado sua publicação para o próximo mês, mas precisou se retratar depois que a revista New Republic demonstrou, baseada em relatos de outros sobreviventes do Holocausto e de familiares de Rosenblat, que a história das maçãs era falsa.

Especialistas explicaram que seria impossível para a menina jogar as maçãs, considerando as características do lugar. Rosenblat então admitiu, através de seu agente, que este detalhe da história havia sido inventado.

Em um comunicado publicado na semana passada, a Berkley Books indicou que, além de cancelar a publicação de "O anjo na cerca", "pedirá ao autor e a seu agente que devolvam todo o dinheiro recebido pelo livro".

O caso gerou polêmica sobre o impacto negativo da história falsa e seu efeito contraproducente para a memória do Holocausto.

Mesmo assim, uma pequena editora de White Plains, em Nova York, a York House Press, insiste em publicar o livro, com algumas modificações.

"Entendemos a indignação sentida pelos historiadores do Holocausto que trabalham sem descanso para estabelecer fatos, e que devem garantir a integridade dos relatos de sobreviventes para combater antissemitas e negadores do Holocausto, que ainda são muitos", indicou a York House em um comunicado.

No entanto, continua, "acreditamos que as motivações de Rosenblat eram muito humanas, compreensíveis e perdoáveis".

A York House Press informa que "participou de sérias discussões para publicar uma obra de ficção baseada no roteiro, que passaria a se chamar 'Uma flor na cerca', sobre a vida e a história de amor de Herman Rosenblat".

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gwwZG-dVjn901RXPuNt34zc5Mzfw

Matérias(em inglês):
Author, publisher defend disputed Holocaust memoir
http://www2.whdh.com/news/articles/entertainment/BO99626/
Blog da historiadora Deborah Lipstadt
A Danger Greater Than Denial Opinion
http://lipstadt.blogspot.com/2008/12/apples-over-fence-12-lipstadt.html

Comentário: infelizmente é este tipo de coisa que acaba dando alguma munição ou alimentando as mentiras desvairadas das viúvas de Hitler(negadores do Holocausto)que exploram a aversão ou preconceito a judeus(antissemitismo)para inculcar nas pessoas que não posição formada a respeito do nazismo(repúdio a esta ideologia genocida), os negadores do Holocausto("revisionistas")dão roupagem nova a mitologia conspiratória(fantasiosa)de livros antissemitas apócrifos como os Protocolos dos Sábios de Sião(feito na Rússia czarista para disseminar ódio a judeus)em torno do Holocausto alegando que o mesmo foi uma "invenção" fruto de uma conspiração judaica e da maçonaria pro mundo "sentir pena" de judeus, com o intuito de negar parcialmente ou totalmente e banalizar o Holocausto e limpar a imagem suja de sangue, racismo e genocídio do nazifascismo.

Parabéns aos historiadores do Holocausto que se manifestaram e foram consultados e criticaram a publicação do livro.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Não mencione Lebensraum

Numa recente leitura de Mark Weber, e uma resposta adequada por Michael Shermer, expuseram algumas contradições de como negadores aproximam a motivação de Hitler em invadir a Polônia e a URSS. Resumi três dessas contradições abaixo.

Primeiramente, negadores pretendem fingir que as ações de Hitler eram defensivas. Ele estava rodeado por outras forças; ele precisava recuperar a terra roubada da Alemanha em Versailles; e Stalin estava acelerando por um ataque a oeste. As óbvias refutações desses pontos - o fato de que a aproximação britânica era apaziguar em vez de provocar; o fato de que Stalin estava expurgando seus generais; o fato de que Hitler sempre tomou muito mais território do que estava em disputa e declarou sua intenção de tomar isso permanentemente - sempre caiu como surdez aos ouvidos pró-nazis.

Onde a contradição aparece é no fato de que negadores então afirmam (como Weber fez quando entrevistado por Shermer) que o mundo teria sido um lugar melhor se a Alemanha houvesse ganho a guerra e o comunismo houvesse sido destruído. De repente uma guerra de auto-defesa torna-se uma guerra justificável de aniquilação. A pretensa defensiva não é nem de perto mantida quando a vitória gloriosa sobre o comunismo é tratada.

Em segundo lugar, segue-se as lágrimas derramadas sobre a derrota nazi em que na medida teria sido necessário para assegurar a vitória - incluindo fome em massa da população soviética e dos judeus - tornaria-se justificável. Ninguém não pode desejar os fins sem desejar os meios.

Terceiro, negadores são também assim forçados a aceitar aquilo que eles não podem mencionar: Lebensraum(Espaço Vital) e Holocausto. O anti-comunismo para Hitler era ipso facto uma reordenação étnica da Europa usando (apropriando a excelente frase de Nick Terry) "uma economia política de valor racial." Weber satisfeito reconhece que negadores compartilham esta fantasia eugênica, mesmo assim uma vez mais eles se esquivam das conclusões óbvias: nenhum Lebensraum poderia ter sido alcançado sem assassínio em massa. Não havia nenhum lugar para enviar os judeus uma vez que se tornou óbvio que os soviéticos não iriam simplesmente dobrar-se.

A falácia da 'defensiva de Hitler' não é portanto apenas apologia: é negação dos fatos que emanam da realidade agressiva de Hitler.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2008/12/dont-mention-lebensraum.html
Tradução: Roberto Lucena

Definição de Lebensraum: em português "Espaço Vital", de maneira simples, seria o espaço geográfico ou territorial reivindicado ou reclamado pelo regime nazista para expandir o Reich ariano no qual a "raça ariana" desenvolveria-se e se utilizaria de todos os recursos naturais dos territórios conquistados, mediante a expulsão, eliminação ou escravização dos povos conquistados(eslavos, judeus, etc).

Na wikipedia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espa%C3%A7o_vital

Fotos: BBC, site da Casa da Conferência Wannsee
http://www.ghwk.de/2006-neu/haeftlinge.jpg
sobre a foto do cartão russo para tropas alemães, fonte
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/1980410:BlogPost:48439

Mais sobre Lebensraum(Espaço Vital):
http://www.bbc.co.uk/history/worldwars/wwtwo/hitler_lebensraum_01.shtml

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Xenofobia é mais difundida na Alemanha do que se pensa

Ideologia radical de direita não nasce só nas periferias

Fase dois de uma pesquisa iniciada há dois anos revela a tendência de a xenofobia se tornar cada vez mais "mainstream". Contrariando crença generalizada, a tendência parte do centro da sociedade alemã.

"Sempre que a obturação do bem-estar se esfacela, tradições antidemocráticas voltam a se manifestar no vazio resultante." Assim o psicólogo Oliver Decker avaliou o resultado de uma pesquisa da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social-Democrata – SPD). Segundo esta, noções xenófobas são bem mais difundidas na Alemanha do que se acreditava.

O relatório apresentado em Berlim na última semana compõe a segunda parte de um estudo iniciado em 2006. Na primeira fase, 5 mil alemães acima dos 14 anos foram interrogados sobre suas opiniões a respeito do extremismo de direita. Concluiu-se que um entre cada quatro alemães defendia pontos de vista xenófobos.

Nesta segunda fase, os pesquisadores procuraram estabelecer as raízes dos preconceitos. Para tal, convidaram uma seleção de 150 dos participantes para discussões em grupo. "Queríamos examinar as opiniões dos entrevistados no contexto de suas vidas", explica Decker.

Trivialidade alarmante

A conclusão foi surpreendente: a xenofobia está se tornando cada vez mais mainstream na Alemanha. Os participantes do debate expressaram rejeição em relação a estrangeiros "com uma trivialidade preocupante, inclusive pessoas que na primeira enquete não haviam chamado a atenção por atitudes de extrema direita", comentou o psicólogo.

No pós-guerra, em ambas as metades da Alemanha, a ideologia radical de direita foi apenas recalcada no centro da sociedade, prossegue Decker. Com o milagre econômico, a prosperidade se estabeleceu de forma relativamente veloz na Alemanha Ocidental, não deixando espaço para a reflexão ou para a vergonha.

Os alemães do Leste esperavam um desenvolvimento semelhante, após a queda do Muro. E reagiram com desencanto político e democrático à frustração dessa expectativa.

Democracia em troca da ordem

Turcos e russos são vistos como principais ameaças

"Foi assustadora para nós a facilidade com que os entrevistados estavam dispostos a trocar a democracia mais modesta em favor de estruturas autoritárias, nas quais supostamente reinassem ordem, tranqüilidade e igualdade de chances", comenta Oliver Decker.

Diversos jovens declararam desejar "algum tipo de líder". Para os participantes de meia idade, a política é, de qualquer modo, mentira e engano. E os mais velhos evocam os modelos de sua juventude: no Leste, as represálias da RDA; no Oeste, o regime nazista.

Outra revelação chocante é que o problema se encontra no próprio centro da sociedade alemã, contradizendo a teoria de que os celeiros do extremismo de direita se encontrariam nas partes do país afetadas pelo desemprego e a decadência social.

Velhos clichês

Segundo 37% da população, os imigrantes viriam para a Alemanha "para explorar o Estado de bem-estar"; 39% consideram o país "perigosamente superpovoado de estrangeiros". E 26% gostariam que houvesse "um único partido forte para representar a comunidade alemã".

Os principais alvos de preconceito são os turcos e os russos, considerados parasitas e gananciosos. Entretanto, os pesquisadores também identificaram a emergência do que denominaram "racismo cultural": preconceitos contra grupos marginais, tais como os desempregados e os socialmente desprivilegiados. Tal fato revelaria uma forte pressão para corresponder à norma social percebida, e a conseqüente condenação dos que fracassam neste processo.

Ficou ainda claro que a maioria dos participantes só apóia a democracia na medida em que garante a prosperidade pessoal. Caso contrário, passam imediatamente à intolerância. Uma atitude semelhante marcou também a década de 1950 na Alemanha, observaram os pesquisadores da Fundação Friedrich Ebert. Na época, o milagre econômico provou-se um obstáculo à reelaboração do passado nazista.

Agências (av)

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 22.06.2008)
http://www.dw-world.org/dw/article/0,,3430238,00.html

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fotos da Life sobre o Holocausto no Google Images

Foi recentemente disponibilizado no Google Images as fotos que saíram na revista Life quando da libertação dos campos de concentração nazistas pelas tropas aliadas.

As 194 fotos são impressionantes. Disponíveis em:
http://images.google.com/images?hl=pt-BR&q=concentration+camp+source%3Alife&btnG=Pesquisar+imagens

Pequena amostra da tenda de horrores nazista:

Foto 1: corpos caídos ao chão no campo de concentração de Bergen-Belsen.
Local: Belsen Bergen, Alemanha
Data da foto: maio de 1945
Fotógrafo: George Rodger

Foto 2: corpos de 3.000 prisioneiros que trabalharam no campo de concentração dee Nordhausen no porão da fábrica, depois deles serem espancados e passarem fome até a morte por seus capturadores nazistas, momentos antes da liberação na chegada das tropas Aliadas.
Local: Nordhausen, Alemanha
Data da foto: julho de 1945
Fotógrafo: John Florea






Link foto 1: Bergen-Belsen, maio de 1945

Link foto 2: campo de concentração de Nordhausen, julho de 1945

Créditos e contribuição de José(postado na comunidade Holocausto x "Revisionismo" no Orkut).

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Carlo Mattogno e interrogatórios de engenheiros da Topf

Em março de 1946 a agência de contra-inteligência soviética SMERSH prendeu quatro homens diretamente responsáveis por fornos e câmaras de gás de Auschwitz. Eles eram os engenheiros Kurt Pruefer, Karl Schultze, Fritz Sander e Gustav Braun, empregados da "Topf und Soehne", a firma alemã especializada na construção dos crematórios. Todos eles foram interrogados extensamente. Sander morreu cedo, e o resto foi sentenciado em 1948 a 25 anos de campos de trabalho. Pruefer morreu em 1952, Schultze e Braun foram anistiados em 1955 e deportados para a Alemanha Oriental.

Os protocolos de seus interrogatórios ficaram juntando poeira nos arquivos até o começo dos anos de 1990s. Em 1992 o promotor russo do ministério recusou reabilitar Pruefer, Schultze e Braun, e confirmou suas sentenças. Em 1993 e 1994 o historiador britânico Gerald Fleming publicou vários curtos excertos dos interrogatórios.

Uma passagem em particular desses excertos ganhou a atenção dos negadores do Holocausto.

Um dos principais "revisionistas", Carlo Mattogno, em sua resposta ao Prof. John Zimmerman escreveu:

Durante o interrogatório de 19 de março, K.Pruefer declarou:

"Eu falei sobre os enormes esforços sobre as fornaldas bastante usadas. Eu disse ao Engenheiro-Chefe Sander: estou preocupado se as fornalhas podem agüentar o excessivo uso. Na minha presença dois cadáveres foram postos dentro de uma mufla em vez de um cadáver. As fornalhas não poderiam suportar o esforço." [itálicos meus]

[...]

Uma tentativa de cremar simultaneamente dois cadáveres fracassou porque "as fornalhas não podiam suportar o esforço."
Quando o tema veio à tona na Cesspit*, eu enviei um e-mail a Mattogno e perguntei se ele tinha as imagens digitalizadas dos protocolos. Ele respondeu que não poderia deliver them para uma terceira parte interessada, mas ele estava afável o suficiente para enviar um excerto digitalizado do interrogatório de Pruefer na questão, que você pode ver abaixo.
http://static.flickr.com/54/117332839_c4e9b61a82_o.jpg

http://static.flickr.com/19/117332841_0cbb37a595_o.jpg


Ele admitiu:

Tão distante quanto eu soubesse o idioma russo, eu entendo que a passagem que você assinala é ambígua.
E também acrescentou:

Entretanto é importante considerar que ambos, Pruefer e Sander, declararam que os fornos crematórios em Birkenau poderiam incinerar um corpo por mufla por hora.
A informação da segunda sentença citada, um tanto estranha, não significa que os testemunhos foram simplesmente preparados pelos soviéticos. Depois de tudo, se os soviéticos coagissem estes engenheiros, o último testemunharia sobre os crematórios milagrosos destruindo de 1.500 a 3.000 corpos por dia, como um ato polaco-soviético de Roman Dawidowski et al., e que o relatório do oficial soviético em Nuremberg tinha declarado. Deveria ser notado que esta baixa estimativa de Pruefer era contraditória com ele mesmo, que testemunhou o presente sucesso da cremação de dois cadáveres por mufla (mais sobre isso aqui, ver a parte VIII para citações maiores e análises), e também pelo memorando de Pruefer de 8 de setembro de 1942.

A primeira citação é crucial, desde que Mattogno admite que a passagem é "ambígua", e assim não pode ser usada como evidência para o caso "revisionista". Então, o que a passagem realmente diz?

Eu dei a Sander um exemplo - que em Auschwitz, na minha presença, dois-três cadáveres foram empurrados pra dentro das muflas dos crematórios ao invés de um, e até então os fornos do crematório não haviam superado aquela carga, porque havia corpos demais para incineração.
Então o que era de fato dito é que havia corpos demais no campo para fornalhas eficazmente superar isso (aquelas eram 6 muflas do velho crematório - os crematórios de Birkenau com 46 muflas não tinham sido construídos ainda), não que aqueles vários corpos não pudessem ser queimados ao mesmo tempo. Isto é também confirmado no testemunho de Sander, tomado em 13 de março de 1946:

Pruefer então me deu um exemplo que em sua presença dois-três cadáveres foram colocados dentro de cada mufla, e até então eles não superariam aquela carga, porque havia cadáveres demais para incineração no campo de concentração. (ênfase minha - SR)
Assim, essas passagens não apóiam o argumento "revisionista" sobre a impossibilidade de múltiplas cremações em Auschwitz. Os cadáveres, de acordo com os engenheiros, estavam sendo cremados em grupos de dois ou três. Como temos visto, Pruefer também testemunhou que os fornos trabalhavam sucessivamente depois de queimar dois cadáveres por mufla. Nem Sander, nem Pruefer mencionaram quaisquer falhas nos fornos resultados especificamente de múltiplas cremações. E, de fato, um documento do arquivo da "Topf" apóia estes testemunhos. Fritz Sander escreveu em 14 de setembro de 1942 (traduzido por Roberto Muehlenkamp; ênfase minha):

A alta demanda de incineração por fornos de campos de concentração - que ultimamente se mostrou especialmente em relação a Auschwitz, e que de acordo com o relatório do Sr. Pruefer, conduz de novo a uma outra ordem de 7 fornos de três-muflas - levou-me a examinar a questão se o atual sistema de fornos com muflas para as entidades acima mencionadas são a coisa certa. Em minha opinião as coisas não estão indo rápidas o suficiente nos fornos de mufla para remover um grande número de cadáveres dentro dum desejável curto espaço de tempo. Assim alguém ajudaria com uma multidão de fornos ou muflas e por encher completamente uma única mufla com vários cadáveres, sem assim resolver a fonte básica [do problema], i.e. as deficiências do sistema de muflas.
(para superar as dificuldades do sistema de muflas, Sander propôs um super-crematório para cremação em massa de cadáveres, que superariam e muito os fornos de Auschwitz. Felizmente, seu plano nunca foi implementado).

Quando primeiramente recebi os excertos de Mattogno, pensei que ele os tinha no período que escreveu a resposta a Zimmerman, em 2000, e o acusou de ser mentiroso.

Eu não sabia que seu colega Juergen Graf conseguiu os protocolos apenas em fevereiro de 2002, então eu estava errado.

Entretanto, até depois de constatar a condição de que a passagem na questão era ambígua, Mattogno ainda propaga o mesmo velho argumento! Em Auschwitz Lies (Mentiras de Auschwitz) [PDF grande] ele simplesmente reitera o argumento na p. 111, para mostrar que Zimmerman usou a tradução de Fleming desonestamente. Na realidade, a tradução incorreta de Fleming é simplesmente vaga e ambígua, então não pode ser declarado que o uso de Zimmerman disso foi desonesto. Na p. 112 Mattogno adiciona:

Mais tarde achei que a tradução de Fleming ("enorme esforço," "as fornalhas não poderiam suportar o esforço") estava errada, também. Particularmente a sentença "pjeci nje spravljalis' s toi nagruzkoi" não quer dizer "as fornalhas não poderia suportar o esforço" mas "não superariam aquela carga," que isto quer dizer que, para a carga de dois a três cadáveres inseridos dentro de uma mufla; "nagruzka" designa na realidade a "carga" do forno. Pruefer quis dizer aí que fornos não conseguiram cremar aquela carga de uma maneira economicamente vantajosa se comparada com a carga de apenas um único corpo por mufla. Isto, claro, não altera o fato das próprias manipulações de Zimmerman.
Aqui, Mattogno obviamente refere-se a nossa breve troca. O que ele quis mencionar é que ele mesmo rotulou a declaração de Pruefer como "ambígua" (embora realmente, não seja; mas é claramente inútil para negadores). O significado de "carga" é enfaticamente não a carga de 2 ou 3 corpos numa mufla, mas sim a "carga" de todos os cadáveres do campo, como demonstrado acima. É impressionante que Mattogno tenha interpretado pessimamente o significado do plano do texto daquela maneira.

De forma previsível, seu camarada Germar Rudolf também usa traduções erradas e interpreta o texto pessimamente no mesmo livro (pp.274, 275).

E estes são dois dos melhores "revisionistas" dos que existem!

Atualização: não é realmente surpreendente que as toupeiras na Cesspit engulam os argumentos de Mattogno e Rudolf, forçados, lindamente de cabo a rabo.

*[Nota da Tradução]: Cesspit é como a equipe do blog Holocaust Controversies, muito adequadamente, apelidou o fórum dos negadores do Holocausto, CODOH).

Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/03/carlo-mattogno-and-interrogations-of.html
Tradução(português): Roberto Lucena

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

"Dr." Rudolf?

Outro ponto de similaridade entre negadores da evolução e negadores do Holocausto, embora talvez não tão forte quanto os outros, é o uso de credenciais fraudulentas.

Embora pareça que este fenômeno não é tão difundido entre os "revisionistas", houve dois notáveis exemplos. O primeiro é bastante categórico - Fred Leuchter se apresentou como sendo um engenheiro.

O segundo é mais interessante. Germar Rudolf não conseguiu receber um doutorado do Instituto Max Planck por Pesquisa do estado sólido. Aparentemente, a razão pra não deixá-lo defender sua dissertação foi política, mas mesmo que fosse, o fato é que ele não tem nenhum PhD.

É bem conhecido que Rudolf usou muitos pseudônimos durante sua carreira "revisionista". Embora o uso de pseudônimos não tenha importância geralmente, ele usou pseudônimos com doutorados, e mais tarde justificando isso dessa forma:
Na primavera e verão de 1992 fui chamado por vários advogados de defesa como uma testemunha especialista em vários julgamentos impostos aos revisionistas na Alemanha (ver a nota de rodapé 103 da brochura mencionada). Nestes julgamentos -- como em todos os julgamentos contra os revisionistas -- os juízes recusaram aceitar qualquer evidência apresentada pela defesa, incluindo todas as testemunhas especialistas. Tive que aprender que um químico (eu) estava sendo recusado porque não era um toxicologista e nem historiador, um engenheiro (Leuchter) sendo recusado porque não era nem químico e nem historiador, um historiador (Prof. Haverbeck) sendo recusado porque não era nem químico e nem um engenheiro. Minhas conclusões foram que alguém obviamente tinha que ser ao mesmo tempo um engenheiro, um químico, um toxicologista, um historiador e talvez ser um advogado para ser aceito como uma testemunha especialista na corte alemã. Com o processo legal sendo tão pervertido na Alemanha, decidimos burlar isso inventando uma pessoa com todas essas características, mas então demos conta que isto seria um tanto irreal, então dividimos aquela pessoa em várias.
Nenhuma desculpa dele por esta prática fraudulenta.

De qualquer forma, se você procurar no google por "Dr. Germar Rudolf" você conseguirá muitos hits. E que esta falsificação das credenciais de Rudolf pode ser deliberada está bem claro numa mensagem recente da Cesspit (ênfase minha):
Uma instituição que não identificarei (devido ao fato de anti-revisionistas lerem este tópico de discussão) está levantando dinheiro e como parte do esforço, elas estão vendendo tijolos nos quais pessoas podem ser inscritas com o nome ou algum dito.

Em homenagem às grandes contribuições ao Revisionismo que Germar Rudolf proporcionou aos caçadores da verdade em todo lugar, eu decidi comprar e dedicar um tijolo a ele.

Além do seu nome, eu também tive umas poucas linhas disponíveis onde pude incluir um curto dito.

Qualquer pessoa no tópico da discussão não faz a menor idéia de como é transmitir essa idéia junta.

Também, seria apropriado usar a palavra Dr. no título.

Eu também parti para comprar um tijolo para alguns outros revisionistas que se mobilizaram pela causa, em vida ou morte.
Esta pessoa obviamente sabe que Rudolf não é "Dr.", e já considera aplicar este título a ele de qualquer forma.

Atualização: heh, eles apenas não podem parar de cavar(e afundar). Citações(sugestões)para Rudolf.
"Para Dr Germar Rudolf,
preso por lutar contra
os falsos dogmas da nova religião"

("chamada 'holocau$to")
Atualização 2: e outra:
Tanto pelo Dr. título; pode não ser legal anunciá-lo como um doutor para o negócio, mas sinto que ele muito merece o título, então por que não adicionar o Dr. título. Além do mais, isso pode ajudar a acabar com suspeitas.

Que tal essa:
Dr. Germar Rudolf – por sua implacável procura pela verdade. Obrigado!
Atualização 3: como é costume pra Cesspit, quandouma postagem torna-se embaraçosa demais, ela desaparece. A primeira citação é de "vincentferrer", a segunda - de "kk", a terceira - de "Sushicotto".

Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/05/dr-rudolf.html
Tradução(português): Roberto Lucena

A seguir(mas isto só será tratado em 2009)... "cenas dos próximos capítulos"... Como a máscara nazista, ops, "revisionista", será desfraudada uma vez mais.

Um Raio-X das biografias e perfis dos principais(ou mais destacados ou 'cabeças' do "movimento") "gurus" "revisionistas", vulgo negadores do Holocausto, para servir de consulta pública e também para demonstrar o "quanto" são "pesquisadores e escritores de livros de História" os ditos "revisionistas" do Holocausto.

Esta história de fraudes credenciais de Germar Rudolf foi só um "pequeno" exemplo de como um legítimo "revi" costuma agir, numa espécie de vale tudo pela mentira e pela negação do Holocausto, para propagar suas mentiras e deturpações da História(e esse é um dos mais dedicados e destacados da tropa...).
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Encerramento de 2008.

Agradecendo a todos os falantes(ou não)do português(ao público lusófono em geral)que visitaram este espaço em 2008, e a todos os brasileiros que vivem em outros países e que também visitaram este espaço, felicidades a todos.

Feliz 2009 a todos. Happy New Year, Ein Gutes Neues Jahr, Feliz Año Nuevo, Bonne Année, Felice Anno Nuovo, 明けましておめでとうございます (akemashite omedetou gozaimasu), Gelukkig Nieuwjaar, Gelukkig Nieuwjaar, Szczęśliwego nowego roku, Bon any nou!!, Feliĉigan Novan Jaron, Laimingų Naujųjų Metų, Godt Nytår, Честита Нова Година, baxtalo nevo bersh, С Новым Годом (S novim godom).

Happy New Year for everyone, for whole world.

Iniciada construção de monumento por ciganos mortos pelo nazismo

Iniciada construção de monumento por ciganos mortos pelo nazismo

(Foto)Sinto e rom: indesejados em toda a Europa

Somente quatro décadas após o final da Segunda Guerra eles foram reconhecidos como vítimas, ao lado dos judeus e homossexuais. Mais 20 anos passados, e os sinto e rom receberão um memorial. Apenas um (bom) começo.

Somente quatro décadas após o final da Segunda Guerra eles foram reconhecidos como vítimas, ao lado dos judeus e homossexuais. Mais 20 anos passados, e os sintos e rom receberão um memorial: apenas um primeiro gesto.

O ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, iniciou simbolicamente nesta sexta-feira (19/12), em Berlim, a construção do memorial para os representantes das etnias sinto e rom ("ciganos") assassinados pelo nacional-socialismo. Sob chuva torrencial, ele louvou o futuro monumento como sinal de lembrança e de consternação por este grupo de vítimas, esquecido durante tão longo tempo.

Nomes, uma fonte, uma placa, uma poesia

A menos de 100 passos do Reichstag, o prédio do Parlamento alemão, e à vista do Portão de Brandemburgo encontra-se um gramado. Lá se construirá, nos próximos meses, o memorial para os sintos e rom – etnias popularmente designadas como ciganos – vítimas do nazismo. O projeto é do arquiteto israelense Dani Karavan.

Os nomes dos campos de concentração e extermínio Auschwitz, Treblinka e Buchenwald serão gravados no pavimento. Eles levam a uma fonte, em cuja borda se lê um fragmento da poesia Auschwitz, do músico italiano Santino Spinelli.

faces encovadas
olhos apagados
lábios frios
silêncio
um coração arrancado
sem palavras
nenhuma lágrima


De uma placa consta a epígrafe: "Recordamos todos os rom que tombaram vítimas do genocídio planejado, na Europa ocupada pelos nacional-socialistas". Uma cronologia histórica descreve o processo de exclusão, perseguição e assassínio dos sinto, rom e outros grupos nômades.

Termo controverso

(Foto)Bernd Neumann (e) e prefeito Klaus Wowereit na cerimônia em Berlim

Uma versão anterior da inscrição incluía o termo "ciganos". Este é, contudo, rejeitado pelo Conselho Central dos Sinto e Rom Alemães, sendo considerado por Romani Rose, seu presidente há vários anos, como discriminatório e depreciativo. Rose insiste que se use o termo "sinto e rom", supostamente politicamente correto.

Nem todas as associações são da mesma opinião. Os membros da Aliança Sinto da Alemanha fazem questão de se denominar altivamente "ciganos". Segundo sua presidente, Natascha Winter, o memorial não é apenas para as duas etnias citadas, mas sim para todos os ciganos.

"Defino-me com orgulho como cigana, por que minha gente, meus pais, avós, todos os meus parentes foram perseguidos como ciganos. Portamos esta palavra, "cigano", com orgulho", afirmou.

"Rom" significa simplesmente "homem" ou "ser humano" no idioma romani. Os sintos constituem o grupo étnico mais numeroso nos países germanófonos. Porém há outros que não se sentem absolutamente incluídos pela expressão "sinto e rom", como, por exemplo, os lovari ou os manuche.

Reconhecimento tardio

Transcorreu longo tempo, até esses grupos serem sequer admitidos como vítimas do nacional-socialismo na Alemanha. No tocante ao governo federal, isto só se deu no início dos anos 80. Seguiu-se, em meados da década seguinte, seu reconhecimento como "minoria nacional".

Desde então, a mostra permanente do Memorial Resistência Alemã reverencia o papel dos sinto e rom no nazismo, assim como – somente em 2004 – também o Memorial Sachsenhausen. Desde que foi criada a iniciativa para o memorial dos judeus assassinados da Europa, ficou cada vez mais claro que outros grupos de vítimas – sobretudo os homossexuais e os ciganos – também têm o direito à memória e ao tributo pela nação e pela sociedade.

Porém monumentos de concreto ou pedra não esgotam a questão: a memória cultural deve ser prática social e não um ritual.

Michael Schornstheimer (av)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.org/dw/article/0,,3890213,00.html

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VIII: Os Massacres de Simferopol

Nas páginas 210 e seguintes do livro Treblinka. Extermination Camp or Transit Camp? ("Treblinka. Campo de Extermínio ou Campo de Passagem?"), escrito pelos nossos clientes regulares Carlo Mattogno e Jürgen Graf, lê-se o seguinte (minha tradução):
d. Simferopol e o julgamento de Manstein
O General Marechal de Campo Erich von Manstein era Comandante do Décimo – Primeiro Exército e combatia no Mar Negro e na Crimeia. Em 1949, foi levado perante um tribunal militar britânico em Hamburgo sob acusação de cumplicidade com os massacres cometidos pelo Einsatzgruppe D. Seu advogado de defesa era o inglês Reginald T. Paget, quem escreveu um livro – traduzido para alemão no ano seguinte – sobre o julgamento em 1951. Nesse livro, reporta o seguinte a respeito das actividades do Einsatzgruppe D na Crimeia:
"A mim, os números declarados pelo SD pareciam-me completamente impossíveis. Companhias individuais de cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias. Uma vez que, como se recordará, os judeus acreditavam no seu realojamento e consequentemente levavam as suas pertenças consigo, o SD não pode ter transportado mais do que vinte ou trinta judeus respectivamente num camião. Por cada veículo, considerando o carregamento, 10 quilómetros de percurso, descarregamento e retorno, deve ter passado um tempo estimado de duas horas. O dia de Inverno na Rússia é curto e não se podia conduzir à noite. A fim de matar 10.000 judeus, teriam sido necessárias pelo menos três semanas.
Em um dos casos fomos capazes de verificar os números. O SD afirmava ter morto 10.000 judeus em Simferopol em Novembro e declarou a cidade livre de judeus em Dezembro. Através de uma séria de verificações, formos capazes de provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro. Havia apenas uma única companhia do SD em Simferopol. O local de execução situava-se a 15 quilómetros da cidade. O número de vítimas não pode ter sido superior a 300, e esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência. O caso de Simferopol foi amplamente difundido pelo público aquando do julgamento, uma vez que tinha sido mencionado pela única testemunha viva para esta acusação, um soldado austríaco com o nome de Gaffal. Este alegou que tinha ouvido a operação contra os judeus ser mencionada na cantina dos sapadores, onde era o homem da ordenança, e que tinha passado pelo local da execução perto de Simferopol. Depois de este depoimento recebemos uma quantidade de cartas e fomos capazes de apresentar várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde tinham comprado ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e mesmo depois. Não havia qualquer dúvida de que a comunidade judaica em Simferopol tinha continuado a existir abertamente, e embora alguns dos nossos opositores tivessem ouvido rumores de violência contra os judeus em Simferopol, parecia mesmo assim que a comunidade judaica não estava consciente de nenhum perigo em particular."

Mattogno & Graf citam o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, no contexto da sua tentativa de demonstrar que os "Relatórios de Situação Operacional URSS" dos Einsatzgruppen, esquadrões da morte do Sicherheitsdienst(Serviço de Segurança) de Reinhard Heydrich, que se contam entre a evidência mais directa e condenatória das chacinas em massa nazis e podem ser parcialmente lidas em tradução inglesa sob este link, foram muito exagerados pelos seus autores e que o número real de execuções levado a cabo por estes esquadrões da morte era muito inferior do que aquele que resulta dos referidos relatórios. Os superiores dos comandantes dos Einsatzgruppen, até ao nível dos próprios Heydrich e Himmler, devem ter sido fulanos muito ingénuos e confiantes que não consideraram necessário implementar qualquer mecanismo de controlo para verificar a exactidão daquilo que lhes era reportado sobre a execução das suas ordens, ou então não se importavam com a medida em que as suas ordens eram de facto executadas, enquanto os comandantes das Einsatzgruppen, por outro lado, supostamente não levavam o seu trabalho muito a sério e rotineiramente enganavam os seus superiores alegando logros muita para além do que tinham realmente conseguido.

Paget, o advogado de Manstein, parece ter acreditado neste cenário bastante improvável, ou então foi o que contou aos seus leitores no livro que escreveu sobre o julgamento de Manstein. Seguidamente vamos examinar a consistência e exactidão das alegações de Paget.

Começamos pelas dúvidas gerais de Paget sobre a possibilidade logística de executar massacres do tamanho e dentro do tempo reportados.

Paget alega que existem relatórios em que « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias». Isto é impossível, afirma Paget, porque o transporte das vítimas para o local de execução era uma estreiteza que não podia ser ultrapassada já que os destacamentos especiais do SD tinham demasiado poucos veículos e não podiam enche-los até ao limite da sua capacidade com pessoas porque os judeus destinados a serem executados levavam consigo as suas pertenças, acreditando que iriam ser realojados.

O pressuposto subjacente a esta alegação de Paget é que as vítimas eram levadas com veículos motorizados das cidades ou aldeias onde viviam para locais de execução isolados a alguma distância daí. Isto não era necessariamente o caso. No massacre de Babi Yar em 29/30 de Setembro de 1941, por exemplo, as mais de 30.000 vítimas tiveram que caminhar em longas filas para uma ravina perto da cidade de Kiev, onde foram abatidas a tiro. Em Kharkov, em meados de Dezembro de 1941, cerca de 15.000 judeus tiveram que marchar a pé até uma fábrica de tractores fora da cidade, na qual foram concentrados e perto da qual foram posteriormente abatidos a tiro, nos primeiros dias de Janeiro de 1942. No meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies ... [versão em português], é apresentada alguma evidência relativa a este massacre.

No entanto, mesmo quando as vítimas eram levadas em veículos motorizados para um local de matança fora da sua cidade ou vila e abatidos assim que chegavam àquele local, as limitações invocadas por Paget não se aplicavam necessariamente.

Por um lado, os Einsatzgruppen, como veremos no que respeita ao massacre que será descrito mais detalhadamente neste artigo, podiam contar com veículos disponibilizados pela Wehrmacht alemã, incluindo camiões inimigos capturados e autocarros civis requisitados, a fim de ter uma capacidade de transporte adequada ao tamanho e duração pretendidos da respectiva operação de matança.

O espaço de transporte disponível podia ainda ser alargado estipulando uma limitação ao montante de pertences que era permitido aos judeus levar consigo para a alegada deportação, ou ordenando-lhes que deixassem atrás todos os seus pertences, que alegadamente lhes seriam enviados mais tarde. Este procedimento foi aplicado nas matanças com camiões de gaseamento, vide Kogon, Langbein, Rückerl e outros, Nationalsozialistische Massentötungen durch Giftgas ("Matanças em massa nacional-socialistas mediante gás tóxico"), página 91 (citação do depoimento de Ramasan Sabitovich Chugunov, comandante de pelotão de um batalhão da polícia auxiliar local, relativamente à liquidação do gueto de Minsk em Outubro de 1943) e página 121 (depoimento do trabalhador ferroviário polaco Vladyslav Dabrovski relativamente a transportes para o campo de extermínio de Chelmno). Como veremos mais adiante neste artigo, este procedimento também foi aplicado em pelo menos uma ocasião em que os judeus foram conduzidos para um local de matança fora da localidade e lá abatidos a tiro.

As versões maiores dos camiões de gaseamento utilizados pelos Einsatzgruppen foram descritas por várias testemunhas como podendo levar 50, 60 ou até mais pessoas de cada vez (Kogon e outros, conforme supra, página 87, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Erich Gnewuch; págima 91, citação do depoimento de Chugunov, acima mencionado; página 98, referência ao depoimento do condutor de camião de gaseamento Pauly; página 105, referência ao depoimento de Schiewer, membro do Einsatzkommando 11a; página 128, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Gustav Laabs, Chelmno; página 141, citação de relatório escrito pelo condutor de camião de gaseamento Walter Piller). As medidas do compartimento de gaseamento de um destes camiões foram descritas como tendo sido as seguintes, pelo condutor de camião de gaseamento Burmeister, Chelmno (citação do depoimento em Kogon e outros, página 125): 4 a 5 metros de comprimento, 2,2 metros de largura e 2 metros de altura – uma área de carga de pelo menos 8,8 metros quadrados, suficiente para acomodar pelo menos 70 pessoas. Portanto, podemos partir do princípio de que, se os camiões utilizados para transportar judeus aos locais de fuzilamento eram tão grandes como as versões maiores dos camiões de gaseamento aplicados em fase posterior do processo de extermínio, cada um destes camiões podia levar no mínimo 50 judeus para o respectivo local de fuzilamento.

No que respeita ao tempo de transporte necessário, é difícil entender por que razão um percurso de 10 quilómetros incluindo carregamento e descarregamento demoraria o «tempo estimado de duas horas» que Paget considera. Sendo aplicada a pressão necessária, quinze minutos para cada uma das tarefas de carregamento no local de concentração, condução (a uma velocidade de apenas 40 quilómetros/hora), descarregamento e retorno parecem ser tempo suficiente. Portanto, os oito camiões que Paget menciona podiam, sob os meus pressupostos acima descritos, transportar 400 judeus para o local de matança cada hora e 2.800 num dia de trabalho de Inverno que se presume ter durado das 9:00 às 16:00 horas. Aumentando o número de veículos por recurso ao parque da Wehrmacht e/ou a requisições, este número podia ser facilmente duplicado ou triplicado.

No que respeita às tarefas de isolar o local da matança, ordenar às vítimas a despir-se, leva-las à vala em massa ou ravina em que seriam abatidos e abate-los a tiro lá, os destacamentos especiais das Einsatzgruppen não estavam sós, mas contavam com a assistência de outras forças, tais como a polícia de ordem e as unidades de Feldgendarmerie (polícia militar) e Geheime Feldpolizei (Polícia Secreta de Campo) da Wehrmacht. Assim, por exemplo, o massacre de Babi Yar foi executado pelo Sonderkommando 4a da Einsatzgruppe C em cooperação «com o quartel-geral da EGC e dois comandos do regimento de polícia Sul» (minha tradução). Segundo o historiador alemão Wolfram Wette ("Babij Yar 1941", em: Wolfram Wette / Gerd R. Ueberschär (editores), Kriegsverbrechen im 20. Jahrhundert ("Crimes de Guerra no Século 20"), páginas 152-164), o Sonderkommando 4a era composto por membros do Sicherheitsdienst e da Sicherheitspolizei (Polícia de Segurança), uma companhia de um batalhão da Waffen-SS e um pelotão de um batalhão de polícia, e reforçado por outros dois batalhões de polícia e unidades da polícia auxiliar ucraniana. A tarefa de supervisionar e vigiar a marcha dos judeus de Kiev para a ravina em que teve lugar a matança foi executada por tropas da Wehrmacht às ordens de Eberhard, comandante da cidade. O massacre dos judeus de Kharkov no início de Janeiro de 1942 foi efectuado conjuntamente pelo Sonderkommando 4a e o Batalhão de Polícia 314, que estava a cargo de isolar o local da matança. No massacre que será descrito em mais detalhe neste artigo, o destacamento especial do Einsatzgruppe D era reforçado por dois batalhões de reserva da polícia bem como membros do Feldgendarmerieabteilung(FGA) 683 e a unidade 647 da Geheime Feldpolizei (GFP).

Resumindo, se « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos» (Paget) não eram suficientes para matar o número necessário de judeus dentro do tempo necessário, era possível obter recursos humanos e materiais adicionais na medida necessária para obter o resultado desejado.

Expostas assim as falácias das objecções logísticas de Paget, vamos ver a operação particular em relação à qual Paget alega ter sido capaz de «verificar os números», a matança dos judeus de Simferopol.

Paget alega ter conseguido « provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro », que «o número de vítimas não pode ter sido superior a 300», e que «esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência».

Uma reconstrução detalhada dos acontecimentos em Simferopol em Novembro e Dezembro de 1941, baseada em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares recolhidos no decurso de várias investigações por autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, encontra-se nas páginas 323 e seguintes do livro Besatzungspolitk und Massenmord. Die Einsatzgruppe D in der südlichen Sowjetunion 1941-1943 ("Política de Ocupação e Assassínio em Massa. O Einsatzgruppe D no sul da União Soviética, 1941 – 1943"), do historiador Andrej Angrick. Esta reconstrução, da qual fornecerei um resumo a seguir, mostra que são falsas as alegações de Paget, acima referidas.

No início de Novembro de 1941, Otto Ohlendorf, o comandante do EinsatzgruppeD, transferiu o estado-maior da sua unidade de Nikolajev para Simferopol, a capital da Crimeia. Simferopol era uma importante base de tropas e mantimentos alemães, tendo lá os seus quartéis-gerais os estados maiores dos corpos do exército XXX e LIV e da 72ª e 22ª divisões de infantaria, o Encarregado de Logística Chefe, o Comandante da Força Aérea junto do 11º Exército e o Comando Económico competente. A administração da cidade estava a cargo do Posto de Comando Local (Ortskommandantur) I/853 sob o mando do Capitão Kleiner, que efectuou um censo da população local segundo a sua etnia e constatou que, dos 156.000 habitantes originais, 120.000 de vários grupos populacionais tinham ficado em Simferopol, entre eles 11.000 de originalmente 20.000 judeus. Relativamente aos judeus, o relatório do posto de comando local, datado de 14 de Novembro de 1941 e guardado nos Arquivos Federais/Arquivos Militares da República Federal Alemã (Bundesarchiv/Militärarchiv), indicou que seriam "executados pelo SD".

Embora este documento torne claro que havia a intenção de exterminar os judeus de Simferopol e que a Wehrmacht estava consciente deste facto, dois problemas impediram que a matança fosse efectuada em Novembro de 1941. Um desses problemas era ideológico, o outro de natureza prática.

O problema ideológico consistia em que, na península de Crimeia, havia três grupos populacionais diferentes que estavam potencialmente sujeitos às políticas nazis relativas aos judeus. Eram estes:

1. Os caraítas, um povo turco que aderia ao judaísmo;

2. Os krimchaks ou krymchaks: segundo Angrick, estes eram descendentes de judeus sefarditas espanhóis que já não aderiam à religião judaica (outra informação sobre os krimchaks pode ser encontrada aqui);

3. Judeus ashkenazi emigrados da Europa Central e os seus descendentes.

Enquanto não havia dúvida de que o terceiro destes grupos seria aniquilado, havia incerteza entre os feitores das políticas nazis sobre como tratar os outros dois. Depois de consultar os seus especialistas "científicos" sobre "assuntos judaicos", o próprio Himmler – que mantinha ser o único a quem cabia decidir quem era judeu e quem não – finalmente decidiu que os caraítas seriam poupados, uma vez que não eram judeus de "raça". Os krimchaks, pelo outro lado, seriam mortos, porque em termos "raciais" eram judeus. A decisão de Himmler deve ter sido tomada entre os dias 5 de Dezembro de 1941 (a data do Relatório de Situação 142, que ainda menciona a "questão dos krimchaks") e 9 de Dezembro de 1941, a data em que, como veremos a seguir, os Krimchaks de Simferopol foram exterminados.

O problema prático que obstava ao extermínio dos judeus de Simferopol em Novembro de 1941 era que a actividade guerrilheira naquela área, grandemente exagerada em relatórios do exército alemão, fez com que o Comando Supremo do 11º Exército mandasse cada homem que tinha à sua disposição a combater os guerrilheiros, sendo o Einsatzgruppe D utilizado em missões de reconhecimento sobre movimentos guerrilheiros.

No início de Dezembro de 1941, contudo, a ameaça tinha diminuído depois de terem sido mortos ou capturados cerca de mil guerrilheiros, e com a chegada de uma brigada de tropas de montanha romenas como reforço, Ohlendorf já não tinha que utilizar os seus homens em missões de reconhecimento contra a guerrilha. Ao mesmo tempo, a transferência de Odessa para Simferopol do Sonderkommando 11b sob o comando de Werner Braune trouxe-lhe recursos adicionais para executar a sua principal tarefa, a de aniquilar os judeus. Os Quartel – Mestre Chefe da Wehrmacht, Hauck, favoreceu esta medida e até insistiu nela, uma vez que via a "acção relativa aos judeus" (Judenaktion) como forma de aliviar a dramática situação de alimentos em Simferopol, livrando-se de bocas para alimentar. O próprio comandante do 11º Exército, von Manstein, tinha dado o seu consentimento às matanças numa ordem que emitiu em 20 de Novembro de 1941, a qual continha a seguinte indicação (minha tradução de Angrick, como supra, página 338):
O soldado deverá mostrar compreensão perante a necessidade de submeter a uma dura retribuição o judaísmo, o portador espiritual do bolchevismo. Esta também é necessária para estrangular à nascença quaisquer revoltas, que são maioritariamente incitadas por judeus.

A "dura retribuição" começou em Simferopol em 9 de Dezembro de 1941, quando o Sonderkommando 11b e o estado-maior da Einsatzgruppe D exterminaram os krimchaks da cidade, provavelmente 1.500 pessoas no mínimo. Logo a matança parou durante dois dias porque Ohlendorf teve que resolver um problema de pessoal: os polícias da 4ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 9, que tinham assistido ao Einsatzgruppe D nos seus massacres desde o início da campanha da Rússia, estavam cansados de matar e tinham solicitado que lhes fosse dada outra missão. O seu pedido foi atendido, e Ohlendorf teve que esperar até que a unidade de substituição, a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3, chegasse a Simferopol.

Quando a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3 chegou a Simferopol, não houve tempo para habituar os seus homens à matança de uma forma gradual. Com a ajuda de todos os homens disponíveis de outros destacamentos da Einsatzgruppe D, os polícias e ambos batalhões de polícia e os membros destacados da FGA 683 e da GFP 647, o Sonderkommando 11b de Braune e o estado maior da Einsatzgruppe D de Ohlendorf continuaram a execução em 11 de Dezembro de 1941. Braune tinha dito aos seus homens que tinham um "grande dia de combate" (Grosskampftag) pela frente e que até os médicos teriam que participar. A matança dos judeus durou três dias. Ordenou-se aos judeus que se reunissem na área do antigo edifício do partido comunista no centro da cidade e entregassem as suas bagagens e objectos de valor, uma vez que – assim os carrascos lhes disseram – caso contrário estes poderiam ser roubados durante o transporte que os levaria ao serviço de trabalho, e os receberiam posteriormente. Camiões do Einsatzgruppe e o exército, autocarros e também veículos capturados menores foram utilizados para transportar a pessoas rapidamente para uma vala contra tanques fora de Simferopol. Os membros do Batalhão de Reserva da Polícia 3 tiveram que participar logo na chacina. Alguns tinham notado que colegas do Batalhão de Reserva da Polícia 9 estavam "pirados"; agora perceberam porque. Uma e outra vez, na presença de Ohlendorf e Braune, soou a ordem "Preparados, apontem, fogo!". 50 homens em linha disparavam em salvas. Os membros experientes da Einsatzgruppe administravam chamados golpes de misericórdia. Soldados da Wehrmacht também participaram no fuzilamento, não sendo possível estabelecer se estes eram exclusivamente polícias militares e membros da Geheime Feldpolizei. No frio gelado prisioneiros escolhidos tinham que empilhar os corpos na vala de modo a que não fosse desperdiçado espaço, enquanto outros arrastavam cadáveres deitados fora da vala e atiravam-nos para dentro desta. Quem tentava escapar ou fingia estar morto era abatido por homens da Einsatzgruppe com pistolas metralhadoras. O cinismo dos carrascos estava sempre presente, como quando foi dada instrução para não gastar outra bala numa judia ainda viva dentro da vala uma vez que um montão de terra seria atirado para cima dos cadáveres e ela então sufocaria de qualquer forma. Um judeu jovem tentou resistir, pelo que o comandante da acção ordenou que não fosse abatido a tiro mas espancado até à morte. Assim a chacina continuou nos próximos dias. Finalmente a Einsatzgruppe também estendeu a sua acção aos ciganos, tendo um pedido do exército presumivelmente sido um dos factores que conduziram à decisão de eliminar também este grupo da população.

No Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150 de 02.01.1942, Ohlendorf reportou que, com o fim a acção em 15 de Dezembro de 1941, Simferopol, junto com outras partes da Crimeia, tinha sido livrado de judeus. Esta afirmação revelou-se como errada, uma vez que muitos judeus ainda estavam escondidos. Massacres menores em toda a Crimeia continuaram até ao fim do ano.

Termina assim o meu resumo da reconstrução por Angrick dos acontecimentos em Simferopol em Novembro de Dezembro de 1941. Como disse antes, esta reconstrução baseia-se em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares. A descrição supra do massacre que começou em 11 de Dezembro de 1941, por exemplo, é baseada nos depoimentos de testemunhas oculares registados em ficheiros de investigação de autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, referidos nas páginas 340 a 342 do livro de Angrick: Paul Zapp, Sergej Myshekov, Georg Glück, Hermann Frenser, Georg Mandt, Hans Günther, Hans Kurz, Hans Fibiger, Walter Güsfeldt, Fritz Urbach, Kurt Wehrbein, Karl Jonas, Heinz Hoffmann, Harry Pilawski, Wilhelm Ickerott, Paul Lohmann, e outros. Estas testemunhas oculares, excepto provavelmente pela testemunha soviética Myshekov, tinham participado na matança como membros de uma ou outra unidade envolvida na mesma.

Passo a traduzir uma parte da Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150, cuja tradução para inglês pode ser lida aqui:
Simferopol, Yevpatoria, Alushta, Krasubasar, Kerch, Feodosia e outros distritos da Crimeia ocidental se encontram livres de judeus. Entre 16 de Novembro e 15 de Dezembro de 1941, 17.645 judeus, 2.504 Krimchaks, 824 ciganos, e 212 comunistas e guerrilheiros foram abatidos a tiro. Em total têm sido executadas 75.881 pessoas.

A última destas cifras refere-se ao número total de execuções pelo Einsatzgruppe D desde o início da campanha da Rússia. A maior parte dos números relativos a Crimeia correspondem provavelmente aos massacres de Simferopol, seguidos pelos massacres de Kerch nos primeiros dias de Dezembro (cerca de 2.500 Jews) e em Feodosia por volta de 10 de Dezembro de 1941 (mais de 1.000 judeus e Krimchaks), também descritos em detalhe por Angrick.

Resulta claro, portanto, que a alegação de Paget sobre uma única massacre menor em Simferopol em 16 de Novembro de 1941 não tem nada a ver com o registo histórico do destino dos judeus e krimchaks de Simferopol, a maioria dos quais foram mortos nos massacres em 9 de Dezembro e a partir de 11 de Dezembro de 1941.

Ora, o que é que isto significa no que respeita à alegação de Paget de que houve «várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde compraram ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e depois»? Trata-se de uma alegação deliberadamente falsa, ou será que as testemunhas eram falsas testemunhas ansiosas por tirar Manstein do seu apuro?

Não necessariamente. Como vimos acima, Himmler decidiu poupar os caraítas porque não eram considerados judeus em termos "raciais". Os caraítas praticam o caraísmo, e portanto o contacto com a população caraíta de Simferopol pode ter levado as testemunhas de Paget a descreve-los como judeus e a acreditar que os judeus de Simferopol não tinham sido aniquilados.

As alegações erróneas de Paget podem ser perdoadas a um advogado de defesa no fim da década de 1940, com acesso limitado a informação sobre os acontecimentos em questão e preocupado unicamente em defender o seu cliente tão bem quanto possível.

Mas pode também ser perdoado a Mattogno & Graf, que pretendem ser historiadores ou pesquisadores de história, o terem aceite como verídicas as alegações de Paget, sem verifica-las com base em outras fontes, e transcrito estas alegações no seu livro como se da narração de factos indisputáveis se tratasse?

Vejamos o que fez Angrick: recolheu toda a informação documental e de testemunhas oculares que conseguiu encontrar em vários arquivos e juntou as peças que encontrou numa descrição dos acontecimentos tão exacta quanto possível.

É isto o que fazem os historiadores.

Mattogno & Graf, por outro lado, basearam as suas conclusões relativamente aos massacres de Simferopol numa única fonte – e nem sequer uma fonte primária – que por acaso encaixava nas suas noções preconcebidas.

Isto não é o que fazem os historiadores. Isto é o que fazem charlatães desleixados com uma agenda ideológica. Mattogno & Graf não estão revisando noções aceites sobre um acontecimento histórico ou um conjunto de acontecimentos com base em evidência anteriormente desconhecida. O que fazem é ignorar ou rejeitar toda a evidência que contradiz as suas noções preconcebidas – e que, no caso das massacres de Simferopol, é bastante abundante – e basear as suas conclusões numa fonte secundária conveniente que está tão afastada da evidência quanto as noções preconcebidas de quem nela se baseia.

E esta, mais uma vez, é a razão pela qual o "revisionismo", conforme representado por Mattogno & Graf entre outros "estudiosos", não tem nada a ver com revisionismo no sentido estrito da palavra, o de um método que faz parte da historiografia. É apenas a negação de acontecimentos inconvenientes a certas noções preconcebidas e artigos de fé, propaganda com motivação ideológica.

[Tradução adaptada do meu artigo The Simferopol Massacres no blog Holocaust Controversies]

Próximo >> Parte IX(1): "Os relatórios dos Einsatzgruppen ...

Outros artigos da série That's why it is denial, not revisionism, já traduzidos para português:

Porque é negação e não revisionismo. Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Porque é negação e não revisionismo. Parte III: negadores e o massacre de Babiy Yar (1)

Porque é negação e não revisionismo. Parte IV: negadores e o massacre de Babiy Yar (2)

Porque é negação e não revisionismo. Parte V: negadores e o massacre de Babiy Yar (3)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: outras patéticas objeções aos relatórios dos Einsatzgruppen

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Como se tornar um negador de valas em massa em 10 simples passos

Como se tornar um negador de valas em massa em 10 simples passos

Não há necessidade de visitar um arquivo ou até mesmo ir para escola! Você pode praticar esses passos na privacidade de sua própria casa ou Führerbunker.

1. Sempre diga que o local das valas é pequeno demais ou grande demais, apesar de ignorar a óbvia contradição entre estas duas posições.

2. Chame seu oponente de "porco judeu", "mentiroso judeu" ou "supremacista judeu", apesar de insistir em dizer que não há qualquer coisa de anti-semitismo nisto.

3. Ignore o fato de que as leis da religião judaica têm proibições contra as alterações em restos humanos. Exija autópsias completas que contrariaria essas leis.

4. Finja que escavações parciais ou perfurações tenhan sido completas no local das investigações e julgue contra os resultados daquele ponto de referência.

5. Quando referir-se às traduções dos relatórios poloneses ou soviéticos do pós-guerra das escavações das valas em massa, francamente os rejeite dizendo que aqueles 'comunistas' eram mentirosos e que não podem ser confiáveis. Quando forem mostradas evidências independentes em relação às daqueles 'comunistas' e que corroboram seus achados, ignore o argumento ou argua como per item 7.

6. Finja que apenas aquelas partes de uma escavação que estejam publicadas online tenham diso na verdade conduzidas. Se não está online, não existe! Esqueça que isto rejeitaria quase todos os estudos históricos dos assassínios em massa ou casos criminosos já conduzidos.

7. Insista que os documentos alemães do período de guerra e os perpetradores testemunhas oculares não constituem evidência real, sem explicar o porquê.

8. Insista que se toda vítima não pode ser identificada pelo nome, ou se a vítima estimou alguma mudança ao longo do tempo, isto prova que os assassinatos não ocorreram. Ignore esta regra quando discutir o bombardeio incendiário de Dresden ou crimes contra alemães étnicos do leste da Europa.

9. Mantenha o pedido de mostrar 'apenas uma' amostra de um fragmento de osso, dentes ou outros tipo de restos humanos. Quando perguntado sobre a relevância de sua exigência, ignore a pergunta e repita o pedido. Quando fotografias exibidas de restos humanos encontrados no local do assassínio em massa nazista, brade que isto não prova que isto na verdade são a) restos humanos e b) restos humanos judeus. Alternativamente, argua que tais restos não poderiam ser trazidos de lá do local do cemitério.

10. Aplique a falácia "falsus in uno, falsus in omnibus"(falso em um ponto, falso em todos) para qualquer fonte (e.g. os relatos das testemunhas oculares dados ao Padre Desbois), sem referência a quaisquer ordem jurídica estabelecida ou regras historiográficas que justicariam tal enfoque negacionista para a evidência.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto(inglês): Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2008/12/how-to-become-mass-graves-denier-in-10.html
Tradução(português): Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

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